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ACTAS - 7as JORNADAS HISPANO-LUSAS DE INGENIERÍA ELÉCTRICA (Leganés, 4, 5, y 6 de Julio de 2001)

VOLUMEN III – Gestión de Sistemas de Energía Eléctrica (pp. 225-230)


UNIVERSIDAD CARLOS III DE MADRID, 2001

Metodologia para Optimização de Redes de Baixa Tensão


José Sousa Felício, José António Martins

EDP Distribuição – Energia, S.A.


Direcção de Planeamento de Redes
Rua Camilo Castelo Branco, 43 - 7.º
1050-044 Lisboa

Resumo
A optimização das secções dos condutores utilizados nas redes eléctricas de baixa
tensão, permite rentabilizar os investimentos a realizar neste tipo de infra-
estruturas.
O objectivo desta comunicação consiste no estudo tecnico-económico a custo total
optimizado, quer para o primeiro estabelecimento de redes em novas zonas
habitacionais, quer para a remodelação/restruturação das redes existentes,
satisfazendo as cargas previsionais, cumprindo os limites térmicos dos condutores
e respeitando os limites regulamentares de queda de tensão.
O método apresentado parte das equações resultantes do Teorema de Kuhn-Tucker
aplicado às redes eléctricas de baixa tensão e consiste no cálculo expedito das
secções da rede nas condições referidas, por meio de folha de cálculo acessível em
‘software’ corrente, em alternativa ao recurso de ferramentas informáticas
complexas genericamente não disponíveis.

Palavras-chave: Optimização, Rede de Baixa Tensão, Regularização da Queda de Tensão.

1. Introdução

O problema do dimensionamento tecnico-económico das redes eléctricas de baixa


tensão, situa-se na área científica da optimização de funções não-lineares sujeitas a
restrições definidas por desigualdades. A função a minimizar é o custo total actualizado
(custo do investimento e custo das perdas no horizonte de estudo) e as restrições são de
natureza técnica (intensidade máxima nos condutores e queda de tensão máxima
regulamentar na rede).
A solução deste problema obtém-se recorrendo ao Teorema de Khun-Tucker do qual
resulta um sistema de n equações do 2.º grau e m equações irracionais, cuja resolução
exige a utilização de um método numérico iterativo (ex.: Newton-Raphson).
O método que em alternativa se propõe, deriva da aplicação daquele teorema às
especificidades próprias das redes de baixa tensão (3.2.), gerando após tratamento
matemático específico, um sistema de n+m+1 equações lineares cuja resolução se
efectua de forma expedita em folha de cálculo. A equação suplementar de referência, de
coeficientes variáveis (4.2.), permite linearizar todo o processo de cálculo e orientar a
pesquisa da solução, tendo em conta que a opção de escolha dos condutores dos ramos
da rede se baseia num conjunto discreto e restrito de secções normalizadas. Para o
efeito, utiliza-se uma relação discreta entre o parâmetro económico das restrições
técnicas associadas à rede e o quociente entre a secção a determinar sob restrição e a
secção económica sem restrição.

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Verifica-se pelos ensaios efectuados, que as diferenças nos resultados calculados pelo
método de optimização de Khun-Tucker com resolução iterativa Newton-Raphson e pelo
método proposto para o caso específico de optimização de redes eléctricas de baixa
tensão, são relativamente pequenas, sendo absorvidas na solução final quando da
adopção das secções normalizadas dos condutores.
O pequeno afastamento introduzido pelo método proposto, em relação à solução teórica
rigorosa, é compensado pela maior facilidade de tratamento dos dados em folha de
cálculo facilmente disponível em computador pessoal, pela eliminação de problemas de
convergência e pelo melhor acompanhamento/ajuste por parte do utilizador, da evolução
para a solução, face a critérios específicos da realidade em que a rede se insere (aspectos
ligados com a imagem e qualidade técnica do serviço, que podem conduzir a adaptação dos
valores teóricos das secções dos condutores, durante o processo de cálculo).

2. Fluxo de Energia nas Redes Eléctricas


A partir da equação geral do trânsito de energia nas redes eléctricas I = Y U , obtêm-se
as expressões das perdas de energia por fase e da queda de tensão simples num ramo
que liga o nó i ao nó j,
1 2 2
p ij = 2 2
R ij Ui − Uj + 2 X ij U i U j sen ∂ ij (1)
R ij + X ij

∆U ij =
R ij P ij + X ij Q ij + j (X ij
P ij − R ij Q ij
(2)
)
Ui
A determinação das características do estado eléctrico da rede implica calcular quatro
grandezas em cada nó (Pi , Qi , Ui e δi ). Para que o problema seja solúvel é necessário
fixar à priori duas variáveis em cada nó e determinar as restantes, recorrendo às
equações possíveis do fluxo de energia (partes activa e reactiva da potência complexa).
Dependendo das variáveis fixadas, assim se designam: (i) nó PQ (nó de carga) em que Pi
e Qi são conhecidos; (ii) nó PU (nó de controlo) em que Pi e |Ui| são conhecidos; (iii) nó
de referência, em que são dados |Ui| e δi (origem do referencial).
Nas redes de baixa tensão (RBT) as fórmulas acima indicadas podem ser apresentadas
numa forma mais simples, de acordo com as considerações usualmente aceites. Estas
redes têm um único nó de referência e vários nós de carga, apresentando estrutura
radial com representação topológica por uma matriz com propriedades específicas que
facilitam o processamento de cálculo (quadrada, triangular superior, inversa igual à
simétrica). Verifica-se ainda, que: Rij >> Xij ; Ii ≅ Pi /Ui ≅ Pi /URef ; δi j = δi - δj = C.te ;
cos φi ≅ Pi /( Pi2 + Qi2 ) 1/2 = C.te. Assim, as equações (1) e (2) escrevem-se na forma,
−1 2
pij = ρ Lij S ij I ij (3)

R ij P ij + X ij Qij R ij P ij l
ij
∆U = ≅ = ρ I (4)
ij s ij
Ui Ui ij
Nos estudos das RBT consideram-se variáveis independentes as grandezas impostas do
exterior, Pi , Qi (nos nós da rede) e URef (à saída do posto de transformação). Consideram-se
variáveis dependentes, as tensões Ui nos nós, determinadas a partir das equações do
trânsito de energia. As variáveis de controlo são as grandezas alteráveis (secções dos
ramos), utilizadas para fixar dentro de certos limites, as variáveis dependentes Ui .

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3. Funcionamento Óptimo. Teorema de Kuhn-Tucker.
3.1. Considerações Gerais
Considera-se que o funcionamento da rede se encontra optimizado quando as grandezas
necessárias à caracterização do estado da rede estão relacionadas entre si, de acordo com
as condicionantes definidas pelo Teorema de Kuhn-Tucker.
Este teorema trabalha sobre as equações do fluxo de energia, distinguindo as variáveis
dependentes x e independentes y , e de entre estas, os parâmetros de controlo u e os pré-
fixados p . Genericamente nas redes de alta e média tensão, as variáveis dependentes são
|Ui| e δi , e as variáveis independentes são: (i) |URef| , δRef no nó de referência; (ii) Pi , Qi
em cada nó PQ; (iii) Pi , |Ui| em cada nó PU.
Basicamente, o problema de optimização do funcionamento de uma rede eléctrica
consiste em minimizar a função objectivo de custo total c(x,u), sujeita a uma restrição
f(x,u,p). Havendo restrições na variável dependente, do tipo xmin ≤ x ≤ xmax , define-se
uma função de penalidade wj adicionável à função objectivo, a qual apresenta valor
positivo sempre que ocorra violação da restrição, i.e., c’(x,u) = c(x,u) + wj(xj max , xj min ).
As condições de optimização obtêm-se pela anulação das derivadas parciais da função
de Lagrange,
(x , u, p) = c ( x, u ) + w j ( x j ) + λ T . f ( x, u , p ) (5)
j
i.e.,
δ δ δ
(x , u, p) = 0 ; (x , u, p) = 0 ; (x , u, p) = 0 (6)
δ x δu δλ

3.2. Aplicação do Teorema de Kuhn-Tucker à Rede de Baixa Tensão

De acordo com a equação do fluxo de energia nas RBT, considera-se a inexistência de


nós PU (ausência de injecção reactiva nos nós da rede) e os ângulos de potência δij são
nulos. Na aplicação do Teorema de Kuhn-Tucker à optimização do funcionamento de
redes de baixa tensão, consideram-se como variáveis dependentes os módulos das
tensões em cada nó |Ui| (com δij ≅ 0), e como variáveis de controlo |URef| (com δiRef = 0) e as
secções dos condutores nos ramos Sij (sendo Sij.= Si de acordo com a codificação topológica
das redes radiais com um único nó de referência). Os parâmetros fixados são as potências Pi
, Qi ligadas aos nós, os comprimentos dos ramos Li e os parâmetros económicos de
custos C0 , K0 , respectivamente de investimento e de perdas.
Para definição da restrição da variável dependente |Ui| no nó, utiliza-se a variável queda
de tensão ∆Ui no ramo, cujo valor máximo admissível se encontra regulamentado.
Conforme exposto no ponto anterior a função de Lagrange e respectivas derivadas
parciais exprimem-se para as RBT na forma indicada em (5) e (6), com as seguintes
correspondências de variáveis: x ⇔ ∆Ui ; u ⇔ Si ; p ⇔ Pi , Qi , Li , C0 , K0 .
Assim, na função objectivo e na restrição técnica da queda de tensão, obtém-se,

min C ( ∆U , S , ... ) = min C . L S + K .ρ . L I2 / S (7)


i i 0 i i 0 i i i
S S i i
i i
f ( ∆U , S , ...) = ∆U k − ∆U max − wj (8)
j k k k
wj > 0 ⇔ ( ∆U k − ∆U max ) > 0 ; wj = 0 ⇔ ( ∆U k − ∆U max ) ≤ 0 (9)
k k

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A função de Lagrange na forma analítica, exprime-se por
Li 2 Lk
= C0 . Li S i + K 0 . Ii + [ λ j . (ρ . I k − ∆U max ) ] (10)
i i Si j k Sk

As condições de optimização são dadas por,


δ Lk
= 0 → ρ. I k − ∆U max = 0 (11)
δλ k Sk
δ 1
= 0 → ( K 0 . I i2 + ρ . I i . λ ) = 0
S i2 − (12)
δ S C0
A solução do problema está caracterizada por um sistemas de n equações do tipo (12) e
m equações do tipo (11), representando n o número de ramos da rede e m o número de
restrições definidas para limite de queda de tensão regulamentar.
A equação (12) pode ainda ser escrita noutra forma, atendendo a que: (i) densidade de
corrente económica, δe = (C0 /K0 )1/2 ; (ii) secção económica do ramo, Se i = Ii /δe ,
ρ
S i2 = S e2i + Ii λ (13)
C0

4. Método de Linearização Orientada


4.1. Princípio
O método proposto parte das equações (11) e (13) que são a solução do problema para
optimização das redes eléctricas de baixa tensão tratado pelo Teorema de Kuhn-Tucker.
Esta metodologia de minimização de custos em análise discreta, apresenta economia de
trabalho tanto no tratamento matemático, como no processamento de cálculo, uma vez
que recorre à linearização discreta com passo ajustado ao rigor pretendido, das equações
parabólicas do sistema, resolvendo-o em duas fases distintas. Na primeira, determinam-
se todos os parâmetros económicos das restrições e na segunda, são determinadas as
secções dos ramos a partir daqueles, tendo em conta as restrições a que cada ramo está
associado. O cálculo termina com uma análise de sensibilidade, possibilitando pequenos
ajustes nos parâmetros principais, verificando o cumprimento das restrições técnicas
impostas e a variação do custo total actualizado. Adopta-se para solução final, aquela
que sendo constituída pelo conjunto das n secções normalizadas, apresenta o menor
custo total actualizado e simultaneamente cumpre todas as m restrições consideradas.

4.2. Método
O método propõe a utilização de uma mudança de variável, recorrendo a uma equação
auxiliar de referência que estabelece a relação económica entre a nova variável σi e o
parâmetro da restrição λj . Esta relação obtida a partir da equação (13), tem carácter
único para um dado tipo de condutor utilizado na rede e para uma densidade de corrente
económica estabelecida, proporcionando que o domínio da nova variável seja mais
restrito, facilitando a análise discreta. Assim,
ρ δ e2
σ i2 = 1 + λ (14)
C0 Ii
sendo: σi = Si /Se i ; δe = (C0 /K0 )1/2 ; Se i = Ii /δe ; Si = ρ Li Ii /∆Ui

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Este método consiste na segmentação da relação parabólica (14), em troços
suficientemente pequenos e constantes na variável independente σi , substituindo o arco
da parábola por uma sequência contínua de segmentos de recta, cujos extremos são
pontos comuns à parábola. Esta relação linear por troço, tão aproximada à parábola
quanto se queira, define-se para uma intensidade de corrente igual a um ampere.
Constitui a relação de referência a cumprir por todos os ramos da rede à parte um factor
de conversão (a intensidade de corrente existente no ramo), uma vez que σi não depende da
corrente Ii (σi = Si /Se i = ρ Li δe /∆Ui ) e o controlo da restrição é efectuada por Σ∆Uk .

A partir da equação (11) e tendo em conta (14), escreve-se,


Lk δ e
ρ. − ∆U max = 0 (15)
k σk
em que,
ρ δ e2
σk = 1 + λ (16)
C0 I k

Tendo em consideração a equação (14) e a linearização da parábola por meio de uma


sucessão de segmentos de recta, verifica-se para um troço genérico ν da referida
segmentação, a seguinte relação linear,
aν λ
σk = − 1− (17)
bν I k aν

Por substituição de (17) na equação (15) que exprime o resultado da aplicação do


Teorema de Kuhn-Tucker às RBT, chega-se à expressão do operador económico de
restrição técnica λ , segundo o modelo de linearização que se propõe,

Zν − Lk
λ = aν k
(18)
Lk
k Ik
aν ∆U max
com, Zν = − (19)
bν ρ δ e

A solução é atribuída ao intervalo seleccionado na relação de referência, onde estiver


contido o valor correspondente a λ calculado por (18). A partir do operador λ ,
determina-se a variável σ (no domínio verificado como aceitável para as RBT, entre 1 e 4),
de que se deduzem as secções dos condutores (13). A solução será tanto mais rigorosa,
quanto menor for a dimensão do intervalo de segmentação da parábola (cerca de 0,1),
caracterizado pelo par de coeficientes (aν , bν ) do segmento de recta do intervalo ν
(aceitando-se cerca de 30 pares de coeficientes no domínio aconselhado da variável σ ).
O cálculo resulta bastante simplificado desde que previamente se disponha em folha de
cálculo da tabela dos coeficientes que relacionam λ com σ em cada um dos intervalos
da segmentação (relação de referência). Os dados da tabela dependem basicamente da
densidade de corrente económica mais adequada para a rede em estudo (tipo de condutor,
custo de investimento do cabo, valia do kWh de perdas, diagrama de carga, horizonte de estudo,
taxa anual de actualização).

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5. Exemplo
Considere-se uma pequena RBT em estrutura radial com condutores de alumínio
(ρ = 1/36 Ω.mm2.m-1 ), ligada à saída de um posto de transformação e constituída por sete
nós e três restrições de queda de tensão, com as seguintes características:

δe = 2 A.mm-2 ; Co = 20 Esc.m-1.mm-2 ; K0 = 5 Esc.m-1.mm2.A-2 ; ∆Umax = 8% (18,5 V)


Código i 1 2 3 4 5 6 7
Restrição 1 100 200 300 --- --- --- ---
Li (m) Restrição 2 100 --- --- 100 300 300 ---
Restrição 3 100 --- --- 100 300 --- 200
Restrição 1 100 50 30 --- --- --- ---
Ii (A) Restrição 2 100 --- --- 50 40 10 ---
Restrição 3 100 --- --- 50 40 --- 20

Quadro I – Dados de entrada

Métodos Si (mm2)
Newton-Raphson 92 40 28 51 44 15 21
Metodologia Proposta 120 40 24 55 44 10 16

Quadro II – Saída de resultados. Comparação dos valores obtidos.

Si (mm2)

150
Newton-Raphson
100
Modelo Proposto 50
0
1 2 3 4 5 6 7
Ramos da Rede

Fig. 1 – Comparação gráfica entre valores obtidos pelos dois métodos.

6. Conclusões
O método proposto, partindo do resultado da aplicação do Teorema de Kuhn-Tucker
para optimização das redes eléctricas de baixa tensão, consegue obter resultados muito
próximos dos valores exactos (comparativamente ao método numérico iterativo de Newton-
Raphson). De acordo com os diversos estudos já efectuados e que o exemplo acima
ilustra, as diferenças encontradas identificam valores ligeiramente superiores para
secções mais elevadas (normalmente mais próximas do ponto de injecção) e valores
ligeiramente inferiores (habitualmente mais afastadas do ponto de injecção). A facilidade de
tratamento em folha de cálculo, concede elevado potencial à sua utilização sem perda de
rigor na escolha das secções normalizadas dos condutores disponíveis no mercado.

Referências
[1] H.W. Kuhn, A.W. Tucker, Nonlinear Programming, Proceedings of the Second Berkeley
Symposium on Mathematical Statistics and Probability, Berkeley, 1951.
[2] Homer E. Brown, Solution Of Large Networks by Matrix Methods, John Wiley, 1975.
[3] I.J. Nagrath, D.P. Kothari, Modern Power System Analysis, Tata McGraw-Hill, 1980.

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