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Ana Rebeca Soares de Oliveira

Caio Bontempo

Fernando Felipe Monteiro de Oliveira

Cleyton Lourenço Fernandes

Avaliação 3 - Teorias do Jornalismo

Objetivo

O trabalho pretende analisar a reportagem Fortuna Oculta, escrita pelo jornalista Gilberto
Nascimento para o veículo independente The Intercept, de modo a questionar alguns
levantamentos e métodos utilizados pelo jornalista para a construção da reportagem.

Análise

Ao realizar a leitura da reportagem Fortuna Oculta, publicada no dia cinco de dezembro, é


nítido que a escrita bem elaborada, os argumentos e as validações utilizadas por Gilberto
Nascimento, induzem o leitor a uma imersão na situação descrita pelo jornalista. Após a
releitura da reportagem, é possível perceber elementos que destoam do propósito de um
portal independente.

Em primeiro plano, é preciso traçar uma análise do autor da reportagem. A informação


exposta no The Intercept é de que Gilberto é um jornalista multi premiado, autor dos livros
“O Reino – a história de Edir Macedo e uma biografia da Igreja Universal” e “A Viagem
Inédita”, também de cunho religioso. O jornalista atua na área da religião e já atuou como
Oficial de Comunicação do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF).

O primeiro questionamento surge quando se percebe que o autor da reportagem representa


uma voz de protagonismo social, uma voz que estamos acostumados a escutar diariamente
nos grandes veículos midiáticos. Além disso, o histórico de emissoras onde Gilberto
Nascimento trabalhou também levanta questionamentos. Conforme o perfil no portal The
Intercept, o jornalista atuou em redes como Record TV, O Globo e IstoÉ. De que modo o
jornalismo independente fará contraposição ao jornalismo hegemônico com os mesmos
repórteres em campo?

Em uma segunda análise, é necessário discorrer sobre mecanismos de estruturação e


validação da reportagem. O autor começa a reportagem com o seguinte trecho: “São 22
quartos com vista para o mar em uma praia privativa. Um ginásio e três piscinas completam a
área externa da mansão, localizada em Ilhabela, no litoral norte de São Paulo. Para chegar
confortavelmente, há um heliporto. Os quartos superiores têm banheiras e todos são
equipados com camas king size e televisão”

. O questionamento a ser levantado aqui parte do princípio de que o autor não descreveu de
onde vem essas informações, apenas abriu a reportagem com a espetacularização da luxúria
da mansão. O que essa informação no primeiro parágrafo agrega ao jornalismo independente?
Será uma crítica ao monopólio dos líderes de igrejas, comum na grande mídia liberal, ou uma
ferramenta de espetacularização da reportagem? Ao finalizar a releitura, é possível assimilar
a abertura da reportagem com reportagens exibidas em grandes corporações midiáticas, e
ainda relacionar a metodologia da reportagem com o modelo de objetividade de Schudson,
que valoriza os fatos em submissão dos valores de modo a perpetuar o senso comum.

Ainda nesse sentido, chama atenção o perfil das fontes que o jornalista usou para validar a
reportagem e a distância entre o entrevistador e os entrevistados. Em um jornalismo
independente, que se propõe a fazer oposição aos conglomerados midiáticos, é de se esperar
que a reportagem aborda as diversas camadas sociais da realidade, mostrando uma
perspectiva diferente da fabricada. É necessário que o repórter se aprofunde no espaço
ocorrido e que dialogue com a população local sobre os fatos. Contudo, todas as fontes são
oficiais e não há pluralidade na reportagem. Corretor de imobiliária, empresário que fornece
informações, juíza a prefeitura, e as igrejas evangélicas.

Observa-se que a reportagem atua em favor de uma elite econômica e dos seus interesses
quando aborda disputas judiciais, rinhas de pastores sobre legitimidade e poder o que torna a
reportagem nada mais do que uma ferramenta nas mãos de quem é poderoso e busca ter
justiça se assemelhando ao papel desempenhado pelo jornalismo hegemônico. Uma
reportagem escrita por um jornalista renomado, sobre corrupção e rinhas de pastores, com
fontes homogêneas, não consegue abordar a dimensão de um contexto social em todas as suas
complexidades e que faça oposição ao jornalismo hegemônico. Ao reler a reportagem é
possível assimilar o uso de fontes oficiais e a presença massiva de contextos sociais
burgueses, que estão historicamente atrelados a corrupção da igreja, com a teoria da
marginalização proposta por Chomsky, uma vez que a reportagem foi escrita por um
jornalista de protagonismo social, com fontes e valores que perpetuam esses mesmos
protagonistas, de modo a seletar a reportagem em um único público e para um único público.

Além disso, no decorrer da construção da reportagem verifica-se trechos apelativos, como o


parágrafo em que o repórter situa a condição que Valdemiro foi criado e se tornou pastor, de
modo a traçar uma temporalidade que o leva diretamente a uma rinha com Edir Machado.
Desse modo, o jornalista passa a impressão de romantizar essa condição, como quando
alguma pessoa simples consegue alcançar um protagonismo social, reforçando ideias de
meritocracia. Além disso, a reportagem de Gilberto trata da atualidade como uma linha
temporal dos fatos, excluindo as diversas camadas que constituem o facto em si. Essa
exclusão não pode ser característica de reportagens em jornais alternativos.

Conclusão

Diversos elementos da reportagem não conciliam com as ideias de um jornal independente


que propõe incomodar a grande mídia e os poderosos. A reportagem seria facilmente
veiculada em portais de mídia hegemônica.

Referências

Chomsky, Noam. Título: Who Rules The World, Editora: Editorial Presença, 2016

Schudson, Michael. Título: Discovering The News, 1978

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