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21/06/2019 O primeiro passo para começar a rezar

Ensina-nos a orar

O primeiro passo para começar a rezar


Toda oração é um relacionamento entre a nossa miséria e a misericórdia de
Deus. Rezar não é simplesmente mexer os lábios, mas encontrar-se com
uma Pessoa. Descubra qual o primeiro passo para começar a ter vida de
oração, a partir da lição do Senhor: "Tu, quando orares, entra no teu quarto,
fecha a porta e ora ao teu Pai que está no escondido" (Mt 6, 6).

I. A oração é um encontro...

Após termos considerado a importância e a necessidade da prece cristã, devemo-nos


ocupar agora da prática concreta da oração. Por isso, é preciso saber, em primeiro lugar, de
que maneira convém começar a orar. Antes de mais, porém, deve-se ter presente que a
oração, se feita de modo autêntico, não é senão um encontro, o que supõe, naturalmente,
pelo menos duas presenças: a de quem ora e a de Deus. É isto o que o Senhor nos revela,
pouco depois de haver ensinado o Pai-nosso, ao dizer às multidões que O ouviam ao pé da
montanha: "Tu, quando orares, entra no teu quarto, fecha a porta e ora ao teu Pai que está no
escondido" (Mt 6, 6). Este "orare Patrem in abscondito" consiste, portanto, em falar a Deus no
segredo e na intimidade do nosso coração. Mesmo quando feita em comunidade — em
família ou na igreja —, a verdadeira prece do cristão deve ter sempre essa nota de "solidão
com Deus", ou seja, de encontro íntimo e pessoal com Aquele "a quem falamos ao rezarmos
e a quem ouvimos ao lermos os divinos oráculos" [1]. Esta advertência para a presença de
Deus é tão essencial à nossa oração que os Padres espirituais da Igreja chegavam a insistir
na necessidade de nos lembrarmos dEle com mais frequência do que respiramos (cf. CIC
2697) [2].

II. entre a nossa miséria e a Misericórdia

Disto decorre que, antes mesmo de começarmos a rezar, precisamos encontrar-nos com a
nossa miséria para só então, cientes de nossa indignidade, nos encontrarmos com a
misericórdia de Deus. Santa Teresa d'Ávila refere-se à conveniência deste recolhimento
interior ao escrever às suas monjas que "a primeira coisa a fazer" antes de iniciarmos nossa
oração "é o exame de consciência" [3], quer dizer, a consideração sincera de como nos
achamos física, afetiva e, sobretudo, espiritualmente — nossos pecados, imperfeições,
infidelidades etc. —, pois se fugirmos à verdade sobre nós não poderemos pôr-nos diante
dAquele que é a própria Verdade (cf. Jo 14, 6). Assim, quando nos houvermos recolhido o
suficiente, temos de procurar ter conosco a companhia do Mestre que quer ensinar-nos a
falar-lhe com franqueza e confiança; neste momento, convém fazer algum ato preparatório,
presente nas diversas coletâneas de orações que por aí circulam [4], a fim de avivarmos
nossa fé na presença viva do Senhor. "Representai", conclui Santa Teresa, "que tendes o
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próprio Senhor junto de vós e vede com que amor e humildade Ele vos ensina; e, acreditai-
me, enquanto puderdes, não fiqueis sem tão bom amigo" [5].

III. O recolhimento já é oração

Este recolhimento de que falamos acima já pode, com propriedade, ser chamado oração.
Sem ele, por muito que mexamos os lábios, não poderemos orar verdadeiramente: será, no
máximo, ruído, um chacoalhar de latas, coisa a que de forma nenhuma poderíamos chamar
oração [6]. Isto porque é apenas por meio do recolhimento que o homem se coloca em
situação de relacionar-se de forma genuinamente humana com os demais e, acima de tudo,
com Deus. Pois o recolhimento "confia à oração uma alma unificada", reunida em si mesma
e desperta para o Tu divino. "É, em suma, o estado em que é possível dizer, na expressão das
Sagradas Escrituras: Eis-me aqui!" (cf. 1Sm 3, 4-8) [7]. Por isso, o homem que ora de modo
recolhido pode dizer: "Deus está aqui, e eu também estou" [8]. É a partir desse encontro, feito
no silêncio e no escondido — in abscondito — que passaremos a ter vida de oração, porque o
recolhimento, como dissemos, já é, em si, uma forma de orar, mesmo que ainda não nos
tenhamos dirigido Àquele em cuja presença nos encontramos.

Referências

1. Ambrósio de Milão, De o ciis ministrorum, I, c. 20, 88 (PL 16, 50). V. Concílio Vaticano
II, Constituição Dogmática "Dei Verbum", de 18 nov. 1965, n. 25 (AAS 58 [1966] 829).

2. Cf. Gregório de Nazianzo, Oratio XXVII, 4: "Nec enim tam sæpe spiritum ducere quam
Dei meminisse debemus" (PG 36, 16B).

3. Teresa d'Ávila, Caminho de Perfeição, c. 26, n. 1. In: "Obras Completas". Trad. port. de
Adail U. Sobral et al. 4.ª ed., São Paulo: Edições Carmelitanas; Loyola, 2009, p. 375. (A
paginação das obras de St.ª Teresa será sempre a desta edição.)

4. V. Orações do Cristão. 8.ª ed., São Paulo: Quadrante, 2001, p. 18s: "Meu Senhor e meu
Deus, creio rmemente que estás aqui, que me vês, que me ouves. Adoro-Te com
profunda reverência. Peço-Te perdão dos meus pecados e graça para fazer com fruto
este tempo de oração. Minha Mãe Imaculada, São José, meu Pai e Senhor, meu Anjo
da guarda, intercedei por mim".

5. Teresa d'Ávila, op. cit., loc. cit.

6. Cf. Josemaria Escrivá, Caminho. Trad. port. de Alípio M. de Castro. 9.ª ed., São Paulo:
Quadrante, 1999, n. 85, p. 50.

7. Romano Guardini, Introdução à Oração. Trad. port. de G. Hamrol. Lisboa: Aster, 1961, p.
27.

8. Id., p. 33.

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