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POLÍTICA E ORGANIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA NO BRASIL Profa. Dra. Edna Prado

COMO FAZER UMA RESENHA1

Resenha, recensão de livros ou análise bibliográfica é uma síntese ou um comentário


dos livros publicados feito em revistas especializadas das várias áreas da ciência, das artes e
da filosofia. As resenhas têm papel importante na vida científica de qualquer estudante e dos
especialistas, pois é através delas que se toma conhecimento prévio do conteúdo e do valor
de um livro que acaba de ser publicado, fundando-se nesta informação a decisão de se ler o
livro ou não, seja para o estudo, seja para um trabalho em particular. As resenhas permitem
operar uma triagem na bibliografia a ser selecionada quando da leitura de documentação para
a elaboração de um trabalho científico. Igualmente, são fundamentais para a atualização
bibliográfica do estudioso e deveriam, numa vida científica organizada, passar para o arquivo
de documentação bibliográfica do estudante.
Uma resenha pode ser puramente informativa, quando apenas expõe o conteúdo do
texto; é crítica quando se manifesta sobre o valor e o alcance do texto analisado; é crítico-
informativa quando expõe o conteúdo e tece comentários sobre o texto analisado.
A resenha estrutura-se em várias partes lógico-redacionais. Abre-se com um cabeçalho,
no qual são transcritos os dados bibliográficos completos da publicação resenhada; uma
pequena informação sobre o autor do texto, dispensável se o autor for muito conhecido; uma
exposição sintética do conteúdo do texto, que deve ser objetiva e conter os pontos principais e
mais significativos da obra analisada, acompanhando os capítulos ou parte por parte. Deve
passar ao leitor uma visão precisa do conteúdo do texto, de acordo com a análise temática,
destacando o assunto, os objetivos, a ideia central, os principais passos do raciocínio do autor.
Finalmente, deve conter um comentário crítico. Trata-se da avaliação que o resenhista faz do
texto que leu e sintetizou. Essa avaliação crítica pode assinalar tanto os aspectos positivos
quanto os aspectos negativos. Assim, pode-se destacar a contribuição que o texto traz para
determinados setores da cultura, sua qualidade científica, literária ou filosófica, sua
originalidade, etc.; negativamente, pode-se explicitar as falhas, incoerências e limitações do
texto.
Esse comentário é normalmente feito como último momento da resenha, após a
exposição do conteúdo. Mas pode ser distribuído difusamente, junto com os momentos
anteriores: expõe-se e comenta-se simultaneamente as ideias do autor.
As críticas devem ser dirigidas às ideias e posições do autor, nunca a sua pessoa ou às
suas condições pessoais de existência. Quem é criticado é o pensador/ autor e suas ideias, e
não a pessoa humana que as elabora.
É sempre bom contextualizar a obra a ser analisada no âmbito do pensamento do autor,
relacionando-a com seus outros trabalhos e com as condições gerais da cultura da área, na
época de sua produção.
Na medida em que o resenhista expõe e aprecia as ideias do autor, ele estabelece um
diálogo com ele. Nesse sentido, o resenhista pode até mesmo expor suas próprias ideias,
defendendo seus pontos de vista, coincidentes ou não com aqueles do autor resenhado.

FÓRMULAS LINGUÍSTICAS PARA A RESENHA

O título/subtítulo revela que...


O subtítulo “x” já sugere que...

O texto conta com...


O texto é construído de maneira que...
O texto apresenta-se dividido em...

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Adaptado de SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do trabalho científico. 21. ed. São Paulo: Cortez, 2000.
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O texto organiza-se em X partes, que se subdividem em...

Na primeira parte, o autor...


A primeira parte consiste em...
A parte I...
Primeiramente, o autor apresenta-nos...
Primeiramente, o autor define...
X começa por afirmar que...

Na segunda parte, X...


A segunda parte, por sua vez, é composta de...
A parte II...
Em segundo lugar, X revela que...

A questão, como expõe X, é que...


Por meio da formulação de (....), o livro conduz o leitor a...
Ainda dentro dessas relações, o autor comenta que...
Outro item que recebeu especial atenção foi...
Outra questão diz respeito a...
Fica subentendido que...
Pelas informações, claramente se vê que...
Após seguir tal procedimento, o autor...
Ao comentar sobre..., o autor avisa que...

De acordo com o autor, ...


Segundo o autor, ...
Conforme o autor, ...
Nas palavras do autor, ...

O autor prossegue mostrando que...


Em sequência, X desenvolve a ideia de que...
X, em seguida, propõe que...
Depois de estabelecer que ...., o autor demonstra que...

O autor tem por finalidade...


O autor tem por objetivo...
O autor objetiva...
O autor apresenta...
O autor discute...
O autor comenta que/ diz que/ sugere que/ lembra que/ garante que / aponta que / sublinha
que/ observa que/ considera que/ propõe que/ discorda de/ concorda com/ informa-nos de que/
duvida de que/ insiste no fato de que/
O autor deixa de assinalar que...
O autor não responde à (a)...
Na conclusão, X observa que...
Uma última ressalva é a de que...
O último comentário é o de que...
Para terminar, o autor...
Finalmente, o autor conclui que...
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O ESTADO DE SÃO PAULO – CADERNO 2 - Quinta-feira, 8 de janeiro de 2004

José de Alencar solta seu demônio


Unicamp edita texto da peça 'O Demônio Familiar', do autor de 'O Guarani'

Professor titular de Literatura Brasileira na USP, João Roberto Faria especializou-se em


literatura dramática sob influência de seu mestre, o crítico Décio de Almeida Prado. Profundo
conhecedor da obra teatral de José de Alencar - é autor do livro José de Alencar e o Teatro
(Perspectiva/Edusp) - ele assina o prefácio de O Demônio Familiar, comédia em quatro atos
do autor de O Guarani e Iracema, que acaba de ser editada pela Unicamp (232 págs., R$
22,00).
A exemplo do que ocorre na coleção Dramaturgos do Brasil - editada pela Martins Fontes
e coordenada por Faria - os textos de apresentação são preciosos nesta edição de O
Demônio Familiar. O primeiro deles, assinado por Faria, é um pequeno estudo da obra teatral
de Alencar (1829-1877), e o segundo, um texto do próprio autor, publicado no Diário do Rio
de Janeiro, em 14 de novembro de 1857. Como afirma Faria em seu estudo, o texto
assinado por Alencar ajuda a "compreender as intenções do autor e identificar sem dificuldade
a filiação estética da comédia, o modelo formal ao qual ela está ligada e o seu significado de
ruptura ou de novidade em relação à dramaturgia brasileira que a antecedeu". Na verdade,
para essa compreensão, é fundamental a leitura do prefácio de Faria.
Ele começa por informar que, depois de publicar O Guarani, em 1857, Alencar dedicou-se
quase que exclusivamente ao teatro por um período de cinco anos.
Naquele mesmo ano, suas duas primeiras peças fizeram temporada no Ginásio Dramático -
O Rio de Janeiro Verso e Reverso e O Demônio Familiar. Alencar começa a escrever peças no
momento em que a escola realista chega aos palcos brasileiros provocando uma disputa entre
os artistas e intelectuais ligados a essa estética teatral e os amantes da escola romântica, com
seus melodramas e dramas, que tinha como principal intérprete o ator João Caetano, no
Teatro São Pedro.
Drama burguês por excelência, a estética teatral realista encontra solo fértil no Brasil da
época. A proibição do tráfico negreiro, em 1850, havia propiciado investimentos no comércio e
nos serviços, fortalecendo uma camada média urbana, formada por médicos, jornalistas,
advogados e comerciantes.
Mas diferentemente do que ocorreu no romance, o teatro realista não ambiciona traçar um
retrato fiel do homem médio, com suas grandezas e mesquinharias. No teatro, o realismo
tornou-se moralista e moralizante. Foi assim na Europa, modelo para os dramaturgos
nacionais. Se a ideia era recriar no palco de forma mais 'natural' possível - portanto sem os
arroubos românticos seja no texto, seja na interpretação - os costumes da burguesia, essa
recriação não se limitava ao simples retrato. Cada peça trazia embutida uma 'lição de moral'. E
não é diferente em O Demônio Familiar.
O que é interessante é a forma como Alencar 'nacionaliza' o modelo original.
O demônio do título é um negro, um jovem escravo, que sonha servir a um amo rico, e
tornar-se cocheiro bem vestido no comando de uma luxuosa carruagem.
Para realizar tal sonho vai aprontar mil artimanhas para separar seus jovens senhores de
seus respectivos namorados e ainda armar outros ardis para casá-los com pares ricos.
Além da escravatura, Alencar critica os brasileiros que não amam seu País. E desenha com
traços fortes o personagem Azevedo, um sujeito ridículo que vive elogiando a França e não é
capaz de falar uma única frase sem meter pelo meio termos no idioma francês. Ao fim, volta
para a França para alívio de todos.
Não há lugar para gente assim no país desejado por Alencar que, afinal, aderiu ao
romantismo nacionalista em sua literatura. Faria chama atenção ainda para alguns
aspectos que 'relativizam' o realismo dessa comédia, entre eles a forma como o autor constrói
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o escravo Pedro que, por suas peripécias, filia-se à comédia popular, possuindo alto grau de
parentesco com os criados da Commedia dell'Arte. (B.N.)

O Treme-Terra
Moreira César, a República e Canudos

Oleone Coelho Fontes.


Editora Vozes, 1996, 404 páginas.

Enfim uma novidade. "O Treme-Terra" de Oleone Coelho Fontes conta a história da
terceira expedição contra Canudos. É o primeiro livro a apresentar minuciosa biografia do
coronel Antônio Moreira César, comandante da expedição. A Guerra de Canudos foi travada
no sertão da Bahia de novembro de 1896 a outubro de 1897. Estamos em pleno Centenário. O
ensaio se baseia em documentos históricos obtidos em ampla pesquisa realizada pelo Autor.
A história oral está sempre presente. Dezenas de depoimentos foram prestados por habitantes
da região, reproduzindo o que ouviram de pais e avós, evidenciando que Moreira César ainda
hoje vive na memória e no imaginário do sertanejo.

Com prefácio do professor José Calasans, o livro mostra a campanha como se fosse
imagens de um filme. Começa com a chegada de Moreira César e sua tropa a Salvador em
06.02.1897. No dia seguinte, a locomotiva inicia viagem transportando a brigada para
Queimadas, servida pela estrada de ferro Salvador-Juazeiro e ponto mais próximo da zona
bélica.

Os principais episódios apresentados são: a marcha da expedição a partir de


Queimadas, transitando por Monte Santo, Cumbe e Rosário; as duas crises epilépticas
daquele chefe militar que tiveram influência sobre o combate; o ataque precipitado à cidadela
sertaneja, com os soldados exaustos e famintos; a tática guerreira dos seguidores de Antônio
Vicente Mendes Maciel, o Conselheiro; a morte de Moreira César em quatro de março, e a
retirada das forças federais naquele mesmo dia, que o terror e pânico transformaram em
debandada. A derrota da terceira expedição abalou o país: a República estava em perigo,
pensavam. No Rio e São Paulo jornais são empastelados, monarquistas caçados como
bruxas, o jornalista Gentil de Castro, defensor da Monarquia, assassinado.

Esta é a primeira biografia vasta de Moreira César, com ênfase nos dias que
constituíram a caminhada para o fim trágico. Além da Guerra de Canudos, a obra trata
também de sua participação no linchamento do escandaloso homem de imprensa Apulcro de
Castro, do envolvimento na derrubada em 1891 do governador da Bahia, do comando das
operações de retomada da Ilha do Governador durante a Revolta da Armada iniciada em 1893
e da atuação como governador militar em Santa Catarina.

Oleone Fontes é escritor, jornalista e historiador. Autor de Lampião na Bahia (Vozes,


1988) e do romance Cristais em Chamas (Vozes, 1993). O número de agosto de 1996 da
revista The Brazilian Book Magazine, da Fundação Biblioteca Nacional — redigida em língua
inglesa e que tem por finalidade divulgar a literatura brasileira no exterior — traz biografia de
Oleone Fontes e crítica favorável a Cristais em Chamas.

Fernando Matta Machado

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