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Entenda como a extrema direita pode integrar o

governo da Espanha pela 1ª vez desde o retorno da


democracia
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Em sentido horário: Pedro Sánchez, Alberto Nunez Feijóo, Santiago Abascal e Yolanda
Diaz no último dia de comícios na Espanha — Foto: Reuters

Os eleitores da Espanha vão votar neste domingo (23) em uma eleição geral que pode
levar um partido de extrema direita ao poder. Se isso acontecer, será a primeira vez
desde o fim do regime franquista e a redemocratização do país, em 1975, que um grupo
de extrema direita integrará o governo espanhol.

Há quatro partidos principais na disputa:

Pela esquerda, o Partido Socialista Operário da Espanha (Psoe) e o Sumar.


Pela direita, o Partido Popular e o Vox (veja abaixo quem são os líderes de
cada uma dessas agremiações).

Os partidos mais tradicionais, Psoe e PP, lideram a disputa. No entanto, nenhum partido
deverá eleger os 176 deputados que garantem a maioria no Parlamento de 350 assentos
e, na prática, será o terceiro colocado que determinará se a esquerda ou a direita
chegará ao poder, diz Ramón Mateo, diretor da unidade eleitoral da consultoria beBartlet.

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O Vox é um partido populista, conservador e nacionalista, contrário à imigração, ao
casamento entre pessoas do mesmo sexo e à União Europeia. Javier Tebas, o cartola de
futebol da Liga Espanhola que criticou o brasileiro Vini Jr. depois que o atacante foi
xingado por racistas durante jogos do Real Madrid, é um dos membros do Vox.

O presidente da LaLiga, Javier Tebas. — Foto: Guillermo Martinez/Reuters

O PP é um partido moderado e há membros que não estão confortáveis com uma


aliança com o Vox, diz Mateo. Oficialmente, o partido afirma que prefere governar sem o
Vox, mas na prática os eleitores do partido não se importam muito com uma eventual
aliança com o partido extremista, o que já tem ocorrido em governos regionais.

Atualmente, o governo é controlado por uma aliança de esquerda liderada pelo Psoe --
Pedro Sánchez, o presidente, é o líder do Psoe (a Espanha é parlamentarista, mas o
cargo de chefe de governo tem o nome de presidente, e não primeiro-ministro).

Entenda abaixo os seguintes tópicos:

Por que a Espanha vai às urnas?


Quem são os líderes dos quatro principais partidos?
O que dizem as pesquisas?
Não é a economia; por que a oposição lidera?

Por que a Espanha vai às urnas?


Em maio houve eleições regionais na Espanha, e o desempenho do Psoe foi
considerado muito fraco.

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O PP e o Vox firmaram acordos para governar as seguintes regiões:

Extremadura;
Castilla e León;
Valência, uma das regiões mais ricas do país, que já foi governada pela esquerda.

Essas vitórias da direita no país passaram a dominar o debate político na Espanha, e o


presidente Pedro Sánchez, então, resolveu antecipar as eleições que estavam marcadas
para o fim do ano.

Quem são os líderes dos quatro principais partidos?


Pedro Sánchez, do Psoe, que atualmente ocupa o cargo de presidente.

O primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, vota em eleições regionais, em Madri, na


Espanha, em 28 de maio de 2023. — Foto: Juan Medina/ Reuters

O atual líder de governo não é o favorito para vencer as eleições. Ele foi o presidente
durante a crise de Covid-19 e foi bem (a vacinação foi considerada um sucesso), e
conseguiu gerenciar bem os problemas econômicos decorrentes da pandemia e da
guerra na Ucrânia. As críticas que o governo enfrenta são em grande parte pelas
alianças com os partidos mais à esquerda e a algumas das leis que ele decretou.

Alberto Núñez Feijóo, líder do PP desde abril de 2022

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Alberto Núñez Feijóo, em foto de setembro de 2016 — Foto: Miguel Vidal/Reuters

Feijóo, originalmente, era um funcionário público. Ele foi eleito líder da região da Galícia
por quatro mandatos (a Galícia é um reduto tradicional do PP, mas, lá, tem um perfil mais
moderado do que no resto do país).

Santiago Abascal, líder do VOX, o partido de extrema direita.

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O líder do Vox, Santiago Abascal. — Foto: Sergio Perez/Reuters

Abascal tenta projetar a imagem de um outsider que quer salvar a alma da Espanha. Ele
era originalmente do Partido Popular e deixou o partido por discordâncias em relação
aos separatistas da Catalunha e do País Basco.

Abascal defende símbolos clássicos da cultura espanhola (as touradas, por exemplo), e
até mesmo alguns aspectos do regime franquista.

Ele faz críticas ao feminismo, já afirmou que quer revogar leis contra a violência de
gênero.

Yolanda Díaz, do Sumar, é a representante dos partidos de esquerda Sumar e


Podemos.

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Yolanda Diaz em 24 de junho de 2023 — Foto: Isabel Infantes/Reuters

A única mulher entre os principais candidatos é filha de ativistas de classe trabalhadora,


sindicalistas e anti-franquistas. Ela é Ministra do Trabalho desde 2020 e, no ano
seguinte, virou a vice de Pedro Sánchez.

Yolanda Díaz é enxergada na Espanha como uma esquerdista mais disposta a negociar.
Ela intermediou acordos entre sindicatos e grupos empresariais, conseguiu aumentos do
salário mínimo e foi responsável pelo plano de licença remunerada para empresas
durante a pandemia de coronavírus.

O que dizem as pesquisas?


Para dominar o Parlamento espanhol é preciso ter 176 deputados. Nenhum dos partidos
deve conseguir alcançar esse número sozinho --os mais bem colocados tentarão fazer
alianças com os demais para conseguir alcançar essas 176 cadeiras.

A previsão publicada pelo jornal "El País" é a seguinte:

PP: de 120 a 164 deputados


Psoe: de 89 a 132
Vox: de 18 a 49
Sumar: de 20 a 46
Outros: de 25 a 37

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O cientista social Ramon Mateo afirma que o resultado deverá ser apertado. Os
elementos principais da disputa devem ser o tamanho da vantagem do 1º colocado em
relação ao 2º e do 3º colocado em relação ao 4º.

LEIA TAMBÉM

Não é a economia; por que a oposição lidera?


A taxa de emprego está em níveis baixos, e a inflação da Espanha é uma das mais
controladas de toda a Europa.

A economia do país não enfrenta tantos problemas, e o que realmente está ajudando a
oposição nessas eleições são dois fatores, de acordo com Mateo:

Uma polarização forte que faz com que a direita mais moderada aceite uma aliança
com a extrema direita.
Uma decadência da esquerda não tradicional: nas eleições regionais, o Psoe não
perdeu tantos votos, mas outros partidos de esquerda, principalmente o Podemos,
que foi fundamental para a última aliança de governo, tiveram desempenhos muito
fracos.

Mesmo com o favoritismo da direita, o resultado está em aberto --há ainda, diz Mateo, a
possibilidade de ninguém conseguir alcançar os 176 assentos no Parlamento e ser
preciso convocar novas eleições.

7/7

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