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CAPÍTULO 3
APRENDIZAGEM E CONDICIONAMENTO1
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Tradução de Julio de Rose, revisão de Raoni Floret Barbieri.
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3. Aprendizagem e Condicionamento – Pavlov
Você já entrou em um consultório de dentista onde o odor de desinfetante fez seu dente
doer? Isto ocorreu provavelmente porque o odor acionou uma associação, que já tinha
sido condicionada em seu cérebro, entre o odor e sua experiência passada no dentista.
Quando você ouve o Hino Nacional tocado em uma final de Copa do Mundo, seu
coração bate um pouco mais rápido?2 Isto acontece com a maioria dos brasileiros.
Acontece a mesma coisa quando você ouve o Hino Nacional italiano? Muito
provavelmente não, porque você foi condicionado a responder a uma música, mas não à
outra. E por que algumas pessoas olham e ficam nervosas se você infla um balão perto
delas? Bem, obviamente porque foram condicionadas a associar o enchimento de um
balão com algo amedrontador (um estouro de balão). Estes são alguns dos inúmeros
comportamentos humanos que existem como resultado de um processo conhecido como
“condicionamento clássico3”.
A teoria da aprendizagem pelo condicionamento clássico foi desenvolvida e
articulada há aproximadamente 100 anos, na Rússia, por um dos nomes mais familiares
na história da Psicologia, Ivan Petrovich Pavlov (1849-1946). Ao contrário da maioria
das pesquisas apresentadas neste livro, o nome de Pavlov e suas ideias básicas sobre
2
No original, publicado nos EUA, o autor exemplifica com o hino nacional norte-americano, Star
Spangled Banner, tocado nos Jogos Olímpicos. (Nota do tradutor)
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Também conhecido como “condicionamento pavloviano” ou “condicionamento respondente”. (Nota do
tradutor)
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3. Aprendizagem e Condicionamento – Pavlov
aprendizagem por associação são muito conhecidos na cultura popular (existe até uma
canção dos Rolling Stones, da década de 1970, que tem o verso “Eu salivo como um
cão de Pavlov”). O que não se conhece tão bem é o verdadeiro significado do trabalho
dele e como ele chegou às suas descobertas marcantes.
Embora a contribuição de Pavlov para a Psicologia tenha sido uma das mais
importantes já realizadas, ele não era um psicólogo, mas um proeminente fisiologista
russo que estudava processos digestivos. Em 1904 ele recebeu o Prêmio Nobel por sua
pesquisa sobre digestão. Mas suas descobertas que mudaram dramaticamente sua
carreira, e a história da Psicologia, começaram por acidente. É importante notar que no
final do Século XIX a Psicologia era uma ciência muito jovem, considerada por muitos
como estando aquém de uma verdadeira ciência. Portanto, Pavlov deu um passo
arriscado em sua carreira ao mudar da ciência fisiológica, mais sólida e respeitada, para
a psicologia. Ele escreveu sobre esse dilema enfrentado por qualquer cientista que
estivesse pensando em estudar psicologia no começo do Século XX:
Olhando agora para as descobertas de Pavlov, vemos que foi muito bom para o avanço
da ciência psicológica e para o nosso entendimento do comportamento humano que ele
tenha corrido o risco de mudar sua carreira.
A pesquisa fisiológica de Pavlov envolvia o uso de cachorros como sujeitos para
estudar o papel da salivação na digestão. Ele, ou seus assistentes, introduziam comidas
variadas, ou substâncias não comestíveis, dentro da boca do cão e observavam a taxa e a
quantidade de salivação. A fim de medir a salivação cientificamente, era realizada uma
pequena cirurgia nos cães em que um duto salivar era redirecionado através de uma
incisão na bochecha do cão e conectado a um tubo que coletava a saliva. Através desta
pesquisa, Pavlov fez muitas descobertas novas e interessantes. Ele verificou por
exemplo, que quando um cão recebia comida úmida, apenas uma pequena quantidade de
saliva era produzida, comparada com um fluxo abundante quando comida seca era
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3. Aprendizagem e Condicionamento – Pavlov
apresentada. A produção de saliva sob estas condições era considerada por Pavlov como
um reflexo, ou seja, uma resposta que ocorre automaticamente para um estímulo
específico sem controle consciente ou aprendizagem. A salivação é puramente reflexa
também para humanos. Suponha que eu peça que, enquanto você lê esta sentença, salive
o mais rápido que você puder. Você não pode fazer isso. Mas se você está com fome e
se encontra sentado em frente à sua comida favorita, você vai salivar, queira ou não!
Conforme a pesquisa continuava, ele começou a notar certos eventos que eram
totalmente inesperados. Os cães começavam a salivar antes que qualquer comida
entrasse em contato com suas bocas e até mesmo antes do odor de comida estar
presente. Depois de algum tempo, os cães salivavam em momentos em que nenhum
estímulo digestivo estava presente. De algum modo, a ação reflexa das glândulas
salivares tinha sido alterada através da experiência do animal no laboratório: “Mesmo o
recipiente no qual a comida tenha sido dada é suficiente para evocar um reflexo
alimentar [de salivação] completo em todos os seus detalhes; e, além disso, a secreção
pode ser provocada mesmo pela visão da pessoa que conduz o recipiente, ou pelo som
de seus passos” (p. 13).
Esta foi a encruzilhada para Pavlov. Ele tinha observado respostas
digestivas ocorrendo para estímulos aparentemente não relacionados com a digestão, e a
fisiologia pura não poderia fornecer uma explicação para isso. A resposta tinha que ser
encontrada na Psicologia.
PROPOSIÇÕES TEÓRICAS
Pavlov teorizou que os cães tinham aprendido, com a experiência no laboratório, a
esperar a comida após a apresentação de certos sinais. Embora estes estímulos
sinalizadores não produzissem naturalmente a salivação, os cães vieram a associá-los
com comida e, assim, passaram a responder a eles com salivação. Consequentemente,
Pavlov determinou que deveria haver dois tipos de reflexos.
Reflexos incondicionados são inatos e automáticos e não requerem
aprendizagem. Eles são geralmente os mesmos para todos os membros de uma espécie.
Salivar quando a comida entra na boca, pular diante do som de um barulho alto e a
dilatação de suas pupilas quando se apagam as luzes são exemplos de reflexos
incondicionados. Reflexos condicionados, por outro lado, são adquiridos através da
experiência ou aprendizagem e podem variar muito entre os indivíduos de uma espécie.
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3. Aprendizagem e Condicionamento – Pavlov
A salivação do cão diante dos sons de passos ou a dor em seu dente quando você sente o
cheiro do desinfetante do dentista são reflexos condicionados.
Reflexos incondicionados são formados por um estímulo incondicionado (EIC4)
que produz5 uma resposta incondicionada (RIC). Nos estudos de Pavlov, o EIC era a
comida e a RIC era a salivação. Reflexos condicionados consistem em um estímulo
condicionado (EC), como os passos, produzindo uma resposta condicionada (RC),
salivação. Você notará que a resposta nos dois exemplos é salivação mas, quando a
salivação é resultado dos passos ouvidos, ela advém da aprendizagem e não das
tendências naturais do cão.
A questão que Pavlov queria responder era: se reflexos condicionados não são
inatos, como eles são adquiridos? Ele propôs que se um estímulo particular no ambiente
do cão estava frequentemente presente quando o cão era alimentado, este estímulo
tornava-se associado, no cérebro do cão, com a comida; ele sinalizaria a aproximação da
comida. Este estímulo do ambiente, antes de ser emparelhado com a comida, não
produzia nenhuma resposta importante. Em outras palavras, este estímulo era, para os
cachorros, um estímulo neutro (EN). Quando os cachorros chegavam pela primeira vez
no laboratório, os passos do assistente poderiam ter produzido uma resposta de
curiosidade (Pavlov chamou de resposta “O que é isto?”), mas ouvir os passos
certamente não teria feito os cães salivarem. Os passos, então, eram estímulos neutros.
Com o passar do tempo, como os cachorros ouviam os mesmos passos, todos os dias,
antes de serem alimentados, eles começaram a associar o som com a comida.
Eventualmente, de acordo com a teoria, os passos sozinhos faziam os cães salivarem.
Então, de acordo com Pavlov, o processo pelo qual um estímulo neutro se torna um
estímulo condicionado poderia ser diagramado como se segue:
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Se algum dia você for estudar a ampla literatura em língua inglesa sobre condicionamento clássico,
precisará se familiarizar com as abreviaturas que se tornaram padrão: UCS, para UnConditioned
Stimulus, CS, para Conditioned Stimulus, UCR, para UnConditioned Response, e CR para Conditioned
Response. (N.T.)
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Na literatura técnica em português usa-se geralmente o termo “eliciar”. Preferimos aqui o verbo
produzir, com significado semelhante, mas mais comum e conforme o original (NT).
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3. Aprendizagem e Condicionamento – Pavlov
Agora que tinha uma teoria para explicar suas observações, Pavlov começou
uma série de experimentos para provar que ela estava correta. Acredita-se comumente
que Pavlov tenha condicionado cães a salivarem ao som de uma campainha. Mas como
você verá, os primeiros experimentos dele envolveram um metrônomo.
MÉTODO E RESULTADOS
Pavlov teve a oportunidade de construir um laboratório especial no Instituto de
Medicina Experimental em Petrogrado (que se tornou Leningrado e agora voltou ao seu
nome original de São Petersburgo), com fundos doados por um negociante filantrópico
de Moscou. Este laboratório à prova de som permitia um completo isolamento dos
sujeitos em relação aos experimentadores e a quaisquer estímulos estranhos durante os
procedimentos experimentais. Portanto, um estímulo específico poderia ser
administrado e as respostas poderiam ser registradas sem nenhum contato direto entre o
experimentador e os animais.
Depois que o ambiente de pesquisa necessário tinha sido estabelecido, o
procedimento era muito simples. Pavlov escolheu comida como estímulo
incondicionado. Como afirmado anteriormente, comida eliciava a resposta
incondicionada de salivação. Então Pavlov precisava encontrar um estímulo neutro que,
para os cachorros, não tivesse relação nenhuma com a comida. Para isto ele usou o som
de um metrônomo. Em várias tentativas de condicionamento, o cão era exposto aos
cliques do metrônomo e então a comida era imediatamente apresentada. “Um estímulo
que em si mesmo era neutro havia sido superposto à ação do reflexo alimentar inato.
Observamos que, após varias repetições da estimulação conjunta, o som do metrônomo
adquiriu a propriedade de estimular a secreção salivar.”(p. 26). Em outras palavras, o
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3. Aprendizagem e Condicionamento – Pavlov
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3. Aprendizagem e Condicionamento – Pavlov
exposição direta ao objeto temido (Fredrikson, Annas, & Wik, 1997). As incontáveis
aplicações da teoria de Pavlov na literatura médica e psicológica são muito numerosas
para ser sumarizadas em algum detalhe aqui. Em vez disto, alguns exemplos adicionais
de algumas das descobertas mais notáveis serão discutidos.
Um problema comum que atormenta rancheiros por todo o mundo é o de
animais predadores, usualmente lobos e coiotes, matando e comendo seus animais. Nos
idos de 1970, estudos foram realizados tentando aplicar técnicas de condicionamento
Pavloviano para resolver o problema da matança de ovelhas por coiotes e lobos, sem a
necessidade de matar os predadores (veja Gustafson, Garcia, Hawkins, e Rusniak,
1974). Foram dados aos lobos e coiotes pedaços de carne de carneiro contendo
pequenas quantidades de lítio clorídrico (EIC), uma substância química que, se ingerida,
faz o animal passar mal. Quando os animais comiam a carne, eles ficavam tontos, com
náuseas severas e vômitos (RIC). Depois de recuperados, estes mesmos predadores
famintos eram colocados num cercado com ovelhas vivas. Os lobos e coiotes
começavam a atacar a ovelha (EC), mas assim que sentiam o cheiro de sua presa, eles
paravam e ficavam o mais longe possível
da ovelha. Quando a grade do cercado era
aberta, os lobos e coiotes realmente corriam
das ovelhas! Baseado neste e em outros
relatos de pesquisas, tornou-se uma prática
comum dos rancheiros usarem este método
de condicionamento clássico para manter
lobos e coiotes longe de seus rebanhos.
Outra linha de pesquisa potencialmente
vital, envolvendo condicionamento
clássico, está no campo da medicina
comportamental. Estudos têm sugerido que
a atividade do sistema imunológico pode
ser alterada usando-se princípios
pavlovianos. Ader e Cohen (1985) deram
água com sacarina para ratos (eles amam
esta água). A seguir, emparelharam a água
com sacarina com a injeção de uma droga
que debilitava o sistema imunológico do
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3. Aprendizagem e Condicionamento – Pavlov
rato. Mais tarde, quando estes ratos condicionados bebiam a água com sacarina, eles
demonstravam sinais de imunossupressão, um enfraquecimento da resposta
imunológica. Pesquisas estão sendo realizadas (primariamente em uma subárea da
psicologia denominada psiconeuroimunologia) para estudar se o contrário também é
possível – se respostas de fortalecimento imunológico poderiam ser condicionadas. Em
linhas gerais, a pesquisa tem demonstrado que o condicionamento clássico é de fato
promissor no aumento da efetividade de respostas do sistema imunológico em humanos
(Miller & Cohen, 2001). Imagine só: no futuro você sente o início de um resfriado ou
gripe, então você escolhe em seu iPod sua “música de fortalecimento da resposta
imunológica” classicamente condicionada. À medida que a música enche seus ouvidos,
sua resistência aumenta como uma resposta condicionada a este estímulo e detém a
progressão da doença.
Como demonstração do impacto contínuo das descobertas de Pavlov na pesquisa
psicológica atual, considere o seguinte. Desde 2000, mais de mil artigos científicos
citaram o trabalho de Pavlov focalizado neste texto. Um estudo recente, especialmente
fascinante, demonstrou como o seu estado psicológico ao tempo do condicionamento e
extinção pode desempenhar um papel no tratamento de medos irracionais
condicionados, denominados fobias (Mystkowski et al., 2003). Os pesquisadores
usaram técnicas de dessensibilização para tratar participantes que ficavam terrificados
com aranhas. Alguns receberam o tratamento depois de ingerir cafeína, enquanto outros
ingeriram um placebo. Uma semana depois, todos os participantes foram retestados –
alguns recebendo cafeína e outros um placebo. Os que receberam placebo durante o
tratamento, mas receberam cafeína de verdade uma semana depois, e os que receberam
cafeína de verdade durante o tratamento, mas receberam placebo uma semana depois,
mostraram uma reincidência da resposta de medo. Em outras palavras, a mudança de
características da situação de estímulo diminui os efeitos da extinção. Contudo, os que
estiveram na mesma condição de droga (tanto cafeína quanto placebo), no tratamento e
uma semana depois, continuaram a mostrar uma resposta diminuída de medo de
aranhas. Esta descoberta implica que se um comportamento condicionado classicamente
é colocado com sucesso em extinção, a resposta pode retornar se o estímulo
condicionado for encontrado em uma situação diferente.
CONCLUSÃO
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3. Aprendizagem e Condicionamento – Pavlov
Estes exemplos demonstram como tem sido extensa a influência de Pavlov em muitas
disciplinas científicas e de pesquisa. Considerando a psicologia, em particular, poucos
cientistas tiveram tão grande impacto em uma única disciplina. Condicionamento
clássico é uma das teorias fundamentais sobre a qual se baseia a Psicologia. Sem as
contribuições de Pavlov, os cientistas comportamentais ainda poderiam ter descoberto a
maioria destes princípios ao longo de muitas décadas. É pouco provável, contudo, que
uma teoria tão coesa, elegante e bem articulada do reflexo condicionado teria existido se
Pavlov não tivesse decidido arriscar sua carreira e aventurar-se na incerta e questionável
ciência psicológica do Século XIX.
Ader, R., & Cohen, N. (1985). CNS-imune system interactions: Conditioning phenomena. Behavioral and
Brain Sciences, 8, 379-394.
Frederickson, M., Annas, P, & Wik, G. (1997). Parental history, aversive exposure, and the development
of snake and spider phobias in women. Behavior Research and Therapy, 35(1), 23-28.
Gustafson, C. R., Garcia, J., Hawkins, W., & Rusiniak, K. (1974). Coyote predation control by aversive
conditioning. Science, 184, 581-583.
Miller, G., & Cohen, S. (2001). Psychological interventions and the imune system: A meta-analytic
review and critique. Health Psychology, 20, 47-63.
Mystkowski, J., Mineka, S., Vernon, L., & Zimbarg, R. (2003). Changes in caffeine states enhance return
of fear in spider phobia. Journal of Consulting and Clinical Psychology, 71, 243-250.
QUESTOES DE ESTUDO
1) Explique o que é um reflexo. Por que a salivação é um reflexo?
2) Explique as observações informais que levaram Pavlov a pesquisar mais sistematicamente os processos
de condicionamento.
3) Explique a diferença entre reflexos incondicionados e condicionados.
4) Nos experimentos iniciais de Pavlov, quais eram o EIC, a RIC, o EC e a RC? Dê exemplos de
variações nos estímulos feitas posteriormente por Pavlov.
5) Para ocorrer condicionamento, EN tem que ser apresentado antes ou depois do EIC? Quais resultados
comprovam isto?
6) Tente fazer o experimento com você mesmo sugerido pelo autor. Descreva os resultados que você
encontrar.
7) Explique o procedimento para condicionar lobos e coiotes de modo que eles deixassem de atacar
ovelhas. Identifique o EIC, a RIC, o EC e a RC.
8) Explique de que modo você pode aplicar os princípios de condicionamento clássico para compreender
os efeitos da propaganda.
9) Explique as possíveis aplicações dos conceitos de condicionamento clássico aos campos da imunologia
e dos distúrbios alimentares.
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3. Aprendizagem e Condicionamento – Pavlov
Ao todo, 14 crianças aprenderam esta relação, de modo que a figura abstrata de cima tornou-se
símbolo do personagem preferido e a de baixo tornou-se símbolo do personagem de que a criança não
gostava. Estas figuras foram então usadas como rótulos de duas embalagens transparentes, com as duas
contendo pedaços iguais da mesma comida, como na figura abaixo.
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3. Aprendizagem e Condicionamento – Pavlov
Em um dos testes, estas duas embalagens foram apresentadas para cada uma das 14 crianças.
Primeiro, a experimentadora perguntou qual das comidas (lembre-se de que era a mesma comida) a
criança queria comer primeiro. Todas as 14 crianças quiseram comer primeiro a comida que estava na
embalagem da esquerda, com o símbolo do personagem preferido. Em seguida, a experimentadora pediu
à criança para comer também a comida da outra embalagem e então perguntou de qual das duas a criança
tinha gostado mais. Todas as 14 crianças disseram que tinham gostado mais da comida rotulada com o
símbolo do personagem de que elas gostavam.
Os experimentos da tese de Silvana dos Santos, assim como muitos outros experimentos sobre
condicionamento avaliativo, dão uma ideia de como as preferências das crianças (e dos adultos também)
podem ser manipuladas por processos de condicionamento avaliativo.
dos Santos, S. L. (2017). Influência de personagens infantis sobre escolhas alimentares em crianças: um
estudo com equivalência de estímulos. Tese de doutorado, Programa de Pós-Graduação em
Psicologia, Universidade Federal de São Carlos.
dos Santos, S. L., & de Rose, J. C. (2017). Manutenção das classes de equivalência e transferência de
função: Uma investigação por meio de escolhas alimentares de crianças. Perspectivas em Análise
do Comportamento, 8(1), 1-11.
dos Santos, S. L., & de Rose, J. C. (2018). Investigating the impact of stimulus equivalence in children's
food choice and preference. Trends in Psychology/Temas em Psicologia), 26(1), 1-14.
dos Santos, S. L., & de Rose, J. C. (2019). Influence of cartoon characters on children’s food preference
via transfer of functions. The Psychological Record, 69, 153-163.
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3. Aprendizagem e Condicionamento – Watson & Rayner
Você alguma vez se perguntou de onde é que vêm suas emoções? Se sim, você não está
sozinho. A origem das emoções tem fascinado cientistas do comportamento ao longo
da história da Psicologia. Parte da evidência desse fascínio pode ser encontrada neste
livro; ele inclui cinco estudos diretamente relacionados a respostas emocionais
(Capítulo V, Harlow, 1958; Capítulo VI, Ekman & Friesen, 1971; Capítulo VIII,
Seligman & Meier, 1967; e Capítulo IX, Wolpe, 1961). O presente estudo, de Watson e
Rayner, sobre respostas emocionais condicionadas, constituiu uma demonstração de
pesquisa bastante poderosa quando foi publicada, há mais de um século, e continua a
exercer influência ainda hoje. Dificilmente você encontrará um livro de psicologia
geral ou sobre aprendizagem e comportamento que não contenha um resumo das
descobertas deste estudo.
A importância histórica desse estudo é devida não apenas aos resultados de
pesquisa, mas também ao novo território psicológico que ele descortinou. Se
pudéssemos voltar ao início do século XX e ter uma noção do estado da Psicologia
naquela época, veríamos que ela estava quase que completamente dominada pelo
trabalho de Sigmund Freud (ver a leitura sobre Anna Freud no Capítulo VIII). A
concepção psicanalítica de Freud sobre o comportamento humano se baseava na ideia
de que somos motivados por instintos inconscientes e por conflitos reprimidos na
infância. Em termos freudianos simplificados, o comportamento, e especificamente a
emoção, é gerado internamente através de processos biológicos e instintivos.
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3. Aprendizagem e Condicionamento – Watson & Rayner
Deem-me uma dúzia de crianças sadias, bem formadas, e meu próprio mundo especial
onde eu possa criá-las, e eu garanto tomar qualquer uma delas ao acaso e treiná-la para se
tornar qualquer tipo de especialista que eu possa selecionar - médico, advogado, artista,
comerciante, e, sim, mendigo e ladrão (Watson, 1913).
PROPOSIÇÕES TEÓRICAS
A hipótese de Watson era a de que se um estímulo produz automaticamente uma reação
emocional em você (como o medo), e este estímulo ocorrer repetidamente ao mesmo
tempo que alguma outra coisa, a presença de um rato, por exemplo, o rato ficará
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3. Aprendizagem e Condicionamento – Watson & Rayner
associado com o medo no seu cérebro. Em outras palavras, você eventualmente será
condicionado a ter medo do rato (esta visão reflete a teoria do condicionamento clássico
de Pavlov). Ele afirmava que nós não nascemos com medo de ratos, mas que tais
medos são aprendidos por condicionamento. Esta foi a base teórica para o mais famoso
de seus experimentos, realizado com um participante chamado "Pequeno Albert"
MÉTODO E RESULTADOS
O participante, “Albert B.”, foi recrutado para esse estudo com a idade de 9 meses, em
um hospital onde ele era criado como órfão, desde o nascimento. Os pesquisadores e a
equipe do hospital consideravam-no muito sadio, tanto física quanto emocionalmente.
Para verificar se Albert tinha medo de alguns estímulos, foram apresentados a ele um
rato branco, um coelho, um macaco, um cachorro, máscaras com e sem cabelos, e um
maço de algodão branco. As reações de Albert a esses estímulos foram cuidadosamente
observadas. Albert tinha interesse pelos vários animais e objetos e se aproximava deles,
tocando-os algumas vezes mas nunca demonstrando o menor medo. Uma vez que estes
estímulos não produziam medo, eles foram considerados "estímulos neutros".
A fase seguinte do experimento consistiu em determinar se era possível produzir
uma reação de medo em Albert, pela exposição a um ruído intenso. Todas as pessoas, e
as crianças em especial, exibem reações de medo a ruídos súbitos e intensos. Uma vez
que não é necessário aprendizagem para que esta reação ocorra, o ruído intenso é
considerado um "estímulo incondicionado". Nesse estudo, um dos experimentadores
bateu com um martelo sobre uma barra de aço de aproximadamente um metro de
comprimento, localizada atrás de Albert. Esse ruído o assustou e amedrontou e o fez
chorar.
Agora o cenário estava pronto para testar a ideia de que a emoção de medo podia
ser condicionada em Albert. O verdadeiro teste de condicionamento não foi feito até
que a criança estivesse com 11 meses de idade. Os experimentadores hesitaram em
criar experimentalmente reações de medo na criança, mas finalmente decidiram ir em
frente com base no que foi, em retrospecto, considerado um raciocínio ético
questionável (Isto é discutido adiante, em conjunto com os problemas éticos gerais deste
estudo).
Quando o experimento teve início, Watson e a estudante de pós-graduação que
foi sua assistente, Rosalie Rayner, apresentaram o rato branco a Albert. De início,
Albert estava interessado no rato e tentava se aproximar dele e pegá-lo. Quando ele
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3. Aprendizagem e Condicionamento – Watson & Rayner
fazia isso, a barra de aço era malhada, o que assustava e amedrontava Albert. Esse
processo foi repetido três vezes. Uma semana mais tarde, o mesmo procedimento foi
novamente realizado. Depois de um total de sete emparelhamentos entre o ruído e o
rato, o rato foi apresentado sozinho, sem o ruído. Como você já deve ter adivinhado,
Albert reagiu com extremo medo do rato. Ele começou a chorar, virou-se para o lado
oposto, rolou sobre seu corpo e começou a engatinhar para longe tão depressa que os
experimentadores tiveram que correr para segurá-lo, antes que ele caísse da borda da
mesa. A resposta de medo tinha sido condicionada a um objeto que não havia
produzido medo há menos de uma semana.
Os pesquisadores queriam determinar, então, se o medo aprendido se transferiria
para outros objetos. Em termos psicológicos, essa transferência é designada como
"generalização". Se Albert mostrasse medo de outros objetos semelhantes, então seria
possível dizer que o comportamento aprendido havia se generalizado. Na semana
seguinte Albert foi novamente submetido ao teste e, novamente, mostrou medo do rato.
Então, para fazer o teste de generalização, foi apresentado a ele um objeto semelhante
ao rato (um coelho branco). Nas próprias palavras dos autores,
Lembre-se: Albert não teve medo do coelho antes do condicionamento, e não tinha sido
condicionado a ter medo especificamente do coelho.
Ao longo daquele mesmo dia foram apresentados ao Pequeno Albert um
cachorro, um casaco branco de peles, um pacote de algodão e a cabeça do próprio
Watson, com seus cabelos brancos. Ele reagiu com medo a todos esses itens. Um dos
testes de generalização mais conhecidos e que deu a essa pesquisa famosa uma má
fama, ocorreu quando Watson apresentou a Albert uma máscara de Papai Noel. A
reação? Sim, foi de medo!
Cinco dias depois Albert foi novamente submetido aos testes. A sequência de
apresentações nesse dia está sumariada na Tabela 10.1.
Um outro aspecto das reações emocionais que Watson queria explorar era se a
emoção aprendida seria transferida de uma situação para outra. Se as respostas
emocionais de Albert a esses vários animais e objetos ocorressem apenas na situação
experimental e em nenhuma outra, a significância das descobertas seria enormemente
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3. Aprendizagem e Condicionamento – Watson & Rayner
reduzida. Para testar esse aspecto, mais tarde, naquele mesmo dia em que foram
realizados os testes resumidos na Tabela 10.1, Albert foi levado para uma sala
completamente diferente, mais iluminada e com mais pessoas presentes. Nessa nova
situação, as reações de Albert ao rato e ao coelho foram, ainda, claramente de medo,
embora um pouco menos intensas.
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3. Aprendizagem e Condicionamento – Watson & Rayner
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3. Aprendizagem e Condicionamento – Watson & Rayner
original de busca do prazer. Albert, no entanto, chupava o dedo sempre que estava com
medo. Assim que colocava o dedo na boca, ele parava de ficar com medo. Assim,
Watson interpretou o chupar o dedo como um dispositivo condicionado para bloquear
estímulos eliciadores de medo.
Um outro ataque ao pensamento freudiano, feito neste artigo, dizia respeito a
como os freudianos analisariam no futuro, se tivessem oportunidade, o medo de Albert
pelo casaco de peles. Watson e Rayner disseram que eles "provavelmente conseguirão
dele a descrição de um sonho que, pela sua análise, mostrará que o Pequeno Albert, aos
três anos de idade, tentara brincar com os pelos pubianos de sua mãe, e fora
violentamente repreendido por isto" (p. 14). O principal argumento dos autores era que
eles haviam demonstrado com Albert que distúrbios emocionais na vida adulta não
podem sempre ser atribuídos a traumas sexuais na infância, como a concepção freudiana
sempre interpretava.
QUESTÕES E CRÍTICAS
À medida que você veio lendo este texto, é possível que tenha ficado preocupada(o) ou
mesmo com raiva do tratamento que os experimentadores impingiram a essa criança
inocente. Esse estudo viola claramente os padrões atuais de conduta ética na pesquisa
com humanos. Seria altamente improvável que qualquer Comitê de Ética, em qualquer
instituição de pesquisa, aprovasse esse estudo atualmente. Um século atrás, porém, tais
padrões éticos não haviam sido formalmente formulados, e não é incomum encontrar
relatos na literatura psicológica daquela época, de procedimentos de pesquisa que agora
nos parecem muito questionáveis. Deve ser destacado que Watson e seus colaboradores
não eram pessoas sádicas ou cruéis e que estavam envolvidos em uma área de pesquisa
nova e inexplorada. Eles de fato mostraram uma considerável hesitação sobre
prosseguir ou não com o condicionamento, mas decidiram que isto era justificável uma
vez que, na opinião deles, alguns dos medos se instalariam de qualquer modo, quando
Albert deixasse o ambiente protegido do hospital. Mas mesmo assim, seria apropriado
amedrontar tanto uma criança, qualquer que fosse a importância potencial da
descoberta? Hoje quase todos os cientistas comportamentais concordariam que não.
Um outro aspecto ético importante neste estudo foi o fato de que Albert teve
permissão de sair do hospital sem nunca ter sido recondicionado para remover seus
medos. Watson e Rayner argumentam, em seu artigo, que tal condicionamento
emocional pode persistir ao longo de toda a vida de uma pessoa. Se eles estiverem
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3. Aprendizagem e Condicionamento – Watson & Rayner
estranheza a seus pais adotivos). Mas à medida que ele continuou a ser exposto ao
coelho, sem que qualquer coisa assustadora ocorresse (tal como o ruído intenso), é
muito provável que ele fosse gradualmente ficando com menos medo, até que o coelho
não produzisse mais respostas de medo. Esse é um processo muito bem estabelecido na
Psicologia da aprendizagem, denominado "extinção" e que ocorre rotineiramente, como
parte dos constantes processos de aprender e desaprender e de condicionar e
descondicionar, que experienciamos ao longo de nossas vidas.
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3. Aprendizagem e Condicionamento – Watson & Rayner
APLICAÇÕES RECENTES
O artigo de Watson, de 1920, apesar de suas falhas éticas, continua a ser citado em uma
ampla gama de aplicações, incluindo teorias sobre criação efetiva de filhos e
psicoterapia. Um estudo examinou as expressões faciais de emoção em bebês (Sullivan
& Lewis, 2003). Nós sabemos que as expressões faciais correspondentes a emoções
específicas são consistentes entre adultos e entre culturas (veja a leitura sobre a pesquisa
de Ekman, no Capítulo VI). Este estudo, contudo, estendeu esta pesquisa sobre como
expressões se desenvolvem em bebês e o que as várias expressões significam em idades
muito precoces. Um amplo entendimento das expressões faciais de bebês pode ajudar
muito os esforços para comunicação e cuidado com o bebê. Os autores observaram que
o objetivo da pesquisa deles foi “fornecer aos profissionais informações básicas para
ajudar a eles, e também aos pais com os quais eles trabalham, a melhorar sua
capacidade de reconhecer os sinais expressivos dos bebês e crianças pequenas sob seu
cuidado” (p. 120). O uso das descobertas de Watson por estes autores dá um grau de
conforto na medida em que, em suas táticas de pesquisa questionáveis com o Pequeno
Albert, no final das contas, tenhamos desenvolvido uma maior sensitividade e
percepção dos sentimentos e necessidades dos bebês.
Como anteriormente mencionado nesta discussão, uma emoção, medo, na sua
forma extrema pode produzir sérias consequências negativas, conhecidas como fobias.
Muitos psicólogos acreditam que as fobias são condicionadas, em grande medida como
o medo que o Pequeno Albert passou a ter de animais peludos (ver a discussão da
pesquisa de Wolpe sobre o tratamento de fobias, no Capítulo IX: Psicoterapia). A
pesquisa de Watson tem sido incorporada a muitos estudos recentes sobre a origem e
tratamento de fobias. Um destes artigos discutiu fobias a partir da perspectiva
natureza-experiência e encontrou alguns resultados notáveis. A abordagem de Watson
é enraizada, por certo, completamente no lado ambiental da controvérsia e a maioria
das pessoas, provavelmente, encara as fobias como sendo aprendidas.
Contudo, um estudo de Kendler, Karkowski e Prescott (1999) forneceu evidência
convincente de que o desenvolvimento de fobias pode incluir um componente
genético substancial. Os pesquisadores investigaram fobias e medos irracionais em
mais de 1700 mulheres gêmeas (ver a discussão sobre a pesquisa de Bouchard com
gêmeos, no Capítulo 1). Eles alegam terem encontrado que um grande porcentagem de
variação em fobias era devida a fatores hereditários. Os autores concluíram que,
22
3. Aprendizagem e Condicionamento – Watson & Rayner
De Angelis, T. (2010). Little Albert regains his identity. Monitor on Psychology, 41, 10.
Harris, B. (1979). What ever happened to little Albert? American Psychologist, 34, 151-160.
Kendler, K., Karkowski, L., & Prescott, C. (1999). Fears and phobias: reliability and heritability.
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Sullivan, M., & Lwqia, M. (2003). Emotional expressions of Young infants and children: A practitioner’s
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Watson, J.B. (1913). Psychology as the behaviorist views it. Psychological Review, 20, 158-177.
23
3. Aprendizagem e Condicionamento – Skinner
Reforçamento=Aprendizagem
Situação Comportament Consequência
o Punição=Não aprendizagem
25
3. Aprendizagem e Condicionamento – Skinner
psicólogos não eram capazes de identificar com precisão os reforçadores que tinham
criado e que estavam mantendo o comportamento. Se isto soa como uma posição
extrema, lembre-se de que a posição de Skinner é chamada de behaviorismo radical e
foi sempre cercada de controvérsias.
Skinner deparou-se frequentemente com ceticismo e defendeu seu ponto de vista
demonstrando experimentalmente que comportamentos considerados como propriedade
exclusiva dos seres humanos poderiam ser aprendidos por criaturas inferiores, como
pombos ou ratos. Uma destas demonstrações envolveu o argumento de que o
comportamento supersticioso seria exclusivamente humano. O argumento era que a
superstição requer uma atividade cognitiva humana (pensamento, conhecimento,
raciocínio). Uma superstição é uma crença em algo, e nós não costumamos atribuir tais
crenças a animais. Bem, Skinner dizia, essencialmente, que o comportamento
supersticioso poderia ser explicado tão facilmente quanto qualquer outra ação, pelos
princípios do condicionamento operante. Ele desenvolveu um experimento para provar
isto.
PROPOSIÇÕES TEÓRICAS
Pense em alguma situação do passado em que você tenha se comportado de maneira
supersticiosa. Você bateu na madeira, evitou passar por baixo de uma escada, evitou o
número treze, carregou uma moeda da sorte ou outro talismã, agitou os dados de um
modo particular em um jogo de tabuleiro, mudou seu comportamento por causa do
horóscopo?
Seguramente, é provável que todo mundo tenha feito algo de supersticioso em algum
momento, mesmo que algumas pessoas possam não querer admiti-lo. Skinner disse que
a razão pela qual as pessoas fazem isso é que elas acreditam ou presumem que há uma
conexão entre o comportamento supersticioso e alguma consequência reforçadora,
mesmo que, na realidade, não haja. Esta conexão existe porque o comportamento (como
o de agitar os dados de um certo modo) foi acidentalmente reforçado (com uma boa
jogada, por exemplo) uma, duas ou muitas vezes. Skinner chamou isso de reforçamento
não contingente, uma recompensa que não é contingente a qualquer comportamento
particular. Você acredita que há uma relação causal entre o comportamento e a
recompensa, quando não existe tal relação. “E se você pensa que esta é uma atividade
exclusivamente humana”, Skinner poderia ter dito, “eu criarei um pombo
supersticioso!”
MÉTODO
26
3. Aprendizagem e Condicionamento – Skinner
RESULTADOS
Como Skinner relata:
Em seis dos oito casos, as respostas resultantes foram tão claramente definidas que dois
observadores puderam concordar perfeitamente na contagem dos exemplos. Um pássaro
foi condicionado a dar voltas em sentido anti-horário em torno da gaiola, dando duas ou
três voltas entre os reforços. Outro enfiava a cabeça repetidamente em um dos cantos
superiores da gaiola. Um terceiro desenvolveu uma resposta de balanço, como se
colocasse sua cabeça embaixo de uma barra invisível e a erguesse, repetidamente. Dois
pássaros desenvolveram um movimento pendular da cabeça e do corpo, no qual a cabeça
era estendida para a frente e oscilava da direita para a esquerda, em um movimento rápido
seguido por um retorno um pouco mais lento. O corpo, em geral, seguia o movimento
que, quando era mais amplo, permitia que apenas uns poucos passos fossem dados. Outro
pássaro foi condicionado a dar bicadas ou fazer movimentos de “esbarrar” incompletos,
direcionados ao chão, mas que não chegavam a tocá-lo (p. 168).
27
3. Aprendizagem e Condicionamento – Skinner
tinha nenhuma relação com o recebimento de comida pelo pombo. No entanto, eles se
comportavam como se uma certa ação produzisse a comida: eles se tornaram
supersticiosos.
Em seguida, Skinner quis ver o que aconteceria se o intervalo entre os
reforçamentos fosse aumentado. Para um dos pássaros que balançava a cabeça, o
intervalo entre as liberações de pelotas de comida foi gradualmente aumentado para um
minuto. Quando isto ocorreu, os movimentos do pombo tornaram-se mais enérgicos até
que, finalmente, os balanços se tornaram tão pronunciados que parecia que o pássaro
estava desempenhando uma espécie de dança durante o minuto entre os reforçamentos
(como uma dança da comida do pombo).
Finalmente, o comportamento novo dos pássaros foi colocado em extinção. Isto
significa que o reforçamento na Caixa de Skinner foi interrompido. Quando isto
aconteceu, os comportamentos supersticiosos diminuíram gradualmente, até
desaparecerem por completo. No entanto, notou-se que, no caso do pombo dançarino,
em que o intervalo entre reforçamentos havia sido aumentado para um minuto, mais de
10.000 respostas foram registradas antes que a extinção ocorresse.
DISCUSSÃO
Neste estudo Skinner conseguiu seis pombos supersticiosos. No entanto, ele explicou
suas descobertas com mais cautela e modéstia: “Pode-se dizer que o experimento
demonstrou um tipo de superstição. O pássaro se comporta como se houvesse uma
relação causal entre seu comportamento e a apresentação de comida, apesar de tal
relação estar ausente” (p. 171).
O próximo passo, é claro, seria aplicar estas descobertas para os seres humanos.
Tenho certeza de que não é difícil, para você, pensar em analogias com comportamento
humano, e foi o que Skinner fez. Ele descreveu, “o jogador de boliche que jogou uma
bola na pista, mas continua se comportando como se estivesse controlando-a, torcendo e
girando seu braço e ombro, como um outro caso a considerar” (p. 171). Você sabe,
racionalmente, que comportamentos como este não têm, de fato, qualquer efeito sobre a
bola de boliche que já está na metade do trajeto da pista. Contudo, devido ao
condicionamento passado, você acredita que seus trejeitos vão ajudar, mas a bola, de
fato, irá para onde está indo independentemente do seu comportamento após ela ter
partido. Como Skinner afirma, “o comportamento do jogador de boliche não tem efeito
sobre a bola, mas o comportamento da bola tem efeito sobre o jogador” (p. 171). Em
outras palavras, em algumas ocasiões, acontece que a bola se move na direção indicada
pelo movimento dos braços do jogador. O movimento da bola, junto às consequências
de uma jogada bem-sucedida, é suficiente para reforçar acidentalmente os movimentos
do jogador e manter a superstição. O quanto isto seria diferente do comportamento dos
pombos de Skinner? Não muito.
A razão pela qual as superstições são tão resistentes à extinção foi demonstrada
pelo pombo que dançou 10.000 vezes antes de abandonar o comportamento. Quando
qualquer comportamento é reforçado apenas de vez em quando numa dada situação (o
que é chamado de reforçamento parcial), ele se torna muito difícil de extinguir. Isto
acontece porque permanece alta a expectativa de que o comportamento supersticioso
poderia ainda funcionar para produzir as consequências reforçadoras. Você pode
imaginar que se a conexão estivesse presente todas as vezes e então desaparecesse
subitamente, o comportamento cessaria rapidamente. Entretanto, na vida real, as
instâncias de reforçamento acidental usualmente ocorrem esporadicamente, de modo
que o comportamento supersticioso pode, frequentemente, persistir por toda a vida.
28
3. Aprendizagem e Condicionamento – Skinner
Os behavioristas argumentariam, por sua vez, que todas estas características humanas
estão abertas à análise comportamental. A chave para isso está na interpretação
apropriada dos comportamentos e consequências que constituem estas características
(ver Skinner, 1974, para uma discussão completa destas questões).
Sobre a questão específica das superstições, no entanto, parece haver menos
controvérsia e uma aceitação mais completa do processo de aprendizagem envolvido em
sua formação. Um experimento desenvolvido por Bruner e Revuski (1961) demonstrou
o quão facilmente o comportamento supersticioso se desenvolve em humanos. Quatro
estudantes de ensino médio se sentaram, cada um defronte a quatro chaves telegráficas.
Eles receberam a instrução de que, cada vez que pressionassem a chave correta, uma
sineta soaria, acompanhada do acendimento de uma luz vermelha, e eles receberiam
uma moeda de 5 centavos de dólar. A resposta correta era a chave número três.
Entretanto, como no estudo de Skinner, a chave número três produzia o reforço desejado
(a moeda) apenas após a passagem de um intervalo de 10 segundos. Durante este
intervalo, os estudantes ficavam tentando acionar as chaves, em várias combinações.
Então, em algum ponto após a passagem dos 10 segundos, eles acabavam por apertar
novamente a terceira chave e recebiam o reforço. Os resultados foram os mesmos para
todos os estudantes. Depois de um tempo, cada um deles desenvolveu um padrão de
respostas às chaves (como, por exemplo, 1, 2, 4, 3, 1, 2, 4, 3), que eles ficavam sempre
repetindo no intervalo entre os reforçamentos. Pressionar a chave 3 era o único
comportamento reforçado; as outras pressões na sequência eram completamente
supersticiosas. Além de se comportarem supersticiosamente, todos os estudantes
acreditavam que as outras pressões às chaves eram necessárias para “fazer funcionar” a
chave reforçada. Eles não tinham ciência de seu comportamento supersticioso.
APLICAÇÕES RECENTES
Skinner, como uma das figuras mais influentes da Psicologia, ainda tem um grande e
substancial impacto sobre a literatura científica em muitos campos. Seu artigo de 1948
sobre comportamento supersticioso tem sido citado em numerosos estudos recentes. Um
29
3. Aprendizagem e Condicionamento – Skinner
CONCLUSÃO
As superstições estão em toda a parte. Você provavelmente tem algumas e você
certamente sabe que outros as têm. Algumas superstições tornam-se de tal modo parte
da cultura que elas produzem efeitos sociais amplos. Você deve estar ciente de que a
maioria dos arranha-céus não têm um 13o. andar7. Bom, não é bem assim. Obviamente
existe um 13o. andar, mas não há nenhum andar que recebe o número “13”. Isto
provavelmente não se deve ao fato de que arquitetos e construtores sejam uma turma
excessivamente supersticiosa, e sim à dificuldade de vender ou alugar imóveis em um
13o. andar.
Seriam as superstições pouco saudáveis psicologicamente? A maioria dos
psicólogos acredita que, ainda que os comportamentos supersticiosos, por definição, não
produzam as consequências que você acredita que eles produzem, eles podem ter
funções úteis. Frequentemente, tais comportamentos podem produzir um sentimento de
força e controle quando uma pessoa se defronta com uma situação difícil. É interessante
notar que as pessoas que trabalham em ocupações perigosas tendem a ter mais
6
No original em inglês, Attention Deficit/Hyperactivity Disorder ou ADHD. (Nota do tradutor)
7
Nos Estados Unidos (Nota do Tradutor).
30
3. Aprendizagem e Condicionamento – Skinner
Aeschleman, S., Rosen, C., & Williams, M (2003). The effect of non-contingent negative and positive
reinforcement operations on the acquisition of superstitious behaviors. Behavioural Processes,
61, 37-45.
Bruner, A., & Revuski, S. (1961). Collateral behavior in humans. Journal of the Experimental Analysis of
Behavior, 4, 349-350.
Rogers, C. R. (1964). Toward a science of the person. In F. W. Wann (Org.), Behaviorism and
phenomenology: Contrasting bases for modern psychology. Chicago: Phoenix Books.
Sagvolden, T., Aase, H., Zeiner, P., & Berger, D. (1998). Altered reinforcement mechanisms in
attention-deficit/hyperactivity disorder. Behavioral Brain Research, 94(1), 61-71.
Schneider, S., & Morris, E. (1987). The history of the term radical behaviorism: From Watson to Skinner.
The Behavior Analyst, 10, 27-39.
Skinner, B. F. (1974). About behaviorism. New York: Knopf.
31
3. Aprendizagem e Condicionamento – Skinner
QUESTÕES DE ESTUDO
1) Exponha, com suas próprias palavras e do modo como você a compreendeu, a concepção
behaviorista radical de Skinner sobre o comportamento humano. Ao expor a concepção de Skinner,
dê ênfase aos argumentos que a apóiam. Você pode acrescentar uma crítica (negativa ou positiva)
desta concepção.
3) Descreva resumidamente o método usado por Skinner no experimento sobre superstição em pombos.
6) Sintetize, com suas próprias palavras, as críticas de Carl Rogers às concepções de Skinner.
7) Como, segundo o autor do texto, Skinner poderia se defender em relação às críticas dos psicólogos
humanistas?
10) Há diferenças entre as explicações para o comportamento dadas por Skinner e por Bouchard e
colaboradores (texto No. 3)? Compare as explicações destes cientistas e como elas se situam em
termos da controvérsia inato vs. aprendido (nature vs. nurture).
32
3. Aprendizagem e Condicionamento – Skinner
Rato de bolsa gigante recebendo uma banana como reforço pela detecção de explosivo
Minas terrestres abandonadas constituem uma ameaça tanto aos humanos quanto aos animais
selvagens. Os ratos são bem mais eficientes para localizar as minas, devido ao seu excepcional olfato e
por terem sido treinados a localizar apenas objetos contendo explosivos, enquanto um humano com um
detector de metal perde muito tempo com objetos de metal que não contém explosivos. Quando um rato
começa a escavar um local, isto indica a presença de explosivo, e então os treinadores do rato podem
33
3. Aprendizagem e Condicionamento – Skinner
marcar a área e chamar uma equipe especializada para desativar o explosivo. As minas não matam apenas
humanos, também matam ou mutilam animais selvagens. Quando uma área é liberada de minas, ela pode
ser devolvida à comunidade para cultivo ou preservada como habitat de animais selvagens.
Magawa, com sua Medalha de Ouro PDSA (mas provavelmente ele apreciava mais as bananas)
O mais famoso rato detector de minas foi Magawa (2013-2022), nascido na Tanzania e levado
para o Camboja depois de um ano de treino. Magawa era capaz de dar busca em uma área do tamanho de
uma quadra de tênis em apenas 20 minutos, algo que uma pessoa com um detector de metal levaria de 1 a
4 dias para fazer. Nos seus cinco anos de “carreira”, Magawa detectou 71 minas e 38 casos de outros
explosivos não detonados, limpando mais de 22,5 hectares. Magawa foi condecorado em 2020 com a
Medalha de Ouro PDSA, a mais prestigiosa condecoração para bravura animal. Até então, apenas cães
haviam recebido esta premiação. Depois de décadas de guerra civil, o Camboja é um dos países mais
minados do mundo, com a estimativa de 4 a 6 milhões de minas e outros explosivos ainda não detonados.
As minas mataram mais de 64.000 pessoas e causaram mais de 25.000 amputações. Grande parte das
vítimas têm sido crianças.
Os ratos de bolsa gigante não detectam apenas explosivos. Eles também têm sido condicionados
a detectar amostras de sangue positivas para tuberculoso. O procedimento de condicionamento para
detecção de tuberculose é semelhante ao usado para treinar detecção de explosivos.
34
3. Aprendizagem e Condicionamento – Bandura
Pode-se argumentar que a agressão, nas suas inúmeras formas, seja o grande problema
social com que se defronta nosso país8 e o mundo atual. Consequentemente, ela
8
“Nosso país” neste texto refere-se aos Estados Unidos, país do autor do livro, Roger Hock. Mas o
autor considera que o problema se estende para o “mundo atual”. (Nota do Tradutor)
35
3. Aprendizagem e Condicionamento – Bandura
PROPOSIÇÕES TEÓRICAS
9
O termo modelação se refere a uma pessoa que desempenha um certo comportamento e que deste
modo serve como modelo para que outro imite este comportamento (NT).
10
Nos estudos sobre imitação, o indivíduo que é imitado é geralmente designado como modelo, porque
é ele que desempenha o comportamento a ser observado e imitado. (Nota do Tradutor)
36
3. Aprendizagem e Condicionamento – Bandura
MÉTODO
Este artigo delineou os métodos usados no experimento com grande organização e
clareza. Embora de forma algo sumarizada e simplificada, estes passos metodológicos
são focalizados aqui.
Participantes
Os pesquisadores obtiveram o auxílio do(a) diretor(a) e do(a) professor(a)-chefe da
Escola Maternal da Universidade Stanford, a fim de obter participantes para o estudo.
Um total de 36 meninos e 36 meninas, com idade variando de 3 anos a quase 6 anos,
participaram do estudo. A idade média das crianças foi de 4 anos e 4 meses.
Condições Experimentais
O grupo de controle, consistindo de 24 crianças, não seria exposto a modelo nenhum.
Os 48 participantes restantes foram divididos primeiro em dois grupos: um deles foi
exposto aos modelos agressivos e o outro foi exposto a modelos não agressivos. Estes
grupos foram divididos novamente em meninos e meninas. Finalmente, cada um
destes grupos foi dividido de tal modo que metade dos participantes foi exposta a
modelos do mesmo sexo e metade a modelos do sexo oposto. Isto criou um total de
oito grupos experimentais e um grupo de controle. A questão que você pode estar se
fazendo é a seguinte: E se algumas crianças de alguns grupos já fossem mais
agressivas do que outras? Bandura preveniu-se contra este problema potencial
obtendo avaliações do nível de agressividade de cada participante. As crianças foram
avaliadas, por um experimentador e um professor (ambos conheciam bem as
37
3. Aprendizagem e Condicionamento – Bandura
O Procedimento Experimental
Cada criança foi exposta individualmente aos vários procedimentos experimentais.
Primeiro, o experimentador trouxe a criança para a sala de brinquedo. No caminho,
eles encontraram o modelo adulto, que foi convidado pelo experimentador para vir
também e participar do jogo. A criança sentou-se em um canto da sala de brinquedo,
a uma mesa contendo atividades altamente interessantes. Estas eram: carimbos de
batata (isto foi em 1961, de modo que, para vocês que cresceram na nossa era high
tech, um carimbo de batata era uma batata cortada ao meio e esculpida de modo a,
como um carimbo de borracha, reproduzir formas geométricas quando fosse
umedecida em uma almofada com tinta) e adesivos de animais e flores em colorido
brilhante que poderiam ser colados em um cartaz. Em seguida, o modelo adulto foi
levado para uma mesa em um canto diferente, contendo um brinquedo de
“monte-você-mesmo” com peças para armar, uma marreta11, e um João Bobo inflável
de 1,52 m de altura. O experimentador explicou que estes brinquedos eram para que o
modelo brincasse com eles, e então deixou a sala.
no nariz dele. Então, o modelo levantou o João Bobo, pegou a marreta de borracha e
golpeou o João Bobo na cabeça. Seguindo-se à agressão com marreta, o modelo jogou
o boneco agressivamente para o ar e saiu chutando-o pela sala. Esta sequência de atos
fisicamente agressivos foi repetida três vezes, entremeada com respostas verbalmente
agressivas, tais como, “Soque o nariz dele…”, “Derrube-o” , “Jogue-o para cima”,
“Chute-o”, “Pá…”, e dois comentários não agressivos: “Ele continua voltando para
Tudo isto levou cerca de 10 minutos, depois dos quais o experimentador voltou para a
sala, disse adeus ao modelo, e levou a criança para uma outra sala de brinquedo.
11
O artigo original de Bandura et al. (1961), assim como o texto de Roger Hock, menciona apenas um
“mallet” (palavra que pode ser traduzida como marreta, martelo ou malho), sem indicação do tamanho
e material do qual o objeto era feito. Era, obviamente, um brinquedo inofensivo, como podemos ver em
vídeos originais do experimento, disponíveis no Youtube. Provavelmente era feito de plástico ou
borracha, para não danificar o João Bobo e nem representar risco para a criança.
38
3. Aprendizagem e Condicionamento – Bandura
todos os participantes, com exceção dos fatores que estavam sendo estudados: o
várias condições foram levados a uma outra sala que continha brinquedos muito
disseram a eles que os brinquedos daquela sala estavam reservados para outras
crianças. Eles disseram aos participantes, porém, que eles poderiam brincar com
A última sala experimental estava cheia de brinquedos, tanto agressivos quanto não
39
3. Aprendizagem e Condicionamento – Bandura
marreta, dois revolveres de dardos e uma espirobol com uma face pintada nela. Os
brinquedos não agressivos incluíam um conjunto de chá, giz de cera e papel, uma
bola, duas bonecas, carros e caminhões, além de animais de fazenda feitos de plástico.
Cada participante teve permissão para brincar nesta sala por 20 minutos. Durante este
Medidas de Agressão
Por razões de clareza, apenas quatro das medidas mais reveladoras serão sumarizadas
aqui. Primeiro, foram registrados todos os atos que imitavam a agressão física
desempenhada pelo modelo. Estes incluíam sentar no João Bobo, dar-lhe socos no
nariz, golpeá-lo com a marreta, chutá-lo e jogá-lo no ar. Em segundo lugar, foi medida
repetições, por parte dos participantes, das expressões “Soque o nariz dele…”,
“Derrube-o” , “Pá…”, etc. Terceiro, foram registradas outras agressões com a marreta
(ou seja, golpear com a marreta outros objetos que não o João Bobo). Quarto, foi
agressão física e verbal por parte dos participantes e que não haviam sido
RESULTADOS
cuidadosamente estes resultados, descobrirá que eles apoiaram três das quatro
40
3. Aprendizagem e Condicionamento – Bandura
38,2 ocorrências de agressão física imitativa para cada um dos participantes meninos,
e 12,7 para as participantes meninas, que haviam sido expostos aos modelos
imitados em média 17 vezes pelos meninos e 15,7 vezes pelas meninas. Estes atos
participantes expostos aos modelos não agressivos ou nos participantes controle, que
modelos não agressivos teriam um efeito inibidor da violência nas crianças. Para que
Por exemplo, meninos e meninas que observaram o homem não agressivo exibiram
muito menos agressão não imitativa com o malho do que os controles, mas os
meninos que observaram a mulher não agressiva agrediram muito mais com o malho
agressividade dos modelos não agressivos que acabaram por ser inconclusivos.
mais influenciados pelo modelo agressivo homem do que pelo modelo agressivo
41
3. Aprendizagem e Condicionamento – Bandura
mulher. O número médio total de comportamentos agressivos por meninos foi 104
quando eles observaram um modelo agressivo homem, comparado com 48,4 quando
uma mulher serviu como modelo agressivo. As meninas, por outro lado, embora
violência física.
42
3. Aprendizagem e Condicionamento – Bandura
agressão da Tabela 12.1 forem computadas, houve 270 atos violentos por parte dos
DISCUSSÃO
para observadores. Eles concluíram que a observação, pelas crianças, dos adultos
modelo agressivo masculino sobre os meninos foi tão mais forte do que a do modelo
agressivo feminino sobre as meninas. Eles explicaram que, na nossa cultura, como na
maioria das outras, a agressão é vista como mais típica dos homens do que das
43
3. Aprendizagem e Condicionamento – Bandura
Assim, um homem servindo de modelo para um ato de agressão carrega com ele o
influenciar o observador.
PESQUISA SUBSEQUENTE
não tinham ideia do quanto ele viria a se tornar influente. No início dos anos 1960, a
transmitida pela TV poderia ter sobre as crianças. Esta questão tem sido e continua a
ser objeto de um aceso debate. Nos últimos 30 anos, houve nada menos do que três
dois anos mais tarde, com a intenção de examinar o poder dos modelos agressivos
em filme, ou que nem mesmo sejam pessoas reais. Usando um método experimental
maior do que o adulto filmado, sendo este, por sua vez, mais influente do que o
12
Hock refere-se aqui ao Congresso dos EUA (nota do tradutor).
44
3. Aprendizagem e Condicionamento – Bandura
modelação da violência poderia ser alterado sob certas condições. Você se lembra de
que, no estudo original, não houve recompensa dada para a agressão, tanto dos
modelos quanto dos participantes. Mas o que você supõe que aconteceria se o
esta ideia e descobriu que as crianças imitavam mais a violência quando elas a viam
comportamento agressivo.
agressão dirigida a um boneco inflável não é a mesma coisa que atacar uma outra
foram então expostas a altos níveis de frustração (Hanratty, O’Neil, & Sulzer, 1972).
Quando isto ocorreu, elas frequentemente agrediram uma pessoa viva (vestida como
45
3. Aprendizagem e Condicionamento – Bandura
APLICAÇÕES RECENTES
acreditam que muito, se não a maior parte, dos comportamentos que constituem a
Segundo, esta pesquisa estabeleceu as bases para centenas de estudos nos últimos
45 anos sobre os efeitos que a visão da violência, em pessoa ou na mídia, tem sobre
veja Pajares, 2004). Menos de uma década atrás, o Congresso dos Estados Unidos
os efeitos da mídia violenta sobre as crianças podem continuar até a idade adulta
46
3. Aprendizagem e Condicionamento – Bandura
CONCLUSÃO
À medida que as crianças têm acesso cada vez mais fácil a uma variedade crescente
mídia violenta, mas tem aumentado a pesquisa sobre estratégias para prevenir que a
violência na mídia se traduza em agressão na vida real pelas crianças. Estes esforços
crianças com menos de 18 anos de idade sem permissão parental, e impondo uma
multa de U$ 1.000,00 para vendedores que não cumprirem esta lei. Você perguntará:
horripilantes, atrozes ou cruéis” (Going after video game violence, 2006). Se você
achar que esta definição é muito subjetiva, não estará sozinho. A indústria do
videogame está abrindo processo para derrubar a lei como inconstitucional, e você
47
3. Aprendizagem e Condicionamento – Bandura
Bandura, A., Ross, D., & Ross, S. (1963). Imitation of film mediated aggressive models. Journal of
Abnormal and Social Psychology, 66, 3-11.
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Pajares, F. (2004). Albert Bandura: Biographical sketch. Recuperado em 10 de março de 2007 do site
da Divisão de Estudos Educacionais da Emory University:
http://des.emory/edu/mfp/bandurabio.html.
QUESTÕES DE ESTUDO
1) Quais foram os objetivos do experimento de Bandura e colaboradoras?
2) Quais foram as quatro hipóteses ou previsões feitas por Bandura e colaboradoras?
3) Como foram constituídos os grupos do estudo de Bandura e como cada um deles foi exposto a
modelos agressivos ou não?
4) Por que as crianças foram expostas a uma condição de frustração? Como isto foi feito?
5) Como foram feitas as medidas de agressão no estudo e o que foi medido?
6 Explique a Tabela 12.1, mostrando quais os resultados significativos encontrados pelos
pesquisadores.
7) Das previsões teóricas dos pesquisadores, quais foram confirmadas pelos resultados e quais não
foram? Justifique.
8) Como os pesquisadores explicaram o fato da influência de modelos masculinos agressivos sobre
meninos ter sido tão mais forte do que a de modelos agressivos femininos sobre as meninas?
9) Que resultados Bandura, Ross e Ross obtiveram quando, num estudo posterior, compararam
modelos ao vivo, em filme e em versão de desenho animado?
10) Em um estudo posterior, Bandura verificou a influência de reforço ou punição para um modelo
agressivo sobre o comportamento imitativo. Quais foram estes resultados?
11) As pesquisas posteriores têm confirmado que a exposição a cenas agressivas na mídia influencia o
comportamento de crianças? Resuma os resultados.
48