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14 Rev. de Letras. Fortaleza, 11 (2) : jul./dez. 1986 iloV, tl n l,f' Lrus. Fortaleza, 11(2): jul./dez. 1986 15
O mais comum desses sentimentos é o medo de falar. Se Nl1u nfl o, contudo, apenas as forças desconhecidas que
existe a convicção ou experiência de que os vocábulos têm unndtllttltllll o homem e lhe causam o medo de falar. Tudo o
poderes mágicos, é necessário respeitá-los e temê-los como •1110 o 1 111 c1 1, em diversas circunstâncias, leva-o a sobressal -
algo sagrado. Se fizermos um estudo dos costumes dos mais ilt!l, ft llllllllllc;no do perigo, da repugnância, dos maus pressenti-
diversos povos, chegaremos à conclusão impressionante de 11111111"'' I lltdo. em últ ima análise, não passa de uma questão
que em todos eles há tabus lingüísticos, ou seja, a proib ição du 1111\lllflj iOIH .
de dizer certos nomes aos quais se atribui poder sobrenatural
V11tl111 1 :1110 as tentativas de classificar essas atitudes de
e cuja infração causa infortúnio ou desgraça. Stephen Ullmann
""" dotlvnnl os tabus li ngüísticos. Para Havers (Guérios, ...
(1 964) e Mansur Guérios (1956) registram inúmeros exem·
l tl'di l'd , ontos estariam categorizados nos segui ntes itens: a)
pios. Assim, entre os masais da África, nunca se profere o ttllllll l'l dtl tltllrnais; b) nomes de partes do corpo; c) fogo; d)
nome de uma pessoa morta e, se houver algum vocábulo ho-
11l ,, 11111 ; o) doenças; f) nomes de deuses e demônios. Segun-
mônimo ou mesmo parônimo, este será logo substituído por
"" ~dtlplloll Ullmann (1964:426). os tabus de linguagem se di-
outro. Em certas tribos da Austrália, quando há extrema ne-
vld••tll 11 111 lrüs grupos, consoante a motivação psicológica que
cessidade, cita-se o nome do falecido, mas em voz muito baixa,
11 11 IIIIIJIIIIL uns são devidos ao medo, outros ao sentimento de
a fim de que o espírito não o ouça nem possa aparecer em
d11ll tifl dl t/ll , outros ainda ao decoro ou decência.
sonhos ou causar danos irreparávei s.
1\ vot d11dc. porém, é que a proibição ou o temor de usar
Entretanto, não só entre os selvagens, mas também entre lllllfl d11d11 oxpressão parte sempre da crença de que a lingua-
os civilizados supersticiosos , o nome é parte indissolúvel da "'"" 111 tlilll 11m poder capaz de nos subjugar de forma irreme-
personalidade de alguém. Não se deve empregá-lo em qualquer dttlvnl Por Iss o. freqüentemente, não proferimos o nome de
circunstância. Câmara Cascudo, no Dicionário do Folclore Bra- ' 111 1111• dooiiÇOS. Quantas pessoas não receiam pronunciar termos
sileiro, afirma: "Escrever o nome de alguém num papel e quei- ' 1111111 'dtwor, lepra, morféia ou epilepsia? Os próprios médicos
má-lo é de agouro certo. Colocar o nome escrito dentro de um dl :n111 C /\ . em vez de câncer; a gonorréia, o cancro e demais
formigueiro ou de um cup im, para que seja destruído , é outro ''''"ilt. 11'• vonóreas agora são conhecidas como "doenças sexual-
antigüíssimo processo da mágica simpática , tendo por base til~>tllll lt'IIIISmissíve is"; a lepra passou a ser denominada de
a onipotência do nome". lttlll /iU dllftwo; o povo costuma usar "doença do peito" por tuber-
Se essa atitude ocorre em face dos antropônimos, j á se ; 11hHit1 I os exemplos são incontáveis.
pode imaginar o grau de veneração e respeito aplicado aos Mrt•l n!1o 6 a substituição do tabu lingüístico por outra ex-
teônimos e hierônimos. Lemos no Deuteronômio (5, 11): "Não 1'1 0••11f1 11 ( 111eta lexismo) o único recurso com que imaginamos
pronunciarás o nome de Javé teu Deus em vão, pois Javé i i!l l rll ltlltlnos aos efeitos das palavras proibidas. Há uma plu-
não deixará impune o que pronunciar o seu nome em vão" t'l!lldlldll do outros artifícios, entre os quais destacamos:
Observa Stephen Ullmann (1964:427) que os judeus j amais se
referiam diretamente a Deus , usando sempre a palavra Senhor,
o que ainda persiste no inglês The Lord, no francês Seigneur d 1\ilu/toração fonética do vocábulo
e em muitas línguas modernas.
l(t lltom os referência às corruptelas de diabo. Analoga-
O mesmo se passa com o nome do Diabo, que em todas tit tit tl ll, ottl voz de desgraçado, dizemos desgramado, disgrama-
as línguas é substituído por circunlóquios e eufemismos. Em rli•. dhrJrn etc. Os palavrões geralmente estão camuflados na
francês existe a curiosa expressão "L.'Autre"; em português lilltlllll\l lllll das pessoas recatadas: Pocha, Pucha, Orra, Pô etc.
são incontáveis os metalexismos (termos que substituem um ll ti lllt i'IIIIO expressõe s curiosas como "vá pra ponte que caiu",
vocábulo- tabu), para evitar o emprego da palavra diabo. Além •ill •d tllpl o:J mente "pequepê".
dos eufemismos, há o recurso à desfiguração fonológica do Mttllo freqüente é também o fato de nomes estrangeiros
vocábulo, o que produz uma série de variações inventariadas 11dnrom fonologicamente a palavras obscenas do portu-
por Mansur Guérios (1956-76): diá, diacho , dialho, dialhe, diamo, ''"'''1 , 11 q11o necessariamente conduz à adulteração fonética. Foi ,
dianho, diangras, dianga, drale , dardo, diantro, diantre, diatre, I'"' tt•n111p lo, o caso de um mafioso italiano preso no Brasil,
diabre, diogo, nabo, droga, dubá etc. • 11i•• u t~lli"IIIIOmc, por questão de decoro, teve entre nós que ser
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pronunciado Busqueta. Não é raro que o nome seja alterado
por decisão judicial, mediante ação promovida pela parte inte- c) Substituição por gesto
ressada. Entre esses casos, cite-se que um japonês domiciliado
em Fortaleza, em cujo nome existia o vocábulo Ku, teve est e Muitas vezes silenciamos diante de determinadas circuns-
modificado judicialmente para Kô, em virtude dos argumentos lllllcias e o máximo que fazemos é apontar para alguma coisa
óbvios apresentados pelo advogado Dr. Pedro Maia. ou evento a cujo nome temos aversão. Em outras ocasiões, usa-
Outrora, na educacão dos seminaristas, muitos termos eram lltOS o gesto acompanhado de um termo sinônimo que cause
modificados apenas porque poderiam gerar certas conotações. 11rn efeito menos desagradável. O Conselheiro Acácio, persona-
Parece incrível, mas se dizia o "avor de Cristo" (em vez de fOm de Eça de Queirós, reflete bem essa preocupação: "não
amor); "no meio da Igreja Católica" (por seio); "a boca fala o clltla vomitar, fazia um gesto indicativo e empregava restituir".
(Oueirós, 1976:32).
que afunda no coração" (por abunda) etc. Costumava-se também
rasurar ou modificar algumas letras de vocábulos que os semi-
naristas chegassem a ler, o que produzia invariavelmente a d) Uso de signos dêiticos
curiosidade de saber a verdadeira pronúncia dos nomes rasu-
rados nos livros. também bastante comum que evitemos o nome de alguém
1 quem odiamos, mediante o emprego de pronomes: "não me
l11los nele", "o dito cujo", "já esqueci aquilo" etc. são expres-
b) Emprego de sinônimos oos que ouvimos a todo instante. Florival Seraine (Guérios,
I%G), observa que, no interior cearense, em vez do nome de
~ preciso ter em mente que não são os significados ou os CC JIIIlS doenças incuráveis, se diz "aquela doença". Mais curio-
referentes dos vocábulos (seres, doenças, objetos etc.) que 11 o o uso das expressões populares "lá nele" ou "lá nela" .
justificam a crença nos efei t os maléficos dos tabus lingüísti- I :wnonta o autor acima citado que alguém, ao proferir determi-
cos. Se assim fosse, também os sinônimos produziriam as ltodos vocábulos, teme que estes repercutam em seu próprio
mesmas conseqüências. Como ist o parece não acontecer, as 1 111 po, concretizando-se em si mesmo as doenças ou ferimentos
pessoas usam com a maior nat uralidade, sem medos ou maus 11111vos evocados pela pronúncia dos nomes . Para livrar-se de
pressentimentos, termos conceptualmente análogos às pala- lul porlgo, logo aponta para a parte de seu corpo, acrescentando
vras proibidas . Talvez este seja um dos motivos da existência 1 oxprossão "lá nele" ou "lá nela", como se estas fossem uma
de tantos sinônimos para o nome do diabo. "'' IH!clo de fórmula mágica.
Cumpre enfatizar que o contexto ou ambiente cultural é
fator determinante da interdicão de certos vocábulos. Temos o) Mudança no tom de voz
medo de pronunciar um palavrão dentro de uma igreja ou num
· velório, mas num estádio até o julgamos oportuno, quando a Nos diálogos, nas orações, nas mais variadas formas de
arbitragem não favorece o time pelo qual torcemos. 11 1111 cln linguagem, modificamos o tom de voz, chegando até à
Na realidade, o contexto estabelece todas as normas de p111 11 nrliculação das palavras sem emissão de qualquer som
tráfego da linguagem. Um mesmo vocábulo nunca poderá ser f 1 lru o que nem sempre se trata de uma precaução decorrente
empregado em todas as situações, ambientes ou classes so- d11 111odo dos efeitos de uma pronúncia bem audível. Mas com
ciais. Dizer publicamente uma verdade será algo muito arrisca- '''"llltl nc:la é o temor ou o respeito que motiva esse procedimen-
do, se as palavras forem duras ou inadequadas. Dessa forma , '" I l• t pnlovrões são expressos em quase sussurro em diversas
se um Ministro desvia verbas em seu benefício, só pelo fato ' ''' lltwt li ncias (nas relações amorosas, para algumas pessoas .
de ser Ministro, todos estaremos . proibidos de chamá-lo de ltJ[i tt ttlllll Onta a excitação). os nomes dos mortos ou de certas
ladrão. E quem, por ingenuidade ou i'mprudência, usar este termo, fit!PIII. II :l , os pedidos feitos a Deus, enfim, todos os sons a que
sofrerá severas punições. Para evitar essas conseqüências, um nltlltiiiiiHW olguma força ou poder imanente é emitido por nós
sinônimo como estelionatário até soa elegante e dignifica o '"'" 1111111 modulação especial da voz. Relata-nos Mansur Gué-
roubo do Ministro. Tudo, pois, uma simples questão de lingua- 1111•1 f l%!i :3G) que os indígenas da ilha de Chiloé, na costa me-
gem. tldlllltlll do Chile, jamais proferem os nomes de pessoa em voz
"''' ""' 111odo de que os espíritos lhes façam mal. Há tribos
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pronunciado Busqueta. Não é raro que o nome seja alterado
por decisão judicial, mediante ação promovida pela parte inte- c) Substituição por gesto
ressada. Entre esses casos, cite-se que um japonês domiciliado
em Fortaleza, em cujo nome existia o vocábulo Ku, teve este Muitas vezes silenciamos diante de determinadas circuns-
modificado judicialmente para Kô, em virtude dos argumentos 1/lncias e o máximo que fazemos é apontar para alguma coisa
óbvios apresentados pelo advogado Dr. Pedro Maia. ou evento a cujo nome temos aversão. Em outras ocasiões, usa-
Outrora , na educacão dos seminaristas, muitos termos eram lllOS o gesto acompanhado de um termo sinônimo que cause
modificados apenas porque poderiam gerar certas conotações. lllll efeito menos desagradável. O Conselheiro Acácio, persona-
fOI11 de Eça de Queirós, reflete bem essa preocupação: "não
Parece incrível, mas se dizia o "avor de Cristo" (em vez de
amor); "no meio da Igreja Católica" (por seio); "a boca fala o cll;la vomitar, fazia um gesto indicativo e empregava restituir".
(Oueirós, 1976:32).
que afunda no coração" (por abunda) etc. Costumava-se também
rasurar ou modificar algumas letras de vocábulos que os semi-
naristas chegassem a ler, o que produzia invariavelmente a d) Uso de signos dêiticos
curiosidade de saber a verdadeira pronúncia dos nomes rasu-
rados nos livros. também bastante comum que evitemos o nome de alguém
1 quem odiamos, mediante o emprego de pronomes: "não me
lnl os nele", "o dito cujo", "já esqueci aquilo" etc. são expres-
b) Emprego de sinônimos PHlOS que ouvimos a todo instante. Florival Seraine (Guérios,
I %G). observa que, no interior cearense, em vez do nome de
~ preciso ter em mente que não são os significados ou os co1lllS doenças incuráveis, se diz "aquela doença". Mais curio-
referentes dos vocábulos (seres, doenças, objetos etc.) que 11 o o uso das expressões populares "lá nele" ou "lá nela".
justificam a crença nos efeitos maléficos dos tabus lingüísti- I :ntnonta o autor acima citado que alguém, ao proferir determi-
cos. Se assim fosse, também os sinônimos produziriam as ltodos vocábulos, teme que estes repercutam em seu próprio
mesmas conseqüências. Como isto parece não acontecer, as 1111 po, concretizando-se em si mesmo as doenças ou ferimentos
pessoas usam com a maior natura lidade, sem medos ou maus IIIIVOS evocados pela pronúncia dos nomes. Para livrar-se de
pressentimentos, termos conceptualmente análogos às pala- lnl porigo, logo aponta para a parte de seu corpo, acrescentando
vras proibidas . Talvez este seja um dos motivos da existência 1 oxprcssão "lá nele" ou "lá nela", como se estas fossem uma
de tantos sinônimos para o nome do diabo. 1111ptit:lo de fórmula mágica.
Cumpre enfatizar que o contexto ou ambiente cultural é
fator determinante da interdicão de certos vocábulos. Temos o) Mudança no tom de voz
medo de pronunciar um palavrão dentro de uma igreja ou num
· velório, mas num estádio até o julgamos oportuno, quando a Nos diálogos, nas orações, nas mais variadas formas de
arbitragem não favorece o time pelo qual torcemos. 111111 dn linguagem, modificamos o tom de voz, chegando até à
Na realidade, o contexto estabelece todas as normas de 11111 11 nrliculação das palavras sem emissão de qualquer som
tráfego da linguagem. Um mesmo vocábulo nunca poderá ser f 1 lru o que nem sempre se trata de uma precaução decorrente
empregado em todas as situações, ambientes ou classes so- .!11 tnodo dos efeitos de uma pronúncia bem audível. Mas com
ciais. Dizer publicamente uma verdade será algo muito arrisca- '""fllfl nr.ia é o temor ou o respeito que motiva esse procedimen-
do, se as palavras forem duras ou inadequadas. Dessa forma , 111 I l•: pnlavrões são expressos em quase sussurro em diversas
se um Ministro desvia verbas em seu benefício, só pelo fato 1IH 1111111!\ncias (nas relações amorosas, para algumas pessoas,
de ser Ministro, todos estaremos . proibidos de chamá-lo de ltJIJ it lllltllOnta a excitação). os nomes dos mortos ou de certas
ladrão. E quem, por ingenuidade ou i'mprudência, usar este termo, [it_-ll, ti i.IHI, os pedidos feitos a Deus, enfim, todos os sons a que
sofrerá severas punições . Para evi ta r essas conseqüências, um nttllllllttlml alguma força ou poder imanente é emitido por nós
sinônimo como estelionatário até soa elegante e dignifica o 111111 1111111 modulação especial da voz. Relata-nos Mansur Gué-
roubo do Ministro. Tudo, pois, uma simples questão de lingua- ,,,.,1 f l%!i :3G) que os indígenas da ilha de Chiloé, na costa me-
gem. 11d1111111l do Chile, jamais proferem os nomes de pessoa em voz
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da Austrália em que todos os indivíduos possuem um nome se- LI 0 11/lll lftulçlío por disfemismos 'C os
creto, que só é pronunciado pelas pessoas do grupo e, assim
mesmo, em voz muito baixa. lltlll1 d t~!l provas mais convincentes de que as palavras proi-
!Jhlu" 111111 11/io nssim consideradas por causa do significado que
lt•ulll tll tll t unldo no fato de que, às vezes, costuma-se evitá-las
f) Substituição por eufemismos lllhdl!u11o o otnprego de uma expressão de teor bem mais cho-
ltln 1111 woo:Jolro. Dessa forma, surgem os disfemismos de
Para atenuar a repercuss ão de vocábulos tidos como inde- IIH! l 111 ~tluuulnnles exemplos na língua portuguesa. Para morrer,
corosos ou tabus, criam-se inúmeros eufemismos . Em vez do lhiPtll wq11oHuões populares como "bater as botas",4 "esti-
verbo parir, prefere-se dizer descansar, dar à luz. O medo de 11111 11 pultlll", "vestir o paletó de madeira" etc. Há vários disfe-
morrer talvez seja responsável por uma série de expressões lll ti tllt "' pmn o nome diabo: o chifrudo, o malvado, o bicho
eufêmicas: repousar, descansar em paz, exalar o último suspiro 1l/Ir• n 11 ·
sair desta para a melhor, partir para a outra vida, entregar a
alma a Deus, e assim por diante. Não raro se mudam os nomes h I t :lu ·unlóqulos
de pessoas, objetos ou lugares, quando se percebe que algo
a eles relacionado não anda bem. O Cabo das Tormentas passou I vldlllllo rn onte. o recurso às construções perifrásticas ou
a ser designado de Cabo da Boa Esperança. No Brasil, várias ci- Ílllttdttqlllnl o oora lm ente redunda em eufemismos que tentam
dades mudaram de nome por motivos análogos. Outras ainda jiltlltllt 11111 11 nobreza da linguagem. O falante culto diz, por
conservam, como é o caso de Passo Fundo, onde o cacófato t11pl11 , "•H III:l fo zo r a uma necessidade fisiológica". O homem
bem que deveria ser eliminado. 11tt1ll1 11, l11 1111 numos formalista, diante de um caso desses, usa
Conquanto não diga respeito à linguagem eussêmica, é o !11111111111 " 1;o1ll li cença da palavra" e diz o termo que conhece,
caso de aqui lembrar com Mervoyer (Ogden e Richards, .... 111 d111 llltllpO a que o ouvinte lhe conceda a licença.
1976:57). que Adriano VI, ao ser eleito papa, foi persuadido pelos 1(• o twc: rúpulo de empregar determinados vocábulos
Cardeais a não conservar o seu próprio nome, em virtude de liltil[1 !t 11111 l rtl barroquismo na linguagem culta que encontra-
que todos os papas que assim tinham feito haviam morrido no !llíth '"" nllllltiH escritores passagens que hoje parecem ridícu-
primeiro ano de pontificado. 3 IH H l'llttt 'llrtr somente um autor, registremos dois exemplos
Essa crença de que a palavra é responsável pelo sucesso h• 1\ln•llllt h o ll ercu lano. O primeiro traduz o vocábulo bunda
ou pelo azar, a nosso ver, é o motivo de constantes substitui- liill1 •1111 lltt!lllll{JOm polida, em geral é substituído por nádegas .
ções na linguagem . Recordem os que, num concurso para figu- ttllnlllllltt, o oscritor português preferiu elaborar o seguinte
. rinista de alta costura, patrocinado pelo então famoso costu- IH·ttnlttqltlo "l>ombag ina estufada de certa porção convexa da
reiro Denner, foi vitorioso um rapaz de incrível habilidade e 111" lllllllllttrt " (Bueno, 1964:137). O segundo dá outra versão
senso estético. Denner, porém, lhe deu o seguinte conselho: l'lllli 11 ettlll\1111 "of 6 que a porca torce o rabo". Como as pala-
"Se você quiser ter êxito, a primeira coisa que deve fa zer é HIII /111/t 11 11 miJo t6m conotações negativas, ele as evitou, es-
trocar de nome. Em vez de seu prosaico Sebastião, sugiro que 11!\l••lldtt "rtl ( > que certo animal torcia certa parte do corpo
a partir de agora você seja conhecido como Sebastian." Não llli! "" n o loltor sabemos" (Guérios, 1956:36).
teria sido um motivo semelhante o que recentemente levou o to OB recursos mais comuns que evidenciam a todo
governo argentino a mudar o peso pelo astral? Terá sido feliz lll!!liHHIIô_, nlll11dos de medo em relação ao emprego de certas
o governo brasileiro, ao escolher o nome cruzado com o pro- Hl , I] ti'HIO comportamento não é fruto exclusivo da igno-
pósito de fazer o povo esquecer o desmoralizado cruzeiro? lli 'lllttll rln 'll tporstição. A linguagem tem realmente um poder,
3. Aliás, a Igreja Católica nunca deixou de alimentar superstições quanto a 1 111 illth'" pllltlk11do na Revista da Academia Cearense de Lingua Por-
esse aspecto, a ponto de outrora o clero exigir dos pais que batizassem os tillllo .r• l I lo llto Mt·lo (1985:47-8), analisa diversas variações desse disfemis-
filhos com nomes de santos. Ainda hoje, acreditamos que qualquer vigário 1\lo tio ltHII' IIII IM npcnas as que nos parecem mais curiosas: "bater o
se recusaria a batizar uma criança com o nome de Hitler. E concordaría- !11111 1 11 r11n11 s lra", "bater o trinta e um", "virar presunto", "largar
mos plenamente com essa atitude negativa, porque o nome é um estigma luollll o bloco na rua", "dar o corpo aos vermes", "dar o couro
que acompanha a pessoa até depois de morta. 1 p11ru o bclcléu", "espichar a canela" etc.
R ev. de Letras. Fortaleza, 11 (2): jul./dez. 1986 lo l i ,u lo ltl!, l •'orLt~lcza, 11 (2) : jul./dez. 1986 19
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da Austrália em que todos os indivíduos possuem um nome se- 111 Ullll ll lftulçõo por disfemismos
creto, que só é pronunciado pelas pessoas do grupo e, assim
mesmo, em voz muito baixa. Llt tllt cl t~!l provos mais convincentes de que as palavras proi-
ltttlu rt 111111 n11o ossim consideradas por causa do significado que
lt ndlltnltl 1unldo no fato de que, às vezes, costuma-se evitá-las
f) Substituição por eufemismos lttlltlhlltl• • o on1progo de uma expressão de teor bem mais cho-
"'" 1111 111 o:wolro. Dessa forma, surgem os disfemismos de
Para atenuar a repercuss ão de vocábulos tidos co mo inde- I"" l 111 niHttHllltllos exemplos na língua portuguesa. Para morrer,
corosos ou tabus, cri am-se inúmeros eufemismos . Em vez do lhll'itl 11x p1 o:ltlõos populares como "bater as botas", 4 "esti-
verbo parir, prefere-se dizer descansar, dar à luz. O medo de 11 11 potnll ", " vestir o paletó de madeira" etc. Há vários disfe-
morrer talvez seja responsável por uma série de expressões lltl ti lllllll Plll'll o nome diabo: o chifrudo, o malvado, o bicho
eufêmicas: repousar, descansar em paz, exalar o último suspiro /111/lfiO Ol u.
sair desta para a melhor, partir para a outra vida, entregar a
alma a Deus, e assim por diante. Não raro se mudam os nomes lt I t :ltt •unluqulos
de pessoas, objetos ou lugares, quando se percebe que algo
a eles relacionado não anda bem. O Cabo das Tormentas passou I vldnlt l orn ontc, o recurso às construções perifrásticas ou
a ser designado de Cabo da Boa Esperança. No Brasil, várias ci- 1t1 ttttlt~qttlnl o oora lmente redunda em eufemismos que tentam
dades mudaram de nome por motivos análogos. Outras ainda '''' "'" ' 11111 11 ltobreza da linguagem. O falante culto diz, por
conservam, como é o caso de Passo Fundo, onde o cacófato 111pl11 , "•ll tll :l fo zcr a uma necessidade fisiológica". O homem
bem que deveria ser eliminado. 111 11 111 11 , '" ' " ' 1110nos formalista , diante de um caso desses, usa
Conquanto não diga respeito à linguagem eussêmica, é o '""""'" "Lotn li cença da palavra" e diz o termo que conhece ,
caso de aqui lembrar com Mervoyer (Ogden e Richards, .... 111 tl•u llltttpo a que o ouvinte lhe conceda a licença.
1976:57), que Adriano VI, ao ser eleito papa, foi persuadido pelos o twc rúpulo de empregar determinados vocábulos
Cardeais a não conservar o seu próprio nome, em virtude de 11111 l ol barroquismo na linguagem culta que encontra-
que todos os papas que assim tinham feito haviam morrido no '''" nl{llln:: escritores passagens que hoje parecem ridícu-
primeiro ano de pontificado. 3 1'11111 • IIm somente um autor, registremos dois exemplos
Essa crença de que a palavra é responsável pelo sucesso \ln•elltclto ll ercu lano. O primeiro traduz o vocábulo bunda
ou pelo azar, a nosso ver, é o motivo de constantes substitui- 11111 , '"" lllti iiHI{IOm polida, em geral é substituído por nádegas .
ções na linguagem . Recordemos que, num concurso para figu- llltnlllllllt, o oscritor português preferiu elaborar o seguinte
. rinista de alta costura, patrocinado pelo então famoso costu- ÍIHIIIittqlllll' "l>ombag ina estufada de certa porção convexa da
reiro Denner, foi vitorioso um rapaz de incrível habilidade e "'" lttlltlllllll " (Bueno, 1964:137). O segundo dá outra versão
senso estético. Denner, porém, lhe deu o seguinte conselho: 1'11111 " rtdfllflo "nf 6 que a porca torce o rabo". Como as pala-
"Se você quiser ter êxito, a primeira coisa que deve fa zer é ''~" ''''I' 11 o miJo têm conotações negativas, ele as evitou, es-
trocar de nome. Em vez de seu prosaico Sebastião, sugiro que " ti o que certo animal torcia certa parte do corpo
a partir de agora você seja conhecido como Sebastian." Não 11 loiiOr sabemos" (Guérios, 1956:36).
teria sido um motivo semelhante o que recentemente levou o 111 on recursos mais comuns que evidenciam a todo
governo argentino a mudar o peso pelo astral? Terá sido feliz tlllltd os de medo em relação ao emprego de certas
o governo brasileiro, ao escolher o nome cruzado com o pro- rnportamento não é fruto exclusivo da igno-
pósito de fazer o povo esquecer o desmoralizado cruzeiro? rstição. A linguagem tem realmente um poder,
3. Aliás, a Igreja Católica nunca deixou de alimentar superstições quanto a lt11 ittlh'" p11hlkndo na Revista da Academia Cearense de Lingua Por-
esse aspecto, a ponto de outrora o clero exigir dos pais que batizassem os ''"'"·'''' ll tlh• Ml"lo (1985:47-8), analisa diversas variações desse disfemis-
filhos com nomes de santos. Ainda hoje, acreditamos que qualquer vigário 11 1• tllltltii 'IIH IM npcnas as que nos parecem mais curiosas: "bater o
se recusaria a batizar uma crianca com o nome de Hitler. E concordaría- '"''' t 11 rrtnllstra", "bater o trinta e um", "virar presunto", "largar
mos plenamente com essa atitud~ negativa, porque o nome é um estigma lu•l rtt o hloco na rua", "dar o corpo aos vermes", "dar o couro
que acompanha a pessoa até depois de morta. r p lll'll o bclcléu", "espichar a canela" etc.
R ev. de Letras. Fortaleza, 11 (2): jul./dez. 1986 lo i ,u i' 1111. ft'orLtllcza, 11 (2) : jul./dez. 1986 19
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muitas vezes inexplicável, outras manipulado pelas próprias
pessoas. Os gauleses, segundo uma alusão de Luciano de Samo-
sata (Schaff, 1968: 118), representavam Hércules , o símbolo da
força, como um patriarca em cuja língua estavam atadas as ore-
lhas das pessoas. O significado dessa estranha representação
era o de que as correntes que amarravam os homens à língua
de Hércules eram apenas as palavras que fluíam de seus lábios
para as mentes das pessoas.
Se refletirmos bem nessa imagem, percebemos que todos
nós somos subjugados, condicionados, massacrados e oprimi-
dos pela manipulação da força das palavras num mundo insegu-
ro, cujo destino está menos nas mãos do que na língua dos
agentes do poder. Somos escravos das palavras que deles ema-
nam e, sem o sabermos, vivemos e morremos por elas. Demo-
cracia e liberdade são, por exemplo, dois termos maldosamen-
te preferidos para manter o estágio de nossa alienação. Malm-
berg comenta que tais vocábulos significam coisas diferentes ,
inclusive quase contrárias, em distintas partes do mundo. E ob-
serva que "em nome da liberdade e da democracia, muitos
povos são oprimidos e reduzidos a cinzas" (Campos, 1979-80:78).
Há poucos anos, argentinos e ingleses se destruíram na
Guerra das Malvinas e a razão não foi outra, (teria sido também
a força maléfica do próprio nome da ilha?), senão a palavra so-
berania. E no Brasil, após a queda dA João Goulart, mu itas pes-
soas foram perseguidas e até mortas pela imposição e subver-
são semântica de certos vocábulos. Hoje, já podemos dizer que
em 1964 houve um f!.-Oipe militar que implantou um regime de
ditadura. Mas antes ninguém podia falar assim, sob pena de ser
denunciado e preso. As palavras que nos impuseram fora m re-
volução, democracia e liberdade. E os brasileiros, como também
aconteceu em outros países, não deixaram de respeitosamente
sair em passeata , dando vivas à liberdade, de orelhas atadas à
língua dos poderosos, de onde emanava essa palavra vazia ou
repleta de todos os significados.
Não há dúvidas, pois , de que a história da humanidade sem-
pre foi e será determinada pelo poder de certos vocábulos , de
que resultam conseqüências por vezes desastrosas. Analisan-
do esse ângulo da questão, Apio Campos (1979-80:77) men-
ciona alguns eventos significativos. Lembra que a ousadia de
Lutero em traduzir a Bíblia para o alemão foi o quanto bastou
para provocar a cisão do cristianismo. Da mesma maneira, Des-
cartes , ao trocar o latim pelo francês em seu Discours de la
Méthode, fez que surgisse uma nova ordem de pensamento fi-
losófico, desligada da influência escolástica, e sem dúvida a
causa dessa revolução se deveu menos às suas idéias do que
20 Rev. de Letras. Fortaleza, 11 (2): jul./dez. 1986 l.iii •T•II. l•'nl'!,n lpzo., 11 (2): jul./dez. 1986 21
muitas vezes inexplicável, outras manipulado pelas próprias
pessoas. Os gauleses, segundo uma alusão de Luciano de Samo-
sata (Schaff, 1968: 118), representavam Hércules , o símbolo da
força, como um patriarca em cuja língua estavam atadas as ore-
lhas das pessoas. O significado dessa estranha representação
era o de que as correntes que amarravam os homens à língua
de Hércules eram apenas as palavras que fluíam de seus lábios
para as mentes das pessoas.
Se refletirmos bem nessa imagem, percebemos que todos
nós somos subjugados, condicionados, massacrados e oprimi-
dos pela manipulação da força das palavras num mundo insegu-
ro, cujo destino está menos nas mãos do que na língua dos
agentes do poder. Somos escravos das palavras que deles ema-
nam e, sem o sabermos, vivemos e morremos por elas. Demo-
cracia e liberdade são, por exemplo, dois termos maldosamen-
te preferidos para manter o estágio de nossa alienação. Malm-
berg comenta que tais vocábulos significam coisas diferentes ,
inclusive quase contrárias, em distintas partes do mundo. E ob-
serva que "em nome da liberdade e da democracia, muitos
povos são oprimidos e reduzidos a cinzas" (Campos, 1979-80:78).
Há poucos anos, argentinos e ingleses se destruíram na
Guerra das Malvinas e a razão não foi outra, (teria sido também
a força maléfica do próprio nome da ilha?), senão a palavra so-
berania. E no Brasil, após a queda dA João Goulart, muitas pes-
soas foram perseguidas e até mortas pela imposição e subver-
são semântica de certos vocábulos. Hoje, já podemos dizer que
em 1964 houve um e_olpe militar que implant ou um regime de
ditadura. Mas antes ninguém podia falar assim, sob pena de ser
denunciado e preso. As palavras que nos impuseram fora m re-
volução, democracia e liberdade. E os brasileiros, como também
aconteceu em outros países, não deixaram de respeitosamente
sair em passeata, dando vivas à liberdade, de orelhas atadas à
língua dos poderosos, de onde emanava essa palavra vazia ou
repleta de todos os significados.
Não há dúvidas, pois , de que a história da humanidade sem-
pre foi e será determinada pelo poder de certos vocábulos, de
que resultam conseqüências por vezes desastrosas. Analisan-
do esse ângulo da questão, Apio Campos (1979-80:77) men-
ciona alguns eventos significativos. Lembra que a ousadia de
Lutero em traduzir a Bíblia para o alemão foi o quanto bastou
para provocar a cisão do cristianismo. Da mesma maneira, Des-
cartes, ao trocar o latim pelo francês em seu Discours de la
Méthode, fez que surgisse uma nova ordem de pensamento fi-
losófico, desligada da influência escolástica, e sem dúvida a
causa dessa revolução se deveu menos às suas idéias do que
20 R ev. de Letras. Fortaleza, 11(2): jul./dez. 1986 l.nt i fl ll. l•'nrt.n i!'Zn, 11 (2) : jul./dez. 1986 21
problema do significado em linguagens primitivas" .
I I r,tti\V:J I: \ . 11 . "O
gem. Por isso, os governos têm medo de conceder a plena li- & RlCHARDS, I. A. O significado de significado.
l tll I tU itl N, t'. K.
berdade de expressão. Eles sabem que, eliminada a censura , .t 1111• du Jlllll.:iro, Zahar, 1976.
cria-se a possibilidade de que certas palavras adquiram força e J:I ( 1, ll o4 ll•, " llotll' r us bolas". In: Revista da Academia Cearense da Língua
terminem por transferir o poder a quem souber usá-las com / 1i'o ll!l llloil. rl Jloutolo.:za , 6 (6), 1985.
argúcia e tenacidade. Todas as revoluções do mundo foram re- I!I ' N, t_', 1\ 8: IU C IIARDS, I. A. O significado de significado. 2 ed. R io
voluções de palavras. Jesus Cristo, para implantar sua doutri-
lu Joi ll( li", :1.1111111' , 1976.
na, usou de parábolas. E, a fim de escolher um seu represen- \ll'llh'l!l, 1 1,11 dl•, O primo Basílio. São Paulo, Atica, 1976.
tante, outorgando-lhe, portanto, o dom de usar a energia das pa- 1111 Mi\NN , !do plil' tl . Semântica; uma introdução à ciência do significado. 4
lavras, mudou-lhe o nome de Simão para Pedro, determinando I I Í ~ Iuu1 . 1:1111d . Colousle Gulbenkian, 1964.
que do vocábulo pedra surgisse a Igreja de Deus, tal como do
Verbo foi criado o mundo. Para recordar apenas mais um exem-
plo, a Revolução Francesa só mudou o destino da humanidade
porque se gritou muito o lema Egalité, Liberté, Fraternité, numa
época em que a única palavra forte era a palavra do rei.
Agora, o mundo inteiro está controlado pelos modernos
meios de comunicação, parte de uma estrutura de poder que
controla os atos humanos em todos os sentidos. A massifica-
ção chegou a tal ponto que já somos quase incapazes de pensar .
desde que a todo instante nossas mentes são dominadas pelas
palavras ou mitos criados pelos donos do poder. Pensamos e
agimos em total submissão, alegremente alienados ou amar-
guradamente convictos de que o controle da linguagem é res-
ponsável pela manutenção da miséria e da fome das popula-
ções proibidas de falar. E essa proibição consiste simplesmen-
te em negar-lhes o direito à educação e ao desenvolvimento de
suas potencialidades criativas.
Calados e indefesos, diariamente ouvimos pela televisão
palavras que ameaçam e prometem para breve um holocausto
mundial. Ainda mantemos a esperança de que vocábulos co mo
amor e paz conservem a força suficiente para sustentar a vida
em nosso planeta. Porque , do contrário, a paz que existirá na
terra será a do silêncio total, talvez o mesmo vazio que deve
ter havido antes da invenção da palavra.
Referências Bibliográficas:
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