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INTRODUÇÃO A BIBLIOLOGIA |1

INTRODUÇÃO
À
BIBLIOLOGIA
A origem da Bíblia e sua história

“Toda a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar,


para redarguir, para corrigir, para instruir em justiça”

2 Timóteo 3:1

Por Thiago Gomes


INTRODUÇÃO A BIBLIOLOGIA |2

O QUE É BIBLIOLOGIA ?

Bibliologia é o estudo sistemático da Bíblia, o livro sagrado do


cristianismo. Também pode ser chamada de teologia bíblica. Ela se
concentra na análise e interpretação dos textos bíblicos, investigando
seu contexto histórico, literário e teológico.

A bibliologia envolve várias disciplinas, como a crítica textual, que


busca estabelecer o texto original da Bíblia através do estudo de
manuscritos antigos; a hermenêutica, que trata da interpretação dos
textos bíblicos; a exegese, que é a análise detalhada de um texto
bíblico em seu contexto original; a teologia bíblica, que busca
compreender as doutrinas e os temas centrais da Bíblia; entre outras.

Os estudiosos da bibliologia buscam entender o significado dos textos


bíblicos em sua época e cultura, levando em consideração a
linguagem, a história, a geografia e as tradições religiosas dos povos
antigos. Eles exploram as várias formas literárias encontradas na
Bíblia, como histórias, poemas, profecias, parábolas, ensinamentos
morais e leis.

A bibliologia é uma área de estudo importante para teólogos,


estudiosos de religião e líderes religiosos, pois auxilia na
compreensão dos fundamentos da fé cristã e na aplicação dos
ensinamentos bíblicos na vida cotidiana. Ela também contribui para a
análise crítica dos textos sagrados, permitindo uma abordagem
acadêmica e reflexiva sobre a Bíblia.

TERMINOLOGIA DA PALAVRA “BIBLIA”

Bíblia é uma palavra que atravessou milênios, com a mesma


pronúncia, vindo do grego

βίβλια, (bíblia), plural de βίβλιον (bíblion), tendo o significado de


rolo, livro, escritos.

Bíblia é o conjunto de livros do Antigo e do Novo Testamento,


considerado como a sagrada escritura, contendo, além da história do
povo judeu, também as doutrinas que orientam o comportamento
dos povos que compõem o cristianismo. A palavra Testamento
(berith, em hebraico) tem o significado de aliança, contrato ou pacto,
acreditando os cristãos que representa a ligação com Deus.
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Esta expressão “Biblia” foi aplicada ás Sagradas Escrituras por João


Crisóstomo, patriarca de

Alexandria.

Tais livros foram reunidos num só volume através de um longo


processo histórico divinamente dirigido: a sua canonização; isto é o
reverente, criterioso, e formal reconhecimento pela a igreja dos
escritos divinamente inspirados do Antigo e do Novo Testamento.

BIBLIA UM PRESENTE DE DEUS

Deus deu muitos sinais e provas de sua existência ao homem, mas


um dos maiores foi sua Palavra escrita. Se houvesse uma escala de
valores, creio que a Bíblia ocuparia o segundo lugar, porque o
primeiro indiscutivelmente já tem dono – o próprio Filho de Deus
encarnado.

Perceba que Deus sempre se relacionou com o homem de muitas


maneiras, e essas experiencias eram passada de pai para filho pela a
tradição falada, no entanto era da vontade de Deus deixar um
registro escrito, e todos os que escreveram os livros da Bíblia assim o
fizeram por inspiração divina embora seus relatos fossem feitos cada
um com sua própria experiencia com Deus, uns a Palavra vinha sobre
ele (Jeremias, Isaias, e Ezequiel) outros registram acontecimentos
históricos, uns recebiam por revelação, outros examinavam de forma
minuciosa o que deveria escrever mas a palavra vinha de uma mesma
fonte “Espirito Santo”.

As escrituras produzem resultados práticos indiscutíveis; tem


influenciado civilizações, transformado vidas e trazido luz, motivação,
conforto a milhões de pessoas. Nelas podemos confiar a orientação
integral de nosso vida e extrair os fundamentos do bem estar e
liberdade humana. O Senhor as estabeleceu como: regra, bussola,
alimento e fonte de bênçãos para a vida do crente.

VERACIDADE BÍBLICA

Quem nunca foi questionado sobre a veracidade da Bíblia? Creio que


todo cristão dedicado a compartilhar sua fé às pessoas algum dia
sofrerá este tipo de questionamento. O que respondemos para
pessoas que têm dúvidas a respeito da autenticidade da palavra de
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Deus? Muitas pessoas em nossos dias questionam se a Bíblia


realmente é a palavra de Deus. Muitos têm dúvidas e acham que ela
traz ideias e pensamentos de homens. Outros não entendem porque
somente a Bíblia e não algum outro livro ‘religioso’ é a palavra de
Deus. Isso provavelmente acontece porque existem muitas pessoas
escrevendo livros “revelados” por Deus e criando religiões em Seu
nome. Muitas pessoas sinceras que estão em busca do único e
verdadeiro Deus podem ficar confusas e em dúvidas em nossos dias,
por causa desta grande quantidade de livros e religiões oferecidas.
Muitos têm questionado: Como você prova que a Bíblia é de fato a
única e infalível palavra revelada de Deus?

Quando olhamos para a própria Bíblia logo encontramos boas


respostas. “Pois toda a Escritura

Sagrada é inspirada por Deus e é útil para ensinar a verdade,


condenar o erro, corrigir as faltas e ensinar a maneira certa de viver”
(2 Timóteo 3:16). Esta é uma ótima resposta, muito clara e direta. O
versículo nos garante que toda a Bíblia é inspirada por Deus e não
uma coletânea de ideias humanas. Foi escrita por homens inspirados
por Deus, em um período de aproximadamente 1500 anos, que vai
de 1400 a. C. até, mais ou menos, 100 d. C.. A própria Bíblia confirma
que é inspirada por Deus.

O Salmo 19: 7 nos mostra que a Bíblia é perfeita: “A lei do Senhor é


perfeita”. Qual livro escrito por homens é perfeito? Nenhum, porém
a Bíblia é perfeita porque é um livro diferente de todos os outros,
inspirado por Deus.

No Salmo 119: 160 lemos que a palavra de Deus é verdadeira e dura


para sempre: “Todas as tuas palavras são verdadeiras; os teus
mandamentos são justos e duram para sempre”. O conteúdo de
livros escritos por pessoas pode até ser questionado quanto à
veracidade. A Bíblia pode ser lida sem esta preocupação, todo o seu
conteúdo é verdadeiro. Também nunca sai de moda, dura para
sempre. Muitos livros de autores consagrados são muito lidos em
determinadas épocas. Porém, depois de algum tempo acabam sendo
esquecidos. Com a Bíblia não acontece isso, ela é o livro mais editado
e lido na história humana. E o melhor, durará para sempre, suas
palavras serão sempre atuais e terão valor eterno.
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Para muitas pessoas, ler os versículos acima será o suficiente para


acreditarem na autenticidade e veracidade da Bíblia. No entanto, há
pessoas que não acreditam na palavra de Deus. Estas logo
respondem que utilizar a própria Bíblia para provar sua veracidade
não as satisfaz porque não acreditam na autenticidade dela. Existem
muitas provas além das passagens bíblicas. Há argumentos
científicos, históricos ou literários que poderiam ser utilizados. No
entanto, para as pessoas que ainda duvidam da veracidade da Bíblia
todas as provas possíveis provavelmente serão inúteis, pois lhes falta
a fé. Neste caso, a melhor e mais eficaz ajuda que podemos oferecer
é orar para que Deus dê fé a estas pessoas. E esperar que o Espírito
Santo as convença disso. A fé é o único caminho para Deus, e sem ela
jamais se pode crer em Deus e em sua Palavra.

COMO AS ESCRITURAS CHEGARAM ATÉ NÓS

A história de como a Bíblia chegou até nós, na forma em que a


conhecemos, é longa e fascinante. Ela começa com os manuscritos
originais, ou “autógrafos”, como são às vezes chamados. Esses textos
originais foram escritos por homens da antigüidade movidos pelo
Espírito Santo (2Tm 3:16; 2Pe 1:20,21).

Durante anos, os céticos declaram que Moisés não poderia ter escrito
a primeira parte da Bíblia porque a escrita era desconhecida na época
(1500 A.C). A ciência da arqueologia provou desde então que a
escrita já era conhecida milhares de anos antes dos dias de Moisés.
Os sumérios já escreviam cerca de 4000 A.C., e os egípcios e
babilônios quase nessa mesma época.

Materiais antigos de escrita

1) – PEDRA Muitas inscrições famosas encontradas no Egito e


Babilônia foram escritas em pedra. Deus deu a Moisés os Dez

Mandamento escritos em tábuas de pedra ( Êx 31:18, 34:1,28). Dois


outros exemplos são a Pedra Moabita ( 850 A.C ) e a Inscrição de
Siloé, encontrada no túnel de Ezequias, junto ao tanque de Siloé (700
A.C).

2) – ARGILA O material de escrita predominante na Assíria e


Babilônia era a argila, preparada em pequenos tabletes e impressa
com símbolos em forma de cunha chamados de escrita cuneiforme, e
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depois assada em um forno ou seca ao sol. Milhares desse tabletes


foram encontrados pelas pás dos arqueólogos.

3 – MADEIRA Tábuas de madeira foram bastante usadas pelos


antigos para escrever. Durante muitos séculos a madeira foi a
superfície comum para escrever entre os gregos. Alguns acreditam
que este tipo de material de escrita é mencionado em Isaías 30:8 e
Habacuque 2:2.

4 – COURO Talmude judeu exigia especificamente que as


Escrituras fossem copiadas sobre peles de animais, sobre couro. É
praticamente certo, então, que o Antigo Testamento foi escrito em
couro. Eram feitos rolos, costurando juntas as peles que mediam de
alguns metros a 30 perpendiculares ao rolo. Os rolos, entre 26 e
70cm de altura, eram enrolados em um ou dois pedaços de pau.

5 – PAPIRO É quase certo que o Novo Testamento foi escrito sobre


papiro, por ser este o material de escrita mais importante na época.
O papiro é feito cortando-se em tiras seções delgadas de cana de
papiro, empapando-as em vários banhos de água, e depois
sobrepondo-as umas às outras para formar folhas. Uma camada de
tiras era colocada por sobre a primeira, e depois as punham numa
prensa, a fim de aderirem uma às outras. As folhas tinham de 15 a 38
cm de altura e 8 a 23 cm de largura. Rolos de qualquer comprimento
eram preparados colocando juntas as folhas . Geralmente mediam
cerca de 10m de comprimento.

6 – VELINO OU PERGAMINHO Velino começou a predominar


mediante os esforços do rei Eumenes ll, de pérgamo (197-158 A.C).

Ele procurou formar sua biblioteca, mas o rei do Egito cortou o seu
suprimento de papiro, sendo-lhe então necessário obter um novo
processo para o tratamento de peles. O resultado é conhecido como
velino ou pergaminho. Embora os termos sejam usados
intercambiavelmente, o velino era preparado originalmente com a
pele de bezerros e antílopes, enquanto o pergaminho era de pele de
ovelhas e cabras. Obtinha-se assim um couro de excelente qualidade,
preparado especial e cuidadosamente para receber escrita de ambos
os lados. Este tipo de material foi utilizado centenas de anos antes de
Cristo e, por volta do século IV A.D., ele suplantou o papiro. Quase
todos os manuscritos conhecidos são em velino.
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DIVISÃO E CLASSIFICAÇÃO

VALOR ESPIRITUAL DAS ESCRITURAS


Os seres humanos tem experimentado o valor da Palavra de Deus em
suas vidas. Pessoas dantes materialistas, céticas, indiferentes,
alienadas e párias da Sociedade, encontraram com a palavra de Deus
foram transformadas, abençoadas, vivificadas (Ef 2.1) e valorizadas.

Podemos ver nas sagradas escrituraras:

• Seu valor como Livro

• Seu valor como Alimento

• Seu valor como Guia

• Seu valor espiritual

UNIDADE SINGULAR

A Bíblia é o livro mais citado, mais traduzido, mais publicado da


história humana, completamente único em sua criação, conteúdo e
exatidão. Ainda que a singularidade da Bíblia não prove
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irrefutavelmente que ela é a revelação de Deus, quando analisamos


de fato a natureza desse livro, concluímos que é preciso ter mais fé
para crer que ele foi simplesmente escrito e compilado por homens
do para que crer que é uma obra de Deus.

Escrita ao longo de um período de 40 gerações por cerca de 1.600


anos, por mais de 40 autores com diferentes estilos de vida, em três
continentes (Ásia, África e Europa) e em três línguas (hebraico,
aramaico e grego), a Bíblia é diferente de qualquer outro livro no
mundo. Ela inclui história, poesia, profecia, direito, parábolas e
pregações, e cobre uma ampla variedade de assuntos (inclusive
centenas de assuntos polêmicos), desde a natureza de Deus até a
origem do homem. Considerando esta diversidade, poderíamos
esperar no mínimo algum tipo conflito ou incoerência no conteúdo e
nos temas apresentados na Bíblia, porém, a Bíblia gira em torno de
uma história épica apresentando um personagem extraordinário.

A Bíblia aborda vários temas e tópicos ao longo de todo o texto com


incrível harmonia e resolução. (Por exemplo, o paraíso perdido do
primeiro livro da Bíblia passa a ser o paraíso reconquistado no último
livro da Bíblia. O acesso à Árvore da Vida, proibido no primeiro livro,
é aberto para sempre no último livro da Bíblia.)

Como os instrumentos numa sinfonia, cada autor da Bíblia é bem


diferente dos outros. Quando se ouve uma orquestra tocando em
perfeita harmonia, naturalmente supomos que ela está sendo
conduzida por um excelente maestro. Por que pensar de outro modo
quando se trata da Bíblia, muito mais complexa em seu conteúdo e
extensão do que qualquer partitura sinfônica?

A MENSAGEM DAS ESCRITURAS

Deus na sua presciência estabeleceu sua palavra, de modo que ela


abrange, o passado, o presente e o futuro.

As necessidades dos homens durante todo o tempo, tem sido as


mesmas durante sua existência na terra. Somente uma palavra atual,
poderia suprir as necessidades humanas.
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Em Hebreus 4.12, diz que a Palavra de Deus “é viva e eficaz”, sua


mensagem, seu poder, se cumpre a cada dia na vida daqueles que a
buscam como verdadeiro refugio em dia de tempestade (Is 32.2).

1. Apresenta Deus como criador e Senhor de tudo.

2. Apresenta sem reserva a verdade e a realidade pecado.

3. Apresenta o plano de salvação para o homem.

4. A Bíblia tem mensagem para os nossos dias.

5. A Bíblia tem esperança para os nossos dias.

6. A Bíblia tem salvação para os nosso dias.

7. Salvação abrange também o futuro.

8. A Bíblia tem santificação para os nossos dias.

A INERRÂNCIA DAS ESCRITURAS

A inerrância significa que tudo que a Bíblia ensina e apresenta é


verdadeiro, podendo incluir aproximações, citações livres, linguagem
figurada e narrativas diferentes do mesmo evento desde que não se
contradigam.
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É claro que essa forma complexa de se transmitir a verdade cria


diversas “aparentes” dificuldades, sem contudo, apresentar erros.
Alguns exemplos são:

a) 1Co 10.8 diz que 23 mil morreram em um só dia e Nm 25.9 afirma


que foram 24 mil, sem incluir a restrição “em um só dia”;

b) Linguagem figurada como “nascer” e “pôr do Sol”. Apesar de não


condizer com o que a ciência já descobriu, sãos expressões corretas
da observação humana e linguagem corriqueira ainda hoje;

c) Mc 10.46-52 e Lc 18.35-43 contam que Jesus curou um cego em


Jericó, enquanto Mt 20.29-34diz que eram dois cegos. Na verdade
havia dois cegos, mas Marcos e Lucas contaram a história de um
deles, Bartimeu.

O entendimento do tipo de linguagem usado e o propósito do autor


devem ser levados em conta. Caso contrário, teremos dificuldades de
conciliar textos como o de Mt 4.4, que diz que o homem deve viver
das palavras que procedem da boca de Deus, em comparação com
2Tm 3.16, que diz que toda a Escritura é inspirada por Deus.

TEORIAS EVANGELICAS DE INERRÂNCIA

Inerrância Limitada. A Bíblia não contêm erros apenas no que diz


respeito aos ensinos doutrinário e salvíficos. Nas áreas de ciência e
história, a Bíblia reflete as limitações culturais humanas.
(Proponentes: Daniel Fuller, Stephen Davis, William LaSor)]

Inerrância Plena. A Bíblia é plenamente verdadeira em tudo que


ensina e declara. Isso envolve questões científicas e históricas, apesar
de a Bíblia não ter propósito primário de apresentar informações
exatas acerca de história e ciências. As aparentes discrepâncias
podem e devem ser harmonizadas. (Proponentes: John Stott, J. I.
Packer, Francis Schaffer, Millard Erckson, R. C. Sproul, Concílio
Internacional sobre a Inerrância Bíblica)

Inerrância de Propósito. A Bíblia é inerrante apenas no sentido de


concretizar o seu propósito inicial de de conduzir as pessoas a uma
comunhão pessoal com Cristo. Neste caso, a Bíblia não é precisa no
relato de fatos ou precisa no que afirma. (Proponentes: James Orr,
Jack Rogers, Donald McKim, G. C. Berkouwer)
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Irrelevância da Inerrância. A inerrância é irrelevante pelas seguintes


razões: (a) A ineerância é um conceito negativo. A nossa concepção
da Escritura deve ser positiva. (b) A inerrância não é um conceito
bíblico. (c) Na Escritura, erro é uma questão espiritual ou moral, e
não intelectual. (d) A inerrância concentra nossa atenção nos
detalhes, e não nas questões essencias das Escrituras. (e) A inerrância
impede uma avaliação honesta das Escrituras. (f) A inerrância produz
desunião na igreja.

O CANON DA BÍBLIA

Sob o nome de Escrituras Sagradas, ou Palavra de Deus escrita,


incluem-se agora todos os livros do Velho e do Novo Testamentos,
todos dados por inspiração de Deus para serem a regra de fé e
prática, que são os seguintes:

O Antigo Testamento: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números,


Deuteronômio, Josué, Juízes, Rute, 1 Samuel, 2 Samuel, 1 Reis, 2 Reis,
1 Crônicas, 2 Crônicas, Esdras, Neemias, Ester, Jó, Salmos, Provérbios,
Eclesiastes, Cantares, Isaías, Jeremias, Lamentações, Ezequiel, Daniel,
Oséias, Joel, Amós, Obadias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuque,
Sofonias, Ageu, Zacarias, Malaquias.

O Novo Testamento: Mateus, Marcos, Lucas, João, Atos, Romanos, 1


Coríntios, 2 Coríntios, Gálatas, Efésios, Filipenses, Colossenses, 1
Tessalonicenses, 2 Tessalonicenses, 1 Timóteo, 2 Timóteo, Tito,
Filemon, Hebreus, Tiago, 1 Pedro, 2 Pedro, 1 João, 2 João, 3 João,
Judas, Apocalipse.

Os livros geralmente chamados Apócrifos, não sendo de inspiração


divina, não fazem parte do Cânon da Escritura; não são, portanto, de
autoridade na Igreja de Deus, nem de modo algum podem ser
aprovados ou empregados senão como escritos humanos (Confissão
de Fé de Westminster, 1:2-3).

O ensino destes parágrafos da Confissão de Fé de Westminster diz


respeito especialmente ao cânon das Escrituras. Nele não são
indicados os critérios empregados. São apenas relacionados os
sessenta e seis livros aceitos como canônicos, ou seja, como
inspirados por Deus, que compõem a Bíblia Protestante. Quanto aos
livros apócrifos, que foram incluídos na Bíblia Católica, são explicita-
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mente considerados não inspirados e, portanto, não autoritativos;


não devendo ser empregados senão como escritos humanos.

A palavra cânon é mera transliteração do termo grego kanwvn, que


significa vara reta, régua, regra. Aplicado às Escrituras, o termo
designa os livros que se conformam à regra da inspiração e
autoridade divinas. Atanásio (séc. IV) parece ter sido o primeiro a
usar a palavra neste sentido.[1] São chamados de canônicos,
portanto, os livros que foram inspirados por Deus, os quais compõem
as Escrituras Sagradas — o cânon bíblico.

Qual o cânon das Escrituras? Quais são os livros canônicos, ou seja,


inspirados? Como se dividem? Há alguma regra pela qual se pôde
averiguar a canonicidade de um livro? Como explicar a diferença
entre os cânones hebraico, católico e protestante? São estas as
perguntas que precisam ser respondidas com relação ao presente
assunto.

O CÂNON PROTESTANTE DO ANTIGO TESTAMENTO

Origem

O cânon protestante do Antigo Testamento (composto pelos trinta e


nove livros relacionados acima) é exatamente igual ao cânon
hebraico massorético. O cânon massorético é a Bíblia hebraica em
sua forma definitiva, vocalizada e acentuada pelos massoretas. A
ordem dos livros, entretanto, segue a da Vulgata e da Septuaginta.

Os Massoretas

Os massoretas eram judeus estudiosos que se dedicavam à tarefa de


guardar a tradição oral (massora) da vocalização e acentuação
correta do texto. À medida que um sistema de vocalização foi sendo
desenvolvido, entre 500 e 950 AD, o texto consonantal que
receberam dos soferim[2] foi sendo por eles cuidadosamente
vocalizado e acentuado. Além dos pontos vocálicos e dos acentos, os
massoretas acrescentavam também ao texto as massoras marginais,
maiores e finais, calculadas pelos soferim. Essas massoras (tradições)
eram estatísticas colocadas ao lado das linhas, ao fim das páginas e
ao final dos livros, indicando quantas vezes uma determinada palavra
aparecia no livro, o número de versículos, palavras e letras. Elas
indicavam até a palavra e letra central do livro.[3]
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O Cânon Massorético

Embora o conteúdo do cânon protestante seja o mesmo do cânon


hebraico, a divisão e a ordem dos livros são diferentes. Eis a divisão e
ordem do cânon hebraico:

O Pentateuco (Torá): Gênesis, Êxodo, Levítico, Números,


Deuteronômio.

Os Profetas (Neviim):

Anteriores: Josué, Juízes, 1 e 2 Samuel, 1 e 2 Reis.

Posteriores: Isaías, Jeremias, Ezequiel e Profetas Menores.

Os Escritos (Kêtuvim):

Poesia e Sabedoria: Salmos, Provérbios e Jó.

Rolos ou Megilloth (lidos no ano litúrgico): Cantares (na páscoa), Rute


(no pentecostes), Lamentações (no quinto mês), Eclesiastes (na festa
dos tabernáculos) e Ester (na festa de purim).

Históricos: Daniel, Esdras, Neemias e 1 e 2 Crônicas.

O Cânon Consonantal

A divisão e ordem dos livros no cânon hebraico consonantal


(anterior) era a mesma. O número de livros, entretanto, era
diferente. O conteúdo era o mesmo, mas agrupado de modo a
formar apenas vinte e quatro livros. Os livros de 1 e 2 Samuel, 1 e 2
Reis e 1 e 2 Crônicas eram unidos, formando apenas um livro cada (o
que implica em três livros a menos em relação ao nosso cânon). Os
doze profetas menores eram agrupados em um só livro (menos onze
livros). Esdras e Neemias formavam um só livro, o Livro de Esdras
(menos um livro).

Testemunhas Antigas do Cânon Protestante Hebraico

A referência mais antiga ao cânon hebraico é do historiador judeu


Josefo (37-95 AC). Em Contra Apionem ele escreve: “Não temos
dezenas de milhares de livros, em desarmonia e conflitos, mas só
vinte e dois, contendo o registro de toda a história, os quais,
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conforme se crê, com justiça, são divinos.”[4] Depois de referir-se aos


cinco livros de Moisés, aos treze livros dos profetas, e aos demais
escritos (os quais “incluem hinos a Deus e conselhos pelos quais os
homens podem pautar suas vidas”), ele continua afirmando:

Desde Artaxerxes (sucessor de Xerxes) até nossos dias, tudo tem sido
registrado, mas não tem sido considerado digno de tanto crédito
quanto aquilo que precedeu a esta época, visto que a sucessão dos
profetas cessou. Mas a fé que depositamos em nossos próprios
escritos é percebida através de nossa conduta; pois, apesar de ter-se
passado tanto tempo, ninguém jamais ousou acrescentar coisa
alguma a eles, nem tirar deles coisa alguma, nem alterar neles
qualquer coisa que seja.[5]

Josefo é suficientemente claro. Como historiador judeu, ele é fonte


fidedigna. Eram apenas vinte e dois os livros do cânon hebraico
agrupados nas três divisões do cânon massorético. E desde a época
de Malaquias (Artaxerxes, 464-424) até a sua época nada se lhe havia
sido acrescentado. Outros livros foram escritos, mas não eram
considerados canônicos, com a autoridade divina dos vinte e dois
livros mencionados.

Além de Josefo, Mileto, Bispo de Sardes, diz ter viajado para o


Oriente, em 170, com o propósito de investigar a ordem e o número
dos livros do Antigo Testamento; Orígenes, o erudito do Egito, que
morreu em 254; Tertuliano (160-250), pai latino contemporâneo de
Orígenes; e Jerônimo (340-420), entre outros, confirmam o cânon
hebraico de vinte e dois ou vinte e quatro livros (dependendo do
agrupamento ou não de Rute e Lamentações).

É interessante observar que o próprio Jerônimo, tradutor da Vulgata


latina, que daria origem ao cânon católico, embora considerasse os
livros apócrifos úteis para a edificação, não os tinha como canônicos.
Embora tendo traduzido outros livros não canônicos, ele escreveu
que “deveriam ser colocados entre os apócrifos,” afirmando que
“não fazem parte do cânon.” Referindo-se ao livro de Sabedoria de
Salomão e ao livro de Eclesiástico, ele diz: “Da mesma maneira pela
qual a igreja lê Judite e Tobias e Macabeus (no culto público), mas
não os recebe entre as Escrituras canônicas, assim também sejam
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estes dois livros úteis para a edificação do povo, mas não para
receber as doutrinas da igreja.”[6]

Vale salientar ainda que a versão siríaca Peshita, que bem pode ter
sido feita no século II ou III,[7] ou até mesmo no século I,[8] nos
manuscritos mais antigos, não contém nenhum dos apócrifos.

O Testemunho de Jesus e dos Apóstolos

Embora as evidências já mencionadas sejam importantes, a principal


testemunha do cânon protestante do Antigo Testamento é o Novo
Testamento. Jesus e os apóstolos não questionaram o cânon
hebraico da época (época de Josefo, convém lembrar). Eles citaram-
no cerca de seiscentas vezes, de modo autoritativo, incluindo
praticamente todos os livros do cânon hebraico. Entretanto, não
citam nenhuma vez os livros apócrifos.[9] Pode-se concluir, portanto,
que Jesus e os apóstolos deram o imprimatur deles ao cânon
hebraico e, conseqüentemente, ao cânon protestante.

O CÂNON CATÓLICO DO ANTIGO TESTAMENTO

Origem

O cânon católico, composto pelos trinta e nove livros encontrados no


cânon protestante, acrescido das adições a Daniel e Ester, e dos livros
de Baruque, Carta de Jeremias, 1-2 Macabeus, Judite, Tobias,
Eclesiástico e Sabedoria — 3 e 4 Esdras e a Oração de Manassés são
acrescentadas depois do NT — origina-se da Vulgata latina, que por
sua vez provém da Septuaginta.

A Septuaginta

A Septuaginta é uma tradução dos livros judaicos para o grego feita,


possivelmente, durante o reinado de Ptolomeu Filadelfo (285-245
a.C.) ou até meados do século I a.C., para a biblioteca de Alexandria,
no Egito.[10] Os tradutores não se limitaram a traduzir os livros
considerados canônicos pelos judeus. Eles traduziram os demais
livros judaicos disponíveis. E, a julgar pelos manuscritos existentes,
deram um arranjo tópico à biblioteca judaica, na seguinte ordem:

Livros da Lei: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio.


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Livros de História: Josué, Juízes, Rute, 1-2 Samuel, 1-2 Reis (chamados
1-2-3-4 reinados), 1-2 Crônicas, 1-2 Esdras (o primeiro apócrifo),
Neemias, Tobias, Judite e Ester.

Livros de Poesia e Sabedoria: Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes,


Cantares, Sabedoria de Salomão, Sabedoria de Siraque (ou
Eclesiástico).

Livros Proféticos: Profetas Menores; Profetas Maiores: Isaías,


Jeremias, Baruque, Lamentações, Epístola de Jeremias, Ezequiel, e
Daniel (incluindo as histórias de Susana, Bel e o Dragão e o cântico
dos Três Varões).

Alguns desses livros foram escritos posteriormente, em grego,


possivelmente por judeus alexandrinos, e foram incluídos na
biblioteca judaica de Alexandria, tais como Primeiro e Segundo
Esdras, adições a Ester, Sabedoria, e a Epístola de Jeremias. Nem
sempre todos estes livros estão presentes nos manuscritos antigos da
Septuaginta. O Códice Vaticano (B) omite Primeiro e Segundo
Macabeus (canônicos para a Igreja Católica) e inclui Primeiro Esdras
(não canônico para a Igreja Católica). O Códice Sináitico (À) omite
Baruque (canônico para Roma), mas inclui o quarto livro dos
Macabeus (não canônico para Roma). O Códice Alexandrino (A) inclui
o Primeiro Livro de Esdras e o Terceiro e Quarto Livros dos Macabeus
(apócrifos para Roma).

O que se pode concluir daí é que, quando a Septuaginta era copiada,


alguns livros não canônicos para os judeus eram também copiados.
Isso poderia ter ocorrido por ignorância quanto aos livros
verdadeiramente canônicos. Pessoas não afeiçoadas ao judaísmo ou
mesmo desinteressadas em distinguir livros canônicos dos não canô-
nicos tinham por igual valor todos os livros, fossem eles original-
mente recebidos como sagrados pelos judeus ou não. Mesmo
aqueles que não tinham os demais livros judaicos como canônicos
certamente também copiavam estes livros, não por considerá-los
sagrados, mas apenas para serem lidos. Por que não copiar livros tão
antigos e interessantes?

Mesmo pessoas bem intencionadas podem ter sido levadas a rejeitar


alguns dos livros canônicos, ou a aceitar como canônicos alguns que
não o fossem, por ignorância ou má interpretação da história do
I N T R O D U Ç Ã O A B I B L I O L O G I A | 17

cânon. Convém lembrar que, embora o testemunho do Espírito Santo


seja a principal regra de canonicidade por parte da igreja como um
todo, mesmo assim, o crente ainda tem uma natureza pecaminosa
que não o livra totalmente de incidir em erro, inclusive quanto ao
assunto da canonicidade. Isto acontece especialmente em épocas de
transição, como foi o caso de Agostinho que defendeu os livros
apócrifos, embora de modo dúbio, e depois o de Lutero, o qual
colocou em dúvida a canonicidade da carta de Tiago.

A Vulgata

Como já foi mencionado, ao traduzir a Vulgata, Jerônimo também


incluiu alguns livros apócrifos. Não o fez, contudo, por considerá-los
canônicos, mas apenas por considerá-los úteis, como fontes de
informação sobre a história do povo judeu.

Na Idade Média a versão francamente usada pela igreja foi a Vulgata


latina. A partir dela e da Septuaginta também foram feitas outras
traduções. Ora, multiplicando-se o erro, e afastando-se cada vez mais
a igreja da verdade (como aconteceu crescentemente nesse período),
tornou-se mais e mais difícil distinguir entre os livros que deveriam
ser considerados canônicos ou não. Esses livros nunca foram
completamente aceitos, mesmo nessa época. Mas, por estarem
incluídos nessas versões, a igreja em época de trevas, geralmente
falando, não teve discernimento espiritual para distinguir entre livros
apócrifos e canônicos.

Por fim, no Concílio de Trento, em 1546, também em reação contra


os protestantes, que reconheceram apenas o cânon hebraico, a igreja
de Roma declarou canônicos os livros apócrifos relacionados acima,
bem como autoritativas as tradições orais: “O Sínodo... recebe e
venera todos os livros, tanto do Antigo como do Novo Testamento...
assim como as tradições orais.” A seguir são relacionados todos os
livros considerados canônicos, incluindo os apócrifos. Concluindo, o
decreto adverte:
I N T R O D U Ç Ã O A B I B L I O L O G I A | 18

Se qualquer pessoa não aceitar como sagrado e canônico os livros


mencionados em todas as suas partes, do modo como eles têm sido
lidos nas igrejas católicas, e como se encontram na antiga Vulgata
latina, e deliberadamente rejeitar as tradições antes mencionadas,
seja anátema.[11]

A igreja grega seguiu mais ou menos os passos da igreja ocidental.


Houve sempre dúvida na aceitação dos apócrifos, mas, no Concílio de
Trulano, em 692, foram todos aceitos (quatorze). Ainda assim, como
sempre houve reservas quanto à plena aceitação de muitos deles, a
igreja grega, em 1672, acabou reduzindo para quatro o número dos
apócrifos aceitos: Sabedoria, Eclesiástico, Tobias e Judite.[12]

Síntese

Por ironia da História, a Vulgata de Jerônimo, o qual não considerava


canônicos os livros apócrifos,[13] veio a ser a principal responsável
pela inclusão destes mesmos livros no cânon católico.

A obra dos reformadores foi maior do que se pode pensar à primeira


vista. Eles não apenas redescobriram as doutrinas básicas do
evangelho, como a doutrina da salvação pela graça mediante a fé.
Eles redescobriram também o cânon. Graças a eles e ao testemunho
do Espírito Santo, a igreja protestante reconhece como canônicos,
com relação ao Antigo Testamento (é claro), os mesmos livros que
Jesus e os apóstolos, e os judeus de um modo geral sempre
reconheceram.

Alguns dos apócrifos são realmente úteis como fontes de informação


a respeito de uma época importante da história do povo de Deus: o
período inter-testamentário. Os protestantes reconhecem o valor
histórico deles. Seguindo a prática dos primeiros cristãos, as edições
modernas protestantes da Septuaginta normalmente incluem os
apócrifos, e até algumas Bíblias protestantes antigas os incluíam, no
final,, apenas como livros históricos.

Mas as igrejas reformadas excluíram totalmente os apócrifos das


suas edições da Bíblia, e, “induziram a Sociedade Bíblica Britânica e
Estrangeira, sob pressão do puritanismo escocês, a declarar que não
editaria Bíblias que tivessem os apócrifos, e de não colaborar com
I N T R O D U Ç Ã O A B I B L I O L O G I A | 19

outras sociedades que incluíssem esses livros em suas edições.”[14]


Melhor assim, tendo em vista o que aconteceu com a Vulgata!
Melhor editá-los separadamente.

O CÂNON DO NOVO TESTAMENTO

Por motivos óbvios, os judeus não aceitam os livros do Novo


Testamento como canônicos. Se não reconheceram a Jesus como o
Messias, não poderiam aceitar os livros do Novo Testamento como
inspirados. Felizmente, entretanto, não precisamos falar de um
cânon protestante e de um cânon católico do NT, visto que todos os
ramos do cristianismo — incluindo a igreja oriental — aceitam
exatamente os mesmos vinte e sete livros, como os temos em nossas
Bíblias.

É claro, entretanto, que não se poderia esperar que todos os vinte e


sete livros do Novo Testamento viessem a ser imediata e
simultaneamente reconhecidos como inspirados, por todas as igrejas,
logo na época em que foram escritos. Algum tempo seria necessário
para que os quatro Evangelhos, o livro de Atos, as epístolas, e o livro
de Apocalipse alcançassem todas as igrejas. Afinal, no final do
primeiro século e no início do segundo a igreja já havia se espalhado
por três continentes: Europa, Ásia e norte da África. Além disso, é
provável que haja um intervalo de quase cinqüenta anos entre a data
em que o primeiro e o último livro do Novo Testamento foram
escritos.[15] Por fim, deve-se considerar ainda que, embora todos os
livros canônicos sejam inspirados, nem todos têm a mesma
importância ou volume. É natural esperar que cartas pequenas como
Judas, e as duas últimas cartas de João, fossem bem menos
mencionadas do que os Evangelhos, Atos, Romanos, etc.

Também é preciso observar que havia outros livros cristãos antigos:


evangelhos, cartas, atos, apocalipses, etc. Alguns desses livros foram
escritos por crentes piedosos do primeiro e segundo séculos, outros
eram indevidamente atribuídos aos apóstolos ou aos seus
contemporâneos. Algum tempo, é claro, seria necessário para que a
igreja, de um modo geral, de posse já de todos os livros canônicos,
bem como de muitos outros não canônicos, viesse a avaliar a autoria,
testemunho externo e interno, e discernir, pela ação do Espírito
Santo, quais livros realmente pertenceriam ao cânon. Isso tudo,
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entretanto, ocorreu de modo surpreendentemente rápido, de


maneira que antes que cem anos se passassem, praticamente todos
os livros do Novo Testamento já eram conhecidos, reunidos,
reverenciados e tidos como autoritativos, conforme atestam as
evidências históricas existentes.

Critérios de Canonicidade dos Livros do Novo Testamento

A principal questão teológica com relação ao cânon do NT diz


respeito ao critério ou critérios que determinaram a canonicidade
dos livros do NT. Por que os vinte e sete livros, e apenas estes,
incluídos em nossas Bíblias são aceitos como canônicos? A resposta a
esta pergunta encontra-se, em última instância, na doutrina da
inspiração. São canônicos os livros que foram inspirados por Deus.
Mas como foi reconhecida a inspiração dos livros do NT? Quais os
critérios que levaram a igreja a aceitar todos os vinte e sete livros, e
apenas estes, como inspirados e conseqüentemente canônicos?

1) O Testemunho Interno do Espírito Santo

O critério essencial é o mesmo que levou ao reconhecimento do


Antigo Testamento: o testemunho interno do Espírito Santo na igreja
como um todo. É certo, como já foi mencionado, que crentes
individuais podem falhar em identificar ou não certos livros como
canônicos — especialmente em épocas de transição, como nos
primeiros séculos da igreja na nova dispensação e durante o período
da Reforma. Não obstante, o testemunho da igreja como corpo (não
como instituição ou indivíduos isoladamente) é o principal critério de
verificação da canonicidade das Escrituras.

Isso não significa dizer, entretanto, que seja a igreja quem tenha
determinado o cânon. Quem determinou o cânon foi o Espírito Santo
que o inspirou. A igreja apenas o reconheceu, o discerniu, pela
iluminação do próprio Espírito Santo, que habita nos seus membros
individuais. William Whitaker, professor de Teologia na Universidade
de Cambridge, no livro Disputation on Holy Scripture, publicado em
1588, e freqüentemente citado na Assembléia de Westminster,
resume o papel da igreja como corpo e dos crentes individuais com
relação ao reconhecimento do cânon, com as seguintes palavras: “...a
autoridade da igreja pode, a princípio mover-nos a reconhecermos as
Escrituras: mas depois, quando nós mesmos lemos as Escrituras, e as
I N T R O D U Ç Ã O A B I B L I O L O G I A | 21

compreendemos, concebemos uma fé verdadeira...”[16] — isto é,


somos convencidos pelo Espírito da sua veracidade e identidade.

As evidências históricas deste reconhecimento do cânon do Novo


Testamento pela igreja são abundantes.

Logo no final do primeiro século e início do segundo (até 120 d.C.),


boa parte dos livros do Novo Testamento já era conhecida, citada e
até reverenciada como autoritativa pelos primeiros escritos cristãos
que chegaram até nós. É o caso da Carta de Clemente de Roma aos
Coríntios, escrita por volta do ano 95; das cartas de Inácio de Antio-
quia da Síria, bispo que morreu martirizado em Roma entre 98 e 117;
da Epístola aos Filipenses, de Policarpo, discípulo de João que morreu
martirizado, escrita pouco antes do martírio de Inácio; etc. Apenas a
segunda e terceira Carta de João e a carta de Judas não são
mencionadas nestes escritos mais antigos; obviamente por falta de
oportunidade, visto serem muito pequenas.

Na metade do segundo e no terceiro século, quando já há mais


abundância de escritos, preservados,[17] todos os livros do NT são
citados, e todos, de modo geral, reconhecidos como autoritativos,
embora a canonicidade de alguns livros seja colocada em dúvida ou
rejeitada por um ou outro autor antigo. Orígenes de Alexandria (185-
250) e Eusébio de Cesaréia (265-340), seguindo Orígenes, por exem-
plo, parecem lançar dúvidas sobre Hebreus, 2 Pedro, 2 e 3 João, Tiago
e Judas. Neste período, o assunto da canonicidade dos livros foi
debatido e defendido, tendo em vista as posições heréticas, como as
de Marcião e outros representantes do gnosticismo. Em 367,
Atanásio apresenta uma lista dos livros canônicos do Novo
Testamento, incluindo todos os vinte e sete livros, e apenas estes.
Finalmente, em 397, no Concílio de Cartago, a igreja reconheceu
oficialmente todos os vinte e sete livros, e só estes, como canônicos.
Esta decisão foi ratificada pelo Concílio de Hipona, em 419.

2) Origem Apostólica

Pelo lado humano, a origem apostólica foi, sem dúvida, o critério


mais importante considerado pela igreja, para o reconhecimento da
canonicidade do Novo Testamento. Assim como os profetas (no
sentido lato) do Antigo Testamento eram a voz autorizada de Deus
para o povo — e de algum modo, todos os livros do AT têm origem
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profética — assim também a origem apostólica autenticava um livro


como autoritativo, e conseqüentemente canônico. Os apóstolos eram
as testemunhas autorizadas escolhidas por Jesus, como dirigentes da
igreja que surgia. Para os pais da igreja este era o critério mais
importante. Fosse possível provar que um determinado livro era de
origem apostólica, isso seria suficiente para ser reconhecido como
canônico. Por outro lado, havendo dúvida quanto à origem apostólica
fatalmente haveria relutância — como realmente houve — na
aceitação da canonicidade de um livro.

O fato é que todos os livros aceitos como canônicos eram de autoria


apostólica, ou tidos como de origem apostólica. Mesmo Marcos está
ligado a Pedro (foi até chamado de Evangelho de Pedro), Lucas e Atos
provinham da autoridade de Paulo; e Hebreus era também
considerado de Paulo; Tiago e Judas, dos apóstolos que tinham esse
nome.

3) O Conteúdo dos Livros

O conteúdo dos livros também foi sempre um critério importante no


reconhecimento da canonicidade dos livros do NT. Livro algum, em
desacordo com o padrão doutrinário e moral, ensinado por Jesus e os
apóstolos, seria recebido como autoritativo. Foi assim que muitos
escritos heréticos foram repudiados pela igreja. Foi com base nesta
regra, também, que muitos livros apócrifos foram rejeitados, visto
que em franco desacordo com o caráter, simplicidade, doutrinas e
ética dos livros canônicos.

4) As Evidências Internas do NT

Embora os critérios acima tenham sido decisivos, as evidências


internas do próprio NT, quanto à inspiração e autoridade de alguns
desses livros, revestem-se de especial importância. É claro que não se
deve esperar encontrar uma lista completa do cânon do Novo
Testamento dentro do próprio Novo Testamento. Não é assim que
Deus age. O lado humano da revelação (o instrumento) não é
eclipsado pelo divino — não é assim na inspiração (as Escrituras não
são pneumagrafadas), não é assim na preservação (as Escrituras não
são pneumapreservadas), e também não é assim no cânon (as
Escrituras não são pneumacanonizadas). O elemento fé permeia toda
a Bíblia, e “a fé é a convicção de fatos que se não vêem”(Hb 11:1).
I N T R O D U Ç Ã O A B I B L I O L O G I A | 23

Isto, entretanto, não significa de modo algum que os autores dos


livros do Novo Testamento e seus primeiros leitores não tivessem
consciência da inspiração desses livros. Alguns assim afirmam
dizendo que, de início, as cartas e Evangelhos foram escritos e
recebidos como cartas e livros comuns, sem pretensão de inspiração
ou canonicidade, por parte dos autores e leitores. Contudo tal
afirmação não corresponde aos fatos. Há, no prório Novo
Testamento, evidências claras da inspiração, autoridade e
conseqüente canonicidade desses livros. O apóstolo Paulo não
escreve como alguém que aconselha, exorta ou ensina de si mesmo,
mas com autoridade divina, extraordinária. De onde provém a
autoridade de Paulo, ao exortar os Gálatas (1:8), dizendo: “...ainda
que nós, ou mesmo um anjo vindo do céu vos pregue evangelho que
vá além do que vos tenho pregado, seja anátema”? Ele explica logo a
seguir, quando afirma: “...o evangelho por mim anunciado não é
segundo o homem; porque eu não o recebi, nem o aprendi de
homem algum, mas mediante revelação de Jesus Cristo” (Gl 1:11,12).

Que os livros do NT não tinham caráter meramente circunstancial,


específico e momentâneo é evidente nas exortações no sentido de
que fossem lidos publicamente (o que só se fazia com as Escrituras),
e em outras igrejas (1 Ts 5:27; Cl 4:16). Paulo afirma que os tessaloni-
censes receberam as suas palavras como palavra de Deus; e ele
confirma que realmente são:

Outra razão ainda temos nós para incessantemente dar graças a


Deus: é que, tendo vós recebido a palavra que de nós ouvistes, que é
de Deus, acolhestes não como palavra de homem, e sim, como, em
verdade é, a palavra de Deus, a qual, com efeito, está operando
eficazmente em vós, os que credes (1 Ts 2:13).

O apóstolo Pedro também coloca os escritos de Paulo em pé de


igualdade com as Escrituras, reconhecendo autoridade igual à do
Antigo Testamento:

...e tende por salvação a longanimidade de nosso Senhor, como


igualmente o nosso amado irmão Paulo vos escreveu, segundo a
sabedoria que lhe foi dada, ao falar acerca destes assuntos, como de
fato costuma fazer em todas as suas epístolas, nas quais há certas
coisas difíceis de entender, que os ignorantes e instáveis deturpam,
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como também deturpam as demais Escrituras, para a própria


destruição deles (2 Pe 3:15-16).

Em 1 Timóteo 5:18, o texto de Lucas 10:7 é chamado de Escritura,


juntamente com Deuteronômio 25:4: “Pois a Escritura declara: Não
amordaces o boi, quando pisa o grão (Dt 25:4). E ainda: O
trabalhador é digno do seu salário” (Lc 10:7).

Os Livros Disputados

Como já mencionado, alguns pais da igreja tiveram dúvidas quanto à


canonicidade de alguns livros do NT. Enquanto a maioria dos livros
praticamente nunca tiveram a sua canonicidade disputada pela
igreja, outros sofreram alguma resistência, embora parcial, para
serem aceitos como canônicos. Os principais foram: Hebreus, Tiago, 2
Pedro, 2 e 3 João, Judas e Apocalipse.

Entretanto, não é difícil compreender as razões desta relutância, pois


cada um desses livros apresenta uma ou outra característica que, de
certo modo, justificava o zelo por parte da igreja em averiguar mais
cuidadosamente a canonicidade deles. Afinal, haviam outros livros
cristãos, de conteúdo fiel e ortodoxo, que poderiam ser confundidos,
se não houvesse discernimento por parte da igreja; a exemplo do que
aconteceu com os apócrifos do Antigo Testamento, pela Igreja
Católica.

Não é muito difícil compreender os motivos que levaram os referidos


livros a terem sua canonicidade disputada. No caso de Hebreus, o
problema estava na autoria e estilo. A tradição dizia ser de Paulo,
mas não há o nome do autor, como é costume de Paulo. O estilo
também não é exatamente o mesmo, embora haja muita
semelhança. Com relação a Tiago, a aparente discrepância
doutrinária com as demais cartas e a possibilidade de haver sido
escrita por outro Tiago certamente dificultaram o reconhecimento da
sua canonicidade. A segunda carta de Pedro, além de, por razões
desconhecidas, provavelmente haver tido circulação limitada,
apresenta alguma diferença de vocabulário e estilo, o que, segundo
Jerônimo, foi a causa de alguns pais duvidarem da genuinidade da
epístola.[18] Quanto a Judas e 2 e 3 João, o próprio tamanho,
importância relativamente menor, e a natureza mais pessoal das
duas últimas, certamente dificultaram a circulação e reconhecimento
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delas no cânon — no caso de Judas, a questão da origem apostólica


também pesou. Já o livro de Apocalipse, o qual teve aceitação
generalizada no segundo século, teve sua canonicidade
posteriormente disputada, provavelmente pela dúvida lançada por
Dionísio de Alexandria, seguido por Eusébio de Cesaréia, quanto à
origem apostólica do livro, devido ao que consideravam diferenças
de estilo entre ele e o Evangelho de João; o que o levou a atribuir o
livro a um outro João.

É claro que estas dificuldades são todas aparentes. Estilo não pode
ser determinante, pois a natureza do assunto pode acarretar
mudança de estilo. Além disso era comum o uso de amanuenses.
Tamanho “também não é documento;” e assuntos relativamente
menos importantes tornam-se importantíssimos em determinadas
circunstâncias — a História da Igreja tem comprovado isso. Quantas
vezes as cartas de Judas, 2 e 3 João têm sido de valor inestimável
para pessoas e igrejas específicas! A “discrepância” doutrinária de
Tiago já tem sido suficientemente explicada: é apenas aparente. A
relutância por parte de alguns, no terceiro ou quarto séculos em
reconhecer a canonicidade desses livros não deve de modo algum ser
encarada como necessariamente depreciativa. Pelo contrário, por
mais que tenham sido submetidos a teste, até pelos reformadores,
esses livros foram aprovados pela História, e encontraram lugar
seguro e imbatível no cânon do Novo Testamento.

Síntese

Sejam quais forem os critérios que mais influenciaram os pais da


igreja no reconhecimento dos livros do Novo Testamento, e apesar
da relutância de alguns em aceitar todos os vinte e sete livros, e não
obstante o grande número de livros apócrifos que surgiram nos
primeiros séculos, o verdadeiro cânon teria que prevalecer. E
prevaleceu. Inspirados que eram, tinham poder espiritual inerente. E
este poder manifestou-se de tal modo que todos os ramos do
cristianismo alcançaram unanimidade espantosa, de modo que desde
pelo menos Atanásio, o primeiro a apresentar uma lista completa do
cânon do NT, até nossos dias, não tem havido nenhuma objeção
realmente séria quanto à canonicidade do NT, nos três principais
ramos do cristianismo.
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INSPIRAÇÃO BIBLICA

Jesus Cristo ensinou que a Bíblia é infalivelmente inspirada (Jo


10:35b; 17:17; Mt 4:4; 5:17-18) e também eterna e perfeitamente
preservada por Deus (Mt 4:4; 5:18; 24:25, Lc 16:17; 21:33; 24:44)

Juramento de John Burgon: “Juro pelo Nome do Deus Triúno: Pai,


Filho e Espírito Santo, que creio que “a Bíblia não é outra coisa senão
a voz d'Aquele que está sentado no trono. Cada livro dela, cada
capítulo dela, cada versículo dela, cada palavra dela, cada sílaba dela,
cada letra dela, são elocuções diretas do Altíssimo. A Bíblia não é
nada mais que a Palavra de Deus; nenhuma parte dela é mais,
nenhuma parte dela é menos, mas todas as partes de igual modo, são
expressões d'Aquele que está sentado no Trono, sem defeito, sem
erro, supremas.” Assim ajude-me Deus, AMÉM”.

SIGNIFICADO DA INSPIRAÇÃO (inspiração = registro escrito):

Inspiração é o homem escrevendo o que Deus revelou. A Inspiração é


o registro escrito das revelações de Deus e daquilo que Ele quis que
os escritores registrassem por escrito. A inspiração, portanto, é o
processo pelo qual Deus manifesta uma influência sobrenatural sobre
certos homens, capacitando-os para registrar acurada e
infalivelmente o que quer que tenha sido revelado. “Homens santos
de Deus”, lemos, “falaram inspirados pelo Espírito Santo” (2 Pe 1:21).
O resultado desse processo é a Palavra de Deus escrita, a “escritura
da verdade” (Dn 10:21).

Como ocorreu o processo da inspiração:

A própria Bíblia clama ser a Palavra de Deus. O termo “inspiração” é o


termo teológico tirado da Bíblia que expressa a verdade que a Bíblia é
a Palavra de Deus.

Talvez a melhor definição de inspiração seja a de L. Gaussen: “aquele


inexplicável poder que o Espírito divino estendeu antigamente aos
autores das Sagradas Escrituras, para que fossem dirigidos mesmo no
emprego das palavras que usaram, e para preservá-los de qualquer
engano ou omissão”.
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Para entendermos a inspiração, devemos olhar para dois versículos


clássicos das Escrituras, a seguir:

“Toda a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar,


para redargüir, para corrigir, para instruir em justiça” (2 Tm 3:16)

A palavra inspiração é “theopneutos”, que significa “theo” = Deus, e


“pneutos” = assoprar. A palavra hebraica é “nehemiah” e é usada
somente uma vez no Velho Testamento (em Jó 32:8). O versículo está
dizendo que Deus assoprou nos escritores da Bíblia que escreveram
assim as próprias Palavras de Deus. O adjetivo empregado nesta
passagem significa <<insuflado por Deus>> (cf. Gn 2:7).

A palavra “Escritura”, vem do Grego “graphe”, que siginifica escrita,


grafia, palavra. Deus “assoprou” palavras! Podemos dizer então que
tudo o que foi “escrito” (as Escrituras) foi dado pelo “sopro de Deus”.
Portanto, o que Deus “soprou” foram palavras (graphe). Cada
palavra, cada letra é importante para Deus.

É importante frisarmos que a Bíblia é inspirada e não os escritores. Se


fosse o contrário, tudo aquilo que eles escrevessem, de uma forma
geral, seria Bíblia...

A próxima passagem é:

“Porque a profecia nunca foi produzida por vontade de homem


algum, mas os homens santos de Deus falaram inspirados pelo
Espírito Santo.” (2 Pe 1:21)

Literalmente, o que o versículo está dizendo é que a inspiração é o


processo pelo qual o Espírito Santo “ moveu” ou dirigiu os escritores
das Escrituras para que o que eles escrevessem não fossem palavras
deles, mas a própria Palavra de Deus. Deus nos está dizendo que Ele
é o Autor da Bíblia, e não o homem.

Os escritores da Bíblia são chamados <<homens impelidos (ou


“carregados”) pelo Espírito Santo>> (2 Pe 1:20-21; cf. Ap. 19:9; 22:6;
2 Sm 23:2). Eles foram “movidos”, “tomados”, “levados”. A palavra
“inspirados” no versículo acima é a mesma palagra grega que foi
usada em Atos 27:15 (o barco foi “levado”).

O próprio Jesus Cristo afirmou que o Espírito Santo faria os Seus


discípulos se lembrarem de tudo o que presenciaram: “Mas aquele
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Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, esse


vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto vos
tenho dito” (Jo 14:26) e os anunciaria fatos futuros: “Mas, quando
vier aquele, o Espírito de verdade, ele vos guiará em toda a verdade;
porque não falará de si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido, e
vos anunciará o que há de vir” (Jo 16:13). (1 Co 2:10-13; 2 Co 2:4, 13;
1 Jo 1:1-3).

O Deus que soprou o fôlego de vida nos seres viventes é o mesmo


que soprou Sua Palavra nas consciências dos Seus profetas.

Se o próprio Espírito Santo supervisionou a entrega e o registro da


revelação, Ele, sendo Deus Onipresente, Onisciente e Onipotente,
garantiu que isto seria feito sem erros.

O Espírito de Deus de tal modo guiou e superintendeu os escritores


da Bíblia, mesmo fazendo uso das suas características pessoais
(idiossincrasias), que os seus originais (e os Textos Massorético e
Texto Recebido, miraculosamente preservados por Deus, sem
nenhuma falha, e traduzidos fielmente na Almeida Original e na
Almeida Corrigida e Revisada FIEL, da Sociedade Bíblica Trinitariana
do Brasil) são a única e completa, plena, verbal, infalível e inerrável,
autoritativa corporificação de TUDO o que Deus quis comunicar ao
homem. Assim, cada palavra da Bíblia é literalmente de Deus e é a
única base para doutrina.

Inspiração é o poder estendido pelo Espírito Santo, mas não sabemos


exatamente como esse poder operou. É limitado aos escritores das
Escrituras Sagradas. Isto EXCLUI todos os outros livros “sacros” por
não serem inspirados; também nega autoridade final a todas as
igrejas, concílios eclesiásticos, credos e clérigos.

A inspiração não exclui a diversidade de expressão sobre o mesmo


assunto (Mt 16:16; Mc 8:29; Lc 9:20). Até os 10 mandamentos têm
expressões diferentes, pois o Autor é Deus, e Ele pode Se exprimir de
formas diferentes sobre o mesmo assunto!!! (Êx 20:8-11; Dt 5:12-15).

O mais próximo que conseguimos chegar da inspiração é chamando-a


de “orientação”. Isto é, o Espírito Santo supervisionou a seleção dos
materiais a serem usados e das palavras a serem empregadas por
escrito. Finalmente, Ele preservou os autores de todos os erros e
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omissões. Temos na Bíblia, portanto, a Palavra de Deus verbalmente


inspirada.

O apóstolo Paulo relatou, inclusive, seus lapsos de memória (1 Co


1:14-16), suas emoções pessoais (Gl 4:14), suas palavras (1 Co 7:12,
40). Entretanto, ele mesmo frisa que, apesar de expor sentimentos e
impressões pessoais, tudo o que ele registrou nas Escrituras são
Palavras do Senhor! (1 Co 2:13; 14:37-38; Gl 1:12). Inclusive, quando
ele aborda a questão do papel e posição da mulher na igreja, ele
declara que o que disse são “mandamentos do Senhor” e não seu
entendimento pessoal! (1 Co 14:37-38).

Observamos, além disso, que a inspiração se estende às palavras, não


simplesmente aos pensamentos e conceitos, ou idéias gerais. Se se
estendesse simplesmente aos últimos, ficaríamos sem saber se os
escritores entenderam exatamente o que Deus disse, se se
lembraram exatamente do que Ele disse, e se eles tinham capacidade
para expressar os pensamentos de Deus com exatidão.

Será que cada palavrinha da Bíblia é mesmo inspirada?

O que Jesus disse acerca deste assunto? Vamos lá ver, o que nosso
Senhor falou:

“Ele, porém, respondendo, disse: Está escrito: Nem só de pão viverá


o homem, mas de TODA a palavra que sai da boca de Deus.” (Mt 4:4)

Que sublime afirmação do Mestre! Ele claramente nos diz que TODAS
(não somente algumas, não somente as que constam nos “melhores
e mais antigos manuscritos”, nem as que têm certa preferência da
crítica textual), mas sim que todas as palavras que saem da boca de
Deus são alimento para o homem.

Ou que dizer acerca do cumprimento cabal da lei, declarado por


Jesus:

“Porque em verdade vos digo que, até que o céu e a terra passem,
nem um jota ou um til se omitirá da lei, sem que tudo seja
cumprido.” (Mt 5:18)

Ora, aqui Jesus nos diz que TUDO o que está na lei, será cumprido,
“timtim por timtim”. Existem versículos que claramente proíbem
acrescentar, ou diminuir, o que quer que seja (Dt 4:2; 12:32; Pv 30:6;
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Ec 3:14; Ap 22:18-19). Lembre-se que uma vírgula numa frase pode


alterar totalmente o sentido da mesma. Em Gl 3:16, vemos a
importância e falta que faz uma simples letra “s”!!!

Assim, a Bíblia, obra de escritores humanos, é, contudo, de natureza


divina (1 Ts 2:13) e isto num sentido mais elevado do que o que se dá
ao fazer referência a outras obras que se costumam dizer
“inspiradas”.

Embora a Bíblia seja inspirada por Deus (Sl 19:7-11; 119:89; 105, 130,
160; Pv 30:5-6; Is 8:20; Jr 1:2, 4, 9; Lc 16:31; 24:25-27; 44-45; Jo 5:39,
45-47; 12:48; 14:26; 16:13; 17:17; At 1:16; 28:25; Rm 3:4; 15:4; 1 Co
2:10-13; 2 Co 2:4; Ef 6:17; 1 Ts 2:13; 2 Tm 3:16-17; 1 Pe 1:11-12; 2 Pe
1:19-23; 1 Jo 1:1-3; Ap 1:1-3; 22:19), a participação do homem na
recepção da revelação assumiu várias formas. Isto se deu
naturalmente, de modos diversos: ora os escritores simplesmente
registravam fatos históricos; ora registravam as mensagens que
profetas e apóstolos recebiam de Deus; ora refletiam intimamente
sobre coisas de Deus e Este usava seus pensamentos para levar Sua
mensagem aos homens; ora eram guiados por Deus a escrever
palavras revestidas de sentido mais profundo do que eles próprios
sabiam (1 Pe 1:10-12; cf. Dn 8:15; 12:8-12).

Ocasionalmente, descreveram visões, sonhos ou aparições que


testemunharam (Is 6; Jr 24; Dn 7-12; Ap 1-22); vários autores
puderam escrever seu testemunho pessoal, pois foram testemunhas
oculares dos eventos que relataram (Js 24:26; Jo 19:35; 21:24; 1 Jo
1:1-4; 2 Pe 1:16-18); também citaram documentos antigos, que
tinham à sua disposição, frutos de suas pesquisas [isto é inspiração
(registro escrito) sem revelação (sem ser algo recebido diretamente
de Deus)] (Dn 4; 2 Cr 36:23; Ed 1:2-4; 7:11-26; 1 Jo 1:1-4; Lc 1:1-4;
etc.), inclusive houve citações de fontes extrabíblicas (At 17:28; Tt
1:12; Jd 14-15); compuseram, como artistas, poesia e outras
manifestações da sabedoria (Salmos, Provérbios, etc). Vale
lembrarmos que os 10 mandamentos foram escritos diretamente por
Deus (Êx 31:18).

Os profetas estavam tão cônscios da responsabilidade de entregar a


mensagem de Deus (e não suas) que muitas vezes pediam a Deus que
os poupasse desse peso (Vide a resistência de Jonas). Os escritores
I N T R O D U Ç Ã O A B I B L I O L O G I A | 31

do Novo Testamento também reconheceram terem sido guiados pelo


Espírito Santo para registrar as revelações de Deus.

A Bíblia é um livro divino-humano: humano porque, escrito por


homens, manifesta sentimentos e pensamentos humanos, às vezes
em desacordo com os de Deus (ver, por exemplo, os discursos dos
amigos de Jó, que o próprio Deus refutou); divino, porque é obra de
homens a quem a Palavra de Deus foi revelada.

A IMPARCIALIDADE DA BÍBLIA PROVA QUE ELA É A PALAVRA DE DEUS

Quando os homens escrevem biografias dos seus heróis, eles


normalmente limpam suas faltas, mas a Bíblia exibe sua qualidade
divina mostrando o homem como ele é. Não apenas a Bíblia é
verdadeira, mas também é clara e sincera. Mesmo os melhores
homens descritos na Bíblia são descritos com suas faltas.
Conhecemos claramente a rebelião de Adão, a bebedeira de Noé, o
adultério de Davi, a apostasia de Salomão, a desobediência de Jonas,
o desaforo de Pedro para com o Mestre, a briga de Paulo e Barnabé e
espante-se com a descrença dos discípulos a respeito da ressurreição
de Cristo. O que se segue foi publicado em “The Berean Call” [O
Chamado de Beréia], Janeiro 2005:

“As Escrituras revelam honestamente as fraquezas e pecados dos


melhores santos – mesmo quando tais fatos poderiam ter sido
evitados. Tal honestidade dá a coroa da verdade às Escrituras. Um
dos relatos mais estranhos foi a descrença dos discípulos quanto à
ressurreição de Cristo. De fato, seu ceticismo e aparente má vontade
em acreditar, mesmo quando Cristo os encontrou face a face, parece
que dificilmente um escritor de ficção ousaria retratá-lo. Cristo acusa
Seus discípulos de dureza de coração (Marcos 16:14). Eles não
creram, mesmo quando Cristo lhes apareceu (Lucas 24:36-38). Mas
um dos ladrões crucificados com Cristo creu em Sua ressurreição, ou
ele não teria pedido “E disse a Jesus: Senhor, lembra-te de mim,
quando entrares no teu reino.” (Lc 23:42). As dúvidas dos discípulos
não tinham desculpa em vista das muitas profecias messiânicas. Eles
terem sido tão cegos em relação às Escrituras, mesmo depois de
terem sido ensinados pessoalmente por Cristo durante tantos anos,
nos faz reexaminarmos a nós mesmos para não sermos culpados da
mesma cegueira.”
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A aceitação da Bíblia como Palavra de Deus não é matéria de prova


científica e sim de fé. Isso não quer dizer que tomamos atitude
irracional ou sem fundamento. Antes, nossa atitude se baseia no
testemunho de Jesus, a respeito do Antigo Testamento.

De certo modo, podemos compará-la à nossa fé em Jesus Cristo


como Filho Unigênito de Deus, a qual não depende, em última
análise, de provas humanas de Sua divindade, e sim, de um ato de fé.

A experiência cristã tem confirmado que de fato Deus Se revela aos


homens através de TODA a Bíblia, ainda que o faça com maior nitidez
em certas partes (João, por exemplo) do que em outras que são, por
assim dizer, periféricas em relação à suprema revelação em Jesus
Cristo.

Não é que o Evangelho segundo João seja “mais inspirado” do que


Eclesiastes, por exemplo; antes, é que, naquele, Deus estava
concedendo a João a mais suprema e plena revelação de Deus; ao
passo que, em Eclesiastes, fornecia o registro das últimas tentativas
humanas para conseguir a felicidade “debaixo do sol”.

Outrossim, mesmo que algumas partes da Bíblia pareçam não trazer


mensagem de Deus para nós, em nossa situação atual, é muito
possível que tenham falado, ou que ainda venham a falar, a outras
pessoas em situações diferentes.

Basta lembrarmos, por exemplo, como o livro do Apocalipse tem


revivido, vez após vez, para cristãos que sofriam de perseguição.

Devemos lembrar também, que a própria Bíblia não nos autoriza a


dividi-la em partes, mas, antes, considerá-la um todo orgânico, tendo
cada livro um papel a desempenhar na obra total (2 Tm 3:16).

De imediato, as pessoas dizem que a Bíblia é um livro de homens. Em


outras palavras, “falha e imperfeita”. Por mais sinceros, eruditos e
criteriosos que fossem os profetas, eles ainda estavam sujeitos às
limitações da sua época e do seu conhecimento. Como poderiam
deixar de errar?

É natural, assim, esperar que a Bíblia apresente erros gritantes em


questões filosóficas, científicas, literárias ou históricas. Os milagres,
I N T R O D U Ç Ã O A B I B L I O L O G I A | 33

por exemplo, são vistos como lendas da Antiguidade, tão verdadeiros


e históricos quanto Branca de Neve e os Sete Anões.

De fato, tais conclusões seriam inevitáveis se o fator sobrenatural


fosse descartado. Mas, se o Espírito Santo, sendo o mesmo Deus,
estava por trás da produção da Bíblia, então é perfeitamente
admissível que homens falhos fossem instrumentos para transmitir
informações infalíveis. E foi exatamente isso o que ocorreu!!!

Este volume é a escrita do Deus vivo: cada letra foi escrita por um
dedo Todo-poderoso; cada palavra saiu dos lábios eternos, cada frase
foi ditada pelo Espírito Santo. Ainda que Moisés tenha sido usado
para escrever suas histórias com sua ardente pluma, Deus guiou essa
pluma. Pode ser que Davi tenha tocado sua harpa, fazendo que doces
e melodiosos salmos brotassem de seus dedos, porém Deus movia
Suas mãos sobre as cordas vivas de sua harpa de ouro. Pode ser que
Salomão tenha cantado os Cânticos de amor ou pronunciado palavras
de sabedoria consumada, porém Deus dirigiu seus lábios, e fez
eloquente ao Pregador. Se sigo o trovejador Naum, quando seus
cavalos aram as águas, ou a Habacuque quando vê as tendas de Cusã
em aflição; se leio Malaquias, quando a terra está ardendo como um
forno; se passo para as serenas páginas de João, que nos falam de
amor, ou para os severos e fogosos capítulos de Pedro, que falam do
fogo que devora os inimigos de Deus, ou para Judas, que lança
anátemas contra os adversários de Deus; em todas as partes vejo que
é Deus quem fala.

É a voz de Deus, não do homem; as palavras são as palavras de


Deus, as palavras do Eterno, do Invisível, do Todo-Poderoso, do Jeová
desta Terra. Esta Bíblia é a Bíblia de Deus; e quando a vejo, parece
que ouço uma voz que surge dela, dizendo: “Sou o livro de Deus;
homem, leia-me. Sou a escrita de Deus: abra minhas folhas, porque
foram escritas por Deus; leia-as, porque Ele é meu Autor, e O verá
visível e manifesto em todas as partes”. “[Eu] escrevi-lhe as
grandezas da minha lei, porém essas são estimadas como coisa
estranha” (Oséias 8:12). (Retirado do Sermão do Reverendo C. H.
Spurgeon: A Bíblia (The Bible ) - Um Sermão (Nº 0015) - Pregado na
Manhã de Domingo, 18 de Março de 1855, no Exeter Hall, Strand—
Londres —Inglaterra).
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Distinção entre Inspiração e Autoridade:

Algo deve ser dito a respeito da distinção entre Inspiração e


Autoridade. Geralmente, as duas são idênticas, de modo que aquilo
que é inspirado tem também autoridade com respeito ao ensino e à
conduta. Mas, ocasionalmente, não é isso o que acontece.

Por exemplo: o que Satanás disse para Eva foi registrado na Bíblia por
Moisés, que foi inspirado por Deus, mas não é a verdade (Gn 3:4-5);
o conselho que Pedro deu a Cristo (Mt 16:22); a declaração de
Gamaliel ao Concílio (At 5:38-39). O mesmo ocorre com textos
retirados do contexto, que assumem um significado totalmente
diferente de quando inseridos no contexto, etc.

A Bíblia, registro merecedor de confiança

A Bíblia é uma revelação de Deus absolutamente fidedigna.


Essa afirmativa se baseia na atitude de Jesus para com o Antigo
Testamento e no testemunho da própria Bíblia a seu respeito (Mt
5:17-18; Mc 7:1-13; 12:35-37; Jo 5:39-47; 10:34-36; 1 Co 14:37-38; Ef
3:3).

A Bíblia não tem a pretensão de ser uma enciclopédia


infalível de informações sobre todos os assuntos e, por isso, não nos
fornece a resposta a todas as perguntas que possamos fazer a
respeito do mundo a nosso redor. (NEM TUDO NOS É REVELADO!).

“As coisas encobertas pertencem ao SENHOR nosso Deus, porém as


reveladas nos pertencem a nós e a nossos filhos para sempre, para
que cumpramos todas as palavras desta lei”.

(Dt 29:29).

Ela é escrita na linguagem do povo e não com a terminologia e


exatidão científicas do nosso século. De fato, seria tolice esperar que
o fosse, e se, por algum milagre, isso fosse conseguido, o livro se
tornaria incompreensível para a maioria de nós, para todos os que
nos precederam e, dentro de pouco tempo, a linguagem se tornaria
arcaica.

A Bíblia registra uma revelação progressiva de Deus (Is 42:8-


9; 44:6-8; Os 6:3; Hb 1:1-2) através de muitos séculos e a povos
vários. Não devemos, portanto, tomar suas afirmações isoladamente,
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mas considerá-las à luz do todo, do contexto. Não podemos basear


nossas crenças em versículos isolados, destacados de seu contexto.

LEMBRE-SE: Texto fora de contexto é pretexto para heresias!

Através de uma compreensão integral da Bíblia, podemos descobrir


que muitas discrepâncias desaparecem ou são de somenos
importância, no que se refere à verdade da Bíblia, vista como um
todo.

É inegável que a moderna ciência da Arqueologia muito tem


feito no sentido de confirmar a exatidão da história registrada na
Bíblia. Muito raramente, e em assuntos de pequena importância, põe
um ponto de interrogação ao lado do registro bíblico.

Uma vez que a Bíblia registra uma revelação que se deu através da
história, podemos sentir satisfação em saber que o esboço histórico
apresentado na Bíblia é capaz de tanta confirmação arqueológica.

Muitos problemas que se alegam existir na Bíblia devem-se à nossa


deficiência em saber interpretá-la corretamente. Às vezes,
procuramos, por exemplo, informações literais em passagens que
devem ser tomadas como poéticas e, em outras, interpretamos
simbolicamente passagens que deveriam ser literais.

REGRA DE OURO PARA A INTERPRETAÇÃO DA BÍBLIA:

“Quando a interpretação direta, imediata e literal das escrituras faz


sentido, não procure nenhuma outra interpretação. Portanto:
Interprete cada palavra no seu sentido literal, usual, costumeiro e
mais comumente usado, a não ser que os fatos do contexto imediato
indiquem clara e indiscutivelmente o contrário, quando estudados à
luz de passagens correlatas e de verdades fundamentais e
axiomáticas.” (Dr. David L. Cooper)

Termos relacionados com a inspiração:

A Revelação de Deus: (Pv 11:2; Mt 11:25; 1 Co 2:10; Gl 1:12)

Revelação, no Grego, significa: descobrir, deixar aberto aquilo que


estava velado/coberto.
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“Revelação é aquele ato de Deus pelo qual Ele mesmo se descerra e


comunica verdade à mente, manifestando às Suas criaturas aquilo
que não poderia ser conhecido de nenhum outro modo”.

Uma definição concisa, mas exata, da revelação vem da caneta do Dr.


James Bannerman. Ele escreveu: “A revelação, como ato divino, é a
apresentação da verdade objetiva ao homem de maneira
sobrenatural por Deus. A revelação, como resultado de tal ato, é a
verdade objetiva então apresentada”

MÉTODOS DE REVELAÇÃO:

a) Por anjos: 3 anjos, Abraão, Sodoma (Gn 18); b) com voz alta,
punindo a queda (Gn 3:9-19); c) com voz suave, a Elias (1 Rs 19:11,
12; Sl 32:8); d) pela natureza (Sl 19:1-3); e) por um jumento,a Balaão
(Nm 22:28); f) por sonhos (Gn 28:12); g) em visões (Gn 46:2; At 10:3-
6); h) o próprio Livro de Apocalipse; i) Cristofanias (Êx 3:2).

Hoje, Deus fala através da Sua Palavra (Hb 1:1; 2 Tm 3:16).

A Revelação de Deus no Antigo Testamento é uma revelação com as


seguintes características:

a) É uma revelação autoritativa - Jo 5:39; Lc 19:19-31.

b) É uma revelação verídica - Jo 10:35; Is 34:16.

c) É uma revelação progressiva - Is 42:8-9; 44:6-8; Os 6:3; Hb 1:1-2.


Ex: - As peculiaridades do sistema mosaico ficam claras à luz de uma
Revelação progressiva. A Lei a Graça e a doutrina do Espírito Santo
estão interligadas ao propósito dispensacional de Deus.

d) É uma revelação parcial - Hb 1:1, 2; Cl 2:17; Hb 10:1.

A Necessidade da revelação:

Certamente o Senhor Deus não fará coisa alguma, sem ter revelado o
seu segredo aos seus servos, os profetas. (Amós 3:7)

Será possível ao homem, finito e limitado como é, em sua capacidade


e em seu entendimento, compreender a grandeza do Deus infinito?

Por si mesmo, é evidente que não. A não ser que Deus se revele ao
homem, este não pode conhecê-Lo.
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Chega-se, portanto, à conclusão de que Deus Se revelou às Suas


criaturas.

A revelação de Deus divide-se em geral e especial:

• Revelação geral de Deus: (Sl 19:1-6; 104). É endereçada e acessível


a TODA criatura inteligente, e tem por objetivo persuadir a alma a
buscar o verdadeiro Deus. É suficiente para condenar os homens,
tornando-os inescusáveis. Mas, não é suficiente para os salvar! Ela
ocorre:

a) Na Natureza: (Jó 12:7-9; Sl 8:1, 3; 19:1-3; Is 40:12-14, 26; At 14:15-


17; Rm 1:19-23, 2:14-15). Sua finalidade é incitar o homem a buscar o
Deus Verdadeiro, para receber mais luz. Algumas verdades contidas
nas religiões pagãs derivam-se dessa fonte de revelação.

É, contudo, insuficiente. Se revela a grandeza, a sabedoria e o poder


de Deus, nada diz do interesse que ele tem no homem pecador, nem
se este pode se salvar.

b) Na História de nações tais como o Egito, a Assíria, etc. Embora


Deus possa usar uma nação mais ímpia para castigar uma menos
ímpia, ao final tratará a mais ímpia com maior severidade (Hc 1:1-
2:20). E, muitíssimo mais, na espantosa história da “pulguinha” Israel
(Dt 28:10; Sl 75:6-8; Pv 14:34; At 17:2-4; Rm 13:1), o “verme de Jacó”
(Is 41:14). Esse povo acreditava que Deus, a quem conhecia por
nome de Javé ou Jeová, agia na sua vida individual e nacional (Sl 78);
que lhe falava por meio de profetas (1 Sm 3; Is 6; Os 1; Am 7:14-17),
revelando-lhes que Seu caráter era de justiça e amor (Is 6:3; Am 5:6-
27; Dt 7:8; Jr 31:3; Os 11:1); que Israel era Seu povo escolhido (Dt
7:7-26; Jr 7:23; 13:11) e que dele Deus reclamava não só o culto,
como também a justiça e o amor em sua vida social e nacional (Am
5:21-24; Is 1:27; Mq 6:8). Esse Deus era Senhor da criação (Is 40;
42:5; Am 5:8) e Rei moral da história (Dt 28; Jz 2; Am 5:14). Haveria,
um dia, de julgar o mundo e estabelecer um reino de justiça. Seu
propósito final para os homens era, portanto, a salvação e, para esse
fim, escolhera a Israel para Seu servo, o qual deveria levar todos os
homens à religião verdadeira. Como, porém, Israel estava
prejudicado pelo seu pecado, Deus prometera levantar, futuramente,
para executar esta tarefa, um Libertador, chamado, ora de Rei, na
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sucessão de Davi, ora de Servo do Senhor (Is 2:1-4; 9:1-7; 42:1-9;


49:1-6; 50:4-9; 52:13; 53:12; Jr 31:31-40; 33:14-16; Ez 34:23-24).

Esta revelação já é mais explícita e informativa do caráter pessoal de


Deus, do que a revelação através da natureza. Contudo, é também
incompleta.

c) Na Consciência: Na nossa consciência temos outra revelação de


Deus (Rm 2:14-16). A Lei gravada nos corações, “uma espiã de Deus
em nosso peito”, “uma embaixadora de Deus em nossa alma”, como
os puritanos costumavam chamá-la.

É a presença no homem desta ciência do que é certo e errado, deste


algo discriminativo e impulsivo, que constitui a revelação de Deus.
Não é auto-imposta, como fica evidenciado pelo fato de que o
homem frequentemente se livraria de suas opiniões se pudesse. É o
reflexo de Deus na alma.

Suas proibições e ordens, Suas decisões e impulsos não teriam


qualquer autoridade real sobre nós se não sentíssemos que na
consciência temos de alguma forma a realidade, algo em nossa
natureza que, todavia, está acima desta natureza.

Em outras palavras, nossa consciência revela o fato de que há uma lei


absoluta do certo e do errado no universo e de que há um Legislador
Supremo que encarna esta lei em Sua própria Pessoa e conduta.

d) Na providência divina: (Pv 16:9; At 14:15-17); na preservação do


mundo: (Hb 1:3)

• Revelação especial de Deus: (Sl 19:7-14). Abrange os atos de Deus


pelos quais Ele Se fez conhecer e à Sua verdade, em ocasiões
especiais e a pessoas específicas, mas quase sempre para o benefício
de todos. É uma Revelação completa!

É necessária porque o homem não respondeu à Revelação Geral (Rm


1:20-23,25; 1 Co 1:21; 2:8). Ela ocorre:

a) Em Jesus Cristo, a suprema revelação de Deus (Jo 1:14; Cl 1:15; 2:9;


Hb 1:3). Necessária porque o homem não respondeu às outras Hb
1:1-3. Cristo é a melhor prova da: existência, natureza, e vontade de
Deus! A vinda de Jesus Cristo foi a manifestação suprema e o pleno
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cumprimento da Revelação que Deus começara a fazer de Sua


Pessoa, na vida de Israel.

Jesus afirmou expressamente que Ele era Aquele de quem os


profetas falavam (Mt 5:17; Lc 24:44). Referia-Se a Si mesmo como o
Filho de Deus (Mt 11:25-27) e atribuía às Suas próprias palavras a
autoridade de Deus (Mc 2:1-12; 13:31; 14:62). Além das Suas
palavras, o caráter e as ações de Cristo deviam ser considerados
manifestações de Deus aos homens. Disso eram sinais: Seus milagres
e Suas obras poderosas (Lc 12:54-56; Jo 3:2; 14:11). Toda a Sua vida
demonstrara o amor que caracteriza a Deus (Mc 2:17; 10:21, 45; Lc
19:1-10; Jo 3:16). Sua morte coroou Sua vida de abnegação em favor
dos homens (Mc 14:22-24) e Sua ressurreição e ascensão declararam
que Deus Se agradara da obra de Seu Filho e O tinha exaltado (At
3:14-26; Rm 1:4). Seus discípulos passaram o restante de suas vidas
anunciando-O como Aquele que verdadeiramente revelava Deus aos
homens e lhes restabelecia a relação adequada com Deus Pai. As
provas impressionantes de Sua influência nas vidas humanas, a partir
de então, são outras tantas confirmações de Seu objetivo de revelar
Deus aos homens.

Esta Revelação, na qual Deus Se fez homem, na Pessoa de Seu Filho


Jesus Cristo, é uma Revelação pessoal, perfeita e que não se repete.
No sentido mais completo, Jesus Cristo é a PALAVRA DE DEUS aos
homens (Jo 1:1-18; Hb 1:1-2; Ap 19:13). É evidente, portanto, que
ninguém pode conhecer a Deus, senão por Jesus Cristo (Jo 1:18; Mt
11:27).

b) Nas experiências pessoais de certos homens: Enoque e Noé


andaram com Deus (Gn 5:21-24; 6:9); Deus falou a Noé (Gn 6:13; 7:1;
9:1); a Abraão (Gn 12:1-3); a Isaque (Gn 26:24); a Jacó (Gn 28:13;
35:1); a José (Gn 37:5-11); a Moisés (Êx 3:3-10; 12:1); a Josué (Js 1:1);
a Gideão (Jz 6:25); a Samuel (1 Sm 3:2-4); a Davi (1 Sm 23:9-12); a
Elias (1 Rs 17:2-4); a Isaías (Is 6:8), etc. Da mesma maneira, no N. T.
Deus falou a Jesus (Mt 3:16-17; Jo 12:27-28); a Pedro, Tiago e João
(Mc 9:7); a Felipe (At 8:29); a Paulo (At 9:4-6; 18:9; Gl 1:12); e a
Ananias (At 9:10). Nas experiências de nós, crentes da dispensação
da graça, que temos a testificação do Espírito Santo de que somos
filhos de Deus. Hoje, Deus só fala através da Sua Palavra (Hb 1:1; 2
Tm 3:16). Não há mais revelações!!!
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c) Em milagres: eventos fora do usual e natural, realizando uma obra


útil, revelando a presença e poder de Deus, visando trazer homens a
Cristo (Jo 20:30-31). Êx 4:2-5 (Deus transformou vara em cobra)
contraste Êx 7:1-2 (imitação, desmascarada).

Milagres podem ser:

a) de intensificação (exemplo: dilúvio) ou “tempo exato” (terremoto


na crucificação) de fenômenos naturais (praga de saraiva e fogo); a
força de Sansão, etc.

b) de alteração das leis naturais (multiplicação dos pães,


florescimento da vara de Arão, obtenção de água da rocha, cura dos
doentes, ressurreição de mortos).

Se alguém quiser contestar a existência de milagres, lembre-lhe que a


pergunta certa é “as testemunhas são absolutamente confiáveis?” e
não “o evento é naturalmente possível?”. Demonstre a historicidade
da ressurreição de JESUS CRISTO. Mostre que se ele crer na
ressurreição e no Ressurreto Homem-Deus, aceitará todos os
milagres da Bíblia.

d) Em Profecias-predição de eventos, só possível pela comunicação


direta da parte de Deus. Ex: O Livro de Isaías foi escrito em
aproximadamente 698 a.C. e falou sobre Ciro, com uma antecedência
de séculos (Is 44:28-45:1). Se alguém quiser contestar a existência de
profecias, mostre-lhe que se ele crer em Jesus Cristo, aceitará todas
as profecias da Bíblia. Por exemplo: compare 1 Rs 13:2 com 2 Rs
23:15, 16; 1 Rs 13:22 com 2 Rs 23:17, 18; 1 Rs 21:19 com 1 Rs 22:38;
1 Rs 21:23 com 2 Rs 9:36.

Mostre-lhe algumas das 332 profecias cumpridas em Cristo:

Ele deveria ser nascido de uma virgem (Is 7:14; Mt 1:23);

da semente de Abraão (Gn 12:3; Gl 3:8);

da Tribo de Judá (Gn 49:10; Mt 1:2-3; Hb 7:14);

da linhagem de Davi (Sl 110:1; Jr 23:5; Mt 1:6; Rm 1:3);

deveria nascer em Belém (Mq 5:2; Mt 2:6);

ser ungido pelo Espírito (Is 61:1-2; Lc 4:18-19);


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entrar em Jerusalém montado em um asno (Zc 9:9; Mt 21:4-5);

ser traído por um amigo (Sl 41:9; Jo 13:18);

ser desprezado (Is 53:4-6, 10-12; 2 Co 5:21);

ser rejeitado (Is 53:3; Jo 8:48; 9:34);

ser vendido por trinta moedas de prata (Zc 11:12-13; Mt 26:15; 27:9-
10);

ser abandonado por seus discípulos (Zc 13:7; Mt 26:31, 56);

ter suas mãos e pés traspassados, mas não ter nenhum osso
quebrado (Sl 22:16; 34:20; Jo 19:36; 20:20, 25);

os homens iriam dar-lhe fel e vinagre a beber (Sl 69:21; Mt 27:34);

repartir Suas vestes e lançar sortes sobre Sua túnica (Sl 22:18; Mt
27:35);

Ele seria abandonado por Deus (Sl 22:1; Mt 27:46);

enterrado com os ricos (Is 53:9; Mt 27:57-60);

Ele iria surgir dos mortos (Sl 16:8-11; At 2:27);

subir às alturas (Sl 68:18; Ef 4:8);

e se assentar à mão direita do Pai (Sl 110:1; Mt 22:43-45), etc.

Será que não temos nestas predições que já foram cumpridas uma
forte prova do fato que Deus Se revelou por profecia? E se Ele o fez
nestas predições, o que nos impede de crer que O fez em outras
também?

e) Nas Escrituras (1 Pe 1:12; 1 Co 1:21): Se a suprema revelação de


Deus é Jesus Cristo, surge o problema: como então pode Deus Se
revelar a nós, que vivemos dois milênios depois de Cristo? Não
estando Jesus visivelmente entre nós, ficamos privados da
possibilidade de alcançar a plena Revelação de Deus?

A resposta a essas perguntas é que existe ainda outra forma de


Revelação. É que o Espírito de Deus capacitou homens a darem
testemunho escrito da Revelação que receberam, de modo a
poderem interpretá-la e transmiti-la às gerações posteriores.
I N T R O D U Ç Ã O A B I B L I O L O G I A | 42

Assim, podemos chegar ao conhecimento da Revelação de Deus na


Natureza, na História, etc, e em Jesus Cristo, através do registro
(inspiração) que dela temos em mãos, na BÍBLIA, e pela qual Deus
fala hoje aos homens (Hb 1:1-3).

Deste modo, Jesus Cristo Se revela ainda aos homens. Ele não é uma
extinta Figura do passado, mas o FILHO VIVO DE DEUS, de maneira
que os cristãos que vivem em eras posteriores à Sua crucificação
podem afirmar que O conhecem e têm comunhão com Ele, através
das Escrituras, que reúnem toda a Revelação que Deus quis que
ficasse inerrantemente corporificada, sendo a base para todas as
disciplinas da Teologia.

As doutrinas da revelação e da inspiração nada seriam sem a


doutrina da preservação das Escrituras.

Jesus disse: “O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não


hão de passar” (Mateus 24:35). As evidências comprovam que Deus
tem cuidado da Sua Palavra através dos séculos, embora não
tenhamos mais os originais (autógrafos). Existem mais de 5.000
manuscritos e partes de manuscritos que concordam entre si, o
chamado Texto Bizantino (em sua forma impressa ele se chama
Textus Receptus [TR], ou o Texto Recebido, termo que surgiu com a
impressão do Novo Testamento Grego de Elzivir em 1633).

Uma vez que é a Bíblia o meio pelo qual seguramente Deus Se revela
hoje aos homens, devemos examinar com algum cuidado seu caráter,
sua suficiência e a confiança que merece como Revelação de Deus (2
Tm 3:15-16; Hb 1:1).

b. A Iluminação:

“é aquele método usado pelo Espírito Santo para derramar luz divina
sobre todo o homem que o busque, ao ser este homem exposto à
Palavra de Deus.” (Sl 119:18, 125)

• A ILUMINAÇÃO é o entendimento que temos da leitura da Bíblia,


pela ação do Espírito Santo (Êx 31:3; 35:31; 1 Rs 3:11; 4:29; Jó 11:12;
2 Sm 22:29; Sl 18:28; 36:9; 111:10; 119:18, 34, 99, 104, 125, 130, 169;
Pv 2:1-12; 4:7; Is 11:2; Dn 1:17; 4:34-36; 5:12-14; Lc 24:45; Jo 14:26;
Rm 12:2; 1 Co 2:14-16; 2 Co 4:6-7; Ef 1:18; 2 Tm 2:7; 2 Pe 1:20; 1 Jo
5:20).
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“Filho meu, se aceitares as minhas palavras, e esconderes contigo os


meus mandamentos, para fazeres o teu ouvido atento à sabedoria; e
inclinares o teu coração ao entendimento; se clamares por
conhecimento, e por inteligência alçares a tua voz, se como a prata a
buscares e como a tesouros escondidos a procurares, então
entenderás o temor do Senhor, e acharás o conhecimento de Deus.
Porque o Senhor dá a sabedoria; da sua boca é que vem o
conhecimento e o entendimento. Ele reserva a verdadeira sabedoria
para os retos. Escudo é para os que caminham na sinceridade, para
que guardem as veredas do juízo. Ele preservará o caminho dos seus
santos. Então entenderás a justiça, o juízo, a eqüidade e todas as
boas veredas. Pois quando a sabedoria entrar no teu coração, e o
conhecimento for agradável à tua alma, o bom siso te guardará e a
inteligência te conservará; para te afastar do mau caminho, e do
homem que fala coisas perversas”. (Pv 2-1:12)

• A iluminação se faz necessária por causa das cegueiras: natural Rm


10:2; 1 Co 2:14; Ef 4:18; induzida pelo Diabo 2 Co 4:3-4; induzida pela
carne 1 Co 3:1; 2:14; Hb 5:12-14; Cl 1:21; Tt 1:15.

• Só com a iluminação é que pecadores são salvos (Sl 119:30; 146:8)


e crentes são fortalecidos (Sl 119:105; 1 Co 2:10; 2 Co 4:6).

• Antes de iluminar, o Espírito Santo procura por sinceridade do


homem (Dt 4:29; Hb 11:6) e diligente estudo do crente (At 17:11; 2
Tm 2:15; 1 Pe 2:2).

• O Espírito Santo sempre tem que usar um crente (que O tem) para
iluminar o descrente (que não O tem) At 8:31 (Filipe e o eunuco
etíope).

c. Comparação Revelação-Inspiração-Iluminação:

Revelação: comunicação da verdade. (1 Co 2:10-12) [já cessou!!!]

Inspiração: registro escrito da verdade. (1 Co 2:13) [já cessou!!!]

Iluminação: entendimento da verdade. (1 Co 2:14-16) [ainda


existe!!!]

---inspiração--->

Deus ---revelação---> Homem BÍBLIA


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<---iluminação---

Podemos ter revelação (comunicação da verdade por Deus ao


homem) sem inspiração (registro escrito dessas verdades), como tem
sido o caso de muitas pessoas piedosas no passado, que receberam
verdades de Deus, mas não registraram por escrito (inspiração), não
há livros bíblicos escritos por eles (Noé, Abraão, Jacó, Elias, etc.) e
como fica claro pelo fato de João ter ouvido as vozes dos sete trovões
(revelação/comunicação da verdade por Deus), apesar de não lhe ter
sido permitido escrever/registrar o que eles disseram os trovões (Ap
10:3-4).

Podemos também encontrar inspiração sem revelação, como quando


os escritores registram o que viram com seus próprios olhos ou
descobriram pela pesquisa (1 Jo 1:1-4; Lc 1:1-4). É o que ocorre
quando os relatos bíblicos parecem ser meras declarações dos
escritores humanos. Isto é inspiração (registro escrito) sem revelação
(sem a comunicação de uma verdade por Deus).

A iluminação (o entendimento da verdade bíblica) geralmente


acompanha a inspiração ou está incluída nela, mas nem sempre,
conforme Pe 1:10-12; cf. Dn 8:15; 12:8-12.

PROVAS DA INSPIRAÇÃO PLENÁRIA, VERBAL, INFALÍVEL

A Bíblia é inspirada (“assoprada para dentro do homem”) por Deus:


[Ver a seção: “A Bíblia é a corporificação da Revelação de Deus”].

Note:

- Inspiração é um mistério.

- A Bíblia é inspirada por Deus (At 1:16; 2 Tm 3:16-17; Hb 10:15-17; 2


Pe 1:20-21).

- Inspiração é essencialmente proteção contra erros, como se Deus


dissesse “As verdades que Eu quero transmitir, você as escreverá
com as suas palavras, mas Eu vou guiá-lo para você não deixar de
escrever toda e só a verdade que Eu quero que seja escrita, e não
errar nem sequer uma letrinha ou o menor sinal de acentuação.”
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- A inspiração é plenária: significa que a Bíblia é inspirada toda ela, de


capa a capa, sobre todo e qualquer assunto (Mt 5:18; 2 Tm 3:16-17).

- A inspiração é verbal: significa que a Bíblia é inspirada palavra por


palavra, e não apenas os pensamentos principais, como ocorre com
as versões deturpadas da Bíblia, como as paráfrases (Ex: Bíblia na
Linguagem de Hoje). (Sl 138:2; Mt 4:4-5; 5:17-18; 22:32; 1 Co 2:13; Gl
3:6).

A inspiração torna a Biblia infalível e inerrável: A Bíblia não contém


nenhum erro, sendo incapaz de errar ou falhar!!! (Mt 5:18; Jo
10:35b).

- Toda a Bíblia é igualmente inspirada, mas não igualmente


importante (Ex: Jo 3:16 versus Jz 3:16).

- Cada palavra é inspirada, mas só é autoritativa: a) no seu contexto;


b) quando é de Deus [diretamente ou pelos Seus profetas] e não o
registro (inspirado, infalível!) das mentiras do Diabo, demônios, ou
homens.

- A inspiração não exclui o uso de fontes extra-Bíblicas (At 17:28; Tt


1:12; Jd 14-15).

- Inspiração não exige mesmos detalhes no relato de um mesmo


evento (Mt 27:37 + Mc 15:26 + Lc 23:38 + Jo 19:19).

- A inspiração está terminada, finalizada (Ap 22:18-19) e só abrangeu


a Bíblia.

A NATUREZA DA INSPIRAÇÃO PLENÁRIA, VERBAL E INFALÍVEL DA


BÍBLIA É ASSEGURADA POR:

a) O caráter de Deus (Sl 138:2): Iria o Deus perfeito, eterno e


imutável, consentir que as Suas revelações fossem expressas
imperfeita e falivelmente pelos Seus profetas? Isto é inimaginável!

b) O caráter e declarações da própria Bíblia:

b.1) (Ver: “O caráter transcendente da Bíblia”). A Bíblia tem unidade,


conteúdo e padrão moral incomparavelmente superiores a todos os
outros livros.
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b.2) (Ver: “Declarações da Bíblia sobre si mesma”). A Bíblia é


absolutamente confiável em tudo o que pode ser checado. Então
devemos aceitar o que ela diz de si mesma:

b.3) A Bíblia clama ser a plenária, verbal e infalível Palavra de Deus:

Explicitamente em Sl 138:2; 2 Tm 3:16; 2 Pe 1:20-21.

Mais de 3800 vezes em frases diretas como “Assim diz o Senhor” no


V. T.: Êx 14:1; Is 43:1; Ez 1:3.

No reconhecimento de um escritor/livro por outro: 2 Rs 17:13; Sl


19:7; 33:4; 119:89; Is 8:20; Gl 3:10; 1 Pe 1:23; At 1:16; 28:25; 1
Pe 1:10-11. Pedro reconheceu a inspiração dos escritos de Paulo 2 Pe
3:15-16. Pedro e Paulo reconhecem a inspiração de todo o restante
das Escrituras: 2 Tm 3:16; 2 Pe 1:20.

Cristo ensinou que a Bíblia é infalivelmente inspirada (Jo 10:35b; Mt


4:4; 5:17-18; 22:32) e também eterna e perfeitamente preservada
por Deus (Mt 4:4; 5:18; 24:35 [= Lc 21:33]; Lc 16:17)

Objeções à inspiração plenária e verbal:

a) ALEGAM QUE HÁ “Reconhecimento de não inspiração”: basta um


bom exame do contexto, ou um perfeito entendimento dos idiomas e
dos manuscritos pelos quais Deus preservou infalivelmente Sua
palavra: Texto Massorético e Textus Receptus. Exemplo: em 1 Co
7:12, 25, Paulo, que estava só repetindo Mt 5:31-32; 19:3-9 (sobre o
Divórcio), agora introduz um mandamento igualmente inspirado
(compare: 1 Co 7:40).

b) ALEGAM QUE HÁ “Citações expressando erros”: Ora, são apenas


citações (fiéis!) de errados e/ou mentirosos homens (Sl 10:4; 14:1) ou
do Diabo (Gn 2:4-5; Jo 8:44).

c) “Erros histórico-científicos”: Basta lembrarmos que:

• Assim como os cientistas usam expressões “pôr-do-sol”, “quatro


cantos da Terra” (por serem referenciais cômodos, de fácil
entendimento), a Bíblia usa a linguagem das aparências, em certas
passagens, etc. Ademais, a Bíblia é 100% exata, mas não é formal,
matemática.
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• A Bíblia só relata fragmentos da verdade Jo 20:30-31.

• Relatos distintos podem se complementar (contradizer!) ou podem


enfatizar diferentes aspectos dos eventos ou doutrinas.

• A Bíblia foi por Deus infalivelmente inspirada e preservada (através


do Texto Massorético e do Textus Receptus), palavra por palavra, til
por til; mas, os tradutores mais fiéis e tremendamente cuidadosos
podem aqui e acolá ter sido algo menos que perfeitos...

• A verdadeira ciência se limita a fatos da observação ou


experimentação (a Teoria da Evolução, das Camadas Geológicas, da
Astrofísica, etc., não o fazem, resultam de meras suposições loucas!).

• Cientistas hoje admitem que, por exemplo, a luz apareceu antes do


sol (Gn 1:3-5).

d) “Aparentes contradições”: sempre tem explicações, se prestarmos


muita atenção. Alguns exemplos:

1) Nm 25:9 versus 1 Co 10:8 (diferentes números de mortos pela


praga): Números não se limitou a 1 só dia!

2) Lc 6:17 versus Mt 5:1 (o sermão foi no monte ou em lugar plano?):


Ou foram 2 sermões, sendo 1 para os discípulos, outro para o povo.
Ou, 1 sermão, em lugar plano no meio do monte? A planura em Lc
6:17 era provavelmente na mesma montanha mencionada em Mt
5:1.

3) Mt 20:29 versus Mc 10:46 + Lc 18:35 (1 ou 2 cegos? na entrada ou


saída de Jericó?): 2 cegos na entrada, 1 na saída. Provavelmente,
foram os 2 cegos curados entre a Jericó velha e a Jericó nova, sendo
que Mc e Lc mencionam somente o mais notável. OBS: há uma
infalível regra matemática que diz que “onde quer que haja 2,
sempre haverá 1”.

4) Mt 8:5-13 versus Lc 7:1-10: Centurião de Cafarnaum com o servo


moribundo: ouviu falar de Jesus -> enviou anciãos judeus para
chamá-lo -> enviou amigos -> foi ele mesmo -> creu -> voltou ->
constatou milagre.

e) “Erros em profecias”: esses aparentes ‘erros’ são más


interpretações das profecias, ou profecias ainda a serem cumpridas
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(Dn 2, 7, 9, 11, 12; Zc 12-14; a maior parte do Livro de Apocalipse).


Nem Paulo, nem Tiago, nem Pedro ensinaram que Cristo viria
imediatamente, mas simplesmente, que Ele poderia vir a qualquer
hora = volta iminente (2 Co 5:4; 1 Ts 4:15-17; Tg 5:9; 2 Pe 3:4, 8, 9).

f) “Impossibilidade científica de milagres”: (ver o item “a Revelação


Especial de Deus”). Quando a existência do Deus Todo-Poderoso é
aceita, então não há problema em se aceitar a Sua intervenção
sobrenatural (e coerente Consigo mesmo): se, quando, como, e onde
Ele o deseje.

g) “Erros na citação e interpretação de si própria”: Às vezes, os


escritores do Novo Testamento simplesmente expressam suas idéias
com palavras emprestadas de uma passagem do Velho Testamento,
sem a pretensão de interpretar a passagem (Rm 10:6-8, cf. Dt 30:12-
14). Às vezes, eles destacam um elemento típico em uma passagem
que não tem geralmente sido reconhecido como típico (Mt 2:14, cf.
Os 11:1). Às vezes, dão crédito a uma profecia mais recente, quando
eles realmente estão citando uma forma mais antiga da mesma (Mt
27:9, cf. Zc 11:13). Às vezes, eles combinam duas citações em uma só,
e atribuem o todo ao autor mais proeminente (Mc 1:2-3).
Ademais, o Autor (o Espírito Santo) de toda a Bíblia tem todo o
direito de re-expressar-Se e re-explicar-Se conforme Seu desejo
soberano!!!

h) “Imoralidade DOS HOMENS”: É registrada; honestamente (!); mas


nunca é sancionada. Ex: a bebedeira de Noé (Gn 9:20-27), o incesto
de Ló (Gn 19:30-38), a falsidade de Jacó (Gn 27:19-24), o adultério de
Davi (2 Sm 11:1-4), a poligamia de Salomão (1 Rs 11:1-3, cf. Dt 17:17),
a severidade de Ester (Et 9:12-14), as negações de Pedro (Mt 26:69-
75).

LEMBRE-SE: as aparentes sanções à imoralidade são sanções só a


uma virtude acompanhante. Exemplos:

i) Divórcio (Dt 24:1 versus Mt 5:31-32 + 19:7-9), etc: foram


tolerados/disciplinados como um bem relativo, nunca recomendados
como um bem absoluto.
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ii) A matança dos cananeus (Dt 7:1-2; 20:16-18), os Salmos


imprecatórios (35, 69, 109, 137), etc: mostram um Deus Soberano,
Santo, e Justo, que pode usar homens para executar Seus desígnios.

Strong diz que os salmos imprecatórios são “não a ebulição de ódio


pessoal, mas a expressão de indignação judiciosa contra os inimigos
de Deus”, e que a destruição dos cananitas “foi simplesmente cirurgia
benevolente que amputou um membro pútrido, e assim salvou a vida
religiosa da nação hebraica e do mundo posterior”.

Teorias antibíblicas sobre a inspiração

a) Teoria mecanista, ou do ditado = “Deus usou homens como meros


amanuenses”. (= escreventes, copistas).

Esta teoria ignora diferenças de estilo entre os escritores; ignora que


Deus não usou robôs inanimados nem psicografistas
(“pneumografistas”) talvez até inconscientes do que escreviam, mas
usou, sim, homens com personalidades distintas; e ignora que a
Bíblia é ambos 100% divina e 100% humana, respeitando a
personalidade e estilo de cada escritor! (2Pe 1:21).

Deus usou as personalidades e modos de expressão peculiares a cada


escritor (idiossincrasias): “somente” os protegeu do menor erro,
desvio, omissão, e excesso.

Inspiração é basicamente esta proteção.

b) Teoria da inspiração natural = “a inspiração da Bíblia é só


momentos de superioridade do homem natural, como Beethoven na
“Sinfonia Inacabada”. (2 Pe 1:20-21).

Assim, cometem o erro de pensar que: “o Salmo 23 não é mais


inspirado que o grande hino ‘Rude Cruz’; o Sermão do Monte não é
mais inspirado que ‘Pecadores nas Mãos de um Deus Irado’, de
Jonathan Edwards; a História do Filho Pródigo não é mais inspirada
que ‘O Peregrino’, de John Bunyan, etc.”

c) TEORIA DA INSPIRAÇÃO PARCIAL, dinâmica = “A Bíblia só é


inspirada no espiritual e essencial, não na História, Ciência, etc. e no
que achamos ‘secundário’.” (2 Tm 3:16; Jo 3:12).
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O que é essencial? Aquilo que você gosta??!!! Isto é puro


subjetivismo louco! Como crer o maior (o espiritual, invisível, eterno)
de quem não creio o menor (material, tangível, histórico, efêmero)?
(Jo 3:12).

“A teoria dinâmica não explica, nem mesmo tenta explicar, como os


escritores poderiam estar possuídos de conhecimentos sobrenaturais
ao registrarem uma sentença e serem rebaixados a um nível muito
inferior na seguinte. Ela não nos dá a psicologia daquele estado de
espírito que pode se pronunciar infalivelmente sobre matérias de
doutrina, enquanto que se desvia a respeito dos fatos mais simples
da história. Ela não tenta analisar a relação existente entre as mentes
Divina e humana, que produz tais resultados.” (Marcus Dods, em A
Bíblia: Sua Origem e Natureza, 1912, pág. 122)

d) Teoria da inspiração só do pensamento principal, não das palavras


em si (Sl 138:2; Mt 5:18; 1 Co 2:13; 2 Tm 3:16). OBS: é o que ocorre
com as versões modernas/deturpadas da Bíblia, tais como: NVI, Bíblia
na Linguagem de Hoje, etc.

e) Teoria do “encontro místico” = “Aqueles que tiveram ‘encontros’


(experiências emocionais) com Deus (sic), escreveram a verdade sem
a Sua proteção, muito misturada com mitos e imaginações. Hoje, a
Bíblia não é, mas apenas contém a Palavra de Deus, que eu descubro
quando, num ‘encontro’ (» nirvana), percebo o que Deus tem por
baixo dos ‘mitos bíblicos’. Só então, ela se torna a Sua Palavra, para
mim.”

Isto é puro subjetivismo louco, levando às mais disparatadas


conclusões! (2 Tm 3:16)

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