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Sinopse

Tudo estava escuro, senti algo me incomodando,


quando abri meus olhos, percebi que estava em um
ninho com mais dois irmãos, eu era um Falcão Pere-
grino. Com o passar do tempo, fui me desenvolvendo
até decidir pular do ninho para conseguir voar e co-
nhecer o mundo.
Quando levantei voo, conheci um mundo extraordi-
nário cheio de belas criações, mas em um certo local
o mundo não era assim.
Pessoas andavam desesperadamente de um lado
para o outro, tudo parecia muito confuso neste
mundo, onde era para existir amor e união tudo o que
eu percebia era medo e insegurança.
Decidi então estudar esses seres mais de perto para
tentar entender porque eles se comportavam dessa
maneira, mas em pouco tempo vi o suficiente para de-
sistir e voltar a viver minha vida longe desse caos.
O tempo foi passando, conheci uma Falcão Pere-
grina e constituímos uma família. Meus dias estavam
chegando ao fim, o que eu nunca imaginava era o que
viria após minha morte.
Vamos embarcar junto nesse pequeno conto para
refletirmos sobre a vida e nossa recompensa por ser-
mos boas pessoas.
O autor

Fausto Luiz Pizani é um estudante de teologia, fi-


losofia, religiões e ciências naturais. Seu objetivo
como ser humano é levar conhecimento ao maior
número de pessoas possíveis através de seus peque-
nos escritos e contos, desenvolvendo assim, um
maior entendimento sobre a vida por parte de seus
leitores.

Seus livros digitais são de fácil acesso a todos


aqueles que queiram aumentar seu conhecimento so-
bre Deus, o universo e a vida.

Misturando filosofia, teologia, ciência, religiões e


autoajuda, Fausto tenta despertar em seus leitores a
curiosidade de sempre se questionarem e refletirem
sobre a existência e qual o nosso papel como seres
humanos nessa jornada.

Fausto acredita que o amor é a maior força pre-


sente no universo e que devemos sempre espalhar
esse sentimento por toda parte e para todas as pes-
soas e seres viventes que habitam conosco neste pe-
queno planeta chamado Terra.

Pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e encontrareis; batei, e


abrir-se-vos-á. – Jesus Cristo.
O paraíso de Andy

Parte um

Tudo estava escuro, sinto algo se esbarrando em


mim, aos poucos fui conseguindo abrir os olhos e
quando vi pela primeira vez, eu estava em um ninho
dividindo o espaço com mais dois irmãos. Eu era um
Falcão Peregrino, uma ave extremamente veloz, mas
que ainda não tinha aprendido a voar.
Enquanto minha mãe cuidava de nós, meu pai saía
para caçar alimentos para nosso desenvolvimento e
sustento. Éramos uma simples família de pássaros co-
muns. Morávamos em cima de uma colina, eu conse-
guia ver toda a paisagem a quilômetros de distância,
aquilo me fascinava, eu não via a hora de pode voar
como meu pai para explorar o mundo e isso não de-
morou muito para acontecer.
Conforme fui crescendo, começou a ficar difícil di-
vidir o ninho com meus outros irmãos, quando per-
cebi que já tinha uma estrutura desenvolvida, arris-
quei pular do ninho. Fui me debatendo e caindo, achei
que não conseguiria, mas após muito esforço eu le-
vantei voo.
Que sensação incrível era aquela, do alto eu obser-
vava tudo, as colinas, a floresta, os outros animais e
aves. Tudo o que existia eu conseguia enxergar. Mi-
nha audição era perfeita, pássaros cantavam o tempo
todo e eu conseguia escutá-los. Tudo era perfeito aqui
de cima, fiz um voo bem longo até o pôr do Sol, como
era deslumbrante observar aquela esfera brilhante se
escondendo no horizonte. Tudo era muito lindo, eu
podia sentir o cheiro da natureza e a harmonia da exis-
tência, eu não tinha ideia de quem havia criado tudo
isso, mas percebi facilmente que era um criador per-
feito, as paisagens, as flores, os animais em movi-
mento, tudo o que eu tinha presenciado até esse exato
momento me deixou perplexo.
A noite foi chegando, eu precisava de um lugar para
me refugiar, escolhi o alto de uma montanha, era se-
guro e aconchegante, ao anoitecer, pude presenciar
todos os astros no céu, era como se tudo o que exis-
tisse fizesse parte de um plano divino e eu era uma
pequena fração disso tudo.
Lentamente fui acordando ao amanhecer. Estava
com fome, nunca tinha caçado antes, mas sabia que
cedo ou tarde isso iria acontecer.
Levantei voo rapidamente, de longe pude avistar
um pequeno pombo, por mais que eu não quisesse
atacá-lo, eu não tinha escolha. Persegui o animal com
uma velocidade incrível, quando ele pensou em fugir
já estava preso em minhas garras, levei ele até uma
pequena colina e me alimentei de sua carne, repus to-
das as energias de que precisava, mas confesso que
não me senti bem matando outro animal, será que
existia um predador que me atacaria um dia também?
Era o que eu me perguntava.
Passeando pela floresta, de longe avistei um espaço
de terra diferente. Fumaças saiam de enormes chami-
nés, veículos circulavam pelas ruas, humanos anda-
vam desesperadamente de um lado para o outro como
se estivessem atrasados para realizar alguma ativi-
dade, decidi ver isso mais de perto, então resolvi fazer
uma viagem até esse lugar que era desconhecido para
mim.
Eu estava bem acima de uma cidade, mas minha vi-
são e audição apuradas conseguiam captar tudo o que
estava acontecendo lá em baixo.
A maioria das pessoas pareciam estar assustadas,
elas mal se cumprimentavam, viviam andando rapi-
damente com bolsas, pastas e outros tipos de acessó-
rios nas mãos. Observei também um grande número
de prédios enormes e templos de adoração que
provavelmente foram construídos para adorar algum
Deus, creio que o mesmo Deus que me criou.
Sentado no banco de uma praça, um senhor estava
praticamente alterado, provavelmente sobre efeito de
alguma substância que eu não conhecia. Ele vestia
roupa sujas, a barba era longa e o cabelo todo desar-
rumado. Cada pessoa que passava ele estendia sua
mão e pedia uma esmola, acredito que isso era algum
tipo de ajuda que alguém poderia lhe oferecer, mas
infelizmente todo mundo negava.
Em uma outra parte da cidade, enormes construções
lançavam no ar uma fumaça tóxica que eu poderia
sentir seus efeitos de longe, os veículos também fa-
ziam isso. Eu não sabia se isso era normal ou não, mas
tinha certeza de que não era bom.
Eu queria entender mais sobre esses seres, o que
eles pensavam, como agiam, porque estavam todos
desesperados, porque transformar esse maravilhoso
mundo em um caos?
O Sol já estava se pondo, percebi que nesse horário
o movimento não era tão assustador. Ao observar um
templo, percebi que uma quantidade razoável de pes-
soas estava entrando nele, fiquei curioso para saber o
que acontecia ali dentro, então voei mais próximo e
repousei em uma árvore a alguns metros de distância.
Mesmo um pouco longe, minha audição captava tudo
o que estava acontecendo lá dentro.
Primeiro o que ouvi foram cânticos e louvores, de-
pois algumas sentenças falada por alguma pessoa,
após isso um homem de voz calma e pacifica come-
çou a falar sobre um ser que viveu na Terra e que dei-
xou os maiores ensinamentos para que a humanidade
vivesse em paz. Seu nome era Jesus, esse homem de-
clarava que Jesus foi algum tipo de Deus, ou pelo me-
nos de origem divina, mas não foi essa parte que me
tocou.
Em certo ponto da reunião, esse homem começou a
pregar os ensinamentos desse mestre, o homem dizia
que Jesus veio para redimir a humanidade do pecado.
Quando estava na Terra, pregou que amassemos uns
aos outros como ele nos amou. Seu amor pela huma-
nidade foi tão grande que ele deu sua vida pelo que
acreditava e prometeu a vida eterna para quem nele
cresse.
Ao continuar, disse que Jesus nos ensinou a sermos
humildes, ajudarmos os pobres, tratarmos de forma
igual nossos semelhantes, pregar a paz e o amor em
todos os lugares e levar seus ensinamentos a todas as
pessoas do mundo.
Após dizer isso, o locutor pediu silêncio para citar
uma passagem que Jesus havia nos deixado, segundo
ele, era um dos seus maiores ensinamentos, então o
locutor começou a falar dizendo: “A herdade de um
homem rico tinha produzido com abundância;
E arrazoava ele entre si, dizendo: Que farei? Não te-
nho onde recolher os meus frutos. E disse: Farei isto:
Derrubarei os meus celeiros, e edificarei outros mai-
ores, e ali recolherei todas as minhas novidades e os
meus bens; E direi a minha alma: Alma, tens em de-
pósito muitos bens para muitos anos; descansa, come,
bebe e folga. Mas Deus lhe disse: Louco! esta noite te
pedirão a tua alma; e o que tens preparado, para quem
será? Assim é aquele que para si ajunta tesouros, e
não é rico para com Deus. E disse aos seus discípulos:
Portanto vos digo: Não estejais apreensivos pela
vossa vida, sobre o que comereis, nem pelo corpo, so-
bre o que vestireis. Mais é a vida do que o sustento, e
o corpo mais do que as vestes. Considerai os corvos,
que nem semeiam, nem segam, nem têm despensa
nem celeiro, e Deus os alimenta; quanto mais valeis
vós do que as aves? E qual de vós, sendo solícito,
pode acrescentar um côvado à sua estatura? Pois, se
nem ainda podeis as coisas mínimas, por que estais
ansiosos pelas outras? Considerai os lírios, como eles
crescem; não trabalham, nem fiam; e digo-vos que
nem ainda Salomão, em toda a sua glória, se vestiu
como um deles. E, se Deus assim veste a erva que
hoje está no campo e amanhã é lançada no forno,
quanto mais a vós, homens de pouca fé? Não
pergunteis, pois, que haveis de comer, ou que haveis
de beber, e não andeis inquietos. Porque as nações do
mundo buscam todas essas coisas; mas vosso Pai sabe
que precisais delas. Buscai antes o reino de Deus, e
todas estas coisas vos serão acrescentadas. Não te-
mais, ó pequeno rebanho, porque a vosso Pai agradou
dar-vos o reino. Vendei o que tendes, e dai esmolas.
Fazei para vós bolsas que não se envelheçam; tesouro
nos céus que nunca acabe, aonde não chega ladrão e
a traça não rói. Porque, onde estiver o vosso tesouro,
ali estará também o vosso coração.” – Lucas 12:16-
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Após ouvir tudo aquilo, eu fiquei emocionado.
Como pode um humano, pelo pouco que eu conheci
deles, nos deixar um ensinamento assim? E como
pode esse grande número de pessoas procurar por
uma fé ou salvação diante desse mestre, sem fazer o
que ele nos deixou como lição? Tudo estava confuso
em minha cabeça e para piorar, ao terminar a reunião
havia um mendigo em frente o templo pedindo esmo-
las alegando que estava com fome, mas ninguém o
atendeu, nem se quer uma pessoa. Isso me deixou
muito triste, como as pessoas podiam seguir Jesus,
que deu a vida por elas e serem hipócritas a ponto de
não fazerem nada do que ele nos ensinou? Isso me
deixou mais intrigado e decidi estudar um pouco mais
esses seres chamados humanos.
Ainda era cedo, o movimento nas ruas agora era
mais calmo, em alguns lugares coloridos e aparente-
mente divertidos, uma quantidade razoável de pes-
soas se agrupavam para celebrar algum tipo de con-
quista. Fiquei de longe observando e ouvindo o que
elas diziam, elas falavam em carros, casas, perfumes,
roupas e joias, basicamente eram pessoas materialis-
tas, nenhuma delas tinha interesse em saber do pró-
ximo, elas queriam fama e status para vida delas e o
pior disso tudo é que uma grande parte dessas pessoas
frequentavam aquele templo que observei. Agora eu
comecei a ter uma noção porque de dia todos anda-
vam rapidamente sem muito entusiasmo, elas se ma-
tavam de trabalhar para que com o dinheiro recebido,
alimentassem o vazio que existia dentro delas através
de compras e luxo.
Outras pessoas falavam mal da vida dos outros, tal-
vez por serem negativas demais para iniciar um as-
sunto positivo, viviam pregando a maldade e discór-
dia entre os mesmos seres. Como isso era possível?
Uma raça que criava máquinas complexas e que er-
guia templos enormes serem tão egoístas assim? Tudo
isso estava confundindo minha cabeça, a madrugada
foi chegando, depois de um dia todo de observações
eu precisava de descanso. Retornei a colina e tive uma
noite de sono bem agitada, algo em mim estava
inquieto, e o pior de tudo, eu não poderia fazer nada
para mudar.
Acordei no dia seguinte, decidi fazer um passeio
maior pela cidade a fim de encontrar algum vestígio
de bondade nas pessoas. Depois que aprendi sobre Je-
sus, comecei a acreditar que ainda poderiam existir
pessoas de coração nobre no mundo.
Subi o mais alto que pude pela cidade. Com minha
impressionante visão, eu enxergava tudo lá de cima.
As pessoas continuavam com pressa, era como se elas
fossem obrigadas a realizarem algo que elas não que-
riam, eu percebia na face delas o descontentamento.
Numa rua qualquer, observei uma senhora bem ve-
lhinha tentando atravessar uma avenida, ela tinha di-
ficuldade em andar e a rua era movimentada. Um jo-
vem chegou até ela e a pegou pelo braço ajudando
atravessar a rua. Aquilo me deixou feliz, ainda tinham
pessoas boas no mundo. Em um outro ponto da ci-
dade, homens fardados estavam em guerra com ado-
lescentes fortemente armados. Rajadas de tiro saiam
de todos os lados, meu Deus, o que era aquilo. Muitos
jovens foram feridos e os homens fardados que eram
chamados de policiais também, alguns não resistiram
e morreram. O que eles estavam fazendo? Por que es-
tavam matando uns aos outros? Eu já não conseguia
entender mais nada, o que eu me perguntava era como
as pessoas conseguiam ser felizes em um mundo
assim. Será que elas não percebiam que aqueles jo-
vens e policiais morrendo poderiam ser elas? Será que
elas realmente não podem fazer nada a respeito disso?
Eram muitas dúvidas em minha mente, por que um
animal como eu vivia em paz enquanto esses seres
dotados de inteligência e sentimentos estavam sempre
em conflitos?
Eu já estava cansado, decidi voltar embora para flo-
resta, no caminho encontrei um casal de jovens se
abraçando e trocando carinhos, não era isso que as
pessoas deveriam estar fazendo? Se amando e contri-
buindo para transforma nosso mundo em um lugar
melhor? Por que enquanto uns se amavam outros se
odiavam? Por que toda essa guerra desnecessária? Eu
já não tinha mais o que pensar, acredito que tudo o
que vi já era necessário para uma vida inteira, eu era
um Falcão Peregrino e nada do que eu fizesse mudaria
o mundo.
Decidi voltar e permanecer na floresta, no alto dos
montes. Ainda me restava bastante tempo de vida, eu
era jovem e sentia que tinha alguma missão a fazer.
Escutei o canto de uma ave, era uma ave como eu só
que fêmea, disparei em alta velocidade atrás dela, jun-
tos fizemos uma dança no ar com cantos e movimen-
tos acrobáticos, nesse momento eu estava me esque-
cendo de tudo, senti minha consciência livre e feliz.
Ficamos juntos pela noite toda, tivemos 2 lindos
filhotes e permanecemos juntos até o fim. Com o pas-
sar do tempo eu fui envelhecendo e sabia que iria
morrer. Eu já não tinha mais aquela disposição para
voar como antigamente, mas eu agradecia mesmo as-
sim. Por mais que eu estivesse com dó dos humanos
a minha vida foi maravilhosa e sempre fui grato a
quem me criou por me dar essa chance de viver.
No outro dia, acordei bem cedo, senti que aquele
seria meu último dia e aproveitei para fazer um último
voo, me despedi de minha companheira e sai voando
o mais alto que eu pude a uma enorme velocidade.
Decidi que queria ir de encontro ao Sol e quando
menos esperei, eu já não existia mais nesse mundo.

Parte dois

Abri meus olhos, tudo o que enxerguei foi uma luz


branca reluzente como um diamante, era uma luz cris-
talina que não tinha forma alguma. Eu também não
tinha forma, mas sabia que estava lá, confuso e assus-
tado perguntei:
- Quem está aí?
-Seu criador, respondeu uma voz.
- Onde estou? Perguntei.
-Você esta na transição para uma nova vida.
- Uma nova vida? Animais vivem novamente? Per-
guntei confuso.
- Depende, se foi um humano que na transição pas-
sada me pediu para ser um Falcão Peregrino porque
sonhava em voar, sim.
- Não estou entendendo, respondi.
- Antes de ser um Falcão, você foi um humano
Andy e como humano você foi uma ótima pessoa,
você ajudou a transformar o mundo em um lugar me-
lhor e depois que morreu me pediu para ser uma Fal-
cão Peregrino porque sonhava em voar, eu lhe dei a
oportunidade de escolher um paraíso e foi isso que
você escolheu.
- Mas é isso que é a morte, cada um escolhe o que
quer ser após ela? Perguntei.
- Claro que não, somente tem esse privilégio quem
colaborou por um mundo melhor, respondeu a luz.
- Quer dizer que já fui humano um dia?
- Sim, e foi uma ótima pessoa, será que você não
percebeu que quando era um Falcão carregava senti-
mentos humanos ainda?
- Sim, mas eu achava que tinha um certo nível de
consciência para ter emoções. Respondi.
- Mas você tem, todos tem, todo ser vivo é consci-
ente.
- Era por isso então que eu achava injusto as ações
que eu via dos humanos? Perguntei.
- Sim, pois mesmo você sendo uma ave, seu espírito
imortal estava com você.
- O que acontece com uma pessoa que não foi uma
boa pessoa em vida?
- Simplesmente ela volta como um ser humano no
mesmo mundo que ela estava presa.
- Como funciona isso?
- Imagine que você nasça um ser humano e viva na
Terra, um planeta perfeito que criei, mas que o mal, a
ganância e o ego do ser humano dominem você. Você
não ajuda ninguém, vive festejando, não tem respeito
nem amor pelo próximo, só pensa em status e bens
materiais, como posso eu lhe oferecer um mundo me-
lhor se você não lutou por ele enquanto vivo? Res-
pondeu a voz.
- Quer dizer então que só vamos para um mundo
melhor quando transformamos o mundo em que nas-
cemos em um bom lugar?
- Com certeza, como posso eu sendo justo lhe colo-
car em um mundo melhor sendo que você não fez
nada para merecer?
- Sim, isso faz sentido, respondi, mas é sobre a vida
eterna que ouvi um suposto pregador dizendo que Je-
sus nos prometeu?
- Você não acharia a eternidade um tédio? Entre
viver eternamente e viver inúmeras vezes, experimen-
tando em cada vida uma sensação diferente, qual lhe
traz mais contentamento? Visto que você vive eterna-
mente da mesma forma, só que em corpos diferentes,
em seres diferentes e em lugares diferentes.
- Entendo, afinal, cada um sonha com o paraíso de
uma forma. Mas e se alguém pedir para viver em um
mundo perfeito? Sem guerra, injustiça e maldade
- Isso só é possível quando cada pessoa entender
que precisa voltar e ajudar o mundo a chegar nesse
estado, como Jesus fez.

- E um dia o mundo vai chegar a esse estado?

- Sim, mas isso depende do esforço das pessoas.


Como posso realizar a vontade dos homens se eles
não a possuem dentro de seus corações, eu não os dei
inteligência para viverem?
- Mas você não é Deus? Não pode fazer tudo?

- Posso fazer tudo, mas seria agir contra a vontade


da própria criação e isso eu não acho justo, pois dei
liberdade para que cada pessoa escolha o caminho
que quer seguir e ainda deixei uma enorme quanti-
dade de ensinamentos para ajudá-los a viverem em
paz.
- E agora, o que acontece? Perguntei.
- Você será um humano novamente, mas no mundo
que ajudou a construir.
- Viverei em outro mundo?

- Não, no mesmo mundo, mas no futuro, onde as


coisas já são melhores e estão se aproximando da per-
feição, em um mundo mais justo que você contribuiu
para que fosse possível existir quando foi humano.
- E o que seria a perfeição?

- Seria um mundo sem dor, sem sofrimento, sem


guerras, em harmonia e paz, como Jesus acreditava.
Veja todos os ensinamentos de Cristo, para que ser-
vem? Para ajudar as pessoas a viverem uma vida me-
lhor e contribuir para que o mundo se desenvolva es-
piritualmente. Você consegue imaginar como seria o
mundo sem Jesus? O principal ideal de Jesus era alte-
rar a natureza dos seres humanos que exerciam fé
nele.

- Mas como pode o mundo chegar a esse estado


cheio de guerras e injustiça?
- Existem muitas pessoas boas no mundo Andy, só
que as pessoas preferem dar crédito somente a mal-
dade, os sistemas de informação entorpecem a mente
das pessoas fazendo elas acreditarem que o mundo é
um lugar ruim, mas todos os dias acontecem muitas
coisas boas, até mais do que as ruins, mas isso os sis-
temas de informação não têm interesse em divulgar.

- Então, resumindo, vivemos uma vida como huma-


nos e a outra como escolhemos ser?
- Se ajudar a humanidade a progredir, sim, é o preço
justo que posso dar. Quando uma pessoa coopera para
que meu propósito no mundo seja feito, ela tem o di-
reito de escolher um paraíso para viver, isso não quer
dizer que vai viver em outro mundo, pois a sensação
de um paraíso reside no interior de cada pessoa onde
quer que ela esteja, na forma em que esteja, até
mesmo uma simples célula pode experimentar as
mais variadas sensações e emoções.

- Então não existe um paraíso único para onde todos


vão?

- Não, cada pessoa sonha com um paraíso diferente,


seria injusto eu criar algo eterno e igual para todos,
visto que cada um tem sua própria ideia do paraíso.
Me sinto melhor dando a oportunidade para uma pes-
soa boa viver como queira.
- Jamais imaginei que a morte seria assim.

- Eu sou todo poderoso correto? Por que seria dife-


rente? Eu não estaria deixando de ouvir meus pró-
prios filhos? Além do mais, nada na existência é
eterno, apenas eu sou eterno, tudo passa por um ciclo,
até o próprio universo é assim.

- E porque tenho que voltar como humano nova-


mente?

- Porque o mundo ainda não é perfeito e precisa de


pessoas como você que ajudem no processo de evo-
lução da humanidade, por mais que a vida humana
seja dolorosa as, os humanos são os únicos seres ca-
pazes de transformar o mundo em um lugar melhor.

- Então quando eu era um Falcão Peregrino eu es-


tava no paraíso?

- Sim, foi o paraíso que você me pediu após sua


morte anterior, você desejava voar, viver como um
pássaro, ter uma liberdade que é difícil experimentar
como humano.

- E como é julgar um ser humano? Perguntei.

- É difícil julgar um ser humano, pois ele sofre uma


série de influências devido ao seu local de
nascimento, os costumes e a educação, mas quem não
se esforça, acaba voltando como humano novamente,
até que complete sua missão e possa escolher seu pró-
prio paraíso. Cada vida humana possui emoções, sen-
sações e escolhas. Através de sucessivas vidas o espí-
rito evolui. Muitas pessoas acreditam que porque uma
pessoa realizou algumas atitudes más, ela não merece
ter seu paraíso, mas somente eu sei olhar o coração
das pessoas, as vezes uma pessoa que todo mundo
considera justo, comete erros terríveis, mas se passam
por boas pessoas perante o próximo. Já outras que co-
metem alguns crimes, possuem um coração limpo e
bondoso. O julgar só pertence a mim, porque somente
eu sei como é um coração humano e porque ele rea-
liza determinadas ações.

- Acho justo, ficarei feliz quando voltar como hu-


mano sabendo de tudo isso.

- Você nunca terá lembranças de suas vidas anteri-


ores, assim como não tinha quando era um falcão, não
vai ter agora que voltar como humano, somente em
minha mente é que as lembranças dos espíritos per-
manecem. Em minha mente os espíritos são imortais,
eu sei tudo sobre eles, cada vida, cada ato e cada pen-
samento.

- Então eu irei me esquecer de tudo?

- Sim, mas irá permanecer com o mesmo espírito.


- Porque a morte amedronta tanto as pessoas?

- Porque elas têm consciência, algumas sabem que


no fundo não estão se esforçando para fazer o bem,
sem contar que existem milhares de crenças de que a
morte pode ser algo ruim, como um castigo eterno ou
a não existência, mas nenhuma é verdadeira. O pior
que pode acontecer é voltar como humano sucessivas
vezes até que o esforço para alterar seu próprio espi-
rito seja feito, o que vai automaticamente transformar
a humanidade em um lugar melhor.

- Interessante, bom, acho que preciso voltar então,


não deve ser tão ruim viver como humano, apesar de
todos os problemas dos humanos, eles possuem bem
mais emoções que os animais.

- Sim, porque foram feitos a minha imagem e seme-


lhança. Está na hora de voltar, continue ajudando a
humanidade a progredir até que o mundo em que você
sempre sonhou viver se torne realidade e talvez o que
Jesus acreditava aconteça, pois quando o mundo for
perfeito vamos desejar a eternidade, já a desejamos
mesmo nesse mundo cheio de aflições, imagine em
um mundo perfeito. De uma forma ou outra, Jesus ti-
nha razão, pois os justos viveram para sempre.

- Que assim seja.


Sempre acreditei que a morte poderia ser algo ruim,
mas nunca me questionei o motivo que Deus teria
para punir sua criação que já tanto sofre na vida. São
tantas ideias, tantos conceitos que o que era para ser
visto como liberdade, acaba aprisionando a mente das
pessoas. Não há porque temer a morte, percebi que a
justiça de Deus é feita com bondade e amor, jamais
ele permitiria que sua criação sofresse eternamente
em algum lugar ou deixasse de existir, pois só ele tem
o discernimento para julgar cada pessoa, e aos seus
olhos, todos temos um enorme valor, pois somos sua
criação e o amor de Deus para conosco é tanto, que
nos deu liberdade para fazer o próprio mal mesmo que
isso o magoe.

Após esse diálogo com Deus, percebi que cada um


de nós temos um paraíso diferente. Eu sonhava em ser
um Falcão Peregrino em minha vida anterior, era o
meu paraíso, isso se tornou realidade, agora me resta
continuar minha jornada como humano, para que eu
possa escolher meu próximo paraíso, afinal de contas,
toda vida é uma dádiva e criação de Deus.

Fim
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