Kuter, P. (200) A short history of psychoanalytic psychosomatics in German
– speaking countries. Revista Portuguesa de Psicossomática, vol. 2, nº 2, pp. 79-86.
O A. afirma que a psicossomática nos países de língua germânica,
Alemanha, Áustria e Suíça, diferentemente do desenvolvimento dos países de língua inglesa, foi fortemente influenciado pela filosofia do iluminismo (método científico e a razão) e do romantismo (o subjetivismo e o idealismo) Iluminismo - movimento filosófico e intelectual europeu do sec. XVIII – Sapere audi : atreva-se a conhecer. As ideias eram determinadas pela razão, que era a principal fonte de autoridade e legitimidade, a liberdade intelectual e a tolerância religiosa – em oposição ao absolutismo e aos dogmas da igreja católica e foi fortemente marcada pelo método científico e o reducionismo. Francis Bacon, Rènne Descartes, Spinosa, Voltaire, Kant. Período clássico: Beethoven (até 1802), Mozart, Hayden, Romantismo – sucedeu ao iluminismo, que se antepôs, ao anterior que se caracterizava pela objetividade e pela razão, o romantismo pela subjetividade, pela emoção e pelo eu (visão de mundo centrada no indivíduo). Final do sex. XIX e início do XX. O romantismo trás o ideal do "bom selvagem" (Jean-Jacques Rousseau), segundo o qual a sociedade corrompe o homem e o homem perfeito seria o índio, que não tinha nenhum contato com a sociedade europeia. Também, Nietzche e Schopenhauer Beethoven, Chopin, Verdi, Wagner, Tchaikovsky. O conceito de psicossomática emerge como o símbolo da unidade mente- corpo. E o pensamento europeu adiciona a dimensão existencial do ser humano, o seu ser, uma ansiedade basal, situações básicas de ansiedade, luta, culpa, 2
sofrimento e morte (Kiergaard, Heidgger, Jaspers), por outro lado, uma
contraposição a esta perspectiva do ser humano nas humanidades emerge uma potente pensamento científico, crítico a utilização da filosofia através do racionalismo , destaca-se Pavlov, Wundt, Lorenz, etc., Também, as leis nomotécnicas: (estabelecer relações significativas e constantes entre entidades analisadas no ambiente, ex. ciências da natureza que procuram processos estudar causais e invariáveis, ou quantidades de vezes que se apresenta um comportamento particular) do ser humano e do comportamento, suas bases biológicas e paralelos com animais. É o paradigma da máquina.
O que estabelecia uma ponte de ligação entre as duas escolas era o
pensamento psicanalítico de Freud.
A psicossomática psicanalítica está intimamente ligada na fundamental
tensão entre a rex extensa e a res cogitans, sem o contraste bipolar ou discrepância entre a matéria e consciência, entre corpo e mente. E as teorias da psicossomática se desenvolveram neste contraste – conflito, dialética – de aparente oposição. Corpo e Mente são idênticos e só podem ser separados didática e metodologicamente. A teoria da emergência (emergentismo): Uma propriedade de um sistema é dito emergente se ela é mais do que a soma das propriedades dos componentes, o processo de formação de padrões complexos a partir de uma multiplicidade de interações simples. Os sentimentos e afetos possuem 3 componentes, estado emocional, experiência subjetiva ou psicanalítica e a expressão motora sociológica (sic) e que encontramos em todos os referenciais teóricos do problema corpo e mente, na saúde e na doença.
O desenvolvimento da psicossomática psicanalítica na Alemanha.
3 fases: 3
1. Preocupação não só com a estrutura, mas também com a função –
Krehl, von Weizsacker, von Bergmann , “a patologia das funções” em contraposição a patologia da estrutura anatômica. É decisivo o fator subjetivo da pessoa doente e sua biografia pessoal. A medicina antropológica ou antropologia médica. Krehl : a origem da doença física está intensamente ligada a história de vida dos pacientes. Estas ideias vão de encontro com as teorias psicanalíticas de Freud, não obstante uma correspondência entre von Weizsacker e Freud, este tenha desencorajado, “desdenhado”, o uso da psicanálise para as doenças físicas. No entanto, muitos psicanalistas tentaram observar a doença física pela perspectiva do processo de conversão. Ex. mais eloquente Groddek. A simbolização como uma ponte, um estágio na formação do processo simbólico.
2. Desenvolvido, principalmente, nos países de língua inglesa (ida de
vários psicanalistas para o USA, em função do holocausto). Inúmeros autores, Alexander, Weiss, English, Garner. Alexander desenvolvem a teoria da especificidade. Na Alemanha com a ascensão do nacional-socialismo, a psicanálise tal como concebida por Freud foi banida. Surgem os trabalhos de treinamento autógeno de Schultz. Von Weizäcker foi o autor que manteve a psicanálise na psicossomática.
3. Após a II Guerra a Alemanha foi caracterizada mais pelas filosofias
europeias e românticas e menos psicanalítica que nos países de língua inglesa. Alexander Mitscherlich desenvolveu uma teoria baseada no modelo psicanalítico, em 1949, com patrocínio da Fundação Rockefeller fundou o Departamento de Psicossomática da Universidade de Heidelberg. Muito influenciada pela escola de Frankfurt, Adorno e Horkheimer, “meritocracia como campo patogênico das doenças psicossomáticas”. Ele vai influencia George Engel e Schmale e Schur e postular uma série de hipóteses – baseadas na teoria psicanalítica das defesas a) toda doença psicossomática é precedida por uma condição psiconeurótica; b) o mecanismo desencadeador é uma vivência de perda real ou imaginária; c) os afetos básicos são o desamparo e desesperança; d) a primeira fase da doença são sintomas neuróticos e a 2ª fase são sintomas psicossomáticos, através de somatizações e re-somatizações. 4
O modelo de conversão continua a exercer um importante papel, a ela
foram adicionadas as teorias do narcisismo, as ideias de Kohut e das relações de objeto. Também, influenciaram as teorias dos autores franceses – P. Marty, M’Uzam, entre outros. É legítimo afirmar que a psicossomática dos países de língua germânica se inicia com von Weizäcker e na fala de Mitscherlichian na direção da psicossomática psicanalítica e outros autores como, Boor, Cremerius, Thomä, Overback e, também, de aspectos da teoria crítica – social. (escola de Frankfurt) Autor a ser destacado, Uexküll que desenvolveu a teoria do circulo das funções, onde reconhece a influência dos processos de socialização individual e de experiências de vida que produzem uma realidade inteiramente subjetiva na qual os processos mentais afetam diretamente o corpo. Apesar da tradição europeia a psicossomática nos países de língua germânica no pós-guerra tornou-se muito influenciada pela escola norte- americana. Novos modelos são testados, “que não são derivados apenas da psicanálise, mas, também, de pesquisa em psicologia e das ciências biológicas que apontam para uma visão dos seres humanos como sistema de auto-regulação cibernética”. Ao mesmo tempo, a fisiologia continua sendo condicionada pelos eventos biográficos e a disposição às doenças psicossomáticas são adquiridas por fatores individuais. A dimensão política da medicina psicossomática Weizsäcker introduziu o fator subjetivos na medicina e Mitscherlich baseado em seus trabalhos promoveu a inclusão da psicanálise nos distúrbios psicossomáticos, isto favoreceu a discussão de que são os pacientes e não a doença o principal foco de interesse científico. Por outro lado, ele adotou referenciais das ciências políticas e da sociologia na psicossomática. “A condição essencial é a liberdade de pensamento e ação e a doença é a perda da liberdade” (Mitscherlich, 1977), que descreve as relações sociais como fator de produção e manutenção da doença.
Brenda Egolif, Judith Lasker, Stewart Wolf, and Louise Potvin - (1992) The Roseto Effect: A 50- Year Comparison of Mortality Rates, American Journal of Public Health, 82, No. 8 .