Você está na página 1de 8

Mediação

Núcleo de Prática Jurídica

Nome: Victor Vinícius Belarmino da Silva;

Matrícula: 0050017921;

Curso: Direito – 7º Período – Turno: Noite;

Instituição: Centro Universitário La Salle – Rio de Janeiro;

Núcleo de Prática Jurídica – Setor: Trabalhista.


Introdução

Amparadas pelo Estado, sob as bases do princípio do acesso à justiça, as pessoas


têm buscado cada vez mais o Judiciário para a resolução de seus problemas. É possível
perceber que, no Brasil, há uma cultura de litigância que cresceu progressivamente ao
longo dos anos e tem se estabelecido em meio ao senso comum, revelando uma ideia do
Judiciário como único meio de resolução de problemas inerentes à vida em sociedade.

De fato, o Judiciário é o principal, mas não o único meio de resolução de


conflitos. A escassez de utilização de meios alternativos aliada ao grande número de
processos têm contribuído significativamente para a sobrecarga da via judicial, o que
torna cada vez mais morosa a prestação da tutela jurisdicional.

O Código de Processo Civil de 2015, no art. 3 e seus parágrafos, trouxe em seus


dispositivos os métodos consensuais, sendo estes fundamentais e igualmente eficazes
para a resolução de conflitos, vejamos:

Art. 3º Não se excluirá da apreciação jurisdicional ameaça ou lesão a


direito.

§ 1º É permitida a arbitragem, na forma da lei.

§ 2º O Estado promoverá, sempre que possível, a solução consensual


dos conflitos.

§ 3º A conciliação, a mediação e outros métodos de solução


consensual de conflitos deverão ser estimulados por juízes,
advogados, defensores públicos e membros do Ministério Público,
inclusive no curso do processo judicial.

Nesse sentido, os métodos de solução consensual de conflitos não devem ser


considerados apenas como “métodos alternativos”, fala-se, no entanto, na busca pela
“solução adequada”; uma vez que ao lado da porta principal, o Judiciário, existem
outras portas; nesta concepção, a justiça se torna, portanto, justiça multiportas.

Nas soluções consensuais, seja através de negociação, conciliação, mediação,


arbitragem, dentre outras; por meio do diálogo entre as partes, há a procura pela quebra
do paradigma de que a “derrota” do outro, significa a “vitória” da parte beneficiada. Por
meio do diálogo e da utilização do meio adequado para a solução do conflito, as partes
podem chegar a caminhos favoráveis para a encerramento da lide, caminhos os quais
ambas as partes alcançam seus interesses. Considerando que a advocacia é uma
atividade-meio e não de resultados, não há garantia de “vitória” para nenhuma das
partes diante do Judiciário. Assim, com os métodos de solução consensual, na prática,
as duas partes podem sair da relação litigiosa beneficiadas, afinal, “50% de algo, é bem
melhor do que 100% de nada”.

Mediante destaque do tema abordado em palestra, o presente trabalho se ocupará


em abordar sobre um dos métodos consensuais mencionados, a mediação e seus
principais modelos implantados no mundo.

Modelo Tradicional Linear de Harvard

A Escola de Harvard de negociação e mediação, ficou identificada como a linha


de pensamento que propõe o enfoque em interesses ao invés de posições, e com a teoria
da negociação baseada em princípios. A rigor, ao se contrastar algum novo “modelo” ao
que se considera o modelo de Harvard, haveria de se criar um conceito fundamental que
preconizasse ideia diferente e oposta a de “enfoque nos interesses ao invés de posições”.

Pode-se afirmar que os “modelos” transformativo e circular-narrativo se apoiam


no fundamento de focar em interesses e em criação de valor, entre outros princípios
fundamentais. Assim, são considerados como desdobramentos dos estudos de sua linha
mestra. Ademais, revela-se interessante ter em conta em que casos é mais conveniente
valer-se de um ou de outro modelo, ou mesmo da mescla de elementos de alguns deles.
Por isso, há quem defenda que o modelo tradicional de Harvard é adequado na
condução de disputas empresariais, enquanto o modelo transformativo é recomendável
em todos os casos em que há grande envolvimento relacional.

Quanto à teoria da negociação de Harvard, adveio de décadas de pesquisas,


estudos experimentais e exemplos de aplicações em casos reais. A teoria oferece
conselhos reais, práticos e prescritivos baseados em pesquisas cuidadosas, aplicações
repetitivas e constante aprimoramento. Em lugar dos ensinamentos desgastados sobre o
estilo negociador competitivo - “perde/ganha”, preocupado em “vencer” a negociação
por meio de intimidação, com a preocupação de captar para si todo o valor disponível na
mesa de negociação -, a teoria apresenta o negociador cooperativo baseado em
princípios, que busca o “ganha-ganha”.
O negociador “ganha-ganha” não é ingênuo e está preparado para lidar com
batalhas de distribuição. Todavia, ele está atento à possibilidade de soluções inovadoras,
criativas, à criação de valor e à manutenção de relacionamentos. Obras como “Getting
to Yes”, “Beyond Winning” e “Negotiation Analysis” cuidam de temas relacionados à
criação de confiança e à comunicação clara, focando em como descobrir os reais
interesses das partes por trás de suas posições de barganha, como “brainstorm” novas
opções de acordo, como lidar com gafes e questões multi-culturais e, principalmente,
como lidar com táticas de “jogo pesado” usado pelos numerosos negociadores
competitivos que infestam o mercado.

Um importante binômio abordado no desenvolvimento da teoria é o que envolve


interesses e posições. Há três elementos básicos presentes em todas as disputas:

1) os interesses em jogo;

2) os padrões relevantes ou regras de direito que servem como guia;

3) a relação de poder entre as partes. Assim, as partes podem escolher focar


sua atenção em uma das três seguintes esferas: (i) reconciliar os interesses que
permeiam a situação; (ii) determinar quem está certo; ou (iii) determinar quem
tem mais poder. Os interesses são as necessidades, os desejos e os medos ligados
à preocupação ou à vontade de alguém; permeiam a “posição”, que compreende
os itens tangíveis que alguém diz querer.

Para William Ury, o problema básico em uma negociação não reside em


posições conflitantes, mas no conflito entre necessidades, desejos, preocupações e
medos das partes. Focar em interesses, segundo o autor, funciona, por duas razões:

1) para cada interesse, existem diversas posições possíveis que podem


muito bem satisfazê-los; e

2) muito frequentemente as pessoas adotam as posições mais óbvias


possíveis. Por isso, quando se atravessa a barreira da posição inicial rumo aos
interesses que motivam as partes, normalmente é possível encontrar uma
alternativa de posição que vai ao encontro dos interesses de ambos os
envolvidos.

Reconciliar interesses, todavia, não é tarefa fácil; ela envolve o aprofundamento


em preocupações enrijecidas e a busca por soluções criativas, assim como trocas e
concessões quando os interesses são opostos. Envolve também lidar com as emoções,
sempre presentes em disputas, com papel crucial.

A melhor forma para reconciliar interesses é a negociação, o ato de comunicar


avançando e retrocedendo com a intenção de alcançar um acordo, por meio de processos
consubstanciados em padrões de comportamento interativos direcionados a resolver
uma disputa. Na mediação, um terceiro assiste as partes de forma a se tornar possível
delinear um acordo. Nem todas as negociações focam em reconciliar interesses. Muitas
vezes, as negociações visam determinar quem está certo - como, por exemplo, nos
corriqueiros casos em que advogados discutem sobre qual dos lados tem maior mérito.

Outras negociações focam em poder - como, por exemplo, quando as partes


trocam ameaças. A teoria de Harvard trata de negociações que objetivam reconciliar
interesses, também denominadas “negociação com princípios” (principled negotiations),
“negociação baseada em interesses” (interested based negotiation) ou “negociação
solução de problemas” (problem-solving negotiation). O enfoque reside no tratamento
da controvérsia pelas partes como um problema mútuo.

Modelo Circular Narrativo de Sara Cobb

Esta corrente decorre do processo criativo da professora americana Sara Cobb,


que em uma de suas obras criticou as concepções tradicionais de empoderamento,
investigando e criticando se realmente sua ocorrência era real; embora pesquisas em
comunidades respondessem positivamente, em sua concepção era questionável o
resultado porque a simples ausência de conflitos na comunidade não indicava a presença
de justiça.

A autora entende a comunicação como um todo em que se situam duas ou mais


pessoas e a mensagem transmitida, incluindo elementos verbais (“comunicação digital”,
ligada ao conteúdo) e elementos para-verbais (corporais e gestuais, dentre outros,
relacionados à “comunicação analógica”, que diz respeito às relações).

Ante a visão de que não há uma única causa produzindo um resultado, concebe
haver uma causalidade do tipo circular que gera uma permanente retroalimentação. Sua
proposta envolve variados elementos e técnicas, já que diretrizes de diversas teorias são
usadas; pode-se considerar que tal concepção foca a desconstrução das narrativas
iniciais da história dos envolvidos; por meio de perguntas circulares (promotoras de
mudança de foco do problema), visa a permitir diferenciadas conotações e
compreensões sobre as ocorrências vivenciadas rumo a construção de uma outra
história.

Nesse cenário, os mediandos podem contar suas histórias sob outra versão e, a
partir de uma diferente perspectiva de os mesmos fatos encontrar, na trajetória narrada,
uma nova visão sobre a realidade preexistente, facilitando a identificação de habilidades
e competências para lidar com momentos difíceis.

Modelo Transformativo de Bush e Folger

Idealizada por Folger, ele observou que as pessoas que traziam o conflito, não
estavam participando, de fato, da mediação; observou-se que as pessoas eram
direcionadas pelo próprio mediador.

Assim, os acordos obtidos nas negociações de método tradicional receberam


muitas críticas, tendo em vista que, o mediador não pode interferir de forma diretiva,
com relação ao caminho que as partes devem construir; as partes devem exercer o
protagonismo. Embora pessoas se obrigassem a certas condutas, não havia alteração da
pauta de interação entre elas.

No âmbito da mediação, o mediador faz intervenções, porém, de forma pontual,


de modo a auxiliar as partes por elas mesmas, a construir suas soluções, estabelecendo e
enxergando suas necessidades, através da relação entre os próprios mediandos.

Para os adeptos desta corrente, as disputas não devem ser vistas como
problemas, mas sim como oportunidades de crescimento moral e transformação para
ambas as partes. Nessa concepção, empoderamento e reconhecimento são os dois mais
relevantes efeitos que a mediação pode gerar e atingi-los é fundamental.

Entende-se, de modo geral, que há empoderamento quando os envolvidos


fortalecem a consciência sobre seu próprio valor e sobre sua habilidade de lidar com
quaisquer dificuldades com que se deparem.

O reconhecimento, no entanto, é alcançado quando as partes em disputa


vivenciam uma ampliada disposição de admitir e ser compreensivo quanto às situações
da outra pessoa. A meta é modificar a relação entre as partes, não importando se é
celebrado ou não um acordo desde que haja “transformação relacional”.
Conclusão

O presente trabalho buscou apresentar o Sistema Multiportas e os seus meios


alternativos à via judicial, para resolução de conflitos de modo a traçar um panorama
básico do sistema judiciário e as novas portas de acesso à justiça, contribuindo para a
celeridade de resolução de uma demanda através dos métodos consensuais, que têm
como maior objetivo, facilitar o diálogo entre as partes e auxiliá-los para a construção
da resolução de conflitos.

Em virtude dos reflexos da crise enfrentada pelo sistema judiciário, os


surgimentos desses meios vieram como forma de estabelecer uma fronteira mais
flexível e acessível contribuindo consideravelmente com a resolução das demandas.

Através dos números encontrados com as pesquisas no Conselho Nacional de


Justiça, observamos que esses institutos muito têm favorecido o acesso à justiça, além
de fornecer um amparo para os cidadãos que possuem dificuldades para acessarem as
informações. Podemos observar que a utilização da mediação e da conciliação por
meios do Sistema Multiportas muito favorecem com o acesso à justiça, proporcionando
uma agilidade, eficácia e celeridade no que tocante as lides do judiciário.

Quando os próprios envolvidos da demanda são os protagonistas da solução, não


há dúvidas que os resultados são melhores, onde o diálogo facilita todo o desencadear a
controvérsia apresentada. Sabemos que esses meios não serão a cura total para as
mazelas, mas a contínua atuação e aprimoramento destes institutos, de forma que estes
sejam desfrutados pelos necessitados, pode continuar a contribuir a eficácia do que
entendemos por Justiça Multiportas.
BIBLIOGRAFIA

FALECK, Diego. TARTUCE, Fernanda. Introdução histórica e modelos de mediação.

DIDIER JR, FREDIE. ZANETI JR, HERMES. Justiça multiportas e tutela


constitucional adequada: autocomposição em direitos coletivos.

TARTUCE, Fernanda. Mediação nos conflitos civis. Editora Método. São Paulo. 2008.

OLIVEIRA, Juliana Campos de. FILHO, Fernando Amarante Barcellos. Sistema


multiportas: a importância da mediação e conciliação como favorecedoras do acesso à
justiça.

Você também pode gostar