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ORGÂNICOS

MÓDULO 2 - Produção vegetal orgânica - IN 46/11


Coordenação Design Gráficos / Audiovisual
Jaqueline Gonçalves Silva Charles Fernandes Constantino
Jaqueline Gonçalves
Gestão Pedro Vianna Quintian
Guilherme Fumagalli
Júlia Vidigal Munhoz Roteiro
Luiza Reguse Daniel Araújo
Jaqueline Gonçalves Silva
Supervisão de Tutoria Júlia Vidigal Munhoz
Michele Santos Fernandes Luiza Reguse
Gabriela Macedo Lemos Renata Vieira

ORGÂNICOS Alice Mello

Especialistas em
Certificação de Orgânicos
Daniel Araújo
Luiza Reguse
MÓDULO 2
Produção vegetal orgânica - IN 46/11
Olá aluno(a)!

O curso de TÓPICOS GERAIS EM PRODUÇÃO E CERTIFICAÇÃO DE ORGÂNICOS é uma iniciativa


das empresas Gênesis Certificações e OrgânicosPro, para contribuir com o seu conhecimento com as
relações de certificação de orgânicos.

A partir da sua inscrição, fortalecemos o compromisso em oferecer conteúdos relevantes, desde leituras
complementares, aulas atrativas e atividades para reforçar o aprendizado. Além disso, gostaríamos
de reforçar a importância de seguir o cronograma do curso, disponível em sua biblioteca virtual, para
organizar e acompanhar suas aulas.

O curso desenvolvido envolve os gestores das respectivas empresas, editores, pedagogos, designers
gráficos e especialistas da área de certificação de orgânicos, a fim de garantir um conjunto de
conhecimentos sobre a temática para serem compartilhados e disseminados da melhor forma.

Portanto, os conteúdos e as vídeoaulas a serem trabalhados, bem como todas as reflexões a serem
feitas, possibilita ao estudante compreender questões sobre o processo de certificação orgânica,
embasada na legislação federal vigente e instruções normativas associadas.

Módulo2: Produção vegetal orgânica - IN 46/11


05
Ementa do módulo
Curso dividido em módulos, que visa a compreensão e estudo do processo de certificação orgânica,
embasada na legislação federal vigente e instruções normativas associadas.

Público-alvo
Direcionado a técnicos e profissionais da área, agricultores, gestores e empresas com interesse nos
requisitos para a certificação.

Objetivo
Este módulo tem como objetivo fornecer uma compreensão geral da produção orgânica no campo, de
acordo com as regras estabelecidas pela Instrução Normativa 46 de 2011. A proposta é que o aluno possa
conhecer e interpretar estes requisitos, podendo aplicar os conceitos na prática da agricultura orgânica ou
em um processo de certificação.

Conteúdo
O curso apresentará conceito básicos, requisitos, documentos e práticas obrigatórias para atender a
conformidade da Instrução Normativa 46, visando a certificação da produção vegetal orgânica.

Carga Horária
3 horas

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06
Dicas para aproveitar o seu curso

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Escolha um local Desligue o celular e para organizar seus
silencioso para evite distrações! horários! Disponível
começar a estudar! na biblioteca

Não esqueça de Falando nisso, baixe


fazer anotações também os conteúdos
durante o curso complementares

Ao chegar no final do curso, não esqueça de fazer o download


do seu certificado e compartilhar em suas redes sociais!
02
UNIDADE

01 03
UNIDADE UNIDADE

Iniciando
a produção
vegetal orgânica

Recebendo
Introdução
a auditoria
UNIDADE 01
Introdução

A agricultura orgânica no Brasil.......................................................... 10


O Plano de Manejo Orgânico .............................................................. 12
A agricultura orgânica no Brasil
No Brasil, a produção vegetal tem destaque quando comparado a outros segmen-
tos da produção orgânica em geral. De acordo com levantamento do Ministério da
Agricultura (MAPA) utilizando dados do Cadastro Nacional de Produtores Orgânicos,
temos um cenário onde a produção vegetal está presente na maioria das proprieda-
des certificadas (49,9%) bem acima das demais.1

12000

10000

8000

6000

4000

2000

0
Produção Produção Extrativismo Produção ProcessamentoEoExtrativismo e Produção
vegetal animal e proces- processamento vegetal e
samento animal

Controle Social na Venda Direta (OCS) Sistema Participativo de Garantia (Opac)

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1
https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/197399/1/5058.pdf
Dados de 2017 descrevem o consumo e o mercado de orgânicos Além das hortaliças, é relevante também a produção de grãos
e oferecem um panorama geral sobre o assunto (Organis, Market com destaque para o feijão, arroz, milho e soja, assim com as
Analysis, 2017). Segundo essa pesquisa, o maior mercado de orgâ- frutíferas, como citros, uva e maçãs, especialmente no sul do país.
nicos está na região Sul, onde o consumo é mais que o dobro do
consumo nacional. Uma parcela de 15% da população urbana com-
pra alimentos orgânicos com regularidade nas grandes capitais,
e os benefícios para a saúde são a principal motivação. Os
consumidores também reconhecem outras vantagens, como a
contribuição ao meio ambiente e as melhores características
dos produtos se comparados aos convencionais. O supermer-
cado responde por 64% das compras e é o ponto de compra mais
comum, seguido pelas feiras, com 26%. Verduras, legumes e frutas
são os alimentos mais consumidos. 

O consumo de frutas, verduras e vegetais também é impor-


tante por muitas vezes ser a porta de entrada para a conversão
à agricultura orgânica de um grande número de produtores. Este
movimento de consumo é importantíssimo para pequenos produ-
tores familiares que, por meio da certificação de sua colheita, rece-
bem um preço justo e diferenciam su sua produção do mercado em
geral. Programas públicos de compra de alimentos, como o PAA
(Programa de Aquisição de Alimentos) possuem linhas de ação ex-
clusivas para a compra de produtos orgânicos, muitas vezes des-
tinados à alimentação escolar, conectando dois polos - pequenos
produtores e consumidores - diretamente.

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O Plano de Manejo Orgânico
O primeiro passo para a certificação da produção agrícola, é o preenchimento de um Plano de Manejo Orgânico (que
daqui pra frente chamaremos de PMO). Este é o documento central e obrigatório para todo o processo de certificação de
orgânicos, que deve ser mantido atualizado com todos os detalhes sobre a propriedade e demais informações descritivas da
produção orgânica, tais como:

A. Identificação do produtor: Dados como nome, documentos de identificação, localização, caracterização


como pessoa física ou jurídica.

B. Descrição geral do projeto de certificação: O que é produzido, se existe somente produção orgânica
na propriedade, quais são os principais canais de venda.

C. Aspectos sociais: Se trata-se de produtor familiar ou se existe também contratação de funcionários,


ainda que de forma sazonal. Quais as interações e a relevância do projeto de certificação junto à comunidade
do entorno, entre outros.

D. Detalhes sobre a produção vegetal: Tamanho da área a ser certificada, cultivos propostos à certificação,
incluindo variedades, origem das sementes ou mudas, época de colheita e produtividade estimada.

E. Manejo e Tratos culturais: Calendário de cultivo contendo informação sobre data de semeadura, tratos
culturais, aplicação de insumos, colheita, entre outros. Descritivo das ações de manejo da fertilidade do solo e de
pragas e doenças.

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Além de ser obrigatório para a certificação, o PMO deve ser visto
O Ministério da Agricultura possui um material como uma ferramenta de apoio ao produtor pois ajuda no planeja-
informativo que detalha a importância e os itens mento das atividades da propriedade, no controle e verificação de
compulsórios para o PMO, assim como disponibiliza custos, no monitoramento da evolução dos sistemas de produção, e
um modelo para download. Além deste exemplar, na identificação das boas práticas agrícolas.
cada certificadora possui seu próprio template
que organiza as informações de forma adequada
ATENÇÃO: Este documento deve ser mantido
e que será fornecido ao cliente no momento da
atualizado e sempre disponível (em meio físico ou
solicitação da certificação e o acompanhará por
digital). Ou seja, sempre que houver uma mudança
todo o processo.
na área plantada, nos produtos semeados, nos
insumos utilizados ou qualquer outra alteração
Caderno do Plano de Manejo significativa na operação orgânica, o PMO deve ser
orgânico do MAPA2 atualizado. Por ser um documento-chave, ele será
verificado tanto pelas certificadora, quanto por
Acessar material
autoridades que porventura venham a fiscalizar a
propriedade orgânica.

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2
http://agroecologia.gov.br/sites/default/files/publicacoes/Caderno_do_Plano_de_Manejo_Organico.pdf
UNIDADE 02
Iniciando a produção vegetal orgânica

Definição ........................................................................................................................................................... 15
O período de conversão ............................................................................................................................. 16
A produção paralela, separação, isolamento e proteção da parcela orgânica ................ 18
Origem das sementes e mudas .............................................................................................................. 23
Manejo da Fertilidade do Solo ................................................................................................................ 24
Manejo de pragas e doenças .................................................................................................................. 26
Pontos de interesse social e ambiental ............................................................................................... 29
Definição
Para iniciarmos o processo de certificação de uma propriedade Dessa forma, a agricultura orgânica/produção vegetal orgâ-
produtora, vamos entender o conceito de um sistema orgânico nica pode ser definida como um sistema de produção que busca
de produção: chegar o mais próximo dos processos observados natureza. Por
isso, exclui o uso de agrotóxicos, a aplicação de fertilizantes solú-
veis, utilização de hormônios e qualquer tipo de aditivo químico na
“Os sistemas orgânicos de produção agropecuária
produção. Além disso, devem ser sistemas economicamente pro-
buscam a otimização do uso dos recursos naturais
dutivos, com eficiência na utilização de recursos naturais, respeito
e socioeconômicos disponíveis, mantendo a
ao trabalho, além do reduzido uso de insumos externos ao siste-
integridade cultural das comunidades rurais,
ma, buscando aproveitar ao máximo a ciclagem de nutrientes na
tendo por objetivo a sustentabilidade econômica
propriedade agrícola, integrando cultivos e criações. O objetivo
e ecológica, a maximização dos benefícios sociais,
é produzir alimentos livres de resíduos tóxicos e contaminantes,
a minimização da dependência de energia
mesmo após o processamento. A agricultura orgânica reúne todos
não renovável e a proteção do meio ambiente,
os modelos não convencionais de agricultura biodinâmica, natu-
empregando, sempre que possível, métodos
ral, biológica, permacultura ou agroecológica, para se contrapor
culturais, biológicos e mecânicos, em contraposição
ao modelo convencional, explorando técnicas e princípios de cada
ao uso de materiais sintéticos, a eliminação do
uma delas.
uso de organismos geneticamente modificados,
de radiações ionizantes, em armazenamento,
distribuição e comercialização” 3

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3
Lei 10.831 de 31/12/2003 Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
O período de conversão
Todas as normativas de produção orgânica exigem que a área de
produção passe por um período de conversão antes que o produto
ali colhido possa ser considerado orgânico. É um período destinado à
reestabelecer o equilíbrio ecológico da área de produção, aumentar
a biodiversidade dos cultivos, a atividade biológica do solo, eliminar
resíduos de contaminantes da agricultura convencional que porven-
tura existam. O período de conversão deve, ao seu final, assegurar
que as unidades de produção estejam aptas a produzir em conformi-
dade com os regulamentos técnicos da produção orgânica, incluindo
a capacitação dos produtores e trabalhadores, ou seja não basta so-
mente uma mudança ecológica ou nos insumos, mas também uma
mudança na abordagem de trabalho sob a área.

Na literatura científica esse período é chamado também como


Período de Transição, ou Fase de Transição. Ao longo dessa fase, o
produtor pode adotar técnicas orgânicas aos poucos em toda a área,
ou iniciar a conversão de algumas parcelas ou talhões, ou ainda al-
guns dos cultivos manejados como orgânicos enquanto outros se-
guem como convencionais. Existem diversas estratégias de transição
agroecológica que irão variar bastante, de acordo com a dimensão
da propriedade, uso anterior da área, cultivos pretendidos, condições
de solo e de clima da região e assim por diante.

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Em outras palavras, o período de conversão é o período em
que a parcela e os cultivos são mantidos sob manejo orgânico,
porém sua produção ainda não pode ser comercializada como
orgânica. Na produção vegetal, o tempo mínimo exigido desde
a última aplicação ou prática proibida até que a área possa ser
considerada orgânica é de: Figura: O tempo de conversão é variável de acordo com o tipo de cultivo,
perene ou anual

12 (doze) meses de manejo orgânico na Por exemplo, se um produtor de grãos em conversão para o siste-
produção vegetal de culturas anuais, para ma orgânico realizou uma aplicação de herbicida em janeiro de 2020,
que a produção do ciclo subsequente seja deverá cumprir o prazo de 12 meses de manejo orgânico até que possa
considerada como orgânica; ser considerado como orgânico, o que deverá ocorrer de janeiro 2021
em diante. Ou seja, os cultivos semeados a partir de janeiro de 2021,
18 (dezoito) meses de manejo orgânico na quando colhidos, poderão ser certificados como orgânicos.
produção vegetal de culturas perenes, para que
a colheita subsequente seja considerada como Já para os cultivos perenes - como frutíferas - o período de con-
orgânica; e versão é maior:18 meses pois considera-se que as plantas orgânicas
serão as mesmas que anteriormente estavam sob manejo convencio-
12 (doze) meses de manejo orgânico ou pousio nal. Nesse caso, uma parreira de uva de mesa por exemplo, que teve
na produção vegetal de pastagens perenes. aplicação de fungicida proibido em Janeiro de 2020, poderá ser colhi-
da e certificada como orgânica somente após Julho de 2021, quando
cumpridos os 18 meses de conversão.

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A produção paralela, separação, isolamento
e proteção da parcela orgânica
Em muitos casos, não é viável realizar a conversão total da pro-
B Quando existem culturas perenes (por exemplo pomares)
priedade orgânica. Isso pode ocorrer porque uma determinada
preexistentes ao período de conversão, somente será
cultura não possui viabilidade no cultivo agroecológico naquela re-
permitida a conversão parcial de uma mesma espécie ou
gião, ou por questões econômicas, culturais, entre outras. Para es-
variedade sem diferenças visuais caso sejam obtidas de
ses casos é possível realizar o que chamamos de produção paralela,
áreas distintas e demarcadas, por no máximo cinco anos.
que por definição é “a produção obtida onde, na mesma unidade
Passados cinco anos só será permitida a produção paralela
de produção ou estabelecimento, haja coleta, cultivo, criação ou
quando tratar-se de espécies ou variedades com diferenças
processamento de produtos orgânico e não-orgânico”. Em outras
visuais. Ou seja, se temos um pomar de maçã, é permitido um
palavras - é a convivência, na mesma propriedade, do cultivo orgâ-
plano de conversão, de duração máxima de 5 anos, onde será
nico e convencional.
permitida a colheita de parte da produção orgânica e parte
Para que isso ocorra, a normativa exige que algumas condições convencional. Após esse período, toda as áreas já deverão ter
sejam atendidas: passado pela conversão e colhidas orgânicas.

A Para culturas anuais ou no plantio de culturas perenes


A produção paralela, também chamada de conversão parcial, é
no início da conversão, devem ser utilizadas espécies ou
considerado um fator de risco de contaminação e mistura da produ-
variedades que apresentem diferenças visuais em área distintas
ção convencional com orgânica, já que o produtor irá manter insumos
e demarcadas - ou seja, não pode ocorrer o cultivo de milho
proibidos, sementes convencionais e colheitas não-orgânicas na mes-
orgânico e milho convencional mesmo quando separados.
ma propriedade em que existe cultivo certificado. Por isso, a produção
Por outro lado, pode ocorrer plantio de milho orgânico e feijão
paralela só poderá ocorrer quando autorizada pela certificadora, me-
convencional, desde que em áreas bem separadas e delimitadas.
diante o respeito aos seguintes critérios:

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A. As áreas devem estar distantes umas das outras - manejo orgânico e
manejo não-orgânico (convencional).

B. A posição topográfica das áreas (mais alta/mais baixa) deve


privilegiar a área orgânica, para evitar contaminação por deriva de
insumos ou agrotóxicos aplicados.

C. Deverão ser controlados todos os insumos utilizados nas áreas


não-orgânicas: deverão ser apresentados à certificadora e sua
forma de aplicação deve ser pensada de modo a minimizar o risco de
contaminação da área orgânica.

D. Deve haver uma sinalização e demarcação específica da


área não-orgânica.

E. O acesso às áreas convencionais deve ser facilitado para


inspeção da certificadora.

Importante: a produção convencional existente na propriedade orgânica não poderá


ser de organismos geneticamente modificados (OGM). É vedada a convivência de
transgênicos e orgânicos, de acordo com o art. 8 do decreto 6323/07.

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A legislação brasileira ainda determina que equipamentos de pul-
verização utilizados em áreas convencionais não poderão ser compar-
tilhados com a produção orgânica, mesmo que passem por higieniza-
ção. Dessa forma, caso o produtor possua uma área convencional e
outra orgânica, cada uma delas deve possuir seu próprio pulverizador,
por exemplo. Os demais equipamentos e implementos (como arados,
grade, carreadores, equipamentos de poda...) poderão ser comparti-
lhados, mediante limpeza antes do uso no manejo orgânico.

Em relação aos insumos de cada área, deverão ser armazena-


dos separadamente e claramente identificados. Aqueles insumos
não permitidos para uso na agricultura orgânica não poderão ser ar-
mazenados no mesmo galpão/setor da área de produção orgânica.
Assim, o produtor que trabalhar com produção paralela, deve man-
ter um armário ou galpão específico para os produtos químicos da
agricultura convencional e outro para os produtos autorizados para
a produção orgânica, ambos claramente identificados.

A produção não-orgânica também é controlada pela certificado-


ra, sendo que o produtor tem a responsabilidade de informar a data
prevista para a colheita convencional, quais são os procedimentos de
separação da colheita orgânica e não-orgânica e qual a produção
estimada para a colheita convencional, ano a ano.

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Isolamento de parcelas, ou barreiras:

São o conjunto de medidas adotadas por todos os produtores or-


gânicos, para evitar ou minimizar o risco de contaminação da parcela
orgânica. Ou seja, é uma forma de prevenção e proteção da produção
certificada, frente a vizinhos convencionais e/ou fontes de contamina-
ção externas. O isolamento da parcela vis prevenir:

A. Contaminação por produtos não conformes: quaisquer


produtos que não estejam de acordo com a legislação que
porventura alcancem o cultivo orgânico.

B. Parcelas convencionais de vizinhos: vizinhos não orgânicos


são uma fonte de contaminação e risco, visto que aplicam
agrotóxicos e utilizam insumos sintéticos que podem ser
transportados inadvertidamente até a parcela orgânica.

C. Parcelas convencionais do produtor: quando houver


produção paralela na mesma propriedade, aplica-se o
mesmo raciocínio acima.

D. Estradas de grande circulação, indústrias poluentes,


depósitos de lixo, áreas urbanas, entre outros.
Figura: A aplicação de agrotóxicos por vizinhos pode ser uma fonte
de contaminação da lavoura orgânica

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O isolamento da parcela pode ser obtido por distância ou pelo cul- nação, que em última análise depende da realidade de cada re-
tivo de barreiras vegetais. Não existe uma distância determinada pela gião, criatividade e interesse do produtor orgânico.
legislação, porém a mesma é avaliada pela certificadora, devendo ser
grande o suficiente para prevenir a deriva de agrotóxicos de vizinhos. Finalmente, a barreira pode servir como forragem para cria-
O método mais seguro é o cultivo de barreiras vegetais, através do ção animal, na produção de biomassa - por meio de cultivo de
plantio de cordões de contorno ou mesmo cercas vivas. Nesses casos a espécies como cana forrageira ou capim camerão - contanto
barreira vegetal pode ter múltiplos propósitos, para além da proteção que a retirada/corte de parte da barreira não prejudique sua
da parcela. função principal que é a proteção da parcela orgânica.

A cerca viva por exemplo, funciona como um quebra-vento, capaz


de reduzir o impacto dos ventos frios ou quentes e barrar a movimen-
tação de algumas pragas e doenças. Esse microclima criado também
pode auxiliar evitando ventos fortes e temperaturas extremas. Essa
vegetação e os microclimas criados também são aproveitados como
abrigo de diferentes espécies vegetais e animais, inclusive de pragas
e de seus inimigos naturais. Por isso, a cerca viva funciona também
como um tampão fitossanitário - evitando ou diminuindo a severidade
de pragas e doenças - e um componente da biodiversidade da pro-
priedade orgânica.

As barreiras na propriedade orgânica possuem valor também como


reservas biológicas, abrigando agentes polinizadores e outros insetos be-
néficos, além de outros elementos da fauna como pássaros e pequenos
mamíferos. Para funcionarem desta forma estas barreiras precisam ser
botanicamente diversificadas, existindo várias possibilidades de combi-

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Origem das sementes e mudas
Alegislação exige que sejam utilizadas sementes e mudas oriun-
das de sistemas de produção orgânica (Art. 100). Entretanto, o mer-
cado de sementes orgânicas no Brasil ainda é pouco desenvolvido
e normalmente os produtores possuem dificuldade para encontrar
sementes e mudas orgânicas certificadas, ou as encontram, porém
com aspectos produtivos ou características diferentes daquelas de-
sejadas ou necessárias as condições de solo e clima do agricultor.

Pensando nisso, a própria normativa determina que os orga-


nismos avaliadores da conformidade (certificadoras) possam re-
conhecer a indisponibilidade de sementes e mudas orgânicas ou a
inadequação das alternativas existentes à situação ecológica da
unidade produção. Caso a certificadora reconheça a inviabilida-
de ou inexistência de sementes e mudas orgânicas para atender
ao produtor, poderá autorizar o uso de alternativas disponíveis no
mercado, ou seja - sementes e mudas não-orgânicas. Entretanto
deve-se preconizar o uso de sementes e mudas que não tenham re-
cebido tratamento com agrotóxicos ou qualquer outro insumo não
listado no regulamento.

Atenção: essa exceção não se aplica para brotos comestíveis - esses


sim, deverão ser sempre produzidos à partir de sementes orgânicas. Figura: As sementes crioulas são uma alternativa adotada pelos
produtores orgânicos, em virtude da baixa disponibilidade de
material propagativo certificado.

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23
Por conta da baixa adoção de sementes e mudas orgânicas no mercado brasileiro,
existe um esforço por parte do governo em estimular a produção e adoção de material
propagativo certificado. Desde 2016, a comissão de produção orgânica de cada estado
(CPORG) pode produzir uma lista, atualizada anualmente, com as espécies e variedades
que possuem sementes orgânicas disponíveis de acordo com a demanda local - nesses
casos é vedado o uso de sementes não-orgânicas.

Para sementes e mudas, vale lembrar a proibição total do uso de organismos gene-
ticamente modificados (OGM). Ou seja, o uso de sementes transgênicas é vedado em
qualquer circunstância, conforme determina o Art. 101. Caso o produtor cultive espécies
que possuem variedades transgênicas no mercado, como a soja e o milho, deverá apre-
sentar evidências de que a semente utilizada não é OGM - isso ocorre geralmente por
meio da nota fiscal especificando a variedade de semente adquirida.

Manejo da Fertilidade do Solo


A produção orgânica, do ponto de vista da fertilidade do solo, não resume-se a
simples substituição de adubação química por adubação orgânica. A produção orgânica
deve buscar uma abordagem mais ampla, através do manejo ecológico do solo, que
defende um conjunto de medidas para a manutenção ou a recuperação das condições
físicas, químicas e biológicas do solo. O cultivo orgânico deve respeitar as capacidades
do solo, evitando sua exaustão. Por isso, é preciso estabelecer critérios de uso e manejo Figura: A manutenção da matéria orgânica do solo
das áreas de modo que não se comprometa a capacidade produtiva dessas terras. e alta atividade biológica do mesmo são essenciais
na agricultura orgânica

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Para proteger o solo dos efeitos danosos da erosão e da com- 5. Biofertilizantes Permitidos desde Permitido desde que a matéria-
pactação do solo causada por máquinas animais, deve-se buscar obtidos de compo- que seu uso e prima não contenha produtos não
nentes de origem manejo não permitidos pela regulamentação
condições adequadas ao desenvolvimento das plantas. Para isso, vegetal causem danos à da agricultura orgânica. Permitido
busca-se o incremento de fatores essenciais: a disponibilidade de saúde e ao meio somente com autorização do OAC
ambiente; ou da OCS.
água, a quantidade de nutrientes e a atividade biológica do solo -
seus microorganismos.
Na primeira coluna, temos a identificação do insumo ou subs-
Uma abordagem efetiva de conservação do solo depende do tância. Na segunda coluna são apresentadas as restrições gerais
conhecimento do ambiente em que se vai trabalhar, levando-se em de uso. Na última coluna a legislação determina critérios para uso
consideração: o clima da região,o tipo e a condição do solo utiliza- desse insumo, quando o mesmo for oriundo de sistemas de produ-
do, o relevo do terreno, os problemas enfrentados pelo produtor, a ção não-orgânicos. Nesse caso então, os Biofertilizantes podem
condição financeira do produtor, e a disponibilidade de mão-de- ser utilizados livremente desde seu uso não cause dano a saúde
-obra para a implantação de medidas preventivas e curativas dos humana e ao meio ambiente, porém, caso seja de origem não-or-
problemas ocasionados pelo mau uso do solo. gânica (obtido de plantas convencionais) não deverá conter pro-
dutos não permitidos pela regulamentação da agricultura orgâni-
Após essas considerações e com base em um plano de ma- ca e sua aprovação fica à cargo da certificadora.
nejo da fertilidade do solo, a legislação permite o uso de fertilizan-
tes, corretivos e inoculantes, que estejam listados no Anexo V da Em resumo, podemos citar alguns produtos que não possuem
instrução normativa 46. Esse anexo traz uma lista de substâncias restrição de uso - Adubos verdes, fosfatos de rocha em geral, mi-
autorizadas como fertilizantes na agricultura orgânica e seus crité- cronutrientes, calcários e preparados biodinâmicos. Na maioria dos
rios de uso. casos, o produtor deverá respeitar critérios específicos para uso dos
fertilizantes, como no caso apresentado dos Biofertilizantes.
Como exemplo, verifique o item 5 do anexo V da IN 46, que trata
do uso de biofertilizantes: 

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25
Alguns insumos, como os resíduos de origem animal mencio- Na primeira coluna temos o elemento que deve ser verificado e
nados, devem passar por análise de risco da certificadora antes na seguinte o limite máximo mg/kg que poderá constar no laudo
de sua adoção pelo produtor orgânico. Em certos casos isso inclui de análise do fertilizante em questão. Essa tabela traz a preocu-
a verificação do nível de metais pesados e contaminantes, que pação da agricultura orgânica com o acúmulo de metais pesa-
não poderão exceder os valores apresentados no ANEXO VI da dos no solo, extremamente prejudicial para a saúde humana e do
normativa 46/11, exibido abaixo: meio ambiente, além da verificação de coliformes e verminoses
prejudiciais.
Limite mg kg-1
Elemento
de matéria seca

1. Arsênio

2. Cádmio
20

0,7
Manejo da pragas e doenças
3. Cobre 70 Assim como no caso dos fertilizantes, a agricultura orgânica
4. Níquel 25 depende de uma abordagem holística (ou seja, integral) para o
5. Chumbo 45 manejo das pragas e doenças. Até mesmo o nome praga é discu-
200
tível dentro da agroecologia, já que a os insetos-praga e demais
6. Zinco
organismos fazem parte do agroecossistema, e a infestação aci-
7. Mercúrio 0,4
ma dos níveis de dano econômico (NDE) indicam geralmente um
8. Cromo (VI) 0,0
desequilíbrio no sistema produtivo. Por isso, na agricultura orgâni-
9. Cromo (total) 70 ca, o manejo de pragas e doenças envolve não somente aplicação
10. Selênio 80 de produtos permitidos pela legislação, mas também uma abor-
11. Coliformes Termotolerantes (número dagem preventiva baseada em um Manejo Integrado de Pragas,
mais provável por grama de matéria seca 1.000 ou Manejo Ecológico de Pragas.
- NMP/g de MS)

12. Ovos viáveis de helmintos (número por


quatro gramas de sólidos totais - nº em 4g ST 1

13. Salmonella-SP Ausência em 10g de


matéria seca

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26
Feita essa introdução, vamos recordar que a IN 46/11 proíbe
o uso de qualquer pesticida de síntese química, com o Art. 106
determinando que somente podem ser utilizadas para o manejo
de pragas na agricultura orgânica, as substâncias e práticas
determinadas nos Anexos VII e Anexo VII da normativa, devendo
ser privilegiadas as substâncias com fontes naturais.

Como exemplo, vamos observar o item 31 do Anexo VII, que


trata da utilização do cobre com a finalidade de controle de pragas
e doenças:

31. Cobre nas formas de Uso proibido em pós-colheita. Uso como fungicida.
hidróxido, oxicloreto, Necessidade de autorização pelo OAC ou pela
sulfato, óxido e octonoato OCS, de forma a minimizar o acúmulo de cobre no
solo. Quantidade máxima a ser aplicada: 6 kg de
Figura: ACJoaninha (Coccinellidae) comendo pulgões é um exemplo
cobre/ha/ano
famoso de controle biológico de pragas.

Nos sistemas orgânicos de produção, a vegetação local é um Na primeira coluna no anexo, temos a identificação do elemento
fator muito importante para manter o equilíbrio ecológico dos ou substância com a segunda coluna contendo as eventuais restrições
insetos. Por isso a biodiversidade deve ser manejada de forma de uso - nesse caso o uso do cobre está vetado na pós colheita. Quando
correta, para garantir a sobrevivência de uma população de utilizado somente pode ser utilizado como fungicida, devendo ser
antes autorizado pela certificadora. Uma observação importante -
inimigos naturais que possam controlar naturalmente a população
um máximo de 6kg de cobra ao ano pode ser aplicado por hectare.
dos chamados insetos pragas - aqui cabe lembrar a alusão feita
a esses refúgios no tópico anterior, sobre barreiras vegetais. Em Além do cobre temos outros insumos de uso comum na agricultura
relação ao manejo de pragas, nenhum outro aspecto dos sistemas orgânica para controle de pragas e doenças, sendo alguns exemplos
agrícolas proporciona serviços ecológicos fundamentais para os agentes de controle biológico, extratos vegetais, óleos essenciais,
assegurar a proteção de plantas contra insetos-pragas quanto à preparados homeopáticos e biodinâmicos, entre outros.
diversidade da vegetação.

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O Anexo VIII traz uma lista de substâncias que, isoladamente
não podem ser utilizadas, porém são admitidas na condição de
“outros ingredientes” em formulações comerciais de produtos fi-
tossanitários. São substâncias que entram na formulação como
aditivos, tais como: ácido acético, açúcar, álcool etílico, amido de
milho entre outras.

Sabemos o quanto é difícil buscar e entender quais substân-


cias podem ou não ser utilizadas na produção vegetal, e por isso
a OrgânicosPro desenvolveu uma plataforma de consulta onde
você facilmente pode encontrar a informação que precisa. É uma
plataforma digital de interface amigável e profissional em que to-
das as substâncias, práticas e produtos permitidos pela legislação
estão disponíveis por meio de um simples mecanismo de busca,
associado a um banco de dados construído com a curadoria de
especialistas na produção e certificação de orgânicos. Com um cli-
que, qualquer pessoa pode encontrar rapidamente as substâncias
procuradas. Além disso, o usuário terá a sua disposição opções de
fornecedores de adubos, insumos e demais produtos que serão
sugestionados pela página conforme a busca. A OrgânicosPro di-
minui a distância entre as normas e quem precisa compreendê-
-las, através de uma ferramenta ágil e confiável com resultado
garantido. Mais do que uma ferramenta de trabalho, estabelece
um elo entre consumidores, produtores e fornecedores do setor.

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Pontos de interesse social e
ambiental
A certificação de orgânicos é também uma certificação que
atesta a qualidade e as boas práticas de produção agrícolas do
produtor. Por isso, além das normas expressas na Legislação - lei
e instruções normativas associadas, o produtor orgânico deve se-
guir atentamente a legislação “de base” de sua atividade. Ou seja,
além de seguir os critérios de produção da agricultura orgânica,
deverá seguir também as leis ambientais, trabalhistas e fiscais
aplicáveis a sua atividade.

Nesse sentido, um dos pontos importantes é a manutenção


das áreas de vegetação nativa, de acordo com o disposto no
código florestal, para a região onde está situada a propriedade
agrícola. A proporção de de reserva legal e áreas de preservação
permanente (APP) deverão ser demonstradas preferencialmente
por Cadastro Ambiental Rural (CAR). Caso esse esteja indisponível
ou não seja compulsório, deverão ser analisados croquis e mapas,
além de confirmar tudo em observação do terreno. Nascentes e
corpos de água devem estar protegidos e livre de acesso de ani-
mais ou terceiros. Em alguns estados e regiões deverão ser obser-
vadas também outorga para uso da água para irrigação. Figura: A manutenção de mata ciliar a áreas de preservação permanente
são alguns dos compromissos ambientais do produtor de orgânicos.

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São expressamente proibidos maus tratos aos animais, ou man-
ter animais silvestres em cativeiro sem autorização legal expressa.
Mesmo que o produtor orgânico esteja voltado somente para a pro-
dução vegetal, observe sempre as condições de vida dos animais da
propriedade - nenhuma forma de manejo irregular ou que configure
sofrimento excessivo e desnecessário deve ser aceita.

A produção orgânica também leva em conta aspectos sociais e o


impacto das atividades nas populações locais. Os trabalhadores da
propriedade, fixos ou temporários, devem ser contratados e remune-
rados na forma da lei trabalhista vigente, tendo acesso à água, pau-
sas para refeições e descanso necessárias. Equipamentos de prote-
ção individual e demais condições de segurança e saúde ocupacional
(SSO) também deverão ser respeitadas.

As atividades de produção não devem impactar de forma nega-


tiva as comunidades no entorno da propriedade - ao contrário, a pro-
dução orgânica visa consolidar práticas e abordagens que resgatem
e valorizem o conhecimento tradicional local.

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UNIDADE 03
Recebendo a auditoria

Preparação ................................................................................................................................. 32
A auditoria e suas etapas .................................................................................................... 32
Emissão do Certificado ......................................................................................................... 34
Conclusão .................................................................................................................................... 35
Referências bibliográficas ................................................................................................... 36
O momento da auditoria é quando todas as práticas e princí-
pios da agricultura orgânica serão verificadas in loco. Como vimos Plano de Manejo Orgânico: Preenchido e atualizado
no primeiro módulo, a auditoria pode ser de terceira parte, rea-
lizada por um auditor vinculado a um organismo de certificação Comprovação de origem das sementes
independente e imparcial, ou pode ser realizada em pares quando
se trata de um sistema participativo de garantia. Nesta unidade Certificados de Conformidade dos fornecedores
vamos abordar a auditoria de terceira parte.
Notas fiscais de compra de insumos, sementes
e plântulas
Preparação
Ficha técnica dos produtos utilizados no campo
O dia de auditoria será acordado entre a certificadora, o clien-
te e o auditor - que não deve ter nenhum impedimento ou conflito Caderno de campo preenchido e atualizado
de interesses com o auditado.

Para que a auditoria seja realizada com sucesso, uma boa pre-
paração é essenciaL e começa com o conhecimento dos requisitos
que serão auditados e organização documental. Auditoria e suas etapas
Alguns documentos serão solicitados pelo auditor para evidenciar Reunião de Abertura: A auditoria começa com uma “reunião
as atividades realizadas na propriedade e seus registros. Veja abaixo de abertura” onde serão apresentados os objetivos de auditoria
alguns exemplos de documentos que devem ser preparados: e o plano a ser seguido. É importante a participação de todos os
envolvidos com a produção orgânica - responsáveis de cada se-
tor da propriedade, funcionários-chave, técnicos, entre outros. Na
reunião de abertura são confirmados os escopos da auditoria e o
itinerário a ser seguido.

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Inspeção à propriedade: Para produção vegetal, é previsto tam- D. Documentos e Registros: Todos os documentos
bém um recorrido pela propriedade, onde serão verificados os pon- mencionados pela norma são avaliados na auditoria. O
tos elencados na norma que estudamos anteriormente. Nessa fase principal deles é o Plano de Manejo Orgânico, do qual já
de descoberta, temos uma série de itens importantes que serão ob- comentamos. Além disso é importante ressaltar que as
jeto de verificação do auditor: notas fiscais de insumos adquiridos, caderno de campo e
documentos relacionados a operação orgânica deverão estar
disponíveis para consulta do auditor.
A. Parcelas, divisas e barreiras: A partir do croqui ou
mapa da propriedade, serão confirmadas áreas, cultivos
presentes na propriedade, pontos de risco com vizinhos
Reunião de encerramento: Aqui são apresentados os resulta-
e confrontantes, presença de barreiras vegetais ou
dos da auditoria, ou seja, as evidências positivas e eventualmente
distanciamento para prevenção da contaminação da parcela
negativas que foram identificadas durante a inspeção. Caso exista
orgânica.
algum item em desacordo com a IN 46/11 ou quaisquer outras nor-
mativas que regulam a produção de orgânicos, será apontada uma
B. Cultivos: será verificada a capacidade produtiva das
parcelas, ou seja, a condição fitossanitária, aspecto das não-conformidade. A não-conformidade irá enunciar qual item da
plantas, espaçamento entre plantas, entre outros itens que norma não foi cumprido e na reunião de abertura o produtor já
permitam confirmar o potencial das culturas para confirmar pode apresentar um plano provisório de como irá ajustar essa não
a estimativa de produção indicada anteriormente no PMO. conformidade (correção) e também como determinar meios de que
a não conformidade não se repita (ação corretiva). Na reunião de
C. Galpões, armazéns e demais instalações: Além das encerramento o auditor também indica os próximos passos do pro-
parcelas com os cultivos, boa parte da inspeção ocorre nas cesso de certificação - elaboração do relatório de inspeção, revisão
benfeitorias da propriedade. Armazenamento de insumos, do relatório, prazo para apresentação de evidências de correção e
locais de guarda e limpeza de implementos e máquinas, local ação corretiva, entre outros.
de recepção e estocagem de produto colhido, entre outros.

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Emissão do Certificado Nesse exemplo de plano de ação podemos verificar uma ação de
correção da não conformidade (descarte de parte da produção
Após a auditoria encerrar, a certificadora irá revisar as constata- como convencional, para evitar contaminação) e uma ação corre-
ções do inspetor e eventuais não conformidades, confirmando o tiva (plantio de barreira vegetal para resolver o problema no longo
resultado da auditoria por meio de um documento, listando to- prazo). Além disso existe a evidência (fotos do plantio da barreira)
dos os produtos que serão certificados e identificando o produtor. que ajuda a reforçar o compromisso do produtor na resolução da
Caso existam não-conformidades que precisem de correção, elas não conformidade, além de servir como prova para a certificadora.
deverão ser apresentadas antes que o certificado seja emitido.
Apresentados todas as correções e ações corretivas, por meio do
Corrigindo não-conformidades: Para resolver uma não confor- plano de ação, a certificado após avaliá-lo e aprovar, irá emitir o
midade, é necessário muitas vezes apresentar um plano de ação Certificado de Conformidade. Com a posse do mesmo, é possível
para a certificadora. Vamos dar um exemplo: comercializar a produção vegetal orgânica!

Não conformidade descrita pelo auditor: “Ausência de barreiras


ou barreiras insuficientes na face norte da parcela A1, atualmente
com cultivo de hortaliças e faz divisa com vizinho convencional”.

Plano de ação proposto pelo produtor: “A produção dos dois pri-


meiros canteiros será comercializada como convencional, dado o
risco de contaminação por aplicações do vizinho. Além disso, serão
reforçadas as barreiras na parcela indicada, através do plantio de
duas linhas de capineira destinada a formar uma cerca-viva para
proteção da parcela. Fotos do plantio das linhas de capineira serão
enviados para a certificadora num prazo de 15 dias”

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Conclusão
A produção vegetal é hoje o escopo da certificação de orgânicos
mais desenvolvido no Brasil, contando com dezenas de milhares de
produtores espalhados por todos os estados. Além disso é a base
para as exportações de grãos e frutas, oferta de produtos in natura
para o consumidor e também de ingredientes orgânicos para a in-
dústria de alimentos. Antes de iniciar a produção orgânica, as pro-
priedades devem passar por uma período de conversão e garantir
a proteção das parcelas de produção orgânica frente à fontes de
contaminação externas. A instrução normativa 46/11 concentra as
regras que devem nortear a produção vegetal orgânica, incluindo
as práticas de manejo e os insumos autorizados para fertilização
e proteção dos cultivos. Além de conhecer as normas, é necessário
se apropriar do Plano de Manejo Orgânico e registros da produção,
que serão verificados durante a auditoria de certificação.

Para se aprofundar nos estudos, recomendamos que observe as re-


ferências bibliográficas e material de apoio disponível à seguir. Nos
encontramos nos próximos módulos!

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Referências Bibliográficas
Livros Artigos
PRIMAVESI, Ana. Manejo ecológico do solo: a agricultura em re- FEIDEN, A.; BORSATO, A. V.. Como transformar uma propriedade
giões tropicais. NBL Editora, 2002. >>> Livro fundamental para a convencional em agroecológica?. Embrapa Pantanal-Outras pu-
compreensão de uma abordagem ecológica no Brasil, publicação blicações técnicas (INFOTECA-E), 2011. >>> Aborda a temática da
já clássica de Ana Primavesi. transição agroecológica e suas principais questões.

GLIESSMAN, Stephen R. Agroecologia: processos ecológicos em CUNHA, Eurâimi de Queiroz et al. Sistemas de preparo do solo e
agricultura sustentável. Ed. da Univ. Federal do Rio Grande do Sul, culturas de cobertura na produção orgânica de feijão e milho: I-A-
UFRGS, 2001. >>> Obra extremamente rica do Prof. Gliessman, sin- tributos físicos do solo. Revista Brasileira de Ciência do Solo, v. 35,
tetizando muito da pesquisa existente sobre processos ecológicos n. 2, p. 589-602, 2011. >>> Pesquisa que avalia a contribuição de
que interferem na produção agrícola. plantas de cobertura e do seu manejo na manutenção ou melhoria
da qualidade física do solo em áreas sob produção orgânica.
SOUZA, JL de; RESENDE, Patrícia. Manual de horticultura orgânica.
Viçosa: Aprenda Fácil, 2006. >>> Manual contendo várias infor- Vídeos
mações de caráter prático para operações na produção orgânica, https://www.youtube.com/watch?v=03zN6E5oi4s&ab_
voltado para hortaliças. channel=EpagriV%C3%ADdeos - Reportagem que ilustra como
funciona uma propriedade orgânica, os desafios e ganhos
PRIMAVESI, Ana. Manejo ecológico de pragas e doencas. Livraria obtidos pelo produtor rural.
Nobel SA, 1987. >>> Outra obra da Professora Primavesi, dessa vez
abordando estratégias para controlar doenças e pragas através
Sites
do manejo ecológico. http://organicospro.com.br/ - Site da OrganicosPro, contendo lista de
insumos aprovados e a legislação brasileira de produtos orgânicos.

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