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Revista de

ATUALIDADES
AGO
2021

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Sumário

Atualidades Mundo
Governos de esquerda na América Latina ...................................................................................................... 3

A diplomacia ..................................................................................................................................................... 9

Afeganistão ..................................................................................................................................................... 14

China e o pós-pandemia ................................................................................................................................. 19

Atualidades Brasil

Endividamento recorde e a realidade das famílias brasileiras .................................................................... 29

O papel dos políticos: vereadores, deputados, senadores e chefes do executivo ..................................... 37

Brasil: urna eletrônica, voto impresso e a participação das forças armadas ............................................. 43

Preço dos alimentos e a produção no Brasil ................................................................................................ 50

Referências...................................................................................................................................................... 54

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Atualidades Mundo

Governos de esquerda na América Latina

Contextualização – esquerda e direita


Esquerda e direita são dois termos que surgiram no contexto da Revolução Francesa. Depois da
derrubada da monarquia e a declaração da república, os representantes dos mais pobres iam se
sentando à esquerda, enquanto os representantes dos grandes proprietários de terra, donos da
produção e antigos representantes da aristocracia, à direita. Esses tinham o interesse da
manutenção de seus status e, por isso, muitas vezes, o termo conservador era usado para se referir
aos que sentavam à direita. Para eles, que já tinham uma certa renda, a desigualdade não era tão
impactante e, assim, o individualismo e o mérito pessoal eram mais ressaltados. Para os mais
pobres, a força não vinha da individualidade, pois não detinham riquezas, mas sim da coletividade
e, por isso, a desigualdade deveria ser combatida, para que eles conseguissem chegar mais próximo
dos mais ricos. É dessa concepção que podemos extrair as seguintes definições:

• O pensamento de direita: centra-se fundamentalmente na figura do indivíduo e de suas


liberdades. Defende a ideia de que o indivíduo pode solucionar seus problemas com pouca ou
nenhuma interferência do Estado. Para a direita, a igualdade entre as pessoas não seria natural
e, por isso, deve-se garantir a liberdade para que possam, de acordo com as suas capacidades
naturais, atingir os seus potenciais máximos.

• O pensamento de esquerda: centra-se fundamentalmente na ideia de coletividade e de


intervenção do Estado, especialmente de forma a minimizar as diferenças socioeconômicas.
Para a esquerda o principal valor é o igualitarismo. Ou seja, a igualdade é o maior valor que a
sociedade precisa buscar. Por isso, hoje, enquanto à esquerda, vemos pessoas se engajando
em prol de minorias sociais, por exemplo; já a direita aposta mais em questões de mérito e luta
individual.

Quando pensamos na questão partidária das democracias modernas, nem sempre podemos
entender essa divisão de forma precisa. Existem partidos e políticos mais radicais e que pouco a
pouco podem moderar seu discurso para conquistar votos de outros espectros políticos, se
localizando menos à esquerda ou à direita.

Fonte: http://temas.folha.uol.com.br/gps-ideologico/reta-ideologica-2020/a-posicao-ideologica-de-1-8-mil-influenciadores-no-
twitter-em-2020.shtml

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De qualquer forma, eles carregam sua visão de mundo e muito provavelmente irá argumentar que é
o melhor caminho, é a visão que melhor representa a realidade e por isso o único escolhido para
carregar a verdade. No final das contas, sua aproximação desses partidos também terá relação com
a sua visão de mundo, então, é importante sempre se manter aberto a novas discussões e debates
para acabar não caindo no problema da bolha partidária.

Arquétipos de Cuba e Venezuela


Quando se pensa em governos de esquerda na América Latina é muito comum cair em dois
exemplos. O cubano com sua revolução em 1959, mas que só se declara socialista em 1961, e o
caso da venezuelano, com Hugo Chávez, que após uma tentativa falhada de golpe, chegou ao poder
por vias democráticas em 1998. Hoje, ambos os países passam por significativas crises. O caso
cubano vê o número de protestos crescer em meio a uma população jovem que almeja maior
liberdade. A Venezuela, por sua vez, está inserida em uma grave crise econômica, política e
humanitária desde a transição do governo de Chávez, com sua morte, para o governo de Nicolás
Maduro. Porém, já tivemos aulas de atualidades abordando a questão cubana e venezuelana, assim
o foco neste material será relativo a outros governos de esquerda na atualidade.

Argentina
Recentemente, observamos na Argentina um clássico embate entre
governos de esquerda, em que os Kirchner são os grandes
Nestor Kirchner (2003-2007)
representantes, e o governo de direita de Maurício Macri. De certa forma,
Cristina Kirchner (2007-2015)
isso também se manifestou nas eleições de 2019, em que Cristina
Mauricio Macri (2015-2019)
Kirchner, como vice de Alberto Fernández, levou mais uma vez o
Alberto Fernández (2019)
sobrenome para a Casa Rosada, sede da presidência da República
Argentina.

O governo de Alberto Fernández, eleito em 2019, como principal opositor das políticas neoliberais
de Macri, tem enfrentado uma dura crise igual ao do governo anterior. O país começou a pandemia
como um dos maiores lockdowns do mundo e se tornou um exemplo em práticas de prevenção e
combate ao novo coronavírus, porém, já em outubro de 2020, o país mudou radicalmente essa
situação ao se tornar um dos países com maior índice de contaminação na América Latina. Enfrenta
problemas também com a vacinação, na verdade, a falta dela, depois de falhas nas negociações de
compra das vacinas da Pfizer e de dificuldades técnicas no fornecimento da AstraZeneca. Dentro
desse processo de crise sanitária, a Argentina se recusou a sediar a Copa América por não ter
controle sobre a pandemia no país, além da grave crise econômica. Em uma pesquisa lançada
recentemente pelo Instituto Nacional de Estatística e Censos (Indec), cerca de 42% da população
argentina está vivendo em situação de pobreza.

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Peru
O caso do Peru é mais complicado que o da Argentina. Nos últimos
quatro anos, o país trocou quatro vezes de presidente. Primeiro,
Ollanta Humala (2011-2016) com a renúncia de Kuczynski, após denúncias de compra de votos
Pedro Pablo Kuczynski (2016-2018) e outros crimes de corrupção envolvendo a Odebrecht. Assim,
Martín Vizcarra (2018-2020) Vizcarra assumiu após a renúncia, mas não terminou o seu
Manuel Merino (2020) mandato, sofrendo um impeachment no final de 2020. O
Francisco Sagasti (2020-2021) presidente do congresso, Merino, assumiu o país e logo depois
Pedro Castillo (atual) renunciou, deixando o cargo para Sagasti, que conduziu o país até
as eleições de Pedro Castillo, pelo partido Peru Livre, considerado
por alguns de esquerda outro extrema-esquerda.

A conjuntura do país conta com trocas constantes de presidentes, escândalos envolvendo


corrupção, suicídios, impeachment e roubos de vacinas contra o coronavírus. Nos últimos quatro
anos, o Peru trocou de presidente quatro vezes e, praticamente, todos eles estavam envolvidos em
escândalos de desvio de dinheiro e corrupção. Boa parte desses casos estavam ligados à Lava Jato,
sim, à operação brasileira.

Dentro desse processo, no início de abril de 2021, dois candidatos com projetos políticos
completamente distintos chegaram ao segundo turno para as eleições presidenciais, Pedro
Castilho, representante da esquerda, e Keiko Fujimori, representante da direita. Após uma votação
extremamente acirrada e inesperada, Castilho ganhou as eleições, embora tenham surgido diversas
suspeitas sobre possíveis fraudes no processo eleitoral. Sem provas, Castilho foi empossado em
28 de julho de 2021 e prometeu governar de maneira responsável, conseguindo o apoio de políticos
moderados, inclusive dos ministros da Fazenda e da Justiça. Todavia, mesmo com alguns dias
como presidente ele tem sido acusado de apoiar e possuir ligações com o Sendero Luminoso, grupo
de guerrilha peruano durante a Guerra Fria.

Recentemente, em maio, 16 pessoas foram mortas dentro de um bar após a ação do grupo
Militarizado Partido Comunista do Peru. Grupo considerado como de extrema esquerda e que foi
formado a partir de guerrilheiros do Sendero Luminoso. A situação do presidente se agravou quando
ele nomeou Guido Bellido Ugarte, radical de esquerda, como novo primeiro-ministro do país,
aumentando mais ainda a desconfiança sobre o tipo de governo “moderado” que o presidente
gostaria de fazer. Bellido é um defensor do modelo cubano, que na sua interpretação não é uma
ditadura e que o Sendero Luminoso, não é um grupo terrorista. Tal nomeação acabou afastando as
figuras moderadas que tinham apoiado recentemente o governo.

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México

Observando-se os últimos anos da presidência do México, é


possível destacar a disputa entre dois partidos, o Partido
Carlos Salinas (1988-1994 PRI)
Revolucionário Institucional (PRI), de esquerda, e o Partido da Ação
Ernesto Zedillo (1994-2000 PRI)
Nacional (PAN), de direita. Todavia, em 2018, com a eleição de
Vicente Fox (2000-2006 PAN)
Andrés Manuel López Obrador, do partido Movimento
Felipe Calderón (2006-2012 PAN)
Regeneração Nacional (Morena), de esquerda, observa-se uma
Enrique Peña Nieta (2012-2018 PRI)
quebra nessa disputa. Obrador acusa os dois partidos anteriores
Andrés Manuel López Obrador
de corrupção e de entregarem o país para os Estados Unidos.
(2018-atual Morena)
Mesmo assim, seu mandato tem sido marcado por diversas ações
políticas divergentes.

Andrés Manuel López Obrador ou AMLO, como é conhecido o presidente mexicano, assumiu o
poder em 2018. É considerado um governo de esquerda e, recentemente, seus aliados políticos
mantiveram a maioria dos assentos na Câmara dos Deputados, embora não tenham conquistado
os dois terços do total dos assentos, o que facilitaria a aprovação de mudanças constitucionais.
Segundo diversos especialistas, seu governo é considerado autoritário, conservador e avesso à
pluralidade, embora apresente um caráter social e que acredita no papel do Estado para reduzir as
desigualdades. Entre as mudanças desejadas pelo seu governo seria a retomada do controle estatal
sobre o setor de energia, mas com as eleições não tão bem-sucedidas, tal desejo ficará mais difícil.
Um marco significativo nessas eleições foi a derrota ocorrida na Cidade do México, onde mais da
metade de suas divisões territoriais passou para as mãos da oposição. Tal situação dificulta a
governança de AMLO, pois foi lá que sua carreira política decolou. Soma-se a isso a derrota do
referendo sobre o julgamento de cinco ex-presidentes por corrupção. Embora tenha tido
significativa aprovação, a votação do referendo apresentou pouca representatividade, limitando a
7% da população.

Nicarágua
Ortega foi quatro vezes presidente da Nicarágua. Esse país
Daniel Ortega (1985-1990) passou por uma ditadura de décadas. Ele era considerado um
Violeta Barrios de Chamorro (1990-1997) revolucionário idolatrado, mas tomou medidas graves, como
Arnoldo Alemán Lacayo (1997-2002) matar 300 manifestantes contrários ao governo nas ruas do
Enrique Bolaños Geyer (2002-2007) país. A reforma da previdência aprovada por ele foi o estopim
Daniel Ortega (2007-atual) dos protestos em 2018. Existe forte controle estatal e
monopólio das emissoras de TV.

Aqui, para falarmos de Daniel Ortega é interessante fazermos uma contextualização do Movimento
Sandinista na Nicarágua. Na década de 1960, um movimento guerrilheiro foi formado com o objetivo
de acabar com o imperialismo norte-americano e a interferência estrangeira na região da América
Central. A Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN), como foi chamada, tinha cunho
socialista e apoio do governo revolucionário cubano.

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Uma guerra civil estourou na Nicarágua após o assassinato do jornalista Pedro Joaquín Chamorro,
que participava ativamente contra a ditadura de Anastasio Somoza, que governava com o apoio dos
Estados Unidos. A FSLN conseguiu sair vitoriosa desse conflito e dominou o Palácio presidencial,
na capital do país, Manágua. O novo governo eleito, representado por Daniel Ortega, afastou
Anastasio Somoza, e, com a liderança da FSLN, prometeu dar fim às mazelas causadas pela
ditadura e pelo imperialismo norte-americano. Na década de 1980, foi organizada uma força contra
revolucionária para remover os sandinistas do poder. Os “Contras”, como eram chamados os
oponentes do governo sandinista, tiveram forte apoio financeiro dos norte-americanos e de
membros das classes dominantes do país, como, por exemplo, membros da Igreja Católica e o
empresariado nicaraguense. Em 1990, a crise política instalada com a oposição dos “contras” e a
crise econômica acabaram com uma derrota eleitoral dos sandinistas e a eleição de Violeta
Chamorro.

Após 16 anos fora do poder, Daniel Ortega voltou a liderar o país em 2007, eleito por 38% dos votos.
Desde então, já foi reeleito três vezes e segue para um quarto mandato consecutivo, em um caminho
de infinitas reeleições, que se faz questionar a democracia no país. Porém, o Daniel Ortega de hoje
é bem diferente daquele da revolução. Muitos criticam seu governo por tomar terras dos
camponeses, aproximar-se do FMI e do empresariado que um dia criticou, além de implantar
medidas econômicas de austeridade e tornando-se um tirano. Tanto na crise recentes de 2018 e
como na atual, o governo é acusado de uma violenta repressão contra seus manifestantes e
opositores. Naquela época, mais de 300 manifestantes contrários ao governo foram mortos nas
ruas do país. Esse ano, o presidente tem ordenado a prisão de jornalistas críticos ao governo, além
de seus opositores nas eleições. As prisões já foram classificadas como um abuso de poder e
atentado à democracia por diversas organizações de direitos humanos.

Como contextualizar essas informações na redação?


Sabemos que a história dos países latinos é marcada por governos opressivos – tanto de Esquerda
quanto de Direita. Atualmente, no Brasil, vivemos uma intensa polarização política que é bastante
prejudicial à sociedade. Por isso, é importante que os cidadãos conheçam o passado da história do
próprio país (assim como de países vizinhos) para terem opiniões pautadas em fato e, dessa forma,
poderem lutar pelo que de fato acreditam ser o melhor para a coletividade.

A partir dessa perspectiva, que tal escrever um texto sobre esse assunto? O tema é da Uerj 2016:

No trecho acima, o escritor Walter Benjamin aborda a dificuldade de expressar experiências


desumanizadoras, como as vividas em uma guerra.

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Em diversos países, ações de resgate da memória de vítimas de guerras, ditaduras e processos de
dominação, indicam uma percepção da importância de transmitir essas experiências à sociedade.
No Brasil, o lema divulgado no Dia Internacional do Direito à Verdade também sugere uma forma de
lidar com o passado, em direção ao futuro.

A partir da leitura do conjunto dos textos desta prova e de suas próprias reflexões, redija um texto
argumentativo-dissertativo, em prosa, com 20 a 30 linhas, em que apresente seu posicionamento
acerca da necessidade de conhecer experiências históricas de violência e opressão, para a
construção de uma sociedade mais democrática. Utilize a norma-padrão da língua e atribua um
título à sua redação.

Dica de leitura!
As Veias Abertas da América Latina é um livro do escritor e jornalista
uruguaio Eduardo Galeano.
Sinopse: No livro, de 1971, Galeano analisa a história da América Latina
desde o período da colonização europeia até a Idade Contemporânea,
argumentando contra a exploração econômica e a dominação política do
continente, primeiramente pelos europeus e seus descendentes e, mais
tarde, pelos Estados Unidos. A exploração do continente foi acompanhada
de constante derramamento de sangue indígena. Devido à exposição de
eventos de grande impacto para o conhecimento da história do continente,
o livro foi banido na Argentina, Brasil, Chile e Uruguai durante as ditaduras
militares destes países. Anos depois, o autor afirmaria que "pretendia ser
um livro de economia política, mas eu não tinha o treinamento e o preparo
necessário" ao escrevê-lo, garantindo posteriormente que não lamentava
tê-lo escrito e que já era "uma etapa passada".
Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/As_Veias_Abertas_da_Am%C3%A9rica_Latina Acesso em: 16/08/2021

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A diplomacia

Origem e História
Desde a antiguidade, existe a figura de um indivíduo que servia para ser o representante do Rei. O
nome "diplomata" vem justamente da ideia de que era um dos poucos com diploma, alfabetizado e
estudado, para assumir esse papel. Por mais que a função trouxesse um certo mérito, acabava
também por ter suas dificuldades, uma vez que, por mais que fosse o representante do Rei, o
diplomata não é de fato o rei, então em algumas missões era comum que houvesse sequestros ou
conflitos geopolíticos diretos com esses profissionais. Por ter essa função representativa, eles
possuem direito de imunidade inviolável em outros países, garantido pelo estado de origem no qual
o diplomata está representando. No geral, são sujeitos que precisam saber bastante sobre
geografia e outros povos e saberes, para conseguirem realizar seu trabalho. Qualquer cidadão com
nível superior no Brasil hoje pode se concursar à carreira de diplomata.

Qual função de um(a) diplomata?


1. Informar - antes do desenvolvimento das tecnologias de comunicação em larga escala, essa
função era mais vital e complicada ainda. Diplomatas iam a outros países e anotavam
informações importantes para serem levadas aos seus países de origem, no geral escrita em
códigos para não haver interceptação policial ou algo assim. Eles passavam, portanto, as
informações para o Rei, como por exemplo alguma morte de algum político, alguma descoberta
nova de tecnologia... um exemplo são algumas cartas de embaixadores portugueses em Paris
que foram interceptadas, e diziam que os parisienses haviam descoberto as tecnologias de
longitude, sabendo agora desenhar mapas mais precisos, podendo afirmar com precisão a
localização de diversas ilhas no Oceano Atlântico. Isso é uma informação geopolítica muito
relevante para a época. Imagine que a França mostrasse mapas manipulados por exemplo para
outros países, num período de expansão das grandes navegações... com a informação coletada
pelo diplomata, se torna possível a negociação dessas informações.

2. Negociar - essa é outra função importante dos diplomatas. Vamos dar alguns exemplos. Para
negociar passagens de intercâmbio de estudantes por exemplo, abrindo um programa amplo,
diplomatas negociam valores e trocas de estudantes entre os países. Quando um criminoso sai
do país e vai fugir para outro, pode ocorrer um acordo de extradição, em que o criminoso seria
mandado de volta para o país de origem para ser punido de acordo com as leis nacionais.
Acordos de telecomunicações, de trabalho, de viagem, de transações bancárias e diversos
outros podem ser citados. Quem negocia esses acordos são os diplomatas nas reuniões
internacionais. Quando é um acordo entre dois países, chamamos de acordo Bilateral. Se é um
acordo ou tratado negociado entre diversos países, chamamos de acordo Multilateral.

3. Representar - como dito, os diplomatas são os representantes do Brasil nos outros países e
para quaisquer negociações internacionais. Em todas as embaixadas do Brasil em outros
países, no dia da independência do Brasil por exemplo, no 7 de setembro, há celebrações. A

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representação é feita, portanto, por um diplomata. Se morre alguma figura política relevante de
algum país, é importante que o "Brasil" esteja presente, o que se dá na figura de um diplomata.
A presença ou ausência num determinado evento, portanto é algo simbólico. Imagine por
exemplo o diplomata do Brasil fazendo algum discurso anti-colonização, e o diplomata de
Portugal se retirando do ambiente. Ou o diplomata do Brasil não comparecendo num enterro de
algum chefe de estado que tínhamos discordância ou desavença geopolítica. O papel do
diplomata, portanto também é representar.

O Brasil e uma discussão atual


Itamaraty como chamamos o Ministério das Relações Exteriores no Brasil. É sinônimo de político
externa e diplomacia. Algumas pessoas questionam os gastos desses palácios. Para se manter
uma embaixada no exterior, os custos são bem altos. Em 2020, o Brasil gastou 1,3 bilhões de reais
com embaixadas e consulados ao redor do mundo. Hoje com o desenvolvimento tecnológico
algumas funções da profissão diplomática acabam se alterando, e por isso é um debate a revisão
da profissão. Os diplomatas argumentam que as informações obtidas são muito mais confiáveis
do que de jornais ou do que se espalha na internet. Outros argumentam que os custos poderiam ser
cortados drasticamente, em função do desenvolvimento tecnológico. A tecnologia estaria tornando
o diplomata obsoleto? A função de negociação por exemplo. Existem diplomatas especialistas em
economia, meio ambiente direitos humanos, para especificar as negociações. Mas existem
diplomatas mais generalistas, que mediam negociações, mas com o apoio de algum ministério
específico. Por exemplo, se for uma negociação econômica, o ministério da fazenda pode estar
envolvido. A própria representação, também não poderia ser feita de forma mais pontual, reduzindo
gastos?

Dos argumentos favoráveis para manutenção do funcionamento das embaixadas e do sistema


diplomático é o que chamamos de "Serviço consular". Quando um brasileiro por exemplo está no
exterior, morando permanentemente ou a passeio, e precisa de algo. Se ele perde o passaporte, vai
preso, é sequestrado, tem um filho, ou qualquer serviço documental ou de cartório que dê apoio aos
brasileiros que estão no exterior, é o serviço consular prestado pelas embaixadas que suprem esse
apoio, sendo um serviço vital. Já houve situações em que a embaixada brasileira conseguiu retirar
trabalhadores em condição análoga a escravidão. Outros conflitos também como mulheres que
caem em golpes e ficam sendo abusadas por maridos estrangeiros é outro exemplo de situações
onde a embaixada pode atuar prestando um serviço importante. Será, portanto, que essa profissão
está perdendo a relevância ou está apenas em transformação?

O Itamaraty, anualmente, desde 1940, realiza um concurso para a carreira diplomática. Ele é
chamado de Concurso de Admissão à Carreira de Diplomata (CACD). Qualquer nível superior está
qualificado para realizar a prova do concurso, independente da área de formação. O salário base
chega a quase 20.000 reais por mês em média, além dos auxílios para os profissionais que ficam
fora do Brasil. São três etapas de seleção. A primeira é o Teste de Pré-Seleção (TPS) com provas
de história do Brasil e do mundo, inglês, português, geografia, economia, política internacional e
direito. É uma etapa eliminatória e só é aprovado quem tirar acima de 75% de acerto nessa primeira

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etapa. A segunda fase são provas de português e inglês, também com caráter eliminatório,
relacionadas a tradução de complexos textos nessas línguas. A terceira fase são um compilado de
todas essas provas e habilidades, com exceção de história mundial. É um concurso bem rigoroso,
que exige muitos conhecimentos.

Como contextualizar essas informações na redação?

TEXTO I
'Brasil está metendo os pés pelas mãos' com a China, diz ex-embaixador em Pequim após nova
polêmica de Eduardo Bolsonaro
Mariana Schreiber - @marischreiber
Da BBC News Brasil em Brasília
26 novembro 2020
A mais nova crise provocada por uma nova fala do deputado federal Eduardo Bolsonaro
(Republicanos-SP) atacando a China pode trazer "graves danos" ao Brasil caso a potência asiática
adote barreiras comerciais contra produtos brasileiros e busque outros fornecedores
de commodities, disse à BBC News Brasil o diplomata aposentado Roberto Abdenur, que atuou
como embaixador em Pequim (1989 a 1993) e nos Estados Unidos (2004 a 2006).
Embora muitos no Brasil considerem a China dependente das importações brasileiras de itens como
soja, carne, minério de ferro, açúcar e celulose, Abdenur alerta que o governo de Xi Jinping tem
buscado novos fornecedores e já adotou este ano retaliações econômicas contra outro importante
parceiro comercial, a Austrália, reagindo a críticas de autoridades australianas que pediram uma
investigação internacional sobre a origem do coronavírus.
Em reação, Pequim elevou barreiras parciais sobre a carne australiana, taxou em 80% a importação
de cevada do país e desencorajou chineses a estudarem ou fazerem turismo na Austrália, devido a
"numerosos casos de discriminação contra asiáticos".
Segundo dados do Banco Mundial, a Austrália é o sexto maior exportador para China, à frente do
Brasil, que aparece em sétimo. "O Brasil está metendo os pés pelas mãos de maneira desarrazoada
e contraproducente. Eduardo Bolsonaro fala como deputado, como filho do presidente e como
presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara. É de uma imensa irresponsabilidade,
agora ameaçando causar danos graves aos interesses do Brasil com a China", afirmou Abdenur.
"É ilusão acharmos que a China vai continuar dependendo eternamente das nossas importações.
Há outros países no mundo. A China está financiando projetos agrícolas importantes na África, em
regiões que têm um clima e solo parecidos com o Brasil, está em entendimentos também para
aumentar a produção de soja na Rússia e na Ucrânia", exemplificou
Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-55081541

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TEXTO II
O que são commodities?
O termo commodities vem da língua inglesa e, no sentido literal, significa apenas “mercadorias”.
Antigamente, ele era usado exatamente para este sentido, mas, conforme o mercado global foi se
desenvolvendo, ele foi ganhando novas características e passou a ser utilizado especificamente
para mercadorias que são produtos básicos, sem diferenciação e/ou em estado bruto; são
“mercadorias” que funcionam como matéria-prima para outros produtos.
As commodities são bens de consumo mundial e, por isso, são comercializadas em todo o mundo
em bolsas de valores – países que produzem determinada commodity a exportam para outros
países e sua comercialização é global.
Além dessa definição básica, uma commodity tem, entre suas principais características:
• Produção em larga escala;
• Capacidade de ser estocada;
• Pouca industrialização e alto nível de comercialização;
• Padrões de qualidade mundiais.
Disponível em: https://blog.nubank.com.br/commodities-o-que-sao/

TEXTO III
O Brasil e suas commodities agrícolas?
O Brasil, desde o período colonial, tem como característica ser um grande exportador
de commodities agrícolas, como cana de açúcar, café e algodão, que, na época, ainda não eram
conhecidos como commodities, mas fizeram com que o Brasil ficasse marcado pela sua grande
produção e pelo seu clima propício para plantação agrícola. Geralmente, esses produtos eram
enviados para as metrópoles, ou seja, para os países detentores das colônias, e pouco ficava para
o consumo local.[...] Nos últimos anos, a exportação de soja ganhou destaque, ultrapassando a de
café e tornando o Brasil o maior exportador de soja a nível mundial e o segundo país em maior
produção, ficando atrás apenas dos Estados Unidos.
A importância econômica das commodities agrícolas
Assim como o Brasil, muitos países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento dependem da
exportação de produtos primários para impulsionar suas economias. Sendo
assim, as commodities, muitas vezes, são as responsáveis por garantir um superávit na balança
comercial, ou seja, assegurar que o país receba mais dinheiro com as exportações do que gasta
com as importações.
Além disso, no nosso país, as commodities têm um peso maior por estarem associadas ao
agronegócio – segmento da economia brasileira que contempla diversas atividades produtivas
associadas à agricultura e pecuária, com alta utilização de tecnologia a fim de aumentar a sua
produtividade. É interessante destacar que, de acordo com a Confederação da Agricultura e
Pecuária do Brasil (CNA), atualmente o agronegócio é responsável por cerca de metade das
exportações brasileiras. Além disso, em 2017 o setor representou uma parte considerável das
riquezas produzidas no Brasil, correspondendo a 21% do PIB (Produto Interno Bruto).
Disponível em: https://www.politize.com.br/commodities-agricolas/

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TEXTO IV

Disponível em: https://riconnect.rico.com.vc/blog/commodities

PROPOSTA DE REDAÇÃO

A partir da leitura dos textos motivadores e com base nos conhecimentos construídos ao longo de
sua formação, redija um texto dissertativo-argumentativo em modalidade escrita formal da língua
portuguesa sobre o tema “A importância das relações diplomáticas para a economia brasileira”
apresentando proposta de intervenção que respeite os direitos humanos. Selecione, organize e
relacione, de forma coerente e coesa, argumentos e fatos para defesa de seu ponto de vista.

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Afeganistão
O “Cemitério dos grandes Impérios”.
Recentemente, o Afeganistão ganhou os holofotes dos noticiários pelo golpe de Estado que mudou
o governo do país em agosto de 2021, levando ao poder o grupo radical-islâmico do Talibã.
Prometendo um governo sem democracia e a retomada de antigas práticas violentas do grupo,
sobretudo contra as mulheres, as ideias políticas do Talibã têm sido condenadas por organizações
internacionais de Direitos Humanos.

Entretanto, para entendermos melhor o que acontece atualmente no país e para continuarmos
acompanhando o decorrer dessas mudanças e os futuros impactos desse governo, é fundamental
que tenhamos conhecimento sobre a própria história do Afeganistão. Vale lembrar que, o estudo
sobre esse tema também pode ser cobrado no vestibular em questões de geopolítica, de História e
até mesmo indiretamente em temas de redação, como a fragilidade das democracias, o desrespeito
aos Direitos Humanos e a violência contra as mulheres.

Assim, vale destacar inicialmente que estudar a história dessa região, que hoje conhecemos como
o Afeganistão, é analisar principalmente a importância geopolítica de um território que há milênios
atrai a formação de sociedades, de culturas, religiões, rotas comerciais e guerras. Logo, por se
localizar no encontro entre o Irã, o Paquistão, a Índia, as cordilheiras o Himalaia e o deserto chinês,
o Afeganistão faz uma ligação estratégica entre o Oriente Médio, a Ásia Central e o subcontinente
indiano.

Desta forma, graça ao seu posicionamento, vestígios arqueológicos apontam que há milênios o
Afeganistão presenciou o surgimento de algumas das primeiras sociedades sedentárias, viu
grandes deslocamentos e migrações humanas e acompanhou o crescimento de importantes rotas
comerciais, sobretudo a rota da seda. Visto isso, essa estratégica localização atraiu os olhares de
grandes impérios ao longo dos séculos, que viam na conquista da região uma possibilidade de
controlar grandes riquezas.

Entretanto, apesar da cobiça de nomes como Alexandre, “O Grande” e Gengis Khan, ou de países
como a Inglaterra, a União Soviética e os Estados Unidos, os povos do Afeganistão ficaram
historicamente conhecidos pela bravura na resistência contra as invasões e por algumas vitórias
que pareciam improváveis. Graças a essas características, o Afeganistão passou a ser conhecido
como o “Cemitério dos grandes Impérios”.

A invasão soviética e a resistência dos Mujahidin.


Durante o século XX, período marcado pelos processos de luta anti-imperialista e de extensão das
zonas de influência dos blocos capitalistas e socialistas da Guerra Fria, o Afeganistão continuou
convivendo com as crises políticas. Em 1973, um golpe de Estado depôs o governo do Xá
Mohammed Zahir Shah e estabeleceu a República do Afeganistão, sob presidência de Mohammed
Daoud Khan.

Durante essa década, Daoud governou com uma Constituição autoritária, que reprimiu
manifestações políticas contrárias ao seu regime, perseguiu opositores e estabeleceu um regime
unipartidário, composto exclusivamente pelo Partido Nacional Revolucionário. Nesse contexto, até
mesmo o Partido Democrático do Povo do Afeganistão (de orientação socialista), que tinha ajudado
Daoud no golpe, foi perseguido, atraindo a desconfiança da U.R.S.S.

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Diante de um contexto de Guerra Fria e de expansão de influências, em 1978, o PDPA organizou um
movimento estratégico de tomada do poder. Logo, o partido conseguiu conquistar Cabul, a capital
do Afeganistão, derrubar Daoud (assassinado) e estabelecer um novo governo de tendência
socialista, preocupando os Estados Unidos. Assim, a chamada Revolução de Saur fundou a
República Democrática do Afeganistão.

Apesar de inicialmente o novo governo ter realizado medidas consideradas progressistas, como a
reforma agrária, a proibição da usura, a defesa de medidas que valorizassem mais a igualdade de
gêneros e inclusive permitiram a entrada das mulheres na política. Tais medidas, no entanto, não
deixaram certos afegãos muçulmanos mais conservadores felizes, sobretudo quanto a declaração
do Estado ateu.

Desta forma, o regime da revolução de 78 logo encontrou resistências, sobretudo de guerrilheiros


conhecidos como os Mujahidin. No ano seguinte, após insistentes pedidos de ajuda do presidente
do Afeganistão aos soviéticos, para combater os Mujahidin, a U.R.S.S não viu com bons olhos a
forçada mudança na presidência de Nur Muhammad Taraki por Hafizullah Amin.

Assim, no dia 27 de dezembro de 1979, os soviéticos invadiram o Afeganistão, derrubaram o


governo de Amin e ocuparam o país militarmente até 1989, influenciando no governo diretamente.
Os soviéticos, no entanto, continuaram contando com a resistência dos Mujahidin e com levantes
populares que aconteciam cotidianamente, dificultando a vida do Exército Vermelho e aumentando
anualmente os gastos da U.R.S.S com essa operação militar. Naturalmente, com a crise que abateu
o bloco socialista na década de 1980, a continuidade de tais despesas e de uma guerra que parecia
sem fim contra os Mujahidin se tornou um problema.

Enfim, em 1989, diante da crise do bloco socialista, as tropas soviéticas finalmente abandonaram o
Afeganistão deixando um país devastado, que agora se encaminhava para uma nova Guerra Civil,
que disputaria o futuro do país pós-Guerra do Afeganistão. Nesse contexto, os Mujahidin
continuaram ganhando destaque.

Após receberem grandes investimentos de diversos países ocidentais, inclusive dos E.U.A, terem
realizado treinamentos com outros países e até mesmo acordos para receberem armas modernas,
os Mujahidin saíram da guerra com grande força e moral, chegando a tomar o poder em 1992.

Entretanto, apesar da força dos Mujahidin, outros grupos também surgiram nesse contexto de
conflitos pelo poder na década de 1990, sobretudo os influenciados pelo islamismo. Dentre eles,
em 1994, destaca-se o surgimento do chamado Talibã. Formado principalmente por jovens
estudantes, que defendiam o islamismo, a organização do país, o fim da corrupção e dos crimes e
leis mais rígidas, os membros do Talibã logo ganharam apoio popular em suas missões e destaque
no país.

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A formação do Emirado Islâmico do Afeganistão.
Assim, em uma ascensão meteórica, o Talibã, em 1996, já havia ocupado as principais cidades do
país e logo alcançou a capital Cabul, depondo o presidente e tomando o poder. Foi fundado assim,
em 96, o Emirado Islâmico do Afeganistão, marcado pela formação de um Estado totalitário, com
imposições das interpretações das leis islâmicas da Sharia, sem liberdade política ou de
pensamento, com desrespeito aos Direitos Humanos e muitos ataques as mulheres.

Nesse contexto, entre 96 e 2001, quando o primeiro governo do Talibã esteve ativo, o país viveu um
período de grande retrocesso na questão das igualdades de gênero. Apesar de temas como o uso
da burca e de outras vestimentas típicas da cultura islâmica serem consideradas normais para
muitas mulheres muçulmanas, inclusive para algumas adeptas ao feminismo, o governo Talibã,
além de obrigar radicalmente o uso das vestimentas, proibiu mulheres de estudarem e frequentarem
faculdades, de participarem da política, de emitirem declarações públicas e até mesmo
impossibilitadas de trabalhar. O controle sobre o corpo da mulher com extrema violência, chegando
a torturas e execuções públicas chamou a atenção de muitas entidades ligadas à luta pelo direito e
liberdade feminina.

No entanto, a radical oposição do Talibã à cultura e à política ocidental manteve essas práticas ao
longo desse governo, que continuou ignorando as denúncias estrangeiras, esnobando o direito
internacional e até mesmo atacando diplomatas. Com isso, o governo do Talibã conseguiu o
reconhecimento de apenas 3 países: Paquistão, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos.
Internamente, apesar dos opositores, o Talibã manteve contato próximo a alguns grupos de
guerrilheiros que lutaram na guerra contra os soviéticos, sobretudo o conhecido como a Al-Qaeda.

Visto isso, foi justamente essa aproximação ao grupo que levou o governo Talibã ao fim. Em 2001,
uma das lideranças da Al-Qaeda, Osama Bin Laden, reivindicou para a organização os ataques
terroristas ocorridos nos E.U.A no dia 11 de setembro. O então presidente norte-americano, George
W. Bush, exigiu que o Talibã entregasse Osama, que operava do Afeganistão. No entanto, o regime
do Talibã recusou o pedido e manteve o agora terrorista mais caçado do mundo escondido dentro
de seu próprio país.

A consequência disso foi o início de uma das maiores guerras do século XXI, iniciada em 2001 com
as invasões em sequência do Afeganistão e do Iraque pelo exército dos E.U.A, que derrubou o
governo do Talibã. A operação norte-americana não conseguiu capturar Osama inicialmente, que
passou a fugir e emitir declarações anuais sobre a situação da guerra, sendo uma delas a “profecia”
que afirmava que os norte-americanos fracassariam nessa guerra e o Afeganistão os levaria à ruína,
como levou a União Soviética.

Apesar da Guerra do Afeganistão protagonizada pelos E.U.A não ter levado o império
contemporâneo à ruína, como imaginava Osama, a guerra teve grandes custos para a potência
americana. Além dos milhões de gastos, das perdas de soldados e do envolvimento de seu exército
com várias denúncias de abusos de Direitos Humanos, o governo norte-americano viu a
impopularidade da guerra crescer dentro do seu próprio país. Assim, em 2011, os E.U.A decidiram
remover suas tropas do Afeganistão, encerrando gradualmente a ocupação local.

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Acontece que, mesmo com essa remoção lenta e o treinamento do exército loca, em 2021, com a
saída das últimas tropas norte-americanas, os remanescentes do Talibã, que sobreviveram e
passaram a resistir nas montanhas e na fronteira com o Paquistão, voltaram a crescer. Assim, em
agosto de 2021, após uma série de conquistas territoriais, o Talibã mais uma vez alcançou Cabul e
efetivou um golpe de Estado, recriando Emirado Islâmico do Afeganistão.

A ameaça do retorno do totalitarismo e dos dias obscuros levou centenas de pessoas ao desespero,
com imagens e vídeos de aeroportos lotados, com cidadãos tentando fugir do país a qualquer custo.
Aqueles que permaneceram e decidiram protestar ou resistir já relatam os primeiros abusos, com
repressão às manifestações e violência do Talibã.

Como contextualizar essas informações na redação?


A situação do Afeganistão repercutiu bastante por todo o mundo e, no Brasil, foi possível ter acesso
a diversas informações através das mídias sociais. Tal fato nos faz refletir sobre o poder que nossos
dispositivos eletrônicos e as redes que usamos possuem ao formar opiniões e servirem como
meios de protesto, por exemplo. Muito se falou sobre como ajudar os refugiados, como o ocidente
pode participar dessa situação e, também, sobre a questão das mulheres árabes e como o
feminismo ocidental deve encarar isso.

Dessa forma, a atenção que as redes sociais deram à situação do Afeganistão pode, tranquilamente,
ser usada como referência em um tema que trabalhe o potencial dessas redes, mesmo que tenha
acontecido em outro país. Que tal treinar?

Uma dica: Pesquise sobre a Primavera Árabe e veja como a internet tem o potencial de estimular
revoluções. 😉

Tema: “O ativismo digital como meio de participação na sociedade contemporânea”

TEXTO I
Recentemente, fãs de k-pop e usuários da rede social TikTok se juntaram numa ação on-line para
boicotar o comício do presidente Donald Trump na cidade de Tulsa. Os ativistas coordenaram uma
campanha on-line para se inscreverem massivamente no evento sem a intenção de ir e,
consequentemente, esvaziá-lo. Os fãs da música pop sul-coreana também agiram durante os
protestos da #BlackLivesMatter e inundaram o aplicativo da polícia de Dallas, no Texas, com fotos
e vídeos de seus ídolos a fim de dificultar as denúncias de supostos atos de vandalismo cometidos
por manifestantes. Essas movimentações on-line constituem um novo tipo de ativismo, que é
transformador e usar a internet para impulsionar protestos e alcançar grande adesão.
Disponível em: https://jornal.usp.br/atualidades/ativismo-digital-e-novo-tipo-de-participacao-e-transformacao-politica/

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TEXTO II
Nunca uma revolução brilhou tanto. Graças às redes sociais e aos smartphones, o espírito da
Primavera Árabe varreu o Oriente Médio e contribuiu para derrubar ditaduras. Desde então, a contra-
ofensiva digital de Estados autoritários silenciou muitos ativistas. Naquela época, por não ser capaz
de dominar essas ferramentas, os regimes do Norte da África e do Oriente Médio foram
surpreendidos com a velocidade com que se espalhou o fervor dessas revoltas populares na
internet. Hiperconectadas e em sua maioria sem liderança, essas mobilizações fizeram a Primavera
Árabe disparar em todas as direções, com flashmobs difíceis para as autoridades conterem ou
reivindicações surgindo de reuniões públicas na internet sem comitês de direção a portas fechadas.
Disponível em: https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/afp/2020/11/30/a-primavera-arabe-primeira-revolucao-do-
smartphone.htm

TEXTO III
Bem antes da privação do convívio e das ruas, o ímpeto de se fazer escutar vem sendo canalizado
para as redes. A pandemia intensificou a polarização que domina as ruas e o ambiente virtual nos
últimos anos. As redes sociais têm sido uma grande ferramenta do antirracismo. Muitos jovens e
organizações se valeram delas nas suas formas mais diversas: blogs, Facebook, youtubers, sites
que trazem denúncias de discriminação racial. A atividade política no mundo digital se diversificou
muito desde que as medidas de distanciamento social foram adotadas. Não só pela crise inédita
na história do país, mas porque as pontes entre sociedade civil e o poder público tiveram de ser
reconstruídas online. Há menos maneiras físicas de chegar a um parlamentar. Neste momento é
tudo por Whatsapp, Zoom e e-mail.
Disponível em: https://gamarevista.uol.com.br/semana/e-voce-faz-politica/ativismo-digital-ou-ciberativismo/

PROPOSTA DE REDAÇÃO

A partir da leitura dos textos motivadores e com base nos conhecimentos construídos ao longo de
sua formação, redija texto dissertativo-argumentativo em modalidade escrita formal da língua
portuguesa sobre o tema “O ativismo digital como meio de participação na sociedade
contemporânea” apresentando proposta de intervenção que respeite os direitos humanos.
Selecione, organize e relacione, de forma coerente e coesa, argumentos e fatos para defesa de seu
ponto de vista.

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China e o pós-pandemia
O dragão chinês e a terceira grande crise
A pandemia do coronavírus (covid-19) foi a terceira grande crise global do século XXI. Reportado
pela primeira vez em dezembro de 2019, na cidade de Wuhan, na China, o vírus se espalhou
rapidamente pelo mundo. Dentro das medidas necessárias para conter sua difusão, diversos países
estabeleceram o lockdown, parando quase que por completo a economia. Tal situação levou a uma
crise econômica profunda. Alguns países responderam melhor ou pior a essa crise. A China foi um
país que apresentou um número relativo baixo de mortes e um dos únicos países a apresentarem
crescimento no ano de 2020. Assim, tal como aconteceu no pós-11 de setembro e no pós-crise de
2008, a China saiu fortalecida dessa crise, ao contrário do Ocidente. Com isso, o dragão asiático
avançou econômica e politicamente sobre outros países e regiões.

Diplomacia da vacina
É nesse contexto de fortalecimento e crise que a China, com o desenvolvimento da vacina e sua
grande produção industrial (equipamentos hospitalares, máscaras, protetores, entre outros), iniciou
uma diplomacia da vacina ou da máscara. Essa foi uma política em que o governo da China trocou
alianças no cenário internacional por suprimentos hospitalares e/ou vacinas. Mesmo com uma
opinião ocidental negativa sobre a China, seja pela negligência inicial do governo chinês com a crise
da covid-19 ou pelo fato de ser uma ditadura, o país avançou nas negociações com diversos outros
governos, garantindo o seu domínio tecnológico ou a ampliação das trocas comerciais.

Em outra aula, já até foi abordado um excelente exemplo dessa diplomacia da vacina, que foi o caso
brasileiro. Durante 2020 e o início de 2021, membros do governo federal brasileiro, incluindo o
presidente, deram declarações contrárias à participação da chinesa Huawei na instalação de redes
5G. Após a retenção de insumos para a CoronaVac em Pequim, o governo brasileiro apresentou um
novo relatório de regras do leilão do 5G sem qualquer restrição à Huawei.

Vídeo: Impasse diplomático com a China trava chegada de insumos para vacina da Covid-19 | CNN 360 / CNN Brasil. Acesso em: 29
go. 2021.

19
A questão do Afeganistão
Ainda no mês de agosto, houve uma aula específica falando sobre a retomada de poder no
Afeganistão pelo regime fundamentalista do Talibã após a retirada das tropas americanas. O
Afeganistão faz uma pequena fronteira terrestre com a China, mas que se relaciona com questões
muito mais profundas. Sobre a ascensão do Talibã, a China se mostrou bem prática e aberta às
negociações econômicas, especialmente porque o país está no caminho do projeto chinês da Nova
Rota da Seda (Belt and Road Initiative), sendo o Afeganistão um importante acesso para a Ásia
Central, além da grande disponibilidade de recursos minerais, especialmente o lítio. Esse mineral é
fundamental na produção de baterias e essencial na transição energética para um modelo mais
sustentável.

A Nova Rota da Seda: investimento de governo chinês já chega a US$1 trilhão. Disponível em:
<https://g1.globo.com/economia/agronegocios/noticia/2018/11/14/china-busca-diversificar-compra-de-graos-com-nova-rota-da-
seda.ghtml>. Acesso em: 29 ago. 2021.

20
A questão dos uigures
É lógico que a inserção do Afeganistão nesse gigantesco projeto ainda é um pouco incerta, pois
significa um grande risco para esses investimentos milionários, mas parece ser do interesse dos
dois países. Todavia, a China apresenta uma exigência nesses investimentos: que o
fundamentalismo e terrorismo observado no grupo do Talibã não transborde para a província de
Xinjiang, no noroeste da China. Essa província é conhecida como a China muçulmana e abriga
grupos étnicos túrquicos de religião islâmica.

Província de Xinjiang. Disponível em: <http://g1.globo.com/Sites/Especiais/Noticias/0,,MUL1222989-16107,00-


PROVINCIA+DOS+MUCULMANOS+UIGURES+JA+FOI+REINO+E+REPUBLICA+VIZINHOS+A+CHINA.html>. Acesso em: 29 ago. 2021.

Os uigures são o principal grupo étnico da província e, historicamente, têm buscado sua
independência. A China diz não tolerar esse movimento separatista e tem agido com grande
repressão contra essa população.

Os documentos secretos que revelam lavagem cerebral de presos de minoria étnica na China. Disponível em:
<https://www.bbc.com/portuguese/internacional-50543654>. Acesso em: 29 ago. 2021.

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Denúncias internacionais recentes indicam a construção de verdadeiros campos de concentração
para abrigar os uigures contrários ao regime de Pequim. Segundo a China, esses complexos são
voltados para a “reeducação” desse povo. Entre as práticas de “reeducação” denunciadas,
destacam-se lavagem cerebral e tortura. A maior preocupação da China é que o fundamentalismo
do Talibã ultrapasse suas fronteiras e alcance os grupos muçulmanos na região, podendo até
financiar grupos terroristas na província de Xinjiang. O Talibã já comunicou que não irá tolerar
grupos rebeldes contrários aos chineses em seus territórios.

A questão de Hong Kong


Hong Kong é uma zona administrativa especial no território chinês. Até 1997, era território do Reino
Unido e foi devolvido para a China com um acordo de que, por 50 anos, ou seja, até 2047, nada
poderia ser modificado na economia, estilo de vida ou política da região.
Durante as décadas de 1970 a 1990, o território recebeu grandes investimentos americanos,
tornando-se um importante centro financeiro. Atualmente, Hong Kong emerge como uma das
principais bolsas financeiras do mundo, movimentando grandes volumes de capital. Boa parte das
negociações do agronegócio brasileiro passa por Hong Kong. Porém, a ascensão de uma classe
média e o maior intercâmbio de ideias, devido ao menor isolamento da região, fez com que
houvesse uma maior pressão por um governo mais democrático. Entre as diferenças entre China e
Hong Kong, podem-se citar:
• Moeda é o dólar de Hong Kong (HKD);
• Internet ocidental liberada;
• Sistema de eleição próprio, apesar da influência do Comitê Eleitoral de Pequim (China
continental) na escolha dos candidatos de Hong Kong, constituindo uma democracia instável;
• Carro se dirige com a mão inglesa, ou seja, o motorista fica do lado direito;
• Passeatas anuais pelo sufrágio universal.
Assim, em 2019, quando o governo local tentou implementar a “Lei da Extradição”, possibilitando
extraditar cidadãos de Hong Kong para a China continental, diversos manifestantes começaram a
se organizar contra essa lei, pedindo a renúncia de Carrie Lam, chefe do Executivo de Hong Kong.

Protesto com 2 milhões de pessoas. Disponível em: <https://istoe.com.br/hong-kong-se-rebela/>. Acesso em: 29 ago. 2021.

22
A questão de Taiwan
Após o fim do domínio japonês, as tropas de Mao Tsé-tung e as de Chiang Kai-shek voltaram a se
enfrentar, até que os comunistas venceram, em 1º de outubro de 1949, fundando a República
Popular da China, que compreende todo o território continental chinês. Apoiado pelos Estados
Unidos, o general Chiang Kai-shek e seus seguidores fugiram para a ilha de Formosa, onde fundaram
a China Nacionalista (República da China), ou Taiwan. Desde então, os dois representantes, da China
continental e da China insular, contestam o título de legítimo governo da China.

Território controlado pela República Popular da China (em roxo) e pela República da China (em laranja).
O tamanho das ilhas foi exagerado para facilitar a identificação. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/>. Acesso em: 29 ago. 2021.

Recentemente, os dois países têm se enfrentado em discursos e ameaças marcados por uma
crescente militarização. A preocupação é que uma invasão chinesa à Taiwan possa causar grandes
impactos na economia global, principalmente por causa da Taiwan Semiconductor Manufacturing
Company, Limited (TSMC). Essa empresa é a mais importante fabricante de microchips do mundo,
que estão presentes em celulares, computadores e diversos equipamentos conectados. Alguns
analistas falam que Taiwan se defende com o “escudo de silício”, isto é, que Taiwan usa sua
liderança na produção de chips (de silício) como elemento de dissuasão para a ação militar chinesa.

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A questão é que, além disso, os Estados Unidos e o Japão prometeram, em declarações recentes,
proteger Taiwan, podendo levar o conflito para uma escala global.

A questão do Mar do Sul da China


É, hoje, o conflito marítimo mais importante. A China reivindica mais de 90% do Mar do Sul da China
(Mar Meridional da China), em uma disputa sobre o domínio das águas e do subsolo marinho entre
os países vizinhos, como destacado no mapa abaixo.

Disponível em: <https://mauriciosantoro1978.medium.com/a-geopol%C3%ADtica-do-mar-do-sul-da-china-10b20c70e750>. Acesso


em: 29 ago. 2021.

Existe uma delimitação denominada Zona Econômica Exclusiva (ZEE). É uma área que se estende
por 200 milhas náuticas a partir do litoral do país em direção ao oceano. Dentro dos limites da ZEE,
apenas o respectivo país possui direitos na exploração dos recursos naturais. Porém, nem sempre
é possível abranger toda essa extensão, pois essas zonas podem entrar em conflito com outros
países. Assim, são feitas algumas adaptações no traçado dessa linha. No mapa, é possível
visualizar essas zonas e suas delimitações para os seguintes países: Filipinas, Malásia, Brunei,
Vietnã e Indonésia. Tal delimitação faz parte da Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do
Mar (CNUDM). Recentemente, a China tem reivindicado todo esse território pertencente a outros
países e utilizado sua força econômica e militar para que eles aceitem suas imposições. Essa
questão é complicada, pois a disputa pode levar a conflitos militares envolvendo outras potências
no conflito, como os Estados Unidos, Austrália, Índia e Japão, que possuem acordos militares de
defesa com alguns países na região.

24
Como contextualizar essas informações na redação?
Em 31 de dezembro de 2021, a Organização Mundial da Saúde foi alertada sobre vários casos de
pneumonia na cidade Wuhan, na República Popular da China. Tratava-se de um novo tipo de
coronavírus que não havia sido identificado antes em seres humanos. Em 11 de março de 2020, o
novo vírus – chamado de covid-19 – foi caracterizado pela OMS como uma pandemia devido à
distribuição geográfica da doença e não a sua gravidade.

Hoje, a situação já está controlada em alguns países devido ao desenvolvimento de vacinas e às


medidas sanitárias para a contenção da doença. No entanto, há ainda países que enfrentam o
impacto da doença tanto nos setores da saúde, quanto da educação e da economia, por exemplo.
Por esse motivo, alguns vestibulares têm cobrado o impacto da covid-19 na sociedade e como será
o mundo pós-pandemia. Analise os temas abaixo:

FMC (2021)

TEXTO I
O mundo pós-pandemia
Leandro Karnal

“Na tradição histórica, depois de um período de recolhimento e morte, há uma grande explosão de
vida. É o caso do Renascimento após a Peste Negra. Depois da Revolução Francesa, a moda em
Paris se tornou muito extravagante e internacionalmente famosa. Haverá uma tendência a uma
explosão de sociabilidade em um primeiro momento.

O primeiro fator de uma epidemia, guerra ou revolução é acelerar processos que já estavam em
curso. Essa é uma mudança irreversível.

…Há um ano reclamávamos que tínhamos pouco tempo para ficar em casa. Eis que todo mundo foi
jogado dentro da família dia e noite.

No caso do Brasil, as famílias encaram de maneira diferente a pandemia, de acordo com o poder
aquisitivo. Não existe uma elite brasileira, existem várias elites. Aqui, o que a epidemia trouxe à tona,
de forma cristalina, é uma desigualdade tão brutal, evidente, que até para a morte somos distintos.
As classes média e alta envolvem um debate sobre como lidar com o tédio e com as crianças em
casa. A classe mais baixa pensa em sobreviver e o risco de perder o emprego. Somos um país que
já estava imerso na informalidade, e ela foi atingida como um raio pela epidemia… Não espere o
futuro para ser feliz, não dá para acreditar que a felicidade será sempre adiada para um próximo
momento.”
Disponível em: https://editoraolhares.com.br/janela/mundo-pos-pandemia-filosofos/ Acesso em: 21 maio 2021. Fragmento.

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TEXTO II

PÓS-PANDEMIA: COMO SERÁ O MUNDO QUE VAMOS ENCONTRAR NO FUTURO PRÓXIMO?

Videoconferências, e-commerce e na forma de gestão das empresas devem perdurar mesmo com
o fim da crise sanitária

O relatório Twitter Trends Brasil, que acabou de ser divulgado com base na análise de 300 mil
tópicos na plataforma, aponta um crescimento de 148% nas conversas sobre cuidado comunitário;
175% em igualdade de direitos à saúde; 47% em saúde integral; 20% em autocuidado; e 17% em
saúde mental. Já a repercussão do tema fitness caiu no período.

A consciência social também gritou, e o papel de cada um na sociedade ganhou destaque. O


relatório registrou 781% de aumento nas conversas sobre direitos dos negros; 345% sobre
igualdade; 66% sobre empoderamento; 36% sobre representatividade; e 33% sobre ética. De acordo
com o Twitter, o objetivo desse material é ajudar as marcas a se manterem na vanguarda e a criarem
conexões com seu público no futuro próximo.
Disponível em: https://exame.com/bussola/pos-pandemia-como-sera-o-mundo-que-vamos-encontrar-no-futuro-proximo/ Acesso:
em 21 maio 2021.Fragmento.

Muitas são as opiniões dos especialistas acerca da influência de uma pandemia na vida individual
e coletiva. A partir dos textos motivadores, discuta se haverá ou não uma transformação no modo
de viver da humanidade após a pandemia de covid-19.

TEMA: MUNDO PÓS-PANDEMIA DE COVID-19: O MESMO OU OUTRO?

Defenda um ponto de vista sobre o tema, apresentando argumentos consistentes, de maneira clara
e encadeada. Preste atenção à progressão textual, à coesão e à coerência. O texto deve ser escrito
na modalidade culta da língua portuguesa.

UPF (2021)

O CRESCIMENTO DA PANDEMIA DE CORONAVÍRUS E A REDUÇÃO DA POLUIÇÃO AMBIENTAL


(Texto adaptado de artigo de José Eustáquio Diniz Alves - 24/03/2020)

[EcoDebate] A epidemia de coronavírus assustou a China nos meses de janeiro e início de


fevereiro de 2020 e provocou a paralisação das atividades econômicas do gigante asiático. O resto
do mundo olhou com curiosidade e certa angústia, mas não imaginou a possibilidade de um surto
global. O índice Dow Jones da Bolsa de Nova Iorque, que iniciou o ano pouco acima de 28 mil pontos,
se manteve acima de 29 mil pontos até o dia 21 de fevereiro, refletindo uma tranquilidade do
mercado financeiro americano e global diante do que acontecia no leste asiático.
Mas tudo começou a mudar rapidamente na última semana de fevereiro, quando o mundo
percebeu que havia algo de novo e assustador no ar. O índice Dow Jones caiu para cerca de 19 mil
pontos no dia 20 de março de 2020, um crash de estonteantes 35%. Trilhões de dólares
desapareceram da economia internacional em menos de um mês. A Organização Mundial de Saúde
(OMS) demorou a dizer que se tratava de uma pandemia e assumiu a gravidade da situação no dia
11 de março de 2020.

26
No dia 29 de fevereiro, a Covid-19 já estava presente em cerca de 80 países, atingindo 86,6
mil pessoas e provocando 2,98 mil mortes globalmente. Mas 92,2% dos casos e 96,4% dos óbitos
estavam na China. (...) em 29 de fevereiro, a Coreia do Sul estava em segundo lugar em número de
pessoas infectadas (3.150 casos), a Itália em terceiro lugar (1.128 casos) e o Irã em quarto lugar
(593 casos). Alemanha, Espanha, Estados Unidos e França tinham 100 casos ou menos e o Brasil
somente 2 casos. Os 8 países concentravam 98,1% dos casos e 99,5% das mortes. Retirando a
China, os outros 7 países tinham 6% dos casos e somente 3,1% dos óbitos.
Mas o quadro mudou completamente ao longo do mês de março. O crescimento dos casos
na China foi muito pequeno, passando para 81,1 mil casos, com um crescimento de apenas 0,1% ao
dia, entre 29/02 e 22/03. (...)
Ao contrário, os outros 7 países com maior número de casos e de mortes, depois da China,
aumentaram sua participação relativa. Eles passaram de 6% para 57,1% dos casos e 3,1% para
69,8% das mortes durante os primeiros 22 dias de março. A Itália, o segundo país com maior
impacto do surto, passou de 1,1 mil casos para 59,1 mil casos (...).
Os Estados Unidos, que tinham somente 68 casos no final de fevereiro, assumiram o terceiro
lugar no ranking mundial, com 32,4 mil casos em 22/03, um crescimento de impressionantes 32,3%
ao dia. O número de mortes também foi significativo, passando de 1 morte para 414 mortes no
período, um crescimento de 31,5% ao dia e uma taxa de letalidade de 1,3 mortes para cada caso
confirmado.
Alemanha (com a menor taxa de letalidade), Espanha, e França possuem evolução
aproximadamente semelhante do número de casos, mas a Espanha apresentou muito mais mortes
e uma taxa de letalidade de 6,1. Já o Irã, que ocupava o terceiro lugar no ranking global até semana
passada, caiu para o 6º lugar e depois da Itália é o país com maior taxa de letalidade, isto é, 7,8
óbitos para cada caso registrado. Já a Coreia do Sul é um caso de sucesso pois caiu do segundo
lugar no ranking para o oitavo lugar, e o crescimento dos casos em março foi de “apenas” 4,8% ao
dia, e a taxa de letalidade de somente 1,2 óbitos para cada caso.
(...)
O Brasil apresenta uma tendência de aumento preocupante do surto de coronavírus, pois
havia apenas dois casos confirmados no final de fevereiro e passou para 1.546 casos em 22/03,
um aumento de 35,3% ao dia (...).
O restante do mês de março vai ser um período de subida da curva exponencial, pois a
pandemia já está se espalhando em cerca de 200 países e territórios. O impacto na saúde pública
vai ser enorme, assim como o impacto econômico vai ser terrível. A situação é parecida com aquela
às vésperas da entrada na segunda guerra mundial, quando Winston Churchill disse: “Só tenho para
oferecer sangue, suor e lágrimas”.
Mas enquanto a pandemia de Covid-19 joga a economia para baixo, ao mesmo tempo, joga
a saúde do meio ambiente para cima. A pandemia de coronavírus veio revelar uma verdade que
algumas pessoas insistiam em negar que é um impacto do crescimento econômico sobre a
degradação ambiental. Na China, a epidemia de coronavírus diminuiu a produção industrial,
provocou feriados prolongados e a introdução de restrições de viagens, que resultam em menores
emissões de CO2. Houve uma redução geral da queima de combustíveis fósseis e o preço do barril
do petróleo (WTI a menos de US$ 20) caiu para o patamar do final do século passado.
Assim, a piora dos indicadores econômicos tem sido acompanhada por uma melhora nos
indicadores ambientais. Em todos os lugares, quer seja a limpeza das águas dos canais de Veneza
ou a redução da poluição do ar nas grandes cidades da Ásia, a natureza agradece a trégua e a
quarentena humana. A NOAA da Nasa já indica que o ritmo de crescimento da concentração de CO2
na atmosfera desacelerou. Globalmente, a Covid-19 está provocando a redução das atividades
antrópicas – fechando fábricas, paralisando os transportes, cortando significativamente o número

27
de voos, etc. – resultando em uma recessão econômica que deve produzir uma diminuição nas
emissões de carbono em 580 milhões de toneladas de carbono em 2020, (...)
Quando tudo isto passar, a humanidade vai ter a oportunidade de refletir sobre o fato de que
é impossível manter o modelo insustentável de produção e consumo. Perceberá que precisa reduzir
a pegada ecológica global e tratar a natureza como uma aliada e não como inimiga. O ser humano
precisa acordar para o fato de que sem tratar bem a ECOlogia não há como sustentar a ECOnomia.
E que manter o crime do Ecocídio é o mesmo que optar pelo suicídio.
Disponível em: https://www.ecodebate.com.br/2020/03/24/o-crescimento-da-pandemia-de-coronavirus-e-a-reducao-da-poluicao-
ambiental-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/. Acesso em 10 de abril de 2020.

Considerando a reflexão proposta no texto e suas leituras acerca do assunto que envolve a
pandemia causada pela Covid-19, escreva um texto dissertativo-argumentativo, discutindo a
seguinte questão: o isolamento social trouxe uma mudança nos hábitos de consumo, a redução no
uso de combustíveis fósseis e uma nova dinâmica na produção de bens e serviços, gerando
resultados benéficos para a humanidade e, melhor ainda, para o planeta.

Ambas as propostas de redação tratam sobre as consequências da pandemia para a sociedade. Na


primeira proposta é ampla e precisaria de uma certa delimitação do assunto para um
desenvolvimento objetivo e bem fundamentado. Nesse caso, a tese poderia enfatizar aspectos que
confirmassem a continuação de um sistema equivalente ao que temos atualmente com
agravamento das desigualdades sociais, desemprego, vulnerabilidade a novas epidemias como
degradação ambiental, entre outros casos.

Já a segunda proposta apresenta uma afirmação que deve ser mantida “as mudanças nos hábitos”
como consequência do isolamento social provocado pela pandemia. É importante contextualizar o
tema (pandemia e o seu surgimento) antes de introduzir a tese. Para o desenvolvimento, o texto
motivador pode ser usado coo base já que apresenta dados sobre os impactos da pandemia no
meio-ambiente. Além dele, que outras informações dessa aula você usaria?

28
Atualidades Brasil

Endividamento recorde e a realidade das famílias brasileiras


Em 2021 batemos recordes assombrosos nos índices brasileiros em diversos aspectos. Segundo
o Banco Central, em abril de 2021, 58,2% das famílias brasileiras estavam com dívidas.
A Confederação Brasileira do Comércio estima que até o fim do primeiro semestre de 2021, em
70% dos brasileiros teriam algum grau de dívida. Outros dados apontam que 8 a cada 10
pessoas no Brasil vivem com algum grau de dívida.

O que é dívida? É dever a alguém. No geral acontece por meio das dívidas aos bancos e outras
instituições financeiras que fornecem crédito, ou dinheiro emprestado, para a população. Claro que
esses dados assombrosos não se dão por questões individuais, como um mau planejamento
financeiro ou algo que o valha. Pode-se dizer que 70% dos brasileiros atualmente recebem igual ou
menos do que os seus custos mensais. Estamos num cenário de crescente inflação, e o acesso a
produtos básicos e moradia tem sido cada vez mais difícil. Os preços são muito altos e os salários
incertos e baixos. É o resultado prático dos problemas econômicos que o Brasil passa desde a crise
de 2014, mas que se aprofunda intensamente de 2019 para cá.

Sabemos que vivemos no sistema capitalista, sistema socioeconômico que objetiva a obtenção de
lucro e acumulação de bens, sendo a desigualdade algo estrutural à organização produtiva e política
desse sistema. No entanto, existem agravantes nesse cenário ou medidas sociais que amenizem
essa disparidade.

Existem vários conceitos que ajudam a entender o funcionamento da economia. Vamos usar um
didático.

Existe o "Ciclo virtuoso da economia". Essa é a ideia de que deve existir muito consumo, o que
estimula a abertura de negócios, o que gera mais empregos, que dá salários, e consequentemente
aumenta o consumo. Esse é um cenário ideal de giro de capital e portanto benéfico para a
economia. Quando estamos tendo bons salários e podendo acessar serviços como moradia,
escolaridade, etc.., estamos numa situação favorável, correto? No entanto, hoje o Brasil vive o "Ciclo
vicioso da economia", que é quando o consumo está baixo, reduzindo a abertura de negócios, até
mesmo fechando alguns já existentes, o que reduz os empregos, os salários e o consumo. Para
melhorar esse ciclo vicioso, mesmo a economia não estando bem, concedemos créditos,
empréstimos de fácil acesso, para forçar um aumento no consumo e buscar retornar ao ciclo
virtuoso.

Acontece que esse endividamento significa um déficit econômico, podendo culminar numa grave
crise nacional. Essa crise econômica afasta capital e novas empresas, que percebem que não existe
um mercado consumidor forte, e não investem em entrar no Brasil, afastando, também, fontes que
geram emprego.

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Como estimular o consumo nesse cenário sem implicar num endividamento? É preciso medidas
sociais e assistencialistas por parte do Estado, redirecionando verbas e gerando empregos,
investindo em setores estratégicos para melhorar verdadeiramente o cenário socioeconômico. É de
responsabilidade do governo criar medidas que atuem na concentração de renda, de terras, que
direcione investimentos em educação e na possibilidade de qualificação, a revisão de políticas de
orçamento, criação de planos efetivos de combate a pobreza e de políticas de incentivo a pequenas
e médias empresas... são alguns exemplos de atuação possíveis.

Não se esqueça que o Brasil é um país que foi colonizado, de industrialização tardia, então, para
além dos problemas internos, é comum que países com esse histórico estejam ainda na posição de
subdesenvolvimento. No entanto, a falta de interesse de governantes em tomar medidas a longo e
médio prazo, pensando de forma imediatista os lucros e possuindo forte camada conservadora que
mantém setores mais privilegiados, também é algo que atrasa consideravelmente o Brasil, não nos
elevando para uma posição de menor dependência tecnológica e externa, e baixo desenvolvimento
do produto interno.

Razões atuais da crise


Vamos aprofundar no contexto da crise. O Brasil passou por uma enorme recessão econômica entre
2014 e 2016, sendo considerada a maior recessão da história. Os endividamentos das famílias
brasileiras já cresceram bastante nesse período. A crise de 2020, com o COVID, chegou nesse
contexto, antes de superarmos a última, causando grande instabilidade social e econômica e
dificultando nossa recuperação. O crescimento do desemprego passa a ser assustador nesse
período, com a falência de várias empresas, expulsão de investimentos e políticas de estabilidade
social insuficientes. O crescimento econômico do Brasil tem benficiado mais determinados setores,
sendo considerado um avanço do conservadorismo de direita no Brasil. Analisando pontos
importantes:

Renda
O Brasil em 2021 vive a maior concentração de renda da sua história. 49,6% da renda inteira do
Brasil está na mão de 1% da população. É o segundo pior dado do mundo, agravando a desigualdade
já histórica e presente em nosso país.

Desemprego
Estamos também na pior crise de desemprego na história. Nunca antes na história tivemos um
número tão grande de desalentados, pessoas que desistiram de procurar emprego no mercado
formal, pois sabem que não serão aglutinadas por eles. O trabalho informal cresceu muito nesse
sentido.

Inflação
Inflação é o quanto o preço de um produto ficou mais caro. Hoje, nossa moeda e nosso dinheiro
estão valendo cada vez menos. Em 2020, o Real foi a moeda que mais se desvalorizou no mundo.

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Claro que a pandemia do Covid complicou a situação de todos os países do mundo, mas a nossa
instabilidade e postura política agravou a situação. As estratégias adotadas para lidar com a crise
tem favorecido setores mais ricos e conservadores da população. A redução do poder de compra
do trabalhador, pela desvalorização da moeda e aumento do preço dos produtos é a grande
consequência.

Como contextualizar essas informações na redação?

Em temas que possibilitem argumentos voltados à realidade econômica brasileira, é possível utilizar
alguns dados, como o percentual de famílias com dívidas chegando a 70% no Brasil, sendo o maior
nível em 11 anos, segundo a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo
(CNC). Tal informação estatística, extremamente preocupante, é o sinal de um declínio econômico
e social. Confira o gráfico abaixo, que exibe a gradação das dívidas desde junho de 2020 até julho
de 2021.

Disponível em: https://g1.globo.com/economia/noticia/2021/07/01/percentual-de-familias-com-dividas-chega-a-70percent-e-brasil-


atinge-o-maior-nivel-em-11-anos-aponta-cnc.ghtml

O declínio da questão econômica no país não só reflete um estado de crise causada pela pandemia
do coronavírus, mas, também, insuficientes auxílios governamentais para a resolução do problema.
O cenário de retrocesso supera a discussão do endividamento, trazendo, como problemática, a atual
realidade de extrema pobreza (em 2021, o país atingiu o número de 27 milhões de brasileiros
vivendo abaixo da linha da pobreza). Portanto, para além de trazer tais discussões em seu texto,

31
enquanto argumentos, é importante, também, pensar qual maneira seria mais efetiva em solucioná-
las.

Foi mencionado, mais acima, no capítulo, a importância de políticas assistencialistas por parte do
Estado, como uma das possibilidades para a resolução desse momento crítico no qual vive o povo
brasileiro. Lembre-se de que, no seu texto, a ação interventiva precisa estar inteiramente de acordo
com o agente que você seleciona: sendo assim, não é muito lógico, por exemplo, que diante de tal
cenário de endividamento e pobreza nacional, o agente seja o indivíduo e a ação, procurar um
emprego. Afinal, o problema não abarca uma única pessoa e, sim, toda uma nação, e a causa do
problema não é individual, como podemos perceber a partir desta leitura e das informações aqui
presentes.

Vejamos, a seguir, dois temas de redação – um deles, inclusive, extraído do ENEM digital, ano
passado –, nos quais é possível estabelecer relações com a discussão do endividamento na
sociedade brasileira. Vamos lá? 😊

Tema I: O desafio de reduzir as desigualdades entre as regiões do Brasil (ENEM DIGITAL – 2020)

TEXTO I
Na década de 1970, o Brasil não era apenas um país pobre. A maior parte dos seus municípios era
habitada por elevada concentração de pobres, e a carência de serviços essenciais era generalizada.
Nos últimos quarenta anos, ocorreu sensível melhora nas condições de vida das cidades brasileiras.
A renda per capita aumentou, a concentração de pobres diminuiu e a cobertura de serviços de
infraestrutura física, bem como a oferta de médicos e os níveis de escolaridade melhoraram
sensivelmente. Entretanto, a desigualdade de riqueza entre os municípios brasileiros permaneceu
rigorosamente estável, a desigualdade territorial da concentração da pobreza aumentou e
diminuíram as desigualdades no acesso a serviços básicos de energia elétrica, água e esgoto,
coleta de lixo e níveis de escolaridade.

A trajetória da melhora teve, contudo, marcada expressão regional. Nos últimos quarenta anos, ela
se iniciou nos municípios mais ricos, nos quais a universalização dos serviços antecede – em muito
– a expansão da cobertura aos demais. A melhora das coberturas nas Regiões Sul e Sudeste
constitui o primeiro ciclo de expansão para todas as políticas, ainda que com ritmos diferentes para
cada política setorial. A melhora da cobertura para as Regiões Sul e Centro-Oeste constitui o
segundo ciclo de expansão para todas as políticas. Por fim, as Regiões Norte e Nordeste são a
última área de expansão da oferta de serviços.
ARRETCHE, M. Trazendo o conceito de cidadania de volta: a propósito das desigualdades territoriais. In: ARRETCHE, M. (Org.).
Trajetórias das desigualdades: como o Brasil mudou nos últimos cinquenta anos. São Paulo: Ed. Unesp/CEM, 2015 (adaptado).

32
TEXTO II

TEXTO III
O IBGE divulgou dados sobre a renda em cada estado em 2019. A pesquisa mostrou uma
disparidade grande entre as diferentes unidades da federação. Distrito Federal, São Paulo e Rio de
Janeiro aparecem como os locais com maior rendimento domiciliar per capita.
Além de mostrar as distâncias entre cada estado, os números do IBGE revelam disparidades
expressivas entre as regiões brasileiras no ano de 2019. Em especial, fica evidente o menor
rendimento por pessoa em estados das Regiões Norte e Nordeste.

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Todos os estados das Regiões Norte e Nordeste tiveram rendimentos per capita menores que os
estados das Regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste em 2019. Isso significa que os 16 estados do
Brasil com menor renda domiciliar per capita foram os 16 estados pertencentes às Regiões Norte e
Nordeste. Da mesma forma, as 11 unidades com maior rendimento em 2019 são as que compõem
Sul, Sudeste e Centro-Oeste.
Disponível em: https://www.nexojornal.com.br. Acesso em: 30 set. 2020 (adaptado).

TEXTO IV
Qual momento específico da ocupação do território brasileiro acentuou de modo mais relevante
as desigualdades sociais?
Santos – A globalização. Ela representa mudanças brutais de valores. Os processos de valorização
e desvalorização eram relativamente lentos. Agora há um processo de mudança de valores que não
permite que os atores da vida social se reorganizem. Até a classe média, que parecia incólume, está
aí ferida de morte.

Em "O Brasil" o sr. diz que a globalização agrava as diferenças regionais brasileiras. Até que ponto
ela também integra?
Santos – Ela unifica, não integra. Há uma vontade de homogeneização muito forte. Unifica em
benefício de um pequeno número de atores. A integração é mais possível do que era antes. As novas
tecnologias são uma formidável promessa. A globalização é uma promessa realizável e a
integração será realizada.
Entrevista de Milton Santos em 2001. Disponível em: folha.uol.com.br. Acesso em: 18 jul. 2020.

PROPOSTA DE REDAÇÃO
A partir da leitura dos textos motivadores e com base nos conhecimentos construídos ao longo de
sua formação, redija um texto dissertativo-argumentativo em modalidade escrita formal da língua
portuguesa sobre o tema “O desafio de reduzir as desigualdades entre as regiões do Brasil”,
apresentando proposta de intervenção que respeite os direitos humanos. Selecione, organize e
relacione, de forma coerente e coesa, argumentos e fatos para defesa de seu ponto de vista.

Tema II: Impactos da falta de consciência política e eleitoral brasileira contemporânea

TEXTO I
Qual é a importância da consciência política para a sociedade?
Quando uma sociedade exercita a consciência política, há uma percepção natural dos problemas
associados à falta de democracia e de igualdade, permitindo uma interferência consciente, seja por
meio dos votos nas urnas, seja pelo engajamento em questões sociais.
Essa consciência, quando formada na infância, aumenta as chances de participação ativa dos
cidadãos nas questões políticas do país, com princípios democráticos bem estabelecidos,
predisposição para discussões saudáveis e guiadas por elementos de interesse coletivo.
Disponível em: https://escoladainteligencia.com.br/voce-ensina-consciencia-politica-para-seus-filhos/

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TEXTO II
Gabriela Prioli e Anitta se unem em live sobre beabá da política
A cantora Anitta anunciou em stories do seu Instagram que irá fazer lives com Gabriela Prioli,
comentarista da CNN e mestra em direito penal, falando sobre o beabá da política brasileira. Com
46 milhões de seguidores do Instagram, Anitta prometeu uma live aula simples, com perguntas
básicas, para trazer conhecimento aos seus fãs.
(...)
“Eu já falei para vocês que, de onde vim, com a vida que tive, é muito difícil aprender, por isso que
pergunto tanto a ela, para ter informações desse tipo. A gente nasceu num país que deixa a
população completamente desprivilegiada de informações, de conhecimento em política, então, na
sexta-feira, a gente começa essa aulinha”, reiterou Anitta.
https://www.hypeness.com.br/2020/05/gabriela-prioli-e-anitta-se-unem-em-live-sobre-beaba-da-politica/

TEXTO III

Disponível em: https://gauchazh.clicrbs.com.br/opiniao/iotti/noticia/2018/05/iotti-voto-consciente-


cjgnerv4z04ko01qohcd9gdn8.html

TEXTO IV
Percentual de voto nulo é o maior desde 1989; soma de abstenções, nulos e brancos passa de 30%
(08/10/2018)
Número significa que quase 30 milhões de eleitores que estavam aptos não compareceram às
urnas. Maior colégio eleitoral do país, São Paulo teve aumento de 2 pontos percentuais nas
abstenções.

Histórico das últimas eleições

A abstenção tem crescido desde 2006. Na ocasião, 16,8% dos eleitores não votaram. Quatro anos
depois, o índice subiu para 18,1%, e chegou aos 19,4% nas eleições presidenciais passadas, em
2014.

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Em número de eleitores, a porcentagem desse ano representa 29,9 milhões de pessoas. No primeiro
turno de 2014, 27,7 milhões de votantes se abstiveram do voto.

https://g1.globo.com/politica/eleicoes/2018/eleicao-em-numeros/noticia/2018/10/08/abstencao-atinge-203-maior-percentual-
desde-1998.ghtml

PROPOSTA DE REDAÇÃO
A partir da leitura dos textos motivadores e com base nos conhecimentos construídos ao longo de
sua formação, redija texto dissertativo-argumentativo em modalidade escrita formal da língua
portuguesa sobre o tema “Impactos da falta de consciência política e eleitoral brasileira
contemporânea”, apresentando proposta de intervenção que respeite os direitos humanos.
Selecione, organize e relacione, de forma coerente e coesa, argumentos e fatos para defesa de seu
ponto de vista.

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O papel dos políticos: vereadores, deputados, senadores e chefes do
executivo
Os Três Poderes e o papel de cada um
O Brasil é uma democracia representativa com a divisão em Três Poderes. Apenas para relembrar,
essa divisão remete a Montesquieu. Tal separação visa a conter a possibilidade de abuso de poder
por parte do governante. Segundo Montesquieu: “todo homem que tem o poder é tentado a abusar
dele [...] é preciso que, pela disposição das coisas, o poder freie o poder”. Partindo dessa ideia de
que só o poder pode frear o poder, ele propõe que todo governo deve ser estruturado pelos Três
Poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário.

De acordo com Montesquieu, é necessário que cada um dos Poderes exerça as suas funções de
maneira autônoma e harmônica em relação aos demais, de modo que se alcance um Estado de
direito em que o poder esteja submetido às leis. Só assim será possível promover o ideal máximo
do Iluminismo, que é a liberdade.

No Brasil, existem eleições para o Executivo e para o Legislativo. Esses dois Poderes são
responsáveis pela seleção daqueles que irão ocupar o Judiciário, que, por ser um cargo mais
técnico, não está aberto às eleições. E, para se aprofundar ainda mais nos cargos desses Poderes,
confira as funções destacadas abaixo:

Poder Executivo

Responsável por executar as leis, propor planos de ação e administrar os interesses públicos.
Âmbito federal: presidente da República, juntamente com os ministros.
Âmbito estadual: governadores.
Âmbito municipal: prefeitos.

Poder Legislativo
Elabora, aprova e fiscaliza a execução das leis.
Âmbito federal: deputados federais e senadores.
Âmbito estadual: deputados estaduais.
Âmbito municipal: vereadores.

Poder Judiciário
Interpreta as leis e julga os casos, de acordo com as regras constitucionais.
São os juízes, ministros, desembargadores e promotores de justiça.

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Ampliando a discussão: o que é cidadania?
Etimologicamente, o termo “cidadão” significa “morador de uma cidade”. Literalmente, cidadania
seria apenas a circunstância de morar em um determinado local, e o bom cidadão seria o mesmo
que um habitante boa-praça. Porém, é necessário ir além. O conceito de cidadania vem
originalmente da língua grega e, como já vimos em outras aulas, as cidades gregas antigas viviam
no sistema de pólis. Nesse modelo, além de cada cidade gozar de grande autonomia, sendo como
que um Estado independente, os cidadãos, isto é, os moradores de cada pólis, tinham ampla
capacidade de participação política, pois os gregos foram o primeiro povo a entender que a política
deriva sua autoridade não dos deuses, mas dos homens.

Vemos assim que cidadania não é apenas moradia e que o cidadão não é o simples habitante de
um determinado país. Muito mais do que isso, o cidadão é aquele que participa politicamente dos
destinos de sua nação, que influi nos rumos do Estado. Os escravos brasileiros na época do Império,
por exemplo, eram habitantes do Brasil, mas não cidadãos, pois não tinham direito de participar
politicamente, votando, protestando, etc. O mesmo vale para as mulheres brasileiras antes da
legalização do voto feminino e para os analfabetos antes da Constituição Cidadã de 1988.

Cidadania clássica X cidadania moderna


Tradicionalmente, para fins didáticos e de resumo, costuma-se dizer que há duas grandes
concepções de cidadania ao longo da história: a concepção clássica de cidadania, dominante desde
a antiguidade grega até as revoluções liberais dos séculos XVI e XVII, e a concepção moderna de
cidadania, vigente desde então.

A concepção clássica de cidadania caracteriza-se por ser essencialmente comunitária. Assim, para
o homem grego e medieval, ser um cidadão significava, acima de tudo, pertencer a uma comunidade
e ter obrigações para com ela. A ênfase aqui está na noção de dever, de modo que o bom cidadão
é fundamentalmente o sujeito abnegado, capaz de sacrificar seus próprios desejos e interesses
individuais pelo bem comum.

A concepção moderna de cidadania, instaurada pelo liberalismo político e típica de nosso tempo, é
bastante diferente. Nela, a ênfase não está na noção de dever, mas na de direito. Entende-se que
não é o indivíduo que deve estar a serviço da comunidade e do Estado, mas, ao contrário, é a
comunidade e o Estado que devem estar a serviço do indivíduo.

Com efeito, na visão moderna, compreende-se que nenhum interesse coletivo deve sobrepor-se à
liberdade dos indivíduos. O papel do Estado não é tanto garantir a felicidade geral, mas sim impedir
que os direitos individuais sejam desrespeitados e que uns se imponham violentamente sobre os
outros. Em suma, o que cabe ao poder público não é promover a cooperação entre os indivíduos,
mas sim impedir seu conflito, e o bom cidadão é aquele que, consciente dos seus próprios direitos,
exerce-os livremente, sem, porém, tolher a liberdade do outro.

Benjamin Constant, o famoso autor liberal do começo do século XIX, sintetizou essa diferença em
seu famoso texto “Da liberdade dos antigos comparada à dos modernos”: “O objetivo dos antigos

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era a partilha do poder social entre todos os cidadãos de uma mesma pátria. Era isso o que eles
denominavam liberdade. O objetivo dos modernos é a segurança dos privilégios privados; e eles
chamam liberdade as garantias concedidas pelas instituições a esses privilégios”.

Cidadania formal e cidadania substantiva


Tudo muito lindo até agora. Mas, na prática, como isso acontece? Como o Estado reconhece ou não
um cidadão? Como ocorre a garantia disso tudo? O Estado, comumente, reconhece como cidadão
o indivíduo que nasce no seu território. Também há a possibilidade de reconhecer como cidadão o
indivíduo que é descendente de cidadãos desse lugar. Há outras formas, mas essas são as mais
comuns. Essa é a cidadania formal.

Reconhecer a cidadania é o primeiro passo. O Estado deve, efetivamente, ofertar condições de


exercício dessa cidadania. Ou seja, prover os seus cidadãos de condições para alcançar todos os
direitos que citamos acima, dentre outros mais. Essa é a cidadania substantiva. Quando o Estado
não consegue garantir a cidadania, a condição é chamada de subcidadania.

O Estado pode enfrentar diversos problemas na garantia dos direitos. Desde desastres naturais até
crises econômicas, muitos fatores influenciam o exercício da cidadania, inclusive projetos políticos
mais ou menos democráticos. Questões sociais como hierarquias, pela desigualdade gerada pela
estratificação social, e preconceitos de diversos tipos (raça, gênero, classe, etnia, credo, etc.) podem
atrapalhar o acesso dos indivíduos a direitos e impedir o exercício pleno da cidadania.

O sociólogo Manuel Castells aponta uma dinâmica peculiar das relações entre instituições nos dias
de hoje, sendo essa dinâmica um dos principais entraves para o exercício da cidadania na
interpretação do pensador. As empresas, por essência, são instituições com o objetivo de acumular
riqueza. Entretanto, o acúmulo descontrolado desequilibra a organização social. Na conjuntura de
enfraquecimento dos Estados ante o poder de megacorporações globais, as instituições políticas
têm encontrado dificuldade em oferecer cidadania plena a seus membros. Bem, essa é apenas uma
discussão mais ampla sobre cidadania e que está diretamente relacionada com o papel de cada
político. Além de entender suas funções, é necessário entender como podemos agir.

Como contextualizar essas informações na redação?


O tema dessa aula é superimportante para a nossa formação cidadã: os indivíduos precisam saber
como funciona a democracia brasileira para que, assim, reivindique seus direitos e tenha maior
consciência na hora de votar, por exemplo.

Para vestibulandos, esse assunto é também importante, principalmente, para a proposta de


intervenção. Quanto melhor conhecemos as funções dos políticos e dos poderes no Brasil mais
fácil será pensar sobre as problemáticas sociais e quem são os responsáveis por cada segmento,
não é mesmo? Detalhamento é tudo!

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Vamos treinar um pouco, então?

Crie propostas de intervenção, que envolvam um ou mais dos Poderes (Executivo, Legislativo e
Judiciário), para os temas a seguir:

Tema 1: Caminhos para combater a gravidez precoce no Brasil

TEXTO I

Disponível em: http://nossolarprojetoinformatica.blogspot.com/2016/11/gravidez-na-adolescencia.html

TEXTO II
Prevenção à gravidez na adolescência: queda nos números não implica menos cuidados
Embora venha registrando menores casos de natalidade adolescente, no Brasil, o número ainda é
preocupante e requer atenção. Segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística), de cada cinco bebês que nascem, um tem a mãe com idade entre 15 e 19 anos de idade,
o que só reforça a importância de conscientizar, informar e trazer à tona a necessidade de se
combater a gravidez precoce. A médica pediatra e do Comitê de Adolescência da Sociedade de
Pediatria do Rio Grande do Sul (SPRS), Lilian Day Hagel, explica que mesmo que os registros de
casos estejam diminuindo, as complicações seguem prejudicando adolescentes, e por isso as
campanhas de conscientização seguem sendo fundamentais. “A gravidez na adolescência é
prejudicial sob ponto de vista da perspectiva de vida do adolescente. É frequente que a mãe
abandone a escola e interrompa definitivamente os estudos, o que é um fator complicador para o
futuro. Além disso, uma gestação indesejada, às vezes, é fruto de relações de poder ou casos de
violência, o que gera traumas permanentes”, salienta a pediatra.

Diálogo entre pais e filhos é fundamental


O assunto precisa ser discutido, seja na escola, nas famílias e principalmente em ações de políticas
públicas. Afinal, a medida mais eficaz para prevenir a gravidez na adolescência ainda é a educação.
Para a presidente da SGP, Marise Tofoli, os adolescentes precisam de orientação e conscientização.
“Os pais precisam romper as barreiras quando o assunto envolve sexualidade. É preciso falar e
permitir que seus filhos aprendam, também na escola, sobre o convívio de respeito entre meninos
e meninas, bem como a proteção necessária nas atividades sexuais, como os métodos
contraceptivos. Tais informações não servem para estimular os jovens, e sim evitar uma gestação
precoce e a transmissão de doenças”, afirma a médica.
Disponível em: https://www.sbp.com.br/filiada/goias/noticias/noticia/nid/prevencao-a-gravidez-na-adolescencia-queda-nos-
numerosnao-implica-em-menos-cuidados

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TEXTO III

Disponível em: https://www12.senado.leg.br/noticias/especiais/especial-cidadania/gravidez-precoce-ainda-e-alta-mostram-dados

TEXTO IV
Campanha visa reduzir altos índices de gravidez precoce no Brasil
Publicado em 03/02/2020 19h54 Atualizado em 03/02/2020 20h01
O Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH) e o Ministério da Saúde (MS)
lançaram nesta segunda-feira (3) a campanha “Adolescência primeiro, gravidez depois – tudo tem
o seu tempo”.
A proposta tem o objetivo de reduzir os altos índices de gravidez na adolescência que, no Brasil,
estão 50% acima da média mundial. A cada mil meninas, 46 se tornam mães adolescentes. Na
América Latina, o índice é de 65,5. Já no Brasil, o número sobe para 68,4. Atualmente, mais de 434,5
mil adolescentes se tornam mães por ano no país.
A ministra do MMFDH, Damares Alves, falou sobre a iniciativa. “Estamos há um ano conversando
sobre isso, porque precisamos mudar os números que estão postos. Buscamos inúmeras
propostas, conversamos com todos: especialistas, pais, adolescentes. Conversamos e tivemos a
coragem de falar sobre retardar o início da vida sexual, incluindo esse tema em toda a gama de
métodos preventivos que já existem”, disse.
Para Damares, estamos diante de um problema de saúde pública. “Não é um assunto moral, nem
tão somente de comportamento. Há muitas coisas que nos dividem e separam, mas a vida precisa
nos unir. Eu acho que todos concordam com isso, então precisávamos fazer alguma coisa”, explica.
Disponível em: https://www.gov.br/mdh/pt-br/assuntos/noticias/2020-2/fevereiro/campanha-visa-reduzir-altos-indices-de-gravidez-
precoce-no-brasil

41
Tema 2: A necessidade de implementar a educação financeira nas escolas brasileiras

TEXTO I
Atualmente, as transformações na sociedade são grandes, especialmente em razão do uso de
novas tecnologias. Observamos transformações nas formas de participação dos trabalhadores nos
diversos setores da produção, a diversificação das relações de trabalho, a oscilação nas taxas de
ocupação, emprego e desemprego, o uso do trabalho intermitente, a desconcentração dos locais
de trabalho, e o aumento global da riqueza, suas diferentes formas de concentração e distribuição,
e seus efeitos sobre as desigualdades sociais. Há hoje mais espaço para o empreendedorismo
individual, em todas as classes sociais, e cresce a importância da educação financeira e da
compreensão do sistema monetário contemporâneo nacional e mundial, imprescindíveis para uma
inserção crítica e consciente no mundo atual. Diante desse cenário, impõem-se novos desafios às
Ciências Humanas, incluindo a compreensão dos impactos das inovações tecnológicas nas
relações de produção, trabalho e consumo.
Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/

TEXTO II
Quando a gente é jovem, muitas coisas são ensinadas na escola: física, química, biologia,
matemática, português… Em casa, os pais ensinam como se comportar, aconselham por quais
caminhos seguir e ajudam no que podem. Mas tem uma coisa que fica esquecida em toda família
brasileira. Sabe o que é? Educação financeira. Quando esse jovem começa a ganhar o seu salário,
fica perdido com o que fazer com o dinheiro. Devo gastar? Devo poupar? Abro conta no banco? Na
maioria das vezes, os pais ajudam a abrir uma conta no mesmo banco de toda a família e pronto. É
isso que você aprende sobre dinheiro. Isso mostra como os brasileiros são despreparados quando
o assunto é a vida financeira. E isso não é sua culpa, não!
Disponível em: https://blog.yubb.com.br/importancia-da-educacao-financeira/
TEXTO III

Banco Central do Brasil. Série Cidadania Financeira. Estudos sobre Educação, Proteção e Inclusão.
Disponível em: https://www.bcb.gov.br

Dica: Pensem em parcerias, Ministérios e Secretarias, projetos de leis, entre outras intervenções
que estejam atreladas ao âmbito político.

42
Brasil: urna eletrônica, voto impresso e a participação das forças
armadas
A PEC do voto impresso
Recentemente, no Brasil, voltou-se a debater a questão do voto impresso. Primeiro, é importante
destacar que o objetivo dessa discussão não é voltar a usar as cédulas de papel, e sim adicionar
um mecanismo de validação e autenticação do voto na urna. Durante a votação, um documento de
papel seria impresso, validando seus votos. Esse papel não seria disponibilizado ao eleitor e ficaria
sempre sobre o poder do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A proposta do voto impresso é uma
bandeira do presidente Jair Bolsonaro, que, há anos, acusa as eleições de fraudulentas, mesmo não
possuindo uma prova sequer dessas fraudes. O Judiciário até pressionou o presidente para liberar
as provas, para que fosse instalada uma investigação, mas elas não existiam.

A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 135/19 é da deputada Bia Kicis (PSL-DF). O texto
original determina a impressão de “cédulas físicas conferíveis pelo eleitor, independentemente do
meio empregado para o registro do voto em eleições, plebiscitos e referendos”. A PEC já foi
analisada e rejeitada por uma Comissão da Câmara por 23 votos a 11. Mesmo assim, adotando
uma prática incomum no Congresso, Arthur Lira, presidente da Câmara dos Deputados, decidiu
pautar o tema em Plenário, mesmo com a rejeição da Comissão. Segundo ele, o objetivo era encerrar
o assunto. Necessitando de 308 votos, a PEC só obteve 229 e foi, portanto, rejeitada pela Câmara.

Fonte: https://www.cnnbrasil.com.br/politica/pec-do-voto-impresso-e-rejeitada-em-1-turno-na-camara/

A segurança da urna eletrônica


A discussão sobre a adoção de mais uma camada de segurança na urna eletrônica com a
impressão de um comprovante é válida. Se você tivesse um mecanismo que fizesse com que uma
transação digital fosse mais segura, por que não adotar? Até aqui, tudo certo. Porém, o que tem
sido visto é que a discussão cita possíveis fraudes anteriores na eleição, mesmo sem prova alguma.
E isso acaba se tornando uma ameaça à democracia brasileira. Quando uma parte do governo
federal argumenta que as eleições foram fraudadas, o mundo olha para essas eleições com
desconfiança. Então o Brasil é uma democracia fraudulenta, é um país inseguro e isso também pode

43
afastar investidores. A pergunta que fica é: as urnas eletrônicas brasileiras já foram fraudadas no
passado? Não. Segundo o próprio governo e diversos especialistas, a urna é segura e não há registro
comprovado de fraude nas eleições.

No vídeo abaixo, destaca-se a campanha do Tribunal Superior Eleitoral explicando o funcionamento


da urna e todos os sistemas de proteção e as possibilidades de auditoria e validação. É super válido
assisti-lo para melhor entender o funcionamento da urna.

Vídeo: Presidente do TSE explica sobre a segurança do voto

No vídeo, foi destacado que a urna já é auditável, registrando um documento com todos os
processos executados nela. O software é desenvolvido pelo próprio TSE, além de ser submetido a
tentativas de invasão, embora sobre monitoramento do TSE. Isso já mostra que a urna brasileira
possui um bom sistema de segurança, mas isso não significa que ela é 100% segura. Veja bem, seu
celular conectado à internet pode sofrer diversas tentativas de invasão remota, sem que a pessoa
esteja perto de você. Com a urna ocorre o contrário. Ela não está conectada à internet e apenas
alguém com acesso físico ao equipamento conseguiria fazer alguma alteração. Isso já elimina
inúmeras possibilidades de fraudes, pois as urnas são transportadas pelo Exército e pela polícia, o
que garante um acesso restrito aos equipamentos. E, mesmo que esse acesso aconteça, existem
mecanismos (lacres, registros e códigos) que indicam que possa ter ocorrido alguma violação. O
segredo não está necessariamente em fazer o equipamento 100% à prova de invasões, até dos
maiores hackers do mundo e do cinema, mas um equipamento confiável, que, caso tenha qualquer
indício de alteração, seja descartado e substituído por outro.

Nesse sentido, considerando-se os aspectos de segurança e violação física da urna, o atual


contexto de crise econômica no país e o curto prazo para o desenvolvimento de um sistema de voto
impresso, a adoção de tal recurso pode ser mais problemática do que segura, fazendo com que, aí
sim, possam ocorrer fraudes nos votos.

44
Melhorias?
Ao mesmo tempo, isso não significa que não há nada que possa melhorar no sistema das urnas
brasileiras. Existem sim vulnerabilidades no software da urna eletrônica, como as destacadas na
palestra abaixo, do professor Diego Aranha.

Vídeo: Vulnerabilidades no software da urna eletrônica brasileira: 5 anos depois | Diego Aranha

O professor Diego Aranha é referência na defesa do voto impresso e, atualmente, leciona na


Universidade de Aarhus, na Dinamarca. Tem sido citado por apoiadores do presidente Jair
Bolsonaro para sustentar a urgência do voto impresso nas eleições. Porém, o próprio professor, em
entrevista à BBC News Brasil, reforça que não há evidências de fraudes nas urnas eletrônicas e diz
que sua defesa do voto impresso é para dar mais transparência ao sistema eleitoral. Em resumo, é
necessário fazer melhorias, pode-se adotar o voto impresso, contanto que não se atrapalhe o tempo
necessário para maturar e desenvolver o sistema, garantindo sua funcionalidade, praticidade,
agilidade e segurança, que fazem as eleições brasileiras uma das mais confiáveis do mundo e
extremamente rápidas no cálculo dos votos.

Vídeo: Diego Aranha, professor defensor do voto impresso, rebate bolsonaristas sobre urnas

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Como contextualizar essas informações na redação?
Na redação, há a possibilidade de escrever sobre um tema que aborde, especificamente, a
importância do voto no Brasil. Nesse caso, você poderá recorrer à informação sobre a PEC 135/19,
ou seja, o voto impresso, utilizando-a para exemplificar e aprofundar a discussão, dependendo do
posicionamento que será adotado. Cabe, porém, estar atento(a) aos fatos: a origem dessa medida
é infundada, porque surge a partir de uma especulação de fraude eleitoral que nunca foi
comprovada; diferente do que muitos podem ter interpretado, essa medida não consiste no retorno
de cédulas de papel, mas na emissão de um documento de papel que valide os votos; e, por fim, ela
foi rejeitada por 23 a 11 votos contrários à sua aplicação.

No entanto, o que se deu a partir da votação desta PEC também pode dialogar com outros temas,
como aqueles que enfatizam a discussão política e econômica. Isso porque, uma informação
passível de ser problematizada é o gasto que tal adaptação traria aos cofres públicos, caso fosse
aprovado; a estimativa seria cerca de 2 bilhões de reais. Deve-se levar em conta o atual cenário
econômico crítico e os efeitos que esse gasto poderia garantir a outros setores do país.

Não só na argumentação, como, também, na proposta de intervenção, é possível recorrer a esta


discussão do capítulo. Afinal, é possível seguir o mesmo raciocínio do professor Diego Aranha, por
exemplo. Conforme mencionado no texto, ele defende que, apesar de não haver evidências de
fraudes nas urnas, é possível melhorar ainda mais a segurança quanto à votação e à preservação
do sigilo do voto. Logo, você, no seu texto, pode trazer como solução para o problema alguma
alternativa que envolva a melhora do sistema de urnas.

Os tópicos nos quais é possível recorrer à tal discussão atual, para além do assunto referente ao
voto especificamente, são aqueles que abordam a política como um todo, questões sobre
corrupção, defesa da democracia, educação política e afins.

Tema I: A discussão sobre o voto no Brasil contemporâneo

TEXTO I
Art. 14. A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com
valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante:

I - plebiscito;
II - referendo;
III - iniciativa popular.
§ 1º O alistamento eleitoral e o voto são:
I - obrigatórios para os maiores de dezoito anos;
II - facultativos para:
a) os analfabetos;
b) os maiores de setenta anos;
c) os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos.
Disponível em: https://www.senado.leg.br/atividade/const/con1988/con1988_15.03.2021/art_14_.asp

46
TEXTO II
Mulher, com ensino médio e de 35 a 59 anos é o perfil majoritário do eleitor que votará nas eleições
de 2020, segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Neste ano, 147.918.483 pessoas estão aptas
a votar, um crescimento de 2,66% em relação às eleições municipais de 2016. (…)
Na divisão por gêneros, as mulheres somam 77.649.569 eleitores (52,49%) do total. Os homens
totalizam 70.228.457 eleitores (47,48%). Outras 40.457 pessoas não declararam o gênero,
representando 0,03% do eleitorado. Um total de 9.985 pessoas usarão o nome social no título de
eleitor, prática autorizada pela Justiça Eleitoral desde 2018.
Em relação ao grau de instrução, a maior parte dos eleitores informou ter o ensino médio completo,
com 37.681.635 (25,47%) pessoas nessa condição. A faixa de menor escolaridade, com ensino
fundamental incompleto, vem em segundo lugar, com 35.771.791 eleitores (24,18%), seguida pelo
contingente com ensino médio incompleto, com 22.900.434 (15,48%). Somente 10,68% do
eleitorado, que somam 15.800.520 pessoas, têm nível superior completo.
Disponível em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/politica/noticia/2020-10/eleicoes-2020-brasil-tem-1479-milhoes-de-eleitores-
aptos-votar

TEXTO III

Disponível em: https://www12.senado.leg.br/noticias/infomaterias/2021/06/entenda-a-polemica-em-torno-da-pec-do-voto-impresso

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TEXTO IV

Disponível em: https:/ /www.politize.com.br/pec-135-19/

A partir da leitura dos textos motivadores e com base nos conhecimentos construídos ao longo de
sua formação, redija texto dissertativo-argumentativo em modalidade escrita formal da língua
portuguesa sobre o tema “A discussão sobre o voto no Brasil contemporâneo” apresentando
proposta de intervenção que respeite os direitos humanos. Selecione, organize e relacione, de forma
coerente e coesa, argumentos e fatos para defesa de seu ponto de vista.

Leia os dois trechos abaixo

Quem É A Favor Da Pec?


No cenário atual, utilizam-se muitos argumentos em favor da implantação do voto impresso no
sistema eleitoral, dentre eles se destacam: maior segurança nas eleições; o eleitor teria a garantia
de ter votado no candidato que escolheu; seria possível evitar uma eventual “fraude eleitoral” e; seria
possível auditar o voto além da urna eletrônica.

Vale lembrar que, apesar de diversas alegações de fraude no sistema da urna eletrônica, não se
circula uma tese ou matéria jornalística verdadeira que comprove de fato que o atual sistema seja
falho. Como defende o Tribunal Superior Eleitoral, a urna eletrônica nunca apresentou falha eleitoral
em seus 25 anos de utilização.

48
Quem É Contra A Pec?
A eventual implantação do voto impresso (em conjunto com a urna eletrônica) provocaria um gasto
público estimado de R$ 2 Bilhões, conforme ressalta o Presidente do TSE Luís Roberto Barroso, em
entrevista ao Jornal CNN Política.

Além disso, Barroso aponta um fator importante que pode vir a ser prejudicado caso o projeto de lei
seja aprovado: a quebra do sigilo de voto. A Constituição Federal apresenta em seu Art. 14: “Art.
14. A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor
igual para todos, e, nos termos da lei, mediante:” (…); esse direito fundamental aos cidadãos garante
que o voto dos eleitores seja secreto, sendo qualquer prática de interferência crime eleitoral, pois
desrespeita um princípio da constituição.
Disponível em: https://www.politize.com.br/pec-135-19/

Escreva um parágrafo argumentativo relacionando a questão da PEC 135 (o voto impresso) à


democracia brasileira. Você pode defender o ponto de vista que quiser, apenas não se esqueça de
trazer referências que possam validar a sua ideia e de trazer a coerência necessária.

49
Preço dos alimentos e a produção no Brasil
Agricultura pode ser entendida enquanto um conjunto de técnicas que permitem a humanidade
ter controle sobre a produção vegetal. A produção de alimentos, de ração, de energia, de matéria
prima para indústria, são realizadas por essa atividade. Sabemos que o Brasil é um gigante no que
tange a produção agrícola. Atualmente, vemos um crescente preço dos alimentos, ao mesmo
tempo que ouvimos notícias sobre a expansão da produção do agronegócio. Um primeiro
raciocínio chave para entender a questão passa justamente por isso, entendendo que aumentar a
produção agrícola não significa imediatamente estar produzindo mais comida.

Hoje a agricultura brasileira tem uma enorme dependência dos grãos, que são cultivados em larga
escala para a exportação. O Brasil chega a fornecer grãos para o que equivaleria a 10% da
população mundial, cerca de mais de 800 milhões de pessoas, segundo a EMBRAPA. Esses dados
consideram tanto a alimentação direta quanto a indireta. A alimentação direta é quando o que é
plantado se torna diretamente comida. A alimentação indireta ocorre da seguinte forma; hoje
produzimos muita soja, que serve sobretudo para a indústria que faz ração, que por sua vez alimenta
o gado, estando, portanto, indiretamente relacionado à produção e consumo de carne. Para cada 1
quilo de carne produzida, usamos cerca de 6 a 20 quilos de grãos.

Ao mesmo tempo que estamos batendo recordes de produção no agronegócio no Brasil, o país
também bate recordes de fome, concomitantemente. Como isso acontece?

O agronegócio brasileiro é, em grande parte, exportador, ou seja, voltado para atender o mercado
externo. Cerca de 70% dos alimentos consumidos pelo brasileiro são produzidos pela agricultura
familiar, segundo a FAO-ONU. Para ser considerado agricultura familiar, é preciso ter a terra no
limite de tamanho que consta na lei, utilizar no mínimo metade da força de trabalho familiar no
processo produtivo e geração de renda, e ser a gestão do estabelecimento estritamente da família.
O foco da produção do grande agronegócio brasileiro não é voltado para o abastecimento interno,
mas para servir de matéria prima para indústrias mais complexas, de processamento para ração,
de biomassa para energia e combustíveis, etc.

Entre 2020 e 2021, o agronegócio produziu 264 milhões de toneladas de grãos segundo o IBGE.
Esse processo se relaciona à volta da dependência do setor primário, a chamada reprimarização da
economia. Na última década esse processo está em curso e se associa também ao
enfraquecimento industrial, acompanhado do fortalecimento da bancada ruralista. O lucro do
agronegócio cresceu muito nos últimos 10 anos, indo de 20 bilhões para 100 bilhões de dólares de
lucro por ano. Quanto mais ele cresce, maior o poder e influência no congresso e mais faz parte das
decisões do governo. A dependência econômica desse setor é crescente.

O modelo de crescimento do agronegócio, no entanto, não é moderno, é antigo. O desmatamento e


corrida pela apropriação de terras públicas, o que torna muitas terras improdutivas por estarem
sendo apropriadas em grande parte enquanto um investimento financeiro, além dos conflitos
agrários consequentes, são questões emergentes no nosso país. Os impactos ambientais e
desabastecimento hídrico tem sido um desafio até mesmo para esse modelo insustentável de
crescimento.

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Preço dos alimentos e inflação no Brasil

A política de dolarização de setores econômicos pós governo Dilma, realizada por Temer e
continuado no governo Bolsonaro, deixou setores estratégicos da economia à mercê das flutuações
econômicas. Ao mesmo tempo em que, na discussão econômica, a segurada do preço realizada
pelo governo PT gerava insegurança no mercado, o que foi muito criticado, a dolarização aparece
enquanto uma alternativa mais confiável para o setor internacional. O problema é que a alta do dólar
e as constantes flutuações do mercado acabam sendo mais sentidas pela população. Com a alta
do dólar, qualquer produto importado fica mais caro. Dolarizado significa estar sendo medido o
preço em dólares. Alguns exemplos de produtos que estão com seu preço dolarizado são o petróleo,
que serve para combustível, o gás de cozinha, e a produção de energia elétrica. No valor final de um
produto está embutido o preço de produção dele, incluindo o transporte e os valores de trabalho e
matéria prima. Logo, o aumento do dólar e o preço desses setores acabam encarecendo o valor
final da mercadoria. Além disso, o produtor agrícola acaba também preferindo vender para o
exterior, e ganhar em dólar do que vender para o mercado interno e ganhar em real, moeda mais
desvalorizada, que está valendo menos no mercado. Os produtores agrícolas, portanto, estão
exportando, reduzindo a oferta do abastecimento interno, o que aumenta também o valor da
comida.

Como contextualizar essas informações na redação?


A discussão acerca dos preços de alimentos e da produção agrícola brasileira é possível de ser
relacionada com diversos eixos: atravessa a questão da fome no país, da desigualdade social, dos
índices de pobreza e das questões econômicas. Sendo assim, as informações aqui vistas servem
como repertório para uma pluralidade de temas de redação.

Cabe observar, primeiramente, a relação entre o preço dos alimentos e o cenário econômico atual
brasileiro. Temos dados que ilustram as causas do problema (inflação e crise hídrica, conforme
pontuado anteriormente). Somado a isso, há, também, o atual nível de desemprego como mais um
empecilho. À medida que a alimentação torna-se cada vez mais cara, em um país com muitos
indivíduos em situação de desemprego, observa-se a maior frequência de pessoas em situação de
insegurança alimentar.

Cabe acrescentar o contexto pandêmico à discussão, também. Apesar de a fragilidade econômica,


consequente da política de dolarização pós governo Dilma (mesmo que, durante sua gestão,
também houvesse suas fragilidades), ter dado início antes da situação do Covid-19, a partir de 2020,
não só o Brasil, como todo o mundo, enfrentou desafios em termos de empregabilidade,
insegurança financeira e, por consequência, insegurança alimentar. No entanto, ainda que, a partir
de 2020 o Governo Federal tenha disponibilizado o auxílio emergencial, a realidade de 2021 se
mostra preocupante: os números de desemprego só aumentam e, juntamente, há a possibilidade
do país retornar ao mapa da fome. Confira os dados abaixo:

A taxa de desemprego no Brasil ficou em 14,6% no trimestre encerrado em maio, apontam os dados
divulgados nesta sexta-feira (30) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Isso

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representa um contingente de 14,8 milhões de pessoas buscando por uma oportunidade no mercado
de trabalho no país.

De acordo com o IBGE, esta foi a segunda maior taxa de desemprego da série histórica, iniciada em
2012. A taxa recorde, de 14,7%, foi registrada nos dois trimestres imediatamente anteriores, fechados
em março e abril. Os dados fazem parte da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua
(Pnad). (...)
Disponível em: https://g1.globo.com/economia/noticia/2021/07/30/desemprego-fica-em-146percent-no-trimestre-encerrado-em-
maio-aponta-ibge.ghtml. Acessado em: 30/08/2021

A palavra fome voltou a assombrar os brasileiros mais pobres. Além do recrudescimento da pandemia e do
impacto com as quase 4 mil mortes diárias pela Covid-19, há uma tempestade perfeita nesse caos que coloca
em risco também sua segurança alimentar: inflação alta, desemprego e ausência do auxílio emergencial – ao
menos num nível que permita a compra de uma cesta básica.

O Brasil deixou o chamado Mapa da Fome em 2014 com o amplo alcance do programa Bolsa Família – estudo
do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) baseado em dados de 2001 a 2017 mostrou que, no
decorrer de 15 anos, o programa reduziu a pobreza em 15% e a extrema pobreza em 25%. No entanto, o país
deve voltar a figurar na geopolítica da miséria no balanço referente a 2020.(...)

De acordo com Daniel Balaban, representante no Brasil do Programa Mundial de Alimentos das Nações Unidas
(WFP) e Diretor do Centro de Excelência contra a Fome, a situação brasileira é muito preocupante. Ele projeta
que o Brasil esteja próximo dos 9,5% de sua população com subalimentação.

“A condição do Brasil vinha se deteriorando antes da pandemia, por conta dos cortes orçamentários de políticas
sociais, crises políticas e econômicas. A pandemia só apressou e piorou essa situação”, disse Balaban à CNN.
Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/nacional/inflacao-e-pandemia-podem-empurrar-brasil-de-volta-ao-mapa-da-fome/.
Acessado em: 30/08/2021

Portanto, busque recorrer a tais dados para a problematização de temáticas relacionadas à


desigualdade e ao estado econômico atual. A seguir, você um tema da Unesp 2017, o qual é possível
estabelecer diálogos entre o que foi discutido aqui e o assunto de cada um deles. Vamos trabalhar?
😊

A riqueza de poucos beneficia a sociedade inteira? (UNESP 2017)

TEXTO I
A distribuição da riqueza é uma das questões mais vivas e polêmicas da atualidade. Será que a
dinâmica da acumulação do capital privado conduz de modo inevitável a uma concentração cada
vez maior da riqueza e do poder em poucas mãos, como acreditava Karl Marx no século XIX? Ou
será que as forças equilibradoras do crescimento, da concorrência e do progresso tecnológico
levam espontaneamente a uma redução da desigualdade e a uma organização harmoniosa da
sociedade, como pensava Simon Kuznets no século XX?
Thomas Piketty. O Capital no Século XXI, 2014. Adaptado.

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TEXTO II
Já se tornou argumento comum a ideia de que a melhor maneira de ajudar os pobres a sair da
miséria é permitir que os ricos fiquem cada vez mais ricos. No entanto, à medida que novos dados
sobre distribuição de renda são divulgados*, constata-se um desequilíbrio assustador: a distância
entre aqueles que estão no topo da hierarquia social e aqueles que estão na base cresce cada vez
mais A obstinada persistência da pobreza no planeta que vive os espasmos de um
fundamentalismo do crescimento econômico é bastante para levar as pessoas atentas a fazer uma
pausa e refletir sobre as perdas diretas, bem como sobre os efeitos colaterais dessa distribuição
da riqueza.
Uma das justificativas morais básicas para a economia de livre mercado, isto é, que a busca de
lucro individual também fornece o melhor mecanismo para a busca do bem comum, se vê assim
questionada e quase desmentida.
* Um estudo recente do World Institute for Development Economics Research da Universidade das
Nações Unidas relata que o 1% mais rico de adultos possuía 40% dos bens globais em 2000, e que
os 10% mais ricos respondiam por 85% do total da riqueza do mundo. A metade situada na parte
mais baixa da população mundial adulta possuía 1% da riqueza global.
Zygmunt Bauman. A Riqueza de Poucos Beneficia Todos Nós?, 2015. Adaptado

TEXTO III
Um certo espírito rousseauniano parece ter se apoderado de nossa época, que agora vê a
propriedade privada e a economia de mercado como responsáveis por todos os nossos males. É
verdade que elas favorecem a concentração de riqueza, notadamente de renda e patrimônio.

Essa, porém, é só parte da história. Os mesmos mecanismos de mercado que promovem a


disparidade – eles exigem certo nível de desigualdade estrutural para funcionar – são também os
responsáveis pelo mais extraordinário processo de melhora das condições materiais de vida que a
humanidade já experimentou.

Se o capitalismo exibe o viés elitista da concentração de renda, ele também apresenta a vocação
mais democrática de tornar praticamente todos os bens mais acessíveis, pelo aprimoramento dos
processos produtivos. Não tenho nada contra perseguir ideias de justiça, mas é importante não
perder a perspectiva das coisas.
Hélio Schwartsman. “Uma defesa da desigualdade”. Folha de S.Paulo, 14/6/2015. Adaptado.

Com base nos textos apresentados e em seus próprios conhecimentos, escreva uma dissertação,
empregando a norma-padrão da língua portuguesa, sobre o tema: A riqueza de poucos beneficia a
sociedade inteira?

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Referências
• A crise perpétua da Argentina

• Lentidão da vacinação contra a covid-19 na Argentina pressiona o Governo em meio à crise econômica

• Argentina chega a 100 mil mortos em meio a tentativas de combinar vacinas e medo da delta

• Imprensa do Peru denúncia acesso limitado às atividades oficiais de Castillo

• Peru chega à era Castillo em meio a muitas incertezas

• EXCLUSIVO-Novo governo do Peru visa setores de gás natural e hidrelétrica para empresas públicas

• As 30 horas em que o Governo de Castillo balançou

• O que Obrador ganhou e perdeu na megaeleição no México

• Existe um divórcio entre a Cidade do México e AMLO?

• México realiza referendo sobre julgamento por corrupção contra ex-presidentes

• Daniel Ortega, o revolucionário que libertou a Nicarágua e é acusado de virar um tirano

• Como Ortega persegue adversários e cala a imprensa na Nicarágua

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