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Artigo Inédito

Classificação de pacientes para reabilitação


bucal implantossuportada
Rogério Gonçalves Velasco*, Pedro Velasco Dias**, Leandro Gonçalves Velasco***,
Cecilia da Rocha Brito****

Palavras-chave Resumo
Paciente. Implante dentário. O presente estudo tem a proposta de uma classificação de pacientes que se sub-
Classificação. meterão a implantes dentários para que se possa tratar cada caso com uma com-
plexidade diferente e atender as necessidades de cada paciente. A tabela proposta
mostra uma classificação completa de pacientes para a avaliação dos riscos possí-
veis para uma cirurgia de implante dentário. Dados foram registrados, de diversos
autores, relativos a gênero, idade, local de implante, qualidade de osso, volume de
osso, história médica, higiene, tabagismo e outros. Com esta finalidade, a presente
classificação de pacientes para cirurgia de colocação de implantes visa a realização
de uma cirurgia de implante com uma prévia avaliação do prognóstico, segundo o
risco e o caso particular de cada paciente.

* Doutorando em Implantodontia pela Faculdade São


Leopoldo Mandic, Campinas/SP. Professor coordena-
dor de Curso de Especialização em Implantodontia
do Instituto Velasco/Universidade São Marcos.
** Mestre em Prótese Dentária pela Unicastelo/SP. Es-
pecialista em Prótese Dentária pela OSEC/SP. Espe-
cialista em Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial
pela EAP-APCD/SP. Professor coordenador de Curso
de Especialização em Implantodontia do Instituto
Velasco/Universidade São Marcos.
*** Doutorando em Ortodontia pela Faculdade São Leo-
poldo Mandic, Campinas/SP. Especialista em Cirurgia
e Traumatologia Bucomaxilofacial. Professor de Curso
de Especialização em Cirurgia e Traumatologia Bu-
comaxilofacial do Instituto Velasco/Universidade São
Marcos.
**** Doutoranda em Ciência Odontológicas pela Faculdade
São Leopoldo Mandic, Campinas/SP. Diretora de
Pesquisas do Instituto Velasco.

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Introdução reconstruções são realizadas às custas das es-


Há muitos riscos envolvidos em um trata- truturas circunvizinhas. Nessas circunstâncias,
mento baseado em fixações osseointegráveis, os implantes dentários passaram a representar
já que se trata de uma reabilitação com uma um significativo papel à substituição dentária,
fase cirúrgica e uma fase final protética reabilita- sem que haja a necessidade de um maior envol-
dora. Envolve-se no tratamento diversas espe- vimento estrutural da área tratada1.
cialidades que se convergem na devolução da O paciente diabético apresenta muitas alte-
qualidade mastigatória e estética aos pacientes rações fisiológicas que diminuem a capacidade
envolvidos. E justamente por se tratar de diver- imunológica e a resposta inflamatória, aumen-
sas especialidades, temos que avaliar o pacien- tando a suscetibilidade às infecções4.
te em todos seus ângulos, a fim de encontrar Herrmann et al.11 acharam diferenças signi-
pontos frágeis ou desfavoráveis e guiar nosso ficantes ou fortemente significantes relativas a
tratamento de forma a eliminar tais situações, fracassos de implante como resultado de quali-
ou, numa hipótese desfavorável, contornar tais dade de osso maxilar, forma de mandíbula, com-
limitações. primento de implante, protocolo de tratamento,
Há um consenso na literatura de que exis- e combinações de características relacionadas
tem dois fatores que parecem exercer grande ao osso maxilar. Responsáveis clínicos e núme-
influência na hora de se indicar um tratamento ro de implantes que apóiam a restauração eram
com implantes: o hábito de fumar e uma higie- fatores que não puderam ser associados com
ne bucal inadequada . 20
fracasso de implante, concluindo que uma sele-
Lambert et al. referiram que riscos à saúde
13
ção do paciente parece ser de importância para
associados ao uso de cigarros têm sido exausti- taxas crescentes de sucesso de implante.
vamente documentados e incluem aumento da O desígnio de estudo e análise estatística
incidência de doença periodontal, de osteíte e são de importância ao comparar taxas de suces-
comprometimento da cicatrização das feridas so de várias investigações, que a dependência
produzidas pela hipóxia. Os autores sugeriram entre implantes no mesmo paciente e mandíbu-
que o aumento das falhas nos implantes em la exista e pode influenciar as taxas de sucesso.
fumantes são resultantes da cicatrização pobre Por conseguinte, é sugerida fortuitamente uma
ou falha na osseointegração. Referiram ainda seleção de cada paciente de implante que deve-
que o efeito do cigarro pode ser diminuído pela ria ser considerado ao calcular taxas de sucesso
cessação do fumo, uso de antibióticos e uso de de implante12.
membranas de hidroxiapatita. Por este motivo, o presente estudo tem a
Embora os trabalhos protéticos convencio- proposta de uma classificação de pacientes que
nais sejam a grande parcela dos trabalhos res- se submeterão a implantes dentários, para que
tauradores, é necessário reconhecer que essas se possa tratar cada caso com uma comple-

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Classificação de pacientes para reabilitação bucal implantossuportada

Tabela 1 - Fase de avaliação clínica.

Simplificado Avançado Complexo


Mandíbula posterior
Local de implantação Intermentuall Maxila anterior
Maxila Posterior

Qualidade óssea Tipo 2 e 3 Tipo 1 Tipo 4

4 a 8 elementos
1 a 3 elementos
Espaços múltiplos
Espaço edêntulo Sem inclinação dos dentes adjacentes em Mais de 9 elementos
Inclinação dos dentes em direção
direção ao defeito
ao defeito
2º Pré-molares Incisivos inferiores
Área desdentada Incisivos anteriores superiores
Molares Caninos e pré-molares

Mucosa saudável com alguma depo- Quadro de sangramento e perio-


Higiene Periodonto e mucosa saudáveis
sição de placa bacteriana dontite instalada

xidade diferente e atender as necessidades de pode causar lesões importantes, a região inter-
cada paciente. mentual é colocada como sendo bastante in-
teressante na reabilitação implantossuportada,
Classificação proposta tanto pelo seu acesso privilegiado, bem como
A presente classificação se baseia na Clas- pela boa área de trabalho e qualidade óssea.
sificação SAC da Sociedade Suíça de Implanto- Não foi aleatória a escolha desta área para pes-
dontia, idealizada em 1997 . Da mesma forma 2
quisas nos estágios iniciais da Implantologia e
que esta, as situações são classificadas como osseointegração, quando o uso do “Protocolo
casos simplificados, avançados e complexos. de Branemark” foi muito aplicado.
A presente classificação está sendo utilizada Já na região superior-posterior, encontra-
como auxiliar didático em cursos de Implantolo- mos os seios maxilares. Quando o paciente
gia oferecidos pelos autores. não apresenta nenhuma sinusopatia (sinusite,
Vamos dividir nossa classificação em uma sé- cistos de retenção, etc) não há grandes compli-
rie de tabelas, a fim de facilitar o entendimento. cações caso o assoalho do seio seja perfurado
Em um primeiro momento, a avaliação do durante o processo de instalação do implante.
paciente se dá somente de uma forma superfi- Claro que essa perfuração é relativa, na primeira
cial, sem necessidade de análise radiográfica ou broca (até 2,5mm) a perfuração é preenchida
exame de tecidos moles (Tab. 1). Por se tratar com coágulo, portanto não terá influência na os-
de um local pouco nobre, ou seja, não há estru- seointegração do implante. Já nas perfurações
turas anatômicas relevantes onde o profissional seguintes, existe um risco de contaminação do

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alvéolo recém criado. Em um seio contaminado seas, temos algumas considerações necessárias.
isso pode representar um problema, em seios Apesar de não ser possível classificar a qualida-
limpos já não temos tanta preocupação. Na de óssea através desse exame superficial, sa-
colocação de implantes que atravessam o as- bemos que existe uma probabilidade de encon-
soalho do seio, o risco de contaminação da su- trar osso mais denso na região intermentual,
perfície deste é grande, também atrapalhando a um osso bastante medular na porção maxilar
osseointegração. posterior e um osso de qualidade intermediária
Na região inferior-posterior temos a presen- na região anterior superior e posterior inferior.
ça do canal mandibular que orienta a passagem Utilizando a classificação de Lekholm e Zarb14
do feixe vásculo-nervoso (artéria e nervo alveo- colocamos a densidade óssea como sendo Tipo
lar inferior). Esse feixe entra na mandíbula atra- 1 o osso bastante cortical, cuja densidade vai
vés do forame mandibular, emerge do osso atra- diminuindo até chegar no Tipo 4, caracteriza-
vés do forame mentual, localizado usualmente do por ser extremamente medular. Osso com
entre os ápices dos pré-molares inferiores, e é qualidade do Tipo 2 ou 3 traz em sua consti-
justamente posterior a esse forame que reside tuição um volume ósseo medular relativamente
o risco na instalação dos implantes. Uma perfu- grande, tornando essas qualidades como as
ração que comprima ou corte o feixe vásculo- mais favoráveis à sua perfuração e instalação
nervoso pode causar uma seqüela (parestesia) dos implantes, com uma resistência adequada e
que, dependendo da gravidade da injúria, pode risco de necrose alveolar por sobreaquecimento
ser permanente ou temporária. A instalação dos reduzido.
implantes, portanto, deve ser muito bem avalia- Na qualidade óssea Tipo 1, pela área medu-
da, como veremos adiante. lar reduzida, apresenta um risco de aquecimen-
A abordagem da região anterior superior é to no momento da perfuração considerável, de
uma área que devemos ter um cuidado redobra- forma que devemos atentar para a qualidade
do, já que, pelos requisitos estéticos atuais, te- de corte das brocas a serem utilizadas e irriga-
mos situações onde a instalação dos implantes ção abundante. No osso Tipo 4, a preocupação
torna-se complexa, sobretudo quando avalia- maior deve ser a estabilidade inicial do implan-
mos as expectativas dos pacientes. Na questão te, já que este osso não apresenta nenhuma
anatômica, não temos áreas nobres envolvidas, qualidade cortical e seu trabeculado é amplo
a não ser o canal naso-palatino que, em situa- e muito vascularizado. O cuidado deve ser na
ções de extrema atresia óssea, fica muito aces- instrumentação do alvéolo, muitas vezes a ins-
sível a uma abordagem na área. A presença do trumentação deve ficar bem aquém do diâmetro
assoalho nasal traz as mesmas preocupações do implante, para que ele tenha uma estabilida-
que o seio maxilar na situação anterior. de inicial adequada.
Quando discutimos sobre as qualidades ós- A quantidade de elementos a serem reabili-

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Tabela 2 - Hábitos e condição sistêmica.

Simplificado Avançado Complexo

Não-fumante
Tabagismo Ex-fumante com menos de 2 anos Tabagismo ativo
Ex-fumante por mais de 2 anos

Depressão
Doenças associadas Hipertensão
Diabetes

Ansiedade
Esclarecido
Avaliação subjetiva Stress Expectativa maior que o normal
Expectativa normal
Expectativa excessiva

tados também deve ser levada em consideração, (Tab. 2). As informações obtidas por estes exa-
já que quanto maior a quantidade de ausências mes podem nos oferecer também contra-indi-
dentárias, mais complexa se torna a reabilitação, cações a um tratamento implantossuportado,
sobretudo quando levarmos em consideração o como por exemplo uma diabetes não diagnosti-
espaço presente/espaço necessário para a re- cada ou um quadro infeccioso não identificado.
posição dentária, já que ausências e desequilí- Neste momento fazemos também uma
brio oclusal levam à distalização/mesialização avaliação subjetiva do paciente quanto à sua
dos elementos adjacentes à área afetada. expectativa em relação do tratamento e correla-
A higiene também pode ser avaliada e pro- cionamos essas informações com a possibilida-
cedimentos como profilaxia ou mesmo um trata- de de se atender a essa expectativa. Pacientes
mento periodontal prévio ao tratamento implan- depressivos apresentam-se difíceis de se tratar,
tossuportado podem e devem ser indicados a muitas vezes devemos indicar tratamentos cor-
fim de minimizar riscos à reabilitação proposta. relacionados, a fim de se obter sucesso com
Uma boa leitura da anamnese e conversa nossa terapia.
com o paciente nos apresenta hábitos nocivos No momento da avaliação radiográfica/to-
associados, como o tabagismo, que é um gran- mográfica, antes mesmo de avaliar nosso pa-
de risco à Implantologia, bem como a presença ciente, devemos ver a qualidade da documen-
de doenças sistêmicas. Como protocolo à rea- tação oferecida. Radiografias pouco nítidas ou
lização de implantes, solicitamos como padrão leitura inadequada de tomografias fazem com
exames sorológicos para avaliação da condição que nossa análise seja invalidada por conta des-
sistêmica de cada paciente. Hemograma com- sa baixa qualidade nos exames. A recomenda-
pleto, coagulograma, curva glicêmica, além de ção padrão é utilizar sempre uma tomografia
exames infectológicos para hepatites e HIV são computadorizada para uma avaliação das estru-
os exames-padrão para todos os atendimentos turas ósseas. Os custos destes procedimentos

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Tabela 3 - Avaliação óssea.

Simplificado Avançado Complexo

altura óssea 12mm ou + 9 a 12mm menos que 9mm

largura óssea mais que 5mm entre 4 e 5mm menos que 4mm

não-crítico (3 paredes ou mais)


crítico (menos que 3 paredes)
tipo de defeito sem defeito levantamento de seio
perda em altura e largura
preenchimento de alvéolo

eixo de raízes próximas à falha paralelas, em posição normal eixos divergentes eixos convergentes

estão bem acessíveis e há muitas empresas que O material de enxertia a ser utilizado é de es-
oferecem esses exames com qualidade adequa- colha do profissional, não é motivo deste artigo
da. É importante salientar que uma tomografia avaliar quais as opções existentes nem qual é
utilizada para diagnóstico dentário não é a mes- mais indicado para cada situação (veja comen-
ma utilizada para diagnóstico médico, de modo tários da tabela 4).
que nossa leitura deve se atentar às estruturas Já a presença de dentes inclinados, cujas
dentárias e áreas adjacentes, apresentados de raízes interferem no espaço protético existen-
forma que possamos fazer a quantificação de te, deve ser avaliada a fim de se recomendar
tecido ósseo e planejamento de implantes. um tratamento ortodôntico prévio a qualquer
Com isso, a tabela 3 apresenta os itens que colocação de implantes. Nas situações onde
devemos avaliar neste momento. Uma condição os ápices dos dentes adjacentes à falha se
óssea ideal é aquela que se apresenta em uma aproximam, temos um grande risco de lesão
condição de instalação dos implantes que ofere- aos dentes, deixando o procedimento mais
cerá uma proporção coroa-raiz adequada, com- complexo.
primento e diâmetro do implante compatível com Implantes de duplo estágio são os implantes
a demanda mastigatória e mecânica exigida do mais comumente utilizados e os que apresen-
elemento a ser reposto, bem como a ausência de tam menores riscos pós-operatórios (Tab. 4).
falhas, defeitos ou rarefações ósseas. Há uma enorme variedade de implantes, pos-
Na presença de defeitos, devemos ter sem- sibilitando virtualmente a solução de qualquer
pre em mente sua correção, seja esta realizada situação clínica, mas cada variação desses im-
juntamente com a fixação osseointegrada ou plantes faz com que os procedimentos fiquem
mesmo previamente à instalação dos implantes. mais complexos, com mais riscos envolvidos.

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Tabela 4 - Fixações e zonas de estabilidade.

Simplificado Avançado Complexo

implantes de estágio único


modelo do implante implantes de duplo-estágio implantes de pequeno diâmetro implantes zigomáticos
implantes de pequeno comprimento

áreas enxertadas com enxertos em bloco


local de fixação rebordo alveolar áreas enxertadas com osso particulado
osso zigomático

osso autógeno de área próxima enxerto autógeno de sítio distante


associações de
sem enxertias enxerto aloplástico associação de membranas
enxertos
enxerto de preenchimento telas e parafusos de fixação

Tabela 5 - Avaliação dentária.

Simplificado Avançado Complexo

processo inflamatório gengival leve


condição periodontal e en-
área vizinha à falha sem presença de doença periodontal destruições coronárias por cáries
dodôntica adequada
cárie ou restauração mal-adaptada

elementos naturais bem posi-


pequena extrusão dentária extrusão onde será necessária endodontia
antagonista à falha cionados
comprometimento oclusal pequeno e restauração
prótese total

parafunção (bruxismo)
curva com pequena alteração
arco com curva adequada curva muito alterada
oclusão elementos mal posicionados sem compro-
sem quadro de dtm posicionamento dentário com comprometi-
metimento de função
mento de função

Da mesma forma, a colocação de implantes e simplificados, já fixações sobre enxertos ou em


em áreas enxertadas é sempre uma situação ossos distantes, como o osso zigomático, deixam
de maior risco. A qualidade óssea obtida, o vo- o procedimento cada vez mais complexo.
lume ósseo preservado e o quanto do material O uso de enxerto no momento da fixação
de enxertia ainda está presente no momento da dos implantes também deve ser avaliado, já que
instalação são fatores que devem ser avaliados oferecem um risco maior ao procedimento. Em li-
individualmente. Procedimentos que utilizam o nhas gerais, quanto maior a área a ser enxertada,
osso alveolar, sem enxertia, são mais previsíveis maior o risco e a morbidade do procedimento.

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Tabela 6 - Avaliação protética.

Simplificado Avançado Complexo

pf 4 a 8 dentes
pf até 3 dentes over sup
tipo de prótese pf edêntulo total
over inferior protocolo
unitários estéticos

resina acrílica in-ceram procera


material protético
metalo-cerâmica pilares de zirconia usinável cercon

comprimento da
de 8 a 12mm de 6 a 8mm menor que 6mm ou maior que 12mm
coroa dentária

encaixes de semi-precisão
tipo de fixação cimentada parafusada
associações

A avaliação dentária é essencial num trata- Presença de parafunção e dor são fatores
mento que visa justamente a reabilitação es- que devem ser eliminados antes de qualquer
tética e funcional através de duas fases, uma iniciativa para o uso de implantes.
cirúrgica e outra protética. Na fase cirúrgica Um tratamento implantosuportado deve
inicial, dentes adjacentes que se apresentam contemplar, no início de seu planejamento,
com lesões endodônticas ou periodontais che- como será o tipo de reabilitação final. E o ca-
gam até a impossibilitar a reabilitação. Já as minho que será tomado a fim de chegar a esse
condições de higiene e saúde das áreas ad- objetivo é o que dita todo o planejamento pré-
jacentes também deixam o tratamento mais cirúrgico.
complicado. Próteses pequenas demandam um planeja-
As avaliações quanto à área antagonista à mento menos complexo e com resultados mais
falha e a curva oclusal são necessárias para previsíveis. Áreas estéticas já são áreas cujo cui-
o correto planejamento protético. Extrusões dado na execução, independente da quantidade
dentárias e curvas muito acentuadas podem de elementos dentários, têm uma solução difícil
até impedir, inicialmente, a instalação de im- e exigem atenção e apuro técnico do profissio-
plantes, já que impedem a correção das cur- nal envolvido. Materiais estéticos atuais, como
vas mastigatórias e assim a reabilitação não sistemas CAD-CAM que utilizam zircônia para
terá uma resposta apropriada. Muitas vezes pilares e copings, oferecem resultados excep-
é necessário primeiro uma correção oclusal cionais, mas têm em suas fases de confecção
antes de iniciar um tratamento implantossu- uma grande complexidade e grandes custos
portado. envolvidos.

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Classificação de pacientes para reabilitação bucal implantossuportada

Tabela 7 - Avaliação estética.

Simplificado Avançado Complexo

sorriso gengival
altura do sorriso terço incisal dos dentes terço médio dos dentes
cervicais dentárias à mostra

trespasse pequeno, até 2mm grande, mais de 2mm

qualidade da
fibrosa com 4mm ou mais fibrosa com menos de 4mm flácida e delgada
fibromucosa

O tipo de prótese a ser utilizada também é Discussão


um fator de risco, já que próteses parafusadas Chuang et al.5 avaliaram, de maneira válida
são mais trabalhosas e quando não são reali- estatisticamente e eficiente, o fator de risco as-
zadas adequadamente podem sacrificar meca- sociado ao fracasso de implante dentário. Fato-
nicamente os pilares implantados. O compri- res de risco foram classificados como demográ-
mento da coroa clínica tem relação direta com fico, estado de saúde, implante, anatômico ou
o tipo de fixação protética e, da mesma forma, protético-específico, e variáveis de reconstrução.
interfere na complexidade do caso. A variável de resultado era fracasso do implan-
Avaliação dos requisitos estéticos é es- te. A conclusão a que chegaram foi que três
sencial para a implantologia nesta sua fase de do fatores identificados foram o uso de tabaco,
desenvolvimento. Apesar de estarmos extre- implantes imediatos, comprimento do implante
mamente avançados nas tecnologias que per- e podem ser modificados para aumentar sobre-
mitem ótima estética em próteses, ainda há vivência de implante.
fatores que variam de paciente para paciente. Vasconcelos et al.20 afirmaram que não exis-
Linha do sorriso e qualidade do tecido muco- te contra indicação absoluta na indicação de
so são itens essenciais para serem avaliados implantes em pacientes fumantes. Entretanto, é
antes de se oferecer um tratamento estético de se esperar alteração na cicatrização, e con-
implantossuportado. Há situações onde estes seqüentemente maior risco de perda de implan-
itens podem até inviabilizar um tratamento tes. Nesses pacientes é recomendado controle
com implantes e sugerir um tratamento pro- vigoroso da higiene bucal e deve-se motivá-los
tético convencional a fim de se obter melhor à cessação do uso do tabaco.
estética. Associar essas informações com as O risco do tabaco para o paciente, quanto
expectativas dos pacientes é essencial para à cicatrização do tecido do mesmo, foi avaliado
essa indicação. por muitos autores5,13,18,19,20, por este motivo

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nesta classificação o uso ativo do tabaco é vido à falta de estabilidade inicial na colocação do
considerado complexo e não impedimento. implante. Para que as falhas na colocação de im-
Dados foram registrados relativos a gênero, plantes sejam minimizadas o cirurgião deve estar
idade, local de implante, qualidade de osso, volu- apto a realizar modificações na técnica operatória
me de osso e história médica 6,15,17
. Esses autores de acordo com o tipo de osso encontrado.
obtiveram resultados de fracasso de implantes Falhas na terapia com implantes podem ser
em torno de 10% em seus estudos. atribuídas a um fator isolado ou a vários fatores
Morris et al.16 avaliaram diabetes Tipo 2 como associados. De acordo com a literatura revisa-
fator de risco significante ao desempenho clínico a da, as causas mais freqüentes de falha prema-
longo prazo de implantes dentários. Pacientes dia- tura foram infecções (seja por contaminação do
béticos Tipo 2 tendem a ter mais fracassos que os implante antes de sua inserção ou colocação do
pacientes não diabéticos; porém, a influência foi implante em sítio contaminado ou próximo de
marginalmente significante. Nesta tabela de classi- local infectado), qualidade óssea pobre e quan-
ficação, a diabetes não compensada é considera- tidade óssea insuficiente7. Esta classificação é
da fator de impedimento, pois é necessário que a necessária aos cirurgiões para a realização de
capacidade imunológica e a resposta inflamatória uma cirurgia de implante com a avaliação do
do paciente esteja boa para esta cirurgia. prognóstico segundo o risco do paciente.
Friberg et al. , baseados em dados obtidos
8
O grande desafio da Odontologia ao longo
de radiografias pré-operatórias, história médica do tempo tem sido o de restituir, ao paciente
do paciente e resistência do osso de mandíbula mutilado oral, a função, a fonética, o conforto e
durante perfuração, fizeram medidas de densida- a saúde do sistema estomatognático. Na Odon-
de de osso. O resultado do estudo mostrou que tologia tradicional, quanto mais edêntulo for o
a colocação de implante em pacientes em que paciente, mais difícil será alcançar plenamente
a densidade do osso mostrou osteoporose em esse objetivo. A Implantologia, a partir da técni-
espinha lombar e quadril e também textura de ca de osseointegração, veio suprir essa lacuna
osso local pobre pode ter êxito por um período na Odontologia, tornando-se uma alternativa
de muitos anos. Sendo assim, a osteoporose não terapêutica importante nas últimas décadas3.
é considerada fator de risco para colocação de Porém, aqueles pacientes que possuírem ex-
implantes dentários. pectativas maiores do que podem ser alcança-
Em uma pesquisa realizada por Frieberg et das são classificados como casos de impedi-
al. , a maior quantidade de perda de implantes, na
9
mento, pois este paciente não estará satisfeito
mandíbula foi em osso Tipo I, provavelmente devi- com nenhum tipo de melhora em seu caso e
do ao sobre aquecimento durante o preparo cirúr- tem necessidade que o tratamento vá além do
gico. E a maior quantidade de perda de implantes, que o caso permite.
na maxila, foi em osso Tipo IV, provavelmente de- Esses critérios usados e propostos no pre-

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Classificação de pacientes para reabilitação bucal implantossuportada

sente trabalho corroboram com os critérios Este guia também aponta algumas condições
propostos pela Cooporação de Compensação de saúde e médicas que devem ser considera-
de Acidentes de Neo-zelandeses 10
em 2004. das como contra-indicações e alguns hábitos e
Este grupo desenvolveu um guia de seleção doenças que não devem ser totalmente contra-
apropriado de pacientes para recebimento de indicados.
implantes dentários com os seguintes critérios
de seleção: reconstrução protética possível, Conclusão
tratamento deve ser consistente com o status A presente classificação de pacientes para
dental do paciente, condição periodontal satis- cirurgia de colocação de implantes visa a rea-
fatória, sem erosões ou lesões ulcerativas, sem lização de uma cirurgia de implante com uma
disfunção têmporo-mandibular, ou infecções prévia avaliação do prognóstico segundo o risco
bucais, o paciente deve ter idade acima de 21 e o caso particular de cada paciente, servindo
anos, com higiene adequada, sem bruxismo, e ainda de artifício didático para o ensino da es-
não pode estar grávida no caso de mulheres. pecialidade.

Classification of patients for implant supported buccal


rehabilitation
ABSTRACT

The present work has a proposition of a classification of pacients which will be submited to dental implant
surgery so that each case can be treated with unique complexity and atends to each pacients different
needs. The proposed table shows a complete selection of patients to evaluate the possible risks for a
dental implant surgery. Data were registrate from several authors relating gender, age, place of the implant,
bone quality, bone volume, medical history, higene, smoke habits and others, and with this objective the
presented classification of implant patients aims to a surgery performance with a preview evaluation of the
prognosis according to the risk and the individual case of each pacient.

KEY WORDS: Patient. Dental implantation. Classification.

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Rogério Gonçalves Velasco, Pedro Velasco Dias, Leandro Gonçalves Velasco, Cecilia da Rocha Brito

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