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RELATÓRIO DE AULAS
FORTALEZA CE
2022
INTRODUÇÃO
O jornalismo político é hoje - e sempre foi - uma das áreas mais essenciais e basilares
para a própria existência dos meios de comunicação. Embora a economia, a cultura, o
cotidiano e a editoria de internacional sejam fundamentais, todas estão permeadas por
processos políticos e disputas por espaço, representatividade, direcionamento de recursos ou
os próprios rumos de uma questão global que afeta um conjunto de países.
No Brasil, desde o surgimento da imprensa - que só veio ocorrer em 1808 (três séculos
após o início da colonização) - o jornalismo político exerce um papel central, primeiro por
debater questões espinhosas para a Corte Portuguesa, como as críticas de Hipólito da Costa,
que produzia o jornal a partir de Londres, depois pelas disputadas de narrativas com a criação
da Gazeta do Rio de Janeiro, fundado por Dom João VI, com o intuito claro e óbvio de
atender aos interesses do Império e gerar um imaginário político e social que fosse de
encontro à conformação da dominação portuguesa no Brasil.
É claro que o jornalismo praticado no século XIX possuía características e orientações
deontológicas diferentes do que se é hoje, era mais opinativo, tinha uma pretensão de
convencimento muito maior e o apelo informativo que hoje ocupa a maior parte das folhas de
jornais era mínimo. O que não se altera, no entanto, é a predominância de seções, editorias ou
cadernos específicos para a cobertura política, porque interessa à sociedade, ao jornalismo e
às pessoas que compõem esse grupo, embora a presença das redes sociais tenha
potencializado uma perda de importância - ou, pelo menos, de relevância - dos jornais em
todo o mundo.
É neste sentido, portanto, que o jornalismo vai mantendo uma posição de destaque na
esfera pública e nas relações entre política e comunicação, como abordado por Wilson Gomes
em Comunicação e Democracia: Problemas & Perspectiva, ao afirmar que
“o seu efeito [da esfera pública] não é de mera visibilidade social, mas a
acessibilidade das posições expostas ao juízo público; o seu propósito não é
simplesmente a criação de sociabilidade, mas o convencimento demonstrativo
mediante disputa argumentativa conduzida com razoabilidade. (GOMES, 2008)
MUDANÇAS
Sobre a qualidade do trabalho jornalístico da mídia hegemônica no país, Roberto
Maciel lembra a negligência da imprensa em cobrir criticamente o governo Bolsonaro, com
discursos que se dizem imparciais e acabam por favorecer a direita brasileira. Como exemplo
mais simples, ele cita o editorial do jornal O Estado de S. Paulo nas eleições de 2018,
intitulado “Uma escolha muito difícil”, e defende que o jornalismo brasileiro possa fazer uma
autocrítica da cobertura política nos últimos anos, especialmente do segundo governo Dilma e
da Operação Lava Jato, ao mesmo tempo em que defende a importância do jornalismo
independente contra-hegemônico, embora lembre as dificuldades de sustentabilidade
financeira, já que muitos dependem de financiamento coletivo e editais.
Roberto Maciel também lembra o quão importante o trabalho de ombudsman foi para
a sua profissão em outros cargos na área de jornalismo, seja como colunista ou assessor de
imprensa. Para ele, nós ainda convivemos com um monstro que na década de 1960 - durante a
ditadura militar - empastelava jornais, invadia, batia em jornalistas, torturava e matava, como
aconteceu com o famoso caso do jornalista Vladimir Herzog.
Como atividade, o jornalismo político precisa cultivar fontes para desenvolver uma
narrativa e conteúdo com qualidade, mas acima disso, Maciel defende que os jornalistas
precisam buscar sempre a independência, a apuração de qualidade e saber identificar quando a
fonte tenta manipular ou transmitir informações inverídicas.
Embora o jornalismo e a política brasileira tenham se modificado nos últimos anos,
Roberto Maciel enfatiza sempre a busca pela qualidade, apuração, diversidade de fontes,
escrita qualificada e didática. Por outro lado, a rotina de produção jornalística impede que os
novos profissionais tenham o tempo necessário de apuração e maturação, como lembra a
professora Erilene Firmino - participante da conversa -, ao citar a perda de qualidade das
produções com o crescimento cada vez maior do hard news e dos “caça cliques” nas redações
brasileiras, além do fenômenos de jovens jornalistas assumirem muito cedo cargos de
liderança e chefia dentro dos jornais.
DESAFIOS
A audiência passa então a determinar cada vez mais o faturamento das empresas de
jornalismo, o que obriga os jornais a buscarem produzir os conteúdos mais buscados ou
aqueles que os leitores estão mais interessados, somado ainda a outras questões de
desvalorização da profissão, como a desobrigatoriedade do diploma para exercer o jornalismo
e a desvalorização dos salários, como a pejotização dos profissionais, o aumento da
carga-horária de trabalho e o ritmo industrial de produção que exige a escrita de matérias na
maior rapidez possível.
ENCONTRO COM AS CUNHÃS - 21/10/2022
Ouvir As Cunhãs - um podcast sobre política do Ceará formado por três jornalistas,
Kamila Fernandes, Inês Aparecida e Hébely Rebouças - uma semana antes do 2° turno sobre
jornalismo político, entrevista jornalística e o papel da mídia na democracia é sem dúvida uma
experiência formadora e elucidativa do cenário e contexto em que estamos vivendo.
Juntas, a equipe pôde falar sobre a atuação de cada uma na mídia hegemônica, os
desafios de fazer jornalismo político independente no Brasil e debater com a turma os
possíveis caminhos para o futuro do jornalismo e, claro, quais as críticas, elogios e embates
dentro do fazer jornalístico hoje.
Embora o jornalismo político seja apenas uma das editorias dos jornais, exerce uma
influência, importância e relevância pública nas sociedades democráticas, além de ter uma
tarefa fundamental de constituir um espaço público dentro dos limites da democracia e que
proporcione contextos cada vez mais inclusivos e fundamentados no respeito. As coberturas
sobre violência política de gênero, a revelação de escândalos no poder Legislativo e esquemas
de corrupção no Executivo só foram possíveis pela presença de profissionais que se dedicam a
essas pautas.
Circula nas redes sociais nas últimas semanas que os quatro anos de governo
Bolsonaro deram grandes lições para o jornalismo, especialmente o político, embora acredite
que os meios de comunicação não precisam passar por processos tão violentos e ameaçadores
para aprenderem com seus próprios erros.
E mesmo que nem todos os estudantes de jornalismo sigam para essa área, o que é um
pouco óbvio, já que o mercado precisa de profissionais em outros campos, a formação política
é um processo fundamental independente da atuação profissional de cada novo jornalista
formado no país, por isso a importância de disciplinas como Comunicação e Política ou outras
relacionadas ao tema que façam parte das matrizes curriculares das graduações no Ceará e em
outros estados da federação.
Constituir uma visão crítica e bem fundamentada nos dá suporte e autonomia para
expandir nosso horizonte jornalístico, a maneira como se lê a pauta e como as coberturas são
feitas. A leitura de autores é essencial nesse processo, seja com intelectuais do campo
comunicacional, da Sociologia, Antropologia ou Ciência Política, já que uma formação
interdisciplinar não está descartada e pode enriquecer ainda mais o repertório de um
profissional do jornalismo.
Por último, a prática e a troca de saberes entre colegas de profissão - ou estudantes e
professores - é não só importante como também fortalecedor. Poder ouvir diferentes vozes do
jornalismo cearense com uma ampla cobertura na área de política sem dúvidas foi um
diferencial na disciplina e trouxe não só motivação para seguir esse percurso, mas um contato
com quem vive o jornalismo político na prática, seja como colunista, na cobertura em podcast
ou na assessoria parlamentar.
REFERÊNCIAS
MARTINS, Franklin. Jornalismo Político. 1° edição. São Paulo: Editora Contexto, 2005.
SEABRA, Roberto. Jornalismo Político. 1° edição. São Paulo: Editora Record, 2006.