Espiritualidade - Serviço ao Outro sem Deus?

 E ele terá respondido com outra pergunta: E como pode uma pessoa
com Deus
Conta Leonardo Boff, que num encontro com Dalai Lama, lhe perguntou qual era,
segundo ele, a melhor religião. Esperava talvez escutar um elogio do Budismo Espiritualidade - Serviço ao Outro
Tibetano... Mas não foi essa a resposta do líder oriental. A melhor religião
Conta Leonardo Boff, que num encontro com Dalai Lama, lhe perguntou qual era,
é aquela que ajuda você a ser uma pessoa melhor – respondeu o Lama. E, para
segundo ele, a melhor religião. Esperava talvez escutar um elogio do Budismo
não perder a viagem, Boff teria perguntado: e o que significa ser uma pessoa
Tibetano... Mas não foi essa a resposta do líder oriental. A melhor religião
melhor? E a resposta continuou simples e essencial: ser uma pessoa melhor
é aquela que ajuda você a ser uma pessoa melhor – respondeu o Lama. E, para
significa ser bom para você mesmo e para todas as pessoas e todas as
não perder a viagem, Boff teria perguntado: e o que significa ser uma pessoa
criaturas. Ser bom para si mesmo, para com os outros, para com todas as criaturas.
melhor? E a resposta continuou simples e essencial: ser uma pessoa melhor
É esse o selo que chancela a verdade da espiritualidade. Quando ela gera serviço,
significa ser bom para você mesmo e para todas as pessoas e todas as
doação, amorosidade, entrega. Pelos frutos conhecereis a árvore – diz o
criaturas. Ser bom para si mesmo, para com os outros, para com todas as criaturas.
Evangelho. A Espiritualidade que não se torna serviço tem algo viciado no
É esse o selo que chancela a verdade da espiritualidade. Quando ela gera serviço,
caminho. Há uma espiritualidade adolescente, baseada nas ideias de conquistar "o
doação, amorosidade, entrega. Pelos frutos conhecereis a árvore – diz o
meu ser", “a minha iluminação”, "a minha liberdade", "o meu êxtase". Mas a
Evangelho. A Espiritualidade que não se torna serviço tem algo viciado no
espiritualidade que chegou à maturidade, torna-se doação. Geralmente não fala em
caminho. Há uma espiritualidade adolescente, baseada nas ideias de conquistar "o
iluminação e nem em estados especiais, transpessoais, transcendentais. A vida se
meu ser", “a minha iluminação”, "a minha liberdade", "o meu êxtase". Mas a
abre aos outros (e não se fecha no eu) e o horizonte passa a ser colaborar para que
espiritualidade que chegou à maturidade, torna-se doação. Geralmente não fala em
os outros encontrem a felicidade, o caminho. Como alguém que descobriu que a
iluminação e nem em estados especiais, transpessoais, transcendentais. A vida se
liberdade se torna amor quando aprende a servir, a pessoa espiritualmente madura
abre aos outros (e não se fecha no eu) e o horizonte passa a ser colaborar para que
deseja cuidar e diminuir o sofrimento mediante seu serviço e sua intenção solidária.
os outros encontrem a felicidade, o caminho. Como alguém que descobriu que a
Deseja apenas ser humano e não exatamente uma pessoa iluminada. Sua virtude é
liberdade se torna amor quando aprende a servir, a pessoa espiritualmente madura
amorosa, materna, cuidadora, compassiva, ao contrário de servil e egoísta. A
deseja cuidar e diminuir o sofrimento mediante seu serviço e sua intenção solidária.
transformação espiritual é autêntica e significativa, quando nos permite mais
Deseja apenas ser humano e não exatamente uma pessoa iluminada. Sua virtude é
serviço e doação aos outros. Como diz um ditado budista, o que não é feito para o
amorosa, materna, cuidadora, compassiva, ao contrário de servil e egoísta. A
bem dos outros, não merece ser feito em primeiro lugar. E este olhar se torna
transformação espiritual é autêntica e significativa, quando nos permite mais
compaixão por si mesmo, pelo outro e por todas as criaturas. O Espírito de Deus
serviço e doação aos outros. Como diz um ditado budista, o que não é feito para o
dorme na pedra, acorda nas flores, movimenta-se nos animais e torna-se
bem dos outros, não merece ser feito em primeiro lugar. E este olhar se torna
consciente no ser humano – dizia um monge dos primeiros séculos. Essa presença
compaixão por si mesmo, pelo outro e por todas as criaturas. O Espírito de Deus
amorosa do Espírito de Deus, em tudo e em todos, acorda e atrai o olhar de
dorme na pedra, acorda nas flores, movimenta-se nos animais e torna-se
compaixão. A Espiritualidade Cristã é concreta, porque Deus é concreto – diz o
consciente no ser humano – dizia um monge dos primeiros séculos. Essa presença
papa Francisco. Perguntaram a José Saramago: Como pode uma pessoa ser boa
amorosa do Espírito de Deus, em tudo e em todos, acorda e atrai o olhar de

http://www.comunidadeshalom.org/artigo/
30/espiritualidade-de-servi-o-ao-outro
compaixão. A Espiritualidade Cristã é concreta, porque Deus é concreto – diz o
papa Francisco. Perguntaram a José Saramago: Como pode uma pessoa ser boa
sem Deus? E ele terá respondido com outra pergunta: E como pode uma pessoa
com Deus
ser má?  Este questionamento de um ateu confesso, certamente nos inquieta.
Talvez questione a Espiritualidade. Talvez nos pergunte qual o tipo de
espiritualidade que as pessoas que se dizem ‘com Deus’, na realidade vivem.
Talvez esse ‘ter Deus’ não tenha se tornado experiência, não tenha transformado a
pessoa... e por isso não se traduza num estilo de vida que espalha bondade. Uma
espiritualidade que não se traduz em amor-doação... se autoquestiona pela sua
autenticidade. Lembro de uma conversa de D. Aloísio Lorscheider, partilhando
uma viagem em que ele, com um grupo de outros Bispos brasileiros, andou pelo
Japão e fez várias palestras sobre Cristianismo em algumas Universidades. No final
de uma palestra, uma pessoa terá dito: gostamos muito da vossa religião, gostamos
do que vocês disseram sobre o Cristianismo... mas não queremos essa religião
para nós, porque o Brasil, que é um país tão cristão, é dos países onde há mais
desigualdade social. A Espiritualidade leva naturalmente a um compromisso
social, na criação de estruturas mais justas e fraternas, que expressem e sustentem
uma vida digna e abundante para todos. Não poderia esquecer o relato sacramental
de D. Hélder Câmara: conta-se que um dia, o bom velhinho, já idoso e cansado,
quando se preparava para ir dormir, tarde da noite, escutou alguém batendo na sua
porta. Ele foi atender, como sempre fazia com toda a sorte de gente que o
procurava em sua casa. E, pela porta semiaberta, ele viu o rosto de um homem e
pelo hálito, percebeu que ele estava alcoolizado. Sentiu o incômodo. A uma hora
destas, quando já se preparava para dormir, cansado... vem esse homem bêbado
importunar – sentiu dentro dele o bom profeta. Mas, logo de imediato, ele se refez
e, caindo em si, abriu aquele sorriso lindo e disse para o homem: Ah, Cristo... você
não me engana mais!
O EXAME DE CONSCIENCIA É PRECISO FAZERMOS; COMO NOS
PERCEBEMOS NO CRESCIMENTO ESPIRITUAL? VIVEMOS DE FATO A
http://www.comunidadeshalom.org/artigo/
30/espiritualidade-de-servi-o-ao-outro
ESPIRITUALIDADE DO CRISTIANISMO NO SERVIÇO QUE SOMOS
CHAMADOS A REALIZAR? CONNVERSAS...
Pe. Domingos Cunha, CSh
ser má?  Este questionamento de um ateu confesso, certamente nos inquieta.
Talvez questione a Espiritualidade. Talvez nos pergunte qual o tipo de
espiritualidade que as pessoas que se dizem ‘com Deus’, na realidade vivem.
Talvez esse ‘ter Deus’ não tenha se tornado experiência, não tenha transformado a
pessoa... e por isso não se traduza num estilo de vida que espalha bondade. Uma
espiritualidade que não se traduz em amor-doação... se autoquestiona pela sua
autenticidade. Lembro de uma conversa de D. Aloísio Lorscheider, partilhando
uma viagem em que ele, com um grupo de outros Bispos brasileiros, andou pelo
Japão e fez várias palestras sobre Cristianismo em algumas Universidades. No final
de uma palestra, uma pessoa terá dito: gostamos muito da vossa religião, gostamos
do que vocês disseram sobre o Cristianismo... mas não queremos essa religião
para nós, porque o Brasil, que é um país tão cristão, é dos países onde há mais
desigualdade social. A Espiritualidade leva naturalmente a um compromisso
social, na criação de estruturas mais justas e fraternas, que expressem e sustentem
uma vida digna e abundante para todos. Não poderia esquecer o relato sacramental
de D. Hélder Câmara: conta-se que um dia, o bom velhinho, já idoso e cansado,
quando se preparava para ir dormir, tarde da noite, escutou alguém batendo na sua
porta. Ele foi atender, como sempre fazia com toda a sorte de gente que o
procurava em sua casa. E, pela porta semiaberta, ele viu o rosto de um homem e
pelo hálito, percebeu que ele estava alcoolizado. Sentiu o incômodo. A uma hora
destas, quando já se preparava para dormir, cansado... vem esse homem bêbado
importunar – sentiu dentro dele o bom profeta. Mas, logo de imediato, ele se refez
e, caindo em si, abriu aquele sorriso lindo e disse para o homem: Ah, Cristo... você
não me engana mais!
O EXAME DE CONSCIENCIA É PRECISO FAZERMOS; COMO NOS
PERCEBEMOS NO CRESCIMENTO ESPIRITUAL? VIVEMOS DE FATO A
ESPIRITUALIDADE DO CRISTIANISMO NO SERVIÇO QUE SOMOS
CHAMADOS A REALIZAR? CONNVERSAS...

Pe. Domingos Cunha, CSh

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30/espiritualidade-de-servi-o-ao-outro