Você está na página 1de 60

1

L
RA
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES / AVM

TO
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

AU
O
IT
RE
DI
E
A ANATOMIA DO CONFLITOID
LE
LA
PE
O
ID

Elaine de Souza Medeiros


G
TE
O
PR

ORIENTADOR:
TO

Prof. William Rocha


EN
M
CU

Rio de Janeiro - 2018


DO
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES / AVM
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

A ANATOMIA DO CONFLITO

Apresentação de monografia à AVM como requisito


parcial para obtenção do grau de especialista em
Mediação de Conflitos com ênfase em Família.
Por: Elaine de Souza Medeiros

Rio de Janeiro - 2018


METODOLOGIA

Durante mais de dez anos trabalhando como mediadora judicial no


Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, onde atuo também como supervisora no
CEJUSC da Capital, acumulei uma larga experiência nesse trabalho e me senti
desafiada quando, durante um curso de reciclagem e aperfeiçoamento
somente para mediadores, o palestrante indagou à plateia quantos ali
conheciam a classificação do conflito, descrita por Christopher Moore, em seu
livro “O Processo de Mediação” e quantos dos que a conheciam, faziam uso
desse recurso para traçar suas estratégias no tratamento do conflito, ao iniciar
uma mediação.
Diante desse desafio, realizei uma pesquisa bibliográfica para
fundamentação teórica da reflexão, complementada por uma experiência de
caso concreto para verificação prática da hipótese.
A pesquisa em tela pretende analisar o recurso da Classificação do
Conflito. Por esta razão, baseia-se no livro “O Processo de Mediação” de
Christopher Moore e, para melhor compreensão da estrutura do conflito, valeu-
se também do Modelo da Escalada do Conflito de Friedrich Glasl, descrito no
livro “Mediación, entre exigéncia y realidad: Um inventario personal”.
Referida pesquisa apoia-se, para análise das ferramentas do
Mediador, no Manual de Mediação de 2016, do CNJ, e, para agregar valor com
o acréscimo de uma segunda visão, busquei algumas contribuições do livro
“Caixa de Ferramentas do Mediador” de Tânia Almeida, referidos na
Bibliografia apresentada.
A leitura das obras citadas na Bibliografia agregou informações
muito importantes para dar suporte à condução do caso concreto e ao
desenvolvimento e realização desse trabalho.
16

Quando os conflitos chegam à Mediação, qualquer que seja a etapa da


Escalada em que se encontrem, seguramente, tiveram em suas origens diversas
causas. Como Christopher Moore afirma, porém, sempre haverá as preponderantes,
e que devem ser identificadas pelo Mediador, para melhor encaminhamento e
escolha das estratégias de tratamento do conflito. É com base nelas, que
Christopher Moore apresenta o recurso seguinte, objeto de nosso estudo, sua
Classificação do Conflito, dividindo-o em cinco tipos: de dados/informações; de
relacionamento; de interesses; de valor; e estruturais.

Segundo Joseph Folger2, o conflito “é a interação de pessoas


interdependentes que percebem objetivos incompatíveis e interferências mútuas na
consecução desses objetivos.”. Invariavelmente, essas interações e percepções
revelam-se comprometidas por alguma falha ou dificuldade na comunicação.
Entretanto, por vezes, esta é uma causa subjacente, e por outras, constitui -se na
principal. Quando o problema tem seu fulcro na comunicação, os conflitos serão do
tipo de dados/informação ou de relacionamento.

A ideia mais elementar e básica de comunicação, que nos remete ao que


aprendemos ainda no Ensino Fundamental, se apoia em três elementos: emissor,
mensagem e receptor. Quando a mensagem transmitida não é integralmente
recebida, seja por perda parcial, total, ou distorção em seu conteúdo, caracteriza-se
como falha na comunicação.

No âmbito interpessoal, a mensagem possui conteúdo objetivo e


subjetivo, as linguagens utilizadas são verbal e não-verbal, e o comprometimento
pode se dar, tanto objetivamente, com perda de parte ou integralidade do conteúdo
da mensagem, ou, subjetivamente, com aspectos emocionais e interferências na
forma de transmissão e recepção da mensagem, causando distorções na
comunicação. No primeiro caso, teremos um conflito de dados/informações, e no
segundo, um conflito de relacionamento, melhor descritos a seguir.

2 FOLGER, Joseph. apud PASSANI, A. G., CORRÊA, M. G., BASTOS, S. Resolução de Conflitos
para Representantes de Empresa. 1ª ed. UnB: 2014. p. 43.
18

Como esta realidade que se apresenta às partes, na qual está inserida o


conflito, geralmente, costuma ser uma ambiência complexa, composta de diversos
elementos subjetivos, com a presença de grande carga emocional, as partes nem
sempre têm clareza de seus objetivos ou interesses, e tendem a confundir interesses
e posições, cabendo ao Mediador estimulá-las na descoberta de seus próprios
interesses, e conexão com algo ainda mais profundo: suas necessidades.

Precisamos agora, diferenciar interesses e necessidades. Sabendo que,


enquanto as posições são uma interpretação, sujeita a influências externas,
constituindo-se, por vezes, em trajetórias equivocadas das partes, na tentativa de
atingir seus interesses, temos que, estes interesses são a expressão íntima e
legítima das partes na busca da satisfação de suas necessidades. Sendo assim,
interesse é o fruto pessoal, individual e específico de uma necessidade comum,
estrutural e inerente a todo ser humano. Neste ponto, a Hierarquia das
Necessidades de Maslow irá nos esclarecer um pouco mais.

A “Pirâmide de Maslow”3 ou a “Hierarquia das Necessidades de Maslow”


é um conceito criado pelo psicólogo norte-americano Abraham H. Maslow, que
determina as condições necessárias para que cada ser humano atinja a sua
satisfação pessoal e profissional. De acordo com a ideia de Maslow, os seres
humanos vivem para satisfazer as suas necessidades, com o objetivo de conquistar
a sonhada autorrealização plena. O esquema descrito na Pirâmide de Maslow trata
justamente da hierarquização dessas necessidades ao longo da vida do ser humano.

A Pirâmide de Maslow é dividida em cinco níveis hierárquicos, cada um


formado por um conjunto de necessidades. Na base da pirâmide estão os elementos
que são considerados primordiais para a sobrevivência de uma pessoa, como a
fome, a sede, o sexo e a respiração. Para progredir na hierarquia é necessária a
conquista das condições elementares da Pirâmide, passando para os próximos
níveis, um a um, até alcançar o topo.

3 Pirâmide de Maslow, disponível em:


https://pt.wikipedia.org/wiki/Hierarquia_de_nec essidades _de_Maslow, acessado em 18 set. 2018.
28

As reuniões privadas ou individuais, também conhecidas pela


expressão caucus, têm por finalidade propiciar um espaço exclusivo
de conversa com um dos mediandos, incluindo ou não sua rede de
pertinência e advogado(s), e atendem a múltiplas finalidades:
possibilitar o acesso aos discursos de cada um, sem a interferência
da presença do outro; provocar reflexões destinadas a solucionar
aparentes impasses; identificar a pauta subjetiva da questão
apresentada.
Os objetivos mencionados podem ser ampliados e incluir, dentre
outros, a oferta de perguntas autoimplicativas e o acolhimento de
emoções que, levadas às entrevistas conjuntas, poderiam contribuir
para a manutenção das barreiras ao diálogo.
[...]
O espaço privado de conversa possibilita aos mediadores uma
abordagem mais direta e aos mediandos uma expressão mais
desprovida de estratégias de defesa e de ataque ao outro. No
espaço privado, mediandos não necessitam se ocupar do que o outro
em dissenso está ouvindo ou que julgamentos está fazendo sobre o
que está presenciando.

2.2.5. Enfoque Prospectivo

Ainda segundo o Manual de Mediação 15:

Ao apresentar às partes uma visão prospectiva da disputa, o


mediador estimula a atuação cooperativa das partes na busca por
uma solução. Enfocar no futuro é uma técnica que pode ser utilizada
com dois objetivos. O primeiro seria aliviar o clima de atribuição de
culpa, deixando de analisar como as questões problemáticas
aconteceram no passado, e passando a analisar como a situação
será resolvida de modo positivo. O segundo seria o de estimular uma
parte a buscar uma solução. (AZEVEDO, 2016, p. 212)

Desenvolvendo esse raciocínio, através de exemplificação, o texto irá


concluir que com um discurso retrospectivo, provavelmente o mediador ouvirá uma
série de justificativas ou atribuições de culpa, enquanto que, por outro lado, de forma
prospectiva, a parte tenderá a buscar soluções e melhorias em procedimentos e
dificilmente se colocará de forma defensiva.

2.3. Conflitos de Interesses

Christopher Moore afirma que neste tipo de conflito, o importante é


concentrar-se nos interesses, e não nas posições. Desenvolver soluções
integradoras, que lidem com as necessidades de todas as partes. Promover
intercâmbios para satisfazer os interesses de forças diferentes. Encontrar critérios

15 AZEVEDO, A. G.; et al. op. cit. p. 212.


30

seja usada prioritariamente em sessões privadas e que ao se aplicar a técnica o


mediador indique i) que se trata de uma técnica de mediação e ii) que esta técnica
também será utilizada com a outra parte.

2.3.4. Geração de Opções

Uma das ferramentas mais eficientes para superação de eventuais


impasses consiste na geração de opções e está muito bem abordada no Manual de
Mediação:

O papel do mediador não é apresentar soluções e sim estimular as


partes para pensarem em novas opções para composição da
disputa. Isso porque espera-se que a mediação tenha um papel
educativo e se a parte aprender a buscar opções sozinha em futuras
controvérsias ela tenderá a, em futuros conflitos, conseguir encontrar
algumas novas soluções. O primeiro passo é a realização de
perguntas que ajudem as partes a pensar em uma solução conjunta.
[...]
Quando as partes estiverem finalmente prontas para discutir
soluções com o mediador, este terá de atentar para não buscar
acelerar e resolver rapidamente as questões (e.g. escolhendo uma
dessas soluções), pois as partes podem tomar tais decisões
sozinhas – se bem estimuladas. Cabe ao mediador tentar canalizar
todo este entusiasmo para a geração de ideias. É importante abrir o
leque de possibilidades.
[...]
Outra ação importante consiste em induzir cada uma das partes a
pensar nos interesses da outra. O mediador pode perguntar a cada
uma delas qual a oferta que poderiam fazer e que julgam que
poderiam ser aceitas pela outra parte. Esta técnica é especialmente
útil quando as ideias que estiverem surgindo girem em torno do que
o “outro” poderia fazer de diferente. O mediador deve também
estimular o maior detalhamento possível das informações acerca do
problema. Perguntas sobre as particularidades da situação podem
fazer o problema parecer menos complicado e levar as pessoas a
pensar as soluções de maneira específica e prática. É de suma
importância que o mediador estimule a criatividade das partes. A
imaginação dos participantes deve ser incentivada, e eles devem ser
estimulados a tentar algo novo, tornando-se menos presos a
perspectivas preestabelecidas. (AZEVEDO, 2016, p. 238-239)

2.4. Conflitos de Valor

Como este tipo de conflito se origina na divergência de valores intrínsecos


às partes, Moore nos alerta a evitar definir o problema em termos de valor, e nos
incentiva a permitir que as partes discordem, nos instando a descobrir em que ponto
concordam, para, a partir daí, criarmos esferas de influência, onde domine um
32

encaminhará a questão para uma solução satisfatória para as duas


partes. No entanto, mesmo sabendo disso, muitos encontram
dificuldade em ouvir de forma atenta o debatedor, reconhecendo os
seus sentimentos e estabelecendo uma comunicação ativa que
possa conduzir à colaboração. Isso porque as emoções
frequentemente se misturam com o mérito da negociação. Assim,
antes de presumir que as pessoas envolvidas façam parte do
problema a ser abordado, recomenda-se que os envolvidos
assumam uma postura de “atacar” os méritos da negociação, lado a
lado, e não os negociadores. (AZEVEDO, 2016, p. 74-75)

2.4.4. Fragmentação

Segundo Tânia Almeida 18, logo no início da negociação da pauta objetiva,


com a administração da ordem de entrada dos temas, pode-se alcançar maior
fluidez na construção de consenso:

Como um maestro que direciona a entrada dos instrumentos, visando


a harmonização de suas diferenças e ao melhor resultado melódico,
o mediador pode eleger a ordem de abordagem dos temas que
integram a pauta objetiva, privilegiando os que interessam a todos os
envolvidos e que são menos geradores de tensão. (ALMEIDA, 2014,
p. 115-116).

E o Manual de Mediação, sob o título “Fragmentar questões”, aborda esta


ferramenta da seguinte forma:

Diante de uma controvérsia, as partes têm a tendência de aglutinar


questões, sentimentos e interesses em uma única grande questão,
que lhes parece extremamente complexa e praticamente insolúvel.
Ao fragmentá-las em questões menores, o mediador tira das partes
um grande peso, e as capacita a lidar com as próprias questões.
Depois de separar e reconhecer questões, sentimentos e interesses,
o mediador deve analisar a controvérsia em pequenos blocos,
começando por fatores menos complexos, por interesses comuns e
por sentimentos positivos. (AZEVEDO, 2016, p. 208)

2.5. Conflitos Estruturais

Uma vez que este tipo de conflito é causado por desequilíbrio de


autoridade e poder das partes, recursos desiguais, e ou fatores externos que
impeçam a cooperação, Christopher Moore propõe que, para proporcionar o
reequilíbrio na dinâmica das relações entre as partes, sejam utilizadas as
intervenções seguintes: realocar a posse ou o controle dos recursos; estabelecer
processo de tomada de decisão justo e mutuamente aceitável; mudar o
37

Solicitamos que aguardassem por alguns minutos lá fora, enquanto


faríamos uma breve reunião de equipe, e, na sequência, duas Sessões Individuais:
primeiro com Ela, e em seguida com Ele.

As narrativas compuseram o seguinte enredo: o ex-casal se separara há


dezesseis anos, quando o filho, hoje com vinte e um, tinha cinco anos de idade. O
rapaz tem síndrome de down, e estuda numa escola especializada, cuja
mensalidade custa dois mil e oitocentos reais, dos quais, Ele e os avós paternos
arcam com mil reais, e o restante da importância é completado pela avó materna e
pela filha mais velha deles. Ela não trabalha para dedicar-se ao filho e Ele é
autônomo. A filha mais velha, hoje formada e independente, quando cursava a
faculdade, teve dificuldade em pagar as mensalidades, em função da falta do
depósito dos alimentos, razão pela qual Ele foi preso. Isso constitui grande
preocupação para Ele, sendo inclusive a motivação que apresenta para ter
ingressado com a ação.

Diante deste quadro, buscamos classificar o conflito. Eu apresentei a


hipótese de tratar-se de um Conflito de Interesses, e minha colega entendeu tratar-
se de um Conflito de Relacionamento.

Eles aparentavam estar relativamente pacificados e apresentavam


interesses bastante objetivamente descritos (Ele – fixar os alimentos em uma
quantia com a qual pudesse arcar, e evitar assim, uma possível nova prisão; Ela –
suprir as necessidades do filho, e oferecer-lhe a melhor qualidade de vida possível),
o que me fez tender, à primeira vista, para o tipo de Conflito de Interesses. Mas a
outra Mediadora ponderou que, a interrupção das relações por tanto tempo, talvez
estivesse velando uma subjetividade maior, e uma gama de emoções, que
aflorariam no decorrer da Mediação, revelando que se tratasse do tipo de Conflito de
Relacionamento.

Assim, concordamos em trabalhar com as duas possibilidades,


caminhando na Mediação com o emprego das ferramentas que se mostrassem úteis
em ambas as hipóteses. Decidimos então, investigar a ‘Realidade’ ou possível
‘Aparência’ dos Interesses primeiramente apresentados, optando por fazermos duas
47

Após o quebra-gelo, que não funcionou muito bem (Ele tentou reagir
positivamente, mas sem sucesso; e Ela se manteve impassível), começamos
estrategicamente por Ele na sessão conjunta, justamente porque pretendíamos
lançar mão da ferramenta Sessão Privada, rapidamente, começando sua utilização
com Ela.

Indagamos o que acontecera desde a última sessão e Ele lamentou que a


comunicação não tenha prosperado. Disse que trocaram algumas mensagens pelo
WhatsApp, mas que não houve continuidade. Declarou que, no seu entendimento,
Ela desistiu rápido demais, e que Ele gostaria de ter tentado um pouco mais. Afirmou
que, inclusive, Ele entendia que foi dado bastante tempo, justamente para isso e que
se sentia frustrado por não poder insistir. Revelou expectativas, suas e até dos seus
pais, de reverem o neto. E chegou até a pensar que passaria o dia dos pais com o
filho.

Ele foi objetivo e respeitoso. Em momento algum usou tom acusatório,


mas estava notoriamente mobilizado pela situação, e decepcionado. Empregamos
apenas Escuta Ativa e Silêncio, e passamos a Ela.

A expressão e tom de voz dela revelavam sua irritação. Ela expressa o


desejo de encerrar a Mediação e toda a sua indignação, ao mencionar episódios do
passado. Afirma que o mal que Ele fez não será cobrado, porque se a filha
resolvesse cobrar, Ele apodreceria na cadeia. Relata que o filho não quer ver o pai e
declara que respeita a vontade do filho. Assegura que não influencia o filho, e
assume que desacredita do discurso que Ele apresenta.

Fizemos um Resumo, recontextualizando, a fim de apaziguar um pouco


os ânimos, e ao serem indagados sobre a concordância, eles aceitam a Paráfrase.

Notando que Ela está muito absorta em suas próprias percepções, e


presa em seu mundo interior, a colega aplica um Teste de Realidade, para conectá-
la novamente com a situação fática, e reposicioná-la na Mediação. Eu, então,
complemento recordando o nosso papel de Mediadoras, esclarecendo o processo e
recordando o papel dos Mediandos.
49

tem vinte e um anos, a lei não vai obrigá-lo a conviver com o pai. Durante a sua
narrativa, Ela faz círculos, num vai-e-vem constante.

Após seu discurso, faço um afago, elogiando sua sinceridade e coragem,


além de agradecer e valorizar a confiança depositada em nós.

Ela faz reflexões sobre seu próprio comportamento em relação ao filho e


fica confusa quanto a questões jurídicas, e a colega indica que se oriente com seu
Defensor.

Ela afirma que seu companheiro atual supre as necessidades que Ela tem
quanto ao apoio em relação ao filho e questiona o que Ele e sua família podem
oferecer ao seu filho, depois de tanto tempo de ausência.

Empregando o Enfoque Prospectivo, a colega pergunta: De que maneira


a Mediação pode ser encaminhada, de forma satisfatória para Ela?

Ela fecha questão sobre a convivência e abre-se para tratar dos


alimentos, mencionando o plano de saúde.

A colega faz um Resumo e eu auxilio com Perguntas, para checar nosso


entendimento, e Ela concorda com nossa síntese.

Na Sessão Individual com Ele, começamos com a Escuta Ativa.

Ele inicia mostrando-se grato pela oportunidade da Mediação. Lê suas


anotações, feitas enquanto Ela falava, durante a sessão conjunta. Refuta as
alegações dela para justificar a obstrução da convivência entre Ele e o filho, como
por exemplo, Ele não saber o que o rapaz poderia comer. Não considera a
argumentação dela plausível. Queixa-se de ter sido alijado do processo de
tratamento do filho com a psicóloga da escola, que não o chamou, e, na sua visão,
deveria, quando o filho começou a negar-se a fazer atividades referentes à família e
a mãe foi chamada. Não concorda, quando Ela afirma que Ele praticou um mal
contra os filhos, pela sua ausência, ou por Ele não ter conseguido pagar as coisas, e
acha que não merecia ouvir que poderia apodrecer na cadeia, por este motivo.
Sente-se injustiçado e declara ter ficado muito triste com isso.
51

pertinência e o surgimento de um elemento novo – o atual companheiro dela – foi


uma possibilidade fortemente considerada. Outra hipótese que nos ocorreu é que a
iminência de concretização de uma situação ideal tenha gerado uma reflexão sobre
todas as consequências reais e derivações prováveis que dela poderiam advir.
Funcionando como uma espécie de Teste de Realidade, provocando um confronto
entre o mundo interno e o mundo externo e estabelecendo, a partir dessa
comparação, um contato com os próprios interesses reais, fazendo com que Ela se
reposicionasse na situação e, por conseguinte, na Mediação. Cogitamos ainda a
probabilidade dela não sentir-se preparada para lidar com a grande carga emocional
que veio à tona, depois de tanto tempo represada, preferindo a evitação.

Fossem quais fossem os motivos, estes ou outros quaisquer, Ela se


mostrou inflexível quanto à recusa da permanência da questão da convivência na
pauta.

Ele iniciara a sessão visivelmente frustrado, e era notório o seu interesse


na convivência com o filho, entretanto, esta era uma perspectiva recém vislumbrada,
sendo a questão proposta por Ele, desde o início, a dos alimentos, e constituindo-se
seu interesse primordial estabelecer um valor compatível com sua possibilidade de
pagamento.

Considerando a premissa da voluntariedade na Mediação, só poderíamos


tratar das questões de interesse de ambos. Já que Ela se mostrara irredutível quanto
à exclusão da convivência, mas aceitara tratar dos alimentos, e esta era questão na
qual Ele mantinha seu interesse, decidimos continuar, restringindo-nos à pauta
objetiva. Definimos então, trabalhar com o enquadre Conflito de Interesses, e, a
partir daí, traçar nossas futuras estratégias.

3.4. Quarta e Última Sessão

Na reunião de equipe que antecedeu à sessão, resolvemos manter a


comunicação na pauta, permeando o trabalho com essa questão, ao tratarmos dos
alimentos. Decidimos fazer uma breve sessão conjunta e caminharmos com sessões
individuais curtas, para estimularmos a elaboração das sugestões e buscarmos
reunir as propostas em uma construção única de consenso.
53

A conversa com seu Defensor foi esclarecedora o suficiente para


encorajá-lo a assumir compromisso. Até então, Ele sentia-se inseguro até mesmo
em confirmar a manutenção dos quinhentos reais, em função da instabilidade de sua
atividade profissional. No entanto, a possibilidade do uso de uma porcentagem do
salário mínimo como parâmetro, gerou nele a confiança necessária para abrir-se à
negociação.

Abordamos o assunto do plano de saúde. Informamos que o custo da


mensalidade era de duzentos reais, e que Ela gostaria que Ele a ajudasse nessa
despesa. Indagamos o que Ele acreditava que poderia fazer. Considerou o valor
integral e, como era bom em matemática, concluiu que seria um aumento de
quarenta por cento. Refletiu um pouco e assumiu que, em alguns meses do ano, em
virtude da sazonalidade do seu trabalho, teria dificuldade em arcar com esse valor,
mas estava disposto a aceitar.

Novamente, a aceitação dele em pagar integralmente o plano de saúde


do filho seria uma proposta facilmente aceita por Ela, mas outra vez aplicamos a
Geração de Opções.

Perguntei em quais meses e por que Ele teria dificuldade em depositar os


duzentos reais a mais? E Ele respondeu que, principalmente nos meses de férias, as
pessoas não o procuravam para terem aulas de computação e, por isso, sua renda
caía muito. Os demais meses Ele classificava em bons e médios.

Confirmei sua segurança em arcar com os setecentos reais nos meses


bons, e, para avançar um pouco mais na questão da comunicação, perguntei se, no
caso de ficar estabelecido formalmente os quinhentos reais, e o que excedesse a
isso fosse oferecido de maneira informal, Ele teria dificuldade em comunicar-se
diretamente com Ela, para entrega desse valor. Respondeu que não teria problema
algum em que se estabelecesse uma comunicação entre eles, e que Ele poderia
tomar a iniciativa.

Pedimos então, que enquanto aguardava conversarmos com Ela,


tomando como base os quinhentos reais, e como topo os setecentos,
compreendendo este intervalo, verificasse o valor que seria possível oferecer nos
meses que não fossem bons.
55

esclareceu os pontos. Ela acompanhou tudo atentamente, e ao final da explicação,


declarou sua concordância.

Pedimos então, que Ela comentasse sobre a disposição da filha. Ela


afirmou para Ele que tanto a moça quanto Ela estavam dispostas a declarar que não
havia dívida nenhuma, principalmente com a Faculdade, já que a moça já tinha anos
de formada e que, para isso, Ela e a filha tinham feito um empréstimo em oito vezes,
que também já fora saldado. Ele não sabia disso e declarou que, quando fora preso,
a dívida era essa, e foi parcelada em três vezes, e Ele já pagara toda. Vendeu até o
carro para isso. Informa que foram três depósitos judiciais, e pergunta se Ela não foi
ao Banco do Brasil receber? Ela lembra de ter ido ao Banco do Brasil somente uma
vez... não sabe se foi mais vezes. Ele diz que este dinheiro era especificamente para
pagar a faculdade, e que ela e a filha não precisavam ter passado pelas dificuldades
que Ela descreveu. Ela diz que não foi informada e nem sabe se recebeu e gastou
com outras necessidades dos filhos, porque pensava que era o dinheiro para o
sustento deles, já que não lhe disseram nada sobre ser especificamente para o
pagamento da faculdade, ou se nem o recebeu. Ele aventa a hipótese do dinheiro
estar depositado em juízo até hoje. Os dois ficam perplexos com essa possibilidade.

Mas, a comunicação está fluindo. No princípio, tímida. Cheia de buracos e


silêncio. Porém, aos poucos, vai tomando ritmo, tornando-se encadeada, e
assumindo um tom mais natural.

Os dois acertam de combinar com a filha todas as ações necessárias para


solucionarem a situação do outro processo, e fechamos assim. Passamos à redação
do acordo.

Enquanto a colega vai para o computador para redigir o termo,


permaneço à mesa um pouco mais, apenas como ponto de apoio, para que não se
vejam de repente sozinhos, e não se esvazie o diálogo. Solto uma palavra aqui, uma
sentença ali, um menear de cabeça. Percebendo que o diálogo já se firmou o
suficiente para prescindir da minha presença, sob o pretexto de necessidade de
auxílio, minha colega me chama. Peço licença, retiro-me da mesa e vou juntar-me a
ela. A comunicação continua.
57

A utilização da Classificação do Conflito funcionou, não apenas como um


mapa estático, mas, em tempos contemporâneos, como se usa um GPS: a todo
tempo atualizando a rota e guiando-nos por novos caminhos, que nos levassem ao
nosso destino final. Esta experiência nos proporcionou, como afirma Moore, pelo
método de tentativa e erro, que fossemos adequando melhor nossas intervenções à
configuração que o conflito apresentava a cada momento, num processo dinâmico e
vivo.
59

Assim, foi realizada uma aplicação prática do arcabouço teórico adquirido,


e empregar o recurso objeto de nosso estudo em um caso concreto.

O experimento se deu em parceria com outra Mediadora, o que ampliou


consideravelmente as percepções e possibilidades de intervenção. E revelou-se uma
oportunidade única de comprovar empiricamente o conceito defendido por
Christopher Moore de que o trabalho do Mediador se desenvolve por testagem de
hipóteses, por meio de tentativa e erro.

Foi necessário redirecionar o procedimento algumas vezes, mas o recurso


da Classificação do Conflito funcionou como parâmetro, sinalizando a direção. As
trajetórias percorridas compuseram um conjunto dinâmico e interdependente, que
expressou um processo integral em que até aquelas aparentemente equivocadas, e
que não tiveram continuidade, contribuíram para a expansão de resultados.

A investigação foi concluída, atestando a eficiência do recurso e


ressaltando a relevância do seu uso, para a realização de uma prática mais efetiva e
consciente do Mediador.
17

1.3.1. Conflitos de Dados/Informações

Estes conflitos são causados por problemas quanto à quantidade ou


qualidade da informação. Ausência de dados, falta de clareza na informação, e
informação errada. Interpretações diferentes e procedimentos distintos de avaliação
de dados. Pontos de vista diferentes sobre o que é importante ou relevante, e que
deve ser considerado.

1.3.2. Conflitos de Relacionamento

Já estes conflitos são causados pela comunicação inadequada ou


deficiente, em razão de emoções fortes. Percepções equivocadas ou estereótipos.
Comportamento negativo-repetitivo. Em função do aspecto emocional, neste tipo te
conflito, os envolvidos possuem uma imagem do outro comprometida, como a
descrita na 4ª etapa da Escalada do Conflito por Glasl, “Imagens e Coalizões”.

No entanto, se a comunicação consiste em questão secundária na origem


do conflito, este poderá ser de um dos três tipos a seguir:

1.3.3. Conflitos de Interesses

Tais conflitos são causados por competição real ou percebida pelos


envolvidos sobre interesses, quer sejam interesses fundamentais, interesses quanto
a procedimentos, interesses psicológicos.

A já anteriormente mencionada definição de Folger se reafirma aqui, pois


o que verdadeiramente conta é a percepção dos envolvidos no conflito, quanto à
incompatibilidade de seus objetivos, ou seja, interesses, e a possibilidade concreta
de consegui-los, seja esta incompatibilidade real ou hipotética.

É importante distinguirmos interesses e posições. Interesses são, como já


dissemos, os objetivos genuínos que as partes envolvidas no conflito realmente têm,
consciente ou inconscientemente. Enquanto que posições são as metas que elas
estabelecem para si mesmas, o caminho que percorrem, a partir da interpretação
que fazem desses objetivos. Os papéis que assumem na realidade que se lhes
apresenta, dentro do conflito, com o intuito de alcançarem tais objetivos.
18

Como esta realidade que se apresenta às partes, na qual está inserida o


conflito, geralmente, costuma ser uma ambiência complexa, composta de diversos
elementos subjetivos, com a presença de grande carga emocional, as partes nem
sempre têm clareza de seus objetivos ou interesses, e tendem a confundir interesses
e posições, cabendo ao Mediador estimulá-las na descoberta de seus próprios
interesses, e conexão com algo ainda mais profundo: suas necessidades.

Precisamos agora, diferenciar interesses e necessidades. Sabendo que,


enquanto as posições são uma interpretação, sujeita a influências externas,
constituindo-se, por vezes, em trajetórias equivocadas das partes, na tentativa de
atingir seus interesses, temos que, estes interesses são a expressão íntima e
legítima das partes na busca da satisfação de suas necessidades. Sendo assim,
interesse é o fruto pessoal, individual e específico de uma necessidade comum,
estrutural e inerente a todo ser humano. Neste ponto, a Hierarquia das
Necessidades de Maslow irá nos esclarecer um pouco mais.

A “Pirâmide de Maslow”3 ou a “Hierarquia das Necessidades de Maslow”


é um conceito criado pelo psicólogo norte-americano Abraham H. Maslow, que
determina as condições necessárias para que cada ser humano atinja a sua
satisfação pessoal e profissional. De acordo com a ideia de Maslow, os seres
humanos vivem para satisfazer as suas necessidades, com o objetivo de conquistar
a sonhada autorrealização plena. O esquema descrito na Pirâmide de Maslow trata
justamente da hierarquização dessas necessidades ao longo da vida do ser humano.

A Pirâmide de Maslow é dividida em cinco níveis hierárquicos, cada um


formado por um conjunto de necessidades. Na base da pirâmide estão os elementos
que são considerados primordiais para a sobrevivência de uma pessoa, como a
fome, a sede, o sexo e a respiração. Para progredir na hierarquia é necessária a
conquista das condições elementares da Pirâmide, passando para os próximos
níveis, um a um, até alcançar o topo.

3 Pirâmide de Maslow, disponível em:


https://pt.wikipedia.org/wiki/Hierarquia_de_nec essidades _de_Maslow, acessado em 18 set. 2018.
19

Figura 1: A Pirâmide de Maslow

- Necessidades Fisiológicas: Esta é a base da Pirâmide, onde estão as


necessidades básicas de qualquer ser humano, como a fome, a sede, a respiração,
a excreção, o abrigo e o sexo, por exemplo.

- Necessidade de Segurança: É o segundo nível da hierarquia, onde


estão os elementos que fazem os indivíduos se sentirem seguros, desde a
segurança em casa até meios mais complexos, como a segurança no trabalho,
segurança com a saúde (planos de saúde) e etc.

- Necessidades Sociais: É o terceiro nível da Pirâmide. Neste grupo


estão as necessidades de se sentir parte de um grupo social, como ter amigos,
constituir família, receber carinho de parceiros sexuais e etc..

- Necessidades de Status ou Estima: É a quarta etapa da Pirâmide de


Maslow, que agrupa duas necessidades principais – a de reconhecer as próprias
capacidades e ser reconhecido por outras pessoas, devido à capacidade de
adequação do indivíduo. Ou seja, é a necessidade que uma pessoa tem de se
orgulhar de si própria, sentir a admiração e o orgulho de outros indivíduos, ser
respeitada por si e pelos outros, entre outras características que envolvam o poder,
o reconhecimento e o orgulho, por exemplo.

- Necessidades de Autorrealização: Este é o topo da Pirâmide, quando


o indivíduo consegue aproveitar todo o potencial de si próprio, com autocontrole de
20

suas ações, independência, a capacidade de fazer aquilo que gosta e é apto a fazer,
com satisfação.

As necessidades da autorrealização nunca são saciadas, sempre que


uma necessidade se sacia, surgem novas ânsias e objetivos.

As necessidades, pertencentes a quaisquer níveis hierárquicos descritos


na Pirâmide de Maslow, serão as responsáveis pelo surgimento dos interesses
mobilizadores do conflito, e conhecê-las, nos auxilia a identificar que tipo de
interesses temos diante de nós, quando em face do conflito, pois cada tipo está
ligado ao grupo de necessidades que o produz.

Interesses fundamentais se originam na base hierárquica da Pirâmide, em


suas duas primeiras etapas, enquanto os interesses procedimentais e psicológicos
se situam a partir do terceiro nível hierárquico.

Assim como a dificuldade na comunicação está presente em qualquer tipo


de conflito, ainda que não seja sua causa principal, os interesses também. No
entanto, nos dois tipos de conflito que se seguem, parece que estes interesses estão
tão arraigados aos integrantes do conflito, seja de uma forma orgânica, como os
valores que, num plano mais profundo, constituem as próprias personalidades das
pessoas envolvidas no conflito, quanto, num plano externo, os lugares que ocupam e
as relações entre os participantes do conflito aparentam ser tão estratificadas, que a
possibilidade de movimentação parece algo pouco provável. Fazendo-se necessária
uma nova categorização, que veremos a seguir:

1.3.4. Conflitos de Valor

Estes conflitos são causados por critérios diferentes para avaliar ideias ou
comportamento. Objetivos exclusivos intrinsecamente valiosos para cada um dos
participantes do conflito. Modos de vida, ideologia ou religião diferentes.

1.3.5. Conflitos Estruturais

Tais conflitos são causados por controle, posse, ou distribuição desigual


de recursos. Poder e autoridade desiguais. Pressões de tempo. Fatores geográficos,
físicos, ou ambientais que impeçam a cooperação.
21

Feito o diagnóstico, como em uma boa anamnese, o que se segue é a


prescrição do tratamento do conflito. É o que propõe Christopher Moore, sugerindo
uma série de intervenções para cada tipo de conflito, que estudaremos
detalhadamente no Capítulo a seguir.
22

CAPÍTULO II

LIDANDO COM O CONFLITO

No capítulo anterior, procuramos identificar o Conflito, a partir da tentativa


de responder às perguntas O Quê, Qual e Por Quê, no que se refere à sua definição,
trajetória e origem. Neste capítulo, buscaremos responder ao Como, no tocante às
diversas possibilidades de agir em face do conflito.

Christopher Moore divide as ações do Mediador em: Prevenções e


Intervenções. E define as primeiras, como sendo as atitudes do Mediador, antes da
interação entre os Mediandos, numa ação proativa, quando age preventivamente, a
fim de inibir ou evitar uma comunicação improdutiva; enquanto que as segundas,
ocorrem reativamente, e consistem nas ações do Mediador, diante de tal
comunicação, com o intuito de transformá-la.

Para cada tipo de conflito, Moore indica algumas possibilidades de


intervenção, sugerindo que, a partir de uma hipótese formulada, sejam
experimentadas, e pelo método de tentativa e erro, verifique- se sua eficácia.

Passaremos, agora, à análise dessas Intervenções sugeridas por


Christopher Moore, e desenvolveremos uma reflexão sobre quais ferramentas
podem se mostrar adequadas no emprego de cada sugestão.

2.1. Conflitos de Dados/Informações

Como estes conflitos são causados por problemas quanto à quantidade


ou qualidade da informação, faz-se necessário um cuidado e investimento na
melhoria da comunicação. E como neste tipo de conflito, frequentemente, as partes
utilizam procedimentos distintos de avaliação de dados, e apresentam pontos de
vista diferentes sobre quais dados devem ser considerados relevantes, é necessário
que se desenvolvam critérios comuns de avaliação de dados, e que se eleja em
conjunto o procedimento pelo qual se fará a reunião destes dados, buscando o
consenso entre os mediandos quanto à importância e relevância dos referidos
23

dados. É possível, também, lançar mão do auxílio de especialistas ou experts como


uma terceira parte, para obter opinião externa ou romper impasses.

Assim como problemas na comunicação, ainda que não constituam a


questão principal, estarão presentes em todo tipo de conflito, a Escuta Ativa é uma
ferramenta cujo uso se fará necessário em qualquer que seja a Mediação. Contudo,
sua utilização torna-se especialmente importante em conflitos deste tipo, que têm
como base justamente a deficiência na comunicação, mostrando-se instrumento
extremamente útil para aprimorá-la.

2.1.1. Escuta Ativa

Segundo o Manual de Mediação Judicial4, esta ferramenta, apresentada


dentre as indicadas como sendo especificamente de Comunicação, e sob o título de
Ouvir As Partes Ativamente, consiste em escutar atentamente e entender o que está
sendo dito por elas, e demonstrar, inclusive de forma não-verbal, sua atenção e
interesse real no que estão dizendo, sem, no entanto, deixar-se influenciar por
pensamentos judicantes ou que contenham juízos de valor. Sua utilização provoca
benefícios em três aspectos distintos:

Em primeiro lugar, no estabelecimento e manutenção do Rapport, pois, ao


perceberem-se ouvidas com atenção, as partes se abrem para a construção de uma
relação de confiança com o Mediador, e com o próprio processo de Mediação,
sentindo-se encorajadas e à vontade, para expor dados e informações relevantes.

Em segundo lugar, somente a partir de uma escuta ativa, o Mediador será


capaz de identificar as questões mais importantes, as emoções, e a dinâmica do
conflito, para que suas intervenções sejam muito mais eficientes e oportunas.
Buscando assim, durante todo o processo, pouco a pouco, expandir a forma como
as partes enxergam o conflito, fazendo com que cada uma delas entenda a outra
parte, e estimulando o poder que elas têm de resolver o conflito de forma autônoma.

4 AZEVEDO, A. G.; et al. Manual de Mediação Judicial 2016. 6ª ed. Brasília: CNJ, 2016. p. 202.
24

Em terceiro e último lugar, está o papel que este ‘ouvir ativamente’ por
parte do Mediador desempenha na construção de atitudes e procedimentos dos
Mediandos, durante toda a Mediação, já que, como afirma o próprio Manual5:

As partes vêm o mediador como uma espécie de modelo de


comunicação, que influencia como elas devem se comportar no
processo de resolução de disputa. Assim, se o Mediador é atencioso,
e busca compreender as partes, isso acaba por propiciar um
ambiente colaborativo das partes entre si. (AZEVEDO, 2016, p. 203).
Ainda sobre a Escuta Ativa, segundo Tânia Almeida 6, no livro Caixa de
Ferramentas em Mediação, temos que esta se apoia em um tripé composto por
Legitimação, Balanceamento e Perguntas, sobretudo as de esclarecimento.

Sendo que estas últimas têm por objetivo gerar informação nova e
propiciar progresso e movimento ao processo de Mediação, ampliando as
informações trazidas pelas partes, por meio de questionamentos.

No que tange ao impacto positivo esperado, causado por tais perguntas


esclarecedoras, a autora afirma que 7:

As perguntas que geram e ampliam informação podem provocar:


1 - sentimento de surpresa em face de novos dados;
2 - percepção de escolha acertada do instrumento de resolução, em
função da pertinência do questionamento;
3 - entendimento mais alargado da situação e do ponto de vista do
outro, por conta da ampliação de dados;
4 - necessidade de rever interpretações e posições, devido às novas
informações geradas.

Diante do resultado obtido pelo emprego desta parte integrante da Escuta


Ativa, pode-se considerar que as Perguntas Esclarecedoras, ao trazerem à tona uma
gama de novos dados e informações, a partir da necessidade de ordenamento
desses elementos, cria a ambiência e aponta para a utilização das ferramentas que
se seguem, para a construção de uma pauta e desenvolvimento da Mediação, quais
sejam: Organização de Questões e Interesses, Resumo, e Audição de Propostas
Implícitas.

5 AZEVEDO, A. G.; et al. op. cit. p. 203.


6 ALMEIDA, Tânia. Caixa de Ferramentas em Mediação: Aportes práticos e teóricos. 1ª ed. São
Paulo: Ed. Dasheditora, 2014. p. 66.
7 ALMEIDA, Tânia. op. cit. p. 67.
25

2.1.2. Organização de Questões e Interesses

O Manual de Mediação Judicial8 faz distinção entre ‘interesses reais’ e


‘interesses aparentes’. Onde os primeiros são os interesses propriamente ditos, e os
últimos, aqueles que gerarão as ‘posições’. Distinção essa já descrita no capítulo
anterior. E sugere, para a devida identificação de um interesse aparente, sua
comparação aos demais interesses reais. Havendo incompatibilidade, pode-se
depreender que se trate de interesse aparente, sendo recomendado que, tão logo
surja essa hipótese de aparência do interesse, seja feito um Resumo, para a
verificação e sua confirmação. O Manual destaca ainda que:

É frequente as partes perderem o foco da disputa, deixando de lado


as questões que efetivamente precisam ser abordadas na Mediação,
para debaterem outros aspectos que as tenham aborrecido. Nesse
contexto, recomenda-se que o Mediador, ao conduzir a sessão,
estabeleça com clareza uma relação entre as questões a serem
debatidas e os interesses reais que as partes têm. Vale ressaltar que
em processos autocompositivos como a Negociação, a mediação e a
Conciliação, a correta identificação de interesses consiste em parte
fundamental do trabalho do Mediador. (AZEVEDO, 2016, p. 239).

2.1.3. Resumo

Segundo Tânia Almeida 9, “resumir consiste em sintetizar o que foi dito –


ao final de cada fala ou após a fala de todos os presentes; de tempos em tempos em
uma reunião ou ao seu término.” E o Manual de Mediação 10 afirma que após a fala
inicial das partes, o Mediador deve perguntar se ainda desejam acrescentar algo, e
em seguida oferecer um resumo de toda a controvérsia apresentada, verificando as
principais questões presentes, como também os interesses subjacentes, juntamente
com as partes. É recomendado que o resumo inicial seja feito após a fala de todas
as partes, para que não se passe a impressão de endosso do que foi dito pela parte
de quem se fez o resumo, o que poderia ser interpretado pelas partes como
imparcialidade por parte do Mediador. O Manual declara que:

Esse resumo conjunto dos discursos das partes – também chamado


de resumo de texto único, por colocar duas perspectivas em uma
única descrição – mostra-se de suma importância, uma vez que dá
um norte ao processo de Mediação e, sobretudo, centraliza a
discussão nos principais aspectos presentes. Para o Mediador, trata-

8 AZEVEDO, A. G.; et al. op. cit. p. 239


9 ALMEIDA, Tânia. op. cit. p. 91.
10AZEVEDO, A. G.; et al. op. cit. p. 178.
26

se de uma efetiva organização do processo, pois se estabelece uma


versão imparcial, neutra e prospectiva [...] dos fatos identificando
quais são as questões a serem debatidas na Mediação e quais são
os reais interesses e necessidades que as partes possuem.
(AZEVEDO, 2016, p. 178).

2.1.4. Audição de Propostas Implícitas

O Manual de Mediação, em sua seção intitulada “Ferramentas para


Provocar Mudanças”, apresenta esta ferramenta, que consiste no trabalho atento e
meticuloso do mediador, em pinçar, em meio a uma comunicação ainda nebulosa e
desordenada, propostas cuja expressão não tenha sido totalmente clara, pois as
partes de uma disputa, em razão de se encontrarem em um estado de ânimo
exaltado, geralmente propõem soluções sem perceber que de fato estão fazendo
isso.

2.2. Conflitos de Relacionamento

Embora a questão principal neste tipo de conflito também seja a


comunicação inadequada ou deficiente, isto se dá em função de emoções fortes, o
que exigirá ênfase na Escuta Ativa, e a partir desta, o uso associado das demais
ferramentas, para o emprego das seguintes intervenções propostas por Moore:
acolher a expressão das emoções, legitimando os sentimentos, e estimulando a
elaboração e o processamento destes, através do Reconhecimento e Validação de
Sentimentos; melhorar a qualidade e a quantidade da comunicação, usando a
Recontextualização; promover a reflexão sobre Percepções equivocadas ou
estereótipos e bloquear comportamento negativo-repetitivo, mudando a estrutura,
por meio de Perguntas Abertas; e incentivar a construção de uma nova visão, a
partir do Enfoque Prospectivo; nas sessões conjuntas, controlar a expressão das
emoções através dos procedimentos, regras básicas e utilizar Sessões Privadas,
ferramenta primordial neste tipo de conflito.

2.2.1. Escuta Ativa

Segundo Tânia Almeida 11, “O legitimar da escuta ativa se dá quando o


mediador recebe o que está sendo trazido pelos mediandos (linguagem verbal e não

11 ALMEIDA, Tânia. op. cit. p. 66.


27

verbal) de maneira (verbal e não verbal) que estes se percebam acolhidos e


validados em seus discursos.”

A Legitimação é o primeiro elemento do tripé apresentado por Tânia


Almeida, que se mostra especialmente necessária neste tipo de conflito, e serve
como base e suporte para o uso da ferramenta seguinte, o Reconhecimento e
Validação de Sentimentos, pois é a partir, ou melhor dizendo, durante a Escuta
Ativa, que se processa a identificação dos sentimentos a serem reconhecidos e
validados.

2.2.2. Reconhecimento e Validação de Sentimentos

O Manual de Mediação12 sustenta que:

Reconhecer e validar sentimentos consiste em uma técnica muito


utilizada durante a mediação, principalmente quando se busca
estabelecer uma relação de confiança com as partes. Consiste em
identificar sentimentos, ainda que as partes não os revelem
explicitamente, reconhecer estes perante as partes e contextualizar o
que cada parte está sentindo em uma perspectiva positiva,
identificando os interesses reais que estimularam o referido
sentimento. (AZEVEDO, 2016, p. 206).

2.2.3. Recontextualização

Ainda segundo o Manual de Mediação 13:

Sempre que for retransmitir às partes uma informação que foi trazida
por elas ao processo, o mediador deve se preocupar em apresentar
estes dados em uma perspectiva nova, mais clara e compreensível,
com enfoque prospectivo, voltado às soluções, filtrando os
componentes negativos que eventualmente possam conter, com o
objetivo de encaixar essa informação no processo de modo
construtivo. O mediador pode, com o resumo objetivo, escolher as
informações que deseja apresentar, descartando aquelas que não
tenham uma participação eficiente ou relevante para a boa resolução
da disputa. (AZEVEDO, 2016, p. 209).

2.2.4. Sessão Privada

Em relação a Sessão Privada, Tânia Almeida 14 afirma que

12 AZEVEDO, A. G.; et al. op. cit. p. 206.


13 AZEVEDO, A. G.; et al. op. cit. p. 209.
14 ALMEIDA, Tânia. op. cit. p. 221.
28

As reuniões privadas ou individuais, também conhecidas pela


expressão caucus, têm por finalidade propiciar um espaço exclusivo
de conversa com um dos mediandos, incluindo ou não sua rede de
pertinência e advogado(s), e atendem a múltiplas finalidades:
possibilitar o acesso aos discursos de cada um, sem a interferência
da presença do outro; provocar reflexões destinadas a solucionar
aparentes impasses; identificar a pauta subjetiva da questão
apresentada.
Os objetivos mencionados podem ser ampliados e incluir, dentre
outros, a oferta de perguntas autoimplicativas e o acolhimento de
emoções que, levadas às entrevistas conjuntas, poderiam contribuir
para a manutenção das barreiras ao diálogo.
[...]
O espaço privado de conversa possibilita aos mediadores uma
abordagem mais direta e aos mediandos uma expressão mais
desprovida de estratégias de defesa e de ataque ao outro. No
espaço privado, mediandos não necessitam se ocupar do que o outro
em dissenso está ouvindo ou que julgamentos está fazendo sobre o
que está presenciando.

2.2.5. Enfoque Prospectivo

Ainda segundo o Manual de Mediação 15:

Ao apresentar às partes uma visão prospectiva da disputa, o


mediador estimula a atuação cooperativa das partes na busca por
uma solução. Enfocar no futuro é uma técnica que pode ser utilizada
com dois objetivos. O primeiro seria aliviar o clima de atribuição de
culpa, deixando de analisar como as questões problemáticas
aconteceram no passado, e passando a analisar como a situação
será resolvida de modo positivo. O segundo seria o de estimular uma
parte a buscar uma solução. (AZEVEDO, 2016, p. 212)

Desenvolvendo esse raciocínio, através de exemplificação, o texto irá


concluir que com um discurso retrospectivo, provavelmente o mediador ouvirá uma
série de justificativas ou atribuições de culpa, enquanto que, por outro lado, de forma
prospectiva, a parte tenderá a buscar soluções e melhorias em procedimentos e
dificilmente se colocará de forma defensiva.

2.3. Conflitos de Interesses

Christopher Moore afirma que neste tipo de conflito, o importante é


concentrar-se nos interesses, e não nas posições. Desenvolver soluções
integradoras, que lidem com as necessidades de todas as partes. Promover
intercâmbios para satisfazer os interesses de forças diferentes. Encontrar critérios

15 AZEVEDO, A. G.; et al. op. cit. p. 212.


29

objetivos e buscar maneiras de expandir opções ou recursos. Para tanto, o primeiro


passo é a Identificação de Interesses.

2.3.1. Identificação de Questões, Interesses e Sentimentos

Essas questões dizem respeito à matéria tratada na mediação, em torno


das quais existem controvérsias entre as partes e o Manual de Mediação conceitua
Interesses e Sentimentos, da seguinte forma:

Os interesses 16 são os aspectos da controvérsia que mais importam


para uma ou para ambas as partes. Juridicamente, os interesses são
qualificados como a razão que existe entre o homem e os bens da
vida. Muitas vezes, os interesses não são demonstrados de forma
absolutamente clara, mas são trazidos à mediação por meio de
posições. (Tema abordado no capítulo anterior)
[...]
Os sentimentos revelam-se a todo instante na mediação, seja por
meio de algo que foi dito ou ainda por gestos, posturas,
comportamentos, expressões faciais ou tom de voz. (Manual
p.207/208)

2.3.2. Despolarização

O mediador deve, sem exercer pressões, procurar demonstrar que, na


maior parte dos casos, os interesses reais das partes são congruentes. Segundo o
Manual de Mediação:

Na mediação deve-se, a todo momento, buscar demonstrar à partes


que ambas estão ligadas pelo interesse da resolução da disputa, e
que a solução partirá delas mesmas. Intuitivamente, o ser humano
tende a polarizar suas relações conflituosas acreditando que para
que um tenha seus interesses atendidos, o outro necessariamente
terá de abrir mão de sua pretensão. Nesse sentido, o mediador deve
ser prestativo e acessível sem exercer pressões para demonstrar
que na maior parte dos casos os interesses reais das partes são
congruentes e que por falhas de comunicação frequentemente as
partes têm a percepção de que os seus interesses são divergentes
ou incompatíveis. (AZEVEDO, 2016, p. 205)

2.3.3. Inversão de Papéis

A inversão de papéis consiste em técnica voltada a estimular a empatia


entre as partes por intermédio de orientação para que cada uma perceba o contexto
também sob a ótica da outra parte. Recomenda-se enfaticamente que esta técnica

16 Tema abordado no capítulo anterior.


30

seja usada prioritariamente em sessões privadas e que ao se aplicar a técnica o


mediador indique i) que se trata de uma técnica de mediação e ii) que esta técnica
também será utilizada com a outra parte.

2.3.4. Geração de Opções

Uma das ferramentas mais eficientes para superação de eventuais


impasses consiste na geração de opções e está muito bem abordada no Manual de
Mediação:

O papel do mediador não é apresentar soluções e sim estimular as


partes para pensarem em novas opções para composição da
disputa. Isso porque espera-se que a mediação tenha um papel
educativo e se a parte aprender a buscar opções sozinha em futuras
controvérsias ela tenderá a, em futuros conflitos, conseguir encontrar
algumas novas soluções. O primeiro passo é a realização de
perguntas que ajudem as partes a pensar em uma solução conjunta.
[...]
Quando as partes estiverem finalmente prontas para discutir
soluções com o mediador, este terá de atentar para não buscar
acelerar e resolver rapidamente as questões (e.g. escolhendo uma
dessas soluções), pois as partes podem tomar tais decisões
sozinhas – se bem estimuladas. Cabe ao mediador tentar canalizar
todo este entusiasmo para a geração de ideias. É importante abrir o
leque de possibilidades.
[...]
Outra ação importante consiste em induzir cada uma das partes a
pensar nos interesses da outra. O mediador pode perguntar a cada
uma delas qual a oferta que poderiam fazer e que julgam que
poderiam ser aceitas pela outra parte. Esta técnica é especialmente
útil quando as ideias que estiverem surgindo girem em torno do que
o “outro” poderia fazer de diferente. O mediador deve também
estimular o maior detalhamento possível das informações acerca do
problema. Perguntas sobre as particularidades da situação podem
fazer o problema parecer menos complicado e levar as pessoas a
pensar as soluções de maneira específica e prática. É de suma
importância que o mediador estimule a criatividade das partes. A
imaginação dos participantes deve ser incentivada, e eles devem ser
estimulados a tentar algo novo, tornando-se menos presos a
perspectivas preestabelecidas. (AZEVEDO, 2016, p. 238-239)

2.4. Conflitos de Valor

Como este tipo de conflito se origina na divergência de valores intrínsecos


às partes, Moore nos alerta a evitar definir o problema em termos de valor, e nos
incentiva a permitir que as partes discordem, nos instando a descobrir em que ponto
concordam, para, a partir daí, criarmos esferas de influência, onde domine um
31

conjunto de valores comum, buscando atingir um objetivo superior compartilhado por


todos.

2.4.1. Normalização

Em regra geral, as partes se sentem constrangidas por estarem em juízo


e, em razão disso, tendem a imputar a culpa em comportamentos ou na
personalidade da outra parte. Porém, sabemos que o conflito é uma característica
natural de qualquer tipo de relação e o mediador deve ter consciência desta questão:

Assim, mostra-se fundamental que o mediador tenha domínio da


sessão a ponto de não permitir que as partes atribuam culpa, nem
que se sintam embaraçadas de se encontrarem em conflito. Para
tanto, mostra-se recomendável que o mediador tenha um discurso
voltado a normalizar o conflito e estimular as partes a perceber tal
conflito como uma oportunidade de melhoria da relação entre elas e
com terceiros. (AZEVEDO, 2016, p. 239).

2.4.2. Interesses Comuns e Complementares

Tratando a respeito de interesses, no tópico ‘Impacto Esperado’, Tânia


Almeida aponta como um dos itens, a possibilidade das partes se darem conta de
que possuem identidade com o outro, no que concerne a temas de comum
predileção, e percebam que a composição de acordos e a construção de consenso
são alcançáveis, o que serve de estímulo a ações cooperativas.

Durante as narrativas o mediador deve ter a atenção voltada para a


identificação de coincidência e complementaridade de interesses,
necessidades e valores dos mediandos, com vistas a explicitá-los e
ressaltá-los.
Essa constatação pode ser oferecida por meio dos resumos, envolta
a uma visão positiva, em um momento que os mediandos estejam
aptos a escutar. (ALMEIDA, 2014, p. 109-110)

2.4.3. Separar as Pessoas do Problema

Este é o primeiro princípio estabelecido no Projeto de Negociação de


Harvard17, ou Negociação Baseada em Princípios. O Manual de Mediação Judicial
discute esta questão:

A técnica de separar as pessoas do problema, como sustentam os


autores Fisher e Ury, sugere que o revide em uma discussão não

17 FISHER, R.; URY, W.; PATTON, B. Como Chegar ao SIM: A negociação de acordos sem
concessões. 2ª Ed. Ed. IMAGO: 2005. Tradução: Vera Ribeiro e Ana Luíza Borges. p. 33-57.
32

encaminhará a questão para uma solução satisfatória para as duas


partes. No entanto, mesmo sabendo disso, muitos encontram
dificuldade em ouvir de forma atenta o debatedor, reconhecendo os
seus sentimentos e estabelecendo uma comunicação ativa que
possa conduzir à colaboração. Isso porque as emoções
frequentemente se misturam com o mérito da negociação. Assim,
antes de presumir que as pessoas envolvidas façam parte do
problema a ser abordado, recomenda-se que os envolvidos
assumam uma postura de “atacar” os méritos da negociação, lado a
lado, e não os negociadores. (AZEVEDO, 2016, p. 74-75)

2.4.4. Fragmentação

Segundo Tânia Almeida 18, logo no início da negociação da pauta objetiva,


com a administração da ordem de entrada dos temas, pode-se alcançar maior
fluidez na construção de consenso:

Como um maestro que direciona a entrada dos instrumentos, visando


a harmonização de suas diferenças e ao melhor resultado melódico,
o mediador pode eleger a ordem de abordagem dos temas que
integram a pauta objetiva, privilegiando os que interessam a todos os
envolvidos e que são menos geradores de tensão. (ALMEIDA, 2014,
p. 115-116).

E o Manual de Mediação, sob o título “Fragmentar questões”, aborda esta


ferramenta da seguinte forma:

Diante de uma controvérsia, as partes têm a tendência de aglutinar


questões, sentimentos e interesses em uma única grande questão,
que lhes parece extremamente complexa e praticamente insolúvel.
Ao fragmentá-las em questões menores, o mediador tira das partes
um grande peso, e as capacita a lidar com as próprias questões.
Depois de separar e reconhecer questões, sentimentos e interesses,
o mediador deve analisar a controvérsia em pequenos blocos,
começando por fatores menos complexos, por interesses comuns e
por sentimentos positivos. (AZEVEDO, 2016, p. 208)

2.5. Conflitos Estruturais

Uma vez que este tipo de conflito é causado por desequilíbrio de


autoridade e poder das partes, recursos desiguais, e ou fatores externos que
impeçam a cooperação, Christopher Moore propõe que, para proporcionar o
reequilíbrio na dinâmica das relações entre as partes, sejam utilizadas as
intervenções seguintes: realocar a posse ou o controle dos recursos; estabelecer
processo de tomada de decisão justo e mutuamente aceitável; mudar o
33

relacionamento físico e ambiental das partes; modificar as pressões externas e as


pressões de tempo; transformar os meios de influência utilizados pelas partes:
menos coerção, mais persuasão.

2.5.1. Detectar o Nível de Autoridade e os Limites de Cada


Negociador

Nos conflitos estruturais, face à presença do desequilíbrio de autoridade e


poder entre as partes, essa ferramenta procedimental é extremamente útil e
necessária, a fim de se verificar o potencial de autonomia e independência dos
mediandos, e, consequentemente, a viabilidade da Mediação e possibilidades de
seu encaminhamento. Assim, o Manual de Mediação preconiza que:

Ainda em relação ao momento de preparação das partes, convém


que o mediador se certifique acerca da autoridade (ou poderes para
transacionar/conciliar) e os limites de cada sujeito envolvido na
negociação. Isso, para que se situem e presumam, mesmo que
precariamente, as chances de se chegar a um acordo em um
primeiro momento ou os repasses de informações que serão
realizados. (AZEVEDO, 2016, p. 85).

2.5.2. Escuta Ativa

Outro elemento do tripé desta ferramenta, apontado por Tânia Almeida, é


o balanceamento, que tem por finalidade conferir equilíbrio na Mediação, entre as
partes, por meio da prática do ‘ouvir atento’ e da atuação do Mediador no controle do
processo:

O exercício da escuta ativa do Mediador assemelha-se à regência de


um maestro diante de uma orquestra – dar vez e voz à cada
instrumento; definir quando farão uma demonstração solo e quando
integrarão o conjunto; articular a expressão dos que têm sons mais
fortes ou graves com os que têm som mais frágil ou agudo; estimular
momentos de expressão tanto quanto de escuta atenta; auxiliar os
que voltam a reintegrar a música a fazê-lo em consonância com a
melodia que antecedeu o seu retorno; intervir de modo que os
instrumentos mantenham-se em diálogo fluído e harmônico.” (TÂNIA,
2014, p. 66-67)

18 ALMEIDA, Tânia. op. cit. p. 109-110.


34

2.5.3. Empoderamento das Partes

Especialmente nos conflitos estruturais, em que o desequilíbrio de poder e


a autoridade entre as partes é notório, essa ferramenta torna-se essencial.

Empoderar uma parte é fazer com que ela adquira consciência das
suas próprias capacidades e qualidades. Isso é útil em dois
momentos do processo de mediação, dentro do próprio processo e
ao seu final. No próprio processo como forma de tornar as partes
cientes do seu poder de negociação e dos seus reais interesses com
relação à disputa em questão. Ao final porque o empoderamento
consiste em fazer com que a parte descubra, a partir das técnicas de
mediação aplicadas no processo, que tem a capacidade ou poder de
administrar seus próprios conflitos. (AZEVEDO, 2016, p. 211).

2.5.4. Teste de Realidade

Segundo o Manual de Mediação:

Em razão de algumas partes estarem emocionalmente envolvidas


com o conflito, estas criam com frequência um “mundo interno” ou
percepção característica decorrente do contexto fático e anímico em
que a parte se encontra.
[...]
O teste de realidade consiste em estimular a parte a proceder com
uma comparação do seu “mundo interno” com o “mundo externo” –
como percebido pelo mediador. Como na técnica de inversão de
papéis, recomenda-se que se avise à parte que o mediador está
aplicando uma técnica de mediação e se aplique prioritariamente em
sessões privadas. (AZEVEDO, 2014, p. 240-241)

Não se pretende aqui, em absoluto, esgotar o elenco de ferramentas a


serem utilizadas numa Mediação. Pelo contrário, muitas seriam as possibilidades de
uso de ferramentas extremamente úteis em qualquer dos tipos de conflito descritos
acima que não foram sequer mencionadas, assim como tantas outras que foram
citadas apenas em um dos tipos, poderiam também serem empregadas com
eficiência em outro ou outros tipos de conflito. No entanto, nosso intento se resumiu,
única e exclusivamente, em estabelecer uma correspondência entre as sugestões de
intervenção propostas por Christopher Moore para tratar os diferentes tipos de
conflito, e os instrumentos utilizados na Mediação. A reduzida lista de ferramentas
apresentadas neste capítulo tão somente exemplifica, como uma expressão
35

concreta, o pensamento e reflexão desenvolvido por Moore, com o intuito de facilitar


o emprego do recurso por ele proposto, a Classificação do Conflito, na prática
cotidiana do Mediador.
36

CAPÍTULO III

DA PRÁTICA

Este capítulo se propõe a relatar a aplicação prática do recurso objeto de


nosso estudo: a Classificação do Conflito segundo Christopher Moore, em um caso
concreto. Com a finalidade de verificar a hipótese do emprego de tal recurso afetar
positivamente o procedimento de mediação, com base na identificação do tipo,
traçaram-se estratégias no tratamento do conflito, e diretrizes no encaminhamento
da Mediação, que ora passo a descrever.

3.1. Primeira Sessão

O processo de Revisão de Alimentos foi encaminhado para o CEJUSC


da Capital, onde atuou no caso uma equipe formada por duas Mediadoras, eu e uma
colega. As partes, ambas assistidas pela Defensoria Pública, chegaram sozinhas.
Foi feito o acolhimento, a Declaração de Abertura, e estabeleceu-se o Rapport. As
partes foram receptivas, aderiram à Mediação, e desde o início assumiram uma
postura colaborativa. Começamos então, pela Escuta Ativa.

Como Ele propusera a ação, teve a palavra primeiro. Em tom moderado,


muito educado, agradeceu a oportunidade e esclareceu o motivo pelo qual havia
ingressado com a ação, sua total impossibilidade de arcar com a determinação
judicial de responsabilizar-se pelo pagamento da escola do filho. Falou pouco sobre
as relações familiares, focando objetivamente nas questões econômico-financeiras.
Foram feitas algumas Perguntas de Esclarecimento e continuamos com a Escuta
Ativa, agora com Ela.

De igual modo, de forma tranquila e polida, Ela esclareceu as


necessidades do filho, explicou a composição do valor depositado para o filho a título
de alimentos (uma parte advinda do pai e outra, oriunda dos avós paternos), afirmou
que, ainda assim, a soma não cobria a mensalidade escolar integralmente, mas,
enfatizou que Ela nunca exigira isso. Também foram feitas algumas Perguntas de
Esclarecimento, e em seguida o Resumo, com o qual ambos declararam estar de
acordo.
37

Solicitamos que aguardassem por alguns minutos lá fora, enquanto


faríamos uma breve reunião de equipe, e, na sequência, duas Sessões Individuais:
primeiro com Ela, e em seguida com Ele.

As narrativas compuseram o seguinte enredo: o ex-casal se separara há


dezesseis anos, quando o filho, hoje com vinte e um, tinha cinco anos de idade. O
rapaz tem síndrome de down, e estuda numa escola especializada, cuja
mensalidade custa dois mil e oitocentos reais, dos quais, Ele e os avós paternos
arcam com mil reais, e o restante da importância é completado pela avó materna e
pela filha mais velha deles. Ela não trabalha para dedicar-se ao filho e Ele é
autônomo. A filha mais velha, hoje formada e independente, quando cursava a
faculdade, teve dificuldade em pagar as mensalidades, em função da falta do
depósito dos alimentos, razão pela qual Ele foi preso. Isso constitui grande
preocupação para Ele, sendo inclusive a motivação que apresenta para ter
ingressado com a ação.

Diante deste quadro, buscamos classificar o conflito. Eu apresentei a


hipótese de tratar-se de um Conflito de Interesses, e minha colega entendeu tratar-
se de um Conflito de Relacionamento.

Eles aparentavam estar relativamente pacificados e apresentavam


interesses bastante objetivamente descritos (Ele – fixar os alimentos em uma
quantia com a qual pudesse arcar, e evitar assim, uma possível nova prisão; Ela –
suprir as necessidades do filho, e oferecer-lhe a melhor qualidade de vida possível),
o que me fez tender, à primeira vista, para o tipo de Conflito de Interesses. Mas a
outra Mediadora ponderou que, a interrupção das relações por tanto tempo, talvez
estivesse velando uma subjetividade maior, e uma gama de emoções, que
aflorariam no decorrer da Mediação, revelando que se tratasse do tipo de Conflito de
Relacionamento.

Assim, concordamos em trabalhar com as duas possibilidades,


caminhando na Mediação com o emprego das ferramentas que se mostrassem úteis
em ambas as hipóteses. Decidimos então, investigar a ‘Realidade’ ou possível
‘Aparência’ dos Interesses primeiramente apresentados, optando por fazermos duas
38

grandes Sessões Privadas, afim de oportunizar a elaboração de emoções e


sentimentos, bem como o surgimento de uma pauta subjetiva.

Durante a Sessão Individual, Ela nos contou que eles não tinham
comunicação alguma há muitos anos, e que desde a separação Ele nunca mais vira
o filho. Mostrou-se magoada pelo afastamento da família dele, e lamentou o fato de,
em todos esses anos, ninguém ter procurado seu filho, nem os avós, e sobretudo a
tia, que inclusive era madrinha do rapaz, sequer através de um telefonema no dia do
aniversário dele, o que o teria deixado contente.

Relatou que o término do casamento se deu em meio a brigas e


discussões, reconheceu que Ele nunca cometera nenhuma agressão e assumiu que
Ela o teria feito. Disse que a raiva que sentia deixou de existir e que se transformara
numa espécie de constrangimento. Informou que ambos moravam no mesmo bairro,
e que, por vezes, se avistavam no meio da rua, ocasião em que Ela tomava outro
rumo, ou mudava de calçada, para evitá-lo, quando, pelo contrário, desejava
cumprimentá-lo civilizadamente, mas não o fazia por receio de não saber como seria
tratada. Expressou o desejo de ter com Ele uma convivência amistosa, e citou o
exemplo de algumas amigas divorciadas que eram capazes de manter um bom
relacionamento com seus ex-maridos, a ponto de saírem com eles e seus filhos para
tomarem um refrigerante.

Narrou que enquanto eram casados viviam bem. Até que uma série de
circunstâncias precipitou o fim do casamento: Ele perdera o emprego numa grande
empresa, e, com isto, também as condições de prover o sustento da casa como
antes. O pai dela falecera, e sua mãe foi morar com eles. A presença da sogra, ao
mesmo tempo que era um auxílio nas despesas, causava um incômodo para Ele. Na
opinião dela, Ele não soube como lidar com a situação. As divergências começaram
entre eles, e as críticas dele à mãe dela. As discussões aumentaram, e Ele deixou
de contribuir completamente para o sustento da casa. As brigas se intensificaram e o
clima ficou insustentável. Sentindo-se pressionada e desrespeitada, entendendo que
teria que fazer uma escolha, como o apartamento em que residiam era dela, pediu a
Ele que partisse. Na percepção dela, Ele atribui à sua mãe o fim do casamento.
39

Quando o filho nasceu, houve por parte dela, muita dificuldade de


aceitação. Teve uma depressão pós-parto, e passou por um longo período de
elaboração, para finalmente aceitá-lo. Afirma que Ele a culpava, por causa da sua
idade, e que passaram momentos difíceis. Reconhece, no entanto, que Ele foi o
primeiro a aceitar o filho, e que a ajudou no processo de aceitação.

Declara seu amor incondicional pelo filho e que, ultrapassada essa fase
inicial, ele se tornara a pessoa mais importante da sua vida, fazendo com que Ela
deixasse de exercer uma atividade laborativa, para dedicar-se exclusivamente a ele,
acompanhando-o nas atividades que desenvolve e que visam seu bem-estar. O
rapaz, além da escola, pratica vôlei e natação. Informa que estas atividades, bem
como o plano de saúde, vestuário e alimentação são custeados por sua mãe, sua
filha, e por ela mesma. Cabendo a Ele e aos avós paternos parte da mensalidade da
escola, que apesar de cara, foi a única que, depois de algumas tentativas frustradas,
apresentou resultados e progresso no desenvolvimento de seu filho.

Reconhecemos e Validamos os Sentimentos dela. A mágoa pelo


afastamento dos sogros e da cunhada. A raiva causada pela percepção das atitudes
dele como desrespeito, injustiça e ingratidão para com sua mãe. O constrangimento
por ter participado de, e até protagonizado, cenas que preferia não viver. O receio e
a insegurança por ignorar as possíveis reações dele diante de uma iniciativa de
aproximação dela. A desvalorização por se perceber culpabilizada pela síndrome do
filho. A frustração por não ter aceitado prontamente o filho. Aqui, usamos também a
Normalização, para ressaltar que as atitudes tomadas na realidade não são as
ideais, e sim as possíveis dentro das circunstâncias, porque a imperfeição e a
falibilidade fazem parte do escopo humano. E complementamos com o Afago,
elogiando sua capacidade de identificar e reconhecer as atitudes positivas do outro,
incentivando que numa sessão conjunta, Ela tomasse a iniciativa de expressar isso
diretamente para Ele, o que seria extremamente produtivo para a Mediação.

Pode-se dizer que o reconhecimento e validação de sentimento mais


efetivo que fizemos foi do afeto dela pelo filho, que atestou a qualidade da nossa
escuta, e conferiu credibilidade ao procedimento de Mediação, porque demonstrou a
existência da comunicação entre nós, consolidando o Rapport e fazendo com que
40

Ela se percebesse compreendida na essência da sua fala, que motivava seus


interesses e até mesmo suas posições.

Dessa sessão individual levamos para a construção da pauta de trabalho,


a partir do comentário dela sobre a boa impressão que lhe causava a relação que
suas amigas mantinham com os pais de seus filhos, o reforço ao item 1, ‘melhoria da
comunicação’, e também o acréscimo do item 2, ‘a convivência’.

Durante a Sessão Individual, Ele nos contou que nos primeiros cinco anos
de vida do filho, como ainda estava trabalhando numa grande empresa e dispunha
de recursos, investira tudo que pudera no desenvolvimento da criança. Fora
informado de que a síndrome de down afetava consideravelmente a parte motora,
sendo necessária uma atenção especial a um trabalho muscular, com fisioterapia e
atividades físicas específicas, e dedicou-se intensamente a isto, para garantir um
bom desenvolvimento para o filho, que se hoje estava bem, e inclusive praticando
esportes com desenvoltura, era graças a este tratamento inicial.

Contou também que, quando o filho nasceu, Ela tivera grande dificuldade
para aceitá-lo, chegando a cogitar em doação, e movimentando-se nesse sentido, e
que Ele tivera a paciência necessária para aguardar o tempo que Ela precisou para
absorver e elaborar a situação, estimulando sua aceitação.

Narrou que perdera seu emprego e com isto, as condições de prover


integralmente o sustento da família, o que deflagrou uma crise matrimonial. Relatou
que, após a morte do sogro, a sogra veio morar com eles, o que agravou a situação.
Declarou que nunca tivera nada contra a presença, nem a própria pessoa da sogra,
e que não a culpava de coisa alguma. Revelou que jamais soubera exatamente o
motivo da separação: um dia, Ela pôs fim ao casamento e pediu que Ele fosse
embora. Ele não procurou entender; como a relação estivesse muito desgastada, em
meio a brigas e discussões, simplesmente foi. Na sua percepção, atribui o término
do casamento à mudança econômico-financeira pela qual passaram.

Declara ter um bom relacionamento com a filha mais velha. Diz que
sempre foi assim, e que continuou sendo por algum tempo depois da separação.
Afirmando que, em dado momento, em razão da pressão feita pela mãe e pela avó
materna, a filha, na época da adolescência, precisou fazer uma opção. Na análise
41

dele, por questões financeiras, ela cedera, e acabara se afastando. Ele


compreendeu e respeitou, e assegura que mesmo à distância, eles ainda se dão
bem.

Contou então, que existe outro processo, referente à filha mais velha, e
que, quando a jovem estava na faculdade, prestes a se formar, Ele, não
conseguindo arcar com os alimentos, deixara de fazer o regular depósito, o que
resultou na sua prisão. Ficou preso por uma semana, e afirma enfaticamente que
esta foi, sem dúvida alguma, a pior experiência da sua vida. Declara que o temor de
passar outra vez por aquela humilhação e sofrimento, motivaou-o a ingressar com a
presente ação, uma vez que a determinação judicial é para que Ele se
responsabilize pelo pagamento da mensalidade da escola do filho, importância que
está sujeita a diversas variáveis, e seu Defensor atual lhe informou que o anterior
não solicitou a inclusão de nenhuma cláusula de barreira.

Informa que, após a perda do emprego, teve um curso de informática, que


infelizmente não subsistiu, e, no momento, dá aulas particulares nesta área e
conserta computadores, o que lhe proporciona uma renda pouco expressiva e
instável. Sua maior preocupação é que, na hipótese de não cumprimento de sua
parte, venha a passar novamente pela traumática experiência que vivera.

Reconhecemos e Validamos os Sentimentos dele. Legitimamos o seu


valor e a satisfação que sentia em ter sido o responsável pela base de saúde e bem-
estar do filho. Acolhemos o seu desejo de ver reconhecido por Ela, o apoio e
companheirismo que Ele lhe ofereceu no período de elaboração da aceitação do
filho. Inclusive declarando para Ele (uma vez que Ela nos havia permitido, quando
indagada sobre a questão da confidencialidade, se havia algo que não devêssemos
comentar com Ele, respondendo que não), que Ela havia mencionado e reconhecido
isso, em sua sessão individual.

Acolhemos sua frustração por não conseguir prover todas as


necessidades de sua família, como desejava e reconhecemos seu esforço para fazê-
lo. Usamos também aqui a Normalização, para, através de Perguntas Abertas,
estimular a reflexão sobre dados estatísticos que expressam a realidade econômica
no país e no mundo, a fim de, Separando As Pessoas do Problema, incentivá-lo a
42

perceber a questão como fruto de contingências circunstanciais, que independem de


empenho e competência, e não como resultado de habilidades ou inabilidades
pessoais.

Valorizamos o êxito na manutenção do relacionamento com a filha mais


velha, e validamos seu afeto por ela. Usamos o Afago, elogiando sua capacidade de
compreensão e respeito, em relação à opção de afastamento por parte da filha,
ressaltando que este exercício é extremamente proveitoso em todas as situações de
conflito, tanto dentro como fora da Mediação.

Reconhecemos e validamos seu receio e seus temores, legitimando-os,


sem, no entanto, reforçá-los. Agradecendo a presença, a adesão, e o empenho na
participação de ambos, apresentando a Mediação como uma oportunidade de
tratamento das questões, e, num Enfoque Prospectivo, todo o procedimento
vivenciado até ali, como um primeiro passo em busca das soluções.

Fizemos uma brevíssima sessão conjunta, apenas para composição da


pauta e marcação da próxima sessão, para daí a quinze dias. Com base nas
questões apresentadas pelos mediandos, a pauta se compôs de três itens:
Comunicação; Convivência; Alimentos. Ambos concordaram em tratar desses
assuntos e se comprometeram a, durante as duas semanas seguintes, refletir sobre
os temas.

Diante da pauta firmada, na reunião de equipe, ao término da primeira


sessão, decidimos Fragmentar, e deixar a pauta objetiva, ou seja, os alimentos, por
último. Optamos por considerar o conflito, a princípio, como sendo de
relacionamento, e enfatizar a pauta subjetiva. Escolhemos desenvolver a
comunicação durante todo o processo, e tratar primeiramente da convivência.

3.2. Segunda Sessão

Na reunião de equipe que antecedeu à segunda sessão, combinamos


fazer uma breve sessão conjunta, apenas para o acolhimento, confirmação da pauta,
esclarecimento da Fragmentação, e obtenção de concordância para tratamento da
questão Convivência. Após o que, faríamos duas rápidas sessões privadas, primeiro
com Ele e depois com Ela, para explorar a receptividade dele ao tema, já que o
43

levantamento da questão havia partido dela, e para confirmarmos com Ela seu real
interesse, a fim de darmos início ao tratamento da questão. E foi o que fizemos.

Eles chegaram tranquilos, menos tensos ainda que na primeira sessão,


bastante receptivos, e aceitaram o encaminhamento da pauta. Partimos então, para
as sessões individuais.

Através de Perguntas Abertas incentivamos que Ele refletisse sobre a


possibilidade de conviver com o filho, pois percebemos que isso sequer era
cogitado, não como resultado de desinteresse, mas como produto da falta de
perspectiva. Diante dessa possibilidade, ao indagarmos objetivamente se havia
interesse de sua parte, Ele assentiu prontamente. Pedimos então, que enquanto
aguardava que conversássemos com Ela, fizesse um exercício criativo a partir de
duas questões: Como Ele gostaria que fosse essa convivência? E como Ele
imaginava que poderia ser?

Confirmamos tratar-se de real interesse dela, a convivência entre pai e


filho, bem como o restabelecimento de uma comunicação efetiva entre Ele e Ela, e
sua disposição para tratarmos estas questões, e pedimos a Ela a mesma coisa, que
refletisse a partir das duas já mencionadas perguntas, sobre a convivência de seu
filho com o pai, enquanto faríamos uma breve reunião de equipe.

Dado o primeiro passo no encaminhamento da pauta subjetiva, em


relação à convivência e à comunicação, qual seja, a expressão de interesse e
disposição de tratar essas questões, resolvemos caminhar em paralelo com a
hipótese do conflito ser de interesses, e avançar com a pauta objetiva, fazendo uma
abordagem, ainda que superficial, a título apenas de coleta de dados, da questão
alimentos. Entretanto, a fim de manter a continuidade da elaboração de emoções e
sentimentos, e a possibilidade de evolução nas outras questões, optamos por fazer
mais duas sessões privadas de duração média, de cerca de vinte minutos com cada
um, antes de uma sessão conjunta final. E retomamos com Ele.

Ao ser indagado sobre a reflexão proposta, assumiu que não tinha ideia
de como seria retomar a convivência com o filho, mas estava preparado para aceitar
o que se apresentasse, e disposto a adaptar-se ao que fosse necessário. E recordou
44

a experiência vivida com o filho, nos primeiros anos, quando era totalmente presente
na vida dele.

Quanto à Ela, declarou não ter dificuldade nenhuma em restabelecer a


comunicação, inclusive prontificando-se a tomar a iniciativa. Reafirmou não ter coisa
alguma contra Ela, e estendeu isso a toda a família, referindo-se tanto à mãe dela
por parte dele, quanto aos seus pais, em relação a Ela.

Durante todo o tempo, seus sentimentos foram reconhecidos e validados,


e neste ponto, afagamos, elogiando sua sensibilidade em perceber em uma sessão
conjunta que tiveram, a mágoa que Ela tinha nesses dois sentidos. Incentivamos
que, numa nova sessão conjunta, Ele dissesse isso diretamente a Ela.

Ao perguntarmos sobre mais algum interesse, Ele apresentou a


preocupação com uma dívida pendente no outro processo. Esclareceu que quando
fora preso, o débito foi parcelado em três vezes, que Ele pagou regiamente. No
entanto, inesperadamente, o débito ressurgira com juros e alcançava um valor
extraordinário para Ele, e nem o seu Defensor estava entendendo, porque a
cobrança se atrelava a uma dívida com a faculdade da filha, que já estava formada
há anos. Ele já havia sido esclarecido pelo Defensor sobre o fato de que, por razões
jurídicas específicas, o referido processo não viria para a Mediação, tendo seu
prosseguimento judicial. Indicamos que seguisse as orientações de seu Defensor,
contudo, decidimos fomentar a abordagem do tema entre eles, mais adiante, porque
percebemos nitidamente que a ausência de comunicação entre Ele e Ela estava
agravando a situação.

Passamos à individual com Ela. Começamos com a mesma indagação


sobre a convivência entre pai e filho, e ela também não sabia descrever muito bem.
Acreditava que tivesse que ser intermediada por Ela, já que o rapaz sabia apenas o
nome do pai. Achava que deveria ser num local público, e que ela precisaria
preparar o filho, já que Ele não estava esperando.

Tanto quanto a Ele, a possibilidade de uma situação hipotética


concretizar-se, a surpreendia. Porém, percebia-se que, talvez, Ela precisasse de um
tempo maior de elaboração.
45

Perguntamos então, sobre a comunicação entre Ele e Ela, se Ela estava


disposta, e se Ele entrasse em contato, relatamos que Ele se propusera a tomar a
iniciativa, se Ela não se sentiria invadida? Se havia algum meio específico de sua
preferência para fazê-lo? Ela respondeu que Ele poderia telefonar ou usar o
WhatsApp.

Por fim, perguntamos se havia mais algum interesse, e Ela se expressou


em relação aos alimentos.

Afirmou que gostaria de trabalhar, que possuía formação em duas


profissões: enfermagem e fonoaudiologia. Mas, como era sozinha, e não contava
com ninguém para dividir a tarefa de levar o filho às atividades, à escola, à natação,
ao vôlei, ao médico, porque sua mãe era uma senhora de quase oitenta anos, e não
podia ajudá-la nesse sentido, pelo contrário, necessitava também de sua
assistência, Ela não podia desenvolver uma atividade laborativa, que lhe pudesse
conferir alguma renda. Assim, não podia prescindir da importância que Ele
depositava, porque o pai dela deixara um pequeno patrimônio, umas casinhas, cujos
aluguéis eram divididos entre Ela e sua mãe. E este era o dinheiro com que elas
sustentavam a casa, e custeavam as despesas do seu filho. Sendo necessário que
sua filha desse uma contribuição para completar a mensalidade da escola.

Reafirmou mais uma vez que nunca pediu que Ele arcasse com o total da
mensalidade, e que se Ele mantivesse os quinhentos reais que pagava,
complementados pelos quase quinhentos que os pais dele depositavam, perfazendo
um pouco menos de mil reais mensais, não era o ideal, mas Ela não iria reclamar,
porque compreendia a dificuldade dele. Porém, embora Ela não confiasse muito
nessa possibilidade, se Ele pudesse contribuir com alguma quantia a mais, para
ajudar a pagar o plano de saúde do filho, que custa duzentos reais, mesmo que não
fosse a integralidade, já seria de grande auxílio.

Seus sentimentos também foram reconhecidos e validados à medida que


iam surgindo, e afagamos, elogiando a sensibilidade e empatia que demonstrou ao
declarar que compreendia a dificuldade dele, e também incentivamos que, numa
sessão conjunta, Ela dissesse isso diretamente a Ele.
46

Informamos que trataríamos da questão alimentos na sessão seguinte,


onde os interesses apresentados por Ela seriam considerados, bem como os dele, e
passamos à sessão conjunta de encerramento.

Fizemos um balanço até ali, resumindo os avanços, agradecendo a


participação e o empenho, elogiando o progresso, e partilhando as observações
positivas que cada um fizera do outro, incentivando-os a expressar algum
comentário diretamente, através de uma dinâmica de perguntas. Propusemos um
desafio de que a comunicação começasse seu exercício na própria sessão, com a
troca de telefones e o estabelecimento de quem ligaria para quem. E eles assim
fizeram: trocaram os telefones e Ele se ofereceu para ligar; Ela aceitou, e
entabularam um breve diálogo combinando conveniências de dias e horários.

Propusemos então, que a próxima sessão ocorresse daí a, em vez de


duas, três semanas, a fim de que houvesse mais tempo, para que exercitassem a
comunicação e, sem pressão nem pressa, respeitando o ritmo de cada um deles e
sobretudo o do filho, desejando e sentindo-se prontos, se encaminhassem em
direção à convivência. Eles concordaram e encerramos a sessão.

Em nossa reunião de equipe, consideramos o desenvolvimento


satisfatório, e decidimos aguardar pelos resultados da experiência na comunicação,
e possibilidade de prática de convivência, para implementarmos maior uso da
sessão conjunta, e ingressarmos na pauta objetiva.

3.3. Terceira Sessão

Conforme o combinado, a partir dos resultados que os mediandos


trouxessem da experiência vivida por eles, no período proposto, privilegiar-se-ia o
uso da sessão conjunta. E na reunião anterior à terceira sessão, confirmou-se essa
intenção. No entanto, corrigimos a rota, tão logo a sessão teve início. Optando por
seguir na direção diametralmente oposta, partimos para sessões individuais, assim
que nos foi possível estabilizar minimamente a situação.

Ambos entraram extremamente tensos. Ele estava apenas sério, mas Ela,
visivelmente contrariada.
47

Após o quebra-gelo, que não funcionou muito bem (Ele tentou reagir
positivamente, mas sem sucesso; e Ela se manteve impassível), começamos
estrategicamente por Ele na sessão conjunta, justamente porque pretendíamos
lançar mão da ferramenta Sessão Privada, rapidamente, começando sua utilização
com Ela.

Indagamos o que acontecera desde a última sessão e Ele lamentou que a


comunicação não tenha prosperado. Disse que trocaram algumas mensagens pelo
WhatsApp, mas que não houve continuidade. Declarou que, no seu entendimento,
Ela desistiu rápido demais, e que Ele gostaria de ter tentado um pouco mais. Afirmou
que, inclusive, Ele entendia que foi dado bastante tempo, justamente para isso e que
se sentia frustrado por não poder insistir. Revelou expectativas, suas e até dos seus
pais, de reverem o neto. E chegou até a pensar que passaria o dia dos pais com o
filho.

Ele foi objetivo e respeitoso. Em momento algum usou tom acusatório,


mas estava notoriamente mobilizado pela situação, e decepcionado. Empregamos
apenas Escuta Ativa e Silêncio, e passamos a Ela.

A expressão e tom de voz dela revelavam sua irritação. Ela expressa o


desejo de encerrar a Mediação e toda a sua indignação, ao mencionar episódios do
passado. Afirma que o mal que Ele fez não será cobrado, porque se a filha
resolvesse cobrar, Ele apodreceria na cadeia. Relata que o filho não quer ver o pai e
declara que respeita a vontade do filho. Assegura que não influencia o filho, e
assume que desacredita do discurso que Ele apresenta.

Fizemos um Resumo, recontextualizando, a fim de apaziguar um pouco


os ânimos, e ao serem indagados sobre a concordância, eles aceitam a Paráfrase.

Notando que Ela está muito absorta em suas próprias percepções, e


presa em seu mundo interior, a colega aplica um Teste de Realidade, para conectá-
la novamente com a situação fática, e reposicioná-la na Mediação. Eu, então,
complemento recordando o nosso papel de Mediadoras, esclarecendo o processo e
recordando o papel dos Mediandos.
48

Solicitamos que aguardem por alguns instantes, para nossa reunião de


equipe, e em seguida teremos as Sessões Individuais, primeiro com Ela, e depois
com Ele.

Para não deixá-la aguardando muito tempo, o que não seria produtivo,
nossa reunião foi abreviada, e aventamos a hipótese da rede de pertinência a estar
influenciando, o que decidimos averiguar.

A Sessão Individual começa enfatizando o caráter transformador da


Mediação, recordando tratar-se de um processo de construção, que compreende a
mudança como parte integrante e inerente ao ser humano. E, diante dessa
Normalização, acenamos com a possibilidade de mudança de caminho ou direção.

Ela inicia sua fala revelando-se muito magoada com a família dele, por
não ter procurado seu filho, todos esses anos.

São feitas diversas Perguntas Abertas, mas Ela mostra-se muito fechada
e resistente. Contudo, as perguntas, alternadamente com períodos de Silêncio,
parecem criar uma oposição a esta resistência, que, de repente, se quebra de uma
só vez. Como se desarrolhasse de supetão, e, águas represadas desaguassem sem
parar...

Começou dizendo que nunca o amou. Contou que sempre amou outro
homem, que fora seu noivo antes de conhecer Ele. Disse que não se casaram
porque a família do rapaz, que tinha muito dinheiro, não quis, já que ela não tinha
tanto dinheiro assim. Afirma que sofreu muito, e, quando estava sozinha, Ele
apareceu. Com medo de ficar pra titia, decidiu casar-se com Ele. E como queria ser
mãe, resolveu ter logo seus dois filhos, porque já estava velha.

O rapaz também se casara, e nunca mais se viram. Até que, há cerca de


seis meses, esse homem a procurou, se reencontraram e estavam juntos agora. Ela
estava muito feliz e não permitiria que nada atrapalhasse sua felicidade.

Empregamos apenas Escuta Ativa.

Ao mesmo tempo que Ela conta esses acontecimentos, afirma que o filho
não quer ver o pai. Que Ela precisa respeitar a vontade do filho. Que, como ele já
49

tem vinte e um anos, a lei não vai obrigá-lo a conviver com o pai. Durante a sua
narrativa, Ela faz círculos, num vai-e-vem constante.

Após seu discurso, faço um afago, elogiando sua sinceridade e coragem,


além de agradecer e valorizar a confiança depositada em nós.

Ela faz reflexões sobre seu próprio comportamento em relação ao filho e


fica confusa quanto a questões jurídicas, e a colega indica que se oriente com seu
Defensor.

Ela afirma que seu companheiro atual supre as necessidades que Ela tem
quanto ao apoio em relação ao filho e questiona o que Ele e sua família podem
oferecer ao seu filho, depois de tanto tempo de ausência.

Empregando o Enfoque Prospectivo, a colega pergunta: De que maneira


a Mediação pode ser encaminhada, de forma satisfatória para Ela?

Ela fecha questão sobre a convivência e abre-se para tratar dos


alimentos, mencionando o plano de saúde.

A colega faz um Resumo e eu auxilio com Perguntas, para checar nosso


entendimento, e Ela concorda com nossa síntese.

Na Sessão Individual com Ele, começamos com a Escuta Ativa.

Ele inicia mostrando-se grato pela oportunidade da Mediação. Lê suas


anotações, feitas enquanto Ela falava, durante a sessão conjunta. Refuta as
alegações dela para justificar a obstrução da convivência entre Ele e o filho, como
por exemplo, Ele não saber o que o rapaz poderia comer. Não considera a
argumentação dela plausível. Queixa-se de ter sido alijado do processo de
tratamento do filho com a psicóloga da escola, que não o chamou, e, na sua visão,
deveria, quando o filho começou a negar-se a fazer atividades referentes à família e
a mãe foi chamada. Não concorda, quando Ela afirma que Ele praticou um mal
contra os filhos, pela sua ausência, ou por Ele não ter conseguido pagar as coisas, e
acha que não merecia ouvir que poderia apodrecer na cadeia, por este motivo.
Sente-se injustiçado e declara ter ficado muito triste com isso.
50

Reconhecemos e validamos seus sentimentos, bem como a necessidade


que sente de defesa, o que, desde o princípio, percebeu na Mediação uma
possibilidade de exercer diretamente.

Usamos a Fragmentação para reajustarmos o foco, com auxílio de


perguntas objetivas, a fim de ampliar a percepção que Ele já tem de que Ela não
apresenta mais interesse ou desistiu da questão da convivência, e incentivá-lo a
concluir explicitamente que, doravante, o caminho possível da Mediação será o foco
financeiro.

Abordamos a questão dos alimentos. Iniciando pelo binômio necessidade


x possibilidade, estimulamos uma reflexão sobre o valor que Ele paga atualmente:
quinhentos reais. E agregamos à reflexão o valor do plano de saúde que Ela pleiteia:
duzentos reais.

Ele demonstra insegurança em aumentar o valor que já paga, e declara


que, devido a sua instabilidade, não se sente seguro nem mesmo para garantir o
valor habitualmente pago.

Fizemos então, um Teste de Realidade, confrontando o acordo vigente e


a determinação judicial de que Ele assuma a integralidade do pagamento da escola.
E complementamos com esclarecimentos sobre a diferença entre as sentenças
determinadas e os acordos construídos.

Concluímos, acrescentando à reflexão, a diferença entre valores


específicos e valores conceituais; índices e possibilidades de indexação para
reajustes. E sugerimos que conversasse com seu Defensor sobre o assunto.

Finalizamos com uma sessão conjunta, onde fizemos novamente um


Resumo, com a finalidade de conferir o aceite dos Mediandos em restringir a pauta
aos alimentos. E sugerimos que ambos buscassem o auxílio de seus Defensores, a
fim de elaborarem cada qual uma proposta, que trariam na sessão seguinte, daí a
duas semanas, para que déssemos início às negociações. Os dois concordaram e
encerramos a sessão.

Na reunião de equipe, procuramos refletir sobre a radical mudança que


Ela tivera e suas possíveis motivações. Mais uma vez aventamos a rede de
51

pertinência e o surgimento de um elemento novo – o atual companheiro dela – foi


uma possibilidade fortemente considerada. Outra hipótese que nos ocorreu é que a
iminência de concretização de uma situação ideal tenha gerado uma reflexão sobre
todas as consequências reais e derivações prováveis que dela poderiam advir.
Funcionando como uma espécie de Teste de Realidade, provocando um confronto
entre o mundo interno e o mundo externo e estabelecendo, a partir dessa
comparação, um contato com os próprios interesses reais, fazendo com que Ela se
reposicionasse na situação e, por conseguinte, na Mediação. Cogitamos ainda a
probabilidade dela não sentir-se preparada para lidar com a grande carga emocional
que veio à tona, depois de tanto tempo represada, preferindo a evitação.

Fossem quais fossem os motivos, estes ou outros quaisquer, Ela se


mostrou inflexível quanto à recusa da permanência da questão da convivência na
pauta.

Ele iniciara a sessão visivelmente frustrado, e era notório o seu interesse


na convivência com o filho, entretanto, esta era uma perspectiva recém vislumbrada,
sendo a questão proposta por Ele, desde o início, a dos alimentos, e constituindo-se
seu interesse primordial estabelecer um valor compatível com sua possibilidade de
pagamento.

Considerando a premissa da voluntariedade na Mediação, só poderíamos


tratar das questões de interesse de ambos. Já que Ela se mostrara irredutível quanto
à exclusão da convivência, mas aceitara tratar dos alimentos, e esta era questão na
qual Ele mantinha seu interesse, decidimos continuar, restringindo-nos à pauta
objetiva. Definimos então, trabalhar com o enquadre Conflito de Interesses, e, a
partir daí, traçar nossas futuras estratégias.

3.4. Quarta e Última Sessão

Na reunião de equipe que antecedeu à sessão, resolvemos manter a


comunicação na pauta, permeando o trabalho com essa questão, ao tratarmos dos
alimentos. Decidimos fazer uma breve sessão conjunta e caminharmos com sessões
individuais curtas, para estimularmos a elaboração das sugestões e buscarmos
reunir as propostas em uma construção única de consenso.
52

Ambos haviam falado com seus respectivos Defensores e estavam


dispostos a tratar da questão dos alimentos. Aparentavam segurança e estavam
novamente receptivos como nas primeira e segunda sessões. Comunicamos que
faríamos sessões privadas a fim de conhecermos as propostas individuais e darmos
início às negociações, e os dois concordaram.

Começamos com Ela. Inicialmente permitindo que falasse, sem fazermos


colocação alguma, para que se sentisse confortável e segura de que nenhum tema
incômodo para Ela seria abordado. Ela recobrara o equilíbrio, estava tranquila e
convicta de que tratar exclusivamente daquilo que a trouxera à Mediação, a questão
financeira, era o melhor para o seu filho. Afirmou que não tinha nada contra Ele e
não queria o seu mal, mas preferia que as coisas continuassem como estavam.
Confirmou a disposição de sua filha em perdoar a dívida do outro processo, que Ela
sabia se tratar de uma preocupação para Ele, revelando que a filha, inclusive
estivera lá fora em todas as sessões, pronta a participar se fosse chamada, para
atestar isso. Declarou que Ela sabia que provavelmente Ele iria dizer que não podia
aumentar o valor do depósito, mas que Ela não poderia receber menos, pois o
dinheiro não faria face às despesas do filho, porém, se Ele mantivesse os
quinhentos reais que depositava, somado ao complemento dos pais dele, Ela
aceitaria, porque entendia que Ele realmente tinha dificuldades e queria que
houvesse paz entre eles.

Nesse ponto, fizemos um Afago, valorizando a empatia que demonstrou


ao ser capaz de entender a situação dele. E investindo na melhoria da comunicação
entre eles, alertamos para a possibilidade dele não estar informado sobre essa
disposição da filha, sugerindo que, na sessão conjunta, Ela comunicasse isso
diretamente a Ele.

Provavelmente, a manutenção dos quinhentos reais seria uma proposta


facilmente aceita por Ele, mas começamos a introduzir a Geração de Opções, e a
colega indagou sobre o plano de saúde, o que fez com que Ela expressasse
novamente sua pretensão de que Ele a ajudasse nesse quesito. Relatou que o plano
custava duzentos reais, mas qualquer quantia que Ele pudesse oferecer seria muito
bem recebida por Ela. Agradecemos sua participação e pedimos que aguardasse
enquanto conversávamos com Ele.
53

A conversa com seu Defensor foi esclarecedora o suficiente para


encorajá-lo a assumir compromisso. Até então, Ele sentia-se inseguro até mesmo
em confirmar a manutenção dos quinhentos reais, em função da instabilidade de sua
atividade profissional. No entanto, a possibilidade do uso de uma porcentagem do
salário mínimo como parâmetro, gerou nele a confiança necessária para abrir-se à
negociação.

Abordamos o assunto do plano de saúde. Informamos que o custo da


mensalidade era de duzentos reais, e que Ela gostaria que Ele a ajudasse nessa
despesa. Indagamos o que Ele acreditava que poderia fazer. Considerou o valor
integral e, como era bom em matemática, concluiu que seria um aumento de
quarenta por cento. Refletiu um pouco e assumiu que, em alguns meses do ano, em
virtude da sazonalidade do seu trabalho, teria dificuldade em arcar com esse valor,
mas estava disposto a aceitar.

Novamente, a aceitação dele em pagar integralmente o plano de saúde


do filho seria uma proposta facilmente aceita por Ela, mas outra vez aplicamos a
Geração de Opções.

Perguntei em quais meses e por que Ele teria dificuldade em depositar os


duzentos reais a mais? E Ele respondeu que, principalmente nos meses de férias, as
pessoas não o procuravam para terem aulas de computação e, por isso, sua renda
caía muito. Os demais meses Ele classificava em bons e médios.

Confirmei sua segurança em arcar com os setecentos reais nos meses


bons, e, para avançar um pouco mais na questão da comunicação, perguntei se, no
caso de ficar estabelecido formalmente os quinhentos reais, e o que excedesse a
isso fosse oferecido de maneira informal, Ele teria dificuldade em comunicar-se
diretamente com Ela, para entrega desse valor. Respondeu que não teria problema
algum em que se estabelecesse uma comunicação entre eles, e que Ele poderia
tomar a iniciativa.

Pedimos então, que enquanto aguardava conversarmos com Ela,


tomando como base os quinhentos reais, e como topo os setecentos,
compreendendo este intervalo, verificasse o valor que seria possível oferecer nos
meses que não fossem bons.
54

Retomamos com Ela. Informamos que foi feita abordagem do plano de


saúde, e que em razão da sazonalidade do trabalho dele, Ele se sentia inseguro de
assumir formalmente compromisso com valor superior aos quinhentos reais.
Também para elaborar a questão da comunicação com Ela, indagamos se Ela se
sentiria incomodada, no caso dele ter a possibilidade de oferecer alguma quantia a
mais, ainda que informalmente, já que Ela acenara com a possível aceitação da
manutenção dos quinhentos reais, se Ele se comunicasse com Ela para a entrega
desse valor? Ela respondeu que se fosse diretamente com Ela, não teria problema,
desde que não envolvesse o filho, estaria tudo bem. Poderia ser pelo interfone ou
pelo telefone. Ela não via nenhum mal nisso.

Constatada a abertura à comunicação de ambas as partes, voltamos a


Ele.

Construímos juntos um gráfico, para melhor compreensão das


possibilidades dele: nos meses de férias (Janeiro, Fevereiro e Julho) Ele manteria os
quinhentos reais; nos meses considerados bons (Março, Abril, Maio, Setembro,
Outubro e Dezembro) depositaria setecentos reais; e nos médios (Junho, Agosto e
Novembro) o depósito seria de seiscentos reais. Além disso, assegurou estar pronto
para firmar tal compromisso formalmente.

Chamou-me a atenção, como indicativo do interesse dele em oferecer o


seu máximo, o fato de dezembro ser considerado um péssimo mês para Ele, mas
ainda assim, porque é o mês do Natal, fazer questão de depositar setecentos reais.

Desta vez, pedimos que enquanto esperava nossa conversa com Ela,
calculasse a relação entre os valores apresentados e a porcentagem do salário
mínimo, para, no caso de chegarem a um consenso, serem incluídos no acordo.

Na individual com Ela, testamos sua receptividade à proposta dele de


variar a quantia do depósito conforme a oscilação da sua renda, e Ela se mostrou
favorável. Decidimos então, que estavam maduros para a sessão conjunta.

Nessa sessão, apenas fomentamos o diálogo, com perguntas e


solicitações, quase como deixas para que falassem um com o outro. Começamos
pedindo a Ele que apresentasse sua proposta a Ela. Ele mostrou o gráfico e
55

esclareceu os pontos. Ela acompanhou tudo atentamente, e ao final da explicação,


declarou sua concordância.

Pedimos então, que Ela comentasse sobre a disposição da filha. Ela


afirmou para Ele que tanto a moça quanto Ela estavam dispostas a declarar que não
havia dívida nenhuma, principalmente com a Faculdade, já que a moça já tinha anos
de formada e que, para isso, Ela e a filha tinham feito um empréstimo em oito vezes,
que também já fora saldado. Ele não sabia disso e declarou que, quando fora preso,
a dívida era essa, e foi parcelada em três vezes, e Ele já pagara toda. Vendeu até o
carro para isso. Informa que foram três depósitos judiciais, e pergunta se Ela não foi
ao Banco do Brasil receber? Ela lembra de ter ido ao Banco do Brasil somente uma
vez... não sabe se foi mais vezes. Ele diz que este dinheiro era especificamente para
pagar a faculdade, e que ela e a filha não precisavam ter passado pelas dificuldades
que Ela descreveu. Ela diz que não foi informada e nem sabe se recebeu e gastou
com outras necessidades dos filhos, porque pensava que era o dinheiro para o
sustento deles, já que não lhe disseram nada sobre ser especificamente para o
pagamento da faculdade, ou se nem o recebeu. Ele aventa a hipótese do dinheiro
estar depositado em juízo até hoje. Os dois ficam perplexos com essa possibilidade.

Mas, a comunicação está fluindo. No princípio, tímida. Cheia de buracos e


silêncio. Porém, aos poucos, vai tomando ritmo, tornando-se encadeada, e
assumindo um tom mais natural.

Os dois acertam de combinar com a filha todas as ações necessárias para


solucionarem a situação do outro processo, e fechamos assim. Passamos à redação
do acordo.

Enquanto a colega vai para o computador para redigir o termo,


permaneço à mesa um pouco mais, apenas como ponto de apoio, para que não se
vejam de repente sozinhos, e não se esvazie o diálogo. Solto uma palavra aqui, uma
sentença ali, um menear de cabeça. Percebendo que o diálogo já se firmou o
suficiente para prescindir da minha presença, sob o pretexto de necessidade de
auxílio, minha colega me chama. Peço licença, retiro-me da mesa e vou juntar-me a
ela. A comunicação continua.
56

De longe, eu os observo. Ele fala mais que Ela. Está preocupado e


interessado em ajudar, e sugere: Vai ver isso no Banco, não deixa de ver não. O
dinheiro pode estar lá. Ela concorda e assegura: Não, não vou deixar não. Eu vou
ver isso.

Continuam dialogando em torno do mesmo assunto. De repente, salta aos


meus ouvidos um pedaço de conversa:

Ela – “... Vai competir com a equipe dele!”


Ele – “É mesmo?! Quando?”
Ela – “Ainda não marcaram a data. Eles estão decidindo.”
Ele – “Quando marcarem você me fala! É uma competição entre
portadores de síndrome de down?”
Ela – “Não. Competição comum. Ele é o único com síndrome de down.”
Ele – “Que bacana! Quando marcarem a data você me fala!”

Aqui se confirma a tese de Christopher Moore de que o Mediador deve


testar as hipóteses. Corrigir a rota e enquadrar este como um Conflito de Interesses
foi, sem dúvida, a decisão mais acertada que tivemos. Mas tê-lo considerado por
algum tempo como um Conflito de Relacionamento, nos permitiu visitar caminhos
que, indubitavelmente, não teríamos percorrido, se viéssemos direto ao ponto, e
assim, ampliar a abrangência do impacto positivo que o procedimento de Mediação
pôde causar na vida e relacionamento dos envolvidos.

A questão dos alimentos foi tratada e os Mediandos alcançaram um


acordo satisfatório para todos.

A comunicação, que antes inexistia, começa a restabelecer-se


gradualmente.

E a convivência saiu da pauta. Decidiu-se que a questão não seria mais


tratada e que se encerraria a discussão sobre o tema. Todavia, o Silêncio, porque
contem dentro de si o tempo necessário para decantar sentimentos e emoções, e
fazer surgir ideias e percepções novas, é uma ferramenta movedora, capaz de
romper impasses e abrir caminhos inesperados.
57

A utilização da Classificação do Conflito funcionou, não apenas como um


mapa estático, mas, em tempos contemporâneos, como se usa um GPS: a todo
tempo atualizando a rota e guiando-nos por novos caminhos, que nos levassem ao
nosso destino final. Esta experiência nos proporcionou, como afirma Moore, pelo
método de tentativa e erro, que fossemos adequando melhor nossas intervenções à
configuração que o conflito apresentava a cada momento, num processo dinâmico e
vivo.
58

IV CONCLUSÃO

No início dessa pesquisa, a questão que se apresentou, e sobre a qual foi


feita uma reflexão, era, tendo como enfoque central a Classificação do Conflito
segundo Christopher Moore, analisar a possível influência de seu emprego no
procedimento de Mediação.

Pretendeu-se, a partir da classificação dos tipos e identificação das


intervenções propostas por Moore para cada tipo de Conflito, estudar quais
ferramentas disponíveis ao Mediador, se mostrariam mais adequadas a estas
intervenções, objetivando estabelecer a relação entre os tipos de conflito e o
procedimento adotado em mediação.

A pesquisa teórica foi fundamentada, prioritariamente, em duas bases


bibliográficas, quais sejam, “O Processo de Mediação” de Christopher Moore e “O
Manual de Mediação de 2016”, do CNJ, apoiando o pensamento defendido por um,
na prática proposta pelo outro. Cruzando dados conceituais e procedimentais e
constatando convergências.

Começando pela identificação do tipo de conflito segundo sua motivação


e origem e a subsequente análise das intervenções sugeridas ao Mediador por
Moore, foi realizado um estudo minucioso das ferramentas elencadas no Manual,
partindo dos efeitos causados por seu uso e apontados na definição de cada
ferramenta, a fim de verificar a correspondência com as intervenções indicadas.

Foi explorada, amplamente, essa correspondência e constatou-se a


complementaridade entre seus elementos, pois, se classificar o conflito tomando
como referência sua causa enfocada na origem, o emprego das ferramentas
objetivava resultados, fechando um ciclo de efetiva atuação.

Desenvolvida a reflexão, para que se pudesse responder ao problema,


confirmando a hipótese formulada de que, ao identificar o tipo de conflito, o mediador
pode optar pela utilização das ferramentas mais adequadas ao seu tratamento,
considerou-se que faltava apenas uma vivência.
59

Assim, foi realizada uma aplicação prática do arcabouço teórico adquirido,


e empregar o recurso objeto de nosso estudo em um caso concreto.

O experimento se deu em parceria com outra Mediadora, o que ampliou


consideravelmente as percepções e possibilidades de intervenção. E revelou-se uma
oportunidade única de comprovar empiricamente o conceito defendido por
Christopher Moore de que o trabalho do Mediador se desenvolve por testagem de
hipóteses, por meio de tentativa e erro.

Foi necessário redirecionar o procedimento algumas vezes, mas o recurso


da Classificação do Conflito funcionou como parâmetro, sinalizando a direção. As
trajetórias percorridas compuseram um conjunto dinâmico e interdependente, que
expressou um processo integral em que até aquelas aparentemente equivocadas, e
que não tiveram continuidade, contribuíram para a expansão de resultados.

A investigação foi concluída, atestando a eficiência do recurso e


ressaltando a relevância do seu uso, para a realização de uma prática mais efetiva e
consciente do Mediador.
60

BIBLIOGRAFIA
ALMEIDA, T. Caixa de Ferramentas em Mediação: Aportes práticos e teóricos. 1ª
ed. São Paulo: Ed. Dasheditora, 2014.

AZEVEDO, A. G.; et al. Manual de Mediação Judicial 2016. 6ª ed. Brasília: CNJ,
2016.

FISHER, R.; URY, W.; PATTON, B. Como Chegar ao Sim: A negociação de


acordos sem concessões. 2ª Ed. Ed. IMAGO: 2005. Tradução: Vera Ribeiro e Ana
Luíza Borges. p. 33-57.

FOLGER, Joseph. Op. cit. PASSANI, A. G., CORRÊA, M. G., BASTOS, S.


Resolução e Conflitos para Representantes de Empresa. 1ª ed. UnB: 2014.

GLASL, F. Mediación, entre exigência y realidad: Um inventario personal. In:


Mediación em Alemania: Mediación Familar y Comercial. Editor Siegfried Rapp.
Redação original: Waltraud Ulshöfer, Dorothee Martins Pinheiro. Tradução: Marion
Hohn Abad. Ed. winwin verlag, 2013. e-Book.

Internet. Pirâmide de Maslow, disponível em:


https://pt.wikipedia.org/wiki/Hierarquia_de_necessidades_de_Maslow, acessado em
18 set. 2018.

MOORE, C. W. O Processo de Mediação: Estratégias Práticas para a Resolução


de Conflitos. Tradução de Magda França Lopes. 2ª ed. Porto Alegre: Ed. ArTmed,
1998.

URY, W. Como Chegar ao Sim com Você Mesmo. Tradução: Afonso Celso da
Cunha, 1ª ed. Rio de Janeiro: Ed. Sextante, 2015.

Você também pode gostar