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OS ANTECEDENTES DO BEHAVIORISMO

Os behavioristas norte-americanos geralmente atribuem a fundação do


movimento behaviorista a John B. Watson.
Sua voz contribuiu para aumentar a crescente insatisfação suscitada pela psicologia
introspectiva.
Poucos psicólogos se converteram imediatamente ao behaviorismo Watsoniano.
Na verdade só depois que Watson saiu de cena que o behaviorismo se tornou força
central na psicologia experimental.
Auguste comte (1798-1857) um filósofo que exerceu grande influência ao
behaviorismo. Comte afirmava que nós só poderíamos ter certeza do conhecimento que
provém de eventos publicamente observáveis.
No início do século XX, os psicólogos estavam começando a recorrer a uma
objetividade cada vez maior em suas medições dos fenômenos psicológicos. Uma
importante influência foi a rápida aceitação do pensamento evolucionista entre os
cientistas, e daí o crescimento da psicologia animal. Os animais, evidentemente, não são
capazes de introspecção, e assim o estudo da relação entre as consciências humana e
animal e exigia a criação de medidas objetivas e comportamentais.
Na Rússia Czarista um nível de precisão altíssimo podia ser encontrado no
laboratório do prêmio Nobel de Ivan Pavlov. Os norte-americanos não perceberam de
imediato o valor da pesquisa de Pavlov para seu desejo de objetividade, mas sua
abordagem de pesquisa acabou por tornar-se um modelo para imitar para muitos dos
behavioristas norte-americanos.

A vida e obra de PAVLOV

Pavlov recebeu prêmio Nobel por seus longos anos de investigação rigorosa e
inventiva acerca da fisiologia da digestão.
Ele era conhecido particularmente por ter inventado ou aperfeiçoado diversas
técnicas cirúrgicas que facilitavam sua pesquisa.
A pesquisa de Pavlov sobre o condicionamento veio a fornecer aos behavioristas
norte-americanos, um importante modelo, apesar do fato do próprio Pavlov, sempre ter
insistido em afirmar que era um fisiologista, não um psicólogo, e que não tinha a
psicologia em alta conta.

Ivan Petrovick Pavlov (1849-1936) nasceu relativamente pobre, na pequena vila


agrícola de Ryazan, centro oeste da Rússia. O pai era sacerdote e a mãe, filha de um
sacerdote, porém, a despeito do status social que isso conferia, ambos tinham de
trabalhar como camponeses para alimentar numerosa família. Ivan Pavlov foi o
primogênito de 11 filhos, seis dos quais morreram na infância.
Apesar de sua educação estar voltada desde o princípio para seguir as pegadas
do pai, enquanto era aluno do seminário eclesiástico de Ryazan, ele se interessou pela
ciência com a descoberta de The Origino on species/A origem das espécies, de Darwin e
Reflexos do Cérebro publicado em 1863 pelo mais importante fisiologista russo no
século XIX Ivan Sechenov (1829-1905).
Pavlov deixou o seminário e matriculou-se, em 1870, como aluno de fisiologia
da universidade de São Petersburgo, trocando assim a simplicidade da vida rural pelo
Glamour da cidade mais importante da Rússia. São Petersburgo, situada no noroeste da
Rússia, perto do golfo da Finlândia, era o centro cultural, político e intelectual da Rússia
do fim do século XIX. E foi também a capital do país até 1918, quando foi substituída
por Moscou depois da revolução soviética.
Pavlov diplomou-se me medicina em 1883 e se tornou um pesquisador da
fisiologia. Passados alguns anos de estudos, vários cargos pouco importantes de
pesquisa e algumas dificuldades financeiras, ele foi nomeado primeiro diretor da divisão
de fisiologia do Instituto de Medicina Experimental de São Petersburgo em 1891. Foi na
década de 1890 que ele investigou sistematicamente a fisiologia do sistema digestivo,
pesquisa que lhe valeu o prêmio Nobel em 1904.
Pavlov estudou a digestão estudando várias partes do sistema digestivo, e
extraindo fluidos digestivos. Sua pesquisa destacou-se pela precisão e pelo
desenvolvimento de várias técnicas cirúrgicas de isolamento e coleta das secreções
digestivas de cães que eram normais e saudáveis.
Além de estudar as secreções gástricas Pavlov também estudou as reações
salivares, relacionando-as com o tipo de substância colocada na boca do cão. Ele mediu
a salivação com uma fistula - um pequeno tubo diretamente ligado a um duto salivar.
Inevitavelmente como todos os donos de cão sabem, eles começam a salivar antes que a
comida lhes chegue à boca.
Um dos alunos de Pavlov investigou o fenômeno sistematicamente, num estudo
que compara a salivação diante dos alimentos úmidos à apresentada diante de alimentos
secos. A principal conclusão foi de que os cães salivam mais diante dos alimentos secos,
mas uma conclusão secundária foi que, depois de diversas repetições os cães comecem a
salivar antes que a comida chegue.
O desfecho colocou Pavlov diante de um dilema: por um lado, essas secreções
psíquicas eram um estorvo, pois reduziam a precisão de uma tentativa de medir o
volume exato de saliva produzida em reação a uma determinada quantidade de um certo
tipo de comida; por outro, o comportamento animal era previsível, e essas e outras
secreções psíquicas intrigavam Pavlov, sugerindo-lhe um meio objetivo de estudar “os
reflexos do cérebro” sobre os quais havia lido no livro de Sechenov.
Pavlov quis investigar diretamente esse novo fenômeno – Os reflexos do
cérebro. Depois da virada do século esse se tornaria o trabalho da sua vida.

O trabalho no laboratório de Pavlov


Em sua biografia de Pavlov, Babkin (1949) fornece um interessante relato da
vida no laboratório de Pavlov. Como foi aluno dele Babkin estava presente nos
primeiros anos da pesquisa sobre o condicionamento.
Babkin descreve o laboratório de pesquisa de Pavlov como “pequeno e sujo”.
Embora o orçamento fosse relativamente alto para os padrões russos, Pavlov julgou
necessário levantar verbas adicionais com a venda de sucos gástricos obtidos dos cães
durante experimentos de “alimentação simulada”.
Os cães comiam normalmente, mas uma fístula ligada ao esôfago redirecionava
a comida para um tubo de coleta. O cão comia e engolia a comida, mas este jamais
chegava ao estômago, que não obstante, secretava fluídos gástricos em antecipação a
chegada da comida. Outro tubo no estômago do cão secretava os sucos. Pavlov vendia o
fluído de sabor asqueroso como elixir para os que sofriam de males digestivos diversos.
Apesar das condições difíceis, Pavlov criou gradualmente um ambiente de
pesquisa de classe internacional. Ele era extremamente rigoroso quando se tratava da
assepsia do ambiente de seus procedimentos cirúrgicos. Esse rigor aliado a sua perícia
como cirurgião permitiram a Pavlov reduzir drasticamente o número de infecções e
aumentar a sobrevivência de praticamente todos os animais que tinha a seu cargo.
No início de 1910, o instituto começou a construir um laboratório à parte para a
pesquisa de condicionamento de Pavlov. Posteriormente conhecida como torre do
silêncio, contava com recursos como paredes à prova de som para garantir que os cães
só reagissem ao estímulo estudado no momento, e não a outros estímulos.

A pesquisa clássica de Pavlov sobre o condicionamento

Segundo suas indagações e percepções Pavlov descreve de que o problema


deveria ser atacado de um ponto de vista puramente fisiológico, e não psicológico.
Pavlov achava que a única estratégia cientificamente defensável era limitar a
investigação a estímulos externos específicos e a reações fisiológicas mensuráveis. A
”abordagem psicológica”, por outro lado, implicava um dualismo entre os processos
mentais e físicos que Pavlov não estava disposto a aceitar.
A técnica consiste em emparelhar um estímulo que sabidamente produz uma
determinada reação (salivação) a um estímulo neutro, como um tom ou um metrônomo.
O condicionamento envolve a apresentação de um estímulo neutro seguida da
apresentação de um estímulo incondicionado. Esse estímulo neutro foi chamado de
Pavlov de estímulo condicional (posteriormente traduzido como estímulo
condicionado) ou EC, porque o reflexo resultante dependia do emparelhamento do EC e
do EI.
Depois de descrever a aquisição, Pavlov mostra como um Reflexo Condicionado
(RC) pode sofrer extinção se o metrônomo soasse sem ser acompanhado do alimento.
Ele fez o metrônomo soar por 30segundos a cada dois minutos, registrando o volume de
saliva secretada e o que chamou de “período latente” o tempo entre o disparo do
metrônomo e o início da salivação.

Período latente em segundos Secreção de saliva em gotas


durante 30 segundos
3 10
7 7
5 8
5 7
9 4
13 3

Com sucessivos períodos de extinção, então o animal demorava mais (ou seja havia
maior latência) para começar a salivar e havia um declínio estável no volume de
salivação.

Generalização e diferenciação

Nas palestras subseqüentes, Pavlov descreve os procedimentos que adotou para


demonstrar uma série de fenômenos ligados ao condicionamento. Os dois mais
conhecidos são Generalização e Discriminação.
Generalização: Ocorre ao menos uma reação condicionada ao estímulo A em
decorrência de estímulos semelhantes a A.
Ex: apresenta comida saliva. Toca o metrônomo sem apresentar a comida também à
salivação.
Diferenciação: O animal começa a salivar apenas ouvindo o tom.

Neurose experimental

Um interessante produto da pesquisa de Pavlov sobra a generalização e a diferenciação


foi a descoberta de que a interrupção da diferenciação poderia produzir a neurose
experimental ou distúrbios patológicos.
Primeiro ele projetou um círculo numa tela diante do cão, emparelhando a projeção à
apresentação do alimento. Em pouco tempo o estímulo tornou-se um EC para o RC da
salivação.
Depois Pavlov treinou o cão a distinguir facilmente entre o círculo e uma elipse com
proporção de 4x3 entre os dois eixos, e depois foi alterando até ficar parecida com o
círculo.
Ao longo da sua pesquisa da Neurose experimental, Pavlov percebeu que, embora todos
fossem adversamente afetados, os cães diferiam na manifestação de sua patologia. Além
disso, as variações aparentemente refletiam diferenças gerais de temperamento dos
animais.
John B. Watson e a Fundação do Behaviorismo
Já vimos anteriormente que depois da virada do século, muitos psicólogos norte-
americanos defendiam a adoção de uma psicologia mais “objetiva” que a introspecção
na psicologia.
As tendências que se formavam no sentido de maior objetividade na psicologia
estavam então se cristalizando nas idéias e nos escritos do jovem John B. Watson que
acabara de obter um PHD na University of Chicago.
Watson nasceu em 1978 na zona rural perto de Greenville, Carolina do Sul, no
seio de uma família que hoje seria rotulada como “desestruturada”. O pai era um
fazendeiro bem sucedido da região, que gostava de bebidas, brigas e mulheres, e
costumava passar longos períodos fora de casa. A mãe era extremamente religiosa, tanto
que deu ao filho o nome de John Broadus, um famoso pregador batista fundamentalista,
e fez de tudo para que ele se tornasse ministro. Não é difícil de entender que tendo
crescido num ambiente como este Watson tivesse seus próprios problemas de
comportamento e foi preso pelo menos duas vezes. Mas também, era conhecido por ser
um jovem inteligente, pois entrou na Fuman University, em Greenville, aos 16 anos de
idade. Em 1900 obteve o grau de mestre.
A mãe de Watson morreu quando ele cursava o último ano na Furman, livrando-
o de qualquer obrigação de seguir a carreira de ministro. Assim, influenciado por um
dos professores que tivera na faculdade candidatou-se e foi aceito pela University of
Chicago.
Watson inicialmente pretendia estudar filosofia e psicologia, disciplinas que
coexistiam no departamento de filosofia da universidade, mas logo descobriu que nem a
filosofia nem a psicologia introspectiva lhe despertavam o interesse. Entretanto sentia-
se a vontade com os preceitos gerais da psicologia funcionalista e tinha especial
predileção pela psicologia comparada. (Lembrando que Watson nascera e se criara na
Zona rural, por isso a predileção por animais.)
O interesse de Watson pelo comportamento animal passou a moldar suas
convicções a cerca da psicologia em geral. Ele afirmou que “sempre se sentiu pouco a
vontade com os métodos introspectivos e com sujeitos humanos, mas que com os
animais se sentia em casa.” “Será que observando seu comportamento, não posso
descobrir tudo aquilo que os meus colegas estão descobrindo quando usam sujeitos
humanos? (Watson, 1936)
O contato que Watson estabeleceu com Jacques Loeb e Henry Donaldson reforçou sua
idéia em relação a estudar o comportamento animal. Loeb era um psicólogo alemão que
estudava os tropismos-movimentos automáticos de plantas ou animais, por força de
algum aspecto no ambiente.
A tese doutoral de Watson era um estudo da relação entre o desenvolvimento o
desenvolvimento cortical e a aprendizagem em ratos brancos. A tese foi um estudo
muito importante porque, na época, muitos dentre os mais famosos fisiologistas
acreditavam que os ratos não eram capazes de uma verdadeira aprendizagem
associativa. Assim Watson concluiu que a formação de associação era possível em ratos
brancos jovens e que essas associações tinham uma correlação com desenvolvimento
cortical. Sua tese lhe valeu-lhe o doutorado e uma oferta para trabalhar em Chicago
como instrutor.
Os estudos de Watson e Carr com labirintos
Watson permaneceu no corpo docente da universidade de Chicago de 1903 a
1908. Nesse período sua fama de bom professor e cientista cuidadoso espalhou-se. Sua
pesquisa mais importante na época estava ligada ao estudo de ratos em labirintos e foi
conduzida em conjunto com Harvey Carr, estudante de pós-graduação.
O objetivo do estudo de Carr e Watson era determinar quais sentidos eram
necessários para que o rato aprendesse a sair de um labirinto.
Em seu primeiro estudo Watson e Carr sistematicamente eliminaram a
possibilidade de os animais usarem os sentidos para sair de uma versão de labirinto de
Hampton Court. Usando técnicas cirúrgicas com muita habilidade, Watson extraiu os
olhos de alguns ratos, os ouvidos médios de outros e os bulbos olfatários dos ratos de
um terceiro grupo. Apesar de privados de alguns de seus sentidos os ratos aprendiam a
sair do labirinto com facilidade.
Watson e Carr descobriram que a capacidade de aprendizagem não era muito
prejudicial com a remoção dos bigodes dos ratos, nem com a aplicação da anestesia nas
suas patas. Por meio de um verdadeiro processo de eliminação, eles concluíram que os
animais estavam aprendendo a associar seqüências de movimentos musculares às várias
voltas do labirinto. (“memorizando quantidade de passos”).
Os estudos de Watson e Carr são modelos de pesquisa científica: Eles chegam a
uma conclusão, por meio primeiramente da eliminação sucessivas de hipóteses
alternativas, e por fim de uma demonstração direta da viabilidade da hipótese
remanescente.
O New York Times de 30 de dezembro de 1906 retrata Watson como “um açougueiro
de ratos indefesos, cortando-os em pedaços para satisfazer alguma vã curiosidade
científica”.

A oportunidade bate a porta na Johns Hopkins


Em 1908, Watson já era conhecido entre os seus colegas de profissão como um
promissor expoente no mundo da psicologia experimental.
Watson recebeu a proposta para trabalhar na Johns Hopkins University, para ser
professor com dedicação exclusiva controle de um laboratório e mais o dobro do que
estava ganhando em Chicago. Um ano depois estava à frente do departamento de
psicologia da Jonhs Hopkins e trabalhou lá por 12 anos.

Watson e o comportamento animal


Depois de assumir o novo cargo na Johns Hopkins, Watson lançou mão de um amplo
programa de pesquisa do comportamento animal. A lógica da pesquisa psicofísica de
Watson era simples: se um animal podia ser diretamente treinado ou condicionado a
reagir a um estímulo (ex: luz vermelha) e a outro não (ex: um tom mais escuro), então
esse animal será capaz de perceber a diferença entre os dois.
Embora Watson tenha feito muito alarde dessa pesquisa em seu discurso como
presidente da APA em 1915 aparentemente os resultados nem sempre eram claros e a
pesquisa foi abandonada pouco mais de um ano depois (Rilling,200)

O Manifesto Behaviorista de Watson


Em 1913, Watson aceitou um convite de Cattell para fazer algumas palestras na
Columbia University. A essa altura ele achava que já possuía estatura suficiente para
proclamar aquilo em que havia acreditado por pelo menos dez anos – que já estava na
hora da psicologia deixar de ser introspectiva, e estudar unicamente a consciência, para
voltar-se para o comportamento. As palestras de Columbia, publicadas sob o título
provocador de “Psicologia como o Behaviorista a vê” (Watson (1913), passaria a ser
chamada de manifesto behaviorista. (História da psicologia moderna pág.350)
Watson achava que todo comportartamento poderia ser compreendido em termos
de estímulos e reação, mesmo em atividades tão mentais quanto o pensamento.
Na segunda metade do manifesto, Watson enfatizou um ponto que acabou por
tornar o behaviorismo interessante, não só para os psicólogos como também para o
público norte americano em geral: ele argumentou que ao contrário da psicologia
introspectiva, o behaviorismo permitia aplicações práticas que afetariam positivamente
a vida das pessoas.
O estudo do desenvolvimento emocional
No manifesto Watson afirmou que o behaviorismo permitia aplicações que
melhorariam a qualidade de vida. Entretanto até a época do manifesto sua pesquisa
limitara-se basicamente a animais. Quando surgiu a oportunidade de estudar bebês,
Watson a viu como a chance de aplicar o behaviorismo de um modo que convencesse os
cépticos, e o mais importante, garantir sua aplicação de líder na aplicação de princípios
psicológicos para a maioria da sociedade.
Outros psicólogos comparados cada vez mais encontravam dificuldades para
desenvolver suas pesquisas com animais.
Adolf Mayer, psiquiatra famoso convidou Watson para criar um laboratório humano em
sua clínica da escola de medicina da Johns Hopkins. O resultado foi uma série de
estudos que investigavam os reflexos, reações emocionais básicas e reações emocionais
condicionadas.
Trabalhando com Morgan, Watson tentou identificar as reações emocionais
humanas fundamentais e os estímulos que a produziam. Três foram identificadas: medo,
raiva e amor. Segundo Watson e Morgan (1917), a reação do medo, definidas em
termos behavioristas como “um súbito prender da respiração, seguido da tentativa de
agarrar aleatoriamente, {...}piscar dos olhos, franzimento dos lábios e por fim choro,
Ocorria diante de dois estímulos: ruídos altos e repentinos (batia-se com um martelo
numa barra de aço ao lado da cabeça do bebê) ou perda de proteção (produzida
deixando o bebê cair ou puxando sua coberta bem na hora em que ele começava a
dormir). A segunda emoção, a raiva, decorrida do impedimento dos movimentos do
bebê:
“se o rosto ou a cabeça forem segurados, o bebê chora e logo em seguida, grita. Seu
corpo se retesa ele reage com golpes relativamente bem coordenados das mãos e dos
braços. A terceira emoção o amor, definida como o sorriso, o gorgolejo ou o arrulho,
ocorria quando se acariciava a pele do bebê ou quando ele era balançado delicadamente.

O Bebê Albert
A partir da pesquisa dos bebês, Watson conclui então que apenas alguns estímulos
provocavam apenas as três emoções instintivas do medo, da raiva e do amor. Porque as
crianças maiores apresentam essas reações emocionais a uma faixa muito maior de
estímulos? Para Watson a resposta era simples: condicionamento. Sua tentativa de
demonstrar isso diretamente ficou conhecida através do estudo do bebê Albert.
Publicada em 1920 sob o título de Reações emocionais condicionadas.
Watson e Rayner abriram o artigo declarando sua convicção de que as reações
emocionais se desenvolvem por condicionamento, mas que não se verificam provas
experimentais diretas que respaldem essa visão. Assim o objetivo de seu estudo era
justamente oferecer essas provas por meio de um bebê de 11 meses quem deram o
pseudônimo de Albert. (pág. 355).
Os atuais livros-texto geralmente descrevem o estudo de Albert como um
exemplo humano de condicionamento clássico, rotulando o ruído alto como estímulo
incondicionado (EI) e o medo do ruído como uma reação incondicionada (RI). O rato
é o estímulo condicionado (EC) que passa a produzir a reação condicionada do medo
por meio do emparelhamento de EC e EI, do mesmo modo que o emparelhamento entre
um tom (EC) e a comida (EI) gera a salivação em reação a esse tom no procedimento
pavloviano padrão.
Contudo a leitura atenta das anotações de laboratório de Watson e Rayner sugere que
em vez disso, pode ter encontrado em operação um procedimento de punição, ao menos
nos dois primeiros ensaios. O comportamento do bebê de tentar alcançar o rato resultou
na conseqüência imediata do ruído alto. Não está claro se a mesma seqüência de eventos
ocorreu nos outros ensaios que são simplesmente chamados por eles de estímulos
conjugados. O que está claro é que Albert foi afetado pelos procedimentos e passou a ter
medo do rato.
Depois de condicionar Albert a ter medo do rato, o segundo objetivo de Watson e
Rayner era verificar se a reação poderia “transferir-se” a outros estímulos (Generalizar-
se como diria Pavlov). Cinco dias depois Albert foi levado ao laboratório e constatou-se
que a reação condicionada ainda se verificava. Watson e Rayner apresentaram outros
estímulos e Albert demonstrou certo grau de medo de um coelho, de um cão e de um
casaco de pele. Além disso, num ensaio que sugere que o principal medo de Albert
tenha sido do experimentador.
Depois de um mês Albert saiu do hospital e ficou difícil a continuar a realização do
experimento, simplesmente Watson e Rayner deram algumas dicas de como o medo
poderia ser desprendido de Albert.
A pesquisa de Watson com as crianças inspirou Mary Cover Jones, jovem aluna
de pós-graduação de Columbia e amiga de Rosálie Rayner, trabalhando com várias
crianças que tinham medo de diversos objetos, Jones tentou diversos métodos, a maioria
dos quais não funcionou: os medos não se reduziam (a) simplesmente com a passagem
do tempo, (b) com o apelo verbal (ex. tentando convencer a criança de que o dedo não
tinha fundamento), nem (c) com a ridicularização da criança pelos coleguinhas.
O que funcionou, porém foi um dos métodos sugeridos por Watson e Rayner no
texto sobre Albert. Num estudo sobre a técnica terapêutica da dessensibilização
sistemática.
O estudo do bebê Albert foi muito citado em vários livros de psicologia. Muitas
vezes considerado um “clássico”, ele demonstra o poder dos princípios
comportamentais no condicionamento das emoções. Entretanto o estudo tem graves
falhas:
1° - O procedimento inicial ter criado em Albert um forte medo de animais;
2° - No início da testagem da generalização suas reações eram quase sempre tão fracas
que exigiam “atualização” com emparelhamentos adicionais entre os animais e os
ruídos.
3° - Mesmo que se admita que o bebê criou um medo, o que o provocava não está claro.
4° - Traçar uma conclusão genérica sobre o condicionamento do medo com base no
estudo de um bebê é inadequado.
Portanto, o estudo do bebê Albert não pode ser considerado uma demonstração
conclusiva da aplicabilidade irrestrita dos princípios do condicionamento.
Watson e seus simpatizantes ignoraram suas falhas metodológicas. Uma razão para a
popularidade do estudo é o fato de ele ter um certo apelo dramático, aplicabilidade em
relação a uma das tarefas mais importantes da vida: a criação de nossos filhos.
Assim o estudo de Albert teve a importante função de legitimar a nova
abordagem behaviorista, que dentro de uma década, se tornaria a força predominante na
psicologia norte-americana. Porém Watson não seria um de seus expoentes nessa
década (1920)
Uma nova vida na publicidade
Após ser demitido da Johns Hopkins, Watson foi trabalhar numa agência de publicidade
J.W. Thompson em Nova York, depois de um estágio em que trabalhou em todos os
departamentos da agência, Watson ascendeu à vice-presidência da empresa em menos
de quatro anos.
Watson desenvolveu diversas campanhas de publicidade baseadas em temas derivados
em sua pesquisa das três emoções básicas do medo, raiva e amor. Segundo ele para
vender um produto ao consumidor, era preciso dizer algo que paralisasse de medo, algo
que provocasse nele um pouco de raiva, que produzisse nele uma reação afetuosa ou
amorosa ou que atingisse uma profunda necessidade psicológica ou habitual.
Assim em uma campanha de talco da Johnson & Johnson, havia uma mensagem clara
destinada a amedrontar os pais jovens e fazê-los comprar o produto: se não usassem o
talco, arriscavam a expor seus bebês a graves infecções.
Watson levou para sua nova carreira a mesma paixão pelo método científico que
caracterizava sua vida na academia.
Seu impacto mais duradouro caracterizou-se na aplicação do pensamento científico a
área do marketing e no desenvolvimento de programas de treinamento e avaliação de
produtividade do pessoal de vendas.
Porém a publicidade não ocupou todo o tempo de Watson na década de 20. Ele
deu cursos de Behaviorismo em Nova York, foi membro do conselho de diretores da
Psychological Corporation e supervisionou uma pesquisa com bebês. Além disso,
Watson continuou a escrever sobre o behaviorismo ao longo da década, mantendo a
reputação de porta voz do movimento.

Popularizando o Behaviorismo
Watson publicou muitos artigos fazendo com que o behaviorismo se tornasse popular
(conhecido), escreveu livros - “O cuidado psicológico do bebê e da criança”(1928), fez
transmissões via rádio, etc. O primeiro desses livros tornou-se a declaração mais
difundida das idéias de Watson. Foi esse o livro que despertou o interesse do jovem B.
F. Skinner pelo pensamento behaviorista, no qual inclui-se um dos trechos mais citados
sobre sua convicção da importância do ambiente na moldagem da nossa vida.

Nossa conclusão, portanto, é que não existe nem uma prova real da herança de traços.
Eu teria plena certeza do desfecho favorável da criação favorável de um bebê saudável
e bem formado que fosse herdeiro de uma longa linhagem de salafrários, ladrões,
assassinos e prostitutas. [...]
Eu devo ir adiante agora e dizer: Dêem-me uma dúzia de bebês saudáveis e bem
formados e ponham-nos em um mundo criado segundo as minhas especificações e eu
lhes garantirei que posso selecionar qualquer um, aleatoriamente, e treiná-lo para
tornar-se o especialista que eu quiser: médico, advogado, artista, comerciante e, sim,
até mesmo mendigo e ladrão, independentemente de seus talentos, propensões,
tendências, aptidões e vocações e da raça de seus ancestrais.”
(Watson, 1924/1930)
Ainda em um capítulo de seu livro intitulado “os riscos do excesso de amor maternal”
Watson acautela contra o excesso de afeto com os filhos. O resultado seria o
“invalidismo”, a incapacidade da criança de torna-se responsável, independente e, por
fim, bem sucedida na vida. Ele adverte que, adiante, haverá muitas pedras no caminho
do filho que é beijado demais.
Avaliando o Behaviorismo de Watson
O grande sonho de Watson de prever todas as reações, dado o estímulo, nunca se
realizou. A maioria das proclamações de Watson ia muito além das provas empíricas
disponíveis. Os dados nunca se equiparam as excessivas alegações.
A importância duradoura que ele teve para a psicologia deriva da publicidade que ele
deu às suas fortes convicções.
Em segundo lugar, atacando diretamente a psicologia introspectiva, falando de sua falta
de objetividade, Watson contribuiu para a passagem gradual da psicologia como o
estudo da experiência consciente imediata a psicologia como o estudo do
comportamento. Tornando o comportamento observável e mensurável à dependente
variável, em lugar do relato introspectivo, Watson ajudou a colocar a psicologia em
terreno cientificamente mais firme.
Sua convicção de que o ambiente poderia ser manipulado para moldar o futuro no
desenvolvimento de uma pessoa era compatível com o ideal americano de que, com a
criação e a educação adequadas, se poderia aspirar a qualquer objetivo.
O behaviorismo de Watson criou uma ponte entre a psicologia básica e a psicologia
aplicada.
Em relação a seu desempenho como executivo, seu rendimento caiu muito após a súbita
morte da sua mulher em 1935. (o grande amor da sua vida). Em seus últimos anos
tornou-se cada vez mais recluso. Em 1957, um ano antes de sua morte, Watson foi
homenageado pela associação de psicologia americana, em sua reunião anual, mas na
última hora Watson deixou de ir e mandou o filho em seu lugar. “Watson tinha medo de
que naquele momento suas emoções o assaltassem, de que o apóstolo do controle do
comportamento perdesse o controle e chorasse. (Buckley, 1989)

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
GOODWIN, C.JAMES. História da Psicologia moderna. São Paulo, Cultrix, 2005.

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