Você está na página 1de 32

CONCEITOS E FUNDAMENTOS DE

GERAÇÃO EÓLICA

MÓDULO VI – CONDIÇÕES AERODINÂMICAS


DE OPERAÇÃO DA TURBINA EÓLICA
SUMÁRIO

1. Rendimento de um Aerogerador.

2. Condições aerodinâmicas de operação da turbina eólica.

3. Características de desempenho da turbina eólica.


O rendimento máximo teórico dado pela equações de Bernoulli e a Lei de
conservação de massa é de 59,3% (Eficiência de Betz).
O rendimento de um aerogerador pode ser calculado pela equação a seguir:

  B .A .m .G

onde:
 = rendimento de um aerogerador;
B = eficiência teórica (Betz);
A = rendimento aerodinâmico (pás);
M = rendimento do multiplicador de velocidade (câmbio);
G = rendimento do gerador.
Com base no rendimento pode ser conhecida a potência do rotor [PMEC], dado
em Watts [W] ou kW, que é a parcela da potencia disponível no vento e captada
pelo rotor, que é dado pela expressão:

PMEC  B .A .P onde P é a potência contida no vento.

Com todos esses fatores podemos calcular o coeficiente de potência [Cp], que
exprime a porcentagem da potência disponível realmente aproveitada no eixo do
rotor, que é dado por:

Cp  B .A
onde:
B = eficiência teórica (Betz);
A = rendimento aerodinâmico (pás).
A mesma potência pode ser transferida com grande torque e pequena velocidade ou
pequeno torque e grande velocidade. As características torque-rpm do rotor devem
combinar-se com as características de torque-rpm da carga.
A figura ao lado mostra
uma curva típica de torque
versus velocidade angular
do rotor para duas
velocidades de vento V1 e
V2, com V2 maior que V1.
Verifica-se que o torque é
baixo para velocidade
angular igual a zero,
aumentando até um valor
máximo, e caindo
novamente quando o
rotor apenas flutua com
o vento. Torque de uma turbina eólica versus velocidade do rotor para
velocidade de vento V1 e V2
A figura ao lado mostra a curva de
potência correspondente. Como a
potência mecânica é o produto do torque
pela velocidade angular, a potência é nula
quando a velocidade do rotor é igual a
zero e quando a velocidade angular é
elevada e o torque é nulo.
A potência máxima é obtida a uma
velocidade do rotor situada entre os
pontos P1máx e P2máx para as velocidades
V1 e V2, respectivamente. Potência de uma turbina eólica versus velocidade do rotor para
velocidade de vento V1 e V2

Observa-se que a velocidade na qual ocorre a potência máxima não é a mesma


velocidade na qual ocorre o torque máximo.

A estratégia ótima de operação é controlar a carga no gerador elétrico, ajustando a


velocidade do rotor, de tal forma que o sistema opere, para cada velocidade de
vento, no seu ponto de máxima potência.
Experiência com turbinas indica que a operação com velocidade variável permite a
obtenção de 20% a 30% mais de energia com relação à operação com velocidade fixa.
a) Partida

Na partida, o rotor estaria parado. A velocidade do vento relativa à pá (W) fica


na mesma direção do vento não perturbado (V∞). O ângulo (Φ = ângulo de
fluxo = α + β ) entre W e o plano de rotação é de 90°. Maior parte da pá está na
condição de Stall (grande α).

Start up
b) Velocidade normal

Quando a velocidade do rotor aumenta, Φ = α + β decresce (α diminui).

O torque (Tq) atinge o valor máximo e após


a potência extraída alcança o máximo.
A figura mostra como a potência de saída e o Para outras velocidades de vento, varia
torque variam com a velocidade de rotação do conforme mostrado na figura abaixo:
rotor para uma velocidade de vento fixa.

(Tq)
Seleção do Ponto de Trabalho

O ponto de máxima potência (Pmáx) corresponde a uma velocidade de rotação (n0).


Este ponto é instável e por essa razão um ponto como P1 deve ser selecionado por sua
estabilidade.

Se (natual < n1)  (Patual > P1) Pmáx


P1
P2
há potência adicional disponível para
acelerar o rotor para n1.

Se (natual > n1)  (Patual < P1)

a potência disponível será menor do que a


requerida pela carga, o que desacelera o
rotor para a velocidade n1.

Pelos mesmos argumentos, mostra-se que


o ponto P2 é instável.
Diferenças qualitativas entre máquinas de baixa e alta velocidade

A figura indica qualitativamente a distinção entre máquinas projetadas para


bombeamento de água (baixa velocidade n ou λ) com uma adequada para gerar
eletricidade (alta velocidade n ou λ).

P = Tqω
P  Tq  
P = Tqω

(Tq)

n  n (rpm)
30
  n 2  n (rps)
Acoplamento da carga

O problema ocorre devido ao fato das características da saída de potência do rotor


mudar com as variações na velocidade do vento. O ponto de operação ótimo do rotor
se move e a carga deveria acompanhar essa característica.

Este não é o caso para as bombas alternativas. Por exemplo, um que a potência
requerida é linearmente proporcional à sua velocidade.
Seleção da faixa de velocidade de operação

Ao se projetar um sistema rotor eólico-carga, relaciona-se


uma velocidade de vento inicial (V = Vc), onde Vc
corresponde a Velocidade de cut-in, tal que abaixo dela não
exista torque necessário para operar a carga. Como a
potência produzida depende de V³, a perda de energia nestas
baixas velocidades é pequena.

A velocidade de vento terminal (V = Vf), onde Vf corresponde


a Velocidade de cut-out, (furling), para o rotor seria aquela
determinada pelos limites de resistência dos materiais
induzidos pelas forças mecânicas atuantes no rotor.

Para a geração de energia elétrica, é usual limitar-se à


potência total extraída a algum valor consideravelmente
menor que aquele que seria gerado na Vf. Esta potência
corresponde a uma velocidade de vento nominal (V = Vn = Vr
– Velocidade Nominal).

As velocidades de vento altas ocorrem menos


frequentemente, por isso não é viável instalar capacidade de
potência para aproveitá-las.
Mecanismo de Controle

Os mecanismos de controle destinam-se à orientação do rotor, ao


controle de velocidade, ao controle de carga, etc. Pela variedade de
controles, existe uma enorme variedade de mecanismos que podem ser
mecânicos (velocidade, passo, freio), aerodinâmicos (posicionamento do
rotor) ou eletrônicos (controle da carga).
Os modernos aerogeradores utilizam dois diferentes princípios de controle
aerodinâmico para limitar a extração de potência à potência nominal do
aerogerador. São chamados de controle estol (Stall) e controle de passo
(Pitch).
No passado, a maioria dos aerogeradores usavam o controle stall simples;
atualmente, entretanto, com o aumento do tamanho das máquinas, os
fabricantes estão optando pelo sistema de controle de passo (pitch), que
oferece maior flexibilidade na operação das turbinas eólicas.
Controle aerodinâmico de potência
É necessário limitar a potência fornecida pela turbina eólica para valores acima da
velocidade nominal do vento, valores estes que ocorrem um número limitado de horas
por ano.
Esta tarefa de regulação pode ser efetuada por meios passivos, isto é, desenhando o
perfil das pás de modo a que entrem em perda aerodinâmica – stall – a partir de
determinada velocidade do vento, sem necessidade de variação do passo, ou por meios
ativos, isto é, variando o passo das pás – pitch – do rotor.

As turbinas stall têm as pás fixas, ou seja


não rodam em torno de um eixo
longitudinal.

A estratégia de controle de potência


assenta nas características
aerodinâmicas das pás do rotor que são
projetadas para entrar em perda a partir
de uma certa velocidade do vento.
Uma vez que as pás estão colocadas a um dado ângulo de passo fixo, quando o
ângulo de ataque aumenta para além de um certo valor, a componente de sustentação
diminui, ao mesmo tempo que as forças de arrasto passam a ser dominantes.

Nestas condições, a componente N da força que contribui para o binário diminui: diz-
se, neste caso, que a pá entrou em perda (de sustentação).
Note-se que o ângulo de ataque aumenta quando a velocidade do vento aumenta,
porque o rotor roda a uma velocidade constante (Ut é constante).

As turbinas “pitch” têm a possibilidade de rodar a pá em torno do seu eixo longitudinal,


isto é, variam o ângulo de passo das pás, β.

A expressão analítica da variação de CP com λ pode ser modificada de modo a


contabilizar a variação do ângulo de passo β. Uma das expressões mais referidas na
literatura da especialidade é:
Para se conhecer o desempenho de um rotor, deve-se analisar as
características da sua curva Cp x λ. Para uma certa velocidade de vento, a
potência de saída seria dada por:

1 1
P  AV 3C p e o torque: Tq  AV 2 R.CTq
2 2

.R
2 .n.R .V
Onde:   ou n
V V 2 .R
n: velocidade de rotação da turbina;
 ou RV: velocidade específica ou Razão de Velocidade;
R: velocidade tangencial na ponta da pá;
R: raio da circunferência (comprimento da pá).
Sempre que a potência nominal do gerador é ultrapassada, devido à um aumento da
velocidade do vento, as pás do rotor giram em torno do seu eixo longitudinal; em outras
palavras, as pás mudam o seu ângulo de passo para reduzir o ângulo de ataque.

Esta redução do ângulo de ataque diminui as forças aerodinâmicas atuantes e,


consequentemente, a extração de potência do vento. Para todas as velocidades de
vento superiores à velocidade nominal, o ângulo é escolhido de forma que o
aerogerador produza apenas a potência nominal.

Sob todas as condições de vento, o escoamento em torno dos perfis das pás do rotor é
bastante aderente à superfície (Figura), produzindo, portanto, sustentação aerodinâmica
e pequenas forças de arrasto.
Vantagens do controle de passo (pitch):
 maior produção de energia;
 partida simples do rotor pela mudança de passo;
 não necessita de fortes freios para paradas de emergência;
 carga das pás do rotor decrescem com ventos acima da Pn;
 posição de embandeiramento das pás do rotor para cargas pequenas em
ventos extremos.
a) Controle de passo (pitch): sistema ativo que precisa de informação
vinda do sistema de controle.
b) Controle de Stall: sistema passivo que reage à velocidade do vento. As pás
do rotor são fixas em seu ângulo de passo e não podem girar em torno de seu
eixo longitudinal.
As pás são fixas no ângulo de passo que é escolhido de forma que, quando V
> Vn, o fluxo em torno do perfil da pá descola, reduzindo o Lift (L) e
aumentando o Drag (D).

Sob todas as condições de ventos superiores à velocidade nominal o fluxo em


torno dos perfis das pás do rotor é, pelo menos, parcialmente descolado da
superfície (Figura), produzindo, portanto sustentações menores e forças de
arrasto muito mais elevadas.
Para evitar que o efeito stall ocorra em todas as posições radiais das pás ao mesmo
tempo, reduzindo muito a Potência, as pás possuem uma pequena torção longitudinal
que levam a um suave desenvolvimento do stall.

Vantagens do controle de Stall:


 inexiste sistema de controle de passo;
 estrutura de cubo do rotor mais simples;
 menor numero de peças moveis (menor manutenção);
 domina o mercado mundial (necessita Vrotor = cte, gerador de indução direto na rede).
c) Controle de Stall Ativo

Em termos mundiais, o conceito de controle através de stall domina. A maioria


dos fabricantes utiliza esta possibilidade simples de controle de potência, que
sempre necessita uma velocidade constante do rotor, geralmente dada pelo
gerador de indução diretamente acoplado à rede.

Apenas nos dois últimos anos uma mistura de controle por stall e de passo
apareceu, o conhecido “Stall Ativo”. Neste caso, o passo da pá do rotor é
girado na direção do estol e não na direção da posição de
embandeiramento (menor sustentação) como é feito em sistema de passo
normais.

Vantagens:

 menores mudanças no ângulo de passo;


 possível controle da potência sob condições de potência parcial (ventos
fracos).
Exemplo: trace a variação de CP com λ, parametrizada para β = 0º, β = 10º e
β = 25º, usando a expressão analítica da equação dada.

A Figura mostra claramente que, para


um dado ângulo do passo da pá do
rotor, β, existe um valor de velocidade
específica, λ, que maximiza CP.

Por outro lado, conclui-se que o


rendimento aerodinâmico máximo
é obtido com β = 0, e que o mesmo
rendimento diminui com o aumento
do ângulo de passo β.
Nas turbinas do tipo pitch o sistema de controle do passo da pá ajusta o ângulo β,
pelo que é possível controlar o valor de CP.
Este controle só se encontra ativo quando a turbina entra na zona de potência
constante, ou seja, para valores da velocidade do vento superiores à velocidade
nominal (Vr) do vento (tipicamente acima dos 13-14 m/s).

Para estas velocidades do


vento, o sistema de
controle do passo atua de
modo a que o binário motor
produzido corresponda à
potência nominal, isto é,
provoca artificialmente,
através de uma adequada
inclinação da pá, uma
diminuição do binário.

Na zona de velocidades do vento inferiores à velocidade nominal do vento, o


ângulo de passo é mantido no valor zero.
Teoricamente seria possível manter o valor de λ no seu valor ótimo
(valor de λ para o qual CP é máximo), controlando a velocidade do rotor da
turbina em função da velocidade do vento, através do controle do ângulo do
passo das pás do rotor; contudo, verifica-se que o tempo de resposta do
sistema de controle do passo das pás do rotor é demasiadamente
elevado para acompanhar as variações de velocidade do vento.

Na prática, força-se (através do sistema de controle eletrônico do


gerador) a variação da velocidade do rotor da turbina, impondo um
binário de carga à turbina que conduza a rotação a uma velocidade tal
que mantenha λ no valor ótimo.

É este o princípio de funcionamento dos geradores eólicos de


velocidade variável.
A Figura ilustra a variação de β com a velocidade do vento, para as turbinas
do tipo “pitch”. Fora da zona de controle de potência o valor de β é nulo,
dependendo o valor de CP da velocidade específica da ponta da pá, λ.

Variação de β com a velocidade do vento, para as turbinas do tipo “pitch”.


β

Variação de β com a velocidade do vento, para as turbinas do tipo “pitch”.

 Para velocidades do vento abaixo de 13m/s (velocidade nominal – Vr): a pá


permanece com toda a sua superfície exposta ao vento, captando o máximo da
energia cinética (β é nulo).
 Para velocidades do vento superior à 13m/s: não é necessário que a pá esteja
frontalmente oposta ao vento para captar o máximo de energia. Ela gira alguns
graus, sofrendo menos pressão e desgaste.
 Para velocidades do vento superior à 25m/s (Cutout): Quando a velocidade do
vento está acima dos limites especificados de segurança para a máquina, a pá fica
com o perfil posicionado na mesma direção do ar em movimento. Assim, o vento
passa direto sem encontrar oposição e a máquina para.
Pontos relevantes entre turbinas de controle por Pitch e Staal

A favor do controle por stall joga, principalmente, a sua grande simplicidade devido à
ausência de mais partes em movimento; por isso é também mais barata. No entanto, a
sua implementação faz apelo a complicados métodos de cálculo aerodinâmico para
definir o ângulo de ataque para o qual a pá entra em perda. Este aspecto é crucial para
o desempenho deste método.
A favor da solução por meio
do controle de pitch jogam,
por exemplo, o bom controle
de potência, para todas as
gamas de variação da
velocidade do vento.
Na Figura comparam-se as
curvas de potência de
turbinas eólicas “stall” e
“pitch”: é visível que o
sistema de variação do
passo permite o controle de
potência muito mais fino.
Curvas de potência: pitch (Bonus) e stall (NEG Micon e Nordex) [DanishAssoc].
Por outro lado, a variação do ângulo de passo permite também a redução dos
esforços de fadiga com vento muito forte, porque, nessa situação, a pá
apresenta uma menor superfície frontal em relação ao vento.

No entanto, o grande acréscimo de complexidade, e o correspondente aumento


de custo, que esta solução acarreta são inconvenientes que têm de ser
ponderados.

Uma diferença fundamental entre as turbinas stall e pitch relaciona-se com a


capacidade de auxílio nos processos de partida e parada.
Na partida, quando a velocidade do vento é baixa, a turbina de pás fixas
não tem binário de arranque suficiente.

Torna-se necessário dispor de um motor auxiliar de partida ou, então, usar o


próprio gerador a funcionar como motor para trazer o rotor até à velocidade
adequada.

No processo de parada não é possível colocar as pás na posição ideal para


esse efeito, a chamada posição de bandeira, pelo que é exigido um sistema
complementar de travagem por meios aerodinâmicos, por exemplo, deflexão
de spoilers.

As turbinas pitch permitem que o processo de partida seja assistido,


porque o ângulo de passo pode ser variado de modo a conseguir um giro
do rotor até à velocidade de rotação nominal. A frenagem também é
melhorada, porque se o passo das pás for tal que φ = 90 º (posição de
bandeira), o rotor move-se lentamente, e o sistema de frenagem
aerodinâmica pode ser dispensado.

Você também pode gostar