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O PDE/PR COMO FERRAMENTA NA FORMAÇÃO CONTINUADA DOCENTE

Franciele Santos de Lima*

MORAES, Denise R. da S.; GOMES, Iara de O. e TERUYA, Teresa K. Formação


continuada de professores e professoras: o PDE/PR. HISTEDBR On-line, Campinas, n.
43, p. 183-201, set. 2011.

As pesquisadoras Denise Rosana da Silva Moraes, professora do Centro de


Educação e Letras da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE); Iara de
Oliveira Gomes, professora da Universidade Metropolitana de Maringá e Teresa Kazuko
Teruya, professora associada do Departamento de Teoria e Prática da Educação DTP e do
Programa de Pós-Graduação em Educação (mestrado e doutorado) da Universidade
Estadual de Maringá (UEM), analisam e discutem a política de formação de professores e
professoras no estado do Paraná como modelo singular em comparação ao estabelecido
pelo modelo nacional.
O trabalho das autoras baseia-se na análise documental e avaliação da implantação
do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) do estado do Paraná (PDE/PR) nos
seus anos iniciais (de 2007 a 2009). O programa, idealizado durante a elaboração do Plano
de Carreira do Magistério do Paraná e implementado inicialmente pelo Decreto nº. 4.482, de
14/03/05, passou a ser regulamentado pela Lei Complementar nº130, tornando-se uma
política de estado para a formação continuada dos professores da Rede Pública Estadual de
Ensino do Paraná que tem como base o movimento contínuo de aperfeiçoamento de
formação dos professores no espaço escolar, fortalecendo a articulação entre a Educação
Básica e o Ensino Superior.
As autoras destacam a inovação do programa paranaense ao buscar as Instituições
de Ensino Superior (IES) públicas (estaduais e federais) presenciais do estado como
parceiras, uma vez que o PDE Nacional destaca a ação da Universidade Aberta do Brasil
(UAB), que tem como prioridade a formação inicial e continuada de professores para a
Educação Básica utilizando a metodologia da educação à distância (EaD).
Neste sentido, discutem os limites e possibilidades de processos de formação de
qualidade, sejam em cursos presenciais ou EaD, mas criticam o barateamento dos
investimentos em formação docente, além de sua fragmentação e celeridade, para isso
envolvem as IES na discussão e implementação do PDE/PR.

*
Graduada em Ciências Biológicas pela Universidade Comunitária da Região de Chapecó –
Unochapecó. Aluna Especial do Programa de Pós-Graduação em Educação pela Unochapecó.
Para melhor avaliar o PDE/PR, analisa-se também a Proposta Pedagógica em que
se baseia, identificando-se nele os quatro pilares da educação ditos pela UNESCO:
aprender a aprender, aprender a ser, a viver com e a fazer. Tal proposta diverge dos
conceitos de competências trazidos pelos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), pois
para as autoras percebe-se nestas uma visão, muitas vezes, mercadológica da educação,
como trazem da discussão feita por Demerval Saviani sobre o PDE nacional. A proposta
paranaense, baseada em seus pressupostos, reconhece o professor como produtor de
conhecimento e atento as necessidades de sua realidade escolar, também supera o modelo
fragmentado e homogêneo para um modelo articulado com as IES promovendo a
construção coletiva do saber.
Resumidamente o PDE/PR estimula docentes da rede pública de ensino, que se
enquadram no nível II do Quadro Próprio do Magistério (QPM), níveis 8 a 11, a retornarem
as atividades acadêmicas nas IES parceiras, e junto delas desenvolver um Plano de
Trabalho de Intervenção na sua realidade escolar, sob orientação de um professor da IES.
Para isso o professor PDE, como é denominado ao aderir ao programa, receberá licença
remunerada por 01 ano pra dedicar-se exclusivamente a produção acadêmica, no segundo
ano deve retornar as atividades, mas com 25% da carga horária destinada a implementação
do plano de ação elaborado junto ao IES.
No primeiro processo de seleção, ocorrido em 2006, foram abertas 1.200 vagas para
diferentes áreas curriculares (Português, Matemáticas, Biologia, Pedagogia, etc),
proporcionalmente distribuídas de acordo com o quadro de professores em serviço. O
Programa Curricular do PDE/PR é dividido em dois grandes blocos – Fundamentos Político-
Pedagógicos e Conteúdos Específicos das áreas, desenvolvidos pela SEED e IES
respectivamente, devendo os professores selecionados participar de todas as atividades
propostas pelas mesmas.
O trabalho do professor PDE deve estruturar-se em 03 eixos: a proposta de estudo, a
elaboração de material didático-pedagógico e a coordenação de um grupo de trabalho em
rede, este último desenvolvido na modalidade semipresencial com seus pares nas escolas
da rede estadual - através do Portal Dia a Dia Educação disponibilizado pela SEED. E por
fim todo o trabalho desenvolvido resultará em um artigo científico que será avaliado pelo
professor orientador da IES e encaminhado aos Núcleos Regionais de Ensino, para
posteriormente ser publicado em periódicos científicos.
A avaliação feita pelas autoras, sobre o período de 2007 a 2009, segue o
estabelecido pelo próprio documento oficial do PDE/PR, que entende a avaliação como um
processo contínuo, sistemático e progressivo das atividades desenvolvidas pelos docentes
de forma individual ou coletiva – portanto diagnóstica.
No diagnóstico das autoras percebe-se um entusiasmo dos professores que
retornaram da primeira seleção e que elaboraram e aplicaram os primeiros projetos ou
trabalho de intervenção junto às escolas da rede pública paranaense. A produção destes
trabalhos além de alterar a práxis escolar, permitiu a produção de uma ampla gama
materiais didáticos, proporcionando aos docentes da rede pública subsidio teórico e prático
para o desenvolvimento de ações educacionais sistematizadas que possam ser avaliadas
em seu processo e em seu produto e que resultem em redimensionamento de sua prática
educativa. Além de estimular a pesquisa sobre a sua prática docente, produzir materiais
para serem utilizados nas escolas pelos seus pares e participar de eventos científicos
submetendo seus textos a avaliação, o professor PDE qualifica a educação pública do
estado, na medida em que aplica o trabalho na sua realidade escolar.
Percebe-se ainda que o pano de fundo do PDE/PR é a qualificação do ensino nas
escolas públicas, através das práticas emancipatórias de formação, mas a limitação do
acesso aos docentes enquadrados no QPM precisa ser superada, ampliando-se o acesso
dos demais docentes de diferentes níveis de progressão, assim como as vagas para
profissionais da IES que recebem os professores PDE.
No que se refere a metodologia do texto percebe-se uma preocupação em explicar
mais o PDE do que seus efeitos na prática docente, cabendo talvez um novo olhar sobre o
texto com enfoque na formação, além de sintetizar algumas das informações em quadros
informativos ou comparativos para uma leitura mais leve de pontos específicos como o
programa curricular, por exemplo.
Concluindo, a analise e avaliação (mesmo que incipiente) feita pelas autoras sinaliza
para um programa de resultados positivos, e o texto traz importantes reflexões sobre o tema
– formação de professores, sobretudo quando cita Paulo Freire “é preciso que, desde o
começo do processo, vá ficando cada vez mais claro, que embora diferentes entre si,
quem forma se forma e re-forma ao formar e quem é formado forma-se e forma ao ser
formado [...] Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender”.
Demonstrando que o tema é um continuum e que carece e merece ser aprofundado não
apenas na educação básica ou superior, mas nas políticas públicas de estímulo a formação
docente de qualidade, garantindo assim qualidade na educação que queremos.

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