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OAB 1ª FASE - XXI EXAME DE ORDEM

Direito Civil – Aula 01


Luciano Figueiredo
Pessoa Física ou Natural Se não conceder a outorga?
Tema I
1. Personalidade Jurídica Art. 1.649. A falta de autorização, não suprida pelo
juiz, quando necessária (art. 1.647), tornará anulá-
Personalidade Jurídica  Sujeito de Direitos  vel o ato praticado, podendo o outro cônjuge pleite-
Pessoa Física e Pessoa Jurídica ar-lhe a anulação, até dois anos depois de termina-
da a sociedade conjugal.
2. Pessoa Natural, Física ou de Existência Visível.
Aquisição da Personalidade Jurídica. Parágrafo único. A aprovação torna válido o ato,
desde que feita por instrumento público, ou particu-
Art. 2º A personalidade civil da pessoa começa do lar, autenticado.
nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde Para questões aprofundadas:
a concepção, os direitos do nascituro.
Sumula 332, STJ: A fiança prestada sem autoriza-
Personalidade da Pessoa Física  Requisitos  ção de um dos cônjuges implica a ineficácia total da
Nascimento + Vida garantia.
2.1 Nascituro
Se a pessoa é casada no regime de participação
É aquele já concebido e ainda não nascido, dotado final nos aquestos?
de vida intra-uterina.
Art. 1.656. No pacto antenupcial, que adotar o regi-
3. Capacidade Civil me de participação final nos aquestos, poder-se-á
convencionar a livre disposição dos bens imóveis,
É a medida jurídica da personalidade. desde que particulares (dispensa da outorga uxó-
3.1 Capacidade de Direito ou de Gozo ria).
Há atos que podem ser praticados, no casamento,
Art. 1º do CC: Toda pessoa é capaz de direitos e de forma independente?
deveres na ordem civil.
Art. 1.642. Qualquer que seja o regime de bens,
3.2 Capacidade de Fato, Exercício, Atividade ou tanto o marido quanto a mulher podem livremente:
Ação I - praticar todos os atos de disposição e de admin-
istração necessários ao desempenho de sua
# Capacidade Plena ou Capacidade Jurídica Geral – profissão, com as limitações estabelecida no inciso I
Soma das duas capacidades anteriores. do art. 1.647;
II - administrar os bens próprios;
# Legitimação: III - desobrigar ou reivindicar os imóveis que tenham
Outorga ou vênia conjugal. sido gravados ou alienados sem o seu consentimen-
to ou sem suprimento judicial;
Art. 1.647. Ressalvado o disposto no art. 1.648, IV - demandar a rescisão dos contratos de fiança e
nenhum dos cônjuges pode, sem autorização do doação, ou a invalidação do aval, realizados pelo
outro, exceto no regime da separação absoluta outro cônjuge com infração do disposto nos incisos
(neste a total liberdade): III e IV do art. 1.647;
V - reivindicar os bens comuns, móveis ou imóveis,
I - alienar ou gravar de ônus real os bens imóveis; doados ou transferidos pelo outro cônjuge ao con-
II - pleitear, como autor ou réu, acerca desses bens cubino, desde que provado que os bens não foram
ou direitos (tem que formar o litisconsórcio); adquiridos pelo esforço comum destes, se o casal
III - prestar fiança ou aval (esse último é novidade estiver separado de fato por mais de cinco anos;
do NCC); VI - praticar todos os atos que não lhes forem ve-
IV - fazer doação, não sendo remuneratória, de dados expressamente.
bens comuns, ou dos que possam integrar futura
meação. Art. 1.643. Podem os cônjuges, independentemente
Parágrafo único. São válidas as doações nupciais de autorização um do outro:
feitas aos filhos quando casarem ou estabelecerem I - comprar, ainda a crédito, as coisas necessárias à
economia separada. economia doméstica;
Negativa? II - obter, por empréstimo, as quantias que a aqui-
sição dessas coisas possa exigir.
Art. 1.648. Cabe ao juiz, nos casos do artigo ante-
cedente, suprir a outorga, quando um dos cônjuges Art. 1.644. As dívidas contraídas para os fins do
a denegue sem motivo justo, ou lhe seja impossível artigo antecedente obrigam solidariamente ambos
concedê-la. os cônjuges.

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4. Teoria das Incapacidades V - pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela
existência de relação de emprego, desde que, em
4.1 Incapacidade Absoluta (Cuidado! Mudança: Lei função deles, o menor com dezesseis anos comple-
13.146/2015). tos tenha economia própria.
5.1 Voluntária (art. 5º, parágrafo único, I, primeira
Prevista no art. 3 do CC: parte, NCC)

Art. 3 São absolutamente incapazes de exercer a) Se a mãe for separada do pai, e detiver a guarda,
pessoalmente os atos da vida civil os menores de ela poderá, sozinha, conceder a emancipação (em
16 (dezesseis) anos. vice-versa)?
I – (Revogado);
II – (Revogado); b) Se houver conflito na decisão dos pais?
III – (Revogado).
Absolutamente incapazes São REPRESENTADOS. 5.2 Judicial (art. 5º, parágrafo único, I, segunda
parte, NCC)
4.2 Incapacidade Relativa (Cuidado! Mudança: Lei
13.146/2015). 5.3 Legal (art. 5º, parágrafo único, II e ss. do NCC).

Prevista no art 4 do CC: Hipóteses:


Art. 4 São incapazes, relativamente a certos atos ou a) PELO CASAMENTO.
à maneira de os exercer:
I – os maiores de dezesseis e menores de dezoito A separação e o divorcio posterior ao casamento
anos;
 levam à “queda” da emancipação?
II – os ébrios habituais e os viciados em tóxico;
III – aqueles que, por causa transitória ou perma- b) EXERCÍCIO DE EMPREGO PÚBLICO EFETIVO
nente, não puderem exprimir sua vontade; .
IV - os pródigos.
Parágrafo único. A capacidade dos indígenas será c) COLAÇÃO DE GRAU DE ENSINO SUPERIOR.
regulada por legislação especial.
# A senilidade (idosos) significa a incapacidade? d) O ESTABELECIMENTO CIVIL OU COMERCIAL,
OU A EXISTÊNCIA DE RELAÇÃO DE EMPREGO,
Art. 1.641. É obrigatório o regime da separação de DESDE QUE, EM FUNÇÃO DELES, O MENOR
bens no casamento: COM DEZESSEIS ANOS COMPLETOS TENHA
I - das pessoas que o contraírem com inobservância ECONOMIA PRÓPRIA.
das causas suspensivas da celebração do casa- 6. Extinção da Pessoa Física ou Natural
mento;
II - da pessoa maior de setenta anos; Termina a existência da pessoa natural com a mor-
III - de todos os que dependerem, para casar, de te, a qual, para o direito, pode ser:
suprimento judicial.
Relativamente incapazes são ASSISTIDOS. a) Real
b) Presumida
5. Emancipação  Com procedimento de ausência
 Sem procedimento de ausência
É a antecipação da cessação da incapacidade. O 6.1 Morte Real
ato de emancipação é irrevogável e irretratável.
Pode ser (art. 5, Parágrafo Único do CC): 6.2 Morte presumida (Morte presumida = morte civil
A) Voluntária (para alguns) = ficta mortis)
B) Judicial
C) Legal 6.2.1 Morte presumida sem declaração de ausência.
Parágrafo único. Cessará, para os menores, a inca- Art. 7° - Pode ser declarada a morte presumida,
pacidade: sem decretação de ausência:
I - pela concessão dos pais, ou de um deles na falta I – se for extremamente provável a morte de quem
do outro, mediante instrumento público, indepen- estava em perigo de vida;
dentemente de homologação judicial, ou por sen- II – se alguém, desaparecido em campanha ou feito
tença do juiz, ouvido o tutor, se o menor tiver de- prisioneiro, não for encontrado até dois anos após o
zesseis anos completos; término da guerra.
II - pelo casamento;
III - pelo exercício de emprego público efetivo; Parágrafo único – A declaração de morte presumi-
IV - pela colação de grau em curso de ensino supe- da, nesses casos, somente poderá ser requerida
rior; depois de esgotadas as buscas e averiguações,

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devendo a sentença fixar a data provável do faleci- II - os herdeiros presumidos, legítimos ou testamen-
mento. tários;
6.2.2 Com Procedimento de Ausência. III - os que tiverem sobre os bens do ausente direito
dependente de sua morte;
A ausência passa por três fases para ser declarada IV - os credores de obrigações vencidas e não pa-
1º FASE – CURADORIA DE BENS DO AUSENTE gas.

Art. 22. Desaparecendo uma pessoa do seu domicí- Art. 30. Os herdeiros, para se imitirem na posse dos
lio sem dela haver notícia, se não houver deixado bens do ausente, darão garantias da restituição
representante ou procurador a quem caiba adminis- deles, mediante penhores ou hipotecas equivalentes
trar-lhe os bens, o juiz, a requerimento de qualquer aos quinhões respectivos.
interessado ou do Ministério Público, declarará a
ausência, e nomear-lhe-á curador. § 1o Aquele que tiver direito à posse provisória, mas
não puder prestar a garantia exigida neste artigo,
Art. 23. Também se declarará a ausência, e se no- será excluído, mantendo-se os bens que lhe deviam
meará curador, quando o ausente deixar mandatário caber sob a administração do curador, ou de outro
que não queira ou não possa exercer ou continuar o herdeiro designado pelo juiz, e que preste essa
mandato, ou se os seus poderes forem insuficien- garantia.
tes.
§ 2o Os ascendentes, os descendentes e o cônjuge,
Art. 25. O cônjuge do ausente, sempre que não uma vez provada a sua qualidade de herdeiros,
esteja separado judicialmente, ou de fato por mais poderão, independentemente de garantia, entrar na
de dois anos antes da declaração da ausência, será posse dos bens do ausente.
o seu legítimo curador.
§ 1o Em falta do cônjuge, a curadoria dos bens do Art. 31. Os imóveis do ausente só se poderão alie-
ausente incumbe aos pais ou aos descendentes, nar, não sendo por desapropriação, ou hipotecar,
nesta ordem, não havendo impedimento que os quando o ordene o juiz, para lhes evitar a ruína.
iniba de exercer o cargo. 3º FASE – SUCESSÃO DEFINITIVA
§ 2o Entre os descendentes, os mais próximos pre-
cedem os mais remotos. Art. 37. Dez anos depois de passada em julgado a
§ 3o Na falta das pessoas mencionadas, compete sentença que concede a abertura da sucessão pro-
ao juiz a escolha do curador. visória, poderão os interessados requerer a suces-
2º FASE – SUCESSÃO PROVISÓRIA são definitiva e o levantamento das cauções presta-
das.
Art. 26. Decorrido um ano da arrecadação dos bens
do ausente, ou, se ele deixou representante ou pro- Art. 38. Pode-se requerer a sucessão definitiva,
curador, em se passando três anos, poderão os também, provando-se que o ausente conta oitenta
interessados requerer que se declare a ausência e anos de idade, e que de cinco datam as últimas
se abra provisoriamente a sucessão. notícias dele.
> Transmissão dos bens em caráter definitivo
Art. 28. A sentença que determinar a abertura da
sucessão provisória só produzirá efeito cento e oi- E se o ausente retornar?
tenta dias depois de publicada pela imprensa; mas,
logo que passe em julgado, proceder-se-á à abertu- Art. 36. Se o ausente aparecer, ou se lhe provar a
ra do testamento, se houver, e ao inventário e parti- existência, depois de estabelecida a posse provisó-
lha dos bens, como se o ausente fosse falecido. ria, cessarão para logo as vantagens dos sucesso-
§ 1o Findo o prazo a que se refere o art. 26, e não res nela imitidos, ficando,
havendo interessados na sucessão provisória, cum- todavia, obrigados a tomar as medidas assecurató-
pre ao Ministério Público requerê-la ao juízo compe- rias precisas, até a entrega dos bens a seu dono.
tente.
§ 2o Não comparecendo herdeiro ou interessado Art. 39. Regressando o ausente nos dez anos se-
para requerer o inventário até trinta dias depois de guintes à abertura da sucessão definitiva, ou algum
passar em julgado a sentença que mandar abrir a de seus descendentes ou ascendentes, aquele ou
sucessão provisória, proceder-se-á à arrecadação estes haverão só os bens existentes no estado em
dos bens do ausente pela forma estabelecida nos que se acharem,
arts. 1.819 a 1.823. os sub-rogados em seu lugar, ou o preço que os
herdeiros e demais interessados houverem recebido
Art. 27. Para o efeito previsto no artigo anterior, pelos bens alienados depois daquele tempo.
somente se consideram interessados:
I - o cônjuge não separado judicialmente;

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Parágrafo único. Se, nos dez anos a que se refere Parágrafo único. Decai em três anos o direito de
este artigo, o ausente não regressar, e nenhum anular a constituição das pessoas jurídicas de direi-
interessado promover a sucessão definitiva, os bens to privado, por defeito do ato respectivo, contado o
arrecadados passarão ao domínio do Município ou prazo da publicação de sua inscrição no registro.
do Distrito Federal, se localizados nas respectivas Faz-se necessária alguma outra autorização?
circunscrições, incorporando-se ao domínio da Uni-
ão, quando situados em território federal. Qual a natureza jurídica do registro da Pessoa Jurí-
Como fica o casamento do ausente? dica?
6.3 Comoriência
2. Princípio da Separação, Independência ou Auto-
Art. 8. – Se dois ou mais indivíduos falecerem na nomia
mesma ocasião, não se podendo averiguar se al-
gum dos comorientes precedeu aos outros, presu- Desprovido de artigo específico versando sobre ele
mir-se-ão simultaneamente mortos. no Código Civil, decorre da inteligência dos artigos
46, V e 1052, ambos do Código Civil.
Casal morre na mesma hora em acidentes diferen-
tes. Art. 46. O registro declarará:
Dois jovens namorados do noroeste da Itália morre- V - se os membros respondem, ou não, subsidiari-
ram neste fim de semana em dois acidentes de amente, pelas obrigações sociais;
trânsito diferentes ocorridos na mesma hora, de
acordo com os meios de comunicação locais. Art. 1.052. Na sociedade limitada, a responsabilida-
Mauro Monucci, 29 anos, morreu por volta da meia- de de cada sócio é restrita ao valor de suas quotas,
noite de sábado quando sua moto, de alta mas todos respondem solidariamente pela integrali-
cilindrada, chocou-se contra um poste em um cru- zação do capital social.
zamento nos arredores do Palácio dos Esportes de 2.1 Desconsideração da Pessoa Jurídica: (“Disre-
Forli. O jovem morreu quando era levado numa gard Doutrine”)
ambulância ao hospital, segundo a edição digital do
jornal La Repubblica. Código Civil:
Praticamente ao mesmo tempo, o carro de sua na-
morada, Simona Acciai, 27 anos, saiu da estrada Art. 50. Em caso de abuso de personalidade jurídi-
em uma área periférica da cidade e caiu em um ca, caracterizado pelo desvio de finalidade, ou pela
fosso. Simona morreu na hora. confusão patrimonial,
Os telefonemas para os serviços de emergência pode o juiz decidir, a requerimento da parte, ou do
para alertar sobre os dois acidentes foram feitos Ministério Público quando lhe couber intervir no
com poucos minutos de diferença, mas as autorida- processo, que os efeitos de certas e determinadas
des só perceberam que as vítimas eram um casal relações de obrigações sejam estendidos aos bens
ao verificar em seus documentos que os dois tinham particulares dos administradores ou sócios da pes-
o mesmo endereço. soa jurídica.
Frente ao caso inusitado, a magistratura local orde- O Novo Código de Processo Civil regula o incidente
nou a realização de autópsias nos dois corpos. de desconsideração?
EFE CAPÍTULO IV
Agência Efe - Todos os direitos reservados. É proi- DO INCIDENTE DE DESCONSIDERAÇÃO DA
bido todo tipo de reprodução sem autorização escri- PERSONALIDADE JURÍDICA
ta
da Agência Efe S/A. Art. 133. O incidente de desconsideração da per-
http://noticias.terra.com.br/mundo/interna/0,,OI9847 sonalidade jurídica será instaurado a pedido da
67-EI294,00.html parte ou do Ministério Público, quando lhe couber
Pessoa Jurídica intervir no processo.
o
Tema II § 1 O pedido de desconsideração da personalidade
1. Conceito e Aquisição da Personalidade Jurídica jurídica observará os pressupostos previstos em lei.
o
§ 2 Aplica-se o disposto neste Capítulo à hipótese
Art. 45 – Começa a existência legal das pessoas de desconsideração inversa da personalidade jurídi-
jurídicas de direito privado com a inscrição do ato ca.
constitutivo no respectivo registro, precedida, quan- Art. 134. O incidente de desconsideração é cabível
do necessário, em todas as fases do processo de conhecimento,
de autorização ou aprovação do poder executivo, no cumprimento de sentença e na execução fun-
averbando-se no registro todas as alterações por dada em título executivo extrajudicial.
o
que passar o ato constitutivo. § 1 A instauração do incidente será imediatamente
comunicada ao distribuidor para as anotações devi-
das.

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o
§ 2 Dispensa-se a instauração do incidente se a VI – empresas individuais de responsabilidade limi-
desconsideração da personalidade jurídica for re- tada.
querida na petição inicial, hipótese em que será 3.2 Quanto à estrutura:
citado o sócio ou a pessoa jurídica.
o
§ 3 A instauração do incidente suspenderá o pro- 3.2.1 Corporações (universitas personarum). Divi-
o
cesso, salvo na hipótese do § 2 . dem-se em:
o
§ 4 O requerimento deve demonstrar o
preenchimento dos pressupostos legais específicos a) Sociedades
para desconsideração da personalidade jurídica.
Art. 135. Instaurado o incidente, o sócio ou a pes- > Simples – são as antigas civis.
soa jurídica será citado para manifestar-se e re- > Empresárias – são as antigas
querer as provas cabíveis no prazo de 15 (quinze) comerciais.
dias. # Segundo o Código Civil, a sociedade empresária
há de observar dois requisitos:
Art. 136. Concluída a instrução, se necessária, o
incidente será resolvido por decisão interlocutória. I) tem por objeto o exercício de atividade própria de
Parágrafo único. Se a decisão for proferida pelo empresário (art. 966);
relator, cabe agravo interno. Art. 966. Considera-se empresário quem exerce
profissionalmente atividade econômica organizada
Art. 137. Acolhido o pedido de desconsideração, a para a produção ou a circulação de bens ou de ser-
alienação ou a oneração de bens, havida em fraude viços.
de execução, será ineficaz em relação ao re-
querente. Parágrafo único. Não se considera empresário
3. Classificação das Pessoas Jurídicas. quem exerce profissão intelectual, de natureza
científica, literária ou artística, ainda com o concurso
3.1 Quanto à atividade executada de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício
da profissão constituir elemento de empresa.
3.1.2 de Direito público – são aquelas previstas em Parágrafo único: Não se considera empresário
Lei. Podem ser: quem exerce profissão intelectual, de natureza
científica, literária ou artística, ainda com o concurso
a) DIREITO PÚBLICO INTERNO: poder público de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício
constituído (União, Estados, DF, Municípios, Territó- da profissão constituir elemento de empresa.
rios, suas autarquias e fundações). II) Registro no Registro Público de Empresas (Junta
Art. 41. São pessoas jurídicas de direito público Comercial).
interno:
I - a União; b) Associações
II - os Estados, o Distrito Federal e os Territórios;
III - os Municípios; Tem finalidade ideal:
IV - as autarquias, inclusive as associações públi- Art. 53 – Constituem-se as associações pela união
cas; de pessoas que se organizem para fins não-
V - as demais entidades de caráter público criadas econômicos.
por lei.
b) DIREITO PÚBLICO EXTERNO: submetidas ao Estatuto pode instituir categorias de associados com
direito internacional público (as diversas nações, diferentes vantagens:
inclusive a Santa Sé, e os organismos internacio-
nais como a ONU, a OEA, a FAO, a UNESCO etc). Art. 55. Os associados devem ter iguais direitos,
Art. 42. São pessoas jurídicas de direito público mas o estatuto poderá instituir categorias com van-
externo os Estados estrangeiros e todas as pessoas tagens especiais.
que forem regidas pelo direito internacional público. Para exclusão do associado há de ter devido pro-
3.1.2 De direito privado - todas as demais (que não cesso legal e justa causa (art. 57 do CC):
são previstas em lei):
Art. 57. A exclusão do associado só é admissível
Art. 44. São pessoas jurídicas de direito privado: havendo justa causa, assim reconhecida em proce-
I - as associações; dimento que assegure direito de defesa e de recur-
II - as sociedades; so, nos termos previstos no estatuto.
III - as fundações.
IV – as organizações religiosas; (Incluído pela Lei nº 3.2.2 Fundações (universitas bonorum) – (Cuidado:
10.825, de 22.12.2003) Mudanças! Lei 13.151/2015).
V – os partidos políticos. (Incluído pela Lei nº
10.825, de 22.12.2003)

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Art. 62. Para criar uma fundação, o seu instituidor III – seja aprovada pelo órgão do Ministério Público
fará, por escritura pública ou testamento, dotação no prazo máximo de 45 (quarenta e cinco) dias,
especial de bens livres, especificando o fim a que se findo o qual ou no caso de o Ministério Público a
destina, e declarando, se quiser, a maneira de ad- denegar, poderá o juiz supri-la, a requerimento do
ministrá-la. interessado. (Redação dada pela Lei nº 13.151,
Parágrafo único. A fundação somente poderá con- de 2015)
stituir-se para fins de: (Redação dada pela Lei nº A minoria de gestores vencida (aqueles 1/3 que
13.151, de 2015) opinaram em desfavor da alteração), terão o prazo
I – assistência social; (Incluído pela Lei nº 13.151, de 10 dias para impugnar a modificação estatutária.
de 2015) Art. 68:
II – cultura, defesa e conservação do patrimônio
histórico e artístico; (Incluído pela Lei nº 13.151, de Art. 68. Quando a alteração não houver sido apro-
2015) vada por votação unânime, os administradores da
III – educação; (Incluído pela Lei nº 13.151, de fundação, ao submeterem o estatuto ao órgão do
2015) Ministério Público, requererão que se dê ciência à
IV – saúde; (Incluído pela Lei nº 13.151, de 2015) minoria vencida para impugná-la, se quiser, em dez
V – segurança alimentar e nutricional; (Incluído pela dias.
Lei nº 13.151, de 2015) A Fiscalização (§2°, art. 66) das fundações deve ser
VI – defesa, preservação e conservação do meio feita pelo MP Estadual:
ambiente e promoção do desenvolvimento susten-
tável; (Incluído pela Lei nº 13.151, de 2015) Art. 66. Velará pelas fundações o Ministério Público
VII – pesquisa científica, desenvolvimento de tecno- do Estado onde situadas.
logias alternativas, modernização de sistemas de § 1º Se funcionarem no Distrito Federal ou em Terri-
gestão, produção e divulgação de informações e tório, caberá o encargo ao Ministério Público do
conhecimentos técnicos e científicos; (Incluído pela Distrito Federal e Territórios. (Redação dada
Lei nº 13.151, de 2015) pela Lei nº 13.151, de 2015)
o
VIII – promoção da ética, da cidadania, da democ- § 2 Se estenderem a atividade por mais de um
racia e dos direitos humanos; (Incluído pela Lei nº Estado, caberá o encargo, em cada um deles, ao
13.151, de 2015) respectivo Ministério Público.
IX – atividades religiosas; e (Incluído pela Lei nº Direitos da Personalidade
13.151, de 2015) Tema III
X – (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.151, de 1. Conceito
2015)
A afetação dos Bens Livres por meio do Ato de Do- 2. Características
tação Patrimonial, seja mediante Escritura Pública
(para atos inter vivos) ou Testamento (para atos Art. 11. Com exceção dos casos previstos em lei, os
causa mortis – público, particular ou cerrado). direitos da personalidade são intransmissíveis e
irrenunciáveis, não podendo o seu exercício sofrer
O ato de instituição, acaso realizado por mecanismo limitação voluntária.
inter vivos, é irretratável. Art. 64, CC: a) Segundo a Lei:
Art. 64. Constituída a fundação por negócio jurídico
entre vivos, o instituidor é obrigado a transferir-lhe a intransmissíveis + irrenunciáveis + impossibilidade
propriedade, ou outro direito real, sobre os bens de limitação voluntária
dotados, e, se não o fizer, serão registrados, em
nome dela, por mandado judicial. a) Indisponíveis
Caso o patrimônio afetado seja insuficiente. art. 63:
O caráter intransmissível e irrenunciável (indisponi-
Art. 63. Quando insuficientes para constituir a fun- bilidade) expressamente previsto no dispositivo
dação, os bens a ela destinados serão, se de outro equivale dizer que os direitos da personalidade não
modo não dispuser o instituidor, incorporados em podem sofrer limitação temporária?
outra fundação que se proponha a fim igual ou se- # Enunciado nº 4 do CJF.
melhante.
A Alteração do Estatuto - Art. 67: Enunciado 4 – Art.11: o exercício dos direitos da
personalidade pode sofrer limitação voluntária, des-
Art. 67. Para que se possa alterar o estatuto da de que não seja permanente nem geral.
fundação é mister que a reforma:
I - seja deliberada por dois terços dos competentes b) Absolutos
para gerir e representar a fundação; c) Imprescritíveis
II - não contrarie ou desvirtue o fim desta; d) Vitalícios

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# Lesados indiretos gam para muito além da vida, estando até acima
desta, como sentenciou Ariosto.
Art. 12, parágrafo único, do CC: Daí porque não se pode subtrair dos filhos o direito
Parágrafo único. Em se tratando de morto, terá legi- de defender a imagem e a honra de seu falecido
timação para requerer a medida prevista neste arti- pai, pois eles, em linha de normalidade, são os que
go o cônjuge sobrevivente, ou qualquer parente em mais se desvanecem com a exaltação feita à sua
linha reta, ou colateral até o quarto grau. memória, como são os que mais se abatem e se
- São lesados indiretos na norma geral: deprimem por qualquer agressão que lhe possa
trazer mácula. Ademais,
A) cônjuge sobrevivente a imagem de pessoa famosa projeta efeitos econô-
B) ascendente micos para além de sua morte, pelo que os seus
C) descendente sucessores passam a ter, por direito próprio, legiti-
D) colaterais até 4 grau midade para postularem indenização em juízo, seja
# Parágrafo único do art. 20 do CC - lesados indire- por dano moral, seja por dano material. Primeiro
tos para pleitos relacionados a direito à imagem: recurso especial das autoras parcialmente conheci-
do e, nessa parte, parcialmente provido.
Parágrafo único. Em se tratando de morto ou de Segundo recurso especial das autoras não conheci-
ausente, são partes legítimas para requerer essa do. Recurso da ré conhecido pelo dissídio, mas
proteção o cônjuge, os ascendentes ou os descen- improvido.
dentes. 3 Classificação do Código Civil
- São lesados indiretos no direito à imagem:
Taxativa?
A) cônjuge sobrevivente
C) ascendente # O que seria o combate à intimidação sistemática
D) descendente (bullying) – Lei 13.185/2015?
Como fazer? 3.1 Pilar da Integridade Física

- Enunciado nº 5 da Jornada de direito civil do STJ. > Art. 13 - Tutela ao Corpo Vivo;
> Art. 14 - Tutela ao Corpo Morto;
Enunciado nº 5 – Arts. 12 e 20: 1) as disposições do > Art. 15 - Autonomia do Paciente ou Livre Consen-
art. 12 têm caráter geral e aplicam-se, inclusive, às timento Informado.
situações previstas no art. 20, excepcionados os a) Corpo Vivo (Art. 13 CC):
casos expressos de legitimidade para requerer as
medidas nele estabelecidas; 2) as disposições do Art. 13. Salvo por exigência médica, é defeso o ato
art. 20 do novo Código Civil têm a finalidade especí- de disposição do próprio corpo, quando importar
fica de regrar a projeção dos bens personalíssimos diminuição permanente da integridade física, ou
nas situações nele enumeradas. contrariar os bons costumes.
Com exceção dos casos expressos de legitimação Parágrafo único. O ato previsto neste artigo será
que se conformem com a tipificação preconizada admitido para fins de transplante, na forma estabe-
nessa norma, a ela podem ser aplicadas subsidiari- lecida em lei especial.
amente as regras instituídas no art. 12. O parágrafo único trata da tutela do corpo vivo no
# Exemplo prático de lesado indireto: Resp que tange aos transplantes e remete a lei 9434/97.
521697/RJ. “Caso Garrincha”. Ou seja, admite essa disposição do corpo para fins
de transplante.
REsp 521697 / RJ b) Tutela ao Corpo Morto (art. 14)
Ministro CESAR ASFOR ROCHA (1098)
T4 - QUARTA TURMA Art. 14. É válida, com objetivo científico, ou altruísti-
Data do Julgamento: 16/02/2006 co, a disposição gratuita do próprio corpo, no todo
CIVIL. DANOS MORAIS E MATERIAIS. DIREITO À ou em parte, para depois da morte.
IMAGEM E À HONRA DE PAI Parágrafo único. O ato de disposição pode ser li-
FALECIDO. vremente revogado a qualquer tempo.
Os direitos da personalidade, de que o direito à c) Autonomia do Paciente ou Livre Consentimento
imagem é um deles, guardam como principal carac- Informado (art. 15)
terística a sua intransmissibilidade. Nem por isso,
contudo, Art. 15. Ninguém pode ser constrangido a submeter-
deixa de merecer proteção a imagem e a honra de se, com risco de vida, a tratamento médico ou a
quem falece, como se fossem coisas de ninguém, intervenção cirúrgica.
porque elas permanecem perenemente lembradas 3.2 Integridade Psíquica ou Moral
nas memórias, como bens imortais que se prolon-

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Sob o ponto de vista psíquico, com base no nosso
direito positivo, há 4 direitos da personalidade: ima- Art. 21. A vida privada da pessoa natural é inviolá-
gem, privacidade honra e nome. vel, e o juiz, a requerimento do interessado, adotará
as providências necessárias para impedir ou fazer
> Art. 20 - Imagem cessar ato contrário a esta norma.
> Art. 21 - Privacidade c) Nome
> Art. 16 a 19 – Nome
a) Imagem O nome é, em regra, composto pelo prenome e
sobrenome (patronímico) (art 16).
A proteção constitucional da imagem encontra-se no
art. 5º, incisos V e X: Art. 16. Toda pessoa tem direito ao nome, nele
compreendidos o prenome e o sobrenome.
Art. 5º
V - é assegurado o direito de resposta, proporcional É vedada a utilização do nome em publicações ou
ao agravo, além da indenização por dano material, representações que exponham ao desprezo público,
moral ou à imagem; ainda que inexista intenção difamatória. (art 17).

X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a


honra e a imagem das pessoas, assegurado o direi- Art. 17. O nome da pessoa não pode ser emprega-
to a indenização pelo dano material ou moral decor- do por outrem em publicações ou representações
rente de sua violação; que a exponham ao desprezo público, ainda quando
No CC, encontra-se no art. 20: não haja intenção difamatória.

Art. 20. Salvo se autorizadas, ou se necessárias à A utilização de nome em propaganda comercial


administração da justiça ou à manutenção da ordem necessita de autorização, sempre (art 18).
pública, a divulgação de escritos, a transmissão da Art. 18. Sem autorização, não se pode usar o nome
palavra, ou a publicação, alheio em propaganda comercial.
a exposição ou a utilização da imagem de uma pes-
soa poderão ser proibidas, a seu requerimento e Ademais, confere o Código Civil proteção ao pseu-
sem prejuízo da indenização que couber, se lhe dônimo utilizado para atividades licitas idêntica
atingirem a honra, a boa fama ou a respeitabilidade, àquela do nome (art 19).
ou se se destinarem a fins comerciais.
# Autorização expressa ou tácita
Art. 19. O pseudônimo adotado para atividades líci-
# Mitigações à necessidade de autorização: tas goza da proteção que se dá ao nome.

Necessária à administração da justiça ou à manu-


tenção da ordem pública Seria possível a alteração do nome?
4 Direitos da Personalidade da Pessoa Jurídica?
b) Biografias não autorizadas (ADI 4815)
Art. 52. Aplica-se às pessoas jurídicas, no que cou-
c) Direito à imagem x direito à informação ber, a proteção dos direitos da personalidade.
Súmula 227, STJ - A pessoa jurídica pode sofrer
d) Direito a imagem em locais públicos dano moral.
Negócio Jurídico
e) Direito à imagem de pessoas pública sou quem Tema IV
estão com elas. 1. Conceito de Negócio Jurídico

# Cabe direito de resposta (Lei 13.188/15)? 2. Validade do Negócio Jurídico


b) Vida Privada ou Privacidade
Validade é sinônimo de adequação ao sistema jurí-
Há uma proteção constitucional – art. 5º, XII dico, verificando-se se o negócio existente pertence
ao ordenamento jurídico.
XII - é inviolável o sigilo da correspondência e das Art. 104. A validade do negócio jurídico requer:
comunicações telegráficas, de dados e das comuni- I - agente capaz;
cações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem II - objeto lícito, possível, determinado ou determi-
judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabe- nável;
lecer para fins de investigação criminal ou instrução III - forma prescrita ou não defesa em lei.
processual penal; I – Capacidade do Agente: Já estudada na aula de
No CC, está previsto no art. 21: Pessoa Física.

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2. Pode ser arguida pelas partes, por terceiro inte-
II – Objeto Lícito, Possível, Determinado ou Deter- ressado, pelo Ministério Público, quando lhe couber
minável intervir, ou, até mesmo, pronunciada de ofício pelo
Juiz ex ofício;
III – Forma Prescrita ou Não Defesa em Lei. 3. Não admite confirmação (ratificação), mas pode
Art. 107. A validade da declaração de vontade não ser convertido;
dependerá de forma especial, senão quando a lei 4. A ação declaratória de nulidade é decidida por
expressamente a exigir. sentença de natureza declaratória de efeitos “ex
tunc”;
Hipótese em que a vontade é vinculada: 5. A nulidade, segundo o novo Código Civil, pode
ser reconhecida a qualquer tempo, não se sujeitan-
Art. 108. Não dispondo a lei em contrário, a escritu- do a prazo prescricional (imprescritível) ou deca-
ra pública é essencial à validade dos negócios jurí- dencial.
dicos que visem à constituição, transferência, modi- # Atenção: apesar de o juiz poder reconhecer ex
ficação ou renúncia de direitos reais sobre imóveis ofício a nulidade, ele não tem permissão para supri-
de valor superior a trinta vezes o maior salário mí- la, ainda que a requerimento da parte (art. 168 p.u,
nimo vigente no País. CC/02).
IV – Consentimento Válido
Parágrafo único. As nulidades devem ser pronunci-
Pode ser pelo silêncio? Art. 111 do CC: adas pelo juiz, quando conhecer do negócio jurídico
ou dos seus efeitos e as encontrar provadas, não
Art. 111. O silêncio importa anuência, quando as lhe sendo permitido supri-las, ainda que a requeri-
circunstâncias ou os usos o autorizarem, e não for mento das partes.
necessária a declaração de vontade expressa. # Atenção: mesmo para conhecer o tem de ofício, é
2.1 Teoria das Invalidades necessário ao juiz conferir contraditório.

a) Nulidade Absoluta Art. 10. O juiz não pode decidir, em grau algum de
jurisdição, com base em fundamento a respeito do
Hipóteses: qual não se tenha dado às partes oportunidade de
Art.166. É nulo o negócio jurídico quando: se manifestar, ainda que se trate de matéria sobre a
I - celebrado por pessoa absolutamente incapaz; qual deva decidir de ofício.
II - for ilícito, impossível ou indeterminável o seu
objeto; b) Nulidade Relativa (Anulabilidade)
III - o motivo determinante, comum a ambas as par-
tes, for ilícito; Hipóteses:
IV - não revestir a forma prescrita em lei;
V - for preterida alguma solenidade que a lei consi- Art. 171. Além dos casos expressamente declara-
dere essencial para a sua validade; dos na lei, é anulável o negócio jurídico:
VI - tiver por objetivo fraudar lei imperativa; I - por incapacidade relativa do agente;
VII - a lei taxativamente o declarar nulo, ou proibir- II - por vício resultante de erro, dolo, coação, estado
lhe a prática, sem cominar sanção. de perigo, lesão ou fraude contra credores.
Características:
Art. 167. É nulo o negócio jurídico simulado, mas
subsistirá o que se dissimulou, se válido for na 1. O ato anulável atinge interesses particulares,
substância e na forma. legalmente tutelados (por isso a gravidade não é tão
§ 1o Haverá simulação nos negócios jurídicos relevante quanto na hipótese de nulidade);
quando: 2. Somente pode ser arguida pelos legítimos inte-
I - aparentarem conferir ou transmitir direitos a pes- ressados;
soas diversas daquelas às quais realmente se con- 3. Admite confirmação expressa ou tácita (ratifica-
ferem, ou transmitem; ção);
II - contiverem declaração, confissão, condição ou 4. A anulabilidade somente pode ser arguida, pela
cláusula não verdadeira; via judicial, em prazos decadenciais de 4 (regra
III - os instrumentos particulares forem antedatados, geral) ou 2 (regra supletiva) anos, salvo norma es-
ou pós-datados. pecífica sem sentido contrário (art. 178 e 179).
§ 2o Ressalvam-se os direitos de terceiros de boa- Art. 178. É de quatro anos o prazo de decadência
fé em face dos contraentes do negócio jurídico para pleitear-se a anulação do negócio jurídico,
simulado. contado:
Características: I - no caso de coação, do dia em que ela cessar;

1. O ato nulo atinge interesse público superior;

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II - no de erro, dolo, fraude contra credores, estado Art. 132. Salvo disposição legal ou convencional em
de perigo ou lesão, do dia em que se realizou o contrário, computam-se os prazos, excluído o dia do
negócio jurídico; começo, e incluído o do vencimento.
III - no de atos de incapazes, do dia em que cessar § 1º Se o dia do vencimento cair em feriado, consi-
a incapacidade. derar-se-á prorrogado o prazo até o seguinte dia
útil.
Art. 179. Quando a lei dispuser que determinado ato § 2º Meado considera-se, em qualquer mês, o seu
é anulável, sem estabelecer prazo para pleitear-se a décimo quinto dia.
anulação, será este de dois anos, a contar da data § 3º Os prazos de meses e anos expiram no dia de
da conclusão do ato. igual número do de início, ou no imediato, se faltar
# Observa-se que caducou a súmula 494 do STF exata correspondência.
caducou: § 4º Os prazos fixados por hora contar-se-ão de
minuto a minuto.
S. 494 - A ação para anular venda de ascendente a c) Modo ou Encargo
descendente, sem consentimento dos demais,
“prescreve” em “vinte anos”, contados da data do Art. 136. O encargo não suspende a aquisição nem
ato, revogada a Súmula 152. o exercício do direito, salvo quando expressamente
imposto no negócio jurídico, pelo disponente, como
3. Eficácia condição suspensiva.

Tem como elementos acidentais ou acessórios, Art. 137. Considera-se não escrito o encargo ilícito
opostos pela vontade humana a negócios com fun- ou impossível, salvo se constituir o motivo determi-
do patrimonial: nante da liberalidade, caso em que se invalida o
a) Condição negócio jurídico.
4. Defeitos do Negócio Jurídico
Art. 122. São lícitas, em geral, todas as condições
não contrárias à lei, à ordem pública ou aos bons 4.1. Vícios de Consentimento (de vontade)
costumes; entre as condições defesas se incluem
as que privarem de todo efeito o negócio jurídico, ou a) Erro ou Ignorância
o sujeitarem ao puro arbítrio de uma das partes.
Erro principal ou essencial ou determinante:
Art. 123. Invalidam os negócios jurídicos que lhes Art. 138. São anuláveis os negócios jurídicos, quan-
são subordinados: do as declarações de vontade emanarem de erro
I - as condições física ou juridicamente impossíveis, substancial que poderia ser percebido por pessoa
quando suspensivas; de diligência normal, em face das circunstâncias do
II - as condições ilícitas, ou de fazer coisa ilícita; negócio.
III - as condições incompreensíveis ou contraditó- O erro acidental ou acessório:
rias.
Art. 142. O erro de indicação da pessoa ou da coisa,
Art. 124. Têm-se por inexistentes as condições im- a que se referir a declaração de vontade, não viciará
possíveis, quando resolutivas, e as de não fazer o negócio quando, por seu contexto e pelas circuns-
coisa impossível. tâncias, se puder identificar a coisa ou pessoa cogi-
tada.
Art. 125. Subordinando-se a eficácia do negócio Hipóteses de erro
jurídico à condição suspensiva, enquanto esta se
não verificar, não se terá adquirido o direito, a que A) Error in negotio (sobre o negócio)
ele visa. B) Error in corpore (sobre o objeto)
C) Error in Persona (sobre a pessoa)
Art. 130. Ao titular do direito eventual, nos casos de D) Error in iures (sobre o direito)
condição suspensiva ou resolutiva, é permitido pra- Art. 139. O erro é substancial quando:
ticar os atos destinados a conservá-lo. I - interessa à natureza do negócio, ao objeto princi-
b) Termo pal da declaração, ou a alguma das qualidades a
ele essenciais;
I) Inicial (dies a quo) x Final (Dies ad quem) II - concerne à identidade ou à qualidade essencial
da pessoa a quem se refira a declaração de vonta-
Art. 131. O termo inicial suspende o exercício, mas de, desde que tenha influído nesta de modo rele-
não a aquisição do direito. vante;
III - sendo de direito e não implicando recusa à apli-
II) Forma de Contagem: cação da lei, for o motivo único ou principal do ne-
gócio jurídico.

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Falso motivo:

Art. 140. O falso motivo só vicia a declaração de Dolo recíproco:


vontade quando expresso como razão determinan-
te. Art. 150. Se ambas as partes procederem com dolo,
Erro de transmissão de vontade: nenhuma pode alegá-lo para anular o negócio, ou
reclamar indenização.
Art. 141. A transmissão errônea da vontade por
meios interpostos é anulável nos mesmos casos em c) Coação Moral:
que o é a declaração direta. Requisitos para que a coação possa viciar o negó-
Erro de cálculo: cio:
i) A coação deve ser a causa
Art. 143. O erro de cálculo apenas autoriza a retifi- do ato;
cação da declaração de vontade. ii) Gravidade: A coação deve imputar ao coagido um
verdadeiro temor de dano sério;
b) Dolo iii) Injusta (ilícita, contrária ao direito, abusiva); ame-
aça do exercício normal do direito não é coação,
Dolo principal: idem temor reverencial.
iv) Iminência ou Atualidade: A coação deve ser atual
Art. 145. São os negócios jurídicos anuláveis por ou iminente (é para afastar a coação impossível);
dolo, quando este for a sua causa. v) A coação deve constituir ameaça de prejuízo à
pessoa ou bens da vítima, ou à pessoas da sua
família.
Dolo acessório: Na análise dos requisitos acima se leva em conside-
ração as circunstâncias subjetivas da vítima. Art.
Art. 146. O dolo acidental só obriga à satisfação das 152 do CC:
perdas e danos, e é acidental quando, a seu despei-
to, o negócio seria realizado, embora por outro mo- Art. 152. No apreciar a coação, ter-se-ão em conta o
do. sexo, a idade, a condição, a saúde, o temperamento
do paciente e todas as demais circunstâncias que
possam influir na gravidade dela.
Dolo negativo: Se a coação for dirigida a pessoa que não é da fa-
mília, caberá ao magistrado analisar. Art. 151 do
Art. 147. Nos negócios jurídicos bilaterais, o silêncio CC:
intencional de uma das partes a respeito de fato ou
qualidade que a outra parte haja ignorado, constitui Art. 151. A coação, para viciar a declaração da von-
omissão dolosa, provando-se que sem ela o negó- tade, há de ser tal que incuta ao paciente fundado
cio não se teria celebrado. temor de dano iminente e considerável à sua pes-
Dolo de terceiro: soa, à sua família, ou aos seus bens.

Art. 148. Pode também ser anulado o negócio jurídi- Parágrafo único. Se disser respeito a pessoa não
co por dolo de terceiro, se a parte a quem aproveite pertencente à família do paciente, o juiz, com base
dele tivesse ou devesse ter conhecimento; em caso nas circunstâncias, decidirá se houve coação.
contrário, ainda que subsista o negócio jurídico, o Art. 153 do CC:
terceiro responderá por todas as perdas e danos da
parte a quem ludibriou. Art. 153. Não se considera coação a ameaça do
exercício normal de um direito, nem o simples temor
Dolo de Representante: reverencial.

Art. 149. O dolo do representante legal de uma das Coação exercida por terceiros:
partes só obriga o representado a responder civil-
mente até a importância do proveito que teve; se, Art. 154. Vicia o negócio jurídico a coação exercida
porém, o dolo for do representante convencional, o por terceiro, se dela tivesse ou devesse ter conhe-
representado responderá solidariamente com ele cimento a parte a que aproveite, e esta responderá
por perdas e danos. solidariamente com aquele por perdas e danos.
Se representação legal – o representado apenas
responde até a importância que tiver proveito Art. 155, CC – Subsistirá o negócio jurídico, se a
coação decorrer de terceiro, sem que a parte a que
Se representação convencional – responsabilidade aproveite dela tivesse ou devesse ter conhecimento;
solidária

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mas o autor da coação responderá por todas as
perdas e danos que houver causado ao coacto. Art. 162. O credor quirografário, que receber do
d) Lesão devedor insolvente o pagamento da dívida ainda
não vencida, ficará obrigado a repor, em proveito do
Art. 157. Ocorre a lesão quando uma pessoa, sob acervo sobre que se tenha de efetuar o concurso de
premente necessidade, ou por inexperiência, se credores, aquilo que recebeu.
obriga a prestação manifestamente desproporcional
ao valor da prestação oposta. Art. 163. Presumem-se fraudatórias dos direitos dos
outros credores as garantias de dívidas que o deve-
§ 1º Aprecia-se a desproporção das prestações dor insolvente tiver dado a algum credor.
segundo os valores vigentes ao tempo em que foi Presunção de boa-fé:
celebrado o negócio jurídico.
Art. 164. Presumem-se, porém, de boa-fé e valem
§ 2º Não se decretará a anulação do negócio, se for os negócios ordinários indispensáveis à manuten-
oferecido suplemento suficiente, ou se a parte favo- ção de estabelecimento mercantil, rural, ou industri-
recida concordar com a redução do proveito. al, ou à subsistência do devedor e de sua família.
e) Estado de Perigo
b) Simulação
Art. 156. Configura-se o estado de perigo quando
alguém, premido da necessidade de salvar-se, ou a Classificação:
pessoa de sua família, de grave dano conhecido
pela outra parte, assume obrigação excessivamente - Absoluta
onerosa. - Relativa (ou dissimulação)
Art. 167. É nulo o negócio jurídico simulado, mas
Parágrafo único. Tratando-se de pessoa não per- subsistirá o que se dissimulou, se válido for na
tencente à família do declarante, o juiz decidirá se- substância e na forma.
gundo as circunstâncias. § 1º Haverá simulação nos negócios jurídicos quan-
do:
E. 148, CJF – Art. 156: Ao “estado de perigo” (art. I - aparentarem conferir ou transmitir direitos a pes-
156) aplica-se, por analogia, o disposto soas diversas daquelas às quais realmente se con-
no § 2º do art. 157. ferem, ou transmitem;
4.2 Vícios Sociais II - contiverem declaração, confissão, condição ou
cláusula não verdadeira;
a) Fraude Contra Credores. III - os instrumentos particulares forem antedatados,
ou pós-datados.
O patrimônio do devedor é o domicílio da garantia # Reserva Mental
do credor (Alexandre Câmara).
Art. 110, CC – A manifestação de vontade subsiste
Requisitos: ainda que o seu autor haja feito a reserva mental de
não querer o que manifestou, salvo se dela o desti-
a) Anterioridade do Crédito natário tinha conhecimento.
b) Eventus Damni Prescrição e Decadência
c) Consilium Fraudis Tema V
Hipóteses nas quais o CC presume a má-fé:
1. Noções Introdutórias
Art. 158. Os negócios de transmissão gratuita de
bens ou remissão de dívida, se os praticar o deve- O tempo, como fato jurídico natural. Análise do tema
dor já insolvente, ou por eles reduzido à insolvência, em correlação com as modalidades de direitos e
ainda quando o ignore, poderão ser anulados pelos ações.
credores quirografários, como lesivos dos seus di- 2. Prescrição
reitos.
§ 1º Igual direito assiste aos credores cuja garantia Art. 189. Violado o direito, nasce para o titular a
se tornar insuficiente. pretensão, a qual se extingue, pela prescrição, nos
§ 2º Só os credores que já o eram ao tempo daque- prazos a que aludem os arts. 205 e 206.
les atos podem pleitear a anulação deles. 2.1 Prazos

Art. 159. Serão igualmente anuláveis os contratos Os prazos prescricionais estão todos mencionados
onerosos do devedor insolvente, quando a insolvên- nos artigos 205 (Prazo Geral) e 206 (Prazo Especi-
cia for notória, ou houver motivo para ser conhecida al) do CC.
do outro contratante.

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Art. 205. A prescrição ocorre em dez anos, quando c) para os liquidantes, da primeira assembléia se-
a lei não lhe haja fixado prazo menor. mestral posterior à violação;
VIII - a pretensão para haver o pagamento de título
Art. 206. Prescreve: de crédito, a contar do vencimento, ressalvadas as
disposições de lei especial;
§ 1º Em um ano: IX - a pretensão do beneficiário contra o segurador,
I - a pretensão dos hospedeiros ou fornecedores de e a do terceiro prejudicado, no caso de seguro de
víveres destinados a consumo no próprio estabele- responsabilidade civil obrigatório.
cimento, para o pagamento da hospedagem ou dos
alimentos; § 4º Em quatro anos, a pretensão relativa à tutela, a
II - a pretensão do segurado contra o segurador, ou contar da data da aprovação das contas.
a deste contra aquele, contado o prazo:
a) para o segurado, no caso de seguro de respon- § 5º Em cinco anos:
sabilidade civil, da data em que é citado para res- I - a pretensão de cobrança de dívidas líquidas
ponder à ação de indenização proposta pelo terceiro constantes de instrumento público ou particular;
prejudicado, ou da data que a este indeniza, com a II - a pretensão dos profissionais liberais em geral,
anuência do segurador; procuradores judiciais, curadores e professores
b) quanto aos demais seguros, da ciência do fato pelos seus honorários, contado o prazo da conclu-
gerador da pretensão; são dos serviços, da cessação dos respectivos con-
III - a pretensão dos tabeliães, auxiliares da justiça, tratos ou mandato;
serventuários judiciais, árbitros e peritos, pela per- III - a pretensão do vencedor para haver do vencido
cepção de emolumentos, custas e honorários; o que despendeu em juízo.
IV - a pretensão contra os peritos, pela avaliação 2.2 Causas impeditivas, suspensivas e interruptivas
dos bens que entraram para a formação do capital da Prescrição
de sociedade anônima, contado da publicação da
ata da assembléia que aprovar o laudo; a) Causas Impeditivas e Suspensivas (art. 197 a
V - a pretensão dos credores não pagos contra os 201 do CC)
sócios ou acionistas e os liquidantes, contado o
prazo da publicação da ata de encerramento da Consistem em causas que impedem o início da
liquidação da sociedade. contagem do prazo prescricional, ou então vem a
suspender a fluência desses esses prazos.
§ 2º Em dois anos, a pretensão para haver presta-
ções alimentares, a partir da data em que se vence- A suspensão pode acontecer em diversas oportuni-
rem. dades e, em todas elas, o prazo reinicia de onde
parou.
§ 3º Em três anos: Art. 197. Não corre a prescrição:
I - a pretensão relativa a aluguéis de prédios urba- I - entre os cônjuges, na constância da sociedade
nos ou rústicos; conjugal;
II - a pretensão para receber prestações vencidas II - entre ascendentes e descendentes, durante o
de rendas temporárias ou vitalícias; poder familiar;
III - a pretensão para haver juros, dividendos ou III - entre tutelados ou curatelados e seus tutores ou
quaisquer prestações acessórias, pagáveis, em curadores, durante a tutela ou curatela.
períodos não maiores de um ano, com capitalização
ou sem ela; Art. 198. Também não corre a prescrição:
IV - a pretensão de ressarcimento de enriquecimen- I - contra os incapazes de que trata o art. 3º;
to sem causa; II - contra os ausentes do País em serviço público
V - a pretensão de reparação civil; da União, dos Estados ou dos Municípios;
VI - a pretensão de restituição dos lucros ou divi- III - contra os que se acharem servindo nas Forças
dendos recebidos de má-fé, correndo o prazo da Armadas, em tempo de guerra.
data em que foi deliberada a distribuição;
VII - a pretensão contra as pessoas em seguida Art. 199. Não corre igualmente a prescrição:
indicadas por violação da lei ou do estatuto, contado I - pendendo condição suspensiva;
o prazo: II - não estando vencido o prazo;
a) para os fundadores, da publicação dos atos cons- III - pendendo ação de evicção.
titutivos da sociedade anônima;
b) para os administradores, ou fiscais, da apresen- Art. 200. Quando a ação se originar de fato que
tação, aos sócios, do balanço referente ao exercício deva ser apurado no juízo criminal, não correrá a
em que a violação tenha sido praticada, ou da reu- prescrição antes da respectiva sentença definitiva.
nião ou assembléia geral que dela deva tomar co-
nhecimento;

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Art. 201. Suspensa a prescrição em favor de um dos em um contrato preliminar; prazo de garantia contra-
credores solidários, só aproveitam os outros se a tual.
obrigação for indivisível. 4. Observações Correlatas: Prescrição e Decadên-
b) Causas Interruptivas (art. 202 a 204 do CC): cia

Essas zeram o prazo, o interrompendo e fazendo I. Os prazos prescricionais, por serem sempre le-
necessidade de nova contagem do início. A inter- gais, não podem ser alterados pela vontade das
rupção só poderá ocorrer uma única vez, como de- partes (ar. 192). E os decadenciais?
termina o caput do art. 202. Art. 192. Os prazos de prescrição não podem ser
Art. 202. A interrupção da prescrição, que somente alterados por acordo das partes.
poderá ocorrer uma vez, dar-se-á:
I - por despacho do juiz, mesmo incompetente, que II. A prescrição, por ser uma defesa do devedor,
ordenar a citação, se o interessado a promover no pode ser renunciada, nos termos do art. 191 CC. Na
prazo e na forma da lei processual; mesma linha a decadência convencional também
II - por protesto, nas condições do inciso anteceden- pode ser renunciada, não se admitindo, porém, a
te; renúncia ao prazo decadencial legal (art. 209).
III - por protesto cambial; Art. 191. A renúncia da prescrição pode ser expres-
IV - pela apresentação do título de crédito em juízo sa ou tácita, e só valerá, sendo feita, sem prejuízo
de inventário ou em concurso de credores; de terceiro, depois que a prescrição se consumar;
V - por qualquer ato judicial que constitua em mora tácita é a renúncia quando se presume de fatos do
o devedor; interessado, incompatíveis com a prescrição.
VI - por qualquer ato inequívoco, ainda que extraju-
dicial, que importe reconhecimento do direito pelo Art. 209. É nula a renúncia à decadência fixada em
devedor. lei.
Parágrafo único. A prescrição interrompida recome- III. A decadência legal pode ser reconhecida de
ça a correr da data do ato que a interrompeu, ou do ofício pelo juiz (a convencional não). O mesmo não
último ato do processo para a interromper. acontece com a convencional – Inteligência dos arts
210 e 211 do CC:

Art. 203. A prescrição pode ser interrompida por


qualquer interessado. Art. 210. Deve o juiz, de ofício, conhecer da deca-
dência, quando estabelecida por lei.
Art. 204. A interrupção da prescrição por um credor
não aproveita aos outros; semelhantemente, a inter-
rupção operada contra o co-devedor, ou seu herdei- Art. 211. Se a decadência for convencional, a parte
ro, não prejudica aos demais coobrigados. a quem aproveita pode alegá-la em qualquer grau
§ 1º A interrupção por um dos credores solidários de jurisdição, mas o juiz não pode suprir a alegação.
aproveita aos outros; assim como a interrupção E a prescrição?
efetuada contra o devedor solidário envolve os de-
mais e seus herdeiros. Art. 487. Haverá resolução de mérito quando o juiz:
§ 2º A interrupção operada contra um dos herdeiros I - acolher ou rejeitar o pedido formulado na ação ou
do devedor solidário não prejudica os outros herdei- na reconvenção;
ros ou devedores, senão quando se trate de obriga- II - decidir, de ofício ou a requerimento, sobre a
ções e direitos indivisíveis. ocorrência de decadência ou prescrição;
§ 3º A interrupção produzida contra o principal de- III - homologar:
vedor prejudica o fiador. a) o reconhecimento da procedência do pedido for-
2.3 Observações Finais sobre Prescrição mulado na ação ou na reconvenção;
Art. 193. A prescrição pode ser alegada em qual- b) a transação;
quer grau de jurisdição, pela parte a quem aprovei- c) a renúncia à pretensão formulada na ação ou na
ta. reconvenção.
o
Art. 196. A prescrição iniciada contra uma pessoa Parágrafo único. Ressalvada a hipótese do § 1 do
continua a correr contra o seu sucessor. art. 332, a prescrição e a decadência não serão
3. Decadência (ou caducidade) reconhecidas sem que antes seja dada às partes
oportunidade de manifestar-se.
A decadência diz respeito à perda de direitos potes- IV. A decadência não se impede, suspende ou inter-
tativos por conta do decurso do tempo. rompe, salvo em relação à absolutamente incapa-
zes.
A decadencial pode ser legal ou convencional. A Art. 207. Salvo disposição legal em contrário, não se
convencional é novidade do Código, decorrente da aplicam à decadência as normas que impedem,
vontade das partes. Ex: direito de arrependimento suspendem ou interrompem a prescrição.

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OAB 1ª FASE - XXI EXAME DE ORDEM
Direito Civil – Aula 01
Luciano Figueiredo
Art. 208. Aplica-se à decadência o disposto nos arts.
195 e 198, inciso I

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OAB 1º FASE - XXI EXAME DE ORDEM
Direito Civil – Aula 03
Luciano Figueiredo
Direito das Famílias ferência do novo cônjuge ou companheiro.
Tema I Parágrafo único. Igual preceito ao estabelecido
Casamento neste artigo aplica-se ao pai ou à mãe solteiros que
casarem ou estabelecerem união estável.
Material para o Curso Regular OAB.
Elaboração: Luciano L. Figueiredo1. E se forem divorciados?

1. Conceito Art. 1.632. A separação judicial, o divórcio e a dis-


solução da união estável não alteram as relações
Art. 1.511. O casamento estabelece comunhão ple- entre pais e filhos senão quanto ao direito, que aos
na de vida, com base na igualdade de direitos e primeiros cabe, de terem em sua companhia os
deveres dos cônjuges. segundos.

Demais disto, a denegação injusta da autorização


2. Capacidade Núbil pode ser suprimida pelo magistrado (Art. 1519):

Art. 1.517. O homem e a mulher com dezesseis Art. 1.519. A denegação do consentimento, quando
anos podem casar, exigindo-se autorização de am- injusta, pode ser suprida pelo juiz.
bos os pais, ou de seus representantes legais, en-
quanto não atingida a maioridade civil. A autorização dos responsáveis pode ser revogada
Parágrafo único. Se houver divergência entre os até o momento da celebração do matrimônio (Art.
pais, aplica-se o disposto no parágrafo único do art. 1518) – Cuidado! Nova redação: Lei 13.146/2015
1.631.
Art. 1.518. Até a celebração do casamento podem
Se houver divergência entre os pais, o magistrado é os pais ou tutores revogar a autorização. (Redação
instado a solucionar a questão, aplicando o art. dada pela Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência)
1631 do CC, como faz remissão o parágrafo único
do art. 1517 do CC: Outrossim, antes dos 16 anos é possível, excepcio-
nalmente, hipóteses de casamento, desde que seja:
Art. 1631. Durante o casamento e a União Estável,
compete o Poder Familiar aos pais; na falta ou im- Art. 1.520. Excepcionalmente, será permitido o ca-
pedimento de um deles, o outro exercerá com ex- samento de quem ainda não alcançou a idade núbil
clusividade. (art. 1517), para evitar imposição ou cumprimento
de pena criminal ou em caso de gravidez.
Parágrafo Único: Divergindo os pais quanto ao
exercício do Poder Familiar, e assegurado a qual- 3. Impedimentos matrimoniais
quer deles recorrer ao Juiz para solução do desa-
cordo. Os impedimentos trazem hipóteses nas quais é
vedado o casamento.
E se um dos responsáveis houver falecido?
Art. 1.521. Não podem casar:
E o padastro, terá que autorizar? I - os ascendentes com os descendentes, seja o
parentesco natural ou civil;
Art 1.636. O pai ou a mãe que contrai novas núp- II - os afins em linha reta;
cias, ou estabelece união estável, não perde, quan- III - o adotante com quem foi cônjuge do adotado e
to aos filhos do relacionamento anterior, os direitos o adotado com quem o foi do adotante;
ao poder familiar, exercendo-os sem qualquer inter- IV - os irmãos, unilaterais ou bilaterais, e demais
colaterais, até o terceiro grau inclusive;
V - o adotado com o filho do adotante;
1 Advogado. Sócio do Figueiredo & Figueiredo Advocacia VI - as pessoas casadas;
e Consultoria. Graduado em Direito pela Universidade VII - o cônjuge sobrevivente com o condenado por
Salvador (UNIFACS). Especialista (Pós-Graduado) em homicídio ou tentativa de homicídio contra o seu
consorte.
Direito do Estado pela Universidade Federal da Bahia
(UFBA). Mestre em Direito Privado pela Universidade É possível o casamento entre parentes de 3 grau?
Federal da Bahia (UFBA). Professor de Direito Civil. Pales-
trante. Autor de Artigos Científicos e Livros Jurídicos. Fan E. 98, CJF –Art. 1.521, IV, do novo Código Civil: o
Page: Luciano Lima Figueiredo. Twitter: @civilfigueiredo. inc. IV do art. 1.521 do novo Código Civil deve ser
interpretado à luz do Decreto-Lei n. 3.200/41 no que
Instagram: @lucianolimafigueiredo.

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OAB 1º FASE - XXI EXAME DE ORDEM
Direito Civil – Aula 03
Luciano Figueiredo
se refere à possibilidade de casamento entre colate- A ocorrência de causa suspensiva leva como con-
rais de 3º grau seqüência a observância, obrigatória, do regime de
separação legal de bens (art. 1641):
A oposição dos impedimentos pode acontecer até o
momento da celebração. Art. 1.641. É obrigatório o regime de separação de
bens no casamento:
Art. 1.522. Os impedimentos podem ser opostos, I – das pessoas que contraírem com inobservância
até o momento da celebração do casamento, por das causas suspensivas de celebração do casa-
qualquer pessoa capaz. mento
Parágrafo único. Se o juiz, ou o oficial de registro, II – da pessoa maior de setenta anos
tiver conhecimento da existência de algum impedi- III – de todos que dependerem, para casar, di o
mento, será obrigado a declará-lo suprimento judicial

Os impedimentos, quando verificados, causam a 5. Anulabilidade do Casamento


nulidade do casamento (art. 1548, II). Cuidado! No-
va redação da Lei 13.146/2015. As causas de anulação estão elencadas a partir do
art. 1550 do CC. Cuidado! Nova redação da Lei
Art. 1.548. É nulo o casamento contraído: 13.146/2015:
I – (Revogado);
II – por infringência de impedimento. Art. 1.550. É anulável o casamento:
I – de quem não completou a idade mínima para
4. Causas Suspensivas casar;
II – do menor em idade núbil, quando não au-
As causas suspensivas estão elencadas no art. torizado por seu representante legal;
1523 do Código Civil: III – por vício da vontade, nos termos dos
arts. 1.556 a 1.558;
Art. 1.523. Não devem casar: IV – do incapaz de consentir ou manifestar,
I - o viúvo ou a viúva que tiver filho do cônjuge fale- de modo inequívoco, o consentimento;
cido, enquanto não fizer inventário dos bens do V – realizado pelo mandatário, sem que ele ou o
casal e der partilha aos herdeiros; outro contraente soubesse da revogação do man-
II - a viúva, ou a mulher cujo casamento se desfez dato, e não sobrevindo coabitação entre os
por ser nulo ou ter sido anulado, até dez meses cônjuges;
depois do começo da viuvez, ou da dissolução da VI – por incompetência da autoridade celebrante.
sociedade conjugal; §1º Equipara-se à revogação a invalidade do man-
III - o divorciado, enquanto não houver sido homolo- dato judicialmente decretada.
gada ou decidida a partilha dos bens do casal; §2º A pessoa com deficiência mental ou intelectual
IV - o tutor ou o curador e os seus descendentes, em idade núbia poderá contrair matrimônio, ex-
ascendentes, irmãos, cunhados ou sobrinhos, com pressando sua vontade diretamente ou por meio de
a pessoa tutelada ou curatelada, enquanto não ces- seu responsável ou curador.
sar a tutela ou curatela, e não estiverem saldadas
as respectivas contas. O casamento do qual resulte gravidez não gera
Parágrafo único. É permitido aos nubentes solicitar anulabilidade, em razão de ser esta uma hipótese
ao juiz que não lhes sejam aplicadas as causas na qual se torna desnecessária a autorização legal
suspensivas previstas nos incisos I, III e IV deste (art. 1551 c/c 1520).
artigo, provando-se a inexistência de prejuízo, res-
pectivamente, para o herdeiro, para o ex-cônjuge e Art. 1.551. Não se anulará, por motivo de
para a pessoa tutelada ou curatelada; no caso do idade, o casamento de que resultou gravidez.
inciso II, a nubente deverá provar nascimento de
filho, ou inexistência de gravidez, na fluência do Traz ainda o Código Civil, como hipótese outras de
prazo. anulação do casamento o Erro Essencial quanto à
Pessoa, disciplinado nos arts. 1556 e 1557. Cuida-
Legitimidade (art. 1524 do CC): do. Nova redação do art. 1.557 do CC, pela Lei
13.146/2015.
Art. 1.524. As causas suspensivas da celebração do
casamento podem ser argüidas pelos parentes em Art. 1.556. O casamento pode ser anulado por vício
linha reta de um dos nubentes, sejam consangüí- da vontade, se houve por parte de um dos nuben-
neos ou afins, e pelos colaterais em segundo grau, tes, ao consentir, erro essencial quanto à pessoa do
sejam também consangüíneos ou afins. outro.

Art. 1.557. Considera-se erro essencial sobre a

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Direito Civil – Aula 03
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pessoa do outro cônjuge: § 2º Se ambos os cônjuges estavam de má-fé ao
I – o que diz respeito à sua identidade, sua honra celebrar o casamento, os seus efeitos civis só aos
e boa fama, sendo esse erro tal que o seu filhos aproveitarão.
conhecimento ulterior torne insuportável a vida em
comum ao cônjuge enganado; b) Note-se que o novo CC acolheu, ainda, a teoria
II – a ignorância de crime, anterior ao casamento, do funcionário de fato (teoria da aparência) – Art.
que, por sua natureza, torne insuportável a vida 1554 do CC:
conjugal;
III – a ignorância, anterior ao casamento, de defeito Art. 1.554. Subsiste o casamento celebrado por
físico irremediável que não caracterize deficiência aquele que, sem possuir a competência exigida na
ou de moléstia grave e transmissível, por contágio lei, exercer publicamente as funções de juiz de ca-
ou por herança, capaz de pôr em risco a saúde samentos e, nessa qualidade, tiver registrado o ato
do outro cônjuge ou de sua descendência; no Registro Civil.
IV – (Revogado).
6. Eficácia Patrimonial: Regime de Bens
# Questões de Prova:

Casou-se com transexual? Trata-se do estatuto patrimonial do casamento, o


qual se inicia com o matrimônio, regido pelos princí-
Link com Direito da Personalidade e Resp - REsp pios:
1.008.398-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado
em 15/10/2009. a) Liberdade de Escolha e Variedade
b) Mutabilidade
Quais os prazos para anulabilidade?
a) Liberdade de Escolha e Variedade
Art. 1.560. O prazo para ser intentada a ação de
anulação do casamento, a contar da data da cele- - Pacto Antenupcial:
bração, é de:
I - cento e oitenta dias, no caso do inciso IV do art. Art. 1.653. É nulo o pacto antenupcial se não
1.550; for feito por escritura pública, e ineficaz se
II - dois anos, se incompetente a autoridade cele- não lhe seguir o casamento.
brante;
III - três anos, nos casos dos incisos I a IV do art. Art. 1.654. A eficácia do pacto antenupcial,
1.557; realizado por menor, fica condicionada à
IV - quatro anos, se houver coação. aprovação de seu representante legal, salvo
§ 1o Extingue-se, em cento e oitenta dias, o direito as hipóteses de regime obrigatório de sepa-
de anular o casamento dos menores de dezesseis ração de bens.
anos, contado o prazo para o menor do dia em que
perfez essa idade; e da data do casamento, para Art. 1.655. É nula a convenção ou cláusula
seus representantes legais ou ascendentes. dela que contravenha disposição absoluta de
§ 2o Na hipótese do inciso V do art. 1.550, o prazo lei.
para anulação do casamento é de cento e oitenta
dias, a partir da data em que o mandante tiver co- Art. 1.640. Não havendo convenção, ou sen-
nhecimento da celebração. do ela nula ou ineficaz, vigorará, quanto aos
bens entre os cônjuges, o regime da comu-
# Observações: nhão parcial.
Parágrafo único. Poderão os nubentes, no
a) Demais disto, há no Código Civil adoção da tese processo de habilitação, optar por qualquer
do casamento putativo: dos regimes que este código regula. Quanto
à forma, reduzir-se-á a termo a opção pela
Art. 1.561. Embora anulável ou mesmo nulo, se comunhão parcial, fazendo-se o pacto ante-
contraído de boa-fé por um ou ambos os cônjuges, nupcial por escritura pública, nas demais
o casamento, em relação a estes como aos filhos, escolhas.
produz todos os efeitos até o dia da sentença anula-
tória. b) Mutabilidade (art. 1639)
§ 1º Se um dos cônjuges estava de boa-fé ao cele-
brar o casamento, os seus efeitos civis só a ele e Art. 1.639. É lícito aos nubentes, antes de celebrado
aos filhos aproveitarão. o casamento, estipular, quanto aos seus bens, o
que lhes aprouver.

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Direito Civil – Aula 03
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§ 1º O regime de bens entre os cônjuges começa a
vigorar desde a data do casamento. Art. 1.661. São incomunicáveis os bens cuja
§ 2º É admissível alteração do regime de bens, me- aquisição tiver por título uma causa anterior
diante autorização judicial em pedido motivado de ao casamento.
ambos os cônjuges, apurada a procedência das
razões invocadas e ressalvados os direitos de ter- Art. 1.662. No regime da comunhão parcial, presu-
ceiros. mem-se adquiridos na constância do casamento os
bens móveis, quando não se provar que o foram em
O CC, no §2º do art. 1639, permite a mudança do data anterior.
regime de bens, sendo necessário:
O que não entra (não-comunica) na comunhão
a) Pedido conjunto e motivado de ambos os parcial
cônjuges
b) Procedimento de jurisdição voluntária (não Art. 1.659. Excluem-se da comunhão:
pode haver lide). I - os bens que cada cônjuge possuir ao ca-
c) O juízo competente é o juízo de família. sar, e os que lhe sobrevierem, na constância
d) Não pode vim a prejudicar terceiros. Por do casamento, por doação ou sucessão, e os
isso devem publicar editais. sub-rogados em seu lugar;
II - os bens adquiridos com valores exclusi-
O NCPC regula a matéria no art. 734; cita-se: vamente pertencentes a um dos cônjuges em
sub-rogação dos bens particulares;
Art. 734. A alteração do regime de bens do III - as obrigações anteriores ao casamento;
casamento, observados os requisitos legais, poderá IV - as obrigações provenientes de atos ilíci-
ser requerida, motivadamente, em petição assinada tos, salvo reversão em proveito do casal;
por ambos os cônjuges, na qual serão expostas as V - os bens de uso pessoal, os livros e ins-
razões que justificam a alteração, ressalvados os trumentos de profissão;
direitos de terceiros. VI - os proventos do trabalho pessoal de ca-
§ 1o Ao receber a petição inicial, o juiz determinará a da cônjuge;
intimação do Ministério Público e a publicação de VII - as pensões, meios-soldos, montepios e
edital que divulgue a pretendida alteração de bens, outras rendas semelhantes.
somente podendo decidir depois de decorrido o
prazo de 30 (trinta) dias da publicação do edital. O que entra (comunicam – aquestos) na comu-
§ 2o Os cônjuges, na petição inicial ou em petição nhão parcial
avulsa, podem propor ao juiz meio alternativo de
divulgação da alteração do regime de bens, a fim de Art. 1.660. Entram na comunhão:
resguardar direitos de terceiros. I - os bens adquiridos na constância do ca-
§ 3o Após o trânsito em julgado da sentença, samento por título oneroso, ainda que só em
serão expedidos mandados de averbação nome de um dos cônjuges;
aos cartórios de registro civil e de imóveis e, II - os bens adquiridos por fato eventual, com
caso qualquer dos cônjuges seja empresário, ou sem o concurso de trabalho ou despesa
ao Registro Público de Empresas Mercantis e anterior;
Atividades Afins. III - os bens adquiridos por doação, herança
ou legado, em favor de ambos os cônjuges;
6.1 Espécies IV - as benfeitorias em bens particulares de
cada cônjuge;
a) comunhão universal; V - os frutos dos bens comuns, ou dos parti-
b) comunhão parcial; culares de cada cônjuge, percebidos na
c) separação convencional; constância do casamento, ou pendentes ao
d) separação legal ou obrigatória; tempo de cessar a comunhão.
e) participação final nos aquestos.
b) Regime Da Comunhão Universal De Bens:
Passa-se a verificação um a um dos regimes.
Art. 1.667. O regime de comunhão universal
a) Regime Da Comunhão Parcial De Bens Ou importa a comunicação de todos os bens
Regime Supletivo presentes e futuros dos cônjuges e suas dívi-
das passivas, com as exceções do artigo
Art. 1.658. No regime de comunhão parcial, seguinte.
comunicam-se os bens que sobrevierem ao
casal, na constância do casamento, com as Bens excluídos (não comunicam) da comunhão
exceções dos artigos seguintes. universal

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Direito Civil – Aula 03
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Súmula 377, STF: no regime de separação legal de
Art. 1.668. São excluídos da comunhão: bens, comunicam-se os adquiridos na constância do
I - os bens doados ou herdados com a cláu- casamento.
sula de incomunicabilidade e os sub-rogados
em seu lugar; Assim é que o STJ, mesmo com a publicação do
II - os bens gravados de fideicomisso e o NCC, continua aplicando a referida súmula. Trans-
direito do herdeiro fideicomissário, antes de creve-se:
realizada a condição suspensiva;
III - as dívidas anteriores ao casamento, sal- Incide a súmula 377 do STF que, por sinal, não
vo se provierem de despesas com seus cogita do esforço comum, presumido, neste caso,
aprestos, ou reverterem em proveito comum; segundo o entendimento pretoriano majoritária
IV - as doações antenupciais feitas por um (STJ, 4 T, REsp 154.896/RJ, Rel. Min. Fernando
dos cônjuges ao outro com a cláusula de Gonçalves. Julgado. 20.11.03)
incomunicabilidade;
V - Os bens referidos nos incisos V a VII do Mesmo entendimento: (STJ, 3 T, REsp
art. 1.659. 736.627/PR, Rel. Min. Carlos Alberto Menezes
Direto. Julgado. 11.04.06)
c) Regime Da Separação Convencional De Bens:
e) Participação Final Nos Aquestos
Neste regime cada conjugue possui patrimônio pró-
prio e separado, podendo administrar livremente os Neste novo regime, cada cônjuge possui patrimônio
seus bens (art. 1687) próprio (como no regime da separação), cabendo,
todavia, à época da dissolução da sociedade conju-
Art. 1.687. Estipulada a separação de bens, gal, direito à metade dos bens adquiridos pelo casal,
estes permanecerão sob a administração a título oneroso, na constância do casamento (art.
exclusiva de cada um dos cônjuges, que os 1672 e 1673).
poderá livremente alienar ou gravar de ônus
real. Art. 1.672. No regime de participação final
nos aquestos, cada cônjuge possui patrimô-
Malgrado a separação, as despesas do casal de- nio próprio, consoante disposto no artigo
vem ser custeadas por ambos os cônjuges, na pro- seguinte, e lhe cabe, à época da dissolução
porção dos seus rendimentos, salvo estipulação em da sociedade conjugal, direito à metade dos
contrário do pacto antenupcial (art. 1688). bens adquiridos pelo casal, a título oneroso,
na constância do casamento.
Art. 1.688. Ambos os cônjuges são obrigados
a contribuir para as despesas do casal na Art. 1.673. Integram o patrimônio próprio os
proporção dos rendimentos de seu trabalho e bens que cada cônjuge possuía ao casar e
de seus bens, salvo estipulação em contrário os por ele adquiridos, a qualquer título, na
no pacto antenupcial. constância do casamento.
Parágrafo único. A administração desses
d) Separação Obrigatória De Bens bens é exclusiva de cada cônjuge, que os
poderá livremente alienar, se forem móveis.
Situações em que o legislador impõe o regime de
separação obrigatória. Não entram no patrimônio comum (art. 1674):

Art. 1.641. É obrigatório o regime da separa- Art. 1.674. Sobrevindo a dissolução da socie-
ção de bens no casamento: dade conjugal, apurar-se-á o montante dos
I - das pessoas que o contraírem com inob- aqüestos, excluindo-se da soma dos patri-
servância das causas suspensivas da cele- mônios próprios:
bração do casamento; I - os bens anteriores ao casamento e os que
II - da pessoa maior de setenta anos; em seu lugar se sub-rogaram;
III - de todos os que dependerem, para casar, II - os que sobrevieram a cada cônjuge por
de suprimento judicial. sucessão ou liberalidade;
III - as dívidas relativas a esses bens.
Segundo súmula do STF, a separação obrigatória Parágrafo único. Salvo prova em contrário,
de bens incide nos bens presentes à época do ca- presumem-se adquiridos durante o casamen-
samento, e não nos aquestos futuros – bens adqui- to os bens móveis.
ridos onerosamente na constância do casamento
(súmula 377, STF): 7. Divórcio

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Direito Civil – Aula 03
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Coloca fim ao vinculo matrimonial. § 1º O cônjuge inocente na ação de separação judi-
cial poderá renunciar, a qualquer momento, ao direi-
As modalidades estão previstas no art. 1580 do CC to de usar o sobrenome do outro.
e art 226, §6º da CF. Pode ser o divórcio. Os prazos § 2º Nos demais casos caberá a opção pela conser-
permanecem? vação do nome de casado.

E. 517 do CJF: Art. 1.580. A Emenda Constitucional Cabe extrajudicial?


n. 66/2010 extinguiu os prazos previstos no art.
1.580 do Código Civil, mantido o divórcio por con- Regramento no NCPC, art. 733:
versão. Art. 733. O divórcio consensual, a separação con-
sensual e a extinção consensual de união estável,
a) Indireto ou Conversão: Subsiste? não havendo nascituro ou filhos incapazes e obser-
vados os requisitos legais, poderão ser realizados
Art. 1.580. Decorrido um ano do trânsito em julgado por escritura pública, da qual constarão as dis-
da sentença que houver decretado a separação posições de que trata o art. 731.
judicial, ou da decisão concessiva da medida caute- § 1o A escritura não depende de homologação judi-
lar de separação de corpos, qualquer das partes cial e constitui título hábil para qualquer ato de reg-
poderá requerer sua conversão em divórcio. istro, bem como para levantamento de importância
§ 1º A conversão em divórcio da separação judicial depositada em instituições financeiras.
dos cônjuges será decretada por sentença, da qual § 2o O tabelião somente lavrará a escritura se os
não constará referência à causa que a determinou. interessados estiverem assistidos por advogado ou
por defensor público, cuja qualificação e assinatura
b) Direto: Tem prazo? constarão do ato notarial.

Pode ser decretado independente da partilha dos União Estável


bens (art. 1581 CC): Tema II

Art. 1.581. O divórcio pode ser concedido sem que 1.1 Conceito
haja prévia partilha de bens.
Art. 1.723. É reconhecida como entidade familiar a
Quais os efeitos da culpa? união estável entre o homem e a mulher, configura-
da na convivência pública, contínua e duradoura e
- Possível perda do direito aos alimentos (art. estabelecida com o objetivo de constituição de famí-
1704) lia.

Art. 1.704. Se um dos cônjuges separados Necessário prazo mínimo?


judicialmente vier a necessitar de alimentos,
será o outro obrigado a prestá-los mediante Precisa morar junto?
pensão a ser fixada pelo juiz, caso não tenha
sido declarado culpado na ação de separa- S. 382. A vida em comum sob mesmo teto, more
ção judicial. uxório, não é indispensável à caracterização da
união estável.
Parágrafo único. Se o cônjuge declarado
culpado vier a necessitar de alimentos, e não Ter filhos?
tiver parentes em condições de prestá-los,
nem aptidão para o trabalho, o outro cônjuge Como distinguir do namoro?
será obrigado a assegurá-los, fixando o juiz o
valor indispensável à sobrevivência. STJ (REsp 474.962/SP): intenção de constituir famí-
lia (mero passatempo ou namoro).
- Possível interferência no uso do nome.
DIREITOS PROCESSUAL CIVIL E CIVIL. UNIÃO
Art. 1.578. O cônjuge declarado culpado na ação de ESTÁVEL. REQUISITOS. CONVIVÊNCIA SOB O
separação judicial perde o direito de usar o sobre- MESMO TETO.
nome do outro, desde que expressamente requerido DISPENSA. CASO CONCRETO. LEI N. 9.728/96.
pelo cônjuge inocente e se a alteração não acarre- ENUNCIADO N. 382 DA SÚMULA/STF. ACERVO
tar: FÁTICO- PROBATÓRIO. REEXAME. IMPOSSIBI-
I - evidente prejuízo para a sua identificação; LIDADE. ENUNCIADO N. 7 DA SÚMULA/STJ.
II - manifesta distinção entre o seu nome de família DOUTRINA.
e o dos filhos havidos da união dissolvida;
III - dano grave reconhecido na decisão judicial.

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Direito Civil – Aula 03
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PRECEDENTES. RECONVENÇÃO. CAPÍTULO DA EMENT VOL-02607-01 PP-00001
SENTENÇA. TANTUM DEVOLUTUM QUANTUM Parte(s)
APELLATUM. REQTE.(S) : GOVERNADOR DO ESTADO
HONORÁRIOS. INCIDÊNCIA SOBRE A CONDE- DO RIO DE JANEIRO
NAÇÃO. ART. 20, § 3º, CPC. RECURSO PROVIDO PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DO
PARCIALMENTE. ESTADO DO RIO DE JANEIRO
I - Não exige a lei específica (Lei n. 9.728/96) a co- INTDO.(A/S) : GOVERNADOR DO ESTADO
abitação como requisito essencial para caracterizar DO RIO DE JANEIRO
a união estável. Na realidade, a convivência sob o INTDO.(A/S) : TRIBUNAIS DE JUSTIÇA DOS
mesmo teto pode ser um dos fundamentos a de- ESTADOS
monstrar a relação comum, mas a sua ausência não INTDO.(A/S) : ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA
afasta, de imediato, a existência da união estável. DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
II - Diante da alteração dos costumes, além das AM. CURIAE. : CONECTAS DIREITOS HU-
profundas mudanças pelas quais tem passado a MANOS
sociedade, não é raro encontrar cônjuges ou com- AM. CURIAE. : EDH - ESCRITÓRIO DE DI-
panheiros residindo em locais diferentes. REITOS HUMANOS DO ESTADO DE MINAS GE-
III - O que se mostra indispensável é que a união se RAIS
revista de estabilidade, ou seja, que haja aparência AM. CURIAE. : GGB - GRUPO GAY DA BAHIA
de casamento, como no caso entendeu o acórdão ADV.(A/S) : ELOISA MACHADO DE ALMEI-
impugnado. DA
IV - Seria indispensável nova análise do acervo AM. CURIAE. : ANIS - INSTITUTO DE BIOÉ-
fático-probatório para concluir que o envolvimento TICA, DIREITOS HUMANOS E GÊNERO
entre os interessados se tratava de mero passatem- ADV.(A/S) : EDUARDO BASTOS FURTADO
po, ou namoro, não havendo a intenção de constituir DE MENDONÇA
família. AM. CURIAE. : GRUPO DE ESTUDOS EM
V - Na linha da doutrina, “processadas em conjunto, DIREITO INTERNACIONAL DA UNIVERSIDADE
julgam-se as duas ações [ação e reconvenção, em FEDERAL DE MINAS GERAIS - GEDI-UFMG
regra, 'na mesma sentença' (art. AM. CURIAE. : CENTRO DE REFERÊNCIA
318), que necessariamente se desdobra em dois DE GAYS, LÉSBICAS, BISSEXUAIS, TRAVESTIS,
capítulos, valendo cada um por decisão autônoma, TRANSEXUAIS E TRANSGÊNEROS DO ESTADO
em princípio, para fins de recorribilidade e de forma- DE MINAS GERAIS - CENTRO DE REFERÊNCIA
ção da coisa julgada". GLBTTT
VI - Nestes termos, constituindo-se em capítulos AM. CURIAE. : CENTRO DE LUTA PELA LI-
diferentes, a apelação interposta apenas contra a VRE ORIENTAÇÃO SEXUAL - CELLOS
parte da sentença que tratou da ação, não devolve AM. CURIAE. : ASSOCIAÇÃO DE TRAVESTIS
ao tribunal o exame da reconvenção, sob pena de E TRANSEXUAIS DE MINAS GERAIS - ASSTRAV
violação das regras tantum devolutum quantum ADV.(A/S) : RODOLFO COMPART DE MO-
apellatum e da proibição da reformatio in peius. RAES
VII - Consoante o § 3º do art. 20, CPC, "os honorá- AM. CURIAE. : GRUPO ARCO-ÍRIS DE
rios serão fixados (...) sobre o valor da condena- CONSCIENTIZAÇÃO HOMOSSEXUAL
ção". E a condenação, no caso, foi o usufruto sobre ADV.(A/S) : THIAGO BOTTINO DO AMARAL
a quarta parte dos bens do de cujus. Assim, é sobre AM. CURIAE. : ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA
essa verba que deve incidir o percentual dos hono- DE GAYS, LÉSBICAS, BISSEXUAIS, TRAVESTIS
rários, e não sobre o valor total dos bens. E TRANSEXUAIS - ABGLT
(REsp 474.962/SP, Rel. MIN. SÁLVIO DE FIGUEI- ADV.(A/S) : CAPRICE CAMARGO JACE-
REDO TEIXEIRA, QUARTA TURMA, julgado em WICZ
23.09.2003, DJ 01.03.2004 p. 186) AM. CURIAE. : INSTITUTO BRASILEIRO DE
DIREITO DE FAMÍLIA - IBDFAM
ADV.(A/S) : RODRIGO DA CUNHA PEREIRA
Cabe união estável entre pessoas do mesmo AM. CURIAE. : SOCIEDADE BRASILEIRA DE
sexo? DIREITO PÚBLICO - SBDP
ADV.(A/S) : EVORAH LUSCI COSTA CAR-
ADPF 132 / RJ - RIO DE JANEIRO DOSO
ARGÜIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEI- AM. CURIAE. : ASSOCIAÇÃO DE INCENTIVO
TO FUNDAMENTAL À EDUCAÇÃO E SAÚDE DO ESTADO DE SÃO
Relator(a): Min. AYRES BRITTO PAULO
Julgamento: 05/05/2011 Órgão Julga- ADV.(A/S) : FERNANDO QUARESMA DE
dor: Tribunal Pleno AZEVEDO E OUTRO(A/S)
Publicação AM. CURIAE. : CONFERÊNCIA NACIONAL
DJe-198 DIVULG 13-10-2011 PUBLIC 14-10-2011 DOS BISPOS DO BRASIL - CNBB

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ADV.(A/S) : FELIPE INÁCIO ZANCHET MA- CONHECIMENTO DE QUE A CONSTITUIÇÃO
GALHÃES E OUTRO(A/S) FEDERAL NÃO EMPRESTA AO SUBSTANTIVO
AM. CURIAE. : ASSOCIAÇÃO EDUARDO “FAMÍLIA” NENHUM SIGNIFICADO ORTODOXO
BANKS OU DA PRÓPRIA TÉCNICA JURÍDICA. A FAMÍ-
ADV.(A/S) : RALPH ANZOLIN LICHOTE E LIA COMO CATEGORIA SÓCIO-CULTURAL E
OUTRO(A/S) PRINCÍPIO ESPIRITUAL. DIREITO SUBJETIVO
Ementa DE CONSTITUIR FAMÍLIA. INTERPRETAÇÃO
NÃO-REDUCIONISTA. O caput do art. 226 confe-
Ementa: 1. ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO re à família, base da sociedade, especial prote-
DE PRECEITO FUNDAMENTAL (ADPF). PERDA ção do Estado. Ênfase constitucional à institui-
PARCIAL DE OBJETO. RECEBIMENTO, NA ção da família. Família em seu coloquial ou pro-
PARTE REMANESCENTE, COMO AÇÃO DIRETA verbial significado de núcleo doméstico, pouco
DE INCONSTITUCIONALIDADE. UNIÃO HOMOA- importando se formal ou informalmente consti-
FETIVA E SEU RECONHECIMENTO COMO INS- tuída, ou se integrada por casais heteroafetivos
TITUTO JURÍDICO. CONVERGÊNCIA DE OBJE- ou por pares homoafetivos. A Constituição de
TOS ENTRE AÇÕES DE NATUREZA ABSTRATA. 1988, ao utilizar-se da expressão “família”, não
JULGAMENTO CONJUNTO. Encampação dos limita sua formação a casais heteroafetivos nem
fundamentos da ADPF nº 132-RJ pela ADI nº a formalidade cartorária, celebração civil ou li-
4.277-DF, com a finalidade de conferir “interpre- turgia religiosa. Família como instituição privada
tação conforme à Constituição” ao art. 1.723 do que, voluntariamente constituída entre pessoas
Código Civil. Atendimento das condições da adultas, mantém com o Estado e a sociedade
ação. 2. PROIBIÇÃO DE DISCRIMINAÇÃO DAS civil uma necessária relação tricotômica. Núcleo
PESSOAS EM RAZÃO DO SEXO, SEJA NO PLA- familiar que é o principal lócus institucional de
NO DA DICOTOMIA HOMEM/MULHER (GÊNE- concreção dos direitos fundamentais que a pró-
RO), SEJA NO PLANO DA ORIENTAÇÃO SEXU- pria Constituição designa por “intimidade e vida
AL DE CADA QUAL DELES. A PROIBIÇÃO DO privada” (inciso X do art. 5º). Isonomia entre
PRECONCEITO COMO CAPÍTULO DO CONSTI- casais heteroafetivos e pares homoafetivos que
TUCIONALISMO FRATERNAL. HOMENAGEM AO somente ganha plenitude de sentido se desem-
PLURALISMO COMO VALOR SÓCIO-POLÍTICO- bocar no igual direito subjetivo à formação de
CULTURAL. LIBERDADE PARA DISPOR DA uma autonomizada família. Família como figura
PRÓPRIA SEXUALIDADE, INSERIDA NA CATE- central ou continente, de que tudo o mais é con-
GORIA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS DO IN- teúdo. Imperiosidade da interpretação não-
DIVÍDUO, EXPRESSÃO QUE É DA AUTONOMIA reducionista do conceito de família como insti-
DE VONTADE. DIREITO À INTIMIDADE E À VIDA tuição que também se forma por vias distintas
PRIVADA. CLÁUSULA PÉTREA. O sexo das pes- do casamento civil. Avanço da Constituição Fe-
soas, salvo disposição constitucional expressa deral de 1988 no plano dos costumes. Caminha-
ou implícita em sentido contrário, não se presta da na direção do pluralismo como categoria só-
como fator de desigualação jurídica. Proibição cio-político-cultural. Competência do Supremo
de preconceito, à luz do inciso IV do art. 3º da Tribunal Federal para manter, interpretativamen-
Constituição Federal, por colidir frontalmente te, o Texto Magno na posse do seu fundamental
com o objetivo constitucional de “promover o atributo da coerência, o que passa pela elimina-
bem de todos”. Silêncio normativo da Carta ção de preconceito quanto à orientação sexual
Magna a respeito do concreto uso do sexo dos das pessoas. 4. UNIÃO ESTÁVEL. NORMAÇÃO
indivíduos como saque da kelseniana “norma CONSTITUCIONAL REFERIDA A HOMEM E MU-
geral negativa”, segundo a qual “o que não esti- LHER, MAS APENAS PARA ESPECIAL PROTE-
ver juridicamente proibido, ou obrigado, está ÇÃO DESTA ÚLTIMA. FOCADO PROPÓSITO
juridicamente permitido”. Reconhecimento do CONSTITUCIONAL DE ESTABELECER RELA-
direito à preferência sexual como direta emana- ÇÕES JURÍDICAS HORIZONTAIS OU SEM HIE-
ção do princípio da “dignidade da pessoa hu- RARQUIA ENTRE AS DUAS TIPOLOGIAS DO
mana”: direito a auto-estima no mais elevado GÊNERO HUMANO. IDENTIDADE CONSTITUCI-
ponto da consciência do indivíduo. Direito à ONAL DOS CONCEITOS DE “ENTIDADE FAMI-
busca da felicidade. Salto normativo da proibi- LIAR” E “FAMÍLIA”. A referência constitucional à
ção do preconceito para a proclamação do direi- dualidade básica homem/mulher, no §3º do seu
to à liberdade sexual. O concreto uso da sexua- art. 226, deve-se ao centrado intuito de não se
lidade faz parte da autonomia da vontade das perder a menor oportunidade para favorecer
pessoas naturais. Empírico uso da sexualidade relações jurídicas horizontais ou sem hierarquia
nos planos da intimidade e da privacidade cons- no âmbito das sociedades domésticas. Reforço
titucionalmente tuteladas. Autonomia da vonta- normativo a um mais eficiente combate à reni-
de. Cláusula pétrea. 3. TRATAMENTO CONSTI- tência patriarcal dos costumes brasileiros. Im-
TUCIONAL DA INSTITUIÇÃO DA FAMÍLIA. RE- possibilidade de uso da letra da Constituição

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Direito Civil – Aula 03
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para ressuscitar o art. 175 da Carta de de Descumprimento de Preceito Fundamental 132,
1967/1969. Não há como fazer rolar a cabeça do após o voto do Senhor Ministro Ayres Britto (Rela-
art. 226 no patíbulo do seu parágrafo terceiro. tor), que julgava parcialmente prejudicada a ADPF,
Dispositivo que, ao utilizar da terminologia “en- recebendo
tidade familiar”, não pretendeu diferenciá-la da o pedido residual como ação direta de inconstitucio-
“família”. Inexistência de hierarquia ou diferença nalidade, e procedentes ambas as ações, foi o jul-
de qualidade jurídica entre as duas formas de gamento suspenso. Impedido o Senhor Ministro
constituição de um novo e autonomizado núcleo Dias Toffoli. Ausente, justificadamente, a Senhora
doméstico. Emprego do fraseado “entidade fa- Ministra Ellen Gracie. Falaram, pela requerente da
miliar” como sinônimo perfeito de família. A ADI
Constituição não interdita a formação de família 4.277, o Dr. Roberto Monteiro Gurgel Santos, Pro-
por pessoas do mesmo sexo. Consagração do curador-Geral da República; pelo requerente da
juízo de que não se proíbe nada a ninguém se- ADPF 132, o Professor Luís Roberto Barroso; pela
não em face de um direito ou de proteção de um Advocacia-Geral da União, o Ministro Luís Inácio
legítimo interesse de outrem, ou de toda a soci- Lucena Adams; pelos amici curiae Conectas Direi-
edade, o que não se dá na hipótese sub judice. tos Humanos;
Inexistência do direito dos indivíduos heteroafe- Instituto Brasileiro de Direito de Família - IBDFAM;
tivos à sua não-equiparação jurídica com os Grupo Arco-Íris de Conscientização Homossexual;
indivíduos homoafetivos. Aplicabilidade do §2º Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexu-
do art. 5º da Constituição Federal, a evidenciar ais, Travestis e Transexuais - ABGLT; Grupo de
que outros direitos e garantias, não expressa- Estudos em Direito Internacional da Universidade
mente listados na Constituição, emergem “do Federal
regime e dos princípios por ela adotados”, ver- de Minas Gerais - GEDI-UFMG e Centro de Refe-
bis: “Os direitos e garantias expressos nesta rência de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis,
Constituição não excluem outros decorrentes do Transexuais e Transgêneros do Estado de Minas
regime e dos princípios por ela adotados, ou dos Gerais - Centro de Referência GLBTTT; ANIS - Ins-
tratados internacionais em que a República Fe- tituto de Bioética, Direitos Humanos e Gênero; As-
derativa do Brasil seja parte”. 5. DIVERGÊNCIAS sociação de
LATERAIS QUANTO À FUNDAMENTAÇÃO DO Incentivo à Educação e Saúde de São Paulo; Con-
ACÓRDÃO. Anotação de que os Ministros Ricar- ferência Nacional dos Bispos do Brasil - CNBB e a
do Lewandowski, Gilmar Mendes e Cezar Peluso Associação Eduardo Banks, falaram, respectiva-
convergiram no particular entendimento da im- mente, o Professor Oscar Vilhena; a Dra. Maria
possibilidade de ortodoxo enquadramento da Berenice Dias; o Dr. Thiago Bottino do Amaral; o Dr.
união homoafetiva nas espécies de família cons- Roberto
titucionalmente estabelecidas. Sem embargo, Augusto Lopes Gonçale; o Dr. Diego Valadares
reconheceram a união entre parceiros do mes- Vasconcelos Neto; o Dr. Eduardo Mendonça; o Dr.
mo sexo como uma nova forma de entidade fa- Paulo Roberto Iotti Vecchiatti; o Dr. Hugo José Sa-
miliar. Matéria aberta à conformação legislativa, rubbi Cysneiros de Oliveira e o Dr. Ralph Anzolin
sem prejuízo do reconhecimento da imediata Lichote. Presidência do Senhor Ministro Cezar Pe-
auto-aplicabilidade da Constituição. 6. INTER- luso.
PRETAÇÃO DO ART. 1.723 DO CÓDIGO CIVIL Plenário, 04.05.2011.
EM CONFORMIDADE COM A CONSTITUIÇÃO Decisão: Prosseguindo no julgamento, o Tribunal
FEDERAL (TÉCNICA DA “INTERPRETAÇÃO conheceu da Argüição de Descumprimento de Pre-
CONFORME”). RECONHECIMENTO DA UNIÃO ceito Fundamental 132 como ação direta de incons-
HOMOAFETIVA COMO FAMÍLIA. PROCEDÊNCIA titucionalidade, por votação unânime. Prejudicado o
DAS AÇÕES. Ante a possibilidade de interpreta- primeiro pedido originariamente formulado na
ção em sentido preconceituoso ou discriminató- ADPF, por
rio do art. 1.723 do Código Civil, não resolúvel à votação unânime. Rejeitadas todas as preliminares,
luz dele próprio, faz-se necessária a utilização por votação unânime. Em seguida, o Tribunal, ainda
da técnica de “interpretação conforme à Consti- por votação unânime, julgou procedente as ações,
tuição”. Isso para excluir do dispositivo em cau- com eficácia erga omnes e efeito vinculante, autori-
sa qualquer significado que impeça o reconhe- zados os Ministros a decidirem monocraticamente
cimento da união contínua, pública e duradoura sobre a mesma questão, independentemente da
entre pessoas do mesmo sexo como família. publicação do acórdão. Votou o Presidente, Ministro
Reconhecimento que é de ser feito segundo as Cezar Peluso. Impedido o Senhor Ministro Dias
mesmas regras e com as mesmas consequên- Toffoli. Plenário, 05.05.2011
cias da união estável heteroafetiva.
Decisão
Chamadas, para julgamento em conjunto, a Ação 1.2 Deveres Pessoais
Direta de Inconstitucionalidade 4.277 e a Argüição

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Art. 1.724. As relações pessoais entre os cidência do enunciado da Súmula 7/STJ.
companheiros obedecerão aos deveres de 3. Inviável a concessão de indenização à concubina,
lealdade, respeito e assistência, e de guarda, que mantivera relacionamento com homem casado,
sustento e educação dos filhos. uma vez que tal providência eleva o concubinato a
nível de proteção mais sofisticado que o existente
1.3 Eficácia Patrimonial no casamento e na união estável, tendo em vista
que nessas uniões não se há falar em indenização
Art. 1.725. Na união estável, salvo contrato por serviços domésticos prestados, porque,
escrito entre os companheiros (contrato de verdadeiramente, de serviços domésticos não se
convivência), aplica-se às relações patrimo- cogita, senão de uma contribuição mútua para o
niais, no que couber, o regime da comunhão bom funcionamento do lar, cujos benefícios ambos
parcial de bens. experimentam ainda na constância da união.
4. Agravo regimental a que se nega provimento com
1.4 Concubinato aplicação de multa.
(AgRg no AREsp 249761 / RS. Relator Ministro
Art. 1.727. As relações não eventuais entre o ho- LUIS FELIPE SALOMÃO. T4 - QUARTA TURMA.
mem e a mulher, impedidos de casar, constituem Julgado em 28/05/2013).
concubinato.
Alimentos
Segundo o STF, quais os efeitos do concubina- Tema III
to?
1. Conceito e Noções Gerais.
Súmula 380 do Supremo Tribunal Federal (STF):
“Comprovada a existência de sociedade de fato 2. Espécies de Alimentos Civis
entre os concubinos, é cabível a sua dissolução
judicial, com a partilha do patrimônio adquirido pelo 2.1 Quanto a sua natureza (critério novo criado
esforço comum.” pelo CC/2002)

Atualmente, ainda, nega o STJ direito a indenização 2.1.1 Naturais (“necessarium persone”)
por serviços prestados. Veja-se:
Art. 1.694. Podem os parentes, os cônjuges ou
AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RE- companheiros pedir uns aos outros os alimentos de
CURSO ESPECIAL. ART. 535. OMISSÃO. INEX- que necessitem para viver de modo compatível com
ISTÊNCIA. RECONHECIMENTO DE RELAÇÃO a sua condição social, inclusive para atender às
CONCUBINÁRIA ENTRE A AUTORA E O FALECI- necessidades de sua educação.
DO. PARTILHA DE BENS. NÃO COMPROVAÇÃO
DE ESFORÇO COMUM PARA A AQUISIÇÃO DO 2.1.2 Necessários (art. 1694, § 2º e 1704, p.u).
PATRIMÔNIO. INDENIZAÇÃO. SERVIÇOS
PRESTADOS. DESCABIMENTO. AGRAVO REGI- § 2o Os alimentos serão apenas os indispensáveis à
MENTAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO COM subsistência, quando a situação de necessidade
APLICAÇÃO DE MULTA. resultar de culpa de quem os pleiteia.
1. Não caracteriza omissão quando o tribunal adota
outro fundamento que não aquele defendido pela Art. 1.704. Se um dos cônjuges separados judicial-
parte. Destarte, não há que se falar em violação do mente vier a necessitar de alimentos, será o outro
art. 535, do Código de Processo Civil, pois o tribunal obrigado a prestá-los mediante pensão a ser fixada
de origem dirimiu as questões pertinentes ao litígio, pelo juiz, caso não tenha sido declarado culpado na
afigurando-se dispensável que venha examinar uma ação de separação judicial.
a uma as alegações e fundamentos expendidos
pelas partes. Além disso, basta ao órgão julgador Parágrafo único. Se o cônjuge declarado culpado
que decline as razões jurídicas que embasaram a vier a necessitar de alimentos, e não tiver parentes
decisão, não sendo exigível que se reporte de modo em condições de prestá-los, nem aptidão para o
específico a determinados preceitos legais. trabalho, o outro cônjuge será obrigado a assegurá-
2. O Tribunal de origem erigiu seu entendimento los, fixando o juiz o valor indispensável à sobrevi-
totalmente calcado nas provas dos autos, valendo- vência.
se delas para afastar a existência de união estável,
bem como a ausência de contribuição direta da O que são alimentos transitórios?
agravante, com o objetivo de meação dos bens.
Rever os fundamentos que ensejaram esse en- 3. Características
tendimento exigiria reapreciação do conjunto pro-
batório, o que é vedado em recurso especial. In- 3.1 Personalíssimos (intuito persone)

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E PARENTES, reciprocamente. Essa consiste na
3.1.1 Binômio Capacidade-Necessidade. causa de pedir.

3.1.2 Transmissão da obrigação de prestar ali- 4.1 Alimentos entre cônjuges e companheiros
mentos
Novo casamento, união estável ou concubinato do
Art. 1.700. A obrigação de prestar alimentos trans- credor exonera o alimentante. Idem caso tenho pro-
mite-se aos herdeiros do devedor, na forma do art. cedido de indigno em face do devedor (Art 1708).
1.694.
Art. 1.708. Com o casamento, a união estável ou o
3.2 Irrenunciáveis (art. 1707, CC) concubinato do credor, cessa o dever de prestar
alimentos.
Art. 1.707. Pode o credor não exercer, porém lhe é Parágrafo único. Com relação ao credor ces-
vedado renunciar o direito a alimentos, sendo o sa, também, o direito a alimentos, se tiver
respectivo crédito insuscetível de cessão, compen- procedimento indigno em relação ao devedor.
sação ou penhora.
O namoro faz cessar o direito aos alimentos?
3.3 Irrepetíveis
Há Jurisprudência do STJ no sentido que o namoro
3.4 Imprescritíveis não extingue a pensão alimentícia (RESP 111476
MG).
Mas, apesar da imprescritibilidade na cobrança dos
alimentos, o art. 206, § 2 do CC estabeleceu um DIREITO DE FAMÍLIA. CIVIL. ALIMENTOS. EX-
prazo para executá-los, que é de dois anos. CÔNJUGE. EXONERAÇÃO. NAMORO APÓS A
SEPARAÇÃO
§ 2o Em dois anos, a pretensão para haver presta- CONSENSUAL. DEVER DE FIDELIDADE. PRE-
ções alimentares, a partir da data em que se vence- CEDENTE.
rem. RECURSO PROVIDO.
I - Não autoriza exoneração da obrigação de prestar
3.5 Irretroativos alimentos à ex-mulher o só fato desta namorar ter-
ceiro após a separação.
Significa que os alimentos são futuros, ou seja, ali- II - A separação judicial põe termo ao dever de fide-
mentos são fixados dali para frente - a partir da data lidade recíproca. As relações sexuais eventualmen-
da citação (art. 13, § 2º da lei de alimentos, bem te mantidas com terceiros após a dissolução da
como sumula 277 do STJ). sociedade conjugal, desde que não se comprove
desregramento de conduta, não têm o condão de
§ 2º. Em qualquer caso, os alimentos fixados retro- ensejar a exoneração da obrigação alimentar, dado
agem à data da citação. que não estão os ex-cônjuges impedidos de estabe-
lecer novas relações e buscar, em novos parceiros,
S. 277, STJ - Julgada procedente a investigação de afinidades e sentimentos capazes de possibilitar-
paternidade, os alimentos lhes um futuro convívio afetivo e feliz.
são devidos a partir da citação. III - Em linha de princípio, a exoneração de presta-
ção alimentar, estipulada quando da separação
3.6 Impenhoráveis e Incompensáveis consensual, somente se mostra possível em uma
das seguintes situações: a) convolação de novas
núpcias ou estabelecimento de relação concubinária
4. Sujeitos da Obrigação pelo ex-cônjuge pensionado, não se caracterizando
Art. 1.694. Podem os parentes, os cônjuges ou como tal o simples envolvimento afetivo, mesmo
companheiros pedir uns aos outros os alimentos de abrangendo relações sexuais; b) adoção de com-
que necessitem para viver de modo compatível com portamento indigno;
a sua condição social, inclusive para atender às c) alteração das condições econômicas dos ex-
necessidades de sua educação. cônjuges em relação às existentes ao tempo da
Art. 1.697. Na falta dos ascendentes cabe a obriga- dissolução da sociedade conjugal.
ção aos descendentes, guardada a ordem de su- (RESP 111.476/MG, Rel. MIN. SALVIO DE FI-
cessão e, faltando estes, aos irmãos, assim germa- GUEIREDO TEIXEIRA, QUARTA TURMA, julgado
nos como unilaterais. em 25.03.1999, DJ 10.05.1999 p. 177)

São aqueles que podem demandar e serem de- 4.2 Alimentos entre Parentes
mandados: são os CÔNJUGES, COMPANHEIROS

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Art. 1.698. Se o parente, que deve alimentos em paternidade, o juiz fixará alimentos gravídicos que
primeiro lugar, não estiver em condições de suportar perdurarão até o nascimento da criança, sopesando
totalmente o encargo, serão chamados a concorrer as necessidades da parte autora e as possibilidades
os de grau imediato/; sendo várias as pessoas obri- da parte ré.
gadas a prestar alimentos, todas devem concorrer Parágrafo único. Após o nascimento com vida, os
na proporção dos respectivos recursos, e, intentada alimentos gravídicos ficam convertidos em pensão
ação contra uma delas, poderão as demais ser alimentícia em favor do menor até que uma das
chamadas a integrar a lide. partes solicite a sua revisão.

São devedores de alimentos: Prazo de resposta?

I) Os parentes em linha reta sem limites Art. 7o O réu será citado para apresentar resposta
em 5 (cinco) dias.
II) Os parentes colaterais somente até segundo grau
(que são os irmãos). E as demais questões procedimentais?

Não devem alimentos: Art. 11. Aplicam-se supletivamente nos processos


regulados por esta Lei as disposições das Leis nos
I) Colaterais de terceiro e quarto graus. 5.478, de 25 de julho de 1968, e 5.869, de 11 de
janeiro de 1973 - Código de Processo Civil.
II) Os parentes por afinidade

No que relaciona-se aos alimentos dos filhos, apli-


ca-se a regra binária:

a) Se o filho é menor?

b) Se o filho é maior?
S. 358, STJ - O cancelamento de pensão alimentí-
cia de filho que atingiu a maioridade está sujeito à
decisão judicial, mediante contraditório, ainda que
nos próprios autos.
Cabem Alimentos Gravídicos (Lei 11.804/2008)?

De quem é a legitimidade ativa?

Art. 1o Esta Lei disciplina o direito de alimentos da


mulher gestante e a forma como será exercido.

O que englobam tais alimentos?

Art. 2o Os alimentos de que trata esta Lei com-


preenderão os valores suficientes para cobrir as
despesas adicionais do período de gravidez e que
sejam dela decorrentes, da concepção ao parto,
inclusive as referentes a alimentação especial, as-
sistência médica e psicológica, exames complemen-
tares, internações, parto, medicamentos e demais
prescrições preventivas e terapêuticas indis-
pensáveis, a juízo do médico, além de outras que o
juiz considere pertinentes.
Parágrafo único. Os alimentos de que trata este
artigo referem-se à parte das despesas que deverá
ser custeada pelo futuro pai, considerando-se a
contribuição que também deverá ser dada pela mul-
her grávida, na proporção dos recursos de ambos.

Quando houver o nascimento extingue?

Art. 6o Convencido da existência de indícios da

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Luciano Figueiredo
Sucessões Art. 1.784. Aberta a sucessão, a herança transmite-
Teoria Geral se, desde logo, aos herdeiros legítimos e testamen-
tários.
Material para o Curso de Primeira Fase da OAB.
1
Elaboração: Luciano L. Figueiredo . Art. 1.787. Regula a sucessão e a legitimação para
suceder a lei vigente ao tempo da abertura daquela.
1. Conceitos de Sucessão e Conceitos Importan-
tes 5. Capacidade para Suceder.

- Sucessor x Herdeiro x Legatário Art. 1.861. A incapacidade superveniente do testa-


dor não invalida o testamento, nem o testamento do
2. Sistema Sucessório Nacional. incapaz se valida com a superveniência da capaci-
dade.
Adota-se no Brasil a divisão necessária, baseada no
princípio da proximidade. Art. 1.798. Legitimam-se a suceder as pessoas nas-
cidas (existentes) ou já concebidas no momento da
Art. 1.789. Havendo herdeiros necessários, o testa- abertura da sucessão.
dor só poderá dispor da metade da herança.
Art. 1.799. Na sucessão testamentária podem ainda
Art. 1.845. São herdeiros necessários os descen- ser chamados a suceder:
dentes, os ascendentes e o cônjuge. I - os filhos, ainda não concebidos (prole eventual),
de pessoas indicadas pelo testador, desde que
Art. 1.846. Pertence aos herdeiros necessários, de vivas estas ao abrir-se a sucessão;
pleno direito, a metade dos bens da herança, consti- II - as pessoas jurídicas;
tuindo a legítima. III - as pessoas jurídicas, cuja organização for de-
terminada pelo testador sob a forma de fundação.
Excepciona-se o princípio da proximidade pelo direi-
to de representação. Art. 1.800. No caso do inciso I do artigo anteceden-
te, os bens da herança serão confiados, após a
2.1 Direito de Representação. liquidação ou partilha, a curador nomeado pelo juiz.
§ 1º Salvo disposição testamentária em contrário, a
Art. 1.851. Dá-se o direito de representação, quando curatela caberá à pessoa cujo filho o testador espe-
a lei chama certos parentes do falecido a suceder rava ter por herdeiro, e, sucessivamente, às pesso-
em todos os direitos, em que ele sucederia, se vivo as indicadas no art. 1.775.
fosse. § 2º Os poderes, deveres e responsabilidades do
curador, assim nomeado, regem-se pelas disposi-
Art. 1.852. O direito de representação dá-se na linha ções concernentes à curatela dos incapazes, no que
reta descendente, mas nunca na ascendente. couber.
§ 3º Nascendo com vida o herdeiro esperado, ser-
Art. 1.853. Na linha transversal, somente se dá o lhe-á deferida a sucessão, com os frutos e rendi-
direito de representação em favor dos filhos de ir- mentos relativos à deixa, a partir da morte do testa-
mãos do falecido, quando com irmãos deste concor- dor.
rerem. § 4º Se, decorridos dois anos após a abertura da
sucessão, não for concebido o herdeiro esperado,
4. Momento da Abertura: Droit de Saisine. os bens reservados, salvo disposição em contrário
do testador, caberão aos herdeiros legítimos.

Art. 1.801. Não podem ser nomeados herdeiros


nem legatários:
1 Advogado. Sócio do Luciano Figueiredo Advogados I - a pessoa que, a rogo, escreveu o testamento,
Associados. Graduado em Direito pela Universidade Sal- nem o seu cônjuge ou companheiro, ou os seus
vador (UNIFACS). Especialista (Pós-Graduado) em Direi-
ascendentes e irmãos (pois pode de alguma manei-
to do Estado pela Universidade Federal da Bahia (UFBA).
Mestre em Direito Privado pela Universidade Federal da
ra interferir na vontade do testador);
Bahia (UFBA). Professor de Direito Civil Efetivo da Facul- II - as testemunhas do testamento;
dade Baiana de Direito e do Complexo de Ensino Renato III - o concubino (amante) do testador casado, salvo
Saraiva. Professor Convidado de outros Cursos Jurídicos se este, sem culpa sua, estiver separado de fato do
e Especializações. Palestrante. Autor de Artigos Científi- cônjuge há mais de cinco anos;
cos e Livros Jurídicos. Fanpage: Luciano Lima Figueiredo
(Professor). Instagram: @lucianolimafigueiredo. Twitter:
@civilfigueiredo. Periscope: @lucianofigueiredo.

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IV - o tabelião, civil ou militar, ou o comandante ou Art. 1.962. Além das causas mencionadas no art.
escrivão, perante quem se fizer, assim como o que 1.814, autorizam a deserdação dos descendentes
fizer ou aprovar o testamento. por seus ascendentes:
I - ofensa física;
Art. 1.802. São nulas as disposições testamentárias II - injúria grave;
em favor de pessoas não legitimadas a suceder, III - relações ilícitas com a madrasta ou com o pa-
ainda quando simuladas sob a forma de contrato drasto;
oneroso, ou feitas mediante interposta pessoa. IV - desamparo do ascendente em alienação mental
Parágrafo único. Presumem-se pessoas interpostas ou grave enfermidade.
os ascendentes, os descendentes, os irmãos e o
cônjuge ou companheiro do não legitimado a suce- Art. 1.963. Além das causas enumeradas no art.
der. 1.814, autorizam a deserdação dos ascendentes
pelos descendentes:
6. Indignidade e Deserdação I - ofensa física;
II - injúria grave;
6.1 Indignidade III - relações ilícitas com a mulher ou companheira
do filho ou a do neto, ou com o marido ou compa-
Art. 1.814. São excluídos da sucessão os herdeiros nheiro da filha ou o da neta;
ou legatários: IV - desamparo do filho ou neto com deficiência
I - que houverem sido autores, co-autores ou partí- mental ou grave enfermidade.
cipes de homicídio doloso, ou tentativa deste, contra
a pessoa de cuja sucessão se tratar, seu cônjuge, 7. Renúncia à Herança
companheiro, ascendente ou descendente;
II - que houverem acusado caluniosamente em juízo Art. 1.811. Ninguém pode suceder, representando
o autor da herança ou incorrerem em crime contra a herdeiro renunciante. Se, porém, ele for o único
sua honra, ou de seu cônjuge ou companheiro; legítimo da sua classe, ou se todos os outros da
III - que, por violência ou meios fraudulentos, inibi- mesma classe renunciarem a herança, poderão os
rem ou obstarem o autor da herança de dispor li- filhos vir à sucessão, por direito próprio, e por cabe-
vremente de seus bens por ato de última vontade. ça.

Art. 1.816. São pessoais os efeitos da exclusão; os


descendentes do herdeiro excluído sucedem, como Art. 1.806. A renúncia da herança deve constar ex-
se ele morto fosse antes da abertura da sucessão. pressamente de instrumento público ou termo judi-
Parágrafo único. O excluído da sucessão não terá cial.
direito ao usufruto ou à administração dos bens que
a seus sucessores couberem na herança, nem à Art. 1.813. Quando o herdeiro prejudicar os seus
sucessão eventual desses bens. credores, renunciando à herança, poderão eles,
com autorização do juiz, aceitá-la em nome do
Art. 1.815. A exclusão do herdeiro ou legatário, em renunciante.
qualquer desses casos de indignidade, será decla-
rada por sentença. Sucessão Legítima
Parágrafo único. O direito de demandar a exclusão
do herdeiro ou legatário extingue-se em quatro 1. Introdução e Ordem de Vocação Hereditária
anos, contados da abertura da sucessão.
Como visto inicialmente a sucessão legítima é a
Art. 1.818. Aquele que incorreu em atos que deter- sucessão por lei que, em principio, ocorre quando
minem a exclusão da herança será admitido a su- não fora feito testamento.
ceder, se o ofendido o tiver expressamente reabi-
litado em testamento, ou em outro ato autêntico. Dentro desse contexto, são herdeiros legítimos os
descendentes, ascendentes, o cônjuge e os colate-
Parágrafo único. Não havendo reabilitação expres- rais até o quarto grau.
sa, o indigno, contemplado em testamento do ofen-
dido, quando o testador, ao testar, já conhecia a Qual é a ordem de vocação hereditária?
causa da indignidade, pode suceder no limite da
disposição testamentária. Art. 1.829. A sucessão legítima defere-se na ordem
seguinte:
6.2 Deserdação I - aos descendentes, em concorrência com o côn-
juge sobrevivente, salvo se casado este com o fale-
cido no regime da comunhão universal, ou no da
separação obrigatória de bens (art. 1.640, parágrafo

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único); ou se, no regime da comunhão parcial, o
autor da herança não houver deixado bens particu- 5.Sucessão do Cônjuge
lares;
II - aos ascendentes, em concorrência com o cônju- 5.1 Pressuposto para sucessão do cônjuge
ge;
III - ao cônjuge sobrevivente; CC, Art. 1.830. Somente é reconhecido direito
IV - aos colaterais. sucessório ao cônjuge sobrevivente se, ao tempo
da morte do outro, não estavam separados judi-
Vamos à verificação das hipóteses. cialmente, nem separados de fato há mais de
dois anos, salvo prova, neste caso, de que essa
2. Sucessão dos Descendentes convivência se tornara impossível sem culpa do
sobrevivente.
Norteia-se por duas regras:
5.2 Concorrência sucessória do cônjuge com o
1) Igualdade descendente

2) Proximidade. Inicialmente, como visto, lembremo-nos de que o


cônjuge foi elevado à categoria de herdeiro ne-
Cabeça ou linhas? cessário (art. 1845) pelo vigente Código Civil.

3. Sucessão dos Ascendentes O cônjuge não concorrerá com os descendentes,


se for casado nos seguintes regimes:
Sucessão do ascendente segue as mesmas regras
da sucessão do descendente: a) separação obrigatória (1641);

1) Igualdade b) comunhão universal;

2) Proximidade. c) comunhão parcial, se o falecido não deixou bens


particulares.
Cabeça ou linhas?
Na hipótese de comunhão parcial incide sobre os
4. Consideração para a Sucessão do Cônjuge e bens comuns ou apenas sobre os particulares?
do Companheiro
Quanto ao critério de divisão (montante), será
Cônjuge e companheiro têm: aplicado o art. 1832 do Código:

- meação Art. 1.832. Em concorrência com os descendentes


- direito real de habitação (art. 1.829, inciso I) caberá ao cônjuge quinhão
- herança igual ao dos que sucederem por cabeça, não
podendo a sua quota ser inferior à quarta parte
 Direito real de habitação do cônjuge - está no da herança, se for ascendente dos herdeiros com
art. 1831 CC. que concorrer.

Art. 1.831. Ao cônjuge sobrevivente, qualquer que E se o cônjuge concorrer com descendentes co-
seja o regime de bens, será assegurado, sem preju- muns e não comuns (exclusivos)?
ízo da participação que lhe caiba na herança, o
direito real de habitação relativamente ao imóvel 5.2 Sucessão do cônjuge em concorrência com
destinado à residência da família, desde que seja o o ascendente
único daquela natureza a inventariar.
O cônjuge terá direito concorrencial em face dos
 Direito real de habitação do companheiro ascendentes, qualquer que seja o regime de bens,
na forma do art. 1837:
Não vem disciplinado no CC, mas sim pela Lei
9278/96, no seu art. 7°, parágrafo único. Art. 1.837. Concorrendo com ascendente em primei-
ro grau, ao cônjuge tocará um terço da herança;
Art. 7, p.u. Dissolvida a união estável por morte de caber-lhe-á a metade desta se houver um só as-
um dos conviventes, o sobrevivente terá direito cendente, ou se maior for aquele grau.
real de habitação, enquanto viver ou não constituir
nova união ou casamento, relativamente ao imóvel Se não houver nenhum descendente e nem ne-
destinado à residência da família. nhum ascendente?

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6. Sucessão do Companheiro Art. 1.843. Na falta de irmãos, herdarão os filhos
destes e, não os havendo, os tios.
Art. 1.725. Na união estável, salvo contrato escrito § 1o Se concorrerem à herança somente filhos de
entre os companheiros, aplica-se às relações patri- irmãos falecidos, herdarão por cabeça.
moniais, no que couber, o regime da comunhão § 2o Se concorrem filhos de irmãos bilaterais
parcial de bens. com filhos de irmãos unilaterais, cada um destes
herdará a metade do que herdar cada um daque-
Logo, o companheiro tem direto à meação dos bens les.
adquiridos na constância da união. § 3o Se todos forem filhos de irmãos bilaterais, ou
todos de irmãos unilaterais, herdarão por igual.
E a sucessão? É herdeiro necessário?

O fato é que, o cônjuge possui regramento sucessó-


rio especial no art. 1790 do CC. O companheiro
somente terá direito sucessório sobre os bens
adquiridos a título oneroso na constância da
união estável.

Art. 1.790. A companheira ou o companheiro parti-


cipará da sucessão do outro, quanto aos bens
adquiridos onerosamente (AQUESTOS) na vigên-
cia da união estável, nas condições seguintes:
I - se concorrer com filhos comuns, terá direito a
uma quota equivalente à que por lei for atribuída ao
filho;
II - se concorrer com descendentes só do autor da
herança, tocar-lhe-á a metade do que couber a cada
um daqueles;
III - se concorrer com outros parentes sucessíveis,
terá direito a um terço da herança;
IV - não havendo parentes sucessíveis, terá direito à
totalidade da herança.

7. Sucessão dos Colaterais

Vale lembrar que o direito sucessório na linha trans-


versal somente é contemplado até o quarto grau
de parentesco.

No CC, regem a matéria os artigos:

Art. 1.839. Se não houver cônjuge sobrevivente,


nas condições estabelecidas no art. 1.830, serão
chamados a suceder os colaterais até o quarto
grau.

Art. 1.840. Na classe dos colaterais, os mais pró-


ximos excluem os mais remotos, salvo o direito
de representação concedido aos filhos de irmãos.

Art. 1.841. Concorrendo à herança do falecido


irmãos bilaterais com irmãos unilaterais, cada
um destes herdará metade do que cada um da-
queles herdar.

Art. 1.842. Não concorrendo à herança irmão


bilateral, herdarão, em partes iguais, os unilate-
rais.

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DIREITOS DAS OBRIGAÇÕES pois consistem em obrigações de não fazer do pro-
prietário para respeito a direito de vizinhos.
1. INTRODUÇÃO
2. MODALIDADE DAS OBRIGAÇÕES
O direito das obrigações é o ramo do Direito
Civil que se ocupa em estudar a relação jurídica As modalidades de obrigações decorrem de
que existe entre devedor e credor, onde este pode dois tipos de classificações: básica e especial. Em
exigir daquele o cumprimento de uma prestação, uma classificação básica, a depender da natureza
que pode consistir em um dar, um fazer ou um não da prestação, a obrigação pode ser de três tipos:
fazer. obrigação de dar, obrigação de fazer e obrigação de
não fazer. Em uma classificação especial, o CC
A obrigação tem, portanto, três elementos: trata de mais três tipos de modalidades: obrigação
devedor, credor e vínculo jurídico. O vínculo jurídico alternativa, obrigação divisível ou indivisível e obri-
é a ligação que existe entre o devedor e o credor, gação solidária.
que é composta por dois elementos: débito e res-
ponsabilidade. Significa que há duas questões li- 2.1. Obrigação de dar
gando devedor e credor: a existência de uma dívida
(débito) e a possibilidade de cobrança judicial em A obrigação de dar é aquela em que a pres-
caso de inadimplemento (responsabilidade). tação do devedor consiste na entrega de um bem.
A obrigação de dar pode ser de dois tipos: dar coisa
Tema importante diz respeito à obrigação certa ou dar coisa incerta. Na obrigação de dar coi-
natural. É a obrigação em que o vínculo jurídico é sa certa, o devedor tem a prestação de entregar um
formado apenas pelo débito, não existindo respon- bem específico. Por exemplo, quando alguém vende
sabilidade. Existe uma dívida, mas, se não for cum- o cavalo campeão de sua fazenda. Já a obrigação
prida a prestação, o credor não tem o poder de exi- de dar coisa incerta é aquela em que o devedor
gi-la judicialmente. No entanto, se adimplida espon- assume a obrigação de dar um gênero em certa
taneamente ou até mesmo por engano, não se pode quantidade - por exemplo, quando alguém vende
exigir devolução, pois o débito existe (art. 882 do três cavalos de sua fazenda.
CC). É o que chamamos de soluti retentio (retenção
de pagamento). Exemplo de obrigação natural: dívi- 2.1.1. Obrigação de dar coisa certa
da de jogo ou aposta.
É a obrigação de dar um bem específico,
A obrigação propter rem (em razão da não servindo outro de mesma espécie, como quan-
coisa), como o nome sinaliza, é direito obrigacional do uma pessoa vende o cavalo campeão de sua
(confrontando devedor e credor) e não direito real. fazenda. Na verdade, há dois tipos de obrigação de
Todavia, tem uma especificidade: é a obrigação que dar coisa certa: dar e restituir. A razão é que quando
surge em razão da aquisição de um direito real. Ao tenho a obrigação de devolver um bem que recebi,
se adquirir um direito real, seu titular adquire algu- não posso impor a entrega de outro de mesma es-
mas obrigações de devedor perante credor. Exem- pécie. Portanto, tenho obrigação de dar coisa certa
plos: obrigação de pagar condomínio quando se tanto quando tenho que entregar um cavalo que
adquire o direito de propriedade de um apartamento vendi quanto quando tenho que devolver um cavalo
ou o dever que o proprietário tem de indenizar o que me foi emprestado.
possuidor que realiza benfeitorias em seu imóvel,
nos termos destacados em direitos reais. O tema vem previsto entre os arts. 233 e
242 do CC, onde um único tema é tratado: perda
Como a obrigação propter rem surge por ou deterioração do bem depois que assumo a obri-
força da titularidade de um direito real, acompanha gação de dar, mas antes da efetiva entrega. Como é
o bem se houver transferência dele, ou seja, o novo obrigação de dar coisa certa, não sendo possível a
titular do direito real a assume. Exemplo: quem entrega de outro bem equivalente, qual é a conse-
compra um apartamento assume as obrigações de quência? Quem suporta o prejuízo? É isso que a
pagar condomínio, até mesmo aquelas que estejam prova exigirá de você saber e as possibilidades são
em atraso. muitas, pois pode ser com culpa ou sem culpa do
devedor, pode ser um dar ou um restituir, pode ser
Cuidado: a obrigação propter rem não se perda ou deterioração ou até mesmo uma melhora
consubstancia apenas no pagamento de valor pe- no bem.
cuniário. Deve ser uma obrigação devedor/credor,
mas esta pode ser consubstanciada em um dar Questão recorrente em certames, apresento
(dinheiro ou qualquer bem), um fazer ou um não um macete para que você, caro leitor, conheça to-
fazer. Assim sendo, o respeito às limitações dos dos os casos previstos nos citados artigos. Basta
direitos de vizinhança são obrigações propter rem,

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conhecer uma regra básica, à qual somamos duas se acha acrescido de perdas e danos, incluindo o
regras acessórias lógicas: abatimento do valor em razão da deterioração.

REGRA BÁSICA: Se o devedor teve culpa d) Prestação de dar, deterioração do bem, sem
na perda do bem, a regra sempre será a mesma: culpa do devedor (art. 235): Devedor de um carro
deverá pagar ao credor o equivalente acrescido de por tê-lo vendido ao credor, mas antes da entrega o
perdas e danos. Se o devedor não teve culpa na carro é amassado por bater em um poste ao ser
perda do bem, a regra será sempre a mesma: res levado pela correnteza da inundação provocada por
perit domino (a coisa perece para o dono), será dele violenta tempestade. Consequência: credor poderá
o prejuízo. E quem é o dono? Depende se a obriga- optar em resolver a obrigação (desfazer o negócio)
ção é de dar ou de restituir. Na obrigação de dar, ou aceitar o carro amassado, abatendo do seu pre-
antes da entrega o dono é o devedor, pois a aquisi- ço o valor perdido pela deterioração. Note que é o
ção da propriedade só se dá com a entrega do bem. dono (devedor do carro) que sofre a perda, pois
Na obrigação de restituir, o dono é o credor, pois ele ficou sem dinheiro e com o carro amassado ou sem
sempre foi o dono, uma vez só ter emprestado para o carro pagando pela deterioração.
o devedor.
e) Prestação de dar, melhora do bem (art. 237):
REGRA ACESSÓRIA 1: Se ao invés de Devedor de uma fazenda por tê-la vendido ao cre-
perda, houver apenas deterioração do bem, a solu- dor, mas antes da entrega o bem se valoriza em
ção é a mesma, mas com uma diferença: ele poderá razão do acréscimo de terra trazido pela correnteza
optar entre a solução da perda supramencionada ou das águas (fenômeno chamado de avulsão). O ven-
receber o bem deteriorado, abatendo-se o valor da dedor poderá pedir aumento de preço, pois é o dono
deterioração. e ele se beneficia com a vantagem. Se o comprador
não aceitar pagar o acréscimo, poderá o vendedor
REGRA ACESSÓRIA 2: Se a coisa perece resolver a obrigação, ou seja, desfazer a venda. E
para o dono, a coisa também melhora para o dono, se, ao invés de melhoramento ou acrescido, o bem
ou seja, se, ao invés da perda ou deterioração, hou- deu frutos? Os frutos percebidos ou colhidos antes
ver uma melhora no bem antes da entrega, quem da tradição são do devedor, pois ele ainda é dono
dela se beneficiará será o dono. do bem, mas se pendente quando da tradição, será
do credor, pois o bem acessório segue a sorte do
Vamos analisar, com base no macete apre- bem principal. Assim, se o devedor vende uma ca-
sentado, as regras dos arts. 234 a 242 do CC. Qual dela para entregar tempo depois e antes da entrega
a consequência da perda, deterioração ou melhora fica prenha, se na época da entrega o filhote já nas-
do bem antes da tradição, no caso da prestação de ceu será do vendedor, mas se estiver na barriga da
dar e no caso da prestação de restituir? cadela na época da entrega, será do comprador.

a) Prestação de dar, perda do bem, com culpa do f) Prestação de restituir, perda do bem, com cul-
devedor (art. 234): Devedor de um carro por tê-lo pa do devedor (art. 239): Devedor de um carro por
vendido ao credor, mas antes da entrega o destrói tê-lo recebido emprestado do credor, mas antes da
porque provoca um acidente com perda total do entrega o destrói porque provoca um acidente de
carro por dirigir embriagado. Será devedor no equi- perda total do carro por dirigir embriagado. Será
valente (devolve o valor recebido ou não o recebe) devedor no equivalente (indeniza o valor do carro)
acrescido de perdas e danos. acrescido de perdas e danos.

b) Prestação de dar, perda do bem, sem culpa do g) Prestação de restituir, perda do bem, sem
devedor (art. 234): Devedor de um carro por tê-lo culpa do devedor (art. 238): Devedor de um carro
vendido ao credor, mas antes da entrega o carro cai por tê-lo em empréstimo do credor, mas antes da
em uma ribanceira por ser levado pela correnteza entrega o carro cai em ribanceira levado pela cor-
da inundação provocada por violenta tempestade. renteza da inundação provocada por tempestade. O
Consequência: resolve-se a obrigação, o que signi- dono é o credor e ele sofre a perda, ou seja, o de-
fica desfazer o negócio. Veja que o dono (devedor vedor não terá que indenizá-lo da perda do carro.
do carro) sofreu a perda, pois ficou sem o carro e
sem o dinheiro. h) Prestação de restituir, deterioração do bem,
com culpa do devedor (art. 240): Devedor de um
c) Prestação de dar, deterioração do bem, com carro por tê-lo recebido emprestado do credor, mas
culpa do devedor (art. 236): Devedor de um carro antes da entrega o amassa ao bater por dirigir em-
por tê-lo vendido ao credor, mas antes da entrega o briagado. O credor poderá escolher entre receber o
amassa ao bater por dirigir embriagado. O credor equivalente mais perdas e danos ou aceitar o bem
poderá escolher entre receber o equivalente mais no estado em que se acha acrescido de perdas e
perdas e danos ou aceitar o bem no estado em que

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danos, incluindo o abatimento do valor em razão da líssima quando não só o devedor, mas outra pessoa
deterioração. também puder cumprir a prestação, como a contra-
tação de um pintor para pintura das paredes de uma
i) Prestação de restituir, deterioração do bem, casa.
sem culpa do devedor (art. 240): Devedor de um
carro por tê-lo recebido emprestado do credor, mas Por que diferenciar? Se for obrigação per-
antes da entrega o carro é amassado por bater em sonalíssima e o devedor se recusa a cumpri-la ou
um poste ao ser levado pela correnteza da inunda- por sua culpa se tornou impossível, responde por
ção provocada por violenta tempestade. O dono é o perdas e danos. Se for obrigação não personalíssi-
credor, que sofrerá a perda, pois a lei diz que ele ma, poderá o credor optar em reclamar indenização
receberá o bem deteriorado sem direito de indeni- por perdas e danos ou mandar executar às custas
zação. do devedor. Como isso é feito? Ajuizamento de
ação com orçamento do serviço, pedindo condena-
j) Prestação de restituir, melhora do bem (art. ção do devedor do fazer a pagar. Todavia, se for
241 e 242): Devedor de uma fazenda por tê-la rece- urgente, poderá o credor mandar executar o fato
bida emprestada do credor, mas antes da entrega o independente de prévia autorização judicial, bus-
bem se valoriza em razão do acréscimo de terra cando em juízo depois o ressarcimento do que foi
trazido pela correnteza das águas (fenômeno cha- gasto.
mado de avulsão). Por evidente, será do credor o
ganho, pois ele é o dono do bem, recebendo-o de As obrigações de fazer podem ser classifi-
volta valorizado, desobrigado de indenizar. Se para cadas em obrigação de meio e de resultado ou de
o melhoramento ou acréscimo houve trabalho do fim. Nas obrigações de resultado, o devedor se vin-
devedor, é benfeitoria, razão pela qual o art. 242 do cula a atingir determinado resultado, sob pena de
CC determina aplicar as regras do direito de indeni- inadimplemento e, consequentemente, dever de
zação que o possuidor de boa-fé e de má-fé tem em indenizar perdas e danos. Já na obrigação de meio,
razão das benfeitorias que faz no bem. o devedor não se vincula a atingir determinado re-
sultado, mas sim a corresponder no meio para atin-
2.1.2. Obrigação de dar coisa incerta gi-lo, ou seja, a empregar a diligência na busca do
resultado. Não responde se o resultado não for atin-
É a obrigação de dar um gênero em certa gido, apenas se não empregou a diligência neces-
quantidade, como na venda de três cavalos de uma sária. Um advogado ou um médico tem obrigação
fazenda. Em dado momento, os bens a serem en- de meio, enquanto que, segundo a jurisprudência do
tregues deverão ser escolhidos, o que chamamos STJ, o cirurgião plástico, embora seja um médico,
de concentração da prestação. A quem cabe a es- tem obrigação de resultado, quando se tratar de
colha? A quem definido no contrato. Se nada for intervenção meramente estética ou embelezadora.
dito, a escolha caberá ao devedor, que não poderá
escolher o pior nem ser obrigado a escolher o me- 2.3. Obrigação de não fazer
lhor.
A obrigação de não fazer é uma obrigação a
Feita a escolha, a obrigação de dar coisa uma abstenção, por exemplo, não levantar um mu-
incerta se transforma em obrigação de dar coisa ro divisório. Se o devedor descumprir a obrigação,
certa, aplicando-se as regras que lhe são próprias. fazendo o que se obrigou a não fazer, deverá inde-
No entanto, se antes da escolha o bem se perder ou nizar o credor em perdas e danos? Nem sempre,
se deteriorar, mesmo que por caso fortuito ou moti- pois às vezes se tornou impossível, sem culpa do
vo de força maior, o devedor não se exime de cum- devedor, abster-se do ato. Nesse caso, apenas se
prir a prestação, pois o gênero não perece, podendo resolve a obrigação (volta ao estado anterior do
o bem ser substituído por outro da mesma espécie negócio), não tendo que indenizar perdas e danos.
para ser entregue ao credor. Exemplo: a pessoa se viu obrigada a levantar o
muro para impedir que a água invadisse sua casa.
2.2. Obrigação de fazer Se, porém, simplesmente decidiu fazer o que se
obrigara a não fazer, será condenado a indenizar
A obrigação de fazer é aquela em que a perdas e danos e, se o fizer, consistir em uma obra,
prestação do devedor consiste na realização de poderá o credor pedir judicialmente para desfazê-la.
uma atividade, como na contratação da prestação Se for urgente, poderá mandar desfazer indepen-
de um serviço. A obrigação de fazer pode ser de dente de autorização judicial, buscando em juízo o
dois tipos: personalíssima (infungível) ou não per- ressarcimento.
sonalíssima (fungível). Será personalíssima quando
só o devedor puder cumprir a prestação, como na 2.4. Obrigações alternativas
contratação de um pintor famoso para pintura do
retrato do credor em um quadro. Será não persona-

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A obrigação alternativa é aquela que com- cada um, presume-se dividida em partes iguais).
preende duas ou mais prestações, mas se extingue Entretanto, sendo obrigação indivisível, como cada
com a realização de apenas uma delas. Exemplo: um cobrará ou será cobrado em sua parte, já que o
obrigação de dar um carro ou uma moto. A quem objeto não pode ser dividido?
cabe a escolha de que prestação cumprir? Em regra
ao devedor, pois a obrigação se extingue com ele Havendo mais de um devedor em obrigação
cumprindo uma ou outra prestação. Todavia, o con- indivisível, cada um responde por toda a dívida,
trato pode prever que a escolha cabe ao credor. É o pois não há como fracionar a cobrança. Agora,
que diz o art. 252 do CC, que completa: não pode o aquele que pagar a dívida, sub-roga-se nos direitos
devedor obrigar o credor a receber parte em uma do credor perante os demais coobrigados (art. 259
prestação e parte em outra. do CC). Exemplo: se duas pessoas devem um cava-
lo, qualquer um deles pode ser cobrado, mas quem
Importante: o que ocorre quando uma ou pagar poderá cobrar do outro, em dinheiro, metade
todas as prestações não puderem ser cumpridas? do valor do animal.
A resposta irá variar se a escolha cabia ao devedor
ou ao credor. Havendo mais de um credor em obrigação
indivisível, qualquer um deles poderá cobrar a dívi-
a) Impossibilidade de uma das prestações: Se a da por inteiro, tornando-se devedor perante os de-
escolha couber ao devedor, subsiste a obrigação mais credores nas suas respectivas partes em di-
com a outra prestação (art. 253 do CC). Mesma nheiro (art. 261 do CC).
solução, se a escolha couber ao credor e a impossi-
bilidade se deu sem culpa do devedor. Todavia, se 2.6. Obrigações solidárias
por culpa dele, o credor poderá exigir a prestação
subsistente ou o valor em dinheiro da prestação Na pluralidade de credores ou devedores
impossibilitada, acrescido de perdas e danos (art. em obrigação indivisível, todos são obrigados ou
255 do CC). Exemplo: devedor de um carro ou uma têm direito a toda dívida por ser fisicamente impos-
moto destrói a moto ao dirigir embriagado. Conse- sível dividir o objeto da prestação. Todavia, é possí-
quência: se a escolha cabe ao devedor, obrigação vel haver obrigação divisível em que todos são obri-
simples de dar o carro; se cabe ao credor, pode gados ou têm direito a toda a dívida por determina-
cobrar o carro ou o valor em dinheiro da moto mais ção da lei ou da vontade das partes: é a obrigação
perdas e danos. Se a moto foi destruída acidental- solidária.
mente, mesmo cabendo a escolha ao credor, obri-
gação simples de dar o carro. Imagine dois amigos devendo vinte mil reais
a um credor. Em tese, cada um deve dez mil reais,
b) Impossibilidade de ambas as prestações: Se a mas, se for obrigação solidária, o credor pode co-
escolha couber ao devedor e este tiver culpa, ficará brar toda a dívida de qualquer deles (quem paga se
obrigado a pagar o valor da prestação que se im- sub-roga nos direitos do credor perante os demais
possibilitou por último, acrescido de perdas e danos devedores). Por outro lado, se um devedor deve
(art. 254 do CC). Se a escolha couber ao credor e o vinte mil reais a dois amigos, em tese, deve dez mil
devedor culpado, poderá reclamar o valor de qual- reais para cada um deles, mas, se for obrigação
quer uma delas acrescido de perdas e danos (art. solidária, qualquer dos credores pode cobrar toda a
255 do CC, in fine). No entanto, se ambas as pres- dívida (quem recebe se torna devedor perante os
tações tornaram-se impossível sem culpa do deve- demais credores).
dor, independe de quem cabe a escolha: extinta
estará a obrigação, ou seja, desfeito o negócio jurí- Portanto, haverá solidariedade quando hou-
dico (art. 256 do CC). ver mais de um devedor ou mais de um credor
obrigados ou com direito à totalidade da dívida. A
2.5. Obrigações divisíveis e indivisíveis solidariedade não se presume, resultando apenas
da lei ou da vontade das partes. A solidariedade
Obrigação divisível é aquela em que pode pode ser ativa ou passiva, a depender se a plurali-
ser fracionado o objeto da prestação, o que não é dade está no pólo ativo ou passivo da obrigação.
possível na obrigação indivisível. Como exemplo, a
obrigação de dar dinheiro é obrigação divisível e a 2.6.1. Solidariedade ativa
obrigação de dar um cavalo é obrigação indivisível.
É a obrigação em que há mais de um cre-
Só há importância em determinar o tipo de dor, cada um deles com direito a toda a dívida. No
obrigação quando houver pluralidade de devedores vencimento, qualquer credor pode se antecipar e
e/ou credores. Sendo obrigação divisível, não há cobrar toda a dívida ou, enquanto nenhum deles a
problema, pois cada um cobra ou é cobrado em sua cobrar, o devedor se libera pagando a qualquer
parte (se não for determinada a parte que cabe a deles. Quem receber, responde perante os demais

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credores, tornando-se devedor nas partes que lhes Se um dos devedores solidários falecer, a
cabe. solidariedade é transferida aos seus herdeiros?
Não, pois, como visto, a solidariedade é personalís-
O mesmo ocorre se um dos credores remitir sima. Significa que os herdeiros só podem ser co-
(perdoar) a dívida. Devedor deve trinta mil reais a brados na quota que corresponde ao seu quinhão
três credores solidários e um deles perdoa toda a hereditário. Todavia, há duas exceções: se a obri-
dívida. Este se tornará devedor de dez mil reais a gação for indivisível (ex: devedores solidários de-
cada um dos demais credores, como se ele tivesse vem um cavalo) ou se os herdeiros forem cobrados
se antecipado e cobrado o devedor (art. 272 do juntos através do espólio, pois o direito das suces-
CC). Cuidado: é diferente quando credor solidário sões preceitua que o espólio se sub-roga nos deve-
perdoa sua parte. Nesse caso, subsiste a solidarie- res do de cujos.
dade para os demais credores depois de sua parte
ser descontada. No exemplo citado, o devedor con- Atenção: a lei dá tratamento diferente
tinua a dever vinte mil reais a dois credores solidá- quanto à manutenção da solidariedade no que se
rios. refere ao pagamento de perdas e danos e de juros
que podem ser irradiados da obrigação, pois nas
A solidariedade é personalíssima, ou seja, perdas e danos não subsiste a solidariedade. Mas
se um dos credores falecer e deixar herdeiros, es- nos juros, sim.
tes não se tornarão credores solidários. Significa
que cada um de seus herdeiros só poderá exigir e Se devedores solidários têm obrigação de
receber a quota que corresponder ao seu quinhão dar um carro e, por culpa de um deles, este é des-
hereditário. Imagine um devedor devendo trinta mil truído, a obrigação se converte no pagamento do
reais a três credores solidários, sendo que um deles valor equivalente acrescido de perdas e danos. No
morre deixando dois filhos. Os filhos não poderão valor equivalente, todos continuam devedores soli-
cobrar os trinta mil, pois não se tornam credores dários, mas pelas perdas e danos só responde o
solidários. Cada um só poderá cobrar a parte que culpado (art. 279 do CC). Todavia, se um dos deve-
lhe cabe na herança, ou seja, cada um só pode dores solidários dá causa a acréscimo de juros ao
cobrar cinco mil reais. valor devido, todos respondem solidariamente pelo
valor dos juros, pois o pagamento de juros é uma
Todavia, em dois casos, os herdeiros pode- obrigação acessória e o acessório segue a sorte do
rão cobrar a dívida toda: se a obrigação for indivisí- principal (art. 280 do CC).
vel (exemplo: o devedor deve um cavalo aos três
credores solidários) ou, segundo jurisprudência do Importante (art. 285 do CC): Conforme vi-
STJ, se os herdeiros cobrarem juntos através do mos, o devedor solidário que paga a dívida pode
espólio, pois no direito das sucessões aprendemos cobrar dos demais devedores a parte que lhes cabe
que o espólio se sub-roga nos direitos do de cujos. (se nada for dito, presume-se dividida em partes
iguais). Todavia, se a dívida solidária interessar
Nos termos do art. 271 do CC, convertendo-se a exclusivamente a um dos devedores solidários,
prestação em perdas e danos, nelas subsistem a responderá este por toda a dívida quando da ação
solidariedade. Imagine um devedor de um carro a regressiva aos demais credores. O exemplo típico é
três credores solidários, mas o destrói ao dirigir o contrato de fiança. Quando há renúncia ao benefí-
embriagado. Trata-se de obrigação de dar coisa cio de ordem, devedor principal e fiador são devedo-
certa com perda do bem por culpa do devedor. Con- res solidários. Se o fiador for cobrado, poderá co-
forme visto, torna-se devedor no equivalente acres- brar em regresso do devedor principal não só a
cido em perdas e danos, no que permanecerá ha- metade da dívida, mas sim sua totalidade, pois é
vendo a solidariedade. uma dívida contraída no seu exclusivo interesse. Da
mesma forma, sendo caso de mais de um fiador e
2.6.2. Solidariedade passiva um deles sendo cobrado pela dívida, só terá ação
regressiva contra o devedor principal na totalidade
É a obrigação em que há mais de um deve- da dívida, não tendo ação contra os demais co-
dor, cada um deles obrigados a toda a dívida. Sig- fiadores.
nifica que o credor tem direito de exigir de qualquer
deles o valor total da dívida, mas quem pagar se 3. TRANSMISSÃO DAS OBRIGAÇÕES
tornará credor dos demais devedores nas suas res-
pectivas partes (internamente não há solidariedade). Haverá transmissão da obrigação quando
Se o credor optar cobrar apenas parcialmente de houver uma substituição subjetiva em seus polos,
um dos devedores solidários, os demais continuam ou seja, uma troca de devedor ou de credor. São
obrigados solidariamente pelo resto. dois os tipos de transmissão das obrigações: ces-
são de crédito e assunção de dívida. Na cessão de
crédito há uma substituição no polo ativo, ou seja,

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há uma troca de credores, pois o credor cede a um contra o cessionário alegando o vício redibitório,
terceiro o seu crédito. Na assunção de dívida há mesmo sendo uma defesa pessoal contra o ceden-
uma substituição no polo passivo, ou seja, uma te.
troca de devedores, pois um terceiro assume a obri-
gação do devedor. 3.2. Assunção de dívida

3.1. Cessão de crédito A assunção de dívida se caracteriza pela


substituição no polo passivo da obrigação, havendo
A cessão de crédito se caracteriza pela uma troca de devedores. A lei permite que terceiro
substituição no polo ativo da obrigação, havendo assuma a dívida do devedor, mas exige a concor-
uma troca de credores em razão da alienação, gra- dância expressa do credor. No entanto, independe
tuita ou onerosa, de um crédito a um terceiro, que de consentimento do devedor, podendo a assunção
se tornará o novo credor da obrigação. A lei permite de dívida ser por delegação (com consentimento do
a cessão do crédito quando a isso não se opuser a devedor) ou por expromissão (sem consentimento
natureza da obrigação, a lei ou o acordo das partes. do devedor).
Quem cede o crédito é chamado de cedente e quem
o recebe é chamado de cessionário. O terceiro que assume a obrigação é cha-
mado de assuntor. Quando ele assume a obriga-
A cessão do crédito independe da concor- ção, o devedor primitivo está exonerado, pois dei-
dância do devedor. A lei exige apenas a notificação xou de ser o devedor. Todavia, há um caso em que
da cessão, para que ele não pague à pessoa erra- o devedor primitivo não estará exonerado, podendo
da. Caso o devedor não seja notificado e pague de ser cobrado pelo credor: se a cessão foi feita a
boa-fé ao antigo credor, ele estará desobrigado, só quem insolvente e o credor a aceitou por não saber
restando ao verdadeiro credor cobrar do cedente, do fato.
que indevidamente recebeu o pagamento.
Com a assunção de dívida, salvo consenti-
Em regra, o cedente não responde pela sol- mento expresso do devedor primitivo, estarão extin-
vência do devedor, ou seja, caso o cessionário não tas as garantias dadas por ele, afinal ele não é mais
consiga receber o crédito em razão da insolvência o devedor. Se a substituição vier a ser anulada,
do devedor, não poderá cobrar a dívida do cedente. restaura-se o débito do devedor primitivo, com todas
No entanto, ele responderá se vier expresso no as garantias que existiam. Exceção: não retornarão
contrato. Quando o cedente não responde pela sol- as garantias dadas por terceiros, por exemplo, hipo-
vência do devedor, a cessão é chamada de cessão teca de um bem de terceiro. Exceção da exceção: a
de crédito pro soluto; quando o cedente responde garantia dada por terceiro poderá retornar, caso ele
pela solvência do devedor, é chamada de cessão de soubesse da causa que gerou anulação da substi-
crédito pro solvendo. tuição.

Embora o cedente, em regra, não responda O assuntor, como novo devedor, poderá
pela solvência do devedor, ele responde pela exis- alegar que tipo de defesa ao ser cobrado pelo cre-
tência do crédito, ou seja, se ceder um crédito que dor? Com efeito, a defesa pode ser de dois tipos:
não existe, aí sim poderá ser cobrado pelo cessio- comum ou pessoal. Será comum quando for defesa
nário. O cedente responderá pela existência do de qualquer pessoa que venha a ser cobrado pelo
crédito tendo o cedido gratuita ou onerosamente. Se credor (ex. prescrição da dívida). Por outro lado,
ceder de forma onerosa, responderá tendo agido de será defesa pessoal quando for exclusiva de uma
má-fé ou até mesmo de boa-fé, pois recebeu pela pessoa (ex. compensação de dívida). O assuntor,
cessão, devolvendo o valor auferido. No entanto, ao ser cobrado, poderá se valer das defesas co-
na cessão gratuita, como nada recebeu em troca, só muns ou das suas pessoais, não podendo se valer
responderá se tiver procedido de má-fé, ou seja, se das defesas pessoais que cabiam ao devedor primi-
sabia da inexistência do credito que cedeu. tivo (art. 302 do CC).

Por fim, na cessão de crédito vigora o prin- 4. ADIMPLEMENTO E EXTINÇÃO DAS OBRIGA-
cípio da oponibilidade das exceções pessoais con- ÇÕES
tra terceiros. O que significa isso? Quando o cessi-
onário cobrar a dívida do devedor, este poderá se O meio normal de extinção da obrigação é o
defender alegando as defesas pessoais que cabiam devedor cumprir a prestação, o que chamamos de
contra o cedente (art. 294 do CC). Exemplo: o de- pagamento. Note que o sentido técnico de paga-
vedor comprou um carro usado do credor, mas não mento difere do seu sentido leigo, pois pagamento é
vai pagar porque apresentou vício redibitório. Só coloquialmente usado no sentido de dar dinheiro.
que o credor cedeu o crédito a um terceiro, que é Pagamento em sentido técnico é cumprir a presta-
quem cobra a dívida. O devedor poderá se defender

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ção, seja um dar (dinheiro ou qualquer outro bem), to, em dois casos, o pagamento feito a um terceiro
um fazer ou até um não fazer. libera o devedor: se o credor confirmar o pagamento
ou tanto quanto provar ter se revertido ao credor.
No entanto, a obrigação pode ser extinta por
meios anormais, havendo extinção da obrigação de Há um caso em que o pagamento é feito a
uma forma alternativa, de uma forma diferente do um terceiro e o devedor está liberado, mesmo que
que o cumprimento da prestação. São as formas o credor não confirme nem se prove a reversão em
anormais de extinção da obrigação: pagamento em seu benefício. É o caso do pagamento feito ao cha-
consignação, pagamento com sub-rogação, imputa- mado credor putativo. Putativo vem de putare, que
ção de pagamento, dação em pagamento, novação, significa crer, acreditar. Haverá credor putativo
compensação, confusão e remissão. quando se paga de boa-fé a quem não é o credor,
ou seja, se pagou à pessoa errada, mas havia moti-
4.1. Pagamento vos para acreditar ser ele o credor. Um exemplo já
foi visto quando da abordagem do tema cessão de
Pagamento é o meio normal de extinção da crédito. Vimos que o devedor não precisa concor-
obrigação, ou seja, o cumprimento da prestação dar, mas deve ser notificado da cessão de crédito
(dar, fazer ou não fazer). O CC inicia o tema abor- para saber que o credor mudou. Vimos que se não
dando quem deve pagar (chamado de solvens) e a for notificado e de boa-fé pagar ao cedente, ele está
quem se deve pagar (chamado de accipiens). exonerado e a razão é simples: pagou a credor pu-
tativo.
O CC trata de quem deve pagar, mas, na
verdade, o que se estabelece são regras sobre No que se refere ao objeto do pagamento,
quem pode pagar. A obrigação pode ser paga por este será o cumprimento da prestação. O credor
qualquer pessoa que tenha algum tipo de interesse, não é obrigado a aceitar prestação diversa da que
ou seja, pelo devedor ou por um terceiro. A lei, no lhe é devida, ainda que mais valiosa, afirma o art.
entanto, estabelece consequências diferentes para 313 do CC. Ainda que a obrigação seja divisível,
o pagamento sendo feito pelo devedor, por terceiro como dever dinheiro, não pode o credor ser obriga-
interessado ou por terceiro não interessado. Quan- do a receber nem o devedor ser obrigado a pagar
do se fala em terceiro interessado ou não interessa- por partes, se assim não se ajustou.
do, fala-se em interesse jurídico, pois, se o terceiro
paga, algum tipo de interesse ele tem. O terceiro Quem paga tem direito de receber uma pro-
será interessado quando puder ser cobrado pela va de que pagou. É o que chamamos de quitação.
dívida. Assim, um fiador que paga a dívida do afian- O instrumento da quitação é o recibo, que sempre
çado é um terceiro interessado, mas o pai que paga pode ser por instrumento particular. Se o credor se
a dívida de um filho maior de idade, embora tenha recusar a dar quitação, o devedor pode legitima-
um interesse sentimental, é considerado um terceiro mente reter o pagamento enquanto não lhe for da-
não interessado. da.

Se o devedor efetuar o pagamento, extinta Assim sendo, em regra, quem prova o pa-
estará a obrigação e ele estará exonerado. Se um gamento é o devedor, apresentando o recibo rece-
terceiro pagar, também estará extinta, mas ele po- bido como instrumento da quitação. No entanto, em
derá reaver o valor pago, embora de forma diferente três casos haverá presunção de pagamento, dis-
a depender de quem pagou: se terceiro interessado, pensando o devedor de provar que pagou. Ocorre
sub-roga-se nos direitos do credor; se terceiro não que é uma presunção relativa, ou seja, aquela que
interessado, apenas tem direito de reembolso, não admite prova em contrário. Desta forma, sendo um
se sub-rogando nos direitos do credor. Em ambos dos casos de presunção de pagamento, não se fixa
os casos, o terceiro cobra do devedor o que pagou uma verdade absoluta de que existiu pagamento,
por ele, mas diferem porque, ao se sub-rogar nos mas sim uma inversão do ônus da prova, pois o
direitos do credor, terá as garantias especiais dadas devedor não precisa provar que pagou, mas o cre-
a ele, o que não ocorre no mero direito de reembol- dor pode provar que o devedor não pagou.
so. Detalhe: isso ocorrerá se o terceiro pagar em
seu nome, pois se pagar em nome do devedor, é São os três casos de presunção de pagamento:
considerado uma mera ajuda, não tendo direito de
reaver o que pagou. a) Art. 322 do CC: quando o pagamento for em
quotas periódicas, a quitação da última estabelece,
A quem se deve pagar? O pagamento deve até em prova em contrário, a presunção de estarem
ser feito ao credor ou a quem de direito o represen- solvidas as anteriores;
te. Se o pagamento foi feito à pessoa errada, pa-
gou-se mal e quem paga mal, paga duas vezes,
pois o verdadeiro credor poderá cobrá-lo. No entan-

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b) Art. 323 do CC: sendo a quitação do capital sem processo tem procedimento especial previsto no
fazer reserva que os juros não foram pagos, estes CPC.
se presumem pagos; e
4.3. Pagamento com sub-rogação
c) Art. 324 do CC: a entrega do título firma presun-
ção do pagamento, presunção que pode ser elidida Pagamento com sub-rogação é a operação
no prazo de sessenta dias. pela qual o crédito se transfere com todos os seus
acessórios a um terceiro que paga dívida alheia.
Para se efetuar o pagamento, importa saber Sub-rogar é substituir, o que significa que haverá
o lugar do cumprimento da obrigação. É nesse aqui uma substituição de credor, extinguindo a obri-
lugar que se devem reunir credor e devedor na data gação com relação ao credor originário. A ideia é: A
marcada, não podendo o devedor oferecer nem o deve a B e um terceiro C paga essa dívida e agora
credor exigir o cumprimento em lugar diverso. A deve a C, pois este se sub-rogou nos direitos de
B.
No direito comparado, há dois tipos de obri-
gação: quérable ou portable. A obrigação quérable Como é uma simples substituição no polo
(chamada no Brasil de quesível) é aquela que deve ativo, o vínculo se mantém e o novo credor tem
ser cumprida no domicílio do devedor e obrigação todos os privilégios e garantias que tinha o credor
portable (chamada no Brasil de portável) é aquela originário (art. 349 do CC). No entanto, é possível
que deve ser cumprida no domicílio do credor. No que um terceiro pague dívida alheia e não se sub-
Brasil, conforme previsão do art. 327 do CC, em rogue nos direitos do credor, caso em que terá mero
regra as obrigações devem ser cumpridas no domi- direito de reembolso contra o devedor, por não ser
cílio do devedor, ou seja, são quesíveis ou quérable. um dos casos de pagamento com sub-rogação. A
Poderá ser portável ou até em outro local a depen- diferença é que poderá cobrar dele o que pagou,
der da vontade das partes, da lei, da natureza da mas sem ter os privilégios e garantias do credor
obrigação ou das circunstâncias. Como exemplo, o originário, pois surge um novo vínculo, uma nova
art. 328 do CC determina que se o pagamento con- obrigação (de reembolso), extinguindo a obrigação
sistir na entrega de um imóvel ou de prestações primitiva.
relativas a ele deverá ser cumprido onde situado o
bem. A sub-rogação pode ser de dois tipos: legal
ou convencional, a depender se decorre de lei ou
4.2. Pagamento em consignação da vontade das partes. O CC prevê, em art. 346, os
casos em que a sub-rogação se opera de pleno
Consignação de pagamento significa o de- direito, ou seja, se um terceiro paga a dívida, ele se
pósito judicial ou em estabelecimento bancário da sub-roga automaticamente nos direitos do credor
coisa devida, o que a lei equipara a pagamento, primitivo, independente da vontade das partes. Se a
extinguindo a obrigação. O devedor tem não só o lei não prevê como caso de sub-rogação, teria o
dever de pagar, mas também o direito de fazê-lo terceiro mero direito de reembolso, mas as partes
para evitar as consequências de sua mora. A con- poderão prever a sub-rogação, passando o terceiro
signação em pagamento é, portanto, um valioso a ter os privilégios e garantias do credor primitivo, o
instrumento para o devedor não suportar os encar- que não existiria no mero direito de reembolso.
gos moratórios.
Como exemplo, trago um caso visto no es-
Poderá o devedor consignar pagamento ba- tudo do pagamento. Se terceiro interessado paga a
sicamente quando houver mora do credor ou algum dívida do devedor, sub-roga-se automaticamente
risco para o devedor na realização do pagamento nos direitos do credor, mantendo-se os privilégios e
direto. Nesse sentido, o art. 335 do CC arrola casos as garantias (art. 346, III, do CC). Se terceiro não
de cabimento da consignação em pagamento: se o interessado paga a dívida do devedor, apenas terá
credor se recusar sem justa causa a receber o pa- direito de reembolso, não se sub-rogando nos direi-
gamento ou não puder recebê-lo, se o devedor tiver tos do credor (sem os privilégios e garantias do
dúvida sobre quem é o verdadeiro credor ou se o credor originário). No entanto, se o terceiro não
credor for desconhecido, entre outros. interessado pagar a dívida do devedor condicionado
a sub-rogar-se nos direitos do credor, haverá paga-
Feito o depósito, a princípio, suspende a in- mento com sub-rogação convencional e terá o novo
cidência dos encargos moratórios, mas o devedor credor os privilégios e garantias do credor primitivo
deverá propor ação judicial para discussão da maté- (art.347, II, do CC).
ria, podendo o credor impugnar o pagamento, pois
só exonera o devedor se observados os mesmos 4.4. Novação
requisitos exigidos para validade do pagamento. Se
julgado improcedente, o depósito não terá efeito. O

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Novação é o meio de extinção da obrigação Antes de a lei definir quais obrigações estão
pelo surgimento de uma nova obrigação. A nova- extintas (imputação legal), as partes têm o direto de
ção pode ser de dois tipos: objetiva ou subjetiva. A definir (imputação convencional). Assim, em primei-
novação é objetiva quando a nova obrigação difere ro lugar, quem define é o devedor. No seu silêncio,
da obrigação anterior pela substituição da prestação o credor define em quais dá quitação. Se nenhum
(ex. obrigação de dar dinheiro transformada em deles definir, a lei definirá, estabelecendo a seguinte
obrigação de fazer ou obrigação veiculada em che- ordem: (i) primeiro se pagam os juros vencidos e só
que substituída por obrigação veiculada em nota depois o capital; (ii) pagamento imputado às dívidas
promissória). A novação será subjetiva quando a vencidas há mais tempo; (iii) se todas vencidas no
nova obrigação difere da obrigação anterior pela mesmo tempo, a imputação será na mais onerosa
substituição do credor (novação subjetiva ativa) ou (maiores juros ou multas); (iv) se todas no mesmo
do devedor (novação subjetiva passiva). tempo e mesmos ônus, a lei não dá solução, mas
jurisprudência diz ser de forma proporcional em
Importante: qual a diferença entre paga- cada uma das obrigações.
mento com sub-rogação e novação subjetiva ativa?
Em ambos os casos, há troca do credor, mas dife- 4.6. Dação em pagamento
rem porque no pagamento com sub-rogação o vín-
culo se mantém, havendo apenas a troca de credor, Dação em pagamento é a forma de extinção
enquanto que na novação, extingue-se o vínculo da obrigação através da qual o credor aceita rece-
anterior, surgindo uma nova obrigação com um no- ber prestação diversa da que lhe é devida. Confor-
vo vínculo. Consequência: no pagamento com sub- me visto, nos termos do art. 313 do CC, o credor
rogação se mantém para o novo credor os privilé- não é obrigado a aceitar prestação diversa da con-
gios e garantias do credor primitivo, enquanto que tratada, ainda que mais valiosa. Porém, nada impe-
na novação, extinguem-se os privilégios e garantias de que o credor aceite prestação diversa, caso em
do credor primitivo, não as tendo o novo credor. que haverá extinção da obrigação de uma forma
anormal, que não pelo pagamento, chamada de
Do exposto acerca da sub-rogação e nova- dação em pagamento.
ção, podemos chegar a uma conclusão: quando o
pagamento é efetuado por um terceiro, seja interes- A evicção é a perda judicial ou até adminis-
sado ou não interessado, ele poderá reaver do de- trativa de um bem em razão de vício jurídico anterior
vedor primitivo o que por ele pagou. A diferença é à alienação. Quem vende não poderia ter vendido e
que quando o pagamento é feito por terceiro inte- quem compra perde para um terceiro, buscando do
ressado, há pagamento com sub-rogação, enquanto alienante uma indenização. Se o devedor dá coisa
que no pagamento feito por terceiro não interessa- diversa em pagamento e o credor a perde pela evic-
do, há novação, pois se extingue o vínculo anterior, ção, restabelece-se a obrigação primitiva, ficando
surgindo uma nova obrigação com um novo vínculo sem efeito a quitação dada, ressalvados os direitos
(a obrigação de reembolso). Por isso, o terceiro de terceiro (art. 359 do CC).
interessado terá os privilégios e garantias do credor
primitivo, mas o terceiro não interessado não, a não 4.7. Compensação
ser que se valha do pagamento com sub-rogação
convencional, ou seja, condicionando o pagamento Compensação é a forma de extinção das
a sub-rogar-se nos direitos do credor. obrigações entre duas pessoas que são, ao mesmo
tempo, credora e devedora uma da outra. O meio
4.5. Imputação ao pagamento normal de extinção da obrigação é o pagamento, ou
seja, o cumprimento da prestação. Todavia, quando
Se um devedor tem várias dívidas diferentes duas pessoas são devedoras e credoras uma da
com um credor, mas não lhe entrega valor suficien- outra, não há sentido que os pagamentos sejam
te para pagamento de todas, é preciso identificar feitos para extinção das obrigações. Compensam-se
quais as dívidas foram extintas. as dívidas e extintas estão as obrigações até onde
se compensarem.
Imputação ao pagamento é a indicação da
dívida a ser paga quando uma pessoa se encontra A compensação pode ser de dois tipos: le-
obrigada por dois ou mais débitos com o mesmo gal ou convencional, a depender se decorre da lei
credor, sem poder pagar todos eles. Note que impu- ou da vontade das partes. A compensação legal se
tação ao pagamento não é bem um meio de extin- dará automaticamente, bastando presentes os re-
ção da obrigação, mas sim a determinação de que quisitos legais, quais sejam: reciprocidade das obri-
obrigação está extinta quando nem todas forem gações (um deve ao outro e vice versa), liquidez e
pagas. vencimento das prestações e envolverem bens fun-
gíveis entre si (não basta serem bens fungíveis,
devem ser substituíveis entre si, ou seja, homogê-

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neos, por exemplo, dinheiro por dinheiro ou saca de mil reais a três credores solidários, sendo um deles
café por saca de café, não podendo ser dinheiro por o pai do devedor (solidariedade ativa). Com a morte
saca de café). Mesmo ausentes tais requisitos, ain- do pai ou do filho ou se o pai perdoar só a dívida do
da sim poderá haver compensação, mas será con- filho, os outros dois credores serão solidários em
vencional, por depender da vontade das partes. vinte mil reais.
Nada impede, portanto, haver compensação de uma
dívida vencida com outra a termo, com bens infun- 5. INADIMPLEMENTO DAS OBRIGAÇÕES
gíveis ou de natureza diferente (dinheiro por saca
de café), mas será compensação convencional, 5.1. Diferença entre inadimplemento e mora
onde o que importa é a vontade das partes.
Quando o devedor não cumpre a prestação,
A reciprocidade é um requisito para a com- estamos diante do inadimplemento, que pode ser
pensação legal, ou seja, devedor deve ao credor e de dois os tipos: absoluto ou relativo. O inadimple-
vice-versa, mas há uma exceção: quando envolver mento é absoluto quando a prestação não é cum-
o fiador. O devedor somente compensa sua dívida prida e não é mais útil ao credor que o devedor a
para o credor com a dívida do credor contra ele, cumpra - por exemplo, contratação de cantor para
mas o fiador pode compensar sua dívida para o cantar em um casamento que não comparece à
credor (é dele devedor porque é fiador) com a dívida cerimônia. O inadimplemento é relativo quando a
que o credor tem com o afiançado, ou seja, não com prestação não é cumprida, mas ainda é útil ao cre-
ele, pois o fiador não é devedor em causa própria, dor que o devedor a cumpra, por exemplo, não pa-
mas mero garantidor de uma dívida do afiançado gamento de uma dívida em dinheiro no dia do ven-
(art. 371 do CC). cimento. O inadimplemento absoluto é chamado
simplesmente de inadimplemento e o inadimple-
4.8. Confusão e Remissão mento relativo é chamado de mora.

Confusão é a forma de extinção das obriga- Note que a diferença entre inadimplemento
ções por reunirem na mesma pessoa a qualidade e mora reside no critério de utilidade para o credor.
de credor e devedor. Imagine um pai que deve uma Em ambos os casos, a prestação não é cumprida,
quantia em dinheiro a seu filho, que é seu único sendo inadimplemento se a prestação não é mais
herdeiro. Com a morte do pai, o filho assume o débi- útil ao credor e mora se a prestação ainda é útil ao
to, mas ele próprio é o credor, gerando extinção da credor.
obrigação pela confusão. A confusão pode se verifi-
car a respeito de toda a dívida (total) ou só de parte Por que diferenciar mora e inadimplemento?
dela (parcial). No exemplo citado, se são dois filhos, Se o caso é de inadimplemento, como a prestação
tendo o credor um irmão, só haverá extinção da não é mais útil ao credor, a única solução é o pa-
obrigação relativa à metade da dívida (espólio é gamento de indenização por perdas e danos (ar.
devedor de metade do valor para o filho credor). 389 do CC). Por outro lado, se o caso é de mora,
cabe o que chamamos de purgação ou emenda da
Remissão é a forma de extinção da obriga- mora. O que é isso? É cumprir a obrigação, porque
ção com o perdão da dívida pelo credor. Cuidado: ainda útil para o credor, acrescido dos encargos
não confunda remissão com remição. A causa de moratórios. Purga-se a mora pagando-se com retar-
extinção da obrigação é a remissão, é o ato de remi- do, acrescido de: correção monetária, juros de mo-
tir, que significa perdão, perdoar. Remição ou ato de ra, perdas e danos decorrentes da mora e eventual
remir não é causa de extinção da obrigação, pois honorários de advogado (art. 395 do CC).
significa resgate, resgatar.
5.2. Mora
Tanto na confusão quanto na remissão há
um aspecto importante para você saber sobre obri- O art. 394 do CC diz que se considera em
gações solidárias. Confusão ou remissão entre cre- mora o devedor que não efetuar o pagamento e o
dor e um dos devedores solidários ou entre o deve- credor que não quiser recebê-lo no tempo, lugar e
dor e um dos credores solidários: mantém-se a soli- forma que a lei ou a convenção estabelecer. Note
dariedade entre os demais, descontada a parte re- haver mora não apenas quando não se paga no
mitida ou da confusão parcial. tempo devido, mas também se não se paga no lugar
e na forma devida. Note ainda não haver mora só
Exemplo: Imagine três devedores solidários do devedor, mas também do credor, que ocorre
em trinta mil reais ao pai de um deles (solidarieda- quando este não quiser injustificadamente receber o
de passiva). Com a morte do pai ou do filho ou se o pagamento, sendo o pagamento em consignação a
pai perdoar só a dívida do filho, os outros dois de- solução para o devedor se livrar dos encargos da
vedores serão solidários em vinte mil reais. Da mora.
mesma forma, imagine que um devedor deve trinta

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Segundo art. 395 do CC, configurada a mo- na, pois o devedor deve ser constituído em mora
ra, o devedor pode purgá-la, cumprindo a prestação por um ato do credor, propondo ação judicial (cita-
acrescida dos encargos moratórios. Todavia, se a ção válida constitui o devedor em mora). No entan-
prestação tornar-se inútil ao credor, este poderá to, tal entendimento é equivocado, pois a lei diz que
enjeitá-la e pedir perdas e danos. A razão é simples: essa mora é automática, independendo de qualquer
se inútil ao credor, deixou de ser mora e se trans- ato do credor. O art. neste momento em análise diz
formou em inadimplemento absoluto. que nas obrigações provenientes de ato ilícito, con-
sidera-se o devedor em mora desde que o praticou
Como exemplo, imagine uma costureira que (a responsabilidade de reparar o dano fixada na
deixa de entregar o vestido de noiva no prazo esti- sentença judicial retroage à data do ato para aplicar
pulado. É caso de mora ou inadimplemento? De- os efeitos da mora).
pende. Se ainda não houve a cerimônia, em razão
de a data marcada lhe ser bastante anterior, o caso Os arts. 399 e 400 do CC trazem dois efei-
é de mora; se já houve a cerimônia, em razão da tos da mora, um para mora do devedor e outro para
data marcada ter sido na véspera do casamento, o a mora do credor:
caso é de inadimplemento, caso em que o credor
poderá rejeitar a coisa e pedir perdas e danos, pois a) Efeito da mora do devedor (art. 399 do CC): O
ao se tornar inútil a ela, a mora se transformou em devedor em mora responde pela impossibilidade da
inadimplemento absoluto. prestação, ainda que esta se dê por caso fortuito ou
força maior. Se a prestação do devedor se torna
Completa a ideia de mora o art. 396 do CC, impossível sem culpa do devedor, simplesmente se
que preceitua não incorrer em mora o devedor resolve a obrigação sem qualquer ônus a lhe ser
quando não haja fato ou omissão imposta a ele. imposto. Todavia, se a impossibilidade ocorrer du-
Significa que a mora é o não cumprimento culposo rante seu atraso, o devedor ficará obrigado a inde-
da obrigação. Se não há culpa, não há mora. Se nizar o credor pela impossibilidade da prestação,
uma conta do devedor só pode ser paga no banco e mesmo que esta tenha se dado por caso fortuito ou
o vencimento cai em um domingo, ao se pagar no por força maior. Apenas em dois casos, estará de-
dia seguinte, não há de se falar em mora, tanto que sobrigado de indenização: quando provar isenção
se paga sem encargos moratórios. de culpa no seu atraso (evidente, pois nesse caso
não há mora, pois a mora é o não cumprimento
O art. 397 do CC nos faz perceber haver culposo da obrigação) e se provar que o dano ocor-
dois tipos de mora: ex re e ex persona. A mora ex reria mesmo se a prestação tivesse sido cumprida
re é automática, ou seja, é aquela que independe de no tempo, lugar ou forma devida, ou seja, mesmo se
ato do credor para o devedor ser constituído em não houvesse mora.
mora (interpelação judicial ou extrajudicial, notifica-
ção, protesto ou citação do devedor). Por sua vez, a b) Efeito da mora do credor (art. 400 do CC): A
mora ex persona é aquela que precisa de um dos mora do credor, ou seja, se o credor se recusar
citados atos do credor para o devedor ser constituí- injustificadamente a receber o pagamento, gera três
do em mora. Quando a mora é ex re e quando é ex efeitos: (i) retira do devedor isento de dolo a res-
persona? ponsabilidade pela conservação da coisa (só inde-
niza perda ou deterioração do bem se teve dolo,
Há dois tipos de obrigações: com dia certo não respondendo se teve culpa stricto sensu, ou
de vencimento e sem dia certo de vencimento. seja, imprudência, negligência ou imperícia); (ii)
Quando a obrigação tem um dia certo de vencimen- obriga o credor a ressarcir o devedor das despesas
to, o devedor não precisa ser constituído em mora que teve para conservar o bem; e (iii) sujeita o cre-
por ato do credor, pois o simples não pagamento no dor a receber o bem pela estimação mais favorável
vencimento o constitui em mora (dies interpellat pro ao devedor se o seu valor oscilar entre o dia estabe-
homine, ou seja, o próprio dia interpela o devedor). lecido para o pagamento e o da sua efetivação.
Por outro lado, quando a obrigação não tem dia
certo de vencimento, o devedor só estará em mora 5.3. Responsabilidade Civil Contratual
se for constituído por ato do credor. Assim, quando
a obrigação é com dia certo de vencimento, a mora Responsabilidade civil é o dever de indeni-
é ex re e quando a obrigação é sem dia certo de zar um prejuízo causado. Há dois tipos de respon-
vencimento, a mora é ex persona. sabilidade civil: contratual e extracontratual. A res-
ponsabilidade civil contratual é aquela em que há
O art. 398 do CC demonstra que a mora é um contrato entre as partes, ou seja, um contratante
ex re quando a obrigação não cumprida decorre de não cumpre o contrato, causando prejuízo ao outro
ato ilícito. Com efeito, ato ilícito civil é causar dano a contratante, gerando dever de indenização. A res-
alguém, gerando ao causador o dever de indenizá- ponsabilidade civil extracontratual, também chama-
lo. Poderíamos pensar ser caso de mora ex perso- da de aquiliana, é aquela em que não existe um

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contrato entre quem causa e quem sofre o dano, Qual a diferença, então, entre responsabili-
como no caso de alguém bater no carro de outrem, dade civil contratual e responsabilidade civil extra-
tendo que indenizá-lo. Responsabilidade civil extra- contratual subjetiva? Em ambos os casos só há
contratual é tema do capítulo responsabilidade civil. responsabilidade civil diante da existência de culpa
Responsabilidade civil contratual é estudada aqui do devedor, mas na responsabilidade civil contratu-
em obrigações, pois ocorre diante de mora e ina- al, a culpa é presumida. Todavia, é uma presunção
dimplemento. relativa, ou seja, aquela que admite prova em con-
trário, representando, assim, a inversão do ônus da
O contratante que não cumpre o contrato prova. Na responsabilidade civil contratual, basta ao
será civilmente responsabilizado, mas apenas se contratante provar que o outro não cumpriu o con-
isso gerar um dano ao outro contratante, pois res- trato. Se este não teve culpa no inadimplemento, ele
ponsabilidade civil é o dever de indenizar um dano que prove. Por outro lado, se é responsabilidade
causado. Conforme o art. 402 do CC, o inadimplen- civil extracontratual subjetiva, a vítima do dano, ao
te deverá indenizar não só o dano emergente, mas cobrar perdas e danos, deverá provar que o agres-
também os lucros cessantes, que são os dois tipos sor teve culpa ao causar o dano, pois esta não é
de dano material. Dano emergente: prejuízo efeti- presumida.
vamente experimentado; lucro cessante: o que se
legitimamente se deixou de ganhar. A eles se Quando se diz que a responsabilidade sub-
acrescenta dano moral. jetiva exige a culpa, usa-se o termo culpa em senti-
do amplo, ou seja, é o dolo ou a culpa em sentido
Diante de inadimplemento, seja absoluto ou restrito (imprudência, negligência ou imperícia). A
relativo, quem não cumpre o contrato causando princípio, não há diferença na responsabilidade civil
dano ao outro contratante deverá indenizá-lo. A contratual se o inadimplemento foi por dolo ou por
questão é: a responsabilidade civil contratual é sub- culpa. O art. 404 do CC diz que não interfere no
jetiva (depende de culpa) ou objetiva (independe de valor da indenização se por dolo ou culpa, pois o
culpa)? valor da indenização será o valor do dano sofrido.
No entanto, a lei consagrou uma diferença entre
A responsabilidade civil contratual é subjeti- inadimplemento doloso ou culposo no negócio jurí-
va, pois só há mora se o não cumprimento da pres- dico benéfico, ou seja, no contrato gratuito.
tação for culposo. Significa que não há mora e, por-
tanto, não há responsabilidade civil contratual, se Nos termos do art. 392 do CC, se o contrato
não houver culpa do contratante em não cumprir a é oneroso, o contratante inadimplente responde por
prestação. O mesmo ocorre com o inadimplemento não ter cumprido o contrato por dolo ou por culpa,
absoluto, que pode ser culposo (com culpa do de- mas, se for um contrato benéfico ou gratuito, a parte
vedor) ou fortuito (sem culpa do devedor), mas, em que não é favorecida (aquela que não recebe nada
regra, só haverá obrigação de indenizar se o deve- em troca) só responde pelo inadimplemento se agiu
dor teve culpa no inadimplemento. Se um cantor é com dolo, ou seja, não será responsabilizado civil-
contratado para cantar no casamento e proposital- mente pelo não cumprimento do contrato por culpa
mente não aparece na cerimônia, será responsabili- em sentido estrito.
zado em perdas e danos, mas se não cumpriu o
contrato porque foi sequestrado na véspera, não há Assim sendo, ao doar um bem, o doador só
de se falar em dever indenizatório. responde pela impossibilidade de entregar a coisa
doada, caso tenha agido dolosamente, por exemplo,
Importante: O art. 393 do CC dispõe que “o se destruiu intencionalmente esse bem. Não res-
devedor não responde pelos prejuízos resultantes ponderá o doador, se o bem se quebrou porque foi
do caso fortuito ou de força maior, se expressamen- negligente ao usá-lo, caso em que simplesmente se
te não se houver por eles responsabilizado” Note resolverá a obrigação, desfazendo a doação sem
que, conforme visto, a responsabilidade civil contra- qualquer dever indenizatório ao doador. Se o con-
tual é subjetiva, mas as partes podem expressa- trato for de compra e venda e a coisa se perde com
mente prever no contrato que o inadimplente res- culpa do devedor, vimos que a solução é dar o
ponderá mesmo que não tenha cumprido o contrato equivalente acrescido de perdas e danos, que será
por caso fortuito ou motivo de força maior, ou seja, devido tanto no caso de dolo quanto de culpa, ou
sem ter tido culpa, pois caso fortuito ou motivo de seja, se quebrou propositalmente ou se por negli-
força maior são situações inevitáveis, que o inadim- gência, pois compra e venda é contrato oneroso.
plente não podia impedir, como no caso do cantor
contratado para cantar em um casamento que não 5.4. Cláusula Penal
cumpre a obrigação por ter sido sequestrado na
véspera. Conforme vimos, tanto o inadimplemento
quanto a mora podem gerar responsabilidade civil
contratual. Em caso de inadimplemento, o contra-

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tante deverá indenizar o outro em perdas e danos extensão do dano em ação de conhecimento. E a lei
causados pelo não cumprimento do contrato e, em vai mais longe ainda com o art. 416 do CC, preven-
caso de mora, o devedor poderá purgá-la, cumprin- do que sequer é necessário provar que houve dano,
do a prestação com retardado, acrescida de perdas se este foi prefixado no contrato.
e danos causados pela mora, correção monetária,
juros de mora e honorários advocatícios. Uma questão pode ser levantada: se o pre-
juízo do contratante for maior do que o valor da
O grande problema na responsabilidade civil multa, poderá ele cobrar a diferença? A princípio
contratual é provar o valor da indenização, ou seja, não, pois o parágrafo único do art. 416 do CC diz
a extensão do prejuízo causado pelo não cumpri- que só poderá cobrar eventual valor a mais, se esta
mento do contrato. Para resolver esse problema, a possibilidade estiver expressa no contrato. Se assim
lei traz como solução a cláusula penal, que é uma for, o valor da multa já é objeto de execução e o
multa prefixando o valor das perdas e danos em valor a mais deverá ser provado em ação de conhe-
razão da mora ou do inadimplemento. cimento para seguir a execução por título executivo
judicial. Se não houver permissivo contratual, limita-
Cláusula penal, portanto, é um pacto inseri- se a executar a multa.
do no contrato, impondo multa ao devedor que não
cumpre ou que retarda o cumprimento da prestação. Há importante diferença na cobrança da
cláusula penal a depender se compensatória ou se
Note que há multa tanto para o caso de mo- moratória (arts. 410 e 411 do CC): no inadimple-
ra quanto de inadimplemento. Assim, há dois tipos mento o credor cobra cláusula penal compensatória
de cláusula penal: moratória e compensatória. A ou o cumprimento da prestação enquanto que na
cláusula penal moratória é para prefixar perdas e mora o credor cobra cumprimento da prestação e
danos em razão da mora, ou seja, pelo retardamen- cláusula penal moratória.
to no cumprimento da obrigação, e a cláusula penal
compensatória é para prefixar perdas e danos em No caso da cláusula penal compensatória,
caso de inadimplemento absoluto, ou seja, pelo não havendo inadimplemento, esta se converterá em
cumprimento da prestação. alternativa a benefício do credor, ou seja, este pode-
rá escolher entre cobrar do contratante inadimplente
Como exemplo, imaginemos um contrato de a multa ou o cumprimento da prestação. No exem-
locação, cuja prestação do locatário é pagar, duran- plo do cantor contratado para cantar no casamento,
te três anos, mil reais por mês ao locador. Se no diante do não comparecimento à cerimônia, o con-
contrato houver uma multa no valor de três meses tratante poderá cobrar a multa ou pedir para cantar
de aluguel para o caso do locatário devolver as cha- depois, por exemplo, no aniversário dele que será
ves antes do fim do contrato, será uma cláusula na semana seguinte. Sendo cláusula penal morató-
penal compensatória, pois o locatário pagará uma ria, sobrevindo mora, o credor pode exigir o cum-
multa por não ter cumprido sua prestação, pelo me- primento da prestação acrescido da multa, pois, se
nos em parte. Por outro lado, se houver no contrato não pagou a dívida no dia, o credor a cobrará
uma multa em razão do locatário atrasar o paga- acrescido da multa com os demais encargos mora-
mento do aluguel por não pagar no dia do venci- tórios.
mento, será uma cláusula penal moratória, pois o
pagamento da multa é para o retardamento no Para fechar o tema, é preciso saber que o
cumprimento da prestação. juiz pode reduzir o valor da cláusula penal compen-
satória em dois casos previsto no art. 413 do CC:
Note que há dois tipos de cláusula penal,
cada uma com uma finalidade específica. A cláusu- a) Se o valor é manifestamente excessivo: O art.
la penal compensatória tem a função de compensar 412 do CC estipula um valor máximo da cláusula
o contratante por não ter o outro contratante cum- penal compensatória ao afirmar que ela não pode
prido sua prestação. Já a cláusula penal moratória exceder o valor da obrigação principal. No entanto,
tem a função de intimidar, pois o contratante pagará mesmo dentro desse limite, o juiz poderá reduzi-la a
uma multa se retardar o cumprimento da prestação. pedido da parte se manifestamente excessivo se-
gundo as circunstâncias do caso.
O art. 408 do CC demonstra que a cláusula
penal é uma prefixação de perdas e danos e que a b) Se a prestação tiver sido cumprida em parte:
responsabilidade civil contratual é subjetiva, pois diz a função da cláusula penal compensatória é com-
que incorre de pleno direito na cláusula penal o pensar o contratante pelo fato do outro não ter cum-
devedor que culposamente deixe de cumprir a obri- prido a prestação. Assim, se este cumpre parte da
gação ou que se constitua em mora. Significa que, prestação, a compensação deve ser apenas da
em caso de inadimplemento, o outro contratante parte não cumprida. Exemplo: se o contrato de lo-
pode executar a multa, independente de provar a cação diz que o locatário deve pagar multa de três

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meses de aluguel se devolver as chaves antes do Diferença: nas arras confirmatórias (quan-
fim do contrato, caso ele devolva tendo cumprido do não há direito de arrependimento), o contratante
metade do contrato, não deverá arcar com toda a pode cobrar indenização suplementar, enquanto
multa, mas apenas metade dela. que não poderá fazê-lo nas arras penitenciais
(quando há direito de arrependimento), pois se fixou
5.5. Arras um preço para isso.
Arras significam sinal, ou seja, é aquilo que
é entregue por um dos contratantes ao outro como QUESTÕES DE CONCURSOS
princípio de pagamento quando da celebração do
contrato para confirmação do acordo. A vantagem 1 - (CESPE – 2015 – AGU - Advogado da União)
do adiantamento de um sinal é confirmar o negócio, Com relação aos atos, ao negócio jurídico, às obri-
pois se houver desistência, aquele que desistiu per- gações e à prescrição, julgue o item subsequente.
derá o valor das arras para compensar os prejuízos. De acordo com o que dispõe o Código Civil, a com-
Se quem deu o sinal desistir, não poderá cobrá-lo pensação legal opera-se de pleno direito quando há
de volta; se quem o recebeu desistir, devolverá o liquidez e exigibilidade do débito e fungibilidade das
valor em dobro (como recebeu arras, a perda efetiva prestações, não havendo impedimento para a com-
será no valor das arras) pensação devido a prazo de favor concedido por
uma das partes.
São dois os tipos de arras: confirmatória e ( ) Certo ( ) Errado
penitenciais. A diferença decorre se no contrato
existe ou não cláusula de arrependimento. COMENTÁRIOS
A afirmativa está ERRADA e tem por base legal o
a) Arras confirmatórias: As arras serão confirma- art. 882, CC/02: “Não se pode repetir o que se pa-
tórias quando não houver previsão no contrato de gou para solver dívida prescrita, ou cumprir obriga-
direito de arrependimento. É o normal, pois as par- ção judicialmente inexigível.”
tes celebram um contrato não esperando que a
outra parte desista. Assim, estipulam um valor de 2 - (CESPE - 2012 - AGU - Advogado da União) A
sinal a ser pago imediatamente para confirmar o respeito da prescrição, julgue os itens seguintes.
negócio. Se quem deu arras desistir, perderá o sinal O devedor capaz que pagar dívida prescrita pode
dado, mas se quem desistir foi quem recebeu o reaver o valor pago se alegar, na justiça, a ocorrên-
sinal, devolverá o dobro do valor. cia de pagamento indevido ao credor, estando o
direito de reaver esse valor fundado no argumento
b) Arras penitenciais: As arras serão penitenciais de que o credor que receba o que lhe não seja de-
quando houver previsão no contrato de direito de vido enriquece às custas do devedor.
arrependimento. Qualquer das partes terá direito de ( ) Certo ( ) Errado
se arrepender, mas tem um preço para isso, ou
seja, o valor das arras. Se quem desiste deu arras,
perderá o sinal dado, mas se quem desistir foi quem 3. (CESPE - 2013 - AGU - Procurador Federal) A
recebeu o sinal, devolverá o dobro do valor. respeito do negócio jurídico, das obrigações, dos
contratos e da responsabilidade civil, julgue os itens
Ora, tanto nas arras confirmatórias como a seguir.
penitenciais, a consequência é a mesma: se quem Os contratos são passíveis de revisão judicial, ainda
desiste deu arras, perderá o sinal dado, mas se que tenham sido objeto de novação, quitação ou
quem desiste foi quem recebeu o sinal, devolverá o extinção, haja vista não ser possível a validação de
dobro do valor. Então, pergunto: para que diferenci- obrigações nulas.
ar uma da outra? ( ) Certo ( ) Errado

Para o caso do prejuízo com a desistência COMENTÁRIOS


ser maior que o valor fixado a título de arras. Se A afirmativa está CERTA e baseia-se no verbete da
forem arras confirmatórias, não há previsão de direi- Súmula n. 286 do STJ: “A renegociação de contrato
to de arrependimento e posso cobrar o prejuízo que bancário ou a confissão da dívida não impede a
a desistência me acarretar. Como já me beneficiei possibilidade de discussão sobre eventuais ilegali-
do valor das arras, cobro apenas o prejuízo que tive dades dos contratos anteriores.”
a mais. No entanto, se forem arras penitenciais, há
no contrato previsão de direito de arrependimento, 4. (CESPE – 2010 – AGU - Procurador Federal)
sendo fixado um preço para isso, ou seja, o valor de A respeito da responsabilidade contratual, julgue
arras, não podendo o prejudicado cobrar eventual os itens a seguir.
valor a mais que tenha tido de prejuízo com a desis- Se o contrato celebrado for de obrigação de resulta-
tência do outro contratante. do, o inadimplemento se presumirá culposo.
( ) Certo ( ) Errado

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serão produzidos ao praticarem o ato. É bilateral,
pois é formado pelo acordo de vontades, ou seja,
5. (CESPE - 2009 - AGU - Advogado da União) No são necessárias pelo menos duas vontades. O tes-
item a seguir, é apresentada uma situação hipotéti- tamento é um negócio jurídico, pois é atuação hu-
ca seguida de uma assertiva a ser julgada, com mana em que se escolhem os efeitos que dele se-
relação ao direito obrigacional. rão produzidos, mas não é um contrato, pois é um
Carla cedeu a Sílvia crédito que possuía com Luíza. negócio jurídico unilateral.
Na data avençada para pagamento do débito, Sílvia
procurou Luíza, ocasião em que ficou sabendo da 2. CLASSIFICAÇÕES DOS CONTRATOS
condição de insolvência da devedora. Nessa situa-
ção, Carla será obrigada a pagar a Sílvia o valor 2.1. Contrato unilateral, bilateral e plurilateral
correspondente ao crédito, haja vista a regra geral
de que o cedente responde pela solvência do deve- Não se fala aqui no número de vontades
dor. envolvidas, pois vimos que não existe contrato com
( ) Certo ( ) Errado uma vontade apenas. Fala-se aqui em número de
prestações.
COMENTÁRIOS
A afirmação está ERRADA e a incorreção justifica- a) Contrato unilateral: é aquele em que há presta-
se na redação do art. 296, CC/02: “Salvo estipula- ção apenas para uma das partes. Doação é contra-
ção em contrário, o cedente não responde pela sol- to, pois há duas vontades, em razão da necessida-
vência do devedor.” de do donatário aceitá-la. Todavia, é contrato unila-
teral, pois só tem prestação para o doador (entregar
o bem).
6. (CESPE - 2007 - AGU - Procurador Federal -
Prova 1) No Código Civil de 2002, no capítulo da b) Contrato bilateral: é aquele que, além de duas
parte geral dedicado aos vontades, tem prestação para ambas as partes, por
bens reciprocamente considerados, introduziu-se a exemplo, contrato de compra e venda, pois o ven-
figura das dedor tem a prestação de entregar o bem e o com-
pertenças, verdadeira novidade legislativa no âmbito prador tem a prestação de dar o preço.
do direito
privado brasileiro. A respeito dos bens reciproca- c) Contrato plurilateral: é aquele em que há pelo
mente menos três vontades envolvidas. Exemplo: contrato
considerados, julgue os itens a seguir. de sociedade, em que são partes os sócios e a pró-
De acordo com o direito das obrigações, em regra, a pria sociedade, como parte credora das prestações
obrigação de dar coisa certa abrange os acessórios dos sócios (contribuição para o capital social).
dessa coisa, ainda que não mencionados.
( ) Certo ( ) Errado 2.2. Contrato oneroso e gratuito

COMENTÁRIOS a) Contrato oneroso: é aquele em que as partes


A afirmativa está CERTA e está em conformidade ganham algo equivalente à sua prestação, ou seja,
com a redação do art. 233, CC: “A obrigação de dar há equilíbrio econômico entre as partes porque am-
coisa certa abrange os acessórios dela embora não bos perdem e ganham na mesma proporção eco-
mencionados, salvo se o contrário resultar do título nômica, por exemplo, contrato de compra e venda.
ou das circunstâncias do caso.”
b) Contrato gratuito: é aquele em que a parte não
DIREITO DOS CONTRATOS ganha algo equivalente à sua prestação, ou seja, há
desequilíbrio econômico, pois uma das partes só
ganha e uma das partes só perde, por exemplo,
I. TEORIA GERAL DOS CONTRATOS contrato de doação.

2.3. Contrato comutativo e aleatório


1. CONCEITO
a) Contrato comutativo: é aquele em que as par-
Contrato é o negócio jurídico bilateral for- tes podem antever os seus efeitos, ou seja, ao cele-
mado pela convergência de duas ou mais vonta- brar o contrato, já sabem os efeitos que serão pro-
des, que cria, modifica ou extingue relações jurídi- duzidos. Exemplo: contrato de compra e venda, pois
cas de natureza patrimonial. já se sabe que um entrega o bem e que outro entre-
ga o preço.
É um negócio jurídico, pois é uma atuação
humana em que as partes escolhem os efeitos que

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b) Contrato aleatório: é aquele em que as partes 2.4. Contrato consensual e real
não podem antever os seus efeitos, ou seja, ao
celebrar o contrato não há como saber os efeitos O contrato se forma, em regra, quando a
que serão produzidos. A razão é simples: contrato uma proposta se seguir uma aceitação, ou seja,
aleatório é o contrato de risco (álea significa risco). com o acordo de vontade das partes. Essa regra é
Exemplo: contrato de seguro, pois o segurado pode quebrada em alguns casos, quando o acordo de
ou não receber a indenização, a depender se ocorre vontades não é suficiente para a formação do con-
ou não o sinistro, o que não se sabe quando o con- trato, o que só ocorre com a prática de um ato pos-
trato é celebrado. terior: a entrega do bem objeto da prestação.

O contrato aleatório pode ser naturalmente a) Contrato consensual: é aquele que se forma
aleatório (aleatório típico) ou acidentalmente aleató- com o acordo de vontades das partes. É a regra em
rio (aleatório atípico). O contrato é naturalmente matéria de contratos, por exemplo, o contrato de
aleatório quando for da sua essência ser aleatório, compra e venda.
por exemplo, contrato de seguro. O contrato é aci-
dentalmente aleatório quando for da sua essência b) Contrato real: é aquele que se forma com a
ser comutativo, mas é aleatório em razão de uma tradição, ou seja, com a entrega do bem, que se
circunstância que lhe é específica. Exemplo: contra- segue ao acordo de vontade das partes. São três os
to de compra e venda é comutativo, mas o contrato contratos reais: mútuo, comodato e depósito.
de compra e venda de uma safra que está sendo
plantada é aleatório, pois não se sabe qual será a 2.5. Contrato de execução instantânea, continu-
quantidade da produção. ada e diferida

Os arts. 458 a 461 do CC trazem dois tipos a) Contrato de execução instantânea: é aquele
de contratos de compra e venda atipicamente alea- que é cumprido em uma só vez, no momento da
tórios: compra e venda de coisa futura e de coisa celebração do contrato (exemplo: compra e venda
exposta a risco. com pagamento à vista).

a) Compra e venda de coisa futura: O contrato de b) Contrato de execução continuada: é aquele em


compra e venda de coisa futura é aleatório, pois não que a prestação é cumprida em cotas periódicas
se sabe se a coisa virá a existir e em que quantida- (exemplo: compra e venda com pagamento parce-
de. Pode o contratante assumir o risco da coisa não lado).
vir a existir, pagando mesmo assim o preço (cha-
mado de contrato de compra e venda emptio spei) c) Contrato de execução diferida: é aquele em
ou assumir o risco de vir a existir em qualquer quan- que a prestação é cumprida em uma só vez, mas no
tidade, pagando o preço se vier a existir em quanti- futuro (exemplo: compra e venda com pagamento a
dade inferior à esperada, mas não pagando se nada prazo).
do avençado vier a existir (chamado contrato de
compra e venda emptio rei speratae). Em ambos os 2.6. Contrato entre presentes e entre ausentes
casos, não pagará o preço se menos do esperado
vier a existir por culpa ou dolo do contratante. Como É uma classificação que se refere à forma-
exemplo, pense na compra de peixes que ainda ção do contrato. Pelos nomes, parece que depende
serão pescados, em que se paga o preço mesmo se as partes estão ou não na presença física um do
que nenhum peixe seja pescado (emptio spei) ou se outro. Não é bem assim, pois há tecnologias que
vier em qualquer quantidade, só não pagando se fazem com que uma conversa entre pessoas distan-
nenhum vier (emptio rei speratae). Em nenhum dos tes seja como se estivessem fisicamente presentes,
dois casos pagará, se o insucesso total ou parcial pois proposta e aceitação se dão em tempo real.
decorreu de dolo ou culpa do pescador.
a) Contrato entre presentes: é aquele em que
b) Compra e venda de coisa exposta a risco: O proposta e aceitação se dão em tempo real, sendo
contrato de compra e venda de coisa exposta a firmado não só entre pessoas fisicamente presen-
risco é de coisa que já existe, mas é atipicamente tes, mas também por telefone ou meio de comuni-
aleatório, pois o comprador assume o risco exposto. cação semelhante (vídeo conferência, chats, entre
Exemplo: compra de cerâmica a ser transportada outros).
em navio, cujo risco de vir a se quebrar o comprador
assuma. Deverá pagar todo o preço, mesmo que b) Contrato entre ausentes: é aquele em que pro-
alguns venham quebrados, a menos que dolosa- posta e aceitação não se dão em tempo real, cujos
mente o vendedor se aproveite, colocando alguns já principais exemplos são aqueles formados por carta
quebrados. ou por e-mail.

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3. PRINCÍPIOS CONTRATUAIS
São os elementos necessários para inci-
3.1. Princípio da autonomia da vontade dência da teoria da imprevisão ou da onerosidade
excessiva:
As partes são livres para contratar, ou seja,
contratam se quiserem, com quem quiserem e so- a) Contrato de execução continuada ou diferida:
bre o que quiserem. Isso decorre de simples razão: A teoria da imprevisão se aplica a contratos cuja
contrato é um acordo de vontades. O limite para execução se prolongue no tempo, ou seja, quando a
suas atuações é a lei e, como veremos mais à fren- execução é continuada ou diferida no tempo. Como
te, o interesse social e a boa-fé. o contrato de execução instantânea tem prestações
cumpridas quando da celebração do contrato, estas
3.2. Princípio da obrigatoriedade e a teoria da não serão atingidas pelo fato imprevisível superve-
imprevisão (pacta sunt servanda x cláusula re- niente.
bus sic stantibus)
b) Prestação excessivamente onerosa para uma
As partes contratam se quiserem, mas, se das partes: É a ideia da teoria, a excessiva onero-
contratarem, são obrigadas a cumprir o contrato. O sidade para uma das partes, desequilibrando o con-
contrato faz lei entre as partes, o que traduz o co- trato.
nhecido pacta sunt servanda, ou seja, os pactos
devem ser cumpridos. c) Extrema vantagem para a outra parte: Para a
resolução dos contratos, não basta este ter ficado
Essa é a noção básica do princípio, mas o muito oneroso para uma das partes. É preciso que,
seu estudo pode e deve ser aprofundado. O atual concomitantemente, tenha havido extrema vanta-
CC adotou o princípio do pacta sunt servanda, mas gem para a outra parte. Assim sendo, se o contra-
não de forma absoluta, pois foi mitigado pela previ- tante perde seu emprego e consegue outro rece-
são da chamada cláusula rebus sic stantibus. bendo metade do salário anterior, o contrato fica
excessivamente oneroso para ele, mas não poderá
Para entender essa cláusula, é necessária pedir a resolução pela onerosidade excessiva por-
uma breve análise histórica. Desde a origem dos que não houve extrema vantagem para a outra par-
contratos, vigora o princípio do pacta sunt servanda, te.
ou seja, o contrato sempre fez lei entre as partes.
No entanto, a Idade Média foi uma época que ame- c) Fato superveniente e imprevisível: A resolução
açou a sobrevivência desse princípio, pois foi um do contrato só terá lugar se o desequilíbrio das
período marcado por constantes guerras e conflitos prestações decorrerem de um fato superveniente
feudais, o que inviabilizava o cumprimento de um que as partes não podiam prever quando da cele-
contrato. Por isso, naquela época, tornou-se comum bração do contrato.
vir nos contratos com prestação que se prolongava
no tempo uma cláusula liberando o contratante em Atenção: não confunda teoria da onerosi-
caso de ocorrer uma guerra ou conflito feudal, per- dade excessiva com lesão e estado de perigo.
mitindo-lhe pedir o fim do contrato. Rebus sic stanti- Nesses defeitos do negócio jurídico, o ato já nasce
bus significa “coisa assim ficar”, ou seja, o contra- viciado, enquanto que na aplicação da teoria ora em
tante é obrigado a cumprir o contrato, mas apenas estudo, o contrato nasce conforme a lei, mas se
se a coisa assim ficar. vicia por fato superveniente. A consequência disso é
que na lesão e no estado de perigo o contrato é
A inovação do atual CC foi tornar a cláusula anulado, enquanto que na teoria da imprevisão ele é
rebus sic stantibus implícita aos contratos, quando objeto de resolução. Nos citados vícios da vontade,
passou a prever a teoria da imprevisão ou da one- como o ato é invalidado, a sentença anulatória re-
rosidade excessiva. Se um contrato for assinado e troage à data da prática do ato, desfazendo todos
sobrevier fato imprevisível que o desequilibre, tor- os efeitos produzidos, inclusive os anteriores à anu-
nando-o excessivamente oneroso para uma das lação. Na resolução do contrato pela onerosidade
partes e com extrema vantagem para a outra, pode- excessiva, a sentença não deveria retroagir, só ani-
rá aquela pedir a resolução do contrato (art. 478 do quilando os efeitos a partir da resolução. Todavia,
CC). O exemplo típico é o contrato de leasing de um por expressa previsão legal, efeitos anteriores à
carro, com valor atrelado ao dólar (locação com resolução serão desfeitos, pois a lei determina que
opção de compra ao fim do contrato mediante pa- a sentença retroaja à data da citação, ou seja, só
gamento de valor residual). O dólar vale um real e são preservados os efeitos anteriores à citação.
passa do dia para noite para dois reais, dobrando o
valor a ser pago. Poderá ser pedida a resolução do Importante lembrar que o contrato atingido
contrato com base na teoria da imprevisão ou da pela teoria da imprevisão ou onerosidade excessiva
onerosidade excessiva. pode se manter, sem ser objeto de resolução, o que

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ocorrerá se o contratante beneficiado concordar validade jurídica, mas, sobretudo, normas superio-
com a redução do seu ganho, reequilibrando as res de cunho moral e social.
prestações.
Essa concepção social do contrato chega
3.3. Princípio da relatividade dos efeitos dos ao seu ápice quando o CC, já em seu primeiro arti-
contratos go sobre contratos, diz que a função social do con-
trato representa uma limitação na liberdade de con-
O contrato só produz efeitos em relação às tratar (art. 421 do CC). As partes são livres para,
partes. É por isso que dizemos que o direito contra- dentro dos limites legais, colocarem no contrato as
tual é inter parte (entre as partes), diferente dos cláusulas que quiserem, mas a limitação à autono-
direitos reais, que são direitos oponíveis erga om- mia da vontade não se dá apenas pela lei, mas
nes (contra todos). Significa que o contratante só também pelo interesse social.
pode opor seu direito contratual ao outro contratante
e não a pessoas estranhas à relação contratual, Imagine um contrato para a construção de
pois só as partes podem ter direitos e deveres frutos uma obra de vulto ou de uma indústria. Não obstan-
do contrato que celebraram. te estejam observados os requisitos legais de vali-
dade (agente capaz, objeto possível, determinado
3.4. Princípio da função social do contrato ou determinado e forma prescrita ou não defesa em
lei), alguns questionamentos podem ser feitos: e os
O contrato não interessa apenas às partes reflexos ambientais? E os reflexos trabalhistas? E
contratantes, mas sim a toda sociedade, porque ele os reflexos sociais? E os reflexos morais, ou seja,
repercute no meio social. Essa é a ideia do princípio no âmbito dos direitos da personalidade? Por me-
da função social do contrato, que reflete a atual lhor que seja o contrato do ponto de vista econômi-
tendência de sociabilidade do direito, ou seja, de co para os contratantes, não se pode chancelar
subordinação da liberdade individual em função do como válido um negócio negativo para a sociedade
interesse social. Assim sendo, se o contrato reper- em razão do desrespeito de leis ambientais, que
cute negativamente para a sociedade, o juiz pode pretenda fraudar leis trabalhistas ou que viole a livre
nele intervir para preservação do interesse coletivo. concorrência, as leis do mercado ou postulados de
defesa do consumidor, mesmo sob o pretexto da
Como exemplo, podemos pensar em um livre iniciativa.
contrato com juros excessivamente elevados. Não
é ruim apenas para a parte devedora, mas para Analisando os exemplos supramenciona-
toda a sociedade, pois aumenta o risco de inadim- dos, podemos verificar que um contrato que não
plemento, o que aumenta ainda mais os juros, o que cumpre a sua função social pode ser bom apenas
dificulta a circulação do crédito, diminuindo os inves- para uma das partes, como ocorre com o contrato
timentos produtivos e fazendo com que o Estado com juros excessivos. Neste caso, caberá ao con-
não se desenvolva. O juiz, sob o fundamento da tratante prejudicado pedir a tutela jurisdicional com
função social do contrato, poderá intervir nessa base na função social do contrato. No entanto, até
relação entre particulares, trazendo os juros para mesmo quando o contrato for bom do ponto de vista
valor de mercado. econômico para ambas as partes, poderá ser alvo
de intervenção do juiz, caso contrarie o interesse
O CC, em várias oportunidades, tem regras social, como é o caso de um contrato muito lucrati-
que refletem essa tendência da sociabilidade do vo, mas que gera danos ambientais ou que fraude
direito. É o caso, por exemplo, da teoria da imprevi- leis trabalhistas. A questão é: nesse caso de mútuo
são, podendo o juiz pôr fim ao contrato em razão do benefício, a quem caberá pedir a intervenção judici-
seu desequilíbrio econômico pela superveniência de al?
um fato imprevisível. O mesmo ocorre no caso de
lesão e estado de perigo, podendo o juiz invalidar o O papel de guardião do princípio da função
contrato, por uma das partes ter assumido obriga- social do contrato deve recair sobre os ombros do
ção excessivamente onerosa em razão de determi- Ministério Público. A princípio, o parquet não teria
nadas circunstâncias que forçam a contratação. Isso legitimidade ativa para pedir a intervenção do juiz no
demonstra a preocupação socializante do atual CC, contrato, por tratar-se de interesse privado. Todavia,
pois, mesmo preenchidos os requisitos formais de como o contrato tem uma função social, não poden-
validade do negócio jurídico, a lei pretende amparar do prejudicar a sociedade como um todo, o interes-
um dos contratantes da esperteza ou ganância do se passa a ser coletivo, legitimando a atuação mi-
outro ou do prejuízo econômico imprevisível com nisterial.
extrema vantagem para o outro contratante. Qual a
razão disso? O Poder Judiciário só pode chancelar Com efeito, o princípio da função social do
contratos que respeitem não só regras formais de contrato possibilita uma nova tendência de controle
dos contratos inaugurada pelo atual CC: o dirigismo

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judicial dos contratos. O que significa isso? O con- volta, em função da quebra da boa-fé do vendedor,
trato sempre sofreu controle externo, limitando a que não informou um relevante aspecto do contrato,
atuação dos contratantes. Até então, prevalecia o que interferiria na escolha do modelo da aliança ou
controle feito pela lei, razão pela qual esse controle na própria realização do negócio.
é chamado de dirigismo legal dos contratos. Pense,
como exemplo, no contrato de locação, onde a lei O princípio que rege os contratos é o princí-
do inquilinato limita a atuação do locador. Hoje, com pio da boa-fé objetiva, mas, em realidade, existem
o CC vigente, prevalece o dirigismo judicial dos dois tipos: a objetiva ou a subjetiva. A subjetiva,
contratos, ou seja, não é a lei que controla o contra- como o nome sinaliza, é a boa-fé interior, psicológi-
to, mas sim o juiz, na análise do caso concreto. ca, ou seja, o que o contratante acredita ser correto.
Já a objetiva lhe é exterior, ou seja, é agir de forma
O que torna isso possível é a utilização das correta, segundo um padrão normal de conduta. A
chamadas cláusulas gerais ou conceitos jurídicos boa-fé que rege os contratos é a objetiva, pois é
indeterminados, que tem como exemplo a função mais segura, uma vez que não depende do que
social dos contratos. São expressões vagas em seu pensa o outro contratante, mas sim em verificar se o
conteúdo, exigindo do aplicador do direito uma aná- contratante agiu seguindo um comportamento nor-
lise do caso concreto para suprir a vacância. A lei mal das pessoas.
diz que o contrato deve atender a função social, ou
seja, não pode ir contra o interesse social. O que é O que é um comportamento normal? Como
atender ou ir contra o interesse social? A lei não saber se o contratante agiu seguindo um padrão
enumera casos, preferindo usar uma expressão normal de conduta? É o juiz que dirá na análise do
vaga, permitindo ao juiz dizer, analisando o contra- caso concreto. Com efeito, vimos que a tendência
to, se ele atende ou não o interesse social. atual em matéria de controle contratual é o chama-
do dirigismo judicial dos contratos, em substituição
Em conclusão, não se pretende aniquilar o da antiga prevalência do dirigismo legal. Cabe ao
princípio da autonomia da vontade ou o pacta sunt juiz controlar os contratos, o que lhe é permitido a
servanda, mas temperá-lo, tornando-os mais voca- partir do uso de cláusulas gerais ou de conceitos
cionados ao bem-estar comum, sem prejuízo do jurídicos indeterminados, que são expressões va-
interesse econômico pretendido pelas partes contra- gas, reclamando suprimento da vacância pelo apli-
tantes. A lei relativiza o princípio do pacta sunt ser- cador do direito na análise do caso concreto. É o
vanda com regras específicas, como a cláusula caso não só da função social dos contratos, mas
rebus sic stantibus ou com a previsão da lesão ou também da boa-fé objetiva. A lei obriga as partes a
do estado de perigo, mas também relativiza permi- agirem de boa-fé, sem, no entanto, enumerar as
tindo intervenção judicial em uma relação que deve- condutas permitidas e proibidas sob esse aspecto.
ria interessar unicamente às partes do contrato, mas Esse papel caberá ao juiz, que poderá intervir em
que interessa a toda a sociedade, pois a lei diz que um contrato, podendo até resolvê-lo, mesmo tendo
o contrato tem uma função social. sido observados os requisitos formais de validade
em uma livre negociação entre particulares.
3.5. Princípio da boa-fé objetiva
Atenção: Conforme o art. 422 do CC, a
Este princípio vem consagrado no art. 422 boa-fé deve nortear o comportamento dos contra-
do CC, que obriga as partes contratantes a agirem tantes não só no momento da conclusão do contra-
de boa-fé quando da celebração de um contrato. A to, mas também durante a sua execução. É o fun-
palavra chave do princípio é confiança, que significa damento da chamada responsabilidade civil pós-
parceria contratual. A ideia é que os contratantes contratual. Às vezes, um contrato produz efeitos
não são lutadores, um querendo prejudicar o seu após a sua celebração, devendo a boa-fé perdurar
adversário, mas sim parceiros, porque um confia no enquanto durarem esses efeitos. Imagine que uma
outro, uma vez que são obrigados a agir conforme pessoa compre um carro junto a uma concessioná-
os ditames da boa-fé. ria. O carro quebra, mas não existe peça para repo-
sição e o comprador não poderá mais utilizá-lo. Ele
Imagine um casal de noivos que compra poderá pedir a resolução do contrato alegando que-
suas alianças em uma joalheria, optando por um bra da boa-fé objetiva em razão de não ter informa-
modelo que é feito com ouro amarelo e ouro branco. do fato que poderia ocorrer após a execução do
Satisfeitos com a bela aliança, no dia da festa do contrato.
noivado, um casal de amigos informa que toda ali-
ança com ouro branco fica amarelada com o decor- Importante: embora não mencionado ex-
rer do tempo. Revoltados, reclamam junto à joalhe- pressamente no art. 422 do CC, a boa- fé deve nor-
ria, que diz nada poder fazer. Os noivos poderão tear o comportamento dos contratantes até mesmo
pedir a resolução do contrato de compra e venda, antes da proposta. É o fundamento da chamada
devolvendo as alianças e recebendo seu dinheiro de responsabilidade civil pré-contratual, que será anali-

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sada a seguir nas considerações sobre a formação acompanhar o surgimento de novos contratos em
dos contratos. Exemplo típico é a proibição da pro- razão da dinâmica social.
paganda enganosa. O contrato celebrado a partir de
uma propaganda enganosa poderá ser resolvido a Contratos típicos são aqueles previstos e
requerimento da parte prejudicada, pois a boa-fé já regulamentados em lei, enquanto que os contratos
deve fazer-se presente mesmo durante as negocia- atípicos não os são. São lícitos os contratos atípicos
ções preliminares para uma futura contratação. em razão do princípio da autonomia da vontade.
Que normas são aplicadas a eles, já que não há
4. PRELIMINARES regulamentação específica em lei? Nos termos do
seu art. 425, as normas gerais do CC, tanto da sua
O CC trata da teoria geral dos contratos a parte geral quanto da teoria geral dos contratos, ora
partir do seu art. 421, iniciando com questões pre- em estudo.
liminares. De todos os princípios vistos, trata do
princípio da função social dos contratos e da boa-fé 4.3. Pacto Sucessório
objetiva. A seguir, trata de três temas: contrato de
adesão, contratos atípicos e pacto sucessório, o que Pacto sucessório é o contrato que tem por
passamos a abordar. objeto herança de pessoa viva, sendo também
chamado de pacta corvina ou pacto de abutres. Nos
4.1. Contratos de adesão termos do art. 426 do CC, é um contrato proibido
por lei, sendo inválido se praticado. A questão é:
Contrato de adesão é o contrato elaborado será nulo ou anulável? A lei proíbe a prática sem
unilateralmente por uma das partes contratantes, dizer, no entanto, se nulo ou anulável, razão pela
opondo-se ao contrato paritário, em que elas elabo- qual é considerado nulo pela lei, conforme prevê o
ram conjuntamente as cláusulas do contrato. Não é art. 166, VII, do CC.
um negócio jurídico unilateral, pois o aderente, em-
bora não tenha o poder de negociar as cláusulas do Note não poder ser objeto de contrato he-
contrato, tem que aceitar a proposta, não perdendo, rança de pessoa viva, ou seja, após morte do de
portanto, sua natureza contratual de bilateralidade. cujos, após a abertura da sucessão, os herdeiros
podem negociar seus quinhões hereditários, mesmo
O aderente é parte mais fraca nessa relação antes da individualização obtida ao fim do inventário
contratual. Para garantir a isonomia material ou com o formal de partilha, sendo considerado por lei
real, o CC lhe confere duas proteções: um contrato de bem imóvel (art. 80, II, do CC).

a) Art. 423: quando houver no contrato de adesão 5. FORMAÇÃO DOS CONTRATOS


cláusulas ambíguas ou contraditórias, deve ser ado-
tada uma interpretação mais favorável ao aderente. O contrato se forma, em regra, quando a
uma proposta se seguir uma aceitação, seja com o
b) Art. 424: são nulas as cláusulas em um contrato acordo de vontades das partes. Como exceção,
de adesão que estipulem a renúncia do aderente de temos os contratos reais, em que este acordo não é
um direito seu resultante da própria natureza do suficiente para a formação do contrato, o que só
negócio. Exemplo: contrato de depósito é aquele em ocorre com um ato posterior: a tradição, ou seja, a
que o depositante entrega temporariamente ao de- entrega do bem. É o caso de três tipos contratuais:
positário a guarda e conservação de um bem, que mútuo, comodato e depósito.
tem o dever de devolver o bem tal como recebido.
Note que é um direito do depositário receber o bem Não confunda a formação do contrato com a
tal como entregou ao depositário. Sendo o estacio- sua validade. O contrato se formar significa passar
namento em estabelecimentos comerciais um con- a existir no mundo jurídico, obrigando as partes ao
trato de depósito e de adesão, é nula a cláusula que seu cumprimento, enquanto que ser válido é estar
diz não haver responsabilidade pelos objetos deixa- de acordo com a lei e, portanto, apto a produzir
dos no interior do veículo. seus regulares efeitos. O art. 107 do CC prevê que
a validade dos contratos não exige forma especial,
4.2. Contratos atípicos senão quando a lei exigir, ou seja, o contrato se
forma com o simples acordo de vontades, mas, em
O CC, nos arts. 481/853, trata da regula- alguns casos, sua validade reclama uma forma es-
mentação das várias espécies de contrato. Não há pecial para produzir efeitos. Assim, destacando que
como a lei prever todo tipo de contrato, pois este em alguns casos deve haver uma forma especial do
resulta do acordo de vontade das partes, que são contrato, o que tratamos aqui é do momento da sua
livres para negociar de acordo com suas necessida- formação, pois passando a existir no mundo jurídi-
des. Ademais, as alterações da lei não conseguem co, obriga as partes ao seu cumprimento, sob pena
de responsabilidade civil contratual, ou seja, indeni-

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zação de perdas e danos em razão da mora ou do extrato de tomate distribui gratuitamente sementes
inadimplemento (tema tratado em obrigações, para de tomate entre agricultores de uma região, procu-
onde remetemos sua leitura). rando-os na época da colheita para celebrar com
eles contrato de compra e venda de toda a produ-
O CC trata do tema formação dos contratos ção de tomate. No décimo ano distribuiu as semen-
nos arts. 427/435, mencionando a proposta e a tes, mas não apareceu para compra da safra. Pro-
aceitação. Todavia, a formação do contrato não é curada pelos agricultores, recusou-se, sem qualquer
composta apenas por esses dois atos. Normalmente justificativa, a celebrar o contrato. Nesse caso, há
existe uma fase prévia, de negociações prelimina- responsabilidade civil pré-contratual aquiliana do
res, chamada de fase de puntuação, que poderá fabricante de extrato de tomate, tendo que indenizar
culminar na formulação de uma proposta, que, se os agricultores em razão dos prejuízos que resulta-
aceita, formará o contrato. São as fases que pas- ram da não contratação, como os custos da produ-
samos a estudar. ção e eventual recusa de venda para outros com-
pradores. O fundamento da responsabilidade pré-
5.1. Fase de puntuação e a responsabilidade pré- contratual é a violação do princípio da boa-fé objeti-
contratual va nessa fase de negociações preliminares anterior
à proposta, pois o fabricante criou nos agricultores a
Fase de puntuação é a fase de negociações justa expectativa de contratação e, sem qualquer
preliminares que antecedem a proposta, marcada justificativa, por mero capricho, não formalizou a
por conversações prévias, ponderações, reflexões, proposta de compra e venda.
sondagens, cálculos e estudos de viabilidade de
negociação futura. Pode resultar, inclusive, em uma 5.2. Pré-contrato ou contrato preliminar
minuta contratual se alguns pontos acordados forem
reduzidos a termo, ou seja, a escrito (difere da pro- O pré-contrato, também chamado de contra-
posta, pois esta é completa, uma vez bastar um sim to preliminar ou pacto de contrahendo, é um contra-
para o contrato se formar). to em que as partes assumem a obrigação de cele-
brar um contrato definitivo no futuro, por não ser
Sobrevindo uma proposta à fase de puntua- possível a contratação agora ou por não ser o me-
ção, esta vincula o proponente, pois, se a outra lhor momento.
parte a aceitar, o contrato estará formado e ambos
estarão obrigados em seus termos. A questão é: Exemplo: Um time de futebol quer contratar
podemos falar em responsabilidade civil nesta fase um jogador. Não pode celebrar um contrato definiti-
de negociações preliminares pela não conclusão do vo agora, pois ele tem contrato em vigor com outro
contrato? Em regra não, pois não há qualquer pro- clube. No entanto, poderão celebrar um pré-
blema em se iniciarem negociações e se perceber a contrato, em que se obrigam a contratar ao término
inviabilidade ou inconveniência da contratação. To- do contrato em vigor. Caso o jogador negocie seu
davia, em alguns casos, pode haver responsabilida- passe com outro clube ou este não queira mais
de civil extracontratual ou aquiliana, pois não há contratá-lo, haverá descumprimento do contrato,
ainda um contrato, sendo chamada de responsabili- devendo arcar com perdas e danos, que provavel-
dade civil pré-contratual. mente virá pré-fixada em uma cláusula penal.

Quando isso ocorre? Quando, nas negocia- Importante: O pré-contrato deve ter os
ções preliminares, uma das partes cria na outra a mesmos elementos do contrato definitivo, à exce-
justa expectativa de contratação e, sem qualquer ção de um deles: a forma. As partes e o objeto são
justificativa, por mero capricho, não formaliza a pro- os mesmos, mas a forma não precisa ser a mesma.
posta. O fundamento é a quebra da boa-fé objetiva Se o contrato definitivo tem que ser por escritura
na fase das negociações preliminares. Há um abuso pública, nada impede que o pré-contrato seja por
de direito, que é considerado pela lei ato ilícito a instrumento particular.
ensejar responsabilidade civil (art. 187 c/c art. 927,
ambos do CC). Ora, ao criar a justa expectativa de Qual a importância do pré-contrato? Em
contratação, legitima a outra parte a contrair gastos princípio, a responsabilidade civil na fase de nego-
e até a recusar outras propostas, e não concluir o ciações preliminares é extracontratual, pois ainda
contrato sem qualquer justificativa é causar o que não há um contrato. No entanto, se celebrarem um
chamamos de “dano de confiança”, em razão da pré-contrato, as partes transformarão essa respon-
quebra da boa fé objetiva, que deve nortear o com- sabilidade pré-contratual em contratual antes mes-
portamento dos contratantes até mesmo antes da mo da celebração do contrato definitivo, pois o pré-
proposta. contrato é um contrato. Qual a vantagem? A parte
prejudicada não precisará provar a culpa do inadim-
Como exemplo, cito um caso cobrado em plente no descumprimento do contrato nem tam-
prova. Imagine que durante anos um fabricante de pouco o dano, seja sua própria existência, seja a

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sua extensão. Você lembra o que vimos a respeito ta é chamada de fase de policitação ou fase de
do tema? oblação. Isso dá nome aos atores envolvidos: quem
faz a proposta é chamado de proponente ou de
Lembrando: tanto a responsabilidade civil policitante e quem a aceita é chamado de aceitante
extracontratual (em regra) como a contratual são ou de oblato.
subjetivas, mas esta tem culpa presumida. Assim,
se o caso é de responsabilidade contratual, basta Na fase de policitação, não deixa de haver
ao contratante prejudicado provar o inadimplemen- uma negociação entre as partes, o que já acontece
to, sem precisar provar que o outro teve culpa no na fase de puntuação. Ora, qual a diferença entre a
descumprimento do contrato (este poderá elidir sua fase de puntuação e a fase de policitação na forma-
responsabilidade provando não ter tido culpa, pois a ção dos contratos? É a existência de uma proposta.
presunção de culpa é relativa, admitindo prova em A fase de puntuação é a fase de negociações preli-
contrário, o que representa inversão do ônus da minares, ou seja, anterior à proposta. Já a fase de
prova). Por outro lado, se é caso de responsabilida- policitação se dá após a proposta, sucedendo-se
de civil extracontratual subjetiva, a vítima do dano, sucessivas contrapropostas. A pergunta se mantém:
ao cobrar perdas e danos, deverá provar que o como saber se uma conversa entre as partes já
agressor teve culpa em causá-lo. Assim sendo, a configura uma proposta ou apenas negociações
responsabilidade civil contratual é mais vantajosa preliminares, que até pode resultar em uma minuta,
para quem sofre o dano, pois não precisará provar o se reduzido a termo? É a seriedade da proposta.
difícil elemento subjetivo da culpa. Além disso, co- Significa que a proposta é pronta e acabada, abor-
mo há um contrato, podemos pré-fixar as perdas e dando todos os elementos do contrato, pois basta
danos em uma cláusula penal, dispensando a parte um sim para a formação do contrato. Se isso já exis-
prejudicada de provar não só o dano, mas, sobretu- te, é fase de policitação; se ainda não existe, sendo
do, a sua extensão. conversados apenas alguns pontos do contrato, a
fase é de puntuação.
No supramencionado exemplo da compra
dos tomates, o fabricante, por ser fase anterior à O aspecto mais importante da proposta é o
proposta, tem responsabilidade civil extracontratual, seu aspecto vinculatório, ou seja, a proposta obriga
somente sendo responsabilizado civilmente se os o proponente. Se eu faço uma proposta, crio na
agricultores provarem a justa expectativa de contra- outra parte a justa expectativa de contratação, que
tação e a recusa sem qualquer justificativa, mas pode levá-la a contrair gastos e até a recusar outras
também a sua culpa na não celebração do contrato. propostas. Feita a proposta, o proponente a ela se
No entanto, se na fase de negociações preliminares, obriga, ou seja, se houver aceitação, não poderá
as partes reduzirem as bases do contrato a escrito alegar desistência ou arrependimento, podendo o
em um pré-contrato, bastarão provar que o fabrican- aceitante pedir em juízo a execução forçada do
te assinou um pré-contrato e que houve inadimple- contrato ou indenização por perdas e danos. Já é
mento, além de sequer precisar provar o dano e a responsabilidade civil contratual, pois com a aceita-
sua extensão, pois poderão executar direto a cláu- ção o contrato se formou, passando a existir no
sula penal. mundo jurídico. A proposta só obriga o proponente e
a aceitação passa a obrigar ambas as partes.
O mesmo ocorre no exemplo da contratação
do jogador de futebol. Se o clube apenas conversa A questão é: a proposta sempre obriga o
em negociações preliminares, acertando as bases proponente? Não, pois nos termos do art. 427 do
de um futuro contrato, pode ser que, ao final do CC a proposta não obriga o proponente em três
contrato em vigor, o atleta quebre a confiança e casos:
resolva permanecer no clube que está ou contratar
com outro. Para responsabilizá-lo civilmente, deverá a) Se isso resultar dos termos da proposta: se no
provar que o atleta não contratou culposamente, próprio corpo da proposta vier expressa a não obri-
mas, se assinar um pré-contrato, bastará comprovar gatoriedade, não cria justa expectativa de contrata-
o inadimplemento, sem sequer precisar provar o ção na outra parte.
dano e a sua extensão.
b) A depender da natureza do negócio: há certos
5.3. A proposta negócios jurídicos que, por sua natureza, não obri-
gam o proponente, como proposta de venda de
O contrato se forma quando a uma proposta produto com quantidade limitada em estoque, a
se seguir uma aceitação. É raro uma pessoa fazer partir do fim do estoque.
uma proposta e a outra simplesmente a aceitar, pois
é normal se sucederem sucessivas contrapropostas c) A depender de determinadas circunstâncias:
até culminar em uma aceitação final. Essa fase de existem certas circunstâncias que fazem com que a
sucessivas contrapropostas a partir de uma propos- proposta deixe de ser obrigatória, estando elas

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elencadas no art. 428 do CC - a primeira delas para mação? Em regra, quando a aceitação é expedida,
contrato entre presentes e as três restantes para pois é quando o aceitante perde o controle de sua
contrato entre ausentes, a saber: vontade. Como exceção, o contrato entre ausentes
se forma quando a resposta chegar ao proponente,
(i) se feita proposta sem prazo à pessoa presente e se assim convencionado entre as partes.
esta não foi imediatamente aceita;
6. CONTRATOS QUE PRODUZEM EFEITOS A
(ii) se feita proposta sem prazo a pessoa ausente e TERCEIROS
tiver decorrido tempo suficiente para chegar a res-
posta ao conhecimento do proponente; Em razão do princípio da relatividade de
seus efeitos, o contrato só atinge as partes, ou
(iii) se feita proposta com prazo à pessoa ausente e seja, só quem é parte pode ter direito e deveres que
esta não expedir a resposta no prazo; dele decorrem. Todavia, há três contratos em que
um terceiro é por ele atingido, pois terão direitos e
(iv) se feita uma proposta entre ausentes e antes deveres decorrentes de um contrato em que não
dela ou simultaneamente chegar ao conhecimento celebraram originariamente:
da outra parte a sua retratação.
6.1. Estipulação em favor de terceiro: É o contra-
A proposta fixa o local de formação do con- to em que um dos contratantes estipula um terceiro
trato (art. 435 do CC). A importância em saber o para quem o outro contratante deverá cumprir a
local de sua formação é determinar qual lei será prestação. É um terceiro ao contrato tendo um direi-
aplicada ao contrato. to dele decorrente. Exemplo: contrato de compra e
venda em que o estipulante determina a entrega do
5.4. A aceitação bem para um beneficiário. Se a prestação não for
cumprida, o estipulante poderá exigi-la em juízo. O
Se a proposta obriga apenas o proponente, beneficiário também tem esse poder, desde que não
a aceitação vincula também o aceitante, pois ela haja essa restrição no contrato. Caso tenha sido
faz o contrato se formar, passando a existir no mun- retirado do beneficiário esse poder, poderá o estipu-
do jurídico, estando ambas as partes obrigadas ao lante exonerar o devedor de cumprir a prestação. E
seu cumprimento nos termos da responsabilidade a substituição do beneficiário é possível? Sim, inde-
civil contratual. pendente da anuência dele e do outro contratante,
se reservar esta faculdade no contrato.
A aceitação pode ser expressa ou tácita.
Expressa é a aceitação inequívoca, podendo ser 6.2. Promessa de fato de terceiro: É o contrato em
escrita, verbal ou até gestual (ex. leilão). Tácita é a que um dos contratantes promete que um terceiro
aceitação presumida pela prática de um ato incom- cumprirá a prestação para o outro contratante. É
patível com a não aceitação. Exemplo: doação de terceiro ao contrato com um dever dele decorrente.
vaso não aceita de forma expressa, mas o donatário Exemplo: contrato por meio do qual uma das partes
manda buscá-lo na casa do doador e o coloca ex- promete que seu irmão, um cantor famoso, conce-
posto em sua sala. É por isso que o art. 111 do CC derá uma entrevista exclusiva a um programa de
prevê que o silêncio, embora não seja a regra, até rádio. Se o terceiro não cumprir a prestação, o pro-
pode valer como aceitação, mas apenas quando as mitente responde por perdas e danos, mesmo que
circunstâncias indicarem que a pessoa aceitou taci- tenha feito todos os esforços para o cumprimento da
tamente e, evidente, a lei não exija aceitação ex- prestação. O promitente não responderá, mas sim o
pressa. terceiro, se este aceitar a prestação e depois não
cumpri-la. Ademais, o promitente não responde pelo
Conforme visto, a proposta obriga o propo- descumprimento da prestação do terceiro se, pen-
nente. No entanto, essa obrigatoriedade não é dendo sua aceitação, forem casados e, a depender
eterna, mas sim pelo prazo dado. Se houver aceita- do regime de bens do casamento, a cobrança sobre
ção fora do prazo ou até mesmo com modificações, o promitente recair de alguma forma sobre o tercei-
o proponente não é obrigado a concordar, mas se ro.
quiser poderá aceitá-la. Por isso, dizemos que a
aceitação fora do prazo ou com modificações tem 6.3. Contrato com pessoa a declarar: É o contrato
natureza de nova proposta. em que um dos contratantes pode indicar uma pes-
soa que irá assumir a sua posição no contrato. É um
O contrato se forma quando a uma proposta terceiro ao contrato tendo direitos e deveres que
se seguir uma aceitação. Se o contrato é entre dele decorrem. Exemplo: uma pessoa quer comprar
presentes, fácil será determinar o momento, pois uma casa, cujo dono jamais lhe venderá por pro-
proposta e aceitação se dão em tempo real. E se o blemas pessoais, podendo se valer de uma pessoa
contrato for entre ausentes, quando se dá sua for- para contratar com o proprietário, inserindo no con-

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trato cláusula que lhe permite indicá-lo a assumir na civil dos vícios redibitórios com a disciplina con-
sua posição no contrato. Essa indicação deve ser sumerista. Sendo o CDC uma lei especial em rela-
feita em quinze dias, se outro prazo não for estipu- ção ao CC, só aplicamos suas regras quando inapli-
lado, mas tem efeito retroativo à data da celebração cáveis as regras do CDC. Quando, então, aplicamos
do contrato, pois o indicado assume os direitos e as regras dos vícios redibitórios previstas no CC?
deveres do contrato desde a sua celebração e não Quando não houver relação de consumo, o que
apenas a partir da sua nomeação. Esse contrato ocorre em dois casos: (i) quando o alienante não é
exige muita confiança entre quem indicará e quem fornecedor, como ocorre na venda ocasional de um
será indicado, pois se não houver nomeação ou se bem usado, pois ser fornecedor exige habitualidade
esta não for aceita pelo indicado, o contrato produz da negociação; e (ii) quando o adquirente não for
efeitos entre os contratantes originários. consumidor, como ocorre no caso de alguém adqui-
rir um bem para renegociação, pois o CDC afirma
7. GARANTIAS IMPLÍCITAS IMPOSTAS AO ALI- que só é consumidor quem adquire um bem como
ENANTE destinatário final. Aqui nos concentraremos na dis-
ciplina civil do tema, deixando as regras da relação
Quando uma pessoa aliena um bem, deve de consumo para um estudo específico do tema.
garantir ao adquirente, em nome da boa-fé objetiva,
o seu normal uso e fruição, bem como a garantia de Por definição, vícios redibitórios são defeitos
que não o perderá para terceiros por razões de di- ocultos que tornam o bem impróprio para o uso a
reito. Assim sendo, o alienante responde perante o que se destina ou que lhe diminuem o valor. Note
adquirente do bem tanto por defeitos materiais co- que na disciplina civil, diferente da relação de con-
mo por defeitos jurídicos. sumo, o alienante só responde por defeitos ocultos,
ou seja, que não poderia ter sido facilmente detec-
O alienante, responder por defeito material tado pelos órgãos dos sentidos, pois se o vício era
é responder por vício redibitório, ou seja, o bem aparente, presume-se que o adquirente o admitiu,
apresenta um defeito físico que o torna inútil ao seu pois dele ciente.
uso ou que lhe diminui o valor. Por sua vez, respon-
der por defeito jurídico é responder pela evicção, ou Note que o vício redibitório é um defeito ma-
seja, quem alienou o bem não poderia tê-lo feito e o terial que pode tornar o bem impróprio para o seu
adquirente o perdeu para um terceiro, podendo bus- uso ou que pode apenas lhe diminuir o valor. Por-
car uma indenização do alienante. tanto, haverá vício redibitório tanto no defeito oculto
em um motor de um carro que o faz não mais funci-
Procederemos aqui ao estudo em separado onar, como também no defeito oculto de uma má-
do vício redibitório e da evicção. No entanto, de quina que produz determinado produto, diminuindo
plano, merecem destaque três observações comuns a sua produção, embora ela ainda funcione. Assim
a ambos os institutos, pois são questões muito re- sendo, o adquirente pode reclamar do vício redibitó-
correntes em prova e que merecem sua especial rio em juízo optando por uma de duas ações judici-
atenção: ais:

a) O alienante responde por eles mesmo que não a) Ação Redibitória: ação judicial em que se pede
haja previsão expressa em contrato, pois são garan- para redibir o contrato, ou seja, desfazer o negócio
tias implícitas, que decorrem de lei e não da vonta- jurídico. Trata-se de anulação e não de declaração
de das partes. de nulidade, pois a lei impõe prazo para reclamá-lo,
sob pena de convalescimento.
b) O alienante responde por eles apenas diante de
alienações onerosas. Atenção: a doação é uma b) Ação Quanti Minoris ou Ação Estimatória:
alienação gratuita, mas o alienante responderá por ação judicial em que se pede abatimento do preço,
eles quando a doação for com encargo, o que a lei ou seja, o adquirente quer permanecer com o bem,
chama de doação onerosa. mas quer devolução do valor da desvalorização em
razão do defeito oculto ou, se ainda não pagou,
c) O alienante responde por eles mesmo que a descontá-lo quando do pagamento. Nessa ação se
aquisição do bem tenha se dado em hasta pública, apura o valor a ser abatido do preço, o que justifica
ou seja, através da venda pública de bem penhora- o seu nomem iuris: “estimar” “quanto menos” vale o
do em processo de execução. bem.

7.1. Vícios Redibitórios Detalhe importante: o alienante responde


por vícios redibitórios estando ele de má-fé ou até
Aqui a responsabilidade é diante da exis- mesmo de boa-fé, ou seja, sabendo ou não do de-
tência de defeitos materiais, ou seja, o bem está feito oculto. A diferença é que apenas diante da má-
quebrado. Importante você não confundir a discipli- fé será obrigado a indenizar perdas e danos. Nos

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termos do art. 443 do CC, se o alienante agiu de que vende carro roubado, sendo o evicto parado em
boa-fé, apenas ressarcirá o adquirente dos gastos uma blitz e o carro levado à delegacia e devolvido
que teve com o negócio em si, ou seja, devolução ao seu real dono.
do valor recebido e ressarcimento das despesas do
contrato. Se o alienante procedeu de má-fé, não só Informação importante: Nos termos do art.
devolverá o valor recebido, mas também indenizará 448 do CC, as partes podem por cláusula expressa
o adquirente de todas as perdas e danos decorren- reforçar, diminuir ou até excluir a responsabilidade
tes do vício redibitório. do alienante pela evicção. Cuidado, pois a exclusão
só valerá se o evicto foi informado do risco da evic-
Qual o prazo que tem o adquirente para re- ção e o tenha assumido (art. 449 do CC).
clamar vício redibitório em juízo? Depende do bem
adquirido: trinta dias para bem móvel e um ano para Ao perder o bem, o evicto poderá cobrar in-
bem imóvel. A princípio, o prazo se inicia quando da denização do alienante. A regra é o ressarcimento
entrega efetiva do bem e não quando da alienação, da integralidade do dano do evicto, o que lhe permi-
pois só com o seu uso é que ele consegue perceber te cobrar do alienante não só a devolução do que
o defeito oculto. No entanto, se o adquirente já tinha pagou pelo bem, como também as perdas e danos
a posse do bem, o prazo se iniciará quando da prá- em razão da evicção, os frutos que eventualmente
tica do ato, pois é quando adquire legitimidade para tenha sido obrigado a restituir ao evictor e o que
reclamação em juízo, mas os prazos serão reduzi- gastou com custas judiciais e honorários advocatí-
dos à metade, por já ter tido contato com o bem. cios (art. 450 do CC).
Além disso, se for um defeito oculto que por sua
natureza seja de difícil percepção, o prazo só se Ainda dentro da regra da indenização da in-
inicia quando o adquirente dele tiver ciência. Toda- tegralidade do dano, o alienante responderá peran-
via, a lei confere um prazo máximo para ciência do te o evicto por eventual valorização do bem entre a
defeito a se somar ao prazo de reclamação: cento e época da alienação e da evicção. Se o bem se des-
oitenta dias para bem móvel e um ano para bem valorizou, o evicto cobrará do alienante o preço que
imóvel. Por fim, não se esqueça que eventual prazo lhe pagou, mas se houver valorização, cobrará o
de garantia convencional oferecida pelo alienante valor do bem da época em que se evenceu, ou seja,
não substitui o prazo de garantia legal, mas sim a da época em que perdeu o bem pela evicção.
ele se soma, pois, se houver garantia convencional,
o prazo de garantia legal só se inicia quando este Mais uma vez, ainda dentro da regra da in-
for encerrado. denização da integralidade do dano, ainda que o
bem esteja deteriorado, o evicto poderá cobrar do
7.2. Evicção alienante o valor total do bem, a menos que tenha
sido causado dolosamente por ele, quando só pode-
Evicção é a perda ou desapossamento judi- rá cobrar do alienante o valor que passou a valer o
cial, ou excepcionalmente administrativo, de um bem. Note que, se a título de culpa em sentido estri-
bem, em razão de um defeito jurídico anterior à to a deterioração, ainda assim o evicto cobrará do
alienação. Quem alienou o bem não poderia tê-lo alienante o valor integral do bem.
feito, e o adquirente o perdeu, tendo ação de inde-
nização contra o alienante. O adquirente que perde Conforme o estudo da posse, o possuidor
o bem é o evicto, e o terceiro que dele o toma é o que realiza benfeitorias no bem e vem a perdê-lo,
evictor. tem direito de ser indenizado quando as benfeitorias
forem necessárias e úteis. É o caso que ocorre aqui,
Exemplo: estelionatário invade terreno e, pois o evicto tem a posse do bem e a perde para o
falsificando a escritura pública, vende-o. O verda- evictor.
deiro dono ajuíza ação reivindicatória reclamando
seu terreno. Ao se constatar a falsidade da escritura Assim, se ele realizou benfeitorias necessá-
pública, o comprador perderá judicialmente o imó- rias ou úteis no bem antes da perda, poderá recla-
vel, o que chamamos de evicção, tendo apenas mar indenização do evictor. O art. 453 do CC diz
direito indenizatório contra o alienante. que o evicto pode cobrar do alienante o que gastou
com benfeitorias necessárias e úteis, se não foram
Note que a evicção pode se dar excepcio- abonadas, ou seja, se não foram pagas pelo evictor.
nalmente através de uma perda administrativa do No entanto, completa o art. 454 do CC, se as ben-
bem, pois, em alguns casos, a jurisprudência do feitorias foram feitas pelo alienante e abonadas, ou
STJ tem admitido a evicção independente de deci- seja, pagas ao evicto pelo evictor, o valor será de-
são judicial. Destaque para o caso em que há apre- duzido quando o evicto cobrar a indenização do
ensão policial da coisa em razão de furto ou roubo alienante.
anterior à alienação, podendo o caso ser resolvido
no próprio âmbito da delegacia. Exemplo: ladrão

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O caso é de inexecução quando não há
Por fim, fechando o tema evicção, precisa- cumprimento de um contrato perfeito, que é o tema
mos entender o que é evicção parcial, tema que é que aqui estudamos. Perceba a impropriedade do
tratado no art. 455 do CC. Haverá evicção parcial CC ao tratar do tema sob o título “da extinção dos
quando o evicto perder apenas parte do que adqui- contratos”, quando, na verdade, deveria tê-lo intitu-
riu na alienação, por exemplo, quando compra cem lado de “inexecução dos contratos” ou até mesmo
cabeças de gado e perde vinte ou trinta delas pela “da extinção dos contratos pela inexecução”.
evicção. Qual a consequência? Depende se a evic-
ção é considerável ou irrisória, pois uma coisa é A inexecução pode causar três tipos de ex-
perder uma ou duas cabeças de gado, outra é per- tinção do contrato: resilição, resolução e rescisão.
der noventa delas. Se a perda for considerável, o Vamos definir cada um dos institutos, para em se-
evicto pode pedir a rescisão do contrato ou restitui- guida aprofundar o estudo.
ção da parte do preço correspondente ao desfalque
sofrido, ou seja, devolver o que sobrou e cobrar a) Resilição: extinção do contrato por vontade de
devolução do que pagou ou ficar com o que sobrou um ou de ambos os contratantes, ou seja, é quando
e cobrar apenas o equivalente à sua perda. Se, no eu termino o contrato porque quero ou quando ter-
entanto, a perda for irrisória, só poderá o evicto minamos porque queremos, sem ter qualquer razão
cobrar a indenização pela perda sofrida, permane- jurídica para isso. Exemplo: celebrei contrato de
cendo com o que sobrou. aluguel pelo prazo de três anos e decido resili-lo
com dois anos por questão pessoal.
8. EXTINÇÃO DO CONTRATO
b) Resolução: extinção do contrato em razão do
Extinção do contrato é o fim de sua existên- inadimplemento da outra parte, ou seja, um dos
cia, é a sua morte, é o seu desaparecimento do contratantes não cumpre o contrato, legitimando a
mundo jurídico. Extinção é o gênero, que contempla outra parte pedir sua resolução. Exemplo: mesmo
várias espécies, pois é a expressão mais ampla contrato de aluguel de três anos, resolvido pelo
para o fim do contrato, seja pela causa que for. locador em razão do inquilino não pagar o aluguel.

Quando falamos em extinção do contrato, c) Rescisão: não há consenso na doutrina sobre o


esta pode se dar, em princípio, por duas formas significado de rescisão do contrato. Muitos usam o
diferentes: por causa anterior ou superveniente à termo rescisão como sinônimo de extinção do con-
formação do contrato. trato, até mesmo por causa antecedente, sendo,
inclusive, o sentido que caiu no gosto popular, que
Se a causa de extinção do contrato é ante- só fala em rescisão do contrato quando este chega
rior ou até concomitante à sua formação, temos um ao fim. Autores clássicos, como Orlando Gomes e
caso de imperfeição do contrato, pois ele já nasceu Caio Mário, no entanto, com base na doutrina italia-
viciado. Nesse caso, o contrato é inválido, podendo na, ensinam que rescisão em sentido técnico só
ele ser nulo ou anulável, a depender do vício. Não é ocorre quando um contrato é extinto em caso de
tema para aqui ser visto, pois é assunto da parte lesão ou de estado de perigo. Modernamente, esse
geral do direito civil, para onde remetemos sua leitu- não é o entendimento, até porque são defeitos do
ra. negócio jurídico, portanto, causas antecedentes ou
concomitantes à formação do contrato, caso de
Se a causa de extinção do contrato é super- invalidade e não de inexecução, quando pressupo-
veniente à sua formação, estamos tratando de um mos um contrato perfeito. Outros autores mencio-
contrato perfeito, ou seja, que se formou de forma nam rescisão como uma espécie de resolução do
válida, não sendo caso de nulidade nem de anulabi- contrato, significando a resolução culposa ou volun-
lidade. O contrato perfeito pode ser extinto de duas tária, ou seja, quando o contrato é extinto por ina-
formas diferentes: por execução ou por inexecução dimplemento culposo do outro contratante. O conse-
do contrato. lho é evitar o uso do termo rescisão, pois, como não
há consenso, é um risco desnecessário em prova.
Execução do contrato é quando ele é cum-
prido, o que pode ocorrer pelo pagamento ou até 8.1. Resilição do contrato
pelas formas anormais de extinção das obrigações,
quais sejam: pagamento em consignação, paga- Conforme visto, resilição do contrato ocorre
mento com sub-rogação, novação, imputação ao quando há extinção do contrato unicamente em
pagamento, dação em pagamento, compensação, razão da vontade das partes. A resilição pode ser
confusão ou remissão. Também não é tema para unilateral ou bilateral, a depender se a vontade é de
aqui ser tratado, pois é assunto de obrigações, para apenas um dos contratantes ou de ambos. Não se
onde remetemos a sua leitura. discute aqui culpa da parte fazendo surgir uma cau-
sa de extinção do contrato, pois não há causa jurídi-

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ca que motive o seu fim, simplesmente não quero do devedor, pois, se sem culpa, apenas haverá
ou não queremos mais. resolução do contrato.

a) Resilição unilateral: ocorre quando apenas uma Cláusula resolutória é a cláusula que permi-
das partes não quer mais manter o contrato, sem te ao contratante resolver o contrato diante do ina-
precisar externar qualquer razão para isso. O art. dimplemento da outra parte. O contrato pode trazer
473 do CC diz que se opera mediante denúncia uma cláusula resolutória expressa, mas esta tam-
notificada à outra parte, ou seja, o contratante deve bém pode ser implícita aos contratos. Quando isso
notificá-la formalmente. A resilição unilateral do ocorre?
contrato pode se dar quando a lei permitir ou quan-
do houver expressa previsão no contrato. Há casos Todo contrato bilateral tem implícita a cláu-
em que a lei permite a resilição unilateral do contra- sula resolutória. A razão é que todo contrato bilate-
to, razão pela qual não será devedor em perdas e ral é sinalagmático, o que significa que a prestação
danos à outra parte. Por exemplo: o direito de re- de uma das partes é causa da prestação da outra
vogação de contrato de mandato. Pode a lei não parte. Como uma das partes só cumpre a sua pres-
permiti-la, mas a vontade das partes sim, quando tação porque a outra cumpre a sua, o descumpri-
inserem no contrato cláusula permissiva, podendo mento autoriza a outra parte pedir a resolução do
ou não ser fixada uma multa a ser paga ao outro contrato, mesmo que não tenha nele cláusula per-
contratante se esta ocorrer. Se não houver previsão missiva expressa. Sendo contrato unilateral ou pluri-
legal nem contratual, a parte não poderá unilateral- lateral, necessária a cláusula resolutiva expressa no
mente resilir o contrato, podendo ser o caso de re- contrato, para que uma das partes possa pedir a
clamação judicial para sua execução forçada. resolução em razão do inadimplemento ou mora da
Exemplo: contrato de locação em que há previsão outra parte.
apenas para o locatário o resilir, tendo o locador que
esperar o fim do contrato pela total execução. Há vantagem da cláusula resolutória ex-
pressa em relação à implícita, o que justifica sua
b) Resilição bilateral: ocorre quando a extinção do inserção inclusive no contrato bilateral. Vindo ex-
contrato se dá unicamente por vontade, mas de pressa no contrato, haverá extinção automática do
ambas as partes, sendo chamado de distrato. É um contrato em caso de inadimplemento, enquanto que,
acordo das partes, pondo vim à avença contratual, se implícita, depende de interpelação judicial (art.
sem se externar qualquer causa para isso, razão 474 do CC). Além disso, vindo expressa no contra-
pela qual, em princípio, nenhuma das partes deve to, já se insere cláusula penal prefixando o valor da
qualquer indenização ao outro contratante. Impor- indenização por perdas e danos.
tante sobre o tema é o art. 472 do CC, que diz que o
distrato deverá ser feito na mesma forma exigida 8.2.1. Exceção de contrato não cumprido (excep-
para ser feito o contrato. Como exemplo, se o con- tio non adimplenti contractus)
trato de compra e venda de um imóvel de valor su-
perior a trinta salários mínimos deve ser por escritu- Se uma das partes é inadimplente, legitima
ra pública, o distrato assim também deve ser.A a outra a pedir a resolução do contrato. Agora,
imagine que antes disso o inadimplente ajuíze uma
8.2. Resolução do contrato ação cobrando o cumprimento da prestação da ou-
tra parte. O que ela poderá fazer? Sendo um contra-
Resolução do contrato é a sua extinção em to bilateral, poderá alegar a exceção de contrato
razão do inadimplemento ou da mora da outra par- não cumprido, ou seja, que não cumprirá sua pres-
te. Aqui o contrato não termina apenas em razão da tação em razão do autor da ação não ter cumprido a
vontade das partes, pois há uma causa que autoriza sua. A razão já foi exposta: como o contrato bilateral
uma delas a pedir sua extinção: o não cumprimento é sinalagmático, a prestação de uma das partes é
do contrato. causa da prestação da outra parte, razão pela qual
quem não cumpre a sua prestação não pode exigir
Esse descumprimento pode ser com culpa o cumprimento da prestação da outra parte (art. 476
ou sem culpa do contratante inadimplente, o que do CC).
faz com que existam dois tipos de resolução do
contrato: com culpa (voluntária) ou sem culpa (invo- 8.2.2. Resolução sem culpa ou involuntária
luntária). A grande diferença é que no caso de reso-
lução culposa, o inadimplente será devedor de per- A extinção do contrato se dá pelo inadim-
das e danos junto com a resolução, o que não será plemento da outra parte, sem ela ter tido culpa no
devido quando a resolução não for culposa. Perce- descumprimento contratual. Aqui não há indeniza-
ba que aqui falamos de mora e de inadimplemento, ção por perdas e danos, mas apenas resolução do
valendo lembrar que só há mora e inadimplemento contrato, pois o contratante quer cumprir o contrato,
indenizáveis em perdas e danos quando com culpa mas não consegue. Isso ocorre em dois casos: caso

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fortuito ou motivo de força maior e no caso de apli- será daquele que primeiro tinha a obrigação de
cação da teoria da imprevisão ou da onerosidade cumprir sua prestação. A razão disso é o princípio
excessiva. da exceção de contrato não cumprido, pois, se hou-
ver prestações simultâneas e um dos contratantes
a) Caso fortuito ou motivo de força maior: são não cumpre sua prestação, o outro está legitimado a
situações inevitáveis, insuperáveis, que impedem o não cumprir a sua prestação.
contratante de cumprir sua prestação. Imagine con-
trato de compra e venda de produto agrícola, que 8.3. Efeitos no tempo da resolução e da resilição
não pôde ser entregue em razão de violenta tem- dos contratos
pestade que destruiu toda a plantação. Não há cul-
pa no inadimplemento, havendo simples resolução Havendo resolução do contrato, essa deci-
do contrato, retornando as partes ao estado em que são tem efeito retroativo ou não retroativo? Depen-
se encontravam antes de sua celebração, sem direi- de se o contrato for de execução instantânea, diferi-
to de indenização da parte prejudicada. da ou continuada.

Cuidado: há dois casos em que haverá re- Se o contrato é de execução única, ou seja,
solução sem culpa do contratante inadimplente, por de execução instantânea ou até diferida, a decisão
decorrer de caso fortuito ou motivo de força maior, produz efeitos retroativos ou ex tunc, desfazendo-se
mas que haverá dever indenizar o outro contratante o que foi feito até então, pois resolver o contrato é
em perdas e danos: fazer retornar ao estado em que as partes se encon-
travam antes da sua celebração. Assim, se estamos
(i) quando houver previsão expressa no diante da resolução de um contrato de compra e
contrato impondo o dever de indenizar perdas e venda, o comprador devolve o bem e o vendedor
danos pelo seu descumprimento, mesmo em razão devolve o dinheiro recebido, buscando-se eventual
de caso fortuito ou motivo de força maior (art. 393 indenização diante da perda ou deterioração do
do CC); e bem ou até em razão de algum melhoramento por
que passou.
(ii) quando a impossibilidade da prestação
se dá por caso fortuito ou motivo de força maior Se, no entanto, o contrato for de execução
que ocorre durante a mora do contratante (art. 399 prolongada no tempo, ou seja, de execução conti-
do CC). nuada, os efeitos serão não retroativos ou ex nunc,
mantendo-se os efeitos até então produzidos. A
b) Teoria da imprevisão ou da onerosidade ex- razão disso é evitar um enriquecimento sem causa
cessiva: o tema já foi visto em contratos, quando do de um dos contratantes. Imagine um contrato de
estudo do princípio da obrigatoriedade mitigado pela locação: se a resolução tivesse efeito retroativo,
cláusula rebus sic stantibus, para onde remetemos faria com que o locador devolvesse o valor recebido
a sua leitura. É resolução do contrato sem culpa, durante o contrato, não tendo como o inquilino de-
pois acontece fato superveniente e imprevisível que volver o tempo que usou o bem, o que lhe geraria
desequilibra economicamente o contrato, legitiman- um enriquecimento sem causa por ter alugado o
do o pedido de resolução do contrato pelo fato da lei imóvel por um tempo sem por isso pagar.
não exigir mais o seu cumprimento.
O efeito retroativo (ex tunc) da resolução
8.2.3. Resolução com culpa ou voluntária (que, dos contratos de execução instantânea ou diferida
para alguns autores, é a rescisão) e o efeito não retroativo (ex nunc) da resolução dos
contratos de execução continuada valem tanto para
A extinção do contrato se dá pelo inadim- a resolução com culpa quanto para a resolução sem
plemento da outra parte, tendo ela culpa no des- culpa. A única diferença entre eles é que na resolu-
cumprimento do contrato. Exemplo: contrato de ção culposa o inadimplente será devedor de indeni-
aluguel resolvido em razão do inquilino não ter pago zação por perdas e danos, o que não ocorre, em
o aluguel porque não quis ou porque foi negligente. regra, na resolução sem culpa.
A diferença para a resolução não culposa é que
aqui o inadimplente, além de suportar a resolução Cuidado com um detalhe: no caso da reso-
do contrato, deve pagar indenização por perdas e lução sem culpa decorrente da aplicação da teoria
danos ao outro contratante (embora isso possa da imprevisão ou da onerosidade excessiva, para
ocorrer na resolução sem culpa, mas por exceção cuja abordagem remetemos sua leitura, seja contra-
nos casos supramencionados). to de execução continuada ou diferida, o efeito será,
por expressa previsão legal, retroativa, mas até à
A resolução com culpa não pode ser bilate- data da citação do processo em que o contratante
ral, apenas podendo ser unilateral. Se ambas as pede a sua resolução (a teoria não se aplica aos
partes tiverem culpa no inadimplemento, a culpa contratos de execução instantânea).

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E se o caso for de resilição do contrato, a A assertiva está errada, de acordo com a doutrina
decisão tem efeito retroativo ou não retroativo? os deveres anexos ou satelitários como integrantes
Quando falamos em resilição, estamos falando de da obrigação como um todo, e seu descumprimento
contrato de execução continuada, pois na resilição o se torna em ilícito contratual. Sobre o tema veja o
contratante quer interromper o cumprimento da sua Enunciado 24, CJF: “Art. 422: em virtude do princí-
prestação prolongada no tempo. Por isso, a resilição pio da boa-fé, positivado no art. 422 do novo Código
do contrato tem efeito não retroativo ou ex nunc, Civil, a violação dos deveres anexos constitui espé-
não se desfazendo os efeitos produzidos até então, cie de inadimplemento, independentemente de cul-
mas apenas afastando a produção de efeitos daí pa.” E o disposto no art. 422 do CC: “Os contratan-
para frente, até porque não há qualquer causa jurí- tes são obrigados a guardar, assim na conlusão do
dica a gerar o seu término, apenas o acordo de contrato, como em sua conclusão, os princípios da
vontades em acabar com um contrato que produziu probidade e boa-fé.”
efeitos normalmente até então.
4. (CESPE - 2012 - AGU - Advogado da União)
QUESTÕES DE CONCURSOS Com base nas regras relativas à extinção e à reso-
lução dos contratos, julgue os itens subsequentes.
1 - (CESPE – 2015 – AGU - Advogado da União) De acordo com o STJ, contratada a venda de safra
A respeito dos contratos, julgue o próximo item à luz para entrega futura com preço certo, a incidência de
do Código Civil. pragas na lavoura não dará causa à resolução por
Se vendedor e comprador estipularem o cumpri- onerosidade excessiva, ficando o contratante obri-
mento das obrigações de forma simultânea em ven- gado ao cumprimento da avença.
da à vista, ficará afastada a utilização do direito de ( ) Certo ( ) Errado
retenção por parte do vendedor caso o preço não
seja pago. COMENTÁRIOS
( ) Certo ( ) Errado A afirmativa está correta, pragas em lavoura não
são consideradas como fatos imprevisíveis, não se
COMENTÁRIOS dando a resolução do contrato por onerosidade
A questão está errada, De acordo com o disposto excessiva, conforme podemos observar na ementa
no art. 491, CC: “Não sendo a venda a crédito, o do seguinte julgado:
vendedor não é obrigado a entregar a coisa antes
de receber o preço.”.
DIREITO CIVIL. NÃO CARACTERIZAÇÃO DA
2 - (CESPE – 2013 - AGU - Procurador Federal) A "FERRUGEM ASIÁTICA" COMO FATO EXTRA-
respeito do negócio jurídico, das obrigações, dos ORDINÁRIO E IMPREVISÍVEL PARA FINS DE
contratos e da responsabilidade civil, julgue os itens RESOLUÇÃO DO CONTRATO.
a seguir.
Os contratos são passíveis de revisão judicial, ainda A ocorrência de “ferrugem asiática” na lavoura de
que tenham sido objeto de novação, quitação ou soja não enseja, por si só, a resolução de contrato
extinção, haja vista não ser possível a validação de de compra e venda de safra futura em razão
obrigações nulas. de onerosidade excessiva. Isso porque o advento
( ) Certo ( ) Errado dessa doença em lavoura de soja não constitui o
fato extraordinário e imprevisível exigido pelo art.
478 do CC/2002, que dispõe sobre a resolução do
COMENTÁRIOS contrato por onerosidade excessiva. Precedente
A afirmativa está correta. Trata-se do teor do verbe- citado: REsp 977.007-GO, Terceira Turma, DJe
te da Súmula n. 286, do STJ: "A renegociação de 2/12/2009. REsp 866.414-GO, Rel. Min. Nancy An-
contrato bancário ou a confissão da dívida não im- drighi, julgado em 20/6/2013. (Informativo n. 526)
pede a possibilidade de discussão sobre eventuais 5. (CESPE - 2009 - AGU - Advogado da União) No
ilegalidades dos contratos anteriores." que tange à responsabilidade civil, julgue o item
seguinte.
3 - (CESPE – 2012 - AGU - Advogado da União) Embora o CC somente tenha feito referência à boa-
Com relação à validade, existência e interpretação fé na conclusão e na execução do contrato, a dou-
de negócios jurídicos, julgue os próximos itens. trina entende haver lugar para a responsabilidade
O ilícito contratual caracteriza-se apenas pelo des- pré-contratual, a qual não se aplica aos chamados
cumprimento de regras expressamente convencio- contratos preliminares, mas aos contatos anteriores
nadas, devendo o descumprimento de deveres ane- à formalização do pacto contratual.
xos ser discutido na seara da responsabilidade civil. ( ) Certo ( ) Errado
( ) Certo ( ) Errado

COMENTÁRIOS

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COMENTÁRIOS
A afirmativa está CERTA e tem por fundamento o
disposto no art. 422 do Código Civil: “Os contratan-
tes são obrigados a guardar, assim na conclusão do
contrato, como em sua execução, os princípios de
probidade e boa-fé.” Insta mencionar também o
Enunciado n. 25 da I Jornada do CJF cujo verbete
dita que: “Art. 422: O art. 422 do Código Civil não
inviabiliza a aplicação pelo julgador do princípio da
boa-fé nas fases pré-contratual e pós-contratual.”

6. (CESPE - 2009 - AGU - Advogado da União)


Com base na disciplina relativa à extinção dos con-
tratos, julgue os itens a seguir.
Para que o juiz resolva contrato entre particulares,
com base na aplicação da teoria da imprevisão,
basta a parte interessada provar que o aconteci-
mento ensejador da resolução é extraordinário, im-
previsível e excessivamente oneroso para ela.
( ) Certo ( ) Errado

COMENTÁRIOS:
A alternativa está ERRADA. De acordo com o art.
478 do Código Civil , para ser aplicada a teoria da
imprevisão além do acontecimento ensejador da
resolução ter de ser extraordinário, imprevisível e
excessivamente oneroso para ela, são requisitos
que o contrato seja de execução continuada ou
diferida e com extrema vantagem para outra parte.
Importante mencionar o Enunciado n. 365 da IV
Jornada do CJF cujo teor dispõe que: “Art. 478. A
extrema vantagem do art. 478 deve ser interpretada
como elemento acidental da alteração das circuns-
tâncias, que comporta a incidência da resolução ou
revisão do negócio por onerosidade excessiva,
independentemente de sua demonstração plena.”

7. (CESPE - 2007 - AGU - Procurador Federal -


Prova 1) No campo das obrigações e dos contratos,
várias novas teorias têm sido delineadas pela dou-
trina e pela jurisprudência. A esse respeito, julgue
os itens que se seguem.
A partir do princípio da função social, tem-se estu-
dado aquilo que se convencionou chamar de efeitos
externos do contrato, que constituem uma releitura
da relatividade dos efeitos dos contratos.
( ) Certo ( ) Errado

COMENTÁRIOS
A assertiva está certa, o princípio da função social
do contrato consta do Código Civil e pode ser vis-
lumbrado no art. 421 do referido diploma: “A liber-
dade de contratar será exercida em razão e nos
limites da função social do contrato.”

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GABARITO

QUESTÕES (DIREITOS DAS OBRIGAÇÕES)

1-CERTO
2- ERRADO
3-CERTO
4- CERTO
5- ERRADO
6- CERTO

QUESTÕES (DIRETOS DOS CONTRATOS)

1- ERRADO
2-CERTO
3- ERRADO
4- CERTO
5- CERTO
6- ERRADO
7- CERTO

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CONTRATOS EM ESPÉCIE para ser negociado no mercado poderá também ser
futuro.
Por Cristiano Sobral c) Preço: justo, certo, determinado e em moeda
corrente, de acordo com o artigo 315 do Código
1. COMPRA E VENDA (arts. 481 a 532 do CC) Civil. Tal elemento possui ainda algumas regras
especiais:
1.1. Conceito
c.1) preço por avaliação – art. 485 do Código Civil;
A definição do contrato de compra e venda está
conceituada de maneira clara e objetiva no artigo c.2) preço à taxa de mercado ou de bolsa – art. 486
481 do Código Civil: do Código Civil;

Art. 481. Pelo contrato de compra e venda, um dos c.3) preço por cotação – art. 487 do Código Civil;
contratantes se obriga a transferir o domínio de
certa coisa, e o outro, a pagar-lhe certo preço em c.4) preço tabelado e médio – art. 488 do Código
dinheiro. Civil;

1.2. Natureza jurídica c.5) preço unilateral – art. 489 do Código Civil.

a) Contrato bilateral ou sinalagmático – proporciona, 1.4. As despesas e riscos do contrato


reciprocamente, obrigações para ambas as partes.
Salvo cláusula em contrário, as despesas de escri-
b) Contrato oneroso – gera repercussão econômica tura e o registro ficarão sob a responsabilidade do
com a sua elaboração para ambas as partes. comprador, e as da tradição, a cargo do vendedor.
E quanto aos riscos? Até o momento da tradição, os
c) Contratos aleatórios ou comutativos – regra geral, riscos da coisa cabem por obrigação ao vendedor, e
os contratos são comutativos em razão das presta- os do preço, ao comprador. Todavia, os casos for-
ções serem certas. No entanto, a possibilidade de tuitos, ocorrentes no ato de contar, marcar ou assi-
risco não está completamente excluída. nalar coisas, que comumente se recebem, contan-
do, pesando, medindo ou assinalando, e que já
d) Contrato consensual – nasce do consenso entre foram postas à disposição do comprador, correrão
as partes, uma delas será responsável em aceitar o por conta deste. Compete também ao comprador os
preço e a outra a contraprestação. riscos das referidas coisas, se estiver em mora de
as receber, logo que ordenadas no tempo, lugar e
e) Contrato formal ou informal – a compra e venda pelo modo ajustados. Essa é a previsão legal.
de bens imóveis com valor superior a trinta salários
mínimos federais deverá ser sempre por escritura 1.5. Restrições à compra e venda
pública. Todavia, se inferior, a mesma poderá ser
feita por instrumento particular. a) Venda de ascendente para descendente – prevê
o diploma civil: art. 496.
f) Contrato instantâneo ou de longa duração – o
instantâneo se consumará com a prática do ato, o Art. 496. É anulável a venda de ascendente a des-
de longa duração, necessita de tempo para se exau- cendente, salvo se os outros descendentes e o côn-
rir. juge do alienante expressamente houverem consen-
tido. Parágrafo único. Em ambos os casos, dispen-
g) Contrato paritário ou de adesão – será paritário sa-se o consentimento do cônjuge se o regime de
quando as partes estiverem em pé de igualdade; já bens for o da separação obrigatória.
o contrato de adesão ocorre assim que uma das
partes estipula as cláusulas e a outra terá somente Conforme previsto, a lei destaca a anulabilidade,
como escolha a aceitação das mesmas. mas em quanto tem tempo? Deve ser ressaltado o
prazo estipulado no artigo 179 da lei civil, afastando
1.3. Elementos constitutivos a Súmula n. 494 do STF.
b) Venda de bens sob administração – é proibida
a) Partes: capazes (aptidão genérica) e a legitima- pelo artigo 497 do Código Civil. Nesse caso, desta-
ção (aptidão específica). ca-se a nulidade!
b) Coisa: deve ser disponível para sua comerciali-
zação dentro do mercado. O objeto tem de ser lícito c) Venda entre cônjuges – reza o artigo 499:
e determinado ou determinável. Segundo previsão “Art. 499. É lícita a compra e venda entre cônjuges,
do artigo 483 do Código Civil, o objeto do contrato com relação a bens excluídos da comunhão.”

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d) Venda de parte indivisa em condomínio – não nistrativo, foi citado na lei civil no art. 519, dispondo
pode um condômino de coisa indivisível vender a que: “Se a coisa expropriada para fins de necessi-
sua parte a terceiros sem notificar o outro proprietá- dade ou utilidade pública, ou por interesse social,
rio da res. O artigo 504 da lei civil salienta a obser- não tiver o destino para que se desapropriou, ou
vância do direito de preferência. não for utilizada em obras ou serviços públicos,
caberá ao expropriado direito de preferência, pelo
1.6. Regras especiais da compra e venda preço atual da coisa. Sobre a matéria, veja Enunci-
ado da VII Jornada de Direito Civil: “Art. 519 – O art.
a) Venda por amostra, por protótipos ou por mode- 519 do Código Civil derroga o art. 35 do Decreto-Lei
los – se a venda ocorrer dessa forma, o vendedor n. 3.365/1941 naquilo que ele diz respeito a cená-
assegurará ter a coisa as qualidades que a elas rios de tredestinação ilícita. Assim, ações de retro-
correspondem. Essa é a regra do artigo 484 da lei cessão baseadas em alegações de tredestinação
civil. ilícita não precisam, quando julgadas depois da
b) Venda a contento e sujeita à prova – entende-se incorporação do bem desapropriado ao patrimônio
que é aquela realizada sob condição suspensiva, da entidade expropriante, resolver-se em perdas e
ainda que tenha recebido a coisa. Aquele que rece- danos”. (Enunciado n. 592)
be a coisa será considerado como comodatário.
Assim, em caso de descumprimento da mesma, c) Cláusula de venda com reserva de domínio – a
poderá o alienante propor ação para recuperar a previsão encontra-se nos artigos 521 a 528 do CC.
posse. Observe os artigos 509 a 512 do CC/2002. Recai sobre bens móveis e será estipulada por es-
c) Venda ad mensuram e ad corpus – a ad mensu- crito, dependendo de registro no domicílio do com-
ram (art. 500, caput) é aquela em que o preço do prador para valer contra terceiros. O comprador do
bem é medido pela área. Em caso de descumpri- bem só alcançará a propriedade depois de pagas
mento da mesma, prevê a lei a possibilidade de todas as parcelas. Uma vez descumprida a mesma
algumas ações. Quais são elas? Ação ex empto e constituído o comprador em mora, poderá o ven-
(complementação da área), Ação Redibitória (extin- dedor propor ação de cobrança ou busca e apreen-
guir o negócio), Ação Estimatória ou Quanti Minoris são para recuperar a posse do bem.
(abatimento). Essas ações têm o prazo de um ano d) Venda sobre documentos ou trustreceipt – por
decadencial, consoante previsão do artigo 501. Na intermédio dos arartigo 529 ao 532, verifica-se a
venda ad corpus (art. 500, § 3º), as metragens e a venda em que a tradição da coisa é substituída pela
área são apenas para localizar o bem, mas não entrega de um título que a representa.
influenciam no preço. Nessa venda não são cabí-
veis as Ações retromencionadas. 2. TROCA OU PERMUTA (art. 533 do CC)

1.7. Cláusulas especiais ou pactos adjetos 2.1. Conceito

a) Retrovenda ou cláusula de resgate – por meio Nessa modalidade contratual prevista no artigo 533
dos arts. 505 a 508 da lei civil, podem ser observa- da lei civil, as partes pactuam suas obrigações, re-
dos esse pacto acessório. A mesma recai sobre munerando-se, através da compensação dos ofícios
bens imóveis e o prazo máximo para o retrato será estabelecidos por cada uma delas. Difere do contra-
de três anos. Não se trata de cláusula personalíssi- to de compra e venda, pois na permuta a contra-
ma, pois a mesma é cessível e transmissível a her- prestação é feita pelo pagamento de um preço em
deiros e legatários. dinheiro.

b) Cláusula de preempção, preferência ou prelação 2.2. Natureza jurídica


– Os artigos 513 a 520 do CC estabelecem esse
pacto adjeto que poderá recair sobre bens móveis e a) Contrato bilateral ou sinalagmático – apresenta,
imóveis. O prazo para o exercício do pacto não po- reciprocamente, deveres para ambas as partes, que
derá exceder a cento e oitenta dias para os bens se obrigam a dar uma coisa recebendo outra dife-
móveis e dois anos para os imóveis. Uma vez pac- rente de dinheiro.
tuado a cláusula e inexistindo prazo estipulado, o
direito de preempção caducará, se a coisa for mó- b) Contrato comutativo – as partes se cientificam de
vel, não se exercendo nos três dias, e, se for imóvel, suas obrigações no ato da elaboração, por serem
não se exercendo nos sessenta dias subsequentes certas e determinadas no ato da celebração.
à data em que o comprador tiver notificado o ven-
dedor. Tal direito é personalíssimo, pois não se c) Contrato consensual – ocorre com a manifesta-
pode ceder nem passa aos herdeiros. ção das partes.
Atenção: O instituto da retrocessão causado pela
tredestinação ilícita (por não ter sido observado o
interesse público e o desvio), regra do Direito Admi-

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d) Contrato formal ou informal, solene ou não solene
– a lei não impõe maiores formalidades para a sua 4. DOAÇÃO (arts. 538 a 554 do CC)
celebração;
4.1. Conceito
e) Contrato translativo – a transmissão da coisa
ocorrerá com a tradição, trazendo consigo no con- A sua definição encontra-se melhor conceituada no
trato. artigo 538 do Código Civil:

f) Contrato oneroso – apresenta repercussão eco- Considera-se doação o contrato em que uma pes-
nômica. soa, por liberalidade, transfere do seu patrimônio
bens ou vantagens para o de outra.
3. CONTRATO ESTIMATÓRIO (arts. 534 a 537 do
CC) Atenção: Sobre a promessa de doação vejamos o
teor do Enunciado n. 549 da VI Jornada de
3.1. Conceito Direito Civil: “A promessa de doação no âmbito da
transação constitui obrigação positiva e perde o
Esse contrato pode ser chamado também de venda caráter de liberalidade previsto no art. 538 do Códi-
em consignação, tem por finalidade vender, em go Civil.”
nome próprio, bens móveis de propriedade de ter-
ceiros. O proprietário/consignante dará somente a 4.2. Natureza jurídica
posse do bem ao vendedor/consignatário, não sen-
do entregue o domínio da coisa. Sua previsão está a) Contrato unilateral/bilateral – apresenta obrigação
nos artigos 534 a 537 do Código Civil. somente para uma das partes; porém, no caso de
doação modal, ocorre uma imposição para aquele
3.2. Natureza jurídica que recebe bens ou vantagens de um ônus.

a) Contrato bilateral ou sinalagmático – caracteriza- b) Contrato gratuito – a doação será, em regra, gra-
do pela reciprocidade nas obrigações entre os con- tuita (excepcionalmente haverá a doação modal,
tratantes. conferindo vantagens a ambas as partes).

b) Contrato oneroso – proporciona repercussão c) Contrato consensual –é formado pela manifesta-


econômica. ção de vontade das partes.

c) Contrato real –concretizado com a efetiva entrega d) Contrato real – ocorre sempre que a doação en-
do bem. volver bem de pequeno valor seguido de sua tradi-
ção (doação oral/manual);
d) Contrato comutativo – as partes são cientificadas
de suas obrigações no ato da elaboração. e) Contrato comutativo – acontece quando as partes
são cientificadas de suas obrigações no ato da ela-
e) Contrato informal ou não solene –a lei não impõe boração;
maiores formalidades para a sua celebração.
f) Formal e solene – desde que a doação de bem
f) Contrato instantâneo e temporário – o primeiro se imóvel seja superior a 30 salários mínimos.
consuma com a prática do ato, já o segundo se
efetua por meio do termo final para a venda da coi- g) Formal e não solene – todas as vezes que o bem
sa consignada. imóvel for superior a 30 salários mínimos, porém
não há necessidade de escritura pública.
3.3. Efeitos e regras
4.3. Espécies de doação
– É análogo a uma obrigação alternativa, pois o
vendedor/consignatário poderá devolver o valor a) pura e simples (art. 543 do CC) – o ato possui
inicialmente estimado ou a própria coisa. liberdade plena, não se submetendo a condição,
termo ou encargo;
– A coisa deve ser móvel e livre para alienação, não
podendo estar gravada com cláusula de inalienabili- b) contemplativa (art. 540, 1ª parte, do CC) – o doa-
dade. dor efetua a mesma por mera liberalidade, expres-
sando o motivo;
Atenção! Nesta relação contratual, o consignante
possui o domínio, transferindo ao consignatário c) remuneratória (art. 540, 2ª parte, do CC) – se
somente a posse do bem móvel. origina da realização de serviços prestados, cujo

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pagamento o donatário não pode ou não deseja m) do cônjuge adúltero ao seu cúmplice (art. 550 do
cobrar; CC) – é a doação feita entre amantes, geralmente
por pessoas casadas com impedimento de contrair
d) ao nascituro (art. 542 do CC) – é válida desde união estável, sendo anulável no prazo decadencial
que aceita pelo seu representante legal. Trata-se de de dois anos. A anulabilidade do contrato poderá
modalidade que depende, necessariamente, de ser proposta pelo cônjuge traído ou também pelos
condição suspensiva para vigorar, pois condiciona a herdeiros necessários. Todavia, a mesma poderá
validade do contrato de doação ao nascimento do ser convalidada no caso dos cônjuges estarem se-
feto com vida; parados de fato;

e) ao absolutamente incapaz (art. 543 do CC) – n) conjuntiva (art. 551 do CC) – trata-se da doação
trata-se de doação pura, não há necessidade da de um determinado bem a dois ou mais donatários,
aceitação do donatário, pois se presume que o in- os quais se tornarão cotitulares do bem;
capaz aceitou, inexistindo prova em contrário (iure
et iure); o) modal ou onerosa (art. 553 do CC) – é aquela em
que o doador atribui ao donatário um encargo, o
f) de ascendente a descendente ou de um cônjuge qual se torna elemento modal do negócio jurídico;
ao outro (art. 544 do CC) – está relacionado ao adi-
antamento da legítima, visto que confere às doa- p) à entidade futura (art. 554 do CC) – a entidade
ções o valor, que dele em vida receberam, sob pena deverá se constituir regularmente com a inscrição
de sonegação. Não confundir esse tipo de doação dos atos constitutivos no respectivo registro no pra-
com a inoficiosa prevista no artigo 549 da lei civil; zo máximo de dois anos; no entanto, se ela não
estiver devidamente composta dentro desse prazo o
g) em forma de subvenção periódica (art. 545 do contrato poderá caducar.
CC) – trata-se de pagamentos mensais (trato su-
cessivo) realizados pelo doador ao donatário, extin- 4.4. Revogação da doação
guindo-se com o falecimento de uma das partes,
exceto no caso de falecimento do doador, que pode- São os casos definidos nos artigos 555 ao 564 do
rá estabelecer aos seus herdeiros a continuação Código Civil e merecem ser conferidos!
dos pagamentos ao favorecido;
4.5. Hipóteses de irrevogabilidade por ingratidão
h) propter nuptias (art. 546 do CC) – é aquele dire-
cionado para as núpcias, ou seja, aplicado para Conforme o artigo 564 da lei civil, as doações que
casamento futuro, não vigendo o contrato em caso não serão revogadas por ingratidão serão:
de não consumação do mesmo;
a) as puramente remuneratórias;
i) com cláusula de reversão ou retorno (art. 547 do b) as oneradas com encargo já cumprido;
CC) – trata-se de contrato de doação intuitu perso- c) as que se fizerem em cumprimento de obrigação
nae, desde que a mesma esteja direcionada somen- natural;
te ao donatário, pois caso ele venha a falecer antes d) as feitas para determinado casamento.
do doador, o bem retornará ao patrimônio deste,
ainda que tenha alienado o imóvel antes da morte; 5. LOCAÇÃO DE COISAS (art. 565 e segs., do
CC)
j) universal (art. 548 do CC) – é nula tal modalidade,
pois a lei veda a doação pelo doador se ele não 5.1. Conceito
possuir bens suficientes para a sua subsistência.
Tal medida visa tutelar a qualidade de vida do doa- É o contrato em que o locador cede ao locatário
dor (regra em sintonia com o princípio da dignidade determinado bem, objetivando que o mesmo use e
da pessoa humana); goze da coisa de forma contínua e temporária, me-
diante o pagamento de aluguel.
l) inoficiosa (art. 549 do CC) – significa que a doa-
ção efetuada ultrapassou o quinhão disponível para 5.2. Natureza jurídica
testar. Note: O doador tem R$ 200 mil reais e faz
uma doação de R$ 120 mil reais, o ato será válido a) Bilateral ou sinalagmático – as partes possuem
até os R$ 100 mil reais e nulo com relação aos R$ vantagens e desvantagens recíprocas.
20 mil. Atenção! A Ação de redução é a que tem
como objetivo a declaração de nulidade da parte b) Oneroso – é essencialmente econômico, isto é,
inoficiosa. por meio da cobrança de alugueres.

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c) Comutativo – as partes são cientificadas de suas c) levar ao conhecimento do locador as turbações
obrigações no ato da celebração do contrato de de terceiros, que se pretendam fundadas em direito;
locação. d) restituir a coisa, finda a locação, no estado em
que a recebeu, salvas as deteriorações naturais ao
d) Consensual – a vontade das partes é a essência uso regular.
do contrato, 5.7. Locação por prazo determinado

e) Informal e não solene – inexiste obrigatoriedade De acordo com a regra prevista no artigo 573 do
de escritura pública como também de contrato es- Código Civil, esta modalidade cessa de pleno direito
crito. com o fim do prazo estipulado, independentemente
de notificação ou aviso.
f) Execução continuada – as prestações perduram
com o passar do tempo. 5.8. Aluguel pena

g) Típico – caracterizado por possuir regulamenta- Reza a norma civilista:


ção legal no Código Civil.
Art. 575. Se, notificado o locatário, não restituir a
h) Paritário ou de adesão – será paritário quando as coisa, pagará, enquanto a tiver em seu poder, o
partes estiverem em pé de igualdade no ato de es- aluguel que o locador arbitrar, e responderá pelo
tabelecer as cláusulas contratuais e de adesão as- dano que ela venha a sofrer, embora proveniente de
sim que uma das partes estipular as cláusulas e a caso fortuito.
outra somente puder aderi-las para que se possa Parágrafo único. Se o aluguel arbitrado for manifes-
obter o objeto do contrato. tamente excessivo, poderá o juiz reduzi-lo, mas
tendo sempre em conta o seu caráter de penalida-
5.3. Pressupostos de.

a) coisa; 5.9. A aquisição do bem por terceiro e a cláusula


b) temporariedade; de vigência
c) aluguel.
Se o bem – objeto do contrato – for alienado duran-
5.4. Dos deveres do locador te a vigência do contrato de locação, o adquirente
não ficará obrigado a respeitá-lo, se nele não for
O locador é obrigado a entregar ao locatário a coisa consignada a cláusula da sua vigência, no caso de
alugada, com suas pertenças, em estado de servir alienação, e não constar de registro.
ao uso a que se destina, assegurando a utilização
pacífica da coisa. Devendo o locatário, durante o 5.10. A sucessão na locação
período contratual, manter a coisa no estado em
que se encontra, salvo se previsto diversamente em Destaca o artigo 577 da lei civil:
cláusula. Art. 577. Morrendo o locador ou o locatário, transfe-
re-se aos seus herdeiros a locação por tempo de-
5.5. O direito potestativo da redução proporcio- terminado.
nal do aluguel ou a resolução do contrato

Conforme preceitua o artigo 567 da lei civil, se du- 5.11. Indenização por benfeitorias
rante a locação a coisa alugada for deteriorada, sem
culpa do locatário, a este caberá pedir redução pro- Exceto disposição em contrário, o locatário goza do
porcional do aluguel, ou resolver o contrato, caso já direito de retenção, no caso de benfeitorias neces-
não sirva a coisa para o fim a que se destinava. sárias, ou no de benfeitorias úteis, se estas houve-
rem sido feitas com expresso consentimento do
5.6. Dos deveres do locatário locador, conforme prevê o artigo 578 da lei civil.
Atenção: Sobre o tema veja V Jornada de Direito
Os deveres legais estão elencados no rol do artigo Civil, vejamos: “Art. 424. A cláusula de renúncia
569 do Código Civil: antecipada ao direito de indenização e retenção por
a) servir-se da coisa alugada para os usos conven- benfeitorias necessárias é nula em contrato de loca-
cionados ou presumidos, consoante a natureza dela ção de imóvel urbano feito nos moldes do contrato
e as circunstâncias, bem como tratá-la com o mes- de adesão” (Enunciado n. 433).
mo cuidado como se sua fosse;
b) pagar pontualmente o aluguel nos prazos ajusta- 5.12. A locação na Lei n. 8.245/91
dos, e, em falta de ajuste, segundo o costume do
lugar;

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Esta lei se aplica somente nas relações locatícias a) É a única ação que o locador pode sugerir para
de imóvel urbano, consoante previsto em seu artigo recuperar o imóvel objeto da locação.
1º.
b) Tem natureza de ação de rescisão de dissolução
5.12.1. Ações inquilinárias ou locatícias contratual, com natureza eminentemente pessoal e
não possessória ou real.
5.12.1.1. Conceito
c) Segue o rito ordinário, consoante artigo 59 da Lei
São quatro as ações previstas na lei de locações: a n. 8.245/91.
de despejo, a consignatória de alugueres e encar-
gos locatícios, a revisional de aluguel e a renovató- d) No polo passivo figurará o locatário, sublocatário
ria de imóveis não residenciais. e/ou quem o tenha legitimamente substituído.
Além dessas, poderão ser propostas também: a
ação de execução dos encargos locatícios, confor- e) É permitido o deferimento de medidas liminares
me disposto no artigo. 585, inciso V, do CPC/73 inaudita altera pars, conforme § 1º do artigo 59 da
(corresponde ao art. 784, VIII, do CPC/15), e a in- Lei n. 8.245/91.
denizatória, pelo locatário em face do locador, ale-
gando que o imóvel locado apresentava defeitos f) O despejo também poderá ocorrer por denúncia
causadores tanto de danos morais quanto de mate- cheia ou vazia. A primeira ação está baseada no
riais. artigo 47 da lei do inquilinato; já a segunda está
Portanto, a Lei n. 8.245/91 é uma norma híbrida, disposta no artigo 6º desta lei;
pois cuida de aspectos materiais, procedimentais,
como também processuais. g) Pode ser proposta ação de despejo por falta de
pagamento ou por infração contratual; pedido para
5.12.1.2. Lei do inquilinato: aspectos gerais uso próprio; ausência de conservação ou deteriora-
ção do imóvel locado ou, ainda, realizar obras sem
Algumas questões relevantes devem ser analisadas o consentimento do locador.
no estudo da Lei 8.245/91. O primeiro ponto a ser
analisado é o juízo competente para propor as h) A sentença tem caráter mandamental por dispen-
ações de despejo. Aqui se aplica a regra de compe- sar a sua fase final de liquidação.
tência do foro da situação da coisa, disposta no
artigo 95 do CPC/73 (corresponde ao art. 47, do 5.12.1.3.2. Ação consignatória de aluguéis e
CPC/15), por trazer maior facilidade ao juízo a pro- acessórios na locação (art. 67 da Lei n. 8.245/91)
ximidade com o bem objeto do desalijo.
a) Esta ação tem por característica evitar a inadim-
Como previsto pelo artigo 58 da Lei n. 8.245/91, o plência do locatário através do depósito efetuado
valor da causa para a propositura da ação de des- em juízo quando proposta a exordial.
pejo corresponderá a 12 meses de aluguel, ou, na
hipótese do inciso II do artigo 47, a três salários b) Transcorre pelo rito especial.
vigentes por ocasião do ajuizamento.
c) Caracteriza-se como uma ação que visa ao pa-
Segundo recente entendimento do STJ, o despejo gamento indireto da obrigação e tem como parte
para uso próprio poderá ser proposto nos Juizados autora o locatário.
Especiais Cíveis, posto que os incisos do artigo 3º
da Lei n. 9.099/95 não são cumulativos e o inciso III d) Diversamente da ação consignatória prevista no
do mesmo artigo não possui limite de valor tanto CPC, esta modalidade não tem caráter dúplice, pois
para bens imóveis como para os alugueres vencidos a lei preceitua o cabimento de reconvenção nos
ou vincendos, se os mesmos existirem. termos do inciso VI do artigo 67 da lei do inquilinato.
Por último, deve ser esclarecido que o recurso con-
tra sentença proferida, nesses casos, será o de 5.12.1.3.3. Ação revisional de aluguel (arts. 68 a
apelação e deverá ser recebido somente no efeito 70 da Lei n. 8.245/91)
devolutivo, permitindo assim o diploma legal, a exe-
cução provisória do julgado. a) Pode ser ofertada tanto pelo locador, buscando o
aumento do valor dos alugueres, como poderá ser
5.12.1.3. Espécies proposta pelo locatário com o objetivo de reduzi-los.

5.12.1.3.1. Ação de despejo (arts. 59 a 66 da Lei b) Este benefício poderá ser utilizado somente pelo
n. 8.245/91) prazo de três anos, ainda que a ação tenha sido
proposta pela parte contrária.

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c) Segue o rito sumário, conforme artigo 68 da lei do 6. EMPRÉSTIMO
inquilinato.
6.1. Aspectos gerais
d) O juiz fixará o aluguel provisório por meio dos
elementos fornecidos pelo autor da ação, que será Esse tipo de contrato abrange tanto o comodato
devido desde a citação. como o mútuo. Ambos os institutos se assemelham
por terem como objeto a entrega da coisa para ser
e) Na audiência de conciliação, consoante recente usada e restituída ao dono originário ao final do
alteração pela Lei n. 12.112/09, deverá ser apresen- negócio estabelecido. Diferenciam-se em razão da
tada a contestação, contendo a contraproposta; natureza da coisa emprestada, pois se o bem for
caso exista discordância quanto ao valor pretendido, fungível o contrato será de mútuo e, se o mesmo for
tentará o juiz a conciliação; em caso de impossibili- infungível, comodato.
dade, determinará a realização de perícia, se ne-
cessária, designando, desde logo, audiência de 6.2. DO COMODATO (EMPRÉSTIMO DE USO)
instrução e julgamento. (arts. 579 a 585 do CC)

f) O aluguel fixado em sentença retroage à citação e 6.2.1. Conceito


as diferenças devidas durante a ação de revisão
abrangerá os alugueres vincendos, bem como os A melhor definição está expressa no artigo 579 do
vencidos e não pagos; as mensalidades locatícias CC:
serão pagas com correção monetária exigível a Art. 579. O comodato é o empréstimo gratuito de
partir do trânsito em julgado da decisão que fixar o coisas não fungíveis. Perfaz-se com a tradição do
novo aluguel; como também serão descontados os objeto.
alugueres provisórios já satisfeitos.
6.2.2. Natureza jurídica
g) No final da ação locatícia serão cobradas as dife-
renças locatícias entre o aluguel provisório e o defi- a) Real – se perfaz com a tradição do bem infungí-
nitivo. vel.

h) A ação de despejo poderá ser fundamentada pelo b) Gratuito – como disposto acima, ainda que o
inadimplemento dos alugueres provisórios. comodatário efetue o pagamento dos encargos de
comodato (p. ex., condomínio, IPTU, dentre outros),
5.12.1.3.4. Ação renovatória de contrato (arts. 71 este contrato é considerado gratuito.
a 75 da Lei n. 8.245/91)
c) Informal e não solene – não possui formalidade
a) Esta ação visa à renovação compulsória do con- prevista em lei.
trato de locação escrito, e não residencial, por prazo
determinado, vigendo no mínimo de forma ininter- d) Unilateral – confere obrigações somente ao co-
rupta pelo prazo de 5 anos, com exploração da modatário.
mesma atividade pelo prazo mínimo de três anos,
devendo esta demanda correr no rito ordinário. e) Personalíssimo – extingue-se com a morte do
comodatário.
b) Ela deverá ser proposta no prazo máximo de 1
ano e 6 meses após o término do contrato. f) Fiduciário – como o próprio nome diz, é baseado
na confiança entre o comodante e comodatário.
c) A legitimidade ativa é do locatário.
6.2.3. Legitimação para celebrar o contrato
d) Nesta demanda será fixado o aluguel provisório a
ser devido após o término da vigência do contrato Em regra, todos os bens imóveis/móveis são passí-
de locação. veis de ser objeto de contrato de comodato, no en-
tanto, excepcionalmente a lei dispõe que não pode-
e) O aluguel fixado na sentença poderá ser cobrado rão dar em comodato, sem autorização especial, os
imediatamente, independentemente da propositura bens confiados à guarda dos tutores, curadores e
do recurso. todos os administradores de bens alheios, em geral.

f) Não sendo renovada a locação, o juiz determinará 6.2.4. Prazo determinado e indeterminado
a expedição de mandado de despejo, dentro do
prazo de 30 (trinta) dias para a desocupação volun- Nos casos pactuados por prazo determinado, não
tária, se houver pedido na contestação. poderá o comodante suspender o uso e gozo da
coisa emprestada antes de findo o prazo convenci-

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onal, salvo se houver uma urgente necessidade a) Unilateral – gera obrigações somente para uma
reconhecida pelo juiz. das partes, neste caso, o mutuário.

O comodato poderá não ter prazo convencionado, e b) Gratuito – só traz ônus para o mutuante; o mutuá-
nesse caso se presumirá o prazo através da neces- rio irá devolver sem ônus. Excepcionalmente esta
sidade da utilização da coisa. modalidade contratual será onerosa, nas situações
de mútuo feneratício ou, como é popularmente co-
6.2.5. Obrigações do comodatário e o chamado nhecido, empréstimo em dinheiro.
aluguel-pena
c) Informal e não solene – por inexistir previsão
O comodatário tem como obrigação conservar o legal sobre a forma de celebração, podendo ser
imóvel como se seu fosse, não podendo usá-lo em feito por instrumento particular.
desacordo com o contrato ou a sua natureza, sob
pena de responder por perdas e danos. d) Real – se concretiza com a entrega do bem fun-
Este será notificado para que dessa forma seja gível.
constituído em mora, respondendo tanto pelo atraso
quanto também pelos alugueres da coisa que forem 6.3.3. A transferência da coisa
arbitrados pelo comodante até a efetiva entrega das
chaves, caracterizando, nesse caso, uma espécie Este contrato se caracteriza pela transferência do
de cláusula penal típica do contrato de comodato. domínio da coisa emprestada ao mutuário, que as-
sume todos os riscos do bem fungível desde a tradi-
6.2.6. Responsabilidade do comodatário ção.

Em situação de eminente risco da perda dos bens 6.3.4. Mútuo feito à pessoa menor
do comodante e do comodatário, e, este último,
tendo somente como salvaguardar os seus perten- O mútuo realizado por menor de idade, quando não
ces abandonando os do comodante, deverá ser autorizado por seus responsáveis legais, isto é,
responsabilizado pelo dano ocorrido, ainda que se aqueles que possuem a sua guarda, não poderá ser
trate de caso fortuito ou força maior. Vale enfatizar, reivindicado, nem pelo menor nem tampouco por
que mesmo nestes casos, não será suprimida a quem possui a sua guarda. Todavia, essa regra
culpa do comodatário que pretere a coisa alheia possui 5 exceções:
emprestada em prol de seus pertences.
a) se o representante legal do menor posteriormente
6.2.7. Despesas do contrato ratificar a necessidade do mútuo;

Não é possível o comodatário recobrar do comodan- b) se o menor se viu obrigado a contrair o emprés-
te as despesas feitas com o uso e gozo da coisa timo para os seus alimentos habituais em razão da
emprestada. ausência de seu representante legal;

6.2.8. A solidariedade no contrato c) se o menor tiver bens ganhos com o seu trabalho,
observando-se que a execução do credor não lhes
Só é possível a existência da solidariedade no con- poderá ultrapassar as forças;
trato de comodato no caso de duas ou mais pesso-
as serem, simultaneamente, comodatárias da mes- d) se o empréstimo reverteu em benefício do menor;
ma coisa, ficando solidariamente responsáveis para
com o comodante. e) se o menor obteve o empréstimo maliciosamente.

6.3. DO MÚTUO (EMPRÉSTIMO DE CONSUMO) 6.3.5. A garantia no mútuo e a exceptio non


(arts. 586 a 592 do CC) adimplenti contractus

6.3.1. Conceito Verificando o mutuante que o mutuário poderá ina-


dimplir com o mesmo o contrato firmado, poderá
O conceito do contrato de mútuo está previsto no este exigir a garantia legal, podendo ser ela real ou
artigo 586 do Código Civil: fidejussória, com o objetivo de buscar maior segu-
Art. 586. O mútuo é o empréstimo de coisas fungí- rança jurídica. Contudo, mesmo adimplindo o con-
veis. O mutuário é obrigado a restituir ao mutuante o trato, se o mutuário não cumprir com seu mister, a
que dele recebeu em coisa do mesmo gênero, qua- dívida vencerá antecipadamente ante a exceptio
lidade e quantidade. non rite adimpleti contractus, como disposto no arti-
go 477 do Código Civil.
6.3.2. Natureza jurídica

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6.3.6. O mútuo feneratício ou mercantil e a limi- 7.1. Conceito
tação de juros
São aquelas reguladas pelo Código Civil, como toda
Versa sobre o mútuo destinado a fins econômicos, espécie de serviço ou trabalho lícito, material ou
cujos juros cobrados presumir-se-ão devidos, po- imaterial que pode ser contratada mediante retribui-
dendo até chegar ao limite previsto no artigo 406 do ção, e que não esteja sujeita às leis trabalhistas ou
Código Civil, sob pena de redução. à lei especial.

Segundo entendimento do STJ, os contratos bancá- 7.2. Natureza jurídica


rios, que não foram regulamentados pela legislação
específica, poderão possuir juros moratórios no a) Bilateral – gera deveres a ambas as partes.
limite de 1% para se convencionar. Além disso, a
simples estipulação de juros remuneratórios superi- b) Comutativo – as partes possuem o prévio conhe-
ores a 12% ao ano não traz indícios de abusividade. cimento das obrigações contratuais.

O STF ainda entende que a Lei de Usura (DL n. c) Personalíssimo/intuitu personae – deve ser pres-
22.626/33) não é aplicável às instituições bancárias tado somente pelas partes que pactuaram os ter-
(Súmula n. 596 do STF). mos do contrato.

Atenção: Veja as seguinte Súmulas do STJ: d) Oneroso – possui repercussão econômica.


Súmula n. 379 do STJ: “Nos contratos bancários
não regidos por legislação específica, os juros mo- e) Informal/não solene – não tem previsão legal
ratórios poderão ser convencionados até o limite de quanto à sua forma, podendo ser verbal, escrito, ou
1% ao mês.” por instrumento particular.

Súmula n. 382 do STJ: “A estipulação de juros re- f) Consensual – deriva da vontade comum das par-
muneratórios superiores a 12% ao ano, por si só, tes.
não indica
abusividade.” 7.3. Objeto do contrato

Sumúla n. 539 do STJ: “É permitida a capitalização Como informado anteriormente, é toda espécie de
de juros com periodicidade inferior a anual em con- serviço ou trabalho lícito, material ou imaterial que
tratos celebrados com instituições integrantes do pode ser contratada mediante retribuição.
Sistema Financeiro Nacional a partir de 31/3/2000
(MP n. 1.963-17/2000, reeditada como MP n. 2.170- Atenção: Enunciado n. 541 da VI Jornada de Direi-
36/2001), desde que expressamente pactuada.” to Civil: “O contrato de prestação de serviço pode
ser gratuito.”
Súmula n. 541, do STJ: “A previsão no contrato
bancário de taxa de juros anual superior ao duodé- 7.4. A remuneração (a não presunção de gratui-
cuplo da mensal e suficiente para permitir a cobran- dade)
ça da taxa efetiva anual contratada.”
A remuneração será, em regra, paga após a presta-
6.3.7. Prazo para a realização do pagamento do ção do serviço, podendo ser convencionada de for-
mútuo ma diversa, ou seja, o pagamento poderá se con-
cretizar no início dos trabalhos ou, também, ser
Inexistindo convenção entre as partes, o mútuo será dividido em três parcelas, efetuando o pagamento
devido: de 1/3 no início, outros 1/3 durante a execução dos
serviços e o restante ao final.
a) se for de produtos agrícolas, até a próxima co-
lheita quando já estiverem prontos para o consumo No que tange aos valores devidos, se inexistir esti-
ou para a semeadura; pulação prévia e muito menos a possibilidade de
acordo entre as partes, deverá ser proposta ação
b) pelo prazo de 30 dias, se ele for de dinheiro; para que o juiz arbitre a remuneração de acordo
com o costume do lugar, o tempo de serviço e sua
c) se for de qualquer outra coisa fungível sempre qualidade.
que declarar o mutuante.
7.5. Prazo máximo do contrato

7. DA PRESTAÇÃO DE SERVIÇO (arts. 593 a 609 Prevê a lei civil no caput de seu artigo 598:
do CC)

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Art. 598. A prestação de serviço não se poderá con- 7.11. A declaração formal da dissolução do con-
vencionar por mais de quatro anos, embora o con- trato
trato tenha por causa o pagamento de dívida de
quem o presta, ou se destine à execução de certa e Ao final do contrato, o prestador de serviço tem o
determinada obra. Neste caso, decorridos quatro direito de exigir da outra parte uma declaração,
anos, dar-se-á por findo o contrato, ainda que não afirmando que as obrigações contraídas foram fina-
concluída a obra. lizadas, bem como se for despedido sem ou com
justa causa.
7.6. Resilição do contrato
7.12. Exigência de capacitação
O prazo para estabelecer a resilição contratual fica-
rá ao arbítrio de ambas as partes, mediante prévio Nas hipóteses de prestação de serviço por pessoa
aviso. Entretanto, a lei estipula prazos gerais, caso que não possua título de habilitação ou não satisfa-
as partes não pactuem previamente tais limites: ça requisitos estabelecidos em lei, não poderá ser
cobrada retribuição correspondente ao trabalho
a) oito dias de antecedência, nas hipóteses de re- executado por quem o prestou.
muneração fixada por tempo de um mês, ou mais;
Se o serviço for prestado de boa-fé, o juiz arbitrará
b) quatro dias de antecedência, se a remuneração compensação razoável, exceto quando a proibição
for ajustada por semana ou quinzena; da prestação de serviço resultar de lei de ordem
pública.
c) quando a contratação tenha sido por prazo inferi-
or a sete dias, poderá ser avisado na véspera. 7.13. Formas de extinção do contrato

7.7. Inexecução do contrato A lei civil estabeleceu algumas formas de extinção


do contrato, dentre elas consta a morte de qualquer
A lei civil dispõe que não será contado o tempo em das partes, escoamento do prazo contratualmente
que o prestador de serviço não tenha efetuado a determinado, conclusão da obra, rescisão do contra-
sua tarefa. to mediante aviso prévio, inadimplemento de qual-
quer das partes ou impossibilidade da continuação
7.8. Amplitude do contrato do contrato motivada por força maior.

Quando nesta modalidade de contrato não se esta- 7.14. Aliciamento do prestador de serviço
belecer a tarefa que o prestador de serviço deverá
executar, entende-se que o mesmo se obrigou a Atente-se para a leitura do artigo 608 do Código
todo e qualquer serviço compatível com as suas Civil:
forças e condições. Art. 608. Aquele que aliciar pessoas obrigadas em
contrato escrito a prestar serviço a outrem pagará a
7.9. Responsabilidade pela ruptura culposa do este a importância que ao prestador de serviço, pelo
contrato ajuste desfeito, houvesse de caber durante dois
anos.”
Não poderá o prestador de serviço contratado por
tempo certo ou por obra determinada se ausentar 7.15. Alienação do prédio agrícola e suas conse-
sem justa causa antes de preenchido o tempo ou quências
concluída a obra.
Não implica a rescisão do contrato quando o prédio
Dessa forma, terá o contratante direito à retribuição agrícola, local da prestação de serviços, é alienado,
vencida, através das perdas e danos. Essa punição salvo no caso em que o prestador opte em continuar
também se aplicará para o caso do prestador ser com o adquirente da propriedade ou com o contra-
despedido por justa causa. tante inicial.

7.10. Perdas e danos 8. EMPREITADA (arts. 610 a 626 do CC)

Nas hipóteses em que o prestador de serviço for 8.1. Conceito


despedido sem justa causa, o contratante será obri-
gado a lhe pagar a integral retribuição vencida Trata-se de contrato em que o contrata-
acrescida da metade da remuneração a que caberia do/empreiteiro se obriga, sem subordinação ou de-
a ele, caso pudesse cumprir com o termo legal do pendência, a realizar pessoalmente ou por terceiros
contrato. determinada obra para o dono ou para o empreiteiro

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contratado, com material próprio ou fornecido pelo dados ou das regras técnicas em trabalhos de tal
dono da obra, mediante remuneração determinada natureza.
ou proporcional ao trabalho executado.
8.5. Responsabilidade do empreiteiro
8.2. Natureza jurídica
Existem três pontos a serem analisados:
a) Bilateral – gera deveres a ambas as partes.
a) Consoante o artigo 617 do CC:
b) Comutativo – possui o prévio conhecimento das
obrigações contratuais. Art. 617. O empreiteiro é obrigado a pagar os mate-
riais que recebeu, se por imperícia ou negligência
c) Oneroso – proporciona repercussão econômica. os inutilizar.

d) Informal e não solene – não há previsão legal b) O empreiteiro responderá durante o irredutível
expressa quanto à sua forma, podendo ser verbal, prazo de cinco anos, pela solidez e segurança do
escrito ou por instrumento particular. trabalho, como também em razão dos materiais
utilizados; contudo decairá o direito do dono da obra
e) Consensual – deriva da vontade comum das par- que não propuser a ação contra o empreiteiro, nos
tes. 180 dias seguintes ao aparecimento do vício ou
defeito; cumpre ressaltar que tal responsabilidade é
f) Instantâneo ou de longa duração – o primeiro se objetiva segundo a norma do artigo 618 do CC, cuja
consumará com a prática do ato, já o segundo ne- obrigação é de resultado.
cessita de tempo para se exaurir.
c) Se a obra ficar paralisada sem justo motivo resol-
g) Não personalíssimo – sua execução pode ser ve-se em perdas e danos, podendo o empreiteiro
confiada a terceiros, sob a responsabilidade do em- suspender a obra nos casos do artigo 625 do CC.
preiteiro.
8.6. Subempreitada
8.3. Espécies
Esta modalidade contratual não possui natureza
a) de lavor – neste contrato o empreiteiro somente personalíssima, podendo a execução da obra ser
contribui com o seu trabalho; confiada a terceiros, desde que os mesmos não
assumam a direção ou fiscalização do serviço, fi-
b) mista – o empreiteiro contribui com o seu traba- cando limitados os danos resultantes de defeitos
lho, mas também com os materiais necessários durante o irredutível prazo de cinco anos.
para a sua realização;
9. DEPÓSITO (arts. 627 a 652 do CC)
c) de projeto – a obrigatoriedade do empreiteiro é
somente entregar o seu projeto final; 9.1. Conceito

d) instantânea – é estabelecida remuneração fixa Neste contrato, o depositário recebe um objeto mó-
para a execução da obra; vel para guardar até que o depositante o reclame,
sendo em regra gratuito, exceto se houver conven-
e) por medida/ad mensuram – nesta modalidade, a ção em contrário e for fruto de atividade negocial ou
fixação do preço é determinada pelas etapas reali- se o depositário o praticar por profissão.
zadas, isto é, a remuneração é proporcional ao tra-
balho executado; 9.2. Natureza jurídica

f) por administração – na qual o empreiteiro se en- a) Real – depende da entrega da coisa.


carrega da execução do projeto, pesquisando preço,
profissionais, dentre outros aspectos, sendo remu- b) Unilateral – somente gera obrigações a uma das
nerado de forma fixa ou através de um percentual partes, todavia excepcionalmente na hipótese do
sobre o custo da obra. artigo 643 do Código Civil, poderá se tornar contrato
bilateral imperfeito.
8.4. Deveres e direitos do dono da obra
c) Gratuito – regra geral onera somente uma das
Quando a obra for concluída de acordo com o que partes, havendo extraordinariamente remuneração
foi pactuado inicialmente, o dono da obra será obri- ao depositário.
gado a aceitá-la, podendo rejeitá-la caso o emprei-
teiro se afaste das instruções recebidas, dos planos

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d) Informal – não obstante o deposito voluntário se
provar por escrito, não há regramento específico Além disso, terá como dever:
para a sua celebração.
a) custodiar a coisa com o devido zelo;
e) Não solene – pode ser feito por instrumento parti-
cular. b) obter autorização do depositante para usar a
coisa depositada;
f) Personalíssimo – o contrato será ajustado de
acordo com o depositário, podendo ser afastado c) restituir o bem no prazo final, no local pactuado,
quando o depositário for pessoa jurídica. se responsabilizando pela coisa até a sua efetiva
entrega.
g) Temporário – pode ser estipulado prazo final ou
não nesta modalidade de contrato. 9.5. Direitos e deveres do depositante

9.3. Modalidades Como dever, consta o de pagar pelas despesas


referentes à manutenção do depósito, bem como
a) voluntário – decorre da autonomia da vontade sobre os prejuízos que a coisa gerar ao depositário.
das partes; O depositário tem o direito de ser ressarcido no
caso de deterioração do bem depositado.
b) necessário – não resulta da autonomia da vonta-
de, sendo subdividido em: 9.6. Da prisão do depositário infiel

b.1) legal – origina-se do direito positivo; A presente matéria, objeto de antigas controvérsias,
b.2) miserável – sucede de calamidade pública; foi pacificada pela Súmula Vinculante n. 25 do STF
b.3) hospedeiro – depende da guarda das bagagens e Súmula n. 419, do STJ estabelecendo que:
de hospedes;
Súmula Vinculante n. 25. É ilícita a prisão civil de
c) regular – deriva de bem infungível e inconsumí- depositário infiel, qualquer que seja a modalidade
vel; do depósito.

d) irregular – oriunda de bem fungível ou consumí- Súmula n. 419, do STJ. Descabe a prisão civil do
vel; depositário judicial infiel.

e) judicial – possui como finalidade resguardar a 9.7. Extinção do depósito


coisa até a decisão final judicial, derivando de man-
dado judicial; O presente contrato será extinto por resilição unila-
teral, pelo término do prazo estabelecido, pelo pere-
f) bem indivisível – diz o artigo 639 da lei civilista: cimento da coisa, morte do depositário e pela inca-
pacidade civil do depositário. Importante se faz
Art. 639. Sendo dois ou mais depositantes, e divisí- mencionar a Lei n. 2.313/54, prevendo que após o
vel a coisa, a cada um só entregará o depositário a prazo de 25 anos, se a coisa não for reclamada, os
respectiva parte, salvo se houver entre eles solidari- bens serão recolhidos ao Tesouro Nacional.
edade.
10. DO MANDATO (arts. 653 a 692 do CC)
g) fechado – conforme o artigo 630 do Código Civil:
Art. 630. Se o depósito se entregou fechado, colado, 10.1. Conceito
selado, ou lacrado, nesse mesmo estado se mante-
rá.” Esta modalidade contratual ocorre enquanto alguém
substitui outra pessoa, com poderes legais necessá-
9.4. Direitos e deveres do depositário rios confiados para agir em nome do representado,
atuando consoante sua vontade.
A lei traz ao longo do texto os seguintes direitos:
10.2. Natureza jurídica
a) o depositante terá o direito de obter a restituição
sobre as despesas necessárias; a) Unilateral – gera somente obrigações ao manda-
tário.
b) direito de retenção do bem depositado para o
caso de inadimplemento; b) Gratuito – se não ficar estipulada remuneração,
c) ser remunerado, nas hipóteses que é devida a exceto quando se tratar de ofício ou profissão lucra-
remuneração. tiva do mandatário.

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l) Solidário – com cláusula in solidum, cada manda-
c) Oneroso – será cabível a remuneração pactuada tário poderá realizar o mister independente dos de-
entre as partes e, na ausência, a prevista em lei de mais.
acordo com a categoria profissional, estabelecendo-
se, ainda, conforme os usos e costumes do lugar da m) Fracionário – sempre que existir divisão de tare-
celebração ou por arbitramento judicial. fas devidamente delimitada entre os mandatários.

d) Consensual – deriva da autonomia da vontade n) Singular – preza pela existência de apenas um


das partes. outorgado.

e) Comutativo – as partes já conhecem os seus o) plural – sempre que vários são nomeados no
efeitos. instrumento de mandato.

f) Preparatório – serve para preparar a prática de 10.4. Submandato


um terceiro ato.
Contrato acessório ao mandato principal, devendo
g) Informal e não solene – inexiste previsão legal ser escrito, por meio do instrumento de substabele-
sobre o seu formato. cimento, e tem como objeto obrigação de fazer fun-
gível. Se houver reservas, tanto o mandatário quan-
10.3. Espécies to o submandatário podem realizar as tarefas. To-
davia, quando este instrumento for sem reservas, o
a) Judicial – possui a finalidade de representar pe- mandatário revoga os seus próprios poderes peran-
rante o Poder Judiciário o outorgante. te o mandante, repassando-os para o submandatá-
rio.
b) Legal – não há instrumento por decorrer da lei.
10.5. Obrigações do mandatário
c) Escrito – materializado por instrumento público ou
particular. A lei civil estabelece as regras gerais de obrigações
do mandatário nos artigos 667 a 674, cuja leitura se
d) Verbal – inexiste documento escrito, sendo evi- faz obrigatória, podendo ser listados aqui os princi-
denciado por prova testemunhal. pais deveres:

e) Expresso e tácito – o primeiro se forma explicita- a) agir em nome do mandante dentro dos limites
mente através de sua forma, podendo ser verbal ou outorgados no instrumento de mandato;
escrito, entretanto, o segundo se dá com a definição
dos deveres em decorrência de outra pessoa. b) ser diligente na execução do contrato e indenizar
no caso de prejuízo causado por sua culpa ou de
f) Aparente – terá o mandatário o dever de remune- quem substabeleceu;
rar, adiantar as despesas necessárias, reembolsar
as despesas feitas na execução do mandato, res- c) prestar contas com o mandante, transferindo as
sarcir os prejuízos, honrar os compromissos em seu vantagens provenientes do instrumento de mandato;
nome assumidos, vincular-se com quem seu procu-
rador contratou, responsabilizar-se solidariamente d) se identificar como mandatário perante terceiros
nas hipóteses legais, pagar a remuneração do subs- com quem tratar;
tabelecido e vincular-se a terceiro de boa-fé.
e) concluir a tarefa a que foi contratado.
g) Salariado – trata-se de obrigação de meio, em
que a remuneração se dá independente do resulta- 10.6. Obrigações do mandante
do-fim.
É de extrema importância a leitura dos artigos 675 a
h) Geral – engloba todo o patrimônio do outorgante. 681 do CC, podendo ser enumerados aqui os prin-
cipais deveres:
i) Especial – abrange um ou mais negócios do man-
dante. a) satisfazer todas as obrigações contraídas pelo
mandatário, na conformidade do mandato conferido,
j) Conjunto – quando há uma pluralidade de manda- e adiantar a importância das despesas necessárias
tários que devem participar do ato designado. à execução dele, quando necessário se fizer;

b) a pagar ao mandatário pela remuneração ajusta-


da e despesas da execução do mandato, ainda que

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o negócio não surta o esperado efeito, exceto tendo retribuição. Mas, a onerosidade não é da essência
o mandatário culpa; do contrato podendo ser gratuito.

c) é obrigatório o mandante ressarcir ao mandatário 11.3. Normas relativas ao contrato de transporte


as perdas que este sofrer com a execução do man-
dato, sempre que não resultem de culpa sua ou de Apesar da lei estabelece regras de direito privado,
excesso de poderes; no entanto, o art. 731 traz ressalva para as hipóte-
ses relativas ao transporte público que pode ser
d) o mandante ficará obrigado para com aqueles executado de forma direta ou através de delegação
com quem o seu procurador contratou, ainda que o ao particular, por concessão (delegação bilateral),
mandatário contrarie as instruções originárias; permissão (licitação da prestação de serviços públi-
cos) ou autorização (ato administrativo unilateral,
e) o mandatário tem direito de retenção sobre a precário e discricionário).
coisa de que tenha a posse em virtude do mandato,
até se reembolsar do que no desempenho do en- O art. 732 dispõe que, em geral, são aplicáveis aos
cargo despendido; contratos de transporte, quando couber, desde que
não contrariem as disposições da lei civil, os precei-
10.7. Extinção do contrato tos constantes da legislação especial e de tratados
e convenções internacionais.
O Código Civil regulamenta o tema nos artigos 682
a 691 determinando a extinção nas hipóteses de Atenção: Veja os Enunciados n. 37 da I Jornada de
revogação, renúncia, morte de uma das partes, Direito Comercial, 369 da IV Jornada de Direito Civil
interdição de uma das partes, mudança de estado e 559 da VI Jornada de Direito Civil:
de uma das partes, término do prazo e conclusão do
negócio. Enunciado n. 37. “Aos contratos de transporte aéreo
internacional celebrados por empresários aplicam-
11 DO TRANSPORTE (arts. 730 a 756, CC) se as disposições da Convenção de Montreal e a
11.1. Conceito regra da indenização tarifada nela prevista (art. 22
do Decreto n. 5.910/2006).”
A lei civil traz no art. 730 define o contrato de trans-
porte dispondo que: “Pelo contrato de transporte Enunciado n. 369. “Diante do preceito constante no
alguém se obriga, mediante retribuição, a transpor- art. 732 do Código Civil, teleologicamente e em uma
tar, de um lugar para outro, pessoas ou coisas”. visão constitucional de unidade do sistema, quando
Essa modalidade contratual é uma obrigação de o contrato de transporte constituir uma relação de
resultado, tendo em vista que a coisa ou a pessoa consumo, aplicam-se as normas do Código de De-
devem ser transportadas com segurança. Nesse fesa do Consumidor que forem mais benéficas a
conceito está implícita a cláusula de incolumidade este.”
cujo significado é transportar o passageiro/bagagem
são e salvo até o seu destino. Enunciado n. 559. “Observado o Enunciado n. 369
do CJF, no transporte aéreo, nacional e internacio-
11.2. Natureza jurídica nal, a responsabilidade do transportador em relação
aos passageiros gratuitos, que viajarem por corte-
a)Bilateral ou sinalagmático - deveres proporcionais sia, é objetiva, devendo atender à integral reparação
para as partes. de danos patrimoniais e extrapatrimoniais.”
b)Consensual - formado pelo consenso das partes,
independente da entrega da coisa ou passageiro. Cumpre mencionar que as Convenções de
Sua validade não está ligada à entrega da coi- Varsóvia e de Montreal limitam a indenização em
sa/pessoa, pois essa corresponde à execução con- caso de perda/extravio de bagagem ou atraso de
tratual. voo em viagens internacionais. Mas o CDC deve ser
c)Comutativo - as prestações já são conhecidas aplicado, não prevalecendo a tarifação limitada em
pelas partes. respeito ao direito básico da reparação integral dos
d)De adesão - o transportador é quem em geral danos (art. 6º, VI, da Lei n. 8.078/1990). Todavia,
impõe as cláusulas contratuais (art. 54, CDC e arts. importante mencionar que a questão sobre a anti-
423 e 424 do CC) . Destaca-se que nada obsta que nomia entre os diplomas no que tange às regras de
ele seja paritário, podendo as partes discutir as indenização em transporte aéreo internacional foi
cláusulas. levada ao Supremo Tribunal Federal, que suspen-
e)Informal e não solene - não há solenidade e exigi- deu o julgamento do Recurso Extraordinário
bilidade para a sua realização. 636.331 e Recurso Extraordinário com Agravo
766.618. Sobre o tema ver o Informativo n. 745,
Atenção: No art. 730 o contrato se opera mediante STF.

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O art. 733 trata do transporte cumulativo, estabele- grave.”
cendo que cada transportador se obriga a cumprir o
contrato relativamente ao respectivo percurso, res- O transportador sujeita-se aos horários e itinerários
pondendo pelos danos nele causados a pessoas e previstos, sob pena de responder por perdas e da-
coisas. O dano, resultante do atraso ou da interrup- nos, salvo motivo de força maior (art. 737). A obri-
ção da viagem, será determinado em razão da tota- gação de resultado e a incidência da responsabili-
lidade do percurso. No caso de substituição de al- dade civil objetiva fundada no risco.
gum dos transportadores no decorrer do percurso, a
responsabilidade solidária será estendida ao substi- Passageiros considerados inconvenientes, que não
tuto. estejam em condições de viajar, podem ser impedi-
dos pelo transportador. Se o prejuízo sofrido pela
11.4. Transporte de pessoas (arts. 734 a 742, CC) pessoa transportada for atribuível à transgressão de
normas e instruções regulamentares, o juiz reduzirá
O transportador responde pelos danos causados às equitativamente a indenização, na medida em que a
pessoas transportadas e suas bagagens, salvo mo- vítima houver concorrido para a ocorrência do dano.
tivo de força maior, sendo nula qualquer cláusula (art. 738).
excludente da responsabilidade. É lícito ao transpor-
tador exigir a declaração do valor da bagagem a fim O art. 739 prevê que o transportador não recusará
de fixar o limite da indenização. (art. 734, CC). Tra- passageiros, salvo nas hipóteses previstas nos re-
ta-se de obrigação de resultado do transportador, gulamentos, ou se as condições de higiene ou de
acarretando a sua responsabilidade civil objetiva saúde do interessado o justificarem.
baseada na teoria do risco. O risco não é integral,
pois conforme de acordo com a lei, poderá ser ex- O art. 740 prevê a possibilidade de resilição contra-
cluído pela força maior/fortuito. tual pelo passageiro, apesar de a lei mencionar
“rescisão”.
A exclusão de responsabilidade, se dará apenas em
caso de ser considerado fortuito externo. O fortuito Atenção: O artigo citado não regula os casos de
interno é aquele que está atrelado a uma causa overbooking ou overseating, que diz respeito a prá-
conexa. tica abusiva de os transportadores venderem mais
passagens do que assentos existentes.
Atenção: Súmula n. 161, STF. “Em contrato de
transporte, é inoperante a cláusula de não indeni- Quanto a viagem for interrompida por qualquer mo-
zar”. tivo alheio à vontade do transportador, ainda que
em consequência de evento imprevisível, fica ele
A boa-fé é enfatizada no § 1º do artigo, pois garante obrigado a concluir o transporte contratado em outro
a licitude do transportador exigir a declaração do veículo da mesma categoria, ou, com a anuência do
valor da bagagem. passageiro, por modalidade diferente, à sua custa,
correndo também por sua conta as despesas de
O art. 735, CC estabelece que a responsabilidade estada e alimentação do usuário, durante a espera
contratual do transportador por acidente com o pas- de novo transporte.
sageiro não é elidida por culpa de terceiro, contra o
qual tem ação regressiva. O diploma civilista traz uma norma de defesa tra-
tando não de penhor legal, mas sim de direito pes-
Atenção: Sobre o tema veja a Súmula n. 187, do soal de retenção sobre a bagagem do passageiro
STF: “A responsabilidade contratual do transporta- (art. 742, CC).
dor, pelo acidente com o passageiro, não é elidida
por culpa de terceiro, contra o qual tem ação re- 11.5. Transporte de coisas (arts. 743 a 756, CC)
gressiva.”
Tudo aquilo que for transportado necessita ser iden-
O art. 736 dispõe que não se subordina às normas tificado para que seja evitada a confusão com ou-
do contrato de transporte aquele realizado gratuita- tras coisas. A identificação se dá por um documento
mente, por amizade ou cortesia. No entanto, não é denominado conhecimento, onde devem constar os
considerado como gratuito o transporte quando, dados do transportador, do remetente e do destina-
mesmo sem remuneração, o transportador auferir tário.
vantagens indiretas. A informação constitui elemento essencial ao con-
trato de transporte, assim, em caso desta ser inexa-
Atenção: Súmula n. 145, STJ - “No transporte de- ta ou falsa quando descrita no documento, será o
sinteressado, de simples cortesia, o transportador transportador indenizado pelo prejuízo que sofrer,
só será civilmente responsável por danos causados devendo a ação respectiva ser ajuizada no prazo de
ao transportado quando incorrer em dolo ou culpa cento e vinte dias, a contar daquele ato, sob pena

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de decadência.
12.1. Definição e a socialização dos riscos
Atenção: Entendemos que houve um equívoco na
lei, pois se a ação busca uma condenação, esse Sua definição está presente no art. 757 da lei civil,
prazo deveria ser prescricional. dispondo que: “Pelo contrato de seguro, o segura-
dor se obriga, mediante o pagamento do prêmio, a
A embalagem deve estar em conformidade com o garantir interesse legítimo do segurado, relativo a
transporte. E sendo ilícito o objeto, o transporte pessoa ou a coisa, contra riscos predeterminados.
também o será. Assim, tendo conhecimento da ilici- Parágrafo único. Somente pode ser parte, no con-
tude do objeto transportado, o transportador terá o trato de seguro, como segurador, entidade para tal
dever legal de recusar-se. fim legalmente autorizada.

No art. 748, CC verificar-se o denominado stop- O seguro tem por função econômica socializar
page in transitu ou variação do destino de carga, riscos entre os segurados. A companhia segurado-
dispondo que: “Até a entrega da coisa, pode o re- ra recebe de cada um o prêmio, calculado conforme
metente desistir do transporte e pedi-la de volta, ou a probabilidade de ocorrência do evento danoso.
ordenar seja entregue a outro destinatário, pagando, Todavia, obriga-se a dar garantia, pagando certa
em ambos os casos, os acréscimos de despesa prestação pecuniária ao segurado, ou a terceiros
decorrentes da contraordem, mais as perdas e da- beneficiários, em geral de caráter indenizatório, no
nos que houver.” caso de ocorrência do sinistro.

É dever do transportador conduzir a coisa ao seu 12.2. Natureza jurídica


destino, tomando todas as cautelas necessárias a) Bilateral ou sinalagmático - os direitos e
para mantê-la em bom estado e entregá-la no prazo deveres são proporcionais para ambas as partes.
ajustado ou previsto. Trata-se de cláusula de inco- b) Oneroso - o prêmio representa a remunera-
lumidade no transporte de coisas. ção a ser paga pelo segurado ao segurador. Vigen-
do o contrato, os prêmios pagos não são irrepetí-
Ao desembarcar as mercadorias, o transportador veis, haja vista sua natureza aleatória.
não é obrigado a dar aviso ao destinatário, se assim c) Consensual - se forma pela vontade das
não foi convencionado, dependendo também de partes, pelo consenso.
ajuste a entrega a domicílio, e devem constar do d) Aleatório - é aquele que sua natureza apre-
conhecimento de embarque as cláusulas de aviso senta o risco.
ou de entrega a domicílio. Atenção: Parte da doutrina sustenta a natureza
comutativa do contrato de seguro, tendo em vista
O dever de boa-fé, especificamente com relação ao que o risco poderia ser determinado com base em
zelo está disposto no art. 753. cálculos.
e) Adesão - aquele autorizado por autoridade
Da leitura do art. 754, do CC, há um equívoco na lei competente ou estipulado por uma das partes, em
ao realçar mais uma vez a decadência no parágrafo regra a seguradora.
único do artigo 754, quando se trata em realidade
de prescrição. No caput o prazo é para a reclama- 12.3. Preceitos do contrato
ção e no parágrafo único para ação.
O contrato de seguro deverá ser feito por escrito,
Na dúvida sobre quem é o destinatário, o transpor- vedada a forma verbal. A proposta é fase contratual
tador deve depositar a mercadoria em juízo, se não na qual dever estar presente a boa-fé objetiva, pois
lhe for possível obter instruções do remetente; se a o segurado obriga-se a prestar todas as informa-
demora puder ocasionar a deterioração da coisa, o ções com base na lealdade e na confiança, tornan-
transportador deverá vendê-la, depositando o saldo do possível à seguradora avaliar os riscos, aceitar
em juízo. ou não o contrato e o prêmio a ser pago. E a apólice
ou o bilhete de seguro serão nominativos, à ordem
O art. 756 trata da solidariedade no transporte cu- ou ao portador, mencionando os riscos assumidos,
mulativo, no qual todos os transportadores respon- o início e o fim de sua validade, o limite da garantia
derão solidariamente pelo dano causado perante o e o prêmio devido, e, quando for o caso, o nome do
remetente, ressalvada a apuração final da respon- segurado e o do beneficiário. Assim, esse contrato
sabilidade entre eles, de modo que o ressarcimento apresenta uma interpretação restritiva, não sendo
recaia, por inteiro, ou proporcionalmente, naquele possível a ampliação da álea e dos termos.
ou naqueles em cujo percurso houver ocorrido o
dano. Atenção: No seguro de pessoas, a apólice ou o
bilhete não podem ser ao portador.
12 DO SEGURO (arts. 757 a 802 , CC)

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O cosseguro está disciplinado no art. 761, do CC e está presente no art. 769 do CC.
trata-se de uma operação securitária na qual duas
ou mais seguradoras, com a concordância do segu- Note que, salvo disposição em contrário, a diminui-
rado, compartilham, em percentuais previamente ção do risco no curso do contrato não acarreta a
estabelecidos, os riscos de uma apólice de seguro, redução do prêmio estipulado; mas, se a redução do
respondendo cada cossegurador unicamente pelo risco for considerável, o segurado poderá exigir a
limite da responsabilidade assumida. No cosseguro revisão do prêmio, ou a resolução do contrato.
também é admitida a pluralidade de apólices para
cada cosseguradora e não existindo responsabilida- A falta de comunicação do sinistro é apresentada
de solidária entre elas. pela lei no art. 771, assegurando que: “sob pena de
É nulo o contrato de seguro em que tenha por obje- perder o direito à indenização, o segurado participa-
to a cobertura de atividades ilícitas ou de ato doloso rá o sinistro ao segurador, logo que o saiba, e toma-
do segurado. Nesse caso é atingido o plano de vali- rá as providências imediatas para minorar-lhe as
dade do negócio jurídico, tratando-se de nulidade consequências. Parágrafo único. Correm à conta do
textual, consoante a conjugação dos artigos 104, segurador, até o limite fixado no contrato, as despe-
166, VI, e 762 da norma civilista. sas de salvamento consequente ao sinistro.”

Não terá direito à indenização o segurado que esti- Atenção: O atraso não motivado acarreta a perda
ver em mora no pagamento do prêmio e se ocorrer do direito à indenização.
o sinistro antes de sua purgação. A regra em ques-
tão é um meio de exceção do contrato não cumpri- Caso haja mora do segurador no pagamento do
do, e não forma de resolução do contrato. sinistro, o mesmo será obrigado à atualização mo-
Salvo disposição especial, o fato de o risco não ter netária da indenização devida de acordo com índi-
sido verificado, em previsão do qual se faz o seguro, ces oficiais regularmente estabelecidos, sem prejuí-
não exime o segurado de pagar o prêmio. zo dos juros moratórios (art. 772 do CC).

A boa-fé objetiva se encontra destacada nos arts. O art. 773 CC apresenta penalidade à seguradora
765 e 766 do da lei civil. De acordo com a matéria que age de má-fé. A fim de garantir um pacto equi-
sob comento, importa mencionar a VII Jornada de librado e que seja protegida a função social do ne-
Direito Civil: “Arts. 765 e 766 – Impõe-se o paga- gócio, reza o art. 774 do CC que a recondução táci-
mento de indenização do seguro mesmo diante de ta do contrato pelo mesmo prazo, mediante expres-
condutas, omissões ou declarações ambíguas do sa cláusula contratual, não poderá operar mais de
segurado que não guardem relação com o sinistro. uma vez.
“(Enunciado n. 585)
O corretor de seguros é o agente autorizado do
Atenção: Sobre o tema veja a Súmula n. 302, do segurador e presumem-se seus representantes para
STJ - “É abusiva a cláusula contratual de plano de todos os atos relativos aos contratos que agencia-
saúde que limita no tempo a internação hospitalar rem.
do segurado”. Na hipótese de o corretor causar danos ao segura-
do, a seguradora responderá solidariamente com o
Atenção: Importa ainda mencionar a Súmula n. 469 mesmo ou por ele.
do STJ dispondo que “Aplica-se o Código de Defesa O segurador é obrigado a pagar em dinheiro o pre-
do Consumidor aos contratos de plano de saúde”. juízo resultante do risco assumido, salvo se conven-
cionada a reposição da coisa (art. 776, CC).
De acordo com o art. 767 do CC, no seguro à conta
de outrem, o segurador pode opor ao segurado Atenção: Súmula n. 188 do STF. “O segurador tem
exceções que contra o estipulante, por descumpri- ação regressiva contra o causador do dano, pelo
mento das normas de conclusão do contrato, ou de que efetivamente pagou, até ao limite previsto no
pagamento do prêmio. contrato de seguro”

O segurado perderá o direito à garantia se agravar 12.4. Seguro de dano (arts. 778 a 788, CC)
intencionalmente o risco objeto do contrato.
De acordo com o art. 778, nos seguros de dano, a
Atenção: Súmula n. 465 do STJ. Ressalvada a garantia prometida não pode ultrapassar o valor do
hipótese de efetivo agravamento do risco, a segura- interesse segurado no momento da conclusão do
dora não se exime do dever de indenizar em razão contrato, sob pena do disposto no art. 766, e sem
da transferência do veículo sem a sua prévia comu- prejuízo da ação penal que no caso couber. Assim,
nicação. o segurador terá o ônus da prova de que o valor
excede o do bem e ainda que o segurado agiu de
O dever de informação, intimamente ligado à boa-fé, má-fé.

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Direito Civil – Apostila de Contratos em Espécie e Resp. Civil
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Atenção: Súmula n. 31 do STJ. “A aquisição, pelo Sobre a hipótese de o segurado causar danos a
segurado, de mais de um imóvel financiado pelo terceiros remetemos à leitura das regras presentes
Sistema Financeiro da Habitação, situados na no art. 787 da lei civil.
mesma localidade, não exime a seguradora da obri-
gação de pagamento dos seguros.” Atenção: Sobre o tema, observe:
Sumula 529, do STJ: “No seguro de responsabilida-
O risco do seguro compreenderá todos os prejuízos de civil facultativo, não cabe o ajuizamento de ação
resultantes ou consequentes, como sejam os estra- pelo terceiro prejudicado direta e exclusivamente
gos ocasionados para evitar o sinistro, minorar o em face da seguradora do apontado causador do
dano, ou salvar a coisa. Qualquer cláusula que vá dano.”
contra ao previsto na norma será tida como nula. Sumula n. 537, STJ: “Em ação de reparação de
danos, a seguradora denunciada, se aceitar a de-
Atenção: Súmula n. 402 do STJ. “O contrato de nunciação ou contestar o pedido do autor, pode ser
seguro por danos pessoais compreende os danos condenada, direta e solidariamente junto com o
morais, salvo cláusula expressa de exclusão.” segurado, ao pagamento da indenização devida a
vítima, nos limites contratados na apólice.”
O contrato coligado está presente no art. 780 do CC
e é assim denominado pois se estabelece pela so- Ainda veja a VI Jornada de Direito Civil:
ma do contrato de seguro mais o de transporte.
Enunciado n. 544. “O seguro de responsabilidade
Os parâmetros para a indenização securitária estão civil facultativo garante dois interesses, o do segu-
expostos através no artigo 781 da legislação civilista rado contra os efeitos patrimoniais da imputação de
Destacamos o princípio do justo ressarcimento, pois responsabilidade e o da vítima à indenização, am-
tal contrato não tem como fim enriquecer o segura- bos destinatários da garantia, com pretensão pró-
do. pria e independente contra a seguradora.”
Ainda é possível a cumulação de seguros ou o
chamado seguro duplo disciplinado no art. 782 do Enunciado n. 546. “O § 2º do art. 787 do Código
CC. E ainda, de acordo com o art. 783 do CC pode Civil deve ser interpretado em consonância com o
ser realizado o seguro parcial. Nessa hipótese, evi- art. 422 do mesmo diploma legal, não obstando o
dencia-se o dispositivo que aborda a chamada cláu- direito à indenização e ao reembolso. Artigos 787, §
sula de rateio, quando a cobertura contratada é 2º, e 422.”
inferior ao valor da coisa e dos danos.
Na modalidade dos chamados seguros de respon-
Fica excluído do dever de indenizar a ocorrência do sabilidade legalmente obrigatórios, a indenização
vício ou defeito intrínseco, de acordo com o disposto por sinistro será paga pelo segurador diretamente
no art. 784, segundo o qual não se inclui na garantia ao terceiro prejudicado. O segurador que for de-
o sinistro provocado por vício intrínseco da coisa mandado em ação direta pela vítima do dano, não
segurada (o defeito próprio da coisa, que se não poderá opor a exceção de contrato não cumprido
encontra normalmente em outras da mesma espé- pelo segurado, sem promover a citação deste para
cie), não declarado pelo segurado. integrar o contraditório.

O contrato de seguro não é personalíssimo e, por- 12.5. Seguro de pessoa (arts. 789 a 802, CC)
tanto, admite-se a transferência do contrato a tercei-
ro com a alienação ou cessão do interesse segura- Nesse seguro, o capital segurado poderá ser livre-
do. mente pactuado entre as partes, não obedecendo
ao princípio indenitário. Assim, a indenização pode
A sub-rogação legal está disposta no art. 786, esta- não corresponder ao valor do prejuízo.
belecendo que paga a indenização, o segurador
sub-roga-se, nos limites do valor respectivo, nos No seguro sobre a vida de outros, o proponente é
direitos e ações que competirem ao segurado contra obrigado a declarar o seu interesse pela preserva-
o autor do dano. Salvo dolo, a sub-rogação não tem ção da vida do segurado, sob pena de falsidade. Até
lugar se o dano foi causado pelo cônjuge do segu- prova em contrário, presume-se o interesse, quando
rado, seus descendentes ou ascendentes, consan- o segurado é cônjuge, ascendente ou descendente
guíneos ou afins. Sendo ineficaz qualquer ato do do proponente, de acordo com a redação do art.
segurado que diminua ou extinga, em prejuízo do 790 do CC.
segurador, os direitos a que se refere este artigo.
Atenção: A norma omitiu a figura do companheiro.
Atenção: A regra descrita não se aplica ao seguro
de pessoas (art. 800, CC) Trata-se de prerrogativa do segurado a possibilida-

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de de substituir-se a qualquer tempo e ainda sem suicídio não premeditado”.
justificação.
Súmula n. 105 do STF. “Salvo se tiver havido pre-
Não sendo indicada a pessoa ou beneficiário, ou por meditação, o suicídio do segurado no período con-
qualquer motivo não prevalecer aquela que fora tratual de carência não exime o segurador do pa-
objeto de indicação, o capital segurado será pago gamento do seguro”.
desta forma: metade ao cônjuge não separado judi-
cialmente, e o restante aos herdeiros do segurado, O segurador não pode eximir-se ao pagamento do
obedecida a ordem da vocação hereditária. Caso seguro, ainda que da apólice conste a restrição, se
inexistam tais pessoas, serão beneficiários aqueles a morte ou a incapacidade do segurado provier da
que provarem que a morte do segurado os privou utilização de meio de transporte mais arriscado, da
dos meios necessários à subsistência, de acordo prestação de serviço militar, da prática de esporte,
com o art. 792 do CC. ou de atos de humanidade em auxílio de outrem
É válida a instituição do companheiro como benefi- (art. 799, CC).
ciário, se ao tempo do contrato o segurado era se-
parado judicialmente, ou já se encontrava separado Atenção: A referência aos atos de humanidade em
de fato auxílio de outrem significa aqueles que são pratica-
dos em estado de necessidade.
Atenção: A lei civil utiliza o termo separação judici-
al, observe que há o entendimento que com a EC n. Nos seguros de pessoas, segurador fica proibido de
66/2010 esta figura foi retirada do nosso ordena- sub-rogar-se nos direitos e ações do segurado, ou
mento. do beneficiário, contra o causador do sinistro. As-
sim, no seguro de pessoas não há direito de regres-
O capital do seguro de vida pertence ao beneficiário so.
não estando sujeito às dívidas do segurado, nem é
considerado como herança. O seguro de pessoas pode ser estipulado por pes-
soa natural ou jurídica em proveito de grupo que a
O art. 795 da lei civil, dispõe que é nula, no seguro ela, de qualquer modo, se vincule. O estipulante não
de pessoa, qualquer transação para pagamento representa o segurador perante o grupo segurado, e
reduzido do capital segurado. Trata-se da aplicação é o único responsável, para com o segurador, pelo
do princípio da boa-fé nos contratos. cumprimento de todas as obrigações contratuais. A
modificação da apólice em vigor dependerá da
O prêmio, no seguro de vida, será conveniado por anuência expressa dos segurados que representem
prazo limitado, ou por toda a vida do segurado. Em 3/4 do grupo.
qualquer hipótese, quando for individual, o segura-
dor não terá ação para cobrar o prêmio vencido, O garantia de reembolso de despesas não é objeto
cuja falta de pagamento, nos prazos previstos, acar- do contrato de seguro de pessoas, mas sim do se-
retará consoante se estipular, a resolução do con- guro de dano às despesas hospitalares ou de trata-
trato, com a restituição da reserva já formada, ou a mento médico, bem como as despesas oriundas de
redução do capital garantido proporcionalmente ao luto e funeral do segurado.
prêmio pago, de acordo o art. 796, CC.
13. CONTRATO DE FIANÇA (arts. 818 a 839 do
Ocorrendo a morte, é lícito estipular-se um prazo de CC)
carência, durante o qual o segurador não responde
pelo sinistro, ficando este obrigado a devolver ao 13.1. Conceito
beneficiário o montante da reserva técnica já forma-
da (art. 797). Não há fixação legal de um prazo, Trata-se de garantia fidejussória em que um terceiro
devendo este ser pautado pelo princípio da razoabi- (fiador) passa a garantir pessoalmente perante o
lidade. credor a dívida do devedor com seu patrimônio,
tendo dessa forma uma responsabilidade sem débi-
O beneficiário não tem direito ao capital estipulado to.
quando o segurado se suicida nos primeiros dois
anos de vigência inicial do contrato, ou da sua re- 13.2. Natureza jurídica
condução depois de suspenso, observado o dispos-
to no parágrafo único do artigo 797. Será nula a a) Gratuito – quem obtém o benefício deste contrato
cláusula contratual que exclui o pagamento do capi- é o credor, que tem o seu direito de crédito garanti-
tal por suicídio do segurado. (art. 798, CC) do. Porém, pode ser oneroso, como no caso da
fiança bancária. Nessa última hipótese será aplica-
Atenção: Sobre o tema, veja: da as regras do CDC.
Súmula n. 61 do STJ. “O seguro de vida cobre o

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b) Consensual – atende à autonomia da vontade i) Poderá o fiador promover o andamento da execu-
das partes. ção contra o devedor nos casos em que o credor,
sem justa causa, demorar a executar.
c) Formal – exige, minimamente, documento escrito.
j) Segundo a doutrina majoritária, a renúncia con-
d) Não solene – não há necessidade de escritura vencional é nula.
pública.
l) A obrigação do fiador passa para os herdeiros,
e) Obrigação acessória – a sua existência depende mas fica limitado ao quinhão hereditário (forças da
de um contrato principal. herança).

f) Típico – possui previsão legal. m) É o único contrato em que há compensação sem


reciprocidade de créditos e débitos, podendo ser
g) Fiduciário – essencialmente decorre da confiança compensado com o credor o que este deve ao afi-
das partes. ançado.

13.3. Seus efeitos e regras n) A desoneração de fiador em locação urbana é


regulada pelo artigo 40 da Lei n. 8.245/91, em que o
a) As dívidas futuras podem ser objeto de fiança, fiador ainda responde no período de 120 dias após
mas o fiador, nesse caso, não será demandado a sua desoneração, enquanto a da lei civil, o fiador
senão depois que se fizer certa e líquida a obriga- ficará obrigado por todos os efeitos da fiança, du-
ção do principal devedor (art. 821 do CC). rante 60 dias após a notificação do credor.

b) A fiança poderá abranger a totalidade da dívida o) Não obstante discussões anteriores acerca da
(total) ou parte da dívida (parcial), sendo a primeira constitucionalidade da penhora do único bem imóvel
ilimitada e a segunda limitada. do fiador, o STF pacificou este entendimento acerca
da possibilidade, declarando a constitucionalidade
c) O credor possui o direito de examinar a idoneida- do artigo 3º, inciso VII, da Lei n. 8.009/90.
de da fiança, não podendo ser obrigado a aceitá-lo
se o mesmo não for idôneo, domiciliado no municí- 13.4. Extinção da fiança
pio onde tenha de prestar a fiança, e não possua
bens suficientes para cumprir a obrigação. São casos de extinção da fiança:

d) Se houver insolvência do fiador, o credor poderá a) resilição unilateral;


exigir a sua substituição.
b) morte;
e) É inerente à fiança o benefício de ordem, qual
seja, o fiador exigir que inicialmente seja executado c) O fiador pode opor ao credor as exceções que lhe
o bem do devedor para posteriormente ter o seu forem pessoais e as extintivas da obrigação que
patrimônio atingido. competem ao devedor principal, se não provierem
simplesmente de incapacidade pessoal, salvo o
f) A solidariedade não se presume, decorre da lei ou caso do mútuo feito a pessoa menor;
da vontade das partes, logo inexiste diploma legal
dizendo que o devedor e o fiador são solidários; se d) o fiador, ainda que solidário, ficará desobrigado
inexistir no contrato, não se poderá presumi-los se, sem o seu consentimento, o credor conceder
solidários, pois isso violaria a regra legal. moratória ao devedor; se por fato do credor, for
impossível a sub-rogação nos seus direitos e prefe-
g) A fiança poderá ser prestada conjuntamente a um rências; se o credor, em pagamento da dívida, acei-
só débito, por mais de uma pessoa, importando o tar amigavelmente do devedor objeto diverso do que
compromisso de solidariedade entre elas se decla- este era obrigado a lhe dar, ainda que depois venha
radamente não se reservarem o benefício da divi- a perdê-lo por evicção;
são, respondendo cada fiador unicamente pela par-
te que proporcionalmente lhe couber no pagamento. e) em caso de ser invocado o benefício da excussão
e o devedor, retardando-se à execução, cair em
h) O fiador também tem direito perante o devedor de insolvência, ficará exonerado o fiador que o invocou,
ser ressarcido de todas as perdas e danos que vier se provar que os bens por ele indicados eram, ao
a sofrer em razão da fiança. tempo da penhora, suficientes para a solução da
dívida afiançada;

QUESTÕES DE CONCURSOS

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A) O contrato de prestação de serviço acaba com a
1. (CESPE – 2013 – TRT – 5ª Região (BA) – Juiz morte de qualquer das partes. Termina, ainda, pelo
do Trabalho). Questão 59. Assinale a opção cor- escoamento do prazo, pela conclusão da obra, pela
reta com relação aos contratos em espécie, re- rescisão do contrato mediante aviso prévio, por
gidos pelo direito civil brasileiro. inadimplemento de qualquer das partes ou pela
impossibilidade da continuação do contrato, motiva-
A) O doador ou o terceiro interessado, na doação da por força maior;
com encargo sem estabelecimento de prazo para o B) A alienação do prédio agrícola, onde a prestação
cumprimento, poderá, na hipótese de inexecução do dos serviços se opera, não importa a rescisão do
encargo, notificar judicial ou extrajudicialmente o contrato, (...);
donatário, constituindo-o em mora e revogando a C) Nem aquele a quem os serviços são prestados,
doação. poderá transferir a outrem o direito aos serviços
B) A obrigação assumida, no depósito voluntário ajustados, nem o prestador de serviços, sem apra-
gratuito, é a de guardar a coisa e restituí-la quando zimento da outra parte, dar substituto que os preste;
o depositante a reclame, podendo o depositário D) Se o prestador de serviço for despedido sem
fazer uso do bem depositado ou confiá-lo a terceiro, justa causa, a outra parte será obrigada a pagar-lhe
não respondendo pela perda do bem em casos for- por inteiro a retribuição vencida, e por metade a que
tuitos e de força maior. lhe tocaria de então ao termo legal do contrato;
C) O mútuo, contrato real e unilateral, tem como E) Nenhuma das anteriores.
características a temporariedade, a fungibilidade da
coisa emprestada, a translatividade de domínio do COMENTÁRIOS
bem emprestado e a obrigatoriedade de restituição A questão tem por gabarito a letra C. A assertiva
de outra coisa da mesma espécie, qualidade e traz a redação do art. 605, da lei civil dispondo que
quantidade. a pessoalidade é aplicada tanto ao empregador
D) No contrato de mandato, com cláusula de irrevo- quanto ao prestador de serviços, todavia, o art. 2º e
gabilidade, a revogação será sempre expressa, não 3º da CLT ao conceituarem empregador e empre-
sujeitando o mandante a indenização, devendo gado, aplica o princípio da pessoalidade apenas ao
apenas notificar o mandatário e terceiros, informan- empregado.
do-os que o mandato foi revogado, sob pena de ter
de cumprir as obrigações assumidas perante estes 3. (Magistratura do Trabalho/TRT5 – CES-
últimos, que de boa-fé contratem com o mandatário. PE/2013) Acerca do contrato de compra e venda,
E) Preempção é a disposição contratual segundo a segundo o direito civil vigente, assinale a opção
qual o comprador da coisa se obriga a vender o correta.
bem ao vendedor, pelo preço equivalente ao que foi
adquirido, ou de dar em pagamento, para que este A) O exercício da retrovenda impõe ao vendedor a
use seu direito de prelação. restituição do preço recebido, a indenização pelo
resgate e o reembolso das despesas do comprador
COMENTÁRIOS com a realização de benfeitorias necessárias e úteis
De acordo com os artigos 586 e 587 do CC, o mú- e mesmo com as que, durante o resgate, se efetua-
tuo é o empréstimo de coisas fungíveis. O mutuário ram sem a sua autorização.
é obrigado a restituir ao mutuante o que dele rece- B) Os bens móveis infungíveis poderão ser vendi-
beu em coisa do mesmo gênero, qualidade e quan- dos com pacto de reserva de domínio, o qual define
tidade, neste negócio jurídico, é transferido o domí- que o comprador só adquire a propriedade e a pos-
nio da coisa emprestada ao mutuário, por cuja conta se da coisa ao integralizar o pagamento.
correm todos os riscos dela desde a tradição. Por- C) A venda à vista de amostra, protótipos ou mode-
tanto, está correta a assertiva de letra C. los, em caso de inexatidão entre esses e a merca-
doria entregue, permite ao comprador manifestar a
2. (TRT 14R - 2014 - TRT - 14ª Região (RO e AC) - sua recusa, submetendo o vendedor às sanções
Juiz do Trabalho) O trabalho a terceiros é regu- decorrentes do descumprimento contratual.
lado pelo Código Civil, como o é pela Consoli- D) Os riscos de deterioração ou perdimento da coi-
dação das Leis do Trabalho, a CLT, aplicando-se sa não entregue, no contrato de compra e venda de
esta à relação de trabalho que atenda aos requi- bens móveis e imóveis, são do vendedor e os riscos
sitos estabelecidos em seus artigos 2° e 3° . de pagamento correm à conta do comprador, mas,
Dentre os enunciados abaixo, previstos nas se ocorrer o perdimento antes da tradição ou do
condições gerais aplicáveis a prestação de ser- registro, por caso fortuito ou de força maior, os ris-
viços do Código Civil, qual deles mais se dife- cos correrão por conta do comprador.
re do tratamento dado pela CLT à relação de E) Não existindo convenção pelos contratantes,
emprego? como regra geral,todas as despesas do negócio,
incluindo as de escritura e registro, e os da tradição

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do bem objeto da compra e venda são de respon- A) o equivalente ao que receberia durante um ano
sabilidade do comprador. de serviço.
B) o equivalente a um mês do que recebia por ano
COMENTÁRIOS de serviço prestado.
Conforme redação do art. 484 do CC/02, “Se a ven- C) o equivalente ao que receberia durante seis me-
da se realizar à vista de amostras, protótipos ou ses de serviço.
modelos, entender-se-á que o vendedor assegura D) integralmente o que receberia até o termo final
ter a coisa as qualidades que a elas correspondem. do contrato.
Parágrafo único. Prevalece a amostra, o protótipo E) metade do que receberia até o termo final do
ou o modelo, se houver contradição ou diferença contrato.
com a maneira pela qual se descreveu a coisa no
contrato.” Correta a alternativa de letra C. COMENTÁRIOS
De acordo com o disposto no art. 598, não se pode-
4. (FCC - 2014 - TRT - 18ª Região (GO) - Juiz do rá convencionar com mais de 4 anos, no caso em
Trabalho) Em relação ao enriquecimento sem tela foi estipulado prazo superior sendo que comple-
causa, examine o quanto segue: tados 2 anos, a prestadora fora dispensada sem
justa causa. Assim, deve ser aplicado o art. 603, da
I. Aquele que, sem justa causa, se enriquecer à lei civil que dispõe que “Se o prestador de serviço
custa de outrem, será obrigado a restituir o in- for despedido sem justa causa, a outra parte será
devidamente auferido, feita a atualização dos obrigada a pagar-lhe por inteiro a retribuição venci-
valores monetários. da, e por metade a que lhe tocaria de então ao ter-
II. Se o enriquecimento tiver por objeto coisa mo legal do contrato.” Correta a afirmativa de letra
determinada, quem a recebeu é obrigado a resti- a.
tuí-la, e, se a coisa não mais subsistir, a restitui-
ção se fará pelo valor do bem na época em que 6. (MPT - 2012 - MPT - Procurador) Marque a al-
foi exigido. ternativa INCORRETA:
III. A restituição é devida, não só quando não
tenha havido causa que justifique o enriqueci- A) O fiador continua com o seu benefício de ordem
mento, mas também se esta deixou de existir. ou de excussão ainda que se declare devedor soli-
IV. Caberá a restituição por enriquecimento, ain- dário, porém perde o direito ao benefício, quando o
da que a lei confira ao lesado outros meios para devedor for insolvente ou falido.
se ressarcir do prejuízo sofrido. B) A solidariedade é excepcional, não podendo ser
presumida, vigorando como regra o fracionamento
Está correto o que consta APENAS em: das obrigações.
C) A suspensão da prescrição em favor de um dos
A) I, III e IV. credores solidários apenas aproveita aos outros se
B) I, II e IV. a obrigação for indivisível.
C) II, III e IV. D) A pretensão em juízo de um dos credores julga-
D) I, II e III. da improcedente, seja por exceção pessoal ou co-
E) I e III. mum, não atinge os demais cocredores que podem
ajuizar ações em prol dos seus créditos posterior-
COMENTÁRIOS mente.
O item I está correto e reproduz o caput do art. 884,
CC/02. O item II está correto e traz a redação do COMENTÁRIOS
parágrafo único do art, 884, da lei civil. E por fim, o O gabarito da questão é a letra A e está incorreta,
item III traz o teor do art. 885, CC/02. Correta a as- tendo por base legal o art. 828, do CC. A alternativa
sertiva de letra D. de letra B está correta, de acordo com o art. 269,
CC. A letra C está certa, conforme disposto no art.
5. (FCC - 2014 - TRT - 1ª REGIÃO (RJ) - Juiz do 201, CC. E finalmente a letra D está correta de
Trabalho Substituto) Fernanda contratou servi- acordo com o art. 274 da lei civil.
ços de consultoria de moda, sem vínculo traba-
lhista, a serem prestados pessoalmente por Ci- RESPONSABILIDADE CIVIL
bele, que não é empresária, pelo prazo de seis
anos. Passados exatos dois anos, e sem motivo, Por Cristiano Sobral
Cibele foi despedida, nada lhe sendo pago, exce-
to pelos serviços até então prestados. Neste
caso, tendo em conta as regras do Código Civil, 1. Conceito
Cibele tem direito a receber:
A matéria a ser estudada vincula-se ao dever de
não causar prejuízo injustamente, buscando-se a

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indenização pelos danos sofridos, com a finalidade denização obrigatória em qualquer um desses graus
de reparação na medida do injusto causado resul- (in lege Aquilia et levissima culpa venit).
tante da violação do dever de cuidado.
2.2.1. Espécies de culpa strictu sensu
2. Pressupostos
a) contratual – violação de um dever jurídico origina-
a) ato ilícito ou conduta; riamente estabelecido;
b) culpa;
c) dano; b) extracontratual ou aquiliana –aquela que ocorre
d) nexo causal. sem qualquer estabelecimento de relação jurídica
originária;
2.1. Ato ilícito ou conduta
c) in comitendo – em cometer, culpa por agir com
Conduta contrária ao direito positivado, tendo por imprudência;
elementos a antijuridicidade, ou seja, o ato ser con-
trário à ordem jurídica e o agente ser imputável, d) in omitendo –culpa em omitir;
respondendo pelo mesmo por possuir maturidade e
sanidade para a prática dos atos civis. e) in vigilando – culpa pela vigilância;

2.1.1. Espécies f) in eligendo – culpa pela escolha;

a) indenizatório – busca a reparação do estado ini- g) in custodiando – culpa pela custódia, por guardar;
cial da vítima (status quo ante);
b) invalidante – tem como objetivo a invalidade do h) presumida – a culpa, nesse caso, é essencial
ato praticado de forma ilícita; para o dever de reparar, geralmente a lei já faz o
c) caducificante – resulta na efetiva perda do direito; juízo de presunção, não sendo a mesma adotada
d) autorizante – a lei autoriza a prática de uma con- pelo CC/02, e, nas situações de previsão em leis
duta em rejeição a um ilícito. esparsas, a doutrina entende que se considera caso
de responsabilidade objetiva;
2.2. Culpa
i) concorrente –hipótese em que o agente e a vítima
A culpa pode ser dividida em dois casos: contribuem para a prática do evento danoso, sendo
devida, segundo a doutrina, a divisão proporcional
a) culpa latu sensu: tem o dolo como sua modalida- dos graus de culpa entre eles.
de mais grave, podendo o mesmo ser encontrado
nas seguintes formas: 2.3. Dano

– dolo direto: o agente deseja a prática do ilícito; As espécies de dano existentes são: material, mo-
ral, estético, coletivo e social e a perda de uma
– dolo necessário: fala a respeito de um efeito cola- chance.
teral típico decorrente do meio escolhido e admitido,
pelo autor, como certo ou necessário; 2.3.1. Espécies

– dolo eventual: o agente, com a sua conduta, as- 2.3.1.1. Dano material
sume o risco do ilícito.
Trata-se de uma efetiva lesão patrimonial, podendo
b) culpa strictu sensu (mera culpa): o agente pratica ser total ou parcial, suscetível de avaliação pecuniá-
o ilícito com a ausência do dever de cuidado, ge- ria.
rando as seguintes espécies:
2.3.1.1.1. Danos emergentes e lucros cessantes
– negligência – a conduta é caracterizada pelo des-
leixo; a) danos emergentes – do latim damnum emergens,
– imprudência – a conduta é omissiva; significa a perda efetivamente sofrida;
– imperícia – é a falta de habilidade técnica.
b) lucros cessantes – atinge o patrimônio futuro
Diante do tema abordado, constata-se a existência (ganho esperável), impedindo seu crescimento.
de uma classificação referente à graduação, em que
a culpa poderá ser: grave em razão do erro grossei- 2.3.1.2. Dano incerto
ro, leve diante de falta evitável e, ainda, levíssima
ante a falta de atenção extraordinária. Sendo a in-

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Segundo entendimento do STJ, não se pode indeni- Todavia, parte da doutrina possui posicionamento
zar um dano incerto, em razão da própria natureza diverso, interpretando que se inexiste previsão no
da responsabilidade civil, que é a efetiva reparação CC/02, logo, não é possível ser adotado, sob pena
de dano causado ao patrimônio. de configurar enriquecimento sem causa como dis-
posto no artigo 884 do CC.
2.3.1.3. Dano material futuro
2.3.1.4.2. Dano moral direto e indireto ou rico-
Inexiste a possibilidade desta modalidade, uma vez chete
que somente se pode exigir reparação por danos
causados e não por danos a causar, isto é, que Ocorre o dano moral direto quando o ofendido é
poderão acontecer futuramente, inexistindo lesão diretamente atingido nos seus direitos da personali-
patrimonial. dade. O sofrimento, a dor e o trauma provocados
pela morte de um ente querido podem gerar o dever
2.3.1.4. Dano moral de indenizar. Assim tem se posicionado o Superior
Tribunal de Justiça (STJ) ao julgar os pedidos de
É uma espécie de dano, extrapatrimonial, por viola- reparação feitos por parentes ou pessoas que man-
ção aos direitos inerentes à pessoa, contidos nos tenham fortes vínculos afetivos com a vítima. Trata-
direitos da personalidade. se de dano moral reflexo ou indireto, também de-
nominado dano moral por ricochete.
Atenção: V Jornada de Direito Civil: Enunciado n.
445 – “Art. 927. O dano moral indenizável não pres- Atenção: Observe os Enunciados n. 552 e 560 da
supõe necessariamente a verificação de sentimen- VI Jornada de Direito Civil:
tos humanos desagradáveis como dor ou sofrimen-
to.” Constituem danos reflexos reparáveis as despesas
suportadas pela operadora de plano de saúde de-
2.3.1.4.1. Formas de fixação correntes de complicações de procedimentos por
ela não cobertos.
2.3.1.4.1. Compensatório
No plano patrimonial, a manifestação do dano refle-
São analisados dois requisitos concomitantemente: xo ou por ricochete não se restringe às hipóteses
extensão do dano + condições pessoais da vítima. previstas no art. 948 do Código Civil.

Atenção: Sobre o tema, observe os Enunciados da 2.3.1.4.3. Dano moral à pessoa jurídica
VII Jornada de Direito Civil:
Não é pacífico o ponto de vista da matéria aborda-
Art. 927 – O patrimônio do ofendido não pode funci- da, sendo majoritário o entendimento de que é pos-
onar como parâmetro preponderante para o arbi- sível que a pessoa jurídica possa sofrer dano moral,
tramento de compensação por dano ex- conforme dispõe a Súmula n. 227 do STJ: “A pes-
trapatrimonial. (Enunciado n. 588) soa jurídica pode sofrer dano moral.”

Art. 927 – A compensação pecuniária não é o único 2.3.1.4.4. A não possibilidade de incidência de
modo de reparar o dano extrapatrimonial, sendo imposto de renda
admitida a reparação in natura, na forma de retrata-
ção pública ou outro meio. (Enunciado n. 589) O dano moral é uma recomposição de lesão, ainda
que extrapatrimonial, e por tal motivo a sua indeni-
2.3.1.4.2. Punitiva zação não significa um acréscimo patrimonial, não
incidindo desse modo no imposto de renda sobre as
Neste outro ponto, existem dois requisitos: condi- verbas recebidas a título de ressarcimento pelos
ções econômicas + grau de culpa do ofensor. danos causados.

2.3.1.4.2.1. Punitive damages 2.3.1.4.5. Dano moral coletivo e social. Diferen-


ças. Posicionamento da jurisprudência do STJ
Traduzido para a língua portuguesa, danos puniti-
vos, seria aquilo que a doutrina chama de “dano O dano moral coletivo é a lesão extrapatrimonial aos
moral punitivo”. Defende-se o entendimento de que direitos da personalidade de um determinado grupo,
tal instituto seja possível se o juiz entender que di- como, por exemplo, discriminação sexual, etnia,
ante da proporcionalidade entre a culpa e o dano é religião, dentre outras. Já o dano moral social en-
cabível indenização com o objetivo de punir o agen- volve a sociedade, ou seja, um grupo indetermina-
te pela prática. do, não se podendo medir a quantidade de pessoas
lesionadas. Um grande exemplo, a ação civil pública

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movida pelo MPF/SP, em face da Rede TV, por ter pelo juiz para a quantificação do dano moral (Enun-
entrevistado ao vivo a vítima Eloá no cativeiro mo- ciado n. 458 da V Jornada de Direito Civil).
mento antes de seu assassinato. Nesta ocasião, foi
impossível medir a quantidade de pessoas no país A quantificação da reparação por danos extrapatri-
que estavam assistindo ao programa, sendo indis- moniais não deve estar sujeita a tabelamento ou a
cutível, ainda, a exposição da vítima em rede nacio- valores fixos (Enunciado n. 550 da VI Jornada de
nal, argumentos estes objetos da discussão nos Direito Civil).
autos do processo n. 2008.61.00.029505-0, distribu-
ído perante a 6ª Vara Federal Cível de São Paulo. 2.3.1.5. Dano estético

2.3.1.4.6. Prova do dano moral É a efetiva lesão à integridade corporal da vítima e,


podendo ser indenizável, o dano deve ser duradou-
Segundo entendimento pacífico do STJ, o dano ro ou permanente ou, em alguns casos, impedir as
moral é chamado de in re ipsa (presumido), ou dano capacidades laborativas.
na própria coisa, bastando demonstrar unicamente O STJ sumulou o seu entendimento no verbete n.
o fato. 387, em que: “É lícita a cumulação das indeniza-
ções de dano estético e dano moral.”
Atenção: Sobre o tema veja os Enunciados da V e
VII Jornadas de Direito Civil: 2.3.1.6. Perda de uma chance

Art. 944. Embora o reconhecimento dos danos mo- Ocorre quando a vítima possui uma chance séria e
rais se dê, em numerosos casos, independentemen- real, englobando tanto o dano moral quanto o mate-
te rial. Exemplificando: nas Olimpíadas de Atenas em
de prova (in re ipsa), para a sua adequada quantifi- 2004, o maratonista Vanderlei Cordeiro de Lima
cação, deve o juiz investigar, sempre que entender estava liderando a prova, até que por volta do 36º
necessário, as circunstâncias do caso concreto, km de prova, um padre irlandês o empurrou des-
inclusive por intermédio da produção de depoimento concentrando-o e retirando o ritmo da prova, fazen-
pessoal e da prova testemunhal em audiência do com que o atleta conquistasse apenas o bronze.
(Enunciado n. 455).
Outro grande exemplo de perda de uma chance foi
Art. 927. O dano à imagem restará configurado caso no programa “Show do Milhão” (REsp. n.
quando presente a utilização indevida desse bem 788.459/BA), em que foi questionada ao participante
jurídico, independentemente da concomitante lesão uma pergunta que não possuía resposta correta.
a outro direito da personalidade, sendo dispensável Nesse sentido, o STJ entendeu por reduzir a indeni-
a prova do prejuízo do lesado ou do lucro do ofen- zação para o valor de R$ 125.000,00 (cento e vinte
sor para a caracterização do referido dano, por se e cinco mil reais) de acordo com a probabilidade
tratar de modalidade de dano in re ipsa. (Enunciado matemática de o participante acertar, o que, data
n. 587) vênia, saiu de graça para quem teria o dever de
pagar um milhão de reais.
2.3.1.4.7. A quantificação dos danos morais
2.4. Nexo causal
No momento de fixar o quantum debeatur, o magis-
trado deverá estabelecer uma reparação equitativa, É o vínculo ou relação de causa e efeito entre a
baseada na culpa do agente, na extensão e na gra- conduta e o resultado, existindo diversas teorias,
vidade do prejuízo causado, bem como na capaci- sendo adotada pela jurisprudência a Teoria do Dano
dade econômica das partes. A indenização deve Direto e Imediato. No entanto, é essencial listar as
apresentar um critério de razoabilidade, proporcio- principais teorias existentes:
nalidade e ao mesmo tempo necessária à condena-
ção do agente. – Teoria da equivalência das condições/conditio
sinequa non – nesta teoria não há diferença entre
Atenção: Sobre o tema: os antecedentes do resultado danoso, de forma que
tudo irá concorrer para o evento considerado cau-
Art. 944. A redução equitativa da indenização tem sador. Ela não é adotada em nosso ordenamento.
caráter excepcional e somente será realizada quan-
do a amplitude do dano extrapolar os efeitos razoa- – Teoria da causalidade adequada – adotada pelo
velmente imputáveis à conduta do agente (Enuncia- CC/02 nos artigos 944 e 945, para esta teoria, con-
do n. 457 da V Jornada de Direito Civil). sidera-se como causa todo e qualquer evento que
haja contribuído para a efetiva ocorrência do resul-
Art. 944. O grau de culpa do ofensor, ou a sua even- tado. Portanto, para que ela possa ser adotada,
tual conduta intencional, deve ser levado em conta

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deve-se estar diante de uma causa adequada e
apta à efetivação do resultado. – seguro obrigatório – DPVAT: Lei n. 6.194/74 com
posterior alteração pela Lei n. 8.441/92 estabelece
– Teoria do dano direto e imediato – segundo essa indenização às vítimas de acidente de veículos au-
teoria, será indenizável todo o dano que se filia a tomotores independente de culpa ou de identifica-
uma causa, ainda que remota, desde que necessá- ção do veículo automotor;
ria, encontrando respaldo no artigo 403 do atual
Código Civil. Atenção:
Súmula n. 405, STJ: “A ação de cobrança do segu-
2.4.1. Concorrência de causas ro obrigatório (DPVAT) prescreve em três anos.”

a) Subsequentes – é causado pela prática de con- Súmula n. 426, STJ: “Os juros de mora na indeni-
duta oriunda de um ato fundamentando por prática zação do seguro DPVAT fluem a partir da citação”.
posterior.
Súmula n. 474, STJ: “A indenização do seguro
b) Complementares – é gerado pela a prática da DPVAT, em caso de invalidez parcial do beneficiá-
conduta de dois ou mais agentes que, sem a ajuda rio, será paga de forma proporcional ao grau da
do outro, não seria atingido o fim pretendido. invalidez”.

c) Cumulativas – não haveria necessidade da con- Súmula n. 540: “Na ação de cobrança do seguro
duta dos agentes somarem-se, em razão de que DPVAT, constitui faculdade do autor escolher entre
ambas atingiriam o objetivo-fim da mesma maneira. os foros do seu domicílio, do local do acidente ou
ainda do domicílio do réu.”
d) Alternativas – não há como definir o agente cau-
sador do dano. Súmula n. 544: “É válida a utilização de tabela do
Conselho Nacional de Seguros Privados para esta-
e) Preexistentes – a conduta do agente por si só belecer a proporcionalidade da indenização do se-
não atingiria o resultado-fim se já existisse outra guro DPVAT ao grau de invalidez também na hipó-
causa. tese de sinistro anterior a 16/12/2008, data da en-
trada em vigor da Medida Provisória n. 451/2008”.
f) Concomitantes – são causas geradoras do dano
que são produzidas ao mesmo tempo. – danos nucleares – art. 21, inciso XXIII, “d”, CF,
responsabilidade civil por danos nucleares, na qual
g) Supervenientes – surgem após o evento danoso. também foi adotada a teoria do risco integral.

3. O risco 4. Responsabilidade por ato próprio

Há diversas espécies de risco dispostas no orde- Transcorre por ato do próprio agente, ora causador
namento jurídico, devendo ser mencionadas as do dano. Está disposta nos artigos 939 e 940 do
principais: CC.

– risco proveito – todo ônus deve ser suportado por Conforme o primeiro dispositivo, quem demandar
quem recebe o bônus; judicialmente contra devedor antes de vencida a
dívida, fora dos casos em que a lei o permita, ficará
– risco profissional – deriva das relações de traba- obrigado a aguardar o vencimento, bem como pagar
lho; as custas em dobro, sendo obrigado ainda a des-
contar os juros, por serem, até o momento, indevi-
– risco excepcional – origina-se de atividades que dos.
exigem elevado grau de perigo;
Já o segundo dispositivo, quem demandar judicial-
– risco integral – modalidade mais elevada de res- mente por dívida já paga, ainda que somente parte
ponsabilidade objetiva por não admitir exclusão de desta, ficará obrigado a pagar ao devedor, no pri-
culpabilidade, em razão de o agente ser o respon- meiro caso, o dobro do que houver cobrado. E, ain-
sável universal, adotado excepcionalmente no orde- da, se litigar sem ressalvar as quantias recebidas ou
namento jurídico nas seguintes formas: pedir mais do que for devido, ficará obrigado a pa-
gar ao devedor o equivalente do que dele exigir. Em
– dano ambiental: art. 225, § 3º, CF/88 c/c o art. 14, ambos os casos, fica ressalvado se já tiver ocorrido
§ 1º, da Lei n. 6.931/81, defende que o dano ambi- a prescrição.
ental deverá ser reparado independentemente de
culpa;

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A diferença entre o artigo 940 do Código Civil e o Lei n. 8.078/90, visto que está presente o risco da
parágrafo único do artigo 42 da Lei n. 8.078/90, é atividade desenvolvida.
que o primeiro somente é aplicável a cobranças
judiciais e o segundo, a todas as judiciais e extraju- Tanto nos casos dos hospitais, clínicas e outros
diciais. estabelecimentos similares, bem como nas escolas,
enquanto estiverem no referido local, aplica-se a
5. Responsabilidade por ato de outrem ou res- teoria da guarda.
ponsabilidade indireta
Quando o paciente nos hospitais for menor ou ado-
De acordo com os ditames do artigo 932 da norma lescente, deverá ser observado o artigo 12 da Lei n.
civilista, é o caso que terceiros praticam o ilícito e o 8.069/90 do ECA:
responsável legal responde pelo fato, isto é, res-
ponde (Haftung) mesmo sem ter contraído o débito Art. 12. Os estabelecimentos de atendimento à
(Schuld). O CC/02 adotou para esses casos a res- saúde deverão proporcionar condições para a per-
ponsabilidade objetiva, conforme redação do artigo manência em tempo integral de um dos pais ou
933. responsável, nos casos de internação de criança ou
adolescente.
A responsabilidade solidária prevista no artigo 942
da lei civil é aplicável nos casos dos incisos III, IV e Atualmente, estão na moda os casos de bullying,
V do artigo 932. que consiste em apertadíssima síntese na prática
infantil de deboche com isolamento da pessoa na-
 Os pais irão responder pelos atos dos filhos que quela comunidade, geralmente ocorrendo nos colé-
estiverem sob sua guarda e companhia, mesmo que gios. Logo há responsabilidade pedagógica do es-
provarem não agir com negligência. A responsabili- tabelecimento de ensino, sob pena de infração ad-
dade será objetiva, e os pais irão substituir os filhos, ministrativa, conforme artigo 245 do ECA:
consoante a Teoria da Substituição.
Art. 245. Deixar o médico, professor ou responsável
 A responsabilidade do tutor e curador pelos pupi- por estabelecimento de atenção à saúde e de ensi-
los e curatelados que se acharem sob sua autorida- no fundamental, pré-escola ou creche, de comunicar
de e companhia é aplicada nos mesmos moldes que à autoridade competente os casos de que tenha
a responsabilidade dos genitores. Importante ressal- conhecimento, envolvendo suspeita ou confirmação
tar que inexiste proibição legal sobre direito de re- de maus-tratos contra criança ou adolescente. Pena
gresso em face dos pupilos ou curatelados. – multa de três a vinte salários de referência, apli-
cando-se o dobro em caso de reincidência.
 No caso do empregador ou comitente, por seus
empregados, serviçais e prepostos, no exercício do Atenção: Sobre o tema, importa observar a recente
trabalho que lhes competir ou em razão dele, o Lei n. 13.185, de 06.11.2015 que institui o Programa
CC/02 inovou. de Combate à Intimidação Sistemática (Bullying).

Anteriormente, a aplicação do Código Civil de 2002,  Em relação aos que gratuitamente houverem
nesses casos, havia a responsabilidade por culpa in participado nos produtos do crime, será responsabi-
elegendo, como culpa presumida na forma da Sú- lizado objetivamente até a concorrente quantia da
mula n. 341 do STF que, ao final, resultava nas qual tirou o proveito efetivo, consagrando o Princípio
mesmas consequências previstas no atual diploma da reparação do indevido.
civil, que transformou em responsabilidade objetiva.
 Deve ser ressaltada a norma do artigo 934 da lei
A norma abrange não somente a relação de empre- civil, que trata do direito de regresso. Somente no
go, mas toda e qualquer outra relação empregatícia caso do inciso I do artigo 932 não será cabível tal
com subordinação, chamada de preposição. direito. Atenção!

 Referente aos donos de hotéis, hospedarias, 5.1. Independência das responsabilidades civil e
casas ou estabelecimentos onde se albergue por criminal
dinheiro, mesmo para fins de educação, pelos seus
hóspedes, moradores e educandos, alguns pontos A responsabilidade civil e criminal possui comunica-
merecem destaque. ção, no entanto, irá prevalecer de forma absoluta o
reconhecimento do fato e de autoria na justiça penal
A responsabilidade é objetiva como acima mencio- (art. 935 do CC). Não corre a prescrição antes do
nado. Os hotéis, em especial, responderiam tam- trânsito em julgado da sentença penal condenatória
bém, caso o CC/02 não dispusesse sobre essa ma- (art. 200 do CC) e esta formará título executivo judi-
téria, de maneira objetiva, por força do artigo 14 da

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cial na jurisdição civil, consoante disposição do acometido. Tal forma de exclusão de ilicitude encon-
CPC. tra-se prevista no artigo 188, inciso I, 1ª parte, do
diploma civil.
6. Responsabilidade por fato da coisa ou do
animal No caso da defesa gerar danos a terceiros, deverá o
agente, ainda que licitamente em sua defesa ou de
O dono de edifício ou construção responde pelos outrem, indenizar o terceiro na forma dos artigos
danos que resultarem de sua ruína, se esta provier 929 e 930 do Código Civil.
de falta de reparos, cuja necessidade seja manifes-
ta. 8.3. Exercício regular do direito
Aquele que habitar prédio, ou parte dele, responsa-
biliza-se pelo dano proveniente das coisas que dele Presente no artigo 188, inciso I, 2ª parte, da norma
caírem ou forem lançadas em lugar indevido. civilista, consiste na extrapolação dos fins colimados
Quando não é possível identificar em um prédio pela lei. Quando não for ilícito, será exercício regu-
com diversos blocos o autor do lançamento de obje- lar do direito. Ressalte-se que o estrito cumprimento
tos, a doutrina entende que se aplica a Teoria da do dever legal não está previsto, dessa forma deve
Pulverização dos Danos, respondendo todos os ser encarado como uma espécie de exercício regu-
condôminos por não se conseguir individualizar a lar do direito.
conduta.
8.4. Caso fortuito e força maior
Já a responsabilidade por fato do animal se aplica
também a teoria da guarda, devendo o dono ou o São institutos bem parecidos e podem ser conceitu-
detentor de animal ressarcir o dano causado por ados da seguinte maneira:
este. Essa regra é aplicável tanto ao adestrador
quanto aos estabelecimentos especializados. Para a) Caso fortuito – marcado pela imprevisibilidade,
estes casos, são aplicáveis a isenção de responsa- advém de causa desconhecida.
bilidade mediante produção probatória da culpa
exclusiva da vítima ou força maior. b) Força maior – caracterizada pela inevitabilidade,
sobrevém de causa conhecida.
8. Excludentes de ilicitude e excludentes de res-
ponsabilidade 8.5. Culpa exclusiva da vítima

As excludentes de ilicitude afastam a ilicitude da Diferente da culpa concorrente da vítima, a culpa


conduta, mas não o dever de indenizar, responden- exclusiva da vítima ocorrerá quando ela concorrer
do o agente pelos atos lícitos. Têm-se, como exem- sozinha para a ocorrência do evento danoso. Há
plos, o estado de necessidade, a legítima defesa e o previsão legal neste sentido no artigo 14, § 3º, inciso
exercício regular do direito. II, da Lei n. 8.078/90. Um exemplo seria um consu-
midor que compra uma passagem para um determi-
Por sua vez, as excludentes de responsabilidade nado horário e não comparece. A companhia não é
rompem o nexo causal e afastam o dever de indeni- obrigada a devolver o valor da passagem em razão
zar. Exemplos: o caso fortuito, a força maior e a do serviço ter sido prestado adequadamente e o
culpa exclusiva da vítima. consumidor não ter se beneficiado pelo seu não
comparecimento.
8.1. Estado de necessidade
Já a culpa concorrente, prevista no artigo 945 do
Baseia-se na deterioração ou destruição da coisa Código Civil, ocorrerá se a vítima tiver concorrido
alheia, ou lesão à pessoa, com o fim de remover culposamente para o evento danoso. A indenização
perigo iminente, quando as circunstâncias não auto- será fixada tendo-se em conta a gravidade de sua
rizarem outra forma de atuação. Nesse caso, o culpa em confronto com a do autor do dano.
agente irá atuar com o fim de resguardar direito seu
ou de outra pessoa em situação de perigo concreto. É importante destacar que se houver previsão legal
de responsabilidade objetiva não se discute a culpa,
Esta excludente foi regulamentada no artigo 188, exceto quando se tratar de culpa exclusiva da vítima
inciso II, c/c artigo 929, ambos do Código Civil. ou culpa concorrente.

8.2. Legítima defesa 8.6. Fato de terceiro

Este instituto preceitua que o agente, diante de situ- Como o próprio nome diz, um terceiro estranho à
ação de injusta agressão atual e iminente, a si ou a relação jurídica entre a vítima e o fornecedor de
outra pessoa, age de forma moderada a repelir o bens ou serviços causa dano. Dessa forma, o fato

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de terceiro não exime o dever de indenizar, mas venção cirúrgica urgente, de acordo com critérios
permite o direito de regresso em face do terceiro. médicos.
E) Não respondida.
8.7. Cláusula de não indenizar
COMENTÁRIOS
Somente poderá ser utilizada nas hipóteses de res- Correta assertiva de letra C, tendo por base legal o
ponsabilidade contratual, em que uma das partes art 20, do CC, dispondo que: “Salvo se autorizadas,
estabelece cláusula visando ao afastamento do ou se necessárias à administração da justiça ou à
dever de indenizar quando ocorrer o dano. manutenção da ordem pública, a divulgação de
escritos, a transmissão da palavra, ou a publicação,
Casos em que não será aceita: a exposição ou a utilização da imagem de uma pes-
soa poderão ser proibidas, a seu requerimento e
a) cada vez que seu conteúdo tiver por fim exonerar sem prejuízo da indenização que couber, se lhe
devedor que incorreria em responsabilidade por atingirem a honra, a boa fama ou a respeitabilidade,
dolo ou culpa grave; ou se se destinarem a fins comerciais.”

b) se houver violação a interesse de ordem pública; 2. (MPT – 2015 - MPT - Procurador do Trabalho)
Analise as assertivas abaixo:
c) diante dos hipossuficientes e vulneráveis;
1) O devedor incorre de pleno direito na cláu-
d) nos casos dos artigos 424 e 734 do Código Civil; sula penal, desde que, dolosamente, deixe de
cumprir a obrigação ou se constitua em mora.
e) nas hipóteses dos artigos 25 e 51, inciso I, da Lei 2) O empregador é responsável pela repara-
n. 8.078/90; ção civil dos atos que seus empregados prati-
carem no exercício ou em razão do trabalho,
f) nas condições do artigo 247 da Lei n. 7.565/86 desde que configurada a culpa dos trabalha-
(Código Brasileiro de Aeronáutica); dores.
3) Quando a violação ou ofensa a direito tiver
Requisitos para a validade da cláusula de não inde- mais de um autor, todos responderão solida-
nizar: riamente pela reparação.
4) Se o devedor pagar ao credor, apesar de
a) bilateralidade do consentimento; intimado da penhora feita sobre o crédito, ou
da impugnação a ele oposta por terceiros, o
b) que não colida com preceito de ordem pública; pagamento não valerá contra estes, que pode-
rão constranger o devedor a pagar de novo,
c) igualdade das partes; ficando-lhe ressalvado o regresso contra o
credor.
d) inexistência do escopo de eximir o dolo ou a cul-
pa grave do estipulante; Marque a alternativa CORRETA:

e) ausência da intenção de afastar obrigação ine- A) apenas as assertivas 3 e 4 estão corretas;


rente à função. B) apenas as assertivas 1 e 3 estão corretas;
C) apenas as assertivas 2 e 4 estão corretas;
QUESTÕES DE CONCURSOS D) apenas as assertivas 1 e 2 estão corretas.
E) Não respondida.
1. (MPT - 2015 - MPT - Procurador do Trabalho)
Assinale a alternativa CORRETA: COMENTÁRIOS
Correta assertiva de letra A. O item III está correto,
A) Salvo previsão expressa em lei, os direitos de baseado no art. 942. CC: “Os bens do responsável
personalidade são intransmissíveis e inalienáveis, pela ofensa ou violação do direito de outrem ficam
estando sujeitos apenas às limitações voluntárias. sujeitos à reparação do dano causado; e, se a ofen-
B) Os empregados podem participar de propaganda sa tiver mais de um autor, todos responderão solida-
comercial do empregador, sem consentimento ex- riamente pela reparação.” E correto o item IV, com
presso, considerando os efeitos anexos do contrato fundamento no art. 312, CC: “Se o devedor pagar
de trabalho. ao credor, apesar de intimado da penhora feita so-
C) A divulgação de escritos de autoria de terceiro bre o crédito, ou da impugnação a ele oposta por
para fins comerciais pode ser proibida, a requeri- terceiros, o pagamento não valerá contra estes, que
mento deste, sem prejuízo da indenização cabível. poderão constranger o devedor a pagar de novo,
D) Pessoa acometida de doença grave pode ser ficando-lhe ressalvado o regresso contra o credor.”
submetida sem seu consentimento a realizar inter-

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Direito Civil – Apostila de Contratos em Espécie e Resp. Civil
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3.. (TRT 8R - 2014 - TRT - 8ª Região (PA e AP) - pra em uma loja pagando com cheque sem pro-
Juiz do Trabalho) Analise as proposições a se- visão de fundos, sendo, por isso, inscrito nos
guir segundo as regras ditadas no Código Civil cadastros negativos de entidades de proteção
vigente e marque a única alternativa que con- ao crédito. Nessa época já corria em relação a
templa as afirmações CORRETAS: ele processo de interdição por prodigalidade, o
que foi informado ao gerente da loja, ocasião em
I - Na hipótese de deterioração ou destruição da que, também, foi proferida sentença de interdi-
coisa alheia, ou lesão a pessoa, a fim de remo- ção, posterior à compra. Passados cinco anos, a
ver perigo iminente, a pessoa lesada, ou o dono interdição foi levantada, e João X, imediatamen-
da coisa, se não forem culpados do perigo, têm te, moveu ação de indenização por dano moral
direito à indenização do prejuízo que sofreram. contra a empresária da loja, porque, sendo inca-
paz, não poderia ter seu nome lançado no rol
II - Aquele que ressarcir o dano causado por dos maus pagadores. Na contestação, a ré ape-
outrem pode reaver o que houver pago daquele nas alegou prescrição, porque as pretensões
por quem pagou, salvo se o causador do dano fundadas em responsabilidade civil extinguem-
for descendente seu, absoluta ou relativamente se pela prescrição, no prazo de três anos. Neste
incapaz. caso,

III - O empregador ou comitente é responsável A) a arguição de prescrição não pode ser acolhida,
pela reparação civil decorrente de dano causado porque a sentença de interdição interrompeu o pra-
por seus empregados, serviçais e prepostos, no zo prescricional e recomeçou a correr apenas com o
exercício do trabalho que lhes competir, ou em seu levantamento.
razão dele. Nessa hipótese, fica excluída a res- B) a arguição de prescrição deve ser acolhida, por-
ponsabilidade do empregado, salvo se agiu com que seu curso não foi obstado pela superveniência
dolo. da interdição.
C) contra o autor não ocorreu prescrição, todavia,
IV - Aquele que demandar por dívida já paga, no ele não pode ser aquinhoado com a pretendida in-
todo ou em parte, sem ressalvar as quantias denização, porque os incapazes não sofrem dano
recebidas ou pedir mais do que for devido, ficará moral e sendo essa matéria de ordem pública, o
obrigado a pagar ao devedor, no primeiro caso, Juiz dela conhecerá de ofício.
o dobro do que houver cobrado e, no segundo, o D) não ocorreu prescrição, porque ela não corre
equivalente do que dele exigir, salvo se houver contra os interditos por prodigalidade.
prescrição. A não ser que o réu prove ter sofrido E) a defesa está equivocada, porque o direito do
algum prejuízo, a indenização não será devida autor extingue-se por decadência e esta não pode
se o autor desistir da ação antes da contesta- ser reconhecida de ofício.
ção.
COMENTÁRIOS
V - Os bens do responsável pela ofensa ou vio- Correta a alternativa b. O caso em tela traz hipótese
lação do direito de outrem ficam sujeitos à repa- de prodigalidade, e conforme o art. 4º do Código
ração do dano causado, mas a obrigação se Civil, trata-se de incapacidade relativa, e segundo o
extingue com a morte do autor do dano; se a disposto no art. 198, inc. I do mesmo diploma legal
ofensa tiver mais de um autor, a morte de um a prescrição não corre contra os incapazes do art.
deles não exime o coautor de responder inte- 3º, referindo-se aos absolutamente incapazes.
gralmente pela reparação.
5. (TRT 2R (SP) - 2013 - TRT - 2ª REGIÃO (SP) -
A) Estão corretas apenas as afirmações I, II e V. Juiz do Trabalho) Em relação à prática de atos e
B) Estão corretas apenas as afirmações II, III e IV. à responsabilidade, observe as proposições
C) Estão corretas apenas as afirmações II e IV. abaixo e ao final aponte a alternativa que conte-
D) Está correta apenas a afirmação IV. nha proposituras corretas:
E) Estão corretas apenas as afirmações I, II e IV.
I. Comete ato ilícito aquele que, por ação ou
COMENTÁRIOS omissão voluntária, negligência ou imprudência,
O item I está correto e tem por fundamento os arts. violar direito e causar dano a outrem, desde que
188, inc. II c/c 929 todos do Código Civil. O item II não seja exclusivamente moral.
reproduz o disposto no art. 934, do Código Civil. E II. Constitui-se em ato ilícito a deterioração ou
o item IV está correto e está fundamentado nos arts. destruição da coisa alheia, ou a lesão a pessoa,
940 e 941 da lei civil. Certa afirmativa de letra e. a fim de remover perigo iminente, excedendo os
limites do indispensável para a sua remoção.
4. (FCC - 2014 - TRT - 1ª REGIÃO (RJ) - Juiz do III.A pensão correspondente à indenização ori-
Trabalho Substituto) João X realizou uma com- unda de responsabilidade civil deve ser calcula-

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OAB XXI EXAME DE ORDEM – 1ª FASE
Direito Civil – Apostila de Contratos em Espécie e Resp. Civil
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da com base no salário mínimo vigente ao tem- QUESTÕES DE CONCURSO
po da sentença e ajustar-se-á a variações ulteri- Direito do Consumidor
ores.
IV.O incapaz responde pelos prejuízos que cau- 1. (FCC - 2014 - TRT - 18ª Região (GO) - Juiz do
sar, se as pessoas por ele responsáveis não Trabalho) Em relação ao Código de Defesa do
tiverem obrigação de fazê-lo ou não dispuserem Consumidor, é correto afirmar:
de meios suficientes.
V. Goza de privilégio especial sobre os bens do A) Em relação ao consumidor, os fornecedores
devedor, o crédito por custas judiciais, ou por respondem subsidiariamente pelos vícios de quanti-
despesas com a arrecadação e liquidação da dade do produto sempre que, respeitadas as varia-
massa. ções decorrentes de sua natureza, seu conteúdo
líquido for inferior ao indicado no recipiente, na em-
Está correta a alternativa: balagem, rotulagem ou mensagem publicitária.
B) As normas consumeristas são dispositivas, em
A) I, II e III. regra, visando à proteção e defesa do consumidor,
B) II, III e IV. em juízo e fora dele.
C) III, IV e V. C) Os direitos previstos no texto legal consumerista
D) I, III e IV. são taxativos, dada sua natureza protetiva em face
E) II, III e V. do fornecedor de produtos ou serviços.
D) Entre outras hipóteses, nas relações de consumo
COMENTÁRIOS poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica sem-
Correta a assertiva de letra b. O item II está correto pre que sua personalidade for, de alguma forma,
de acordo com o art. 188, inc. II e parágrafo único obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados
do CC/02. O item III está correto e traz o verbete da aos consumidores.
Súmula 490 do STF e por fim, o item IV, reproduz o E) A ignorância comprovada do fornecedor sobre os
caput do art. 928, da lei civil. vícios de qualidade por inadequação dos produtos
ou serviços o exime de responsabilidade.
6. (MPT - 2012 - MPT - Procurador) À luz do Có-
digo Civil, assinale a assertiva CORRETA: COMENTÁRIOS
Está certa a afirmativa constante da letra D e repro-
A) No caso de indenização por danos, se da ofensa duz o teor do § 5º do art. 28 do CDC.
resultar defeito pelo qual o ofendido não possa
exercer o seu ofício ou profissão, ou se lhe diminua 2. (CESPE - 2013 - TRT - 5ª Região (BA) - Juiz do
a capacidade de trabalho, a indenização, além das Trabalho) Acerca de publicidade empresarial,
despesas do tratamento e lucros cessantes até o assinale a opção correta à luz do Código de De-
fim da convalescença, incluirá pensão correspon- fesa do Consumidor.
dente à importância do trabalho para que se inabili-
tou, ou da depreciação que ele sofreu; porém, se o A) É do MP o ônus da prova em ação civil pública
ofensor preferir, poderá exigir que a indenização por ele proposta para responsabilizar anunciante
seja arbitrada para pagamento de uma só vez. por publicidade abusiva ou enganosa, sendo aplicá-
B) Se a obrigação for indeterminada, e não houver vel a inversão se presentes os pressupostos que a
na lei ou no contrato disposição fixando a indeniza- justifiquem.
ção devida pelo inadimplente, apurar-se-á o valor B) Considere que determinada agência de turismo
das perdas e danos na forma que a lei processual promova a distribuição de panfletos anunciando a
determinar. venda de pacotes de turismo, a preços baixos, para
C) Em nenhuma circunstância constituirá ato ilícito a praias do México, nos meses de janeiro a março,
deterioração ou destruição da coisa alheia, ou a mas omita que esse período corresponde à tempo-
lesão a pessoa, a fim de remover perigo iminente. rada de furacões na região. Nesse caso, a publici-
D) Não comete ato ilícito o titular de um direito que, dade é considerada simulada por omissão.
ao exercê-lo, excede manifestamente os limites C) Considere que, em jornal de circulação nacional,
impostos pelos bons costumes. seja publicada, com aparência de matéria jornalísti-
ca desse jornal e sem indicação de se tratar de pu-
COMENTÁRIOS blicidade, publicidade relativa a determinado auto-
A letra A está incorreta de acordo com disposição móvel em que esse automóvel é avaliado como
do art. 950 e parágrafo único, do CC. A letra B é o excelente. Nesse caso, a referida publicidade é
gabarito e está correta, tendo por base legal o art. considerada enganosa.
946 da lei civil. A assertiva de letra C está incorreta D) Compete exclusivamente ao Poder Executivo
de acordo com o art. 188, II e parágrafo único, do impor a realização de contrapropaganda ao anunci-
CC. E por fim, incorreta a alternativa de letra D, ante que tenha feito anúncio publicitário abusivo ou
conforme redação do art. 187, do CC. enganoso.

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Direito Civil – Apostila de Contratos em Espécie e Resp. Civil
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E) Considere que, em anúncio televisivo, protagoni- B) A convenção coletiva de consumo será obrigato-
zado por médico de renome por fazer reportagens riamente escrita, tornando-se obrigatória a partir do
televisivas e por ser escritor, se afirme que determi- seu registro no cartório de títulos e documentos.
nado sabonete elimina 90% das bactérias presentes C) Diversamente das convenções coletivas de tra-
na pele das crianças e que se apure que, na verda- balho, as quais possuem efeitos erga omnes em
de, o referido sabonete elimina apenas 10% das relação aos membros das categorias representadas,
bactérias. Nessa situação, o anúncio é publicidade a convenção coletiva de consumo obriga somente
abusiva. os filiados às entidades signatárias.
D) Não se exime de cumprimento da convenção
COMENTÁRIOS coletiva de consumo o fornecedor que se desligar
O art. 56, inc. XII dispõe que “As infrações das da entidade em data posterior ao registro do instru-
normas de defesa do consumidor ficam sujeitas, mento, com exceção das disposições que versarem
conforme o caso, às seguintes sanções administra- sobre preços e características dos produtos.
tivas, sem prejuízo das de natureza civil, penal e E) não respondida.
das definidas em normas específicas: [...]XII - impo-
sição de contrapropaganda.” Assim, correta a asser- COMENTÁRIOS
tiva de letra D. Consta como incorreta a alternativa de letra D. O §
3º do art. 107, do CDC, dispõe que “Não se exime
3. (TRT 15R - 2013 - TRT - 15ª Região - Juiz do de cumprir a convenção o fornecedor que se desli-
Trabalho) Não constitui direito básico dos con- gar da entidade em data posterior ao registro do
sumidores: instrumento.”, todavia não faz exceção alguma a
respeito dos preços e características dos produtos.
A) a proteção da vida, saúde e segurança contra os
riscos provocados por práticas no fornecimento de
produtos e serviços considerados perigosos ou no-
civos;
B) a educação e divulgação sobre o consumo ade-
quado dos produtos e serviços, asseguradas a li-
berdade de escolha e a igualdade nas contratações;
C) a informação adequada e clara sobre os diferen-
tes produtos e serviços, com especificação correta
de quantidade, características, composição, quali-
dade e preço, bem como sobre os riscos que apre-
sentem;
D) a informação ou publicidade, suficientemente
precisa, veiculada por qualquer forma ou meio de
comunicação com relação a produtos e serviços
oferecidos ou apresentados;
E) a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive
com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no
processo civil e trabalhista, quando, a critério do
juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele
hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de
experiências.

COMENTÁRIOS
Incorreta a disposição contida da letra E. O art. 6º
em seu inc. VIII faz menção apenas ao processo
civil e não ao trabalhista.

4. (MPT - 2013 - MPT - Procurador) Em conformi-


dade com o Código de Defesa do Consumidor
(Lei nº 8.078/90), assinale a alternati-
va INCORRETA:

A) Constam expressamente como legitimados para


firmar convenção coletiva de consumo apenas as
entidades civis de consumidores, as associações de
fornecedores e os sindicatos da categoria econômi-
ca.

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OAB XXI EXAME DE ORDEM – 1ª FASE
Direito Civil – Apostila de Contratos em Espécie e Resp. Civil
Cristiano Sobral
GABARITO (QUESTÕES PARTE I)

1. C
2. C
3. C
4. D
5. A
6. A

GABARITO (QUESTÕES PARTE II)

1. C
2. A
3. E
4. B
5. B
6. B

GABARITO (QUESTÕES PARTE III)

1. D
2. D
3. E
4. D

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OAB 1ª FASE - XXI EXAME DE ORDEM
Direito Civil – Aula 01 e 02
Roberto Figueiredo

Aquisição da Posse.
ROBERTO FIGUEIREDO
PROCURADOR DO ESTADO DA BAHIA. MESTRE EM DI- Art. 1.204. Adquire-se a posse desde o momento
REITO (UFBA). ADVOGADO. em que se torna possível o exercício, em nome
PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO DE PROCURADORES DO próprio, de qualquer dos poderes inerentes à propri-
ESTADO TRIÊNIO 2016/2018. edade.
PERISCOLPE: ROBERTO_CIVIL.
INSTAGRAM>: ROBERTO_CIVIL. Art. 1.205. A posse pode ser adquirida:
TWITTER: ROBERTO_CIVIL.
FACEBOOK (FANPAGE): ROBERTO FIGUEIREDO (PRO- I - pela própria pessoa que a pretende ou por seu
FESSOR). representante;
II - por terceiro sem mandato, dependendo de ratifi-
A Posse: Notas Introdutórias. cação.

Art. 1.196. Considera-se possuidor todo aquele que Perda da Posse.


tem de fato o exercício, pleno ou não, de algum dos
poderes inerentes à propriedade. Art. 1.223. Perde-se a posse quando cessa, embora
contra a vontade do possuidor, o poder sobre o
Atenção! bem, ao qual se refere o art. 1.196.

Art. 1.228. O proprietário tem a faculdade de usar, Art. 1.224. Só se considera perdida a posse para
gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-la do quem não presenciou o esbulho, quando, tendo
poder de quem quer que injustamente a possua ou notícia dele, se abstém de retornar a coisa, ou, ten-
detenha. tando recuperá-la, é violentamente repelido.

Composse. Atenção!

Art. 1.199. Se duas ou mais pessoas possuírem A posse é direito transmissível.


coisa indivisa, poderá cada uma exercer sobre ela
atos possessórios, contanto que não excluam os Art. 1.206. A posse transmite-se aos herdeiros ou
dos outros compossuidores. legatários do possuidor com os mesmos caracteres.

E no Novo CPC? Art. 1.207. O sucessor universal continua de direito


a posse do seu antecessor; e ao sucessor singular é
o
Art. 73. § 2 Nas ações possessórias, a participação facultado unir sua posse à do antecessor, para os
do cônjuge do autor ou do réu somente é indispen- efeitos legais.
sável nas hipóteses de composse ou de ato por
ambos praticado. Classificação da Posse: (Direta x Indireta, Justa
x Injusta, de Boa-fé x de Má-fé).
Detentor (Fâmulo ou Servidor da Posse).
Art. 1.197. A posse direta, de pessoa que tem a
Art. 1.198. Considera-se detentor aquele que, coisa em seu poder, temporariamente, em virtude
achando-se em relação de dependência para com de direito pessoal, ou real, não anula a indireta, de
outro, conserva a posse em nome deste e em cum- quem aquela foi havida, podendo o possuidor direto
primento de ordens ou instruções suas. defender a sua posse contra o indireto.

Parágrafo único. Aquele que começou a comportar- Art. 1.200. É justa a posse que não for violenta,
se do modo como prescreve este artigo, em relação clandestina ou precária.
ao bem e à outra pessoa, presume-se detentor, até
que prove o contrário. Art. 1.201. É de boa-fé a posse, se o possuidor ig-
nora o vício, ou o obstáculo que impede a aquisição
Outras hipóteses de detenção. da coisa.
Parágrafo único. O possuidor com justo título tem
Art. 1.208. Não induzem posse os atos de mera por si a presunção de boa-fé, salvo prova em con-
permissão ou tolerância assim como não autorizam trário, ou quando a lei expressamente não admite
a sua aquisição os atos violentos, ou clandestinos, esta presunção.
senão depois de cessar a violência ou a clandestini-
dade. Atenção!

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OAB 1ª FASE - XXI EXAME DE ORDEM
Direito Civil – Aula 01 e 02
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Art. 1.202. A posse de boa-fé só perde este caráter teção possessória e a indenização pelos prejuízos
no caso e desde o momento em que as circunstân- resultantes da turbação ou do esbulho cometido
cias façam presumir que o possuidor não ignora que pelo autor.
possui indevidamente.
Art. 557. Na pendência de ação possessória é ve-
Art. 1.203. Salvo prova em contrário, entende-se dado, tanto ao autor quanto ao réu, propor ação de
manter a posse o mesmo caráter com que foi adqui- reconhecimento do domínio, exceto se a pretensão
rida. for deduzida em face de terceira pessoa.
Parágrafo único. Não obsta à manutenção ou à
Art. 1.209. A posse do imóvel faz presumir, até pro- reintegração de posse a alegação de propriedade
va contrária, a das coisas móveis que nele estive- ou de outro direito sobre a coisa.
rem. Art. 558. Regem o procedimento de manutenção e
de reintegração de posse as normas da Seção II
Aspectos Processuais da Posse: Breves notas. deste Capítulo quando a ação for proposta dentro
de ano e dia da turbação ou do esbulho afirmado na
Art. 1.210. O possuidor tem direito a ser mantido na petição inicial.
posse em caso de turbação, restituído no de esbu- Parágrafo único. Passado o prazo referido no ca-
lho, e segurado de violência iminente, se tiver justo put, será comum o procedimento, não perdendo,
receio de ser molestado. contudo, o caráter possessório.

E no Novo CPC? Art. 559. Se o réu provar, em qualquer tempo, que


o autor provisoriamente mantido ou reintegrado na
CAPÍTULO III posse carece de idoneidade financeira para, no
DAS AÇÕES POSSESSÓRIAS caso de sucumbência, responder por perdas e da-
Seção Disposições Gerais nos, o juiz designar-lhe-á o prazo de 5 (cinco) dias
para requerer caução, real ou fidejussória, sob pena
Art. 554. A propositura de uma ação possessória de ser depositada a coisa litigiosa, ressalvada a
em vez de outra não obstará a que o juiz conheça impossibilidade da parte economicamente hipossu-
do pedido e outorgue a proteção legal correspon- ficiente.
dente àquela cujos pressupostos estejam provados.
Seção II
o
§ 1 No caso de ação possessória em que figure no Da Manutenção e da Reintegração de Posse
polo passivo grande número de pessoas, serão
feitas a citação pessoal dos ocupantes que forem Art. 560. O possuidor tem direito a ser mantido na
encontrados no local e a citação por edital dos de- posse em caso de turbação e reintegrado em caso
mais, determinando-se, ainda, a intimação do Minis- de esbulho.
tério Público e, se envolver pessoas em situação de Art. 561. Incumbe ao autor provar:
hipossuficiência econômica, da Defensoria Pública. I - a sua posse;
o o
§ 2 Para fim da citação pessoal prevista no § 1 , o II - a turbação ou o esbulho praticado pelo réu;
oficial de justiça procurará os ocupantes no local por III - a data da turbação ou do esbulho;
uma vez, citando-se por edital os que não forem IV - a continuação da posse, embora turbada, na
encontrados. ação de manutenção, ou a perda da posse, na ação
o
§ 3 O juiz deverá determinar que se dê ampla pu- de reintegração.
o
blicidade da existência da ação prevista no § 1 e
dos respectivos prazos processuais, podendo, para Art. 562. Estando a petição inicial devidamente
tanto, valer-se de anúncios em jornal ou rádio lo- instruída, o juiz deferirá, sem ouvir o réu, a expedi-
cais, da publicação de cartazes na região do conflito ção do mandado liminar de manutenção ou de rein-
e de outros meios. tegração, caso contrário, determinará que o autor
Art. 555. É lícito ao autor cumular ao pedido pos- justifique previamente o alegado, citando-se o réu
sessório o de: para comparecer à audiência que for designada.
I - condenação em perdas e danos; Parágrafo único. Contra as pessoas jurídicas de
II - indenização dos frutos. direito público não será deferida a manutenção ou a
Parágrafo único. Pode o autor requerer, ainda, im- reintegração liminar sem prévia audiência dos res-
posição de medida necessária e adequada para: pectivos representantes judiciais.
I - evitar nova turbação ou esbulho;
II - cumprir-se a tutela provisória ou final. Art. 563. Considerada suficiente a justificação, o
juiz fará logo expedir mandado de manutenção ou
Art. 556. É lícito ao réu, na contestação, alegando de reintegração.
que foi o ofendido em sua posse, demandar a pro-

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Direito Civil – Aula 01 e 02
Roberto Figueiredo

o
Art. 564. Concedido ou não o mandado liminar de § 1 O possuidor turbado, ou esbulhado, poderá
manutenção ou de reintegração, o autor promoverá, manter-se ou restituir-se por sua própria força, con-
nos 5 (cinco) dias subsequentes, a citação do réu tanto que o faça logo; os atos de defesa, ou de des-
para, querendo, contestar a ação no prazo de 15 forço, não podem ir além do indispensável à manu-
(quinze) dias. tenção, ou restituição da posse.
Parágrafo único. Quando for ordenada a justifica-
ção prévia, o prazo para contestar será contado da A exceptio domini e a sua vedação nas ações
intimação da decisão que deferir ou não a medida possessórias.
liminar.
o
§ 2 Não obsta à manutenção ou reintegração na
Art. 565. No litígio coletivo pela posse de imóvel, posse a alegação de propriedade, ou de outro direi-
quando o esbulho ou a turbação afirmado na peti- to sobre a coisa.
ção inicial houver ocorrido há mais de ano e dia, o
juiz, antes de apreciar o pedido de concessão da A posse e os frutos.
medida liminar, deverá designar audiência de medi-
ação, a realizar-se em até 30 (trinta) dias, que ob- Art. 1.214. O possuidor de boa-fé tem direito, en-
o o
servará o disposto nos §§ 2 e 4 . quanto ela durar, aos frutos percebidos.
o
§ 1 Concedida a liminar, se essa não for executada
no prazo de 1 (um) ano, a contar da data de distri- Parágrafo único. Os frutos pendentes ao tempo em
buição, caberá ao juiz designar audiência de media- que cessar a boa-fé devem ser restituídos, depois
o o
ção, nos termos dos §§ 2 a 4 deste artigo. de deduzidas as despesas da produção e custeio;
o
§ 2 O Ministério Público será intimado para compa- devem ser também restituídos os frutos colhidos
recer à audiência, e a Defensoria Pública será inti- com antecipação.
mada sempre que houver parte beneficiária de gra-
tuidade da justiça. Art. 1.215. Os frutos naturais e industriais reputam-
o
§ 3 O juiz poderá comparecer à área objeto do se colhidos e percebidos, logo que são separados;
litígio quando sua presença se fizer necessária à os civis reputam-se percebidos dia por dia.
efetivação da tutela jurisdicional.
o
§ 4 Os órgãos responsáveis pela política agrária e Art. 1.216. O possuidor de má-fé responde por to-
pela política urbana da União, de Estado ou do Dis- dos os frutos colhidos e percebidos, bem como pe-
trito Federal e de Município onde se situe a área los que, por culpa sua, deixou de perceber, desde o
objeto do litígio poderão ser intimados para a audi- momento em que se constituiu de má-fé; tem direito
ência, a fim de se manifestarem sobre seu interesse às despesas da produção e custeio.
no processo e sobre a existência de possibilidade
de solução para o conflito possessório. A posse e a perda ou deterioração da coisa.
o
§ 5 Aplica-se o disposto neste artigo ao litígio sobre
propriedade de imóvel. Art. 1.217. O possuidor de boa-fé não responde pela
Art. 566. Aplica-se, quanto ao mais, o procedimento perda ou deterioração da coisa, a que não der cau-
comum. sa.

Art. 1.218. O possuidor de má-fé responde pela


perda, ou deterioração da coisa, ainda que aciden-
tais, salvo se provar que de igual modo se teriam
dado, estando ela na posse do reivindicante.
Seção III
Do Interdito Proibitório A posse e as benfeitorias.
Art. 567. O possuidor direto ou indireto que tenha
justo receio de ser molestado na posse poderá re- Art. 1.219. O possuidor de boa-fé tem direito à inde-
querer ao juiz que o segure da turbação ou esbulho nização das benfeitorias necessárias e úteis, bem
iminente, mediante mandado proibitório em que se como, quanto às voluptuárias, se não lhe forem
comine ao réu determinada pena pecuniária caso pagas, a levantá-las, quando o puder sem detrimen-
transgrida o preceito. to da coisa, e poderá exercer o direito de retenção
pelo valor das benfeitorias necessárias e úteis.
Art. 568. Aplica-se ao interdito proibitório o disposto
na Seção II deste Capítulo. Art. 1.220. Ao possuidor de má-fé serão ressarcidas
somente as benfeitorias necessárias; não lhe assis-
A legítima defesa da posse e o desforço inconti- te o direito de retenção pela importância destas,
nente. nem o de levantar as voluptuárias.

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Direito Civil – Aula 01 e 02
Roberto Figueiredo

Art. 1.221. As benfeitorias compensam-se com os poder de quem quer que injustamente a possua ou
danos, e só obrigam ao ressarcimento se ao tempo detenha.
da evicção ainda existirem.
o
§ 1 O direito de propriedade deve ser exercido em
Art. 1.222. O reivindicante, obrigado a indenizar as consonância com as suas finalidades econômicas e
benfeitorias ao possuidor de má-fé, tem o direito de sociais e de modo que sejam preservados, de con-
optar entre o seu valor atual e o seu custo; ao pos- formidade com o estabelecido em lei especial, a
suidor de boa-fé indenizará pelo valor atual. flora, a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio eco-
lógico e o patrimônio histórico e artístico, bem como
Direitos Reais: Introdução. evitada a poluição do ar e das águas.
o
§ 2 São defesos os atos que não trazem ao pro-
Art. 1.225. São direitos reais: prietário qualquer comodidade, ou utilidade, e sejam
animados pela intenção de prejudicar outrem.
o
I - a propriedade; § 3 O proprietário pode ser privado da coisa, nos
II - a superfície; casos de desapropriação, por necessidade ou utili-
III - as servidões; dade pública ou interesse social, bem como no de
IV - o usufruto; requisição, em caso de perigo público iminente.
o
V - o uso; § 4 O proprietário também pode ser privado da
VI - a habitação; coisa se o imóvel reivindicado consistir em extensa
VII - o direito do promitente comprador do imóvel; área, na posse ininterrupta e de boa-fé, por mais de
VIII - o penhor; cinco anos, de considerável número de pessoas, e
IX - a hipoteca; estas nela houverem realizado, em conjunto ou
X - a anticrese. separadamente, obras e serviços considerados pelo
XI - a concessão de uso especial para fins de mora- juiz de interesse social e econômico relevante.
o
dia; § 5 No caso do parágrafo antecedente, o juiz fixará
XII - a concessão de direito real de uso; e (Redação a justa indenização devida ao proprietário; pago o
dada pela Medida Provisória nº 700, de 2015) preço, valerá a sentença como título para o registro
XIII - os direitos oriundos da imissão provisória na do imóvel em nome dos possuidores.
posse, quando concedida à União, aos Estados, ao
Distrito Federal, aos Municípios ou às suas entida- Art. 1.229. A propriedade do solo abrange a do es-
des delegadas e respectiva cessão e promessa de paço aéreo e subsolo correspondentes, em altura e
cessão. (Incluído pela Medida Provisória nº 700, de profundidade úteis ao seu exercício, não podendo o
2015) proprietário opor-se a atividades que sejam realiza-
das, por terceiros, a uma altura ou profundidade
tais, que não tenha ele interesse legítimo em impe-
di-las.

Art. 1.230. A propriedade do solo não abrange as


Atenção! jazidas, minas e demais recursos minerais, os po-
tenciais de energia hidráulica, os monumentos ar-
No Brasil o contrato de compra e venda não queológicos e outros bens referidos por leis especi-
transfere a propriedade (não tem caráter traslati- ais.
vo).
Parágrafo único. O proprietário do solo tem o direito
Art. 1.226. Os direitos reais sobre coisas móveis, de explorar os recursos minerais de emprego imedi-
quando constituídos, ou transmitidos por atos entre ato na construção civil, desde que não submetidos a
vivos, só se adquirem com a tradição. transformação industrial, obedecido o disposto em
lei especial.
Art. 1.227. Os direitos reais sobre imóveis constituí-
dos, ou transmitidos por atos entre vivos, só se ad- Art. 1.231. A propriedade presume-se plena e ex-
quirem com o registro no Cartório de Registro de clusiva, até prova em contrário.
Imóveis dos referidos títulos (arts. 1.245 a 1.247),
salvo os casos expressos neste Código. Art. 1.232. Os frutos e mais produtos da coisa per-
tencem, ainda quando separados, ao seu proprietá-
A Propriedade e sua Função Social. rio, salvo se, por preceito jurídico especial, coube-
rem a outrem.
Art. 1.228. O proprietário tem a faculdade de usar,
gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-la do A Descoberta.

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Art. 1.233. Quem quer que ache coisa alheia perdi- Art. 1.239. Aquele que, não sendo proprietário de
da há de restituí-la ao dono ou legítimo possuidor. imóvel rural ou urbano, possua como sua, por cinco
anos ininterruptos, sem oposição, área de terra em
Parágrafo único. Não o conhecendo, o descobridor zona rural não superior a cinqüenta hectares, tor-
fará por encontrá-lo, e, se não o encontrar, entrega- nando-a produtiva por seu trabalho ou de sua famí-
rá a coisa achada à autoridade competente. lia, tendo nela sua moradia, adquirir-lhe-á a proprie-
dade.
Art. 1.234. Aquele que restituir a coisa achada, nos
termos do artigo antecedente, terá direito a uma Art. 1.240. Aquele que possuir, como sua, área ur-
recompensa não inferior a cinco por cento do seu bana de até duzentos e cinqüenta metros quadra-
valor, e à indenização pelas despesas que houver dos, por cinco anos ininterruptamente e sem oposi-
feito com a conservação e transporte da coisa, se o ção, utilizando-a para sua moradia ou de sua famí-
dono não preferir abandoná-la. lia, adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja
proprietário de outro imóvel urbano ou rural.
o
Parágrafo único. Na determinação do montante da § 1 O título de domínio e a concessão de uso serão
recompensa, considerar-se-á o esforço desenvolvi- conferidos ao homem ou à mulher, ou a ambos,
do pelo descobridor para encontrar o dono, ou o independentemente do estado civil.
o
legítimo possuidor, as possibilidades que teria este § 2 O direito previsto no parágrafo antecedente não
de encontrar a coisa e a situação econômica de será reconhecido ao mesmo possuidor mais de uma
ambos. vez.

Art. 1.235. O descobridor responde pelos prejuízos Art. 1.240-A. Aquele que exercer, por 2 (dois) anos
causados ao proprietário ou possuidor legítimo, ininterruptamente e sem oposição, posse direta,
quando tiver procedido com dolo. com exclusividade, sobre imóvel urbano de até
250m² (duzentos e cinquenta metros quadrados)
Art. 1.236. A autoridade competente dará conheci- cuja propriedade divida com ex-cônjuge ou ex-
mento da descoberta através da imprensa e outros companheiro que abandonou o lar, utilizando-o para
meios de informação, somente expedindo editais se sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o do-
o seu valor os comportar. mínio integral, desde que não seja proprietário de
outro imóvel urbano ou rural.
o
Art. 1.237. Decorridos sessenta dias da divulgação § 1 O direito previsto no caput não será reconheci-
da notícia pela imprensa, ou do edital, não se apre- do ao mesmo possuidor mais de uma vez.
sentando quem comprove a propriedade sobre a
coisa, será esta vendida em hasta pública e, dedu- Art. 1.241. Poderá o possuidor requerer ao juiz seja
zidas do preço as despesas, mais a recompensa do declarada adquirida, mediante usucapião, a proprie-
descobridor, pertencerá o remanescente ao Municí- dade imóvel.
pio em cuja circunscrição se deparou o objeto per- Parágrafo único. A declaração obtida na forma des-
dido. te artigo constituirá título hábil para o registro no
Cartório de Registro de Imóveis.
Parágrafo único. Sendo de diminuto valor, poderá o
Município abandonar a coisa em favor de quem a Art. 1.242. Adquire também a propriedade do imóvel
achou. aquele que, contínua e incontestadamente, com
justo título e boa-fé, o possuir por dez anos.
A Aquisição da Propriedade Imóvel. Parágrafo único. Será de cinco anos o prazo previs-
to neste artigo se o imóvel houver sido adquirido,
a) Usucapião onerosamente, com base no registro constante do
respectivo cartório, cancelada posteriormente, des-
Art. 1.238. Aquele que, por quinze anos, sem inter- de que os possuidores nele tiverem estabelecido a
rupção, nem oposição, possuir como seu um imóvel, sua moradia, ou realizado investimentos de interes-
adquire-lhe a propriedade, independentemente de se social e econômico.
título e boa-fé; podendo requerer ao juiz que assim
o declare por sentença, a qual servirá de título para Art. 1.243. O possuidor pode, para o fim de contar o
o registro no Cartório de Registro de Imóveis. tempo exigido pelos artigos antecedentes, acres-
Parágrafo único. O prazo estabelecido neste artigo centar à sua posse a dos seus antecessores (art.
reduzir-se-á a dez anos se o possuidor houver esta- 1.207), contanto que todas sejam contínuas, pacífi-
belecido no imóvel a sua moradia habitual, ou nele cas e, nos casos do art. 1.242, com justo título e de
realizado obras ou serviços de caráter produtivo. boa-fé.

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o
Art. 1.244. Estende-se ao possuidor o disposto § 5 Para a elucidação de qualquer ponto de dúvida,
quanto ao devedor acerca das causas que obstam, poderão ser solicitadas ou realizadas diligências
suspendem ou interrompem a prescrição, as quais pelo oficial de registro de imóveis.
o o
também se aplicam à usucapião. § 6 Transcorrido o prazo de que trata o § 4 deste
artigo, sem pendência de diligências na forma do §
o
Atenção. A usucapião e o Novo CPC” 5 deste artigo e achando-se em ordem a documen-
tação, com inclusão da concordância expressa dos
o
Art. 1.071. O Capítulo III do Título V da Lei n titulares de direitos reais e de outros direitos regis-
6.015, de 31 de dezembro de 1973 (Lei de Regis- trados ou averbados na matrícula do imóvel usuca-
tros Públicos), passa a vigorar acrescida do seguin- piendo e na matrícula dos imóveis confinantes, o
te art. 216-A: (Vigência) oficial de registro de imóveis registrará a aquisição
do imóvel com as descrições apresentadas, sendo
“Art. 216-A. Sem prejuízo da via jurisdicional, é permitida a abertura de matrícula, se for o caso.
o
admitido o pedido de reconhecimento extrajudicial § 7 Em qualquer caso, é lícito ao interessado susci-
de usucapião, que será processado diretamente tar o procedimento de dúvida, nos termos desta Lei.
o
perante o cartório do registro de imóveis da comar- § 8 Ao final das diligências, se a documentação
ca em que estiver situado o imóvel usucapiendo, a não estiver em ordem, o oficial de registro de imó-
requerimento do interessado, representado por ad- veis rejeitará o pedido.
o
vogado, instruído com: § 9 A rejeição do pedido extrajudicial não impede o
I - ata notarial lavrada pelo tabelião, atestando o ajuizamento de ação de usucapião.
tempo de posse do requerente e seus antecessores, § 10. Em caso de impugnação do pedido de reco-
conforme o caso e suas circunstâncias; nhecimento extrajudicial de usucapião, apresentada
II - planta e memorial descritivo assinado por profis- por qualquer um dos titulares de direito reais e de
sional legalmente habilitado, com prova de anotação outros direitos registrados ou averbados na matrícu-
de responsabilidade técnica no respectivo conselho la do imóvel usucapiendo e na matrícula dos imó-
de fiscalização profissional, e pelos titulares de direi- veis confinantes, por algum dos entes públicos ou
tos reais e de outros direitos registrados ou averba- por algum terceiro interessado, o oficial de registro
dos na matrícula do imóvel usucapiendo e na matrí- de imóveis remeterá os autos ao juízo competente
cula dos imóveis confinantes; da comarca da situação do imóvel, cabendo ao re-
III - certidões negativas dos distribuidores da co- querente emendar a petição inicial para adequá-la
marca da situação do imóvel e do domicílio do re- ao procedimento comum.”
querente;
IV - justo título ou quaisquer outros documentos que b) Registro do Título.
demonstrem a origem, a continuidade, a natureza e
o tempo da posse, tais como o pagamento dos im- Art. 1.245. Transfere-se entre vivos a propriedade
postos e das taxas que incidirem sobre o imóvel. mediante o registro do título translativo no Registro
o
§ 1 O pedido será autuado pelo registrador, prorro- de Imóveis.
o
gando-se o prazo da prenotação até o acolhimento § 1 Enquanto não se registrar o título translativo, o
ou a rejeição do pedido. alienante continua a ser havido como dono do imó-
o
§ 2 Se a planta não contiver a assinatura de qual- vel.
o
quer um dos titulares de direitos reais e de outros § 2 Enquanto não se promover, por meio de ação
direitos registrados ou averbados na matrícula do própria, a decretação de invalidade do registro, e o
imóvel usucapiendo e na matrícula dos imóveis respectivo cancelamento, o adquirente continua a
confinantes, esse será notificado pelo registrador ser havido como dono do imóvel.
competente, pessoalmente ou pelo correio com
aviso de recebimento, para manifestar seu consen- Art. 1.246. O registro é eficaz desde o momento em
timento expresso em 15 (quinze) dias, interpretado que se apresentar o título ao oficial do registro, e
o seu silêncio como discordância. este o prenotar no protocolo.
o
§ 3 O oficial de registro de imóveis dará ciência à
União, ao Estado, ao Distrito Federal e ao Municí- Art. 1.247. Se o teor do registro não exprimir a ver-
pio, pessoalmente, por intermédio do oficial de re- dade, poderá o interessado reclamar que se retifi-
gistro de títulos e documentos, ou pelo correio com que ou anule.
aviso de recebimento, para que se manifestem, em Parágrafo único. Cancelado o registro, poderá o
15 (quinze) dias, sobre o pedido. proprietário reivindicar o imóvel, independentemente
o
§ 4 O oficial de registro de imóveis promoverá a da boa-fé ou do título do terceiro adquirente.
publicação de edital em jornal de grande circulação,
onde houver, para a ciência de terceiros eventual- c) Acessão.
mente interessados, que poderão se manifestar em
15 (quinze) dias. Art. 1.248. A acessão pode dar-se:

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I - por formação de ilhas; Das Construções e Plantações


II - por aluvião;
III - por avulsão; Art. 1.253. Toda construção ou plantação existente
IV - por abandono de álveo; em um terreno presume-se feita pelo proprietário e
V - por plantações ou construções. à sua custa, até que se prove o contrário.

Das Ilhas Art. 1.254. Aquele que semeia, planta ou edifica em


terreno próprio com sementes, plantas ou materiais
Art. 1.249. As ilhas que se formarem em correntes alheios, adquire a propriedade destes; mas fica
comuns ou particulares pertencem aos proprietários obrigado a pagar-lhes o valor, além de responder
ribeirinhos fronteiros, observadas as regras seguin- por perdas e danos, se agiu de má-fé.
tes:
I - as que se formarem no meio do rio consideram- Art. 1.255. Aquele que semeia, planta ou edifica em
se acréscimos sobrevindos aos terrenos ribeirinhos terreno alheio perde, em proveito do proprietário, as
fronteiros de ambas as margens, na proporção de sementes, plantas e construções; se procedeu de
suas testadas, até a linha que dividir o álveo em boa-fé, terá direito a indenização.
duas partes iguais; Parágrafo único. Se a construção ou a plantação
II - as que se formarem entre a referida linha e uma exceder consideravelmente o valor do terreno,
das margens consideram-se acréscimos aos terre- aquele que, de boa-fé, plantou ou edificou, adquirirá
nos ribeirinhos fronteiros desse mesmo lado; a propriedade do solo, mediante pagamento da
III - as que se formarem pelo desdobramento de um indenização fixada judicialmente, se não houver
novo braço do rio continuam a pertencer aos propri- acordo.
etários dos terrenos à custa dos quais se constituí-
ram. Art. 1.256. Se de ambas as partes houve má-fé,
adquirirá o proprietário as sementes, plantas e cons-
Da Aluvião truções, devendo ressarcir o valor das acessões.
Parágrafo único. Presume-se má-fé no proprietário,
Art. 1.250. Os acréscimos formados, sucessiva e quando o trabalho de construção, ou lavoura, se fez
imperceptivelmente, por depósitos e aterros naturais em sua presença e sem impugnação sua.
ao longo das margens das correntes, ou pelo desvio
das águas destas, pertencem aos donos dos terre- Art. 1.257. O disposto no artigo antecedente aplica-
nos marginais, sem indenização. se ao caso de não pertencerem as sementes, plan-
Parágrafo único. O terreno aluvial, que se formar em tas ou materiais a quem de boa-fé os empregou em
frente de prédios de proprietários diferentes, dividir- solo alheio.
se-á entre eles, na proporção da testada de cada Parágrafo único. O proprietário das sementes, plan-
um sobre a antiga margem. tas ou materiais poderá cobrar do proprietário do
solo a indenização devida, quando não puder havê-
Da Avulsão la do plantador ou construtor.

Art. 1.251. Quando, por força natural violenta, uma Art. 1.258. Se a construção, feita parcialmente em
porção de terra se destacar de um prédio e se juntar solo próprio, invade solo alheio em proporção não
a outro, o dono deste adquirirá a propriedade do superior à vigésima parte deste, adquire o constru-
acréscimo, se indenizar o dono do primeiro ou, sem tor de boa-fé a propriedade da parte do solo invadi-
indenização, se, em um ano, ninguém houver re- do, se o valor da construção exceder o dessa parte,
clamado. e responde por indenização que represente, tam-
Parágrafo único. Recusando-se ao pagamento de bém, o valor da área perdida e a desvalorização da
indenização, o dono do prédio a que se juntou a área remanescente.
porção de terra deverá aquiescer a que se remova a Parágrafo único. Pagando em décuplo as perdas e
parte acrescida. danos previstos neste artigo, o construtor de má-fé
adquire a propriedade da parte do solo que invadiu,
Do Álveo Abandonado se em proporção à vigésima parte deste e o valor da
construção exceder consideravelmente o dessa
Art. 1.252. O álveo abandonado de corrente perten- parte e não se puder demolir a porção invasora sem
ce aos proprietários ribeirinhos das duas margens, grave prejuízo para a construção.
sem que tenham indenização os donos dos terrenos
por onde as águas abrirem novo curso, entendendo- Art. 1.259. Se o construtor estiver de boa-fé, e a
se que os prédios marginais se estendem até o invasão do solo alheio exceder a vigésima parte
meio do álveo. deste, adquire a propriedade da parte do solo inva-
dido, e responde por perdas e danos que abranjam

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o valor que a invasão acrescer à construção, mais o tais que, ao adquirente de boa-fé, como a qualquer
da área perdida e o da desvalorização da área re- pessoa, o alienante se afigurar dono.
o
manescente; se de má-fé, é obrigado a demolir o § 1 Se o adquirente estiver de boa-fé e o alienante
que nele construiu, pagando as perdas e danos adquirir depois a propriedade, considera-se realiza-
apurados, que serão devidos em dobro. da a transferência desde o momento em que ocor-
reu a tradição.
o
A Aquisição da Propriedade Móvel. § 2 Não transfere a propriedade a tradição, quando
tiver por título um negócio jurídico nulo.
a) Da Usucapião
e) Da Especificação
Art. 1.260. Aquele que possuir coisa móvel como
sua, contínua e incontestadamente durante três Art. 1.269. Aquele que, trabalhando em matéria-
anos, com justo título e boa-fé, adquirir-lhe-á a pro- prima em parte alheia, obtiver espécie nova, desta
priedade. será proprietário, se não se puder restituir à forma
anterior.
Art. 1.261. Se a posse da coisa móvel se prolongar
por cinco anos, produzirá usucapião, independen- Art. 1.270. Se toda a matéria for alheia, e não se
temente de título ou boa-fé. puder reduzir à forma precedente, será do especifi-
cador de boa-fé a espécie nova.
o
Art. 1.262. Aplica-se à usucapião das coisas móveis § 1 Sendo praticável a redução, ou quando imprati-
o disposto nos arts. 1.243 e 1.244. cável, se a espécie nova se obteve de má-fé, per-
b) Da Ocupação tencerá ao dono da matéria-prima.
o
Art. 1.263. Quem se assenhorear de coisa sem do- § 2 Em qualquer caso, inclusive o da pintura em
no para logo lhe adquire a propriedade, não sendo relação à tela, da escultura, escritura e outro qual-
essa ocupação defesa por lei. quer trabalho gráfico em relação à matéria-prima, a
espécie nova será do especificador, se o seu valor
c) Do Achado do Tesouro exceder consideravelmente o da matéria-prima.
Art. 1.271. Aos prejudicados, nas hipóteses dos
Art. 1.264. O depósito antigo de coisas preciosas, arts. 1.269 e 1.270, se ressarcirá o dano que sofre-
oculto e de cujo dono não haja memória, será divi- rem, menos ao especificador de má-fé, no caso do §
o
dido por igual entre o proprietário do prédio e o que 1 do artigo antecedente, quando irredutível a espe-
achar o tesouro casualmente. cificação.

Art. 1.265. O tesouro pertencerá por inteiro ao pro- f) Da Confusão, da Comissão e da Adjunção
prietário do prédio, se for achado por ele, ou em
pesquisa que ordenou, ou por terceiro não autoriza- Art. 1.272. As coisas pertencentes a diversos donos,
do. confundidas, misturadas ou adjuntadas sem o con-
sentimento deles, continuam a pertencer-lhes, sen-
Art. 1.266. Achando-se em terreno aforado, o tesou- do possível separá-las sem deterioração.
o
ro será dividido por igual entre o descobridor e o § 1 Não sendo possível a separação das coisas, ou
enfiteuta, ou será deste por inteiro quando ele exigindo dispêndio excessivo, subsiste indiviso o
mesmo seja o descobridor. todo, cabendo a cada um dos donos quinhão pro-
porcional ao valor da coisa com que entrou para a
d) Da Tradição mistura ou agregado.
o
§ 2 Se uma das coisas puder considerar-se princi-
Art. 1.267. A propriedade das coisas não se transfe- pal, o dono sê-lo-á do todo, indenizando os outros.
re pelos negócios jurídicos antes da tradição.
Parágrafo único. Subentende-se a tradição quando Art. 1.273. Se a confusão, comissão ou adjunção se
o transmitente continua a possuir pelo constituto operou de má-fé, à outra parte caberá escolher en-
possessório; quando cede ao adquirente o direito à tre adquirir a propriedade do todo, pagando o que
restituição da coisa, que se encontra em poder de não for seu, abatida a indenização que lhe for devi-
terceiro; ou quando o adquirente já está na posse da, ou renunciar ao que lhe pertencer, caso em que
da coisa, por ocasião do negócio jurídico. será indenizado.

Art. 1.268. Feita por quem não seja proprietário, a Art. 1.274. Se da união de matérias de natureza
tradição não aliena a propriedade, exceto se a coi- diversa se formar espécie nova, à confusão, comis-
sa, oferecida ao público, em leilão ou estabeleci- são ou adjunção aplicam-se as normas dos arts.
mento comercial, for transferida em circunstâncias 1.272 e 1.273.

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Da Perda da Propriedade
Art. 1.281. O proprietário ou o possuidor de um pré-
Art. 1.275. Além das causas consideradas neste dio, em que alguém tenha direito de fazer obras,
Código, perde-se a propriedade: pode, no caso de dano iminente, exigir do autor
I - por alienação; delas as necessárias garantias contra o prejuízo
II - pela renúncia; eventual.
III - por abandono;
IV - por perecimento da coisa; Das Árvores Limítrofes
V - por desapropriação.
Parágrafo único. Nos casos dos incisos I e II, os Art. 1.282. A árvore, cujo tronco estiver na linha
efeitos da perda da propriedade imóvel serão su- divisória, presume-se pertencer em comum aos
bordinados ao registro do título transmissivo ou do donos dos prédios confinantes.
ato renunciativo no Registro de Imóveis.
Art. 1.283. As raízes e os ramos de árvore, que
Art. 1.276. O imóvel urbano que o proprietário ultrapassarem a estrema do prédio, poderão ser
abandonar, com a intenção de não mais o conservar cortados, até o plano vertical divisório, pelo proprie-
em seu patrimônio, e que se não encontrar na pos- tário do terreno invadido.
se de outrem, poderá ser arrecadado, como bem
vago, e passar, três anos depois, à propriedade do Art. 1.284. Os frutos caídos de árvore do terreno
Município ou à do Distrito Federal, se se achar nas vizinho pertencem ao dono do solo onde caíram, se
respectivas circunscrições. este for de propriedade particular.
o
§ 1 O imóvel situado na zona rural, abandonado
nas mesmas circunstâncias, poderá ser arrecadado, Da Passagem Forçada
como bem vago, e passar, três anos depois, à pro-
priedade da União, onde quer que ele se localize. Art. 1.285. O dono do prédio que não tiver acesso a
o
§ 2 Presumir-se-á de modo absoluto a intenção a via pública, nascente ou porto, pode, mediante pa-
que se refere este artigo, quando, cessados os atos gamento de indenização cabal, constranger o vizi-
de posse, deixar o proprietário de satisfazer os ônus nho a lhe dar passagem, cujo rumo será judicial-
fiscais. mente fixado, se necessário.
o
§ 1 Sofrerá o constrangimento o vizinho cujo imóvel
Direito de Vizinhança (Uso Anormal da Proprie- mais natural e facilmente se prestar à passagem.
o
dade). Introdução. § 2 Se ocorrer alienação parcial do prédio, de modo
que uma das partes perca o acesso a via pública,
Art. 1.277. O proprietário ou o possuidor de um pré- nascente ou porto, o proprietário da outra deve tole-
dio tem o direito de fazer cessar as interferências rar a passagem.
o
prejudiciais à segurança, ao sossego e à saúde dos § 3 Aplica-se o disposto no parágrafo antecedente
que o habitam, provocadas pela utilização de pro- ainda quando, antes da alienação, existia passagem
priedade vizinha. através de imóvel vizinho, não estando o proprietá-
Parágrafo único. Proíbem-se as interferências con- rio deste constrangido, depois, a dar uma outra.
siderando-se a natureza da utilização, a localização
do prédio, atendidas as normas que distribuem as Da Passagem de Cabos e Tubulações
edificações em zonas, e os limites ordinários de
tolerância dos moradores da vizinhança. Art. 1.286. Mediante recebimento de indenização
que atenda, também, à desvalorização da área re-
Art. 1.278. O direito a que se refere o artigo antece- manescente, o proprietário é obrigado a tolerar a
dente não prevalece quando as interferências forem passagem, através de seu imóvel, de cabos, tubula-
justificadas por interesse público, caso em que o ções e outros condutos subterrâneos de serviços de
proprietário ou o possuidor, causador delas, pagará utilidade pública, em proveito de proprietários vizi-
ao vizinho indenização cabal. nhos, quando de outro modo for impossível ou ex-
cessivamente onerosa.
Art. 1.279. Ainda que por decisão judicial devam ser Parágrafo único. O proprietário prejudicado pode
toleradas as interferências, poderá o vizinho exigir a exigir que a instalação seja feita de modo menos
sua redução, ou eliminação, quando estas se torna- gravoso ao prédio onerado, bem como, depois, seja
rem possíveis. removida, à sua custa, para outro local do imóvel.

Art. 1.280. O proprietário ou o possuidor tem direito Art. 1.287. Se as instalações oferecerem grave ris-
a exigir do dono do prédio vizinho a demolição, ou a co, será facultado ao proprietário do prédio onerado
reparação deste, quando ameace ruína, bem como exigir a realização de obras de segurança.
que lhe preste caução pelo dano iminente.

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Das Águas
Art. 1.294. Aplica-se ao direito de aqueduto o dis-
Art. 1.288. O dono ou o possuidor do prédio inferior posto nos arts. 1.286 e 1.287.
é obrigado a receber as águas que correm natural-
mente do superior, não podendo realizar obras que Art. 1.295. O aqueduto não impedirá que os proprie-
embaracem o seu fluxo; porém a condição natural e tários cerquem os imóveis e construam sobre ele,
anterior do prédio inferior não pode ser agravada sem prejuízo para a sua segurança e conservação;
por obras feitas pelo dono ou possuidor do prédio os proprietários dos imóveis poderão usar das
superior. águas do aqueduto para as primeiras necessidades
da vida.
Art. 1.289. Quando as águas, artificialmente levadas
ao prédio superior, ou aí colhidas, correrem dele Art. 1.296. Havendo no aqueduto águas supérfluas,
para o inferior, poderá o dono deste reclamar que se outros poderão canalizá-las, para os fins previstos
desviem, ou se lhe indenize o prejuízo que sofrer. no art. 1.293, mediante pagamento de indenização
Parágrafo único. Da indenização será deduzido o aos proprietários prejudicados e ao dono do aque-
valor do benefício obtido. duto, de importância equivalente às despesas que
então seriam necessárias para a condução das
Art. 1.290. O proprietário de nascente, ou do solo águas até o ponto de derivação.
onde caem águas pluviais, satisfeitas as necessida- Parágrafo único. Têm preferência os proprietários
des de seu consumo, não pode impedir, ou desviar dos imóveis atravessados pelo aqueduto.
o curso natural das águas remanescentes pelos
prédios inferiores. Dos Limites entre Prédios e do Direito de Tapa-
gem
Art. 1.291. O possuidor do imóvel superior não po-
derá poluir as águas indispensáveis às primeiras Art. 1.297. O proprietário tem direito a cercar, murar,
necessidades da vida dos possuidores dos imóveis valar ou tapar de qualquer modo o seu prédio, urba-
inferiores; as demais, que poluir, deverá recuperar, no ou rural, e pode constranger o seu confinante a
ressarcindo os danos que estes sofrerem, se não for proceder com ele à demarcação entre os dois pré-
possível a recuperação ou o desvio do curso artifici- dios, a aviventar rumos apagados e a renovar mar-
al das águas. cos destruídos ou arruinados, repartindo-se propor-
cionalmente entre os interessados as respectivas
Art. 1.292. O proprietário tem direito de construir despesas.
o
barragens, açudes, ou outras obras para represa- § 1 Os intervalos, muros, cercas e os tapumes
mento de água em seu prédio; se as águas repre- divisórios, tais como sebes vivas, cercas de arame
sadas invadirem prédio alheio, será o seu proprietá- ou de madeira, valas ou banquetas, presumem-se,
rio indenizado pelo dano sofrido, deduzido o valor até prova em contrário, pertencer a ambos os pro-
do benefício obtido. prietários confinantes, sendo estes obrigados, de
conformidade com os costumes da localidade, a
Art. 1.293. É permitido a quem quer que seja, medi- concorrer, em partes iguais, para as despesas de
ante prévia indenização aos proprietários prejudica- sua construção e conservação.
o
dos, construir canais, através de prédios alheios, § 2 As sebes vivas, as árvores, ou plantas quais-
para receber as águas a que tenha direito, indispen- quer, que servem de marco divisório, só podem ser
sáveis às primeiras necessidades da vida, e, desde cortadas, ou arrancadas, de comum acordo entre
que não cause prejuízo considerável à agricultura e proprietários.
o
à indústria, bem como para o escoamento de águas § 3 A construção de tapumes especiais para impe-
supérfluas ou acumuladas, ou a drenagem de terre- dir a passagem de animais de pequeno porte, ou
nos. para outro fim, pode ser exigida de quem provocou
o
§ 1 Ao proprietário prejudicado, em tal caso, tam- a necessidade deles, pelo proprietário, que não está
bém assiste direito a ressarcimento pelos danos que obrigado a concorrer para as despesas.
de futuro lhe advenham da infiltração ou irrupção
das águas, bem como da deterioração das obras Art. 1.298. Sendo confusos, os limites, em falta de
destinadas a canalizá-las. outro meio, se determinarão de conformidade com a
o
§ 2 O proprietário prejudicado poderá exigir que posse justa; e, não se achando ela provada, o terre-
seja subterrânea a canalização que atravessa áreas no contestado se dividirá por partes iguais entre os
edificadas, pátios, hortas, jardins ou quintais. prédios, ou, não sendo possível a divisão cômoda,
o
§ 3 O aqueduto será construído de maneira que se adjudicará a um deles, mediante indenização ao
cause o menor prejuízo aos proprietários dos imó- outro.
veis vizinhos, e a expensas do seu dono, a quem
incumbem também as despesas de conservação. Do Direito de Construir

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a segurança ou a separação dos dois prédios, e


Art. 1.299. O proprietário pode levantar em seu ter- avisando previamente o outro condômino das obras
reno as construções que lhe aprouver, salvo o direi- que ali tenciona fazer; não pode sem consentimento
to dos vizinhos e os regulamentos administrativos. do outro, fazer, na parede-meia, armários, ou obras
Art. 1.300. O proprietário construirá de maneira que semelhantes, correspondendo a outras, da mesma
o seu prédio não despeje águas, diretamente, sobre natureza, já feitas do lado oposto.
o prédio vizinho.
Art. 1.307. Qualquer dos confinantes pode altear a
Art. 1.301. É defeso abrir janelas, ou fazer eirado, parede divisória, se necessário reconstruindo-a,
terraço ou varanda, a menos de metro e meio do para suportar o alteamento; arcará com todas as
terreno vizinho. despesas, inclusive de conservação, ou com meta-
o
§ 1 As janelas cuja visão não incida sobre a linha de, se o vizinho adquirir meação também na parte
divisória, bem como as perpendiculares, não pode- aumentada.
rão ser abertas a menos de setenta e cinco centí-
metros. Art. 1.308. Não é lícito encostar à parede divisória
o
§ 2 As disposições deste artigo não abrangem as chaminés, fogões, fornos ou quaisquer aparelhos ou
aberturas para luz ou ventilação, não maiores de depósitos suscetíveis de produzir infiltrações ou
dez centímetros de largura sobre vinte de compri- interferências prejudiciais ao vizinho.
mento e construídas a mais de dois metros de altura Parágrafo único. A disposição anterior não abrange
de cada piso. as chaminés ordinárias e os fogões de cozinha.

Art. 1.302. O proprietário pode, no lapso de ano e Art. 1.309. São proibidas construções capazes de
dia após a conclusão da obra, exigir que se desfaça poluir, ou inutilizar, para uso ordinário, a água do
janela, sacada, terraço ou goteira sobre o seu pré- poço, ou nascente alheia, a elas preexistentes.
dio; escoado o prazo, não poderá, por sua vez, edi-
ficar sem atender ao disposto no artigo antecedente, Art. 1.310. Não é permitido fazer escavações ou
nem impedir, ou dificultar, o escoamento das águas quaisquer obras que tirem ao poço ou à nascente
da goteira, com prejuízo para o prédio vizinho. de outrem a água indispensável às suas necessida-
Parágrafo único. Em se tratando de vãos, ou abertu- des normais.
ras para luz, seja qual for a quantidade, altura e
disposição, o vizinho poderá, a todo tempo, levantar Art. 1.311. Não é permitida a execução de qualquer
a sua edificação, ou contramuro, ainda que lhes obra ou serviço suscetível de provocar desmorona-
vede a claridade. mento ou deslocação de terra, ou que comprometa
a segurança do prédio vizinho, senão após haverem
Art. 1.303. Na zona rural, não será permitido levan- sido feitas as obras acautelatórias.
tar edificações a menos de três metros do terreno Parágrafo único. O proprietário do prédio vizinho
vizinho. tem direito a ressarcimento pelos prejuízos que
sofrer, não obstante haverem sido realizadas as
Art. 1.304. Nas cidades, vilas e povoados cuja edifi- obras acautelatórias.
cação estiver adstrita a alinhamento, o dono de um
terreno pode nele edificar, madeirando na parede Art. 1.312. Todo aquele que violar as proibições
divisória do prédio contíguo, se ela suportar a nova estabelecidas nesta Seção é obrigado a demolir as
construção; mas terá de embolsar ao vizinho meta- construções feitas, respondendo por perdas e da-
de do valor da parede e do chão correspondentes. nos.

Art. 1.305. O confinante, que primeiro construir, Art. 1.313. O proprietário ou ocupante do imóvel é
pode assentar a parede divisória até meia espessu- obrigado a tolerar que o vizinho entre no prédio,
ra no terreno contíguo, sem perder por isso o direito mediante prévio aviso, para:
a haver meio valor dela se o vizinho a travejar, caso I - dele temporariamente usar, quando indispensável
em que o primeiro fixará a largura e a profundidade à reparação, construção, reconstrução ou limpeza
do alicerce. de sua casa ou do muro divisório;
Parágrafo único. Se a parede divisória pertencer a II - apoderar-se de coisas suas, inclusive animais
um dos vizinhos, e não tiver capacidade para ser que aí se encontrem casualmente.
o
travejada pelo outro, não poderá este fazer-lhe ali- § 1 O disposto neste artigo aplica-se aos casos de
cerce ao pé sem prestar caução àquele, pelo risco a limpeza ou reparação de esgotos, goteiras, apare-
que expõe a construção anterior. lhos higiênicos, poços e nascentes e ao aparo de
cerca viva.
Art. 1.306. O condômino da parede-meia pode utili-
zá-la até ao meio da espessura, não pondo em risco

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o o
§ 2 Na hipótese do inciso II, uma vez entregues as § 2 Não poderá exceder de cinco anos a indivisão
coisas buscadas pelo vizinho, poderá ser impedida estabelecida pelo doador ou pelo testador.
o
a sua entrada no imóvel. § 3 A requerimento de qualquer interessado e se
o
§ 3 Se do exercício do direito assegurado neste graves razões o aconselharem, pode o juiz determi-
artigo provier dano, terá o prejudicado direito a res- nar a divisão da coisa comum antes do prazo.
sarcimento.
Art. 1.321. Aplicam-se à divisão do condomínio, no
Do Condomínio Geral. Do Condomínio Voluntá- que couber, as regras de partilha de herança (arts.
rio. Dos Direitos e Deveres dos Condôminos. 2.013 a 2.022).

Art. 1.314. Cada condômino pode usar da coisa Art. 1.322. Quando a coisa for indivisível, e os con-
conforme sua destinação, sobre ela exercer todos sortes não quiserem adjudicá-la a um só, indeni-
os direitos compatíveis com a indivisão, reivindicá-la zando os outros, será vendida e repartido o apura-
de terceiro, defender a sua posse e alhear a respec- do, preferindo-se, na venda, em condições iguais de
tiva parte ideal, ou gravá-la. oferta, o condômino ao estranho, e entre os condô-
Parágrafo único. Nenhum dos condôminos pode minos aquele que tiver na coisa benfeitorias mais
alterar a destinação da coisa comum, nem dar pos- valiosas, e, não as havendo, o de quinhão maior.
se, uso ou gozo dela a estranhos, sem o consenso Parágrafo único. Se nenhum dos condôminos tem
dos outros. benfeitorias na coisa comum e participam todos do
condomínio em partes iguais, realizar-se-á licitação
Art. 1.315. O condômino é obrigado, na proporção entre estranhos e, antes de adjudicada a coisa
de sua parte, a concorrer para as despesas de con- àquele que ofereceu maior lanço, proceder-se-á à
servação ou divisão da coisa, e a suportar os ônus a licitação entre os condôminos, a fim de que a coisa
que estiver sujeita. seja adjudicada a quem afinal oferecer melhor lan-
Parágrafo único. Presumem-se iguais as partes ço, preferindo, em condições iguais, o condômino
ideais dos condôminos. ao estranho.

Art. 1.316. Pode o condômino eximir-se do paga- Da Administração do Condomínio


mento das despesas e dívidas, renunciando à parte
ideal. Art. 1.323. Deliberando a maioria sobre a adminis-
o
§ 1 Se os demais condôminos assumem as despe- tração da coisa comum, escolherá o administrador,
sas e as dívidas, a renúncia lhes aproveita, adqui- que poderá ser estranho ao condomínio; resolvendo
rindo a parte ideal de quem renunciou, na proporção alugá-la, preferir-se-á, em condições iguais, o con-
dos pagamentos que fizerem. dômino ao que não o é.
o
§ 2 Se não há condômino que faça os pagamentos,
a coisa comum será dividida. Art. 1.324. O condômino que administrar sem oposi-
ção dos outros presume-se representante comum.
Art. 1.317. Quando a dívida houver sido contraída
por todos os condôminos, sem se discriminar a par- Art. 1.325. A maioria será calculada pelo valor dos
te de cada um na obrigação, nem se estipular soli- quinhões.
o
dariedade, entende-se que cada qual se obrigou § 1 As deliberações serão obrigatórias, sendo to-
proporcionalmente ao seu quinhão na coisa comum. madas por maioria absoluta.
o
§ 2 Não sendo possível alcançar maioria absoluta,
Art. 1.318. As dívidas contraídas por um dos con- decidirá o juiz, a requerimento de qualquer condô-
dôminos em proveito da comunhão, e durante ela, mino, ouvidos os outros.
o
obrigam o contratante; mas terá este ação regressi- § 3 Havendo dúvida quanto ao valor do quinhão,
va contra os demais. será este avaliado judicialmente.

Art. 1.319. Cada condômino responde aos outros Art. 1.326. Os frutos da coisa comum, não havendo
pelos frutos que percebeu da coisa e pelo dano que em contrário estipulação ou disposição de última
lhe causou. vontade, serão partilhados na proporção dos qui-
nhões.
Art. 1.320. A todo tempo será lícito ao condômino
exigir a divisão da coisa comum, respondendo o
quinhão de cada um pela sua parte nas despesas Do Condomínio Necessário
da divisão.
o
§ 1 Podem os condôminos acordar que fique indivi- Art. 1.327. O condomínio por meação de paredes,
sa a coisa comum por prazo não maior de cinco cercas, muros e valas regula-se pelo disposto neste
anos, suscetível de prorrogação ulterior. Código (arts. 1.297 e 1.298; 1.304 a 1.307).

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II - a determinação da fração ideal atribuída a cada


Art. 1.328. O proprietário que tiver direito a estremar unidade, relativamente ao terreno e partes comuns;
um imóvel com paredes, cercas, muros, valas ou III - o fim a que as unidades se destinam.
valados, tê-lo-á igualmente a adquirir meação na
parede, muro, valado ou cerca do vizinho, embol- Art. 1.333. A convenção que constitui o condomínio
sando-lhe metade do que atualmente valer a obra e edilício deve ser subscrita pelos titulares de, no
o terreno por ela ocupado (art. 1.297). mínimo, dois terços das frações ideais e torna-se,
desde logo, obrigatória para os titulares de direito
Art. 1.329. Não convindo os dois no preço da obra, sobre as unidades, ou para quantos sobre elas te-
será este arbitrado por peritos, a expensas de am- nham posse ou detenção.
bos os confinantes. Parágrafo único. Para ser oponível contra terceiros,
a convenção do condomínio deverá ser registrada
Art. 1.330. Qualquer que seja o valor da meação, no Cartório de Registro de Imóveis.
enquanto aquele que pretender a divisão não o pa-
gar ou depositar, nenhum uso poderá fazer na pa- Art. 1.334. Além das cláusulas referidas no art.
rede, muro, vala, cerca ou qualquer outra obra divi- 1.332 e das que os interessados houverem por bem
sória. estipular, a convenção determinará:
I - a quota proporcional e o modo de pagamento das
Do Condomínio Edilício contribuições dos condôminos para atender às des-
pesas ordinárias e extraordinárias do condomínio;
Art. 1.331. Pode haver, em edificações, partes que II - sua forma de administração;
são propriedade exclusiva, e partes que são propri- III - a competência das assembléias, forma de sua
edade comum dos condôminos. convocação e quorum exigido para as deliberações;
IV - as sanções a que estão sujeitos os condôminos,
o
§ 1 As partes suscetíveis de utilização indepen- ou possuidores;
dente, tais como apartamentos, escritórios, salas, V - o regimento interno.
lojas e sobrelojas, com as respectivas frações ideais
o
no solo e nas outras partes comuns, sujeitam-se a § 1 A convenção poderá ser feita por escritura pú-
propriedade exclusiva, podendo ser alienadas e blica ou por instrumento particular.
o
gravadas livremente por seus proprietários, exceto § 2 São equiparados aos proprietários, para os fins
os abrigos para veículos, que não poderão ser alie- deste artigo, salvo disposição em contrário, os pro-
nados ou alugados a pessoas estranhas ao condo- mitentes compradores e os cessionários de direitos
mínio, salvo autorização expressa na convenção de relativos às unidades autônomas.
condomínio.
o
§ 2 O solo, a estrutura do prédio, o telhado, a rede Art. 1.335. São direitos do condômino:
geral de distribuição de água, esgoto, gás e eletrici- I - usar, fruir e livremente dispor das suas unidades;
dade, a calefação e refrigeração centrais, e as de- II - usar das partes comuns, conforme a sua desti-
mais partes comuns, inclusive o acesso ao logra- nação, e contanto que não exclua a utilização dos
douro público, são utilizados em comum pelos con- demais compossuidores;
dôminos, não podendo ser alienados separadamen- III - votar nas deliberações da assembléia e delas
te, ou divididos. participar, estando quite.
o
§ 3 A cada unidade imobiliária caberá, como parte
inseparável, uma fração ideal no solo e nas outras Art. 1.336. São deveres do condômino:
partes comuns, que será identificada em forma de- I - contribuir para as despesas do condomínio na
cimal ou ordinária no instrumento de instituição do proporção das suas frações ideais, salvo disposição
condomínio. em contrário na convenção; (Redação dada pela Lei
o
§ 4 Nenhuma unidade imobiliária pode ser privada nº 10.931, de 2004)
do acesso ao logradouro público. II - não realizar obras que comprometam a seguran-
o
§ 5 O terraço de cobertura é parte comum, salvo ça da edificação;
disposição contrária da escritura de constituição do III - não alterar a forma e a cor da fachada, das par-
condomínio. tes e esquadrias externas;
IV - dar às suas partes a mesma destinação que
Art. 1.332. Institui-se o condomínio edilício por ato tem a edificação, e não as utilizar de maneira preju-
entre vivos ou testamento, registrado no Cartório de dicial ao sossego, salubridade e segurança dos
Registro de Imóveis, devendo constar daquele ato, possuidores, ou aos bons costumes.
além do disposto em lei especial:
o
I - a discriminação e individualização das unidades § 1 O condômino que não pagar a sua contribuição
de propriedade exclusiva, estremadas uma das ficará sujeito aos juros moratórios convencionados
outras e das partes comuns;

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ou, não sendo previstos, os de um por cento ao mês


o
e multa de até dois por cento sobre o débito. § 1 As obras ou reparações necessárias podem ser
o
§ 2 O condômino, que não cumprir qualquer dos realizadas, independentemente de autorização, pelo
deveres estabelecidos nos incisos II a IV, pagará a síndico, ou, em caso de omissão ou impedimento
multa prevista no ato constitutivo ou na convenção, deste, por qualquer condômino.
o
não podendo ela ser superior a cinco vezes o valor § 2 Se as obras ou reparos necessários forem ur-
de suas contribuições mensais, independentemente gentes e importarem em despesas excessivas, de-
das perdas e danos que se apurarem; não havendo terminada sua realização, o síndico ou o condômino
disposição expressa, caberá à assembléia geral, por que tomou a iniciativa delas dará ciência à assem-
dois terços no mínimo dos condôminos restantes, bléia, que deverá ser convocada imediatamente.
o
deliberar sobre a cobrança da multa. § 3 Não sendo urgentes, as obras ou reparos ne-
cessários, que importarem em despesas excessi-
Art. 1337. O condômino, ou possuidor, que não vas, somente poderão ser efetuadas após autoriza-
cumpre reiteradamente com os seus deveres peran- ção da assembléia, especialmente convocada pelo
te o condomínio poderá, por deliberação de três síndico, ou, em caso de omissão ou impedimento
quartos dos condôminos restantes, ser constrangido deste, por qualquer dos condôminos.
o
a pagar multa correspondente até ao quíntuplo do § 4 O condômino que realizar obras ou reparos
valor atribuído à contribuição para as despesas necessários será reembolsado das despesas que
condominiais, conforme a gravidade das faltas e a efetuar, não tendo direito à restituição das que fizer
reiteração, independentemente das perdas e danos com obras ou reparos de outra natureza, embora de
que se apurem. interesse comum.
Parágrafo único. O condômino ou possuidor que,
por seu reiterado comportamento anti-social, gerar Art. 1.342. A realização de obras, em partes co-
incompatibilidade de convivência com os demais muns, em acréscimo às já existentes, a fim de lhes
condôminos ou possuidores, poderá ser constrangi- facilitar ou aumentar a utilização, depende da apro-
do a pagar multa correspondente ao décuplo do vação de dois terços dos votos dos condôminos,
valor atribuído à contribuição para as despesas não sendo permitidas construções, nas partes co-
condominiais, até ulterior deliberação da assem- muns, suscetíveis de prejudicar a utilização, por
bléia. qualquer dos condôminos, das partes próprias, ou
comuns.
Art. 1.338. Resolvendo o condômino alugar área no
abrigo para veículos, preferir-se-á, em condições Art. 1.343. A construção de outro pavimento, ou, no
iguais, qualquer dos condôminos a estranhos, e, solo comum, de outro edifício, destinado a conter
entre todos, os possuidores. novas unidades imobiliárias, depende da aprovação
da unanimidade dos condôminos.
Art. 1.339. Os direitos de cada condômino às partes
comuns são inseparáveis de sua propriedade exclu- Art. 1.344. Ao proprietário do terraço de cobertura
siva; são também inseparáveis das frações ideais incumbem as despesas da sua conservação, de
correspondentes as unidades imobiliárias, com as modo que não haja danos às unidades imobiliárias
suas partes acessórias. inferiores.
o
§ 1 Nos casos deste artigo é proibido alienar ou Art. 1.345. O adquirente de unidade responde pelos
gravar os bens em separado. débitos do alienante, em relação ao condomínio,
o
§ 2 É permitido ao condômino alienar parte acessó- inclusive multas e juros moratórios.
ria de sua unidade imobiliária a outro condômino, só
podendo fazê-lo a terceiro se essa faculdade cons- Art. 1.346. É obrigatório o seguro de toda a edifica-
tar do ato constitutivo do condomínio, e se a ela não ção contra o risco de incêndio ou destruição, total
se opuser a respectiva assembléia geral. ou parcial.

Art. 1.340. As despesas relativas a partes comuns Da Administração do Condomínio


de uso exclusivo de um condômino, ou de alguns
deles, incumbem a quem delas se serve. Art. 1.347. A assembléia escolherá um síndico, que
poderá não ser condômino, para administrar o con-
Art. 1.341. A realização de obras no condomínio domínio, por prazo não superior a dois anos, o qual
depende: poderá renovar-se.

I - se voluptuárias, de voto de dois terços dos con- Art. 1.348. Compete ao síndico:
dôminos; I - convocar a assembléia dos condôminos;
II - se úteis, de voto da maioria dos condôminos.

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II - representar, ativa e passivamente, o condomínio, Parágrafo único. Os votos serão proporcionais às


praticando, em juízo ou fora dele, os atos necessá- frações ideais no solo e nas outras partes comuns
rios à defesa dos interesses comuns; pertencentes a cada condômino, salvo disposição
III - dar imediato conhecimento à assembléia da diversa da convenção de constituição do condomí-
existência de procedimento judicial ou administrati- nio.
vo, de interesse do condomínio;
IV - cumprir e fazer cumprir a convenção, o regi- Art. 1.353. Em segunda convocação, a assembléia
mento interno e as determinações da assembléia; poderá deliberar por maioria dos votos dos presen-
V - diligenciar a conservação e a guarda das partes tes, salvo quando exigido quorum especial.
comuns e zelar pela prestação dos serviços que
interessem aos possuidores; Art. 1.354. A assembléia não poderá deliberar se
VI - elaborar o orçamento da receita e da despesa todos os condôminos não forem convocados para a
relativa a cada ano; reunião.
VII - cobrar dos condôminos as suas contribuições,
bem como impor e cobrar as multas devidas; Art. 1.355. Assembléias extraordinárias poderão ser
VIII - prestar contas à assembléia, anualmente e convocadas pelo síndico ou por um quarto dos con-
quando exigidas; dôminos.
IX - realizar o seguro da edificação.
Art. 1.356. Poderá haver no condomínio um conse-
o
§ 1 Poderá a assembléia investir outra pessoa, em lho fiscal, composto de três membros, eleitos pela
lugar do síndico, em poderes de representação. assembléia, por prazo não superior a dois anos, ao
o
§ 2 O síndico pode transferir a outrem, total ou qual compete dar parecer sobre as contas do síndi-
parcialmente, os poderes de representação ou as co.
funções administrativas, mediante aprovação da
assembléia, salvo disposição em contrário da con- Da Extinção do Condomínio
venção.
Art. 1.357. Se a edificação for total ou considera-
Art. 1.349. A assembléia, especialmente convocada velmente destruída, ou ameace ruína, os condômi-
o
para o fim estabelecido no § 2 do artigo anteceden- nos deliberarão em assembléia sobre a reconstru-
te, poderá, pelo voto da maioria absoluta de seus ção, ou venda, por votos que representem metade
membros, destituir o síndico que praticar irregulari- mais uma das frações ideais.
o
dades, não prestar contas, ou não administrar con- § 1 Deliberada a reconstrução, poderá o condômi-
venientemente o condomínio. no eximir-se do pagamento das despesas respecti-
vas, alienando os seus direitos a outros condômi-
Art. 1.350. Convocará o síndico, anualmente, reuni- nos, mediante avaliação judicial.
o
ão da assembléia dos condôminos, na forma previs- § 2 Realizada a venda, em que se preferirá, em
ta na convenção, a fim de aprovar o orçamento das condições iguais de oferta, o condômino ao estra-
despesas, as contribuições dos condôminos e a nho, será repartido o apurado entre os condôminos,
prestação de contas, e eventualmente eleger-lhe o proporcionalmente ao valor das suas unidades imo-
substituto e alterar o regimento interno. biliárias.
o
§ 1 Se o síndico não convocar a assembléia, um Art. 1.358. Se ocorrer desapropriação, a indeniza-
quarto dos condôminos poderá fazê-lo. ção será repartida na proporção a que se refere o §
o o
§ 2 Se a assembléia não se reunir, o juiz decidirá, a 2 do artigo antecedente.
requerimento de qualquer condômino.
Da Propriedade Resolúvel
Art. 1.351. Depende da aprovação de 2/3 (dois ter-
ços) dos votos dos condôminos a alteração da con- Art. 1.359. Resolvida a propriedade pelo implemento
venção; a mudança da destinação do edifício, ou da da condição ou pelo advento do termo, entendem-
unidade imobiliária, depende da aprovação pela se também resolvidos os direitos reais concedidos
unanimidade dos condôminos. (Redação dada pela na sua pendência, e o proprietário, em cujo favor se
Lei nº 10.931, de 2004) opera a resolução, pode reivindicar a coisa do poder
de quem a possua ou detenha.
Art. 1.352. Salvo quando exigido quorum especial,
as deliberações da assembléia serão tomadas, em Art. 1.360. Se a propriedade se resolver por outra
primeira convocação, por maioria de votos dos con- causa superveniente, o possuidor, que a tiver adqui-
dôminos presentes que representem pelo menos rido por título anterior à sua resolução, será consi-
metade das frações ideais. derado proprietário perfeito, restando à pessoa, em
cujo benefício houve a resolução, ação contra aque-

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le cuja propriedade se resolveu para haver a própria Art. 1.367. A propriedade fiduciária em garantia de
coisa ou o seu valor. bens móveis ou imóveis sujeita-se às disposições
do Capítulo I do Título X do Livro III da Parte Espe-
Da Propriedade Fiduciária cial deste Código e, no que for específico, à legisla-
ção especial pertinente, não se equiparando, para
Art. 1.361. Considera-se fiduciária a propriedade quaisquer efeitos, à propriedade plena de que trata
resolúvel de coisa móvel infungível que o devedor, o art. 1.231.
com escopo de garantia, transfere ao credor.
Art. 1.368. O terceiro, interessado ou não, que pa-
o
§ 1 Constitui-se a propriedade fiduciária com o gar a dívida, se sub-rogará de pleno direito no crédi-
registro do contrato, celebrado por instrumento pú- to e na propriedade fiduciária.
blico ou particular, que lhe serve de título, no Regis-
tro de Títulos e Documentos do domicílio do deve- Art. 1.368-A. As demais espécies de propriedade
dor, ou, em se tratando de veículos, na repartição fiduciária ou de titularidade fiduciária submetem-se
competente para o licenciamento, fazendo-se a à disciplina específica das respectivas leis especi-
anotação no certificado de registro. ais, somente se aplicando as disposições deste
o
§ 2 Com a constituição da propriedade fiduciária, Código naquilo que não for incompatível com a le-
dá-se o desdobramento da posse, tornando-se o gislação especial.
devedor possuidor direto da coisa.
o
§ 3 A propriedade superveniente, adquirida pelo Art. 1.368-B. A alienação fiduciária em garantia de
devedor, torna eficaz, desde o arquivamento, a bem móvel ou imóvel confere direito real de aquisi-
transferência da propriedade fiduciária. ção ao fiduciante, seu cessionário ou sucessor.
Parágrafo único. O credor fiduciário que se tornar
Art. 1.362. O contrato, que serve de título à proprie- proprietário pleno do bem, por efeito de realização
dade fiduciária, conterá: da garantia, mediante consolidação da propriedade,
I - o total da dívida, ou sua estimativa; adjudicação, dação ou outra forma pela qual lhe
II - o prazo, ou a época do pagamento; tenha sido transmitida a propriedade plena, passa a
III - a taxa de juros, se houver; responder pelo pagamento dos tributos sobre a
IV - a descrição da coisa objeto da transferência, propriedade e a posse, taxas, despesas condomini-
com os elementos indispensáveis à sua identifica- ais e quaisquer outros encargos, tributários ou não,
ção. incidentes sobre o bem objeto da garantia, a partir
da data em que vier a ser imitido na posse direta do
Art. 1.363. Antes de vencida a dívida, o devedor, a bem.
suas expensas e risco, pode usar a coisa segundo
sua destinação, sendo obrigado, como depositário: Da Superfície
I - a empregar na guarda da coisa a diligência exigi-
da por sua natureza; Art. 1.369. O proprietário pode conceder a outrem o
II - a entregá-la ao credor, se a dívida não for paga direito de construir ou de plantar em seu terreno, por
no vencimento. tempo determinado, mediante escritura pública de-
vidamente registrada no Cartório de Registro de
Art. 1.364. Vencida a dívida, e não paga, fica o cre- Imóveis.
dor obrigado a vender, judicial ou extrajudicialmen- Parágrafo único. O direito de superfície não autoriza
te, a coisa a terceiros, a aplicar o preço no paga- obra no subsolo, salvo se for inerente ao objeto da
mento de seu crédito e das despesas de cobrança, concessão.
e a entregar o saldo, se houver, ao devedor.
Art. 1.370. A concessão da superfície será gratuita
Art. 1.365. É nula a cláusula que autoriza o proprie- ou onerosa; se onerosa, estipularão as partes se o
tário fiduciário a ficar com a coisa alienada em ga- pagamento será feito de uma só vez, ou parcelada-
rantia, se a dívida não for paga no vencimento. mente.
Parágrafo único. O devedor pode, com a anuência
do credor, dar seu direito eventual à coisa em pa- Art. 1.371. O superficiário responderá pelos encar-
gamento da dívida, após o vencimento desta. gos e tributos que incidirem sobre o imóvel.

Art. 1.366. Quando, vendida a coisa, o produto não Art. 1.372. O direito de superfície pode transferir-se
bastar para o pagamento da dívida e das despesas a terceiros e, por morte do superficiário, aos seus
de cobrança, continuará o devedor obrigado pelo herdeiros.
restante. Parágrafo único. Não poderá ser estipulado pelo
concedente, a nenhum título, qualquer pagamento
pela transferência.

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nando, total ou parcialmente, a propriedade ao dono


Art. 1.373. Em caso de alienação do imóvel ou do do dominante.
direito de superfície, o superficiário ou o proprietário Parágrafo único. Se o proprietário do prédio domi-
tem direito de preferência, em igualdade de condi- nante se recusar a receber a propriedade do servi-
ções. ente, ou parte dela, caber-lhe-á custear as obras.

Art. 1.374. Antes do termo final, resolver-se-á a Art. 1.383. O dono do prédio serviente não poderá
concessão se o superficiário der ao terreno destina- embaraçar de modo algum o exercício legítimo da
ção diversa daquela para que foi concedida. servidão.

Art. 1.375. Extinta a concessão, o proprietário pas- Art. 1.384. A servidão pode ser removida, de um
sará a ter a propriedade plena sobre o terreno, local para outro, pelo dono do prédio serviente e à
construção ou plantação, independentemente de sua custa, se em nada diminuir as vantagens do
indenização, se as partes não houverem estipulado prédio dominante, ou pelo dono deste e à sua custa,
o contrário. se houver considerável incremento da utilidade e
não prejudicar o prédio serviente.
Art. 1.376. No caso de extinção do direito de super-
fície em conseqüência de desapropriação, a indeni- Art. 1.385. Restringir-se-á o exercício da servidão às
zação cabe ao proprietário e ao superficiário, no necessidades do prédio dominante, evitando-se,
valor correspondente ao direito real de cada um. quanto possível, agravar o encargo ao prédio servi-
ente.
Art. 1.377. O direito de superfície, constituído por
o
pessoa jurídica de direito público interno, rege-se § 1 Constituída para certo fim, a servidão não se
por este Código, no que não for diversamente disci- pode ampliar a outro.
o
plinado em lei especial. § 2 Nas servidões de trânsito, a de maior inclui a de
menor ônus, e a menor exclui a mais onerosa.
o
Das Servidões. § 3 Se as necessidades da cultura, ou da indústria,
do prédio dominante impuserem à servidão maior
Art. 1.378. A servidão proporciona utilidade para o largueza, o dono do serviente é obrigado a sofrê-la;
prédio dominante, e grava o prédio serviente, que mas tem direito a ser indenizado pelo excesso.
pertence a diverso dono, e constitui-se mediante
declaração expressa dos proprietários, ou por tes- Art. 1.386. As servidões prediais são indivisíveis, e
tamento, e subseqüente registro no Cartório de Re- subsistem, no caso de divisão dos imóveis, em be-
gistro de Imóveis. nefício de cada uma das porções do prédio domi-
nante, e continuam a gravar cada uma das do pré-
Art. 1.379. O exercício incontestado e contínuo de dio serviente, salvo se, por natureza, ou destino, só
uma servidão aparente, por dez anos, nos termos se aplicarem a certa parte de um ou de outro.
do art. 1.242, autoriza o interessado a registrá-la em Da Extinção das Servidões
seu nome no Registro de Imóveis, valendo-lhe como
título a sentença que julgar consumado a usucapi- Art. 1.387. Salvo nas desapropriações, a servidão,
ão. uma vez registrada, só se extingue, com respeito a
Parágrafo único. Se o possuidor não tiver título, o terceiros, quando cancelada.
prazo da usucapião será de vinte anos. Parágrafo único. Se o prédio dominante estiver hi-
potecado, e a servidão se mencionar no título hipo-
Do Exercício das Servidões tecário, será também preciso, para a cancelar, o
consentimento do credor.
Art. 1.380. O dono de uma servidão pode fazer to-
das as obras necessárias à sua conservação e uso, Art. 1.388. O dono do prédio serviente tem direito,
e, se a servidão pertencer a mais de um prédio, pelos meios judiciais, ao cancelamento do registro,
serão as despesas rateadas entre os respectivos embora o dono do prédio dominante lho impugne:
donos.
I - quando o titular houver renunciado a sua servi-
Art. 1.381. As obras a que se refere o artigo antece- dão;
dente devem ser feitas pelo dono do prédio domi- II - quando tiver cessado, para o prédio dominante,
nante, se o contrário não dispuser expressamente o a utilidade ou a comodidade, que determinou a
título. constituição da servidão;
III - quando o dono do prédio serviente resgatar a
Art. 1.382. Quando a obrigação incumbir ao dono do servidão.
prédio serviente, este poderá exonerar-se, abando-

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Art. 1.389. Também se extingue a servidão, ficando Art. 1.396. Salvo direito adquirido por outrem, o
ao dono do prédio serviente a faculdade de fazê-la usufrutuário faz seus os frutos naturais, pendentes
cancelar, mediante a prova da extinção: ao começar o usufruto, sem encargo de pagar as
despesas de produção.
I - pela reunião dos dois prédios no domínio da Parágrafo único. Os frutos naturais, pendentes ao
mesma pessoa; tempo em que cessa o usufruto, pertencem ao do-
II - pela supressão das respectivas obras por efeito no, também sem compensação das despesas.
de contrato, ou de outro título expresso;
III - pelo não uso, durante dez anos contínuos. Art. 1.397. As crias dos animais pertencem ao usu-
frutuário, deduzidas quantas bastem para inteirar as
Do Usufruto cabeças de gado existentes ao começar o usufruto.

Art. 1.390. O usufruto pode recair em um ou mais Art. 1.398. Os frutos civis, vencidos na data inicial
bens, móveis ou imóveis, em um patrimônio inteiro, do usufruto, pertencem ao proprietário, e ao usufru-
ou parte deste, abrangendo-lhe, no todo ou em par- tuário os vencidos na data em que cessa o usufruto.
te, os frutos e utilidades.
Art. 1.399. O usufrutuário pode usufruir em pessoa,
Art. 1.391. O usufruto de imóveis, quando não resul- ou mediante arrendamento, o prédio, mas não mu-
te de usucapião, constituir-se-á mediante registro no dar-lhe a destinação econômica, sem expressa au-
Cartório de Registro de Imóveis. torização do proprietário.

Art. 1.392. Salvo disposição em contrário, o usufruto Dos Deveres do Usufrutuário


estende-se aos acessórios da coisa e seus acresci-
dos. Art. 1.400. O usufrutuário, antes de assumir o usu-
o
§ 1 Se, entre os acessórios e os acrescidos, houver fruto, inventariará, à sua custa, os bens que rece-
coisas consumíveis, terá o usufrutuário o dever de ber, determinando o estado em que se acham, e
restituir, findo o usufruto, as que ainda houver e, das dará caução, fidejussória ou real, se lha exigir o
outras, o equivalente em gênero, qualidade e quan- dono, de velar-lhes pela conservação, e entregá-los
tidade, ou, não sendo possível, o seu valor, estima- findo o usufruto.
do ao tempo da restituição. Parágrafo único. Não é obrigado à caução o doador
o
§ 2 Se há no prédio em que recai o usufruto flores- que se reservar o usufruto da coisa doada.
tas ou os recursos minerais a que se refere o art. Art. 1.401. O usufrutuário que não quiser ou não
1.230, devem o dono e o usufrutuário prefixar-lhe a puder dar caução suficiente perderá o direito de
extensão do gozo e a maneira de exploração. administrar o usufruto; e, neste caso, os bens serão
o
§ 3 Se o usufruto recai sobre universalidade ou administrados pelo proprietário, que ficará obrigado,
quota-parte de bens, o usufrutuário tem direito à mediante caução, a entregar ao usufrutuário o ren-
parte do tesouro achado por outrem, e ao preço dimento deles, deduzidas as despesas de adminis-
pago pelo vizinho do prédio usufruído, para obter tração, entre as quais se incluirá a quantia fixada
meação em parede, cerca, muro, vala ou valado. pelo juiz como remuneração do administrador.

Art. 1.393. Não se pode transferir o usufruto por Art. 1.402. O usufrutuário não é obrigado a pagar as
alienação; mas o seu exercício pode ceder-se por deteriorações resultantes do exercício regular do
título gratuito ou oneroso. usufruto.

Dos Direitos do Usufrutuário Art. 1.403 Incumbem ao usufrutuário:

Art. 1.394. O usufrutuário tem direito à posse, uso, I - as despesas ordinárias de conservação dos bens
administração e percepção dos frutos. no estado em que os recebeu;
II - as prestações e os tributos devidos pela posse
Art. 1.395. Quando o usufruto recai em títulos de ou rendimento da coisa usufruída.
crédito, o usufrutuário tem direito a perceber os
frutos e a cobrar as respectivas dívidas. Art. 1.404. Incumbem ao dono as reparações extra-
Parágrafo único. Cobradas as dívidas, o usufrutuá- ordinárias e as que não forem de custo módico; mas
rio aplicará, de imediato, a importância em títulos da o usufrutuário lhe pagará os juros do capital des-
mesma natureza, ou em títulos da dívida pública pendido com as que forem necessárias à conserva-
federal, com cláusula de atualização monetária se- ção, ou aumentarem o rendimento da coisa usufruí-
gundo índices oficiais regularmente estabelecidos. da.

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o
§ 1 Não se consideram módicas as despesas supe-
riores a dois terços do líquido rendimento em um Art. 1.411. Constituído o usufruto em favor de duas
ano. ou mais pessoas, extinguir-se-á a parte em relação
o
§ 2 Se o dono não fizer as reparações a que está a cada uma das que falecerem, salvo se, por estipu-
obrigado, e que são indispensáveis à conservação lação expressa, o quinhão desses couber ao sobre-
da coisa, o usufrutuário pode realizá-las, cobrando vivente.
daquele a importância despendida.
Do Uso
Art. 1.405. Se o usufruto recair num patrimônio, ou
parte deste, será o usufrutuário obrigado aos juros Art. 1.412. O usuário usará da coisa e perceberá os
da dívida que onerar o patrimônio ou a parte dele. seus frutos, quanto o exigirem as necessidades
suas e de sua família.
Art. 1.406. O usufrutuário é obrigado a dar ciência
o
ao dono de qualquer lesão produzida contra a posse § 1 Avaliar-se-ão as necessidades pessoais do
da coisa, ou os direitos deste. usuário conforme a sua condição social e o lugar
onde viver.
o
Art. 1.407. Se a coisa estiver segurada, incumbe ao § 2 As necessidades da família do usuário compre-
usufrutuário pagar, durante o usufruto, as contribui- endem as de seu cônjuge, dos filhos solteiros e das
ções do seguro. pessoas de seu serviço doméstico.
o
§ 1 Se o usufrutuário fizer o seguro, ao proprietário
caberá o direito dele resultante contra o segurador. Art. 1.413. São aplicáveis ao uso, no que não for
o
§ 2 Em qualquer hipótese, o direito do usufrutuário contrário à sua natureza, as disposições relativas ao
fica sub-rogado no valor da indenização do seguro. usufruto.

Art. 1.408. Se um edifício sujeito a usufruto for des- Da Habitação


truído sem culpa do proprietário, não será este obri-
gado a reconstruí-lo, nem o usufruto se restabelece- Art. 1.414. Quando o uso consistir no direito de ha-
rá, se o proprietário reconstruir à sua custa o prédio; bitar gratuitamente casa alheia, o titular deste direito
mas se a indenização do seguro for aplicada à re- não a pode alugar, nem emprestar, mas simples-
construção do prédio, restabelecer-se-á o usufruto. mente ocupá-la com sua família.

Art. 1.409. Também fica sub-rogada no ônus do Art. 1.415. Se o direito real de habitação for conferi-
usufruto, em lugar do prédio, a indenização paga, se do a mais de uma pessoa, qualquer delas que sozi-
ele for desapropriado, ou a importância do dano, nha habite a casa não terá de pagar aluguel à outra,
ressarcido pelo terceiro responsável no caso de ou às outras, mas não as pode inibir de exercerem,
danificação ou perda. querendo, o direito, que também lhes compete, de
habitá-la.
Da Extinção do Usufruto
Art. 1.416. São aplicáveis à habitação, no que não
Art. 1.410. O usufruto extingue-se, cancelando-se o for contrário à sua natureza, as disposições relativas
registro no Cartório de Registro de Imóveis: ao usufruto.
I - pela renúncia ou morte do usufrutuário;
II - pelo termo de sua duração; Do Direito do Promitente Comprador
III - pela extinção da pessoa jurídica, em favor de
quem o usufruto foi constituído, ou, se ela perdurar, Art. 1.417. Mediante promessa de compra e venda,
pelo decurso de trinta anos da data em que se co- em que se não pactuou arrependimento, celebrada
meçou a exercer; por instrumento público ou particular, e registrada
IV - pela cessação do motivo de que se origina; no Cartório de Registro de Imóveis, adquire o promi-
V - pela destruição da coisa, guardadas as disposi- tente comprador direito real à aquisição do imóvel.
ções dos arts. 1.407, 1.408, 2ª parte, e 1.409;
VI - pela consolidação; Art. 1.418. O promitente comprador, titular de direito
VII - por culpa do usufrutuário, quando aliena, dete- real, pode exigir do promitente vendedor, ou de
riora, ou deixa arruinar os bens, não lhes acudindo terceiros, a quem os direitos deste forem cedidos, a
com os reparos de conservação, ou quando, no outorga da escritura definitiva de compra e venda,
usufruto de títulos de crédito, não dá às importân- conforme o disposto no instrumento preliminar; e, se
cias recebidas a aplicação prevista no parágrafo houver recusa, requerer ao juiz a adjudicação do
único do art. 1.395; imóvel.
VIII - Pelo não uso, ou não fruição, da coisa em que
o usufruto recai (arts. 1.390 e 1.399). Do Penhor, da Hipoteca e da Anticrese

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prestação atrasada importa renúncia do credor ao


Art. 1.419. Nas dívidas garantidas por penhor, anti- seu direito de execução imediata;
crese ou hipoteca, o bem dado em garantia fica IV - se perecer o bem dado em garantia, e não for
sujeito, por vínculo real, ao cumprimento da obriga- substituído;
ção. V - se se desapropriar o bem dado em garantia,
hipótese na qual se depositará a parte do preço que
Art. 1.420. Só aquele que pode alienar poderá em- for necessária para o pagamento integral do credor.
penhar, hipotecar ou dar em anticrese; só os bens
o
que se podem alienar poderão ser dados em pe- § 1 Nos casos de perecimento da coisa dada em
nhor, anticrese ou hipoteca. garantia, esta se sub-rogará na indenização do se-
o
§ 1 A propriedade superveniente torna eficaz, des- guro, ou no ressarcimento do dano, em benefício do
de o registro, as garantias reais estabelecidas por credor, a quem assistirá sobre ela preferência até
quem não era dono. seu completo reembolso.
o o
§ 2 A coisa comum a dois ou mais proprietários não § 2 Nos casos dos incisos IV e V, só se vencerá a
pode ser dada em garantia real, na sua totalidade, hipoteca antes do prazo estipulado, se o perecimen-
sem o consentimento de todos; mas cada um pode to, ou a desapropriação recair sobre o bem dado em
individualmente dar em garantia real a parte que garantia, e esta não abranger outras; subsistindo,
tiver. no caso contrário, a dívida reduzida, com a respec-
tiva garantia sobre os demais bens, não desapropri-
Art. 1.421. O pagamento de uma ou mais presta- ados ou destruídos.
ções da dívida não importa exoneração correspon-
dente da garantia, ainda que esta compreenda vá- Art. 1.426. Nas hipóteses do artigo anterior, de ven-
rios bens, salvo disposição expressa no título ou na cimento antecipado da dívida, não se compreendem
quitação. os juros correspondentes ao tempo ainda não de-
corrido.
Art. 1.422. O credor hipotecário e o pignoratício têm Art. 1.427. Salvo cláusula expressa, o terceiro que
o direito de excutir a coisa hipotecada ou empenha- presta garantia real por dívida alheia não fica obri-
da, e preferir, no pagamento, a outros credores, gado a substituí-la, ou reforçá-la, quando, sem culpa
observada, quanto à hipoteca, a prioridade no regis- sua, se perca, deteriore, ou desvalorize.
tro.
Parágrafo único. Excetuam-se da regra estabelecida Art. 1.428. É nula a cláusula que autoriza o credor
neste artigo as dívidas que, em virtude de outras pignoratício, anticrético ou hipotecário a ficar com o
leis, devam ser pagas precipuamente a quaisquer objeto da garantia, se a dívida não for paga no ven-
outros créditos. cimento.
Parágrafo único. Após o vencimento, poderá o de-
Art. 1.423. O credor anticrético tem direito a reter vedor dar a coisa em pagamento da dívida.
em seu poder o bem, enquanto a dívida não for
paga; extingue-se esse direito decorridos quinze Art. 1.429. Os sucessores do devedor não podem
anos da data de sua constituição. remir parcialmente o penhor ou a hipoteca na pro-
porção dos seus quinhões; qualquer deles, porém,
Art. 1.424. Os contratos de penhor, anticrese ou pode fazê-lo no todo.
hipoteca declararão, sob pena de não terem eficá- Parágrafo único. O herdeiro ou sucessor que fizer a
cia: remição fica sub-rogado nos direitos do credor pelas
I - o valor do crédito, sua estimação, ou valor máxi- quotas que houver satisfeito.
mo;
II - o prazo fixado para pagamento; Art. 1.430. Quando, excutido o penhor, ou executa-
III - a taxa dos juros, se houver; da a hipoteca, o produto não bastar para pagamento
IV - o bem dado em garantia com as suas especifi- da dívida e despesas judiciais, continuará o devedor
cações. obrigado pessoalmente pelo restante.

Art. 1.425. A dívida considera-se vencida: Do Penhor


I - se, deteriorando-se, ou depreciando-se o bem
dado em segurança, desfalcar a garantia, e o deve- Art. 1.431. Constitui-se o penhor pela transferência
dor, intimado, não a reforçar ou substituir; efetiva da posse que, em garantia do débito ao cre-
II - se o devedor cair em insolvência ou falir; dor ou a quem o represente, faz o devedor, ou al-
III - se as prestações não forem pontualmente pa- guém por ele, de uma coisa móvel, suscetível de
gas, toda vez que deste modo se achar estipulado o alienação.
pagamento. Neste caso, o recebimento posterior da Parágrafo único. No penhor rural, industrial, mercan-
til e de veículos, as coisas empenhadas continuam

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em poder do devedor, que as deve guardar e con- Art. 1.436. Extingue-se o penhor:
servar. I - extinguindo-se a obrigação;
II - perecendo a coisa;
Art. 1.432. O instrumento do penhor deverá ser le- III - renunciando o credor;
vado a registro, por qualquer dos contratantes; o do IV - confundindo-se na mesma pessoa as qualida-
penhor comum será registrado no Cartório de Títu- des de credor e de dono da coisa;
los e Documentos. V - dando-se a adjudicação judicial, a remissão ou a
venda da coisa empenhada, feita pelo credor ou por
Dos Direitos do Credor Pignoratício ele autorizada.
o
Art. 1.433. O credor pignoratício tem direito: § 1 Presume-se a renúncia do credor quando con-
I - à posse da coisa empenhada; sentir na venda particular do penhor sem reserva de
II - à retenção dela, até que o indenizem das despe- preço, quando restituir a sua posse ao devedor, ou
sas devidamente justificadas, que tiver feito, não quando anuir à sua substituição por outra garantia.
o
sendo ocasionadas por culpa sua; § 2 Operando-se a confusão tão-somente quanto a
III - ao ressarcimento do prejuízo que houver sofrido parte da dívida pignoratícia, subsistirá inteiro o pe-
por vício da coisa empenhada; nhor quanto ao resto.
IV - a promover a execução judicial, ou a venda
amigável, se lhe permitir expressamente o contrato, Art. 1.437. Produz efeitos a extinção do penhor de-
ou lhe autorizar o devedor mediante procuração; pois de averbado o cancelamento do registro, à
V - a apropriar-se dos frutos da coisa empenhada vista da respectiva prova.
que se encontra em seu poder;
VI - a promover a venda antecipada, mediante pré-
via autorização judicial, sempre que haja receio Do Penhor Rural
fundado de que a coisa empenhada se perca ou
deteriore, devendo o preço ser depositado. O dono Art. 1.438. Constitui-se o penhor rural mediante
da coisa empenhada pode impedir a venda anteci- instrumento público ou particular, registrado no Car-
pada, substituindo-a, ou oferecendo outra garantia tório de Registro de Imóveis da circunscrição em
real idônea. que estiverem situadas as coisas empenhadas.
Parágrafo único. Prometendo pagar em dinheiro a
Art. 1.434. O credor não pode ser constrangido a dívida, que garante com penhor rural, o devedor
devolver a coisa empenhada, ou uma parte dela, poderá emitir, em favor do credor, cédula rural pig-
antes de ser integralmente pago, podendo o juiz, a noratícia, na forma determinada em lei especial.
requerimento do proprietário, determinar que seja
vendida apenas uma das coisas, ou parte da coisa Art. 1.439. O penhor agrícola e o penhor pecuário
empenhada, suficiente para o pagamento do credor. somente podem ser convencionados, respectiva-
mente, pelos prazos máximos de três e quatro anos,
Das Obrigações do Credor Pignoratício prorrogáveis, uma só vez, até o limite de igual tem-
po.
Art. 1.435. O credor pignoratício é obrigado:
I - à custódia da coisa, como depositário, e a res- Art. 1.439. O penhor agrícola e o penhor pecuário
sarcir ao dono a perda ou deterioração de que for não podem ser convencionados por prazos superio-
culpado, podendo ser compensada na dívida, até a res aos das obrigações garantidas. (Redação dada
concorrente quantia, a importância da responsabili- pela Medida Provisória nº 619, de 2013)
dade;
II - à defesa da posse da coisa empenhada e a dar Art. 1.439. O penhor agrícola e o penhor pecuário
ciência, ao dono dela, das circunstâncias que torna- não podem ser convencionados por prazos superio-
rem necessário o exercício de ação possessória; res aos das obrigações garantidas. (Redação dada
III - a imputar o valor dos frutos, de que se apropriar pela Lei nº 12.873, de 2013)
o
(art. 1.433, inciso V) nas despesas de guarda e § 1 Embora vencidos os prazos, permanece a ga-
conservação, nos juros e no capital da obrigação rantia, enquanto subsistirem os bens que a consti-
garantida, sucessivamente; tuem.
o
IV - a restituí-la, com os respectivos frutos e aces- § 2 A prorrogação deve ser averbada à margem do
sões, uma vez paga a dívida; registro respectivo, mediante requerimento do cre-
V - a entregar o que sobeje do preço, quando a dor e do devedor.
dívida for paga, no caso do inciso IV do art. 1.433.
Art. 1.440. Se o prédio estiver hipotecado, o penhor
Da Extinção do Penhor rural poderá constituir-se independentemente da
anuência do credor hipotecário, mas não lhe preju-

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dica o direito de preferência, nem restringe a exten- nes e derivados; matérias-primas e produtos indus-
são da hipoteca, ao ser executada. trializados.
Parágrafo único. Regula-se pelas disposições relati-
Art. 1.441. Tem o credor direito a verificar o estado vas aos armazéns gerais o penhor das mercadorias
das coisas empenhadas, inspecionando-as onde se neles depositadas.
acharem, por si ou por pessoa que credenciar.
Art. 1.448. Constitui-se o penhor industrial, ou o
Do Penhor Agrícola mercantil, mediante instrumento público ou particu-
lar, registrado no Cartório de Registro de Imóveis da
Art. 1.442. Podem ser objeto de penhor: circunscrição onde estiverem situadas as coisas
I - máquinas e instrumentos de agricultura; empenhadas.
II - colheitas pendentes, ou em via de formação; Parágrafo único. Prometendo pagar em dinheiro a
III - frutos acondicionados ou armazenados; dívida, que garante com penhor industrial ou mer-
IV - lenha cortada e carvão vegetal; cantil, o devedor poderá emitir, em favor do credor,
V - animais do serviço ordinário de estabelecimento cédula do respectivo crédito, na forma e para os fins
agrícola. que a lei especial determinar.

Art. 1.443. O penhor agrícola que recai sobre colhei- Art. 1.449. O devedor não pode, sem o consenti-
ta pendente, ou em via de formação, abrange a mento por escrito do credor, alterar as coisas em-
imediatamente seguinte, no caso de frustrar-se ou penhadas ou mudar-lhes a situação, nem delas
ser insuficiente a que se deu em garantia. dispor. O devedor que, anuindo o credor, alienar as
Parágrafo único. Se o credor não financiar a nova coisas empenhadas, deverá repor outros bens da
safra, poderá o devedor constituir com outrem novo mesma natureza, que ficarão sub-rogados no pe-
penhor, em quantia máxima equivalente à do primei- nhor.
ro; o segundo penhor terá preferência sobre o pri-
meiro, abrangendo este apenas o excesso apurado Art. 1.450. Tem o credor direito a verificar o estado
na colheita seguinte. das coisas empenhadas, inspecionando-as onde se
acharem, por si ou por pessoa que credenciar.
Do Penhor Pecuário
Do Penhor de Direitos e Títulos de Crédito
Art. 1.444. Podem ser objeto de penhor os animais
que integram a atividade pastoril, agrícola ou de Art. 1.451. Podem ser objeto de penhor direitos,
lacticínios. suscetíveis de cessão, sobre coisas móveis.

Art. 1.445. O devedor não poderá alienar os animais Art. 1.452. Constitui-se o penhor de direito mediante
empenhados sem prévio consentimento, por escrito, instrumento público ou particular, registrado no Re-
do credor. gistro de Títulos e Documentos.
Parágrafo único. Quando o devedor pretende alie- Parágrafo único. O titular de direito empenhado
nar o gado empenhado ou, por negligência, ameace deverá entregar ao credor pignoratício os documen-
prejudicar o credor, poderá este requerer se deposi- tos comprobatórios desse direito, salvo se tiver inte-
tem os animais sob a guarda de terceiro, ou exigir resse legítimo em conservá-los.
que se lhe pague a dívida de imediato.
Art. 1.453. O penhor de crédito não tem eficácia
Art. 1.446. Os animais da mesma espécie, compra- senão quando notificado ao devedor; por notificado
dos para substituir os mortos, ficam sub-rogados no tem-se o devedor que, em instrumento público ou
penhor. particular, declarar-se ciente da existência do pe-
Parágrafo único. Presume-se a substituição prevista nhor.
neste artigo, mas não terá eficácia contra terceiros,
se não constar de menção adicional ao respectivo Art. 1.454. O credor pignoratício deve praticar os
contrato, a qual deverá ser averbada. atos necessários à conservação e defesa do direito
empenhado e cobrar os juros e mais prestações
Do Penhor Industrial e Mercantil acessórias compreendidas na garantia.

Art. 1.447. Podem ser objeto de penhor máquinas, Art. 1.455. Deverá o credor pignoratício cobrar o
aparelhos, materiais, instrumentos, instalados e em crédito empenhado, assim que se torne exigível. Se
funcionamento, com os acessórios ou sem eles; este consistir numa prestação pecuniária, deposita-
animais, utilizados na indústria; sal e bens destina- rá a importância recebida, de acordo com o devedor
dos à exploração das salinas; produtos de suinocul- pignoratício, ou onde o juiz determinar; se consistir
tura, animais destinados à industrialização de car- na entrega da coisa, nesta se sub-rogará o penhor.

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Parágrafo único. Estando vencido o crédito pignora- Parágrafo único. Prometendo pagar em dinheiro a
tício, tem o credor direito a reter, da quantia recebi- dívida garantida com o penhor, poderá o devedor
da, o que lhe é devido, restituindo o restante ao emitir cédula de crédito, na forma e para os fins que
devedor; ou a excutir a coisa a ele entregue. a lei especial determinar.

Art. 1.456. Se o mesmo crédito for objeto de vários Art. 1.463. Não se fará o penhor de veículos sem
penhores, só ao credor pignoratício, cujo direito que estejam previamente segurados contra furto,
prefira aos demais, o devedor deve pagar; responde avaria, perecimento e danos causados a terceiros.
por perdas e danos aos demais credores o credor
preferente que, notificado por qualquer um deles, Art. 1.464. Tem o credor direito a verificar o estado
não promover oportunamente a cobrança. do veículo empenhado, inspecionando-o onde se
achar, por si ou por pessoa que credenciar.
Art. 1.457. O titular do crédito empenhado só pode Art. 1.465. A alienação, ou a mudança, do veículo
receber o pagamento com a anuência, por escrito, empenhado sem prévia comunicação ao credor
do credor pignoratício, caso em que o penhor se importa no vencimento antecipado do crédito pigno-
extinguirá. ratício.
Art. 1.458. O penhor, que recai sobre título de crédi-
to, constitui-se mediante instrumento público ou Art. 1.466. O penhor de veículos só se pode con-
particular ou endosso pignoratício, com a tradição vencionar pelo prazo máximo de dois anos, prorro-
do título ao credor, regendo-se pelas Disposições gável até o limite de igual tempo, averbada a pror-
Gerais deste Título e, no que couber, pela presente rogação à margem do registro respectivo.
Seção.
Do Penhor Legal
Art. 1.459. Ao credor, em penhor de título de crédito,
compete o direito de: Art. 1.467. São credores pignoratícios, independen-
I - conservar a posse do título e recuperá-la de temente de convenção:
quem quer que o detenha; I - os hospedeiros, ou fornecedores de pousada ou
II - usar dos meios judiciais convenientes para as- alimento, sobre as bagagens, móveis, jóias ou di-
segurar os seus direitos, e os do credor do título nheiro que os seus consumidores ou fregueses
empenhado; tiverem consigo nas respectivas casas ou estabele-
III - fazer intimar ao devedor do título que não pague cimentos, pelas despesas ou consumo que aí tive-
ao seu credor, enquanto durar o penhor; rem feito;
IV - receber a importância consubstanciada no título II - o dono do prédio rústico ou urbano, sobre os
e os respectivos juros, se exigíveis, restituindo o bens móveis que o rendeiro ou inquilino tiver guar-
título ao devedor, quando este solver a obrigação. necendo o mesmo prédio, pelos aluguéis ou rendas.

Art. 1.460. O devedor do título empenhado que re- Art. 1.468. A conta das dívidas enumeradas no inci-
ceber a intimação prevista no inciso III do artigo so I do artigo antecedente será extraída conforme a
antecedente, ou se der por ciente do penhor, não tabela impressa, prévia e ostensivamente exposta
poderá pagar ao seu credor. Se o fizer, responderá na casa, dos preços de hospedagem, da pensão ou
solidariamente por este, por perdas e danos, peran- dos gêneros fornecidos, sob pena de nulidade do
te o credor pignoratício. penhor.
Parágrafo único. Se o credor der quitação ao deve-
dor do título empenhado, deverá saldar imediata- Art. 1.469. Em cada um dos casos do art. 1.467, o
mente a dívida, em cuja garantia se constituiu o credor poderá tomar em garantia um ou mais obje-
penhor. tos até o valor da dívida.

Do Penhor de Veículos Art. 1.470. Os credores, compreendidos no art.


1.467, podem fazer efetivo o penhor, antes de recor-
Art. 1.461. Podem ser objeto de penhor os veículos rerem à autoridade judiciária, sempre que haja peri-
empregados em qualquer espécie de transporte ou go na demora, dando aos devedores comprovante
condução. dos bens de que se apossarem.

Art. 1.462. Constitui-se o penhor, a que se refere o Art. 1.471. Tomado o penhor, requererá o credor,
artigo antecedente, mediante instrumento público ou ato contínuo, a sua homologação judicial.
particular, registrado no Cartório de Títulos e Docu-
mentos do domicílio do devedor, e anotado no certi- Art. 1.472. Pode o locatário impedir a constituição
ficado de propriedade. do penhor mediante caução idônea.

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Da Hipoteca credor, efetuando o pagamento, se sub-rogará nos


direitos da hipoteca anterior, sem prejuízo dos que
Art. 1.473. Podem ser objeto de hipoteca: lhe competirem contra o devedor comum.
I - os imóveis e os acessórios dos imóveis conjun- Parágrafo único. Se o primeiro credor estiver pro-
tamente com eles; movendo a execução da hipoteca, o credor da se-
II - o domínio direto; gunda depositará a importância do débito e as des-
III - o domínio útil; pesas judiciais.
IV - as estradas de ferro; Art. 1.479. O adquirente do imóvel hipotecado, des-
V - os recursos naturais a que se refere o art. 1.230, de que não se tenha obrigado pessoalmente a pa-
independentemente do solo onde se acham; gar as dívidas aos credores hipotecários, poderá
VI - os navios; exonerar-se da hipoteca, abandonando-lhes o imó-
VII - as aeronaves. vel.
VIII - o direito de uso especial para fins de moradia;
IX - o direito real de uso; Art. 1.480. O adquirente notificará o vendedor e os
X - a propriedade superficiária; e (Redação dada credores hipotecários, deferindo-lhes, conjuntamen-
pela Medida Provisória nº 700, de 2015) te, a posse do imóvel, ou o depositará em juízo.
XI - os direitos oriundos da imissão provisória na Parágrafo único. Poderá o adquirente exercer a
posse, quando concedida à União, aos Estados, ao faculdade de abandonar o imóvel hipotecado, até as
Distrito Federal, aos Municípios ou às suas entida- vinte e quatro horas subseqüentes à citação, com
des delegadas e respectiva cessão e promessa de que se inicia o procedimento executivo.
cessão. (Incluído pela Medida Provisória nº 700, de
2015) Art. 1.481. Dentro em trinta dias, contados do regis-
tro do título aquisitivo, tem o adquirente do imóvel
§ 1º A hipoteca dos navios e das aeronaves reger- hipotecado o direito de remi-lo, citando os credores
se-á pelo disposto em lei especial. hipotecários e propondo importância não inferior ao
§ 2º Os direitos de garantia instituídos nas hipóte- preço por que o adquiriu.
ses dos incisos IX e X do caput deste artigo ficam
o
limitados à duração da concessão ou direito de su- § 1 Se o credor impugnar o preço da aquisição ou a
perfície, caso tenham sido transferidos por período importância oferecida, realizar-se-á licitação, efetu-
determinado. ando-se a venda judicial a quem oferecer maior
preço, assegurada preferência ao adquirente do
Art. 1.474. A hipoteca abrange todas as acessões, imóvel.
o
melhoramentos ou construções do imóvel. Subsis- § 2 Não impugnado pelo credor, o preço da aquisi-
tem os ônus reais constituídos e registrados, anteri- ção ou o preço proposto pelo adquirente, haver-se-á
ormente à hipoteca, sobre o mesmo imóvel. por definitivamente fixado para a remissão do imó-
vel, que ficará livre de hipoteca, uma vez pago ou
Art. 1.475. É nula a cláusula que proíbe ao proprie- depositado o preço.
o
tário alienar imóvel hipotecado. § 3 Se o adquirente deixar de remir o imóvel, sujei-
Parágrafo único. Pode convencionar-se que vencerá tando-o a execução, ficará obrigado a ressarcir os
o crédito hipotecário, se o imóvel for alienado. credores hipotecários da desvalorização que, por
sua culpa, o mesmo vier a sofrer, além das despe-
Art. 1.476. O dono do imóvel hipotecado pode cons- sas judiciais da execução.
o
tituir outra hipoteca sobre ele, mediante novo título, § 4 Disporá de ação regressiva contra o vendedor o
em favor do mesmo ou de outro credor. adquirente que ficar privado do imóvel em conse-
qüência de licitação ou penhora, o que pagar a hipo-
Art. 1.477. Salvo o caso de insolvência do devedor, teca, o que, por causa de adjudicação ou licitação,
o credor da segunda hipoteca, embora vencida, não desembolsar com o pagamento da hipoteca impor-
poderá executar o imóvel antes de vencida a primei- tância excedente à da compra e o que suportar cus-
ra. tas e despesas judiciais.
Parágrafo único. Não se considera insolvente o
devedor por faltar ao pagamento das obrigações Art. 1.482. Realizada a praça, o executado poderá,
garantidas por hipotecas posteriores à primeira. até a assinatura do auto de arrematação ou até que
seja publicada a sentença de adjudicação, remir o
Art. 1.478. Se o devedor da obrigação garantida imóvel hipotecado, oferecendo preço igual ao da
pela primeira hipoteca não se oferecer, no venci- avaliação, se não tiver havido licitantes, ou ao do
mento, para pagá-la, o credor da segunda pode maior lance oferecido. Igual direito caberá ao cônju-
promover-lhe a extinção, consignando a importância ge, aos descendentes ou ascendentes do executa-
e citando o primeiro credor para recebê-la e o deve- do. (Vide Lei n º 13.105, de 2015)
dor para pagá-la; se este não pagar, o segundo

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o
Art. 1.483. No caso de falência, ou insolvência, do § 3 O desmembramento do ônus não exonera o
devedor hipotecário, o direito de remição defere-se devedor originário da responsabilidade a que se
à massa, ou aos credores em concurso, não poden- refere o art. 1.430, salvo anuência do credor.
do o credor recusar o preço da avaliação do imó-
vel.(Vide Lei n º 13.105, de 2015)
Parágrafo único. Pode o credor hipotecário, para Da Hipoteca Legal
pagamento de seu crédito, requerer a adjudicação
do imóvel avaliado em quantia inferior àquele, des- Art. 1.489. A lei confere hipoteca:
de que dê quitação pela sua totalidade. I - às pessoas de direito público interno (art. 41)
sobre os imóveis pertencentes aos encarregados da
Art. 1.484. É lícito aos interessados fazer constar cobrança, guarda ou administração dos respectivos
das escrituras o valor entre si ajustado dos imóveis fundos e rendas;
hipotecados, o qual, devidamente atualizado, será a II - aos filhos, sobre os imóveis do pai ou da mãe
base para as arrematações, adjudicações e remi- que passar a outras núpcias, antes de fazer o inven-
ções, dispensada a avaliação. tário do casal anterior;
III - ao ofendido, ou aos seus herdeiros, sobre os
Art. 1.485. Mediante simples averbação, requerida imóveis do delinqüente, para satisfação do dano
por ambas as partes, poderá prorrogar-se a hipote- causado pelo delito e pagamento das despesas
ca, até 30 (trinta) anos da data do contrato. Desde judiciais;
que perfaça esse prazo, só poderá subsistir o con- IV - ao co-herdeiro, para garantia do seu quinhão ou
trato de hipoteca reconstituindo-se por novo título e torna da partilha, sobre o imóvel adjudicado ao her-
novo registro; e, nesse caso, lhe será mantida a deiro reponente;
precedência, que então lhe competir. V - ao credor sobre o imóvel arrematado, para ga-
rantia do pagamento do restante do preço da arre-
Art. 1.486. Podem o credor e o devedor, no ato matação.
constitutivo da hipoteca, autorizar a emissão da
correspondente cédula hipotecária, na forma e para Art. 1.490. O credor da hipoteca legal, ou quem o
os fins previstos em lei especial. represente, poderá, provando a insuficiência dos
imóveis especializados, exigir do devedor que seja
Art. 1.487. A hipoteca pode ser constituída para reforçado com outros.
garantia de dívida futura ou condicionada, desde
que determinado o valor máximo do crédito a ser Art. 1.491. A hipoteca legal pode ser substituída por
garantido. caução de títulos da dívida pública federal ou esta-
o
§ 1 Nos casos deste artigo, a execução da hipoteca dual, recebidos pelo valor de sua cotação mínima
dependerá de prévia e expressa concordância do no ano corrente; ou por outra garantia, a critério do
devedor quanto à verificação da condição, ou ao juiz, a requerimento do devedor.
montante da dívida.
o
§ 2 Havendo divergência entre o credor e o deve- Do Registro da Hipoteca
dor, caberá àquele fazer prova de seu crédito. Re-
conhecido este, o devedor responderá, inclusive, Art. 1.492. As hipotecas serão registradas no cartó-
por perdas e danos, em razão da superveniente rio do lugar do imóvel, ou no de cada um deles, se o
desvalorização do imóvel. título se referir a mais de um.
Parágrafo único. Compete aos interessados, exibido
Art. 1.488. Se o imóvel, dado em garantia hipotecá- o título, requerer o registro da hipoteca.
ria, vier a ser loteado, ou se nele se constituir con-
domínio edilício, poderá o ônus ser dividido, gra- Art. 1.493. Os registros e averbações seguirão a
vando cada lote ou unidade autônoma, se o reque- ordem em que forem requeridas, verificando-se ela
rerem ao juiz o credor, o devedor ou os donos, obe- pela da sua numeração sucessiva no protocolo.
decida a proporção entre o valor de cada um deles Parágrafo único. O número de ordem determina a
e o crédito. prioridade, e esta a preferência entre as hipotecas.
o
§ 1 O credor só poderá se opor ao pedido de des-
membramento do ônus, provando que o mesmo Art. 1.494. Não se registrarão no mesmo dia duas
importa em diminuição de sua garantia. hipotecas, ou uma hipoteca e outro direito real, so-
o
§ 2 Salvo convenção em contrário, todas as despe- bre o mesmo imóvel, em favor de pessoas diversas,
sas judiciais ou extrajudiciais necessárias ao des- salvo se as escrituras, do mesmo dia, indicarem a
membramento do ônus correm por conta de quem o hora em que foram lavradas.
requerer.
Art. 1.495. Quando se apresentar ao oficial do regis-
tro título de hipoteca que mencione a constituição

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de anterior, não registrada, sobrestará ele na inscri- da estrada, em suas dependências, ou no seu mate-
ção da nova, depois de a prenotar, até trinta dias, rial.
aguardando que o interessado inscreva a preceden-
te; esgotado o prazo, sem que se requeira a inscri- Art. 1.504. A hipoteca será circunscrita à linha ou às
ção desta, a hipoteca ulterior será registrada e obte- linhas especificadas na escritura e ao respectivo
rá preferência. material de exploração, no estado em que ao tempo
da execução estiverem; mas os credores hipotecá-
Art. 1.496. Se tiver dúvida sobre a legalidade do rios poderão opor-se à venda da estrada, à de suas
registro requerido, o oficial fará, ainda assim, a pre- linhas, de seus ramais ou de parte considerável do
notação do pedido. Se a dúvida, dentro em noventa material de exploração; bem como à fusão com
dias, for julgada improcedente, o registro efetuar-se- outra empresa, sempre que com isso a garantia do
á com o mesmo número que teria na data da preno- débito enfraquecer.
tação; no caso contrário, cancelada esta, receberá o
registro o número correspondente à data em que se Art. 1.505. Na execução das hipotecas será intima-
tornar a requerer. do o representante da União ou do Estado, para,
dentro em quinze dias, remir a estrada de ferro hipo-
Art. 1.497. As hipotecas legais, de qualquer nature- tecada, pagando o preço da arrematação ou da
za, deverão ser registradas e especializadas. adjudicação.
o
§ 1 O registro e a especialização das hipotecas
legais incumbem a quem está obrigado a prestar a Da Anticrese
garantia, mas os interessados podem promover a
inscrição delas, ou solicitar ao Ministério Público Art. 1.506. Pode o devedor ou outrem por ele, com a
que o faça. entrega do imóvel ao credor, ceder-lhe o direito de
o
§ 2 As pessoas, às quais incumbir o registro e a perceber, em compensação da dívida, os frutos e
especialização das hipotecas legais, estão sujeitas rendimentos.
o
a perdas e danos pela omissão. § 1 É permitido estipular que os frutos e rendimen-
tos do imóvel sejam percebidos pelo credor à conta
Art. 1.498. Vale o registro da hipoteca, enquanto a de juros, mas se o seu valor ultrapassar a taxa má-
obrigação perdurar; mas a especialização, em com- xima permitida em lei para as operações financei-
pletando vinte anos, deve ser renovada. ras, o remanescente será imputado ao capital.
o
§ 2 Quando a anticrese recair sobre bem imóvel,
Da Extinção da Hipoteca este poderá ser hipotecado pelo devedor ao credor
anticrético, ou a terceiros, assim como o imóvel
Art. 1.499. A hipoteca extingue-se: hipotecado poderá ser dado em anticrese.
I - pela extinção da obrigação principal;
II - pelo perecimento da coisa; Art. 1.507. O credor anticrético pode administrar os
III - pela resolução da propriedade; bens dados em anticrese e fruir seus frutos e utili-
IV - pela renúncia do credor; dades, mas deverá apresentar anualmente balanço,
V - pela remição; exato e fiel, de sua administração.
o
VI - pela arrematação ou adjudicação. § 1 Se o devedor anticrético não concordar com o
que se contém no balanço, por ser inexato, ou rui-
Art. 1.500. Extingue-se ainda a hipoteca com a nosa a administração, poderá impugná-lo, e, se o
averbação, no Registro de Imóveis, do cancelamen- quiser, requerer a transformação em arrendamento,
to do registro, à vista da respectiva prova. fixando o juiz o valor mensal do aluguel, o qual po-
derá ser corrigido anualmente.
o
Art. 1.501. Não extinguirá a hipoteca, devidamente § 2 O credor anticrético pode, salvo pacto em sen-
registrada, a arrematação ou adjudicação, sem que tido contrário, arrendar os bens dados em anticrese
tenham sido notificados judicialmente os respectivos a terceiro, mantendo, até ser pago, direito de reten-
credores hipotecários, que não forem de qualquer ção do imóvel, embora o aluguel desse arrenda-
modo partes na execução. mento não seja vinculativo para o devedor.

Da Hipoteca de Vias Férreas Art. 1.508. O credor anticrético responde pelas dete-
riorações que, por culpa sua, o imóvel vier a sofrer,
Art. 1.502. As hipotecas sobre as estradas de ferro e pelos frutos e rendimentos que, por sua negligên-
serão registradas no Município da estação inicial da cia, deixar de perceber.
respectiva linha. Art. 1.509. O credor anticrético pode vindicar os
Art. 1.503. Os credores hipotecários não podem seus direitos contra o adquirente dos bens, os cre-
embaraçar a exploração da linha, nem contrariar as dores quirografários e os hipotecários posteriores ao
modificações, que a administração deliberar, no leito registro da anticrese.

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o
§ 1 Se executar os bens por falta de pagamento da
dívida, ou permitir que outro credor o execute, sem
opor o seu direito de retenção ao exeqüente, não
terá preferência sobre o preço.
o
§ 2 O credor anticrético não terá preferência sobre
a indenização do seguro, quando o prédio seja des-
truído, nem, se forem desapropriados os bens, com
relação à desapropriação.

Art. 1.510. O adquirente dos bens dados em anti-


crese poderá remi-los, antes do vencimento da dívi-
da, pagando a sua totalidade à data do pedido de
remição e imitir-se-á, se for o caso, na sua posse.

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DEFENSORIA PÚBLICA ESTADUAL – TEORIA E QUESTÕES
Direito Civil – Aula 02
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1 - (2014-FUNDEP-DPE-MG-Defensor Público) vinho sobre o tecido, causando manchas no


Sobre direito das obrigações no Código Civil, bem. Ana Lúcia poderá:
analise as afirmativas a seguir.
A) aceitar o vestido, ou o equivalente em dinheiro,
I. O credor pode, em caso de urgência, desfazer desde que renuncie às perdas e danos.
ou mandar desfazer, independentemente de au- B) postular somente o equivalente em dinheiro,
torização judicial, ato, a cuja abstenção se obri- desde que renuncie ao recebimento do vestido.
gara, praticado pelo devedor. C) aceitar o vestido, ou o equivalente em dinheiro,
II. Tanto o devedor primitivo, quanto o terceiro além de postular perdas e danos.
poderão assinalar prazo ao credor para que D) apenas postular perdas e danos.
consinta na assunção da dívida, interpretando- E) aceitar o vestido, apenas, desde que renuncie às
se o seu silêncio como recusa. perdas e danos.
III. Sub-roga-se nos direitos do credor o terceiro
não interessado que paga a dívida em seu pró-
prio nome, tendo direito a reembolsar-se do que
pagar.
IV. As arras terão função indenizatória e suple-
mentar quando o direito de arrependimento for
estipulado no contrato para qualquer das partes.

Estão INCORRETAS as afirmativas:

A) I e IV apenas.
B) II e III apenas.
C) I e II apenas.
D) III e IV apenas

2 - (2014-FCC-DPE-RS-Defensor Público) Consi-


dere as seguintes assertivas sobre o Direito das
Obrigações.

I. Quando convertida em perdas e danos, a obri-


gação solidária conserva sua natureza, enquan-
to a obrigação indivisível torna-se divisível.
II. Na obrigação indivisível, o devedor que paga
a dívida se sub-roga no direito do credor em
relação aos demais coobrigados, porém só po-
derá cobrar dos coobrigados a quota-parte de
cada um destes.
III. É possível a formação de vínculo obrigacio-
nal no qual o sujeito passivo possua apenas a
responsabilidade, mas não o débito pelo qual
poderá ser civilmente acionado.
IV. Pessoas futuras, como o nascituro e a pes-
soa jurídica em formação, não podem figurar em
relação jurídica obrigacional.

Está correto o que se afirma APENAS em:

A) II e IV.
B) I e III.
C) I, II e III.
D) I e II.
E) III e IV.

3 - (2014-FCC-DPE-PB-Defensor Público) Ângela


firmou contrato com Ana Lúcia obrigando-se a
entregar-lhe um vestido. Antes da tradição, po-
rém, utilizou o vestido em uma festa e derrubou

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Direito Civil – Aula 02
Roberto Figueiredo

GABARITO

1. D
2. C
3. C

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Direito Civil – Aula 03
Roberto Figueiredo

DEFENSORIA PÚBLICA 2016. 3.1.4- Princípio da relatividade dos efeitos dos


PROFESSOR ROBERTO FIGUEIREDO contratos.
PROCURADOR DO ESTADO DA BAHIA. Os contratos obrigam somente os contratantes,
PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO DE PROCURADORES DO seus efeitos só por eles são sentidos, não aprovei-
ESTADO DA BAHIA. tando nem prejudicando terceiros – res inter alios
MESTRE EM DIREITO ECONÔMICO PELA UFBA acta.
INSTAGRAM: @ROBERTO_CIVIL
TWITTER: @ROBERTO_CIVIL 3.2. Princípios de segunda Geração ou dimensão
PERISCOLPE: @ ROBERTO_CIVIL (princípios sociais).
FACEBOOK: ROBERTO FIGUEIREDO (PROFESSOR) 3.2.1. Princípio da socialidade.

CONTRATOS. FB GERAL. O art. 421 do Código Civil de 2002 estabelece que a


liberdade de contratar será exercida em razão e nos
1. Conceito: encontro de duas ou mais vontades limites da função social do contrato.
contrapostas, que confluem para regulamentar inte-
resses particulares (entre as partes), com o objetivo 3.2.2. Princípio da boa-fé.
de ADQUIRIR, MODIFICAR ou EXTINGUIR rela- As partes devem agir ao contratar com lealdade e
ções jurídicas de natureza patrimonial, tudo em confiança recíproca, atuando como o bonus pater
conformidade com o direito objetivo. Diversamente familiae dos romanos.
do que sucede com a lei abstrata e geral, o contrato
é norma específica e particular. Tal princípio não é absoluto, eis que não raro
terceiros são abrangidos pelos efeitos de determi-
2. Natureza Jurídica. É espécie de negócio jurídi- nados contratos.
co, de estrutura bilateral ou plurilateral e fonte
geradora de obrigação. O herdeiro ou sucessor a qualquer título não é con-
siderado terceiro, mas a continuação ou prolonga-
3. Princípios Específicos da Teoria Geral dos mento da parte sucedida.
Contratos.
3.2.3- Princípio da equivalência material ou igual-
3.1. Princípios de Primeira Geração ou dimensão dade substancial.
(princípios liberais ou burgueses).
4. O autocontrato
3.1.1. Princípio da Autonomia da vontade:
A liberdade de contratar especializa-se em: Por exigir a confluência de duas ou mais vonta-
des, em princípio é vedado no nosso direito a figura
- liberdade de contratar ou não contratar. Exce- do autocontrato.
ções: a) serviços públicos chamados vitais em razão
do grau de organização da sociedade moderna Há a possibilidade, contudo, da mesma pessoa
(água, esgoto, luz e, até mesmo, plano de saúde); representar duas vontades diferentes, numa de-
b) contratos impostos pela lei, ex. seguro obrigató- las agindo em nome e interesse próprios, na outra
rio; c) obrigação de contratar estipulada em contrato como representante, mandatário de vontade de
preliminar. pessoa diversa.
- liberdade de escolher o contratado. Exceções:
a) os contratados que exercem atividade econômica O autocontrato é autorizado quando o representante
em caráter de monopólio, legal ou de fato (ex. polo não tenha possibilidade de determinar o conteúdo
petroquímico, só quem fornece a nafta é a Copene, da relação jurídica.
empresas de refino de petróleo, só quem fornece a
matéria prima é a Petrobrás); b) obrigação com 5. Elementos indispensáveis à validade do con-
quem contratar estipulada em contrato preliminar. trato.
- liberdade de estipular o contrato, de elaborar
as suas cláusulas, de participar da fase de pun- Requisitos constantes no art. 104 do CC/02: agente
tuazione. Exceção: contrato de adesão. capaz, objeto lícito e forma prescrita ou não de-
fesa em lei. Requisitos subjetivos:
3.1.2. Princípio do consensualismo.
a) Existência de duas ou mais pessoas;
3.1.3. Princípio da força obrigatória. b) Capacidade genérica dos contratantes para a
Sintetiza-se na regra de que o contrato é lei entre prática dos atos da vida civil;
as partes, as suas disposições exibem força obri- c) Aptidão específica para participar daquele con-
gatória (pacta sunt servanda). trato em particular (legitimidade);

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d) Livre consentimento dos pactuantes (desprovido c) o contrato a título gratuito poderá ser anulado por
de vício de consentimento: erro, dolo, simulação, ação pauliana independentemente de má-fé.
coação e fraude);
Requisitos objetivos: - Comutativos e Aleatórios:

a) Licitude do seu objeto; Atenção!


b) Possibilidade material do objeto;
Contrato aleatório x condicional: a) no condicional a
- a possibilidade material, contudo, deve existir no existência e eficácia do contrato está na dependên-
instante da constituição do contrato, aparecendo cia de evento futuro e incerto, ao passo que, no
posteriormente, dar-se-á a inexecução do pacto aleatório, ter-se-á o contrato perfeito e acabado
com ou sem perdas e danos, conforme ocorra ou desde logo, a incerteza atingirá, apenas, a extensão
não a culpa do devedor ( artigos 234, 238, 239, 248, das vantagens e das perdas dos contraentes;
399 e 393, CC); - Paritários ou por Adesão.
- a impossibilidade que invalida o contrato é a abso-
luta, existente para todos, a relativa gera a inexecu- Contratos paritários: Igualdade das partes na dis-
ção; cussão dos termos do negócio, cláusulas e condi-
- pode haver contrato sobre coisa futura, como co- ções.
lheita, não necessita, portanto, de objeto atual.
Contratos por adesão: excluem a liberdade sobre
c) Determinabilidade do objeto. as cláusulas e condições, que são previamente
d) Economicidade do objeto redigidas por um dos contratantes. Supõe: a) Uni-
formidade; b) Proposta permanente e geral; c) Su-
Requisito formal: perioridade econômica de uma das partes.
A regra é a liberdade de forma a solenidade é a Classificação dos contratos quanto à forma:
exceção.
- Consensuais: Perfazem pela simples anuência das
6. Formação do Contrato. partes (transporte, compra e venda de bens mó-
veis).
Negociações preliminares: Fase pré-contratual, - Formais: Impõem, para sua validade, forma espe-
não cria obrigações contratuais, mas, podem gerar cial, solene (compra e venda de imóvel) (seguro)
obrigações extracontratuais. (fiança).
- Reais: Se ultimam com a entrega da coisa, por um
Proposta, oferta ou solicitação: Declaração recep- contratante a outro (depósito, comodato)
tícia de vontade, dirigida por uma pessoa a outra,
por meio da qual o proponente manifesta a sua in- 7. Vícios redibitórios.
tenção de se considerar vinculada, se a outra parte
aceitar a proposta. Há que ser a proposta séria, Conceito: são defeitos ocultos existentes na coisa
revestir-se de força vinculante, conter todos os ele- alienada, objeto de contrato comutativo (equivalên-
mentos essenciais do negócio jurídico. cia originária), que a torna imprópria ao uso a que
Obrigatoriedade da proposta: a) Manutenção des- se destina ou lhe diminuem sensivelmente o valor,
ta dentro de prazo razoável; b) A morte ou a incapa- dando ao alienante ação para redibir o contrato ou
cidade do proponente supervenientemente não in- promover o abatimento do preço.
firma a proposta, exceto se a intenção for outra.
Art. 441. A coisa recebida em virtude de con-
Aceitação: Manifestação expressa ou tácita da trato comutativo pode ser enjeitada por vícios
vontade por parte do destinatário da proposta, feita ou defeitos ocultos, que a tornem imprópria
dentro do prazo, aderindo em todos os seus termos. ao uso a que é destinada, ou lhe diminuam o
Se a aceitação foi condicional, equivalerá à nova valor.
proposta.
Propõe uma das duas ações edilícias, quais sejam,
Atenção! uma ação redibitória ou uma ação estimatória (ou
a) o contrato gratuito deve ser interpretado res- “quanti minoris”), que não podem ser cumuladas –
tritivamente (art. 114, CC), e somente a conduta art. 442 e 443.
dolosa do devedor, autor da liberalidade, importa
em responsabilidade (art. 392, CC), > Ação redibitória.
> Ação Estimatória ou quantis minoris
b) o doador não responde por evicção ou vício
redibitório,

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Art. 442. Em vez de rejeitar a coisa, redibindo o 4º) O adquirente poderá recindir o contrato refutan-
contrato (art. 441), pode o adquirente reclamar do a coisa defeituosa ou recebê-la com abatimento
abatimento no preço. do preço, através da ação estimatória ou quanti
minoris. (Falar sobre os prazos que são de deca-
Art. 443. Se o alienante conhecia o vício ou defeito dência: CC=15 dias; Lei 8 078/90, art. 26 = produtos
da coisa, restituirá o que recebeu com perdas e e serviços e bens duráveis : 30 dias e de 6 meses
danos; se o não conhecia, tão-somente restituirá o se tratar de bens móveis (CC, 178, § 5º, IV).
valor recebido, mais as despesas do contrato. 5º) O defeito oculto de uma coisa vendida conjun-
tamente com outras não autoriza a rejeição de to-
# Prazo para propor as duas ações edilícias (art. das.
445). 6º) A renúncia, expressa ou tácita, à garantia impe-
de o ajuizamento das ações ditas edilícias.
Art. 445. O adquirente decai do direito de obter a Não Cabe ação redibitória quando a coisa for vendi-
redibição ou abatimento no preço no prazo de trinta da em hasta pública
dias se a coisa for móvel, e de um ano se for imó-
vel, contado da entrega efetiva; se já estava na 8 - Evicção.
posse, o prazo conta-se da alienação, reduzido à
metade. Conceito: é a perda da coisa, por força de decisão
judicial, fundada em motivo jurídico anterior, que a
o
1 Quando o vício, por sua natureza, só puder ser confere a outrem, seu verdadeiro dono, com o reco-
conhecido mais tarde, o prazo contar-se-á do mo- nhecimento em juízo da existência de ônus sobre a
mento em que dele tiver ciência, até o prazo máxi- mesma coisa, não denunciado oportunamente no
mo de cento e oitenta dias, em se tratando de bens contrato.
móveis; e de um ano, para os imóveis.
Art. 447. Nos contratos onerosos, o alienante
Prazos que são decadenciais: responde pela evicção. Subsiste esta garan-
En. 28 - Art. 445 (§§ 1º e 2º): o disposto no art. 445, tia ainda que a aquisição se tenha realizado
§§ 1º e 2º, do Código Civil reflete a consagração da em hasta pública.
doutrina e da jurisprudência quanto à natureza de-
cadencial das ações edilícias. Requisitos:

Atenção! I) Aquisição onerosa ou em hasta pública


Vício redibitório e prazo decadencial. II) Perda da posse ou propriedade;
III) Prolação de sentença ou execução de ato admi-
Quando o vício oculto, por sua natureza, só puder nistrativo
ser conhecido mais tarde (art. 445, § 1º, CC), o ad- IV) Ignorância pelo adquirente da litigiosidade da
quirente de bem móvel terá o prazo de trinta dias coisa
(art. 445, caput, do CC), a partir da ciência desse V) Anterioridade do direito do evictor
defeito, para exercer o direito de obter a redibição
ou abatimento no preço, desde que o conhecimento Personagens:
do vício ocorra dentro do prazo de cento e oitenta
dias da aquisição do bem. REsp 1.095.882-SP, Rel. I. Alienante: quem responde pelos riscos da evic-
Min. Maria Isabel Gallotti, DJe 19.12.14. 4ª T. (Info ção.
STJ 554) II. Adquirente (ou evicto): pessoa que perde a pos-
Requisitos: a alienação por contrato comutativo ou se e a propriedade.
doação com encargo e a existência de defeito oculto III. Terceiro (evictor): pessoa que prova direito ante-
que inutilize a coisa ou diminua o seu valor. rior.

Efeitos jurídicos dos vícios redibitórios: A DENUNCIAÇÃO DA LIDE E O NOVO CPC!

1º) A ignorância do vício pelo alienante não o exime Art. 125. É admissível a denunciação da lide, pro-
da responsabilidade, salvo cláusula expressa em movida por qualquer das partes: I - ao alienante
contrário; imediato, no processo relativo à coisa cujo domínio
2º) Os limites da garantia, relativos à indenização ( foi transferido ao denunciante, a fim de que possa
quantum ) e os prazos poderão ser ampliados ou exercer os direitos que da evicção lhe resultam; II -
restringidos ; àquele que estiver obrigado, por lei ou pelo contrato,
3º) A responsabilidade do alienante subsiste ainda a indenizar, em ação regressiva, o prejuízo de quem
que a coisa pereça em poder de quem a adquiriu ( for vencido no processo.
alienatário ) em razão de vício oculto já existente ao
tempo da tradição, se perca.

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o
§ 1 O direito regressivo será exercido por ação Art. 457. Não pode o adquirente demandar
autônoma quando a denunciação da lide for indefe- pela evicção, se sabia que a coisa era alheia
rida, deixar de ser promovida ou não for permitida. ou litigiosa.
o
§ 2 Admite-se uma única denunciação sucessiva,
promovida pelo denunciado, contra seu antecessor Características do Contrato:
imediato na cadeia dominial ou quem seja respon-
sável por indenizá-lo, não podendo o denunciado a)bilateral ou sinalagmático;
sucessivo promover nova denunciação, hipótese em b) oneroso;
que eventual direito de regresso será exercido por c) comutativo ou aleatório ( emptio spei e emptio rei
ação autônoma. speratae - é o que versa sobre coisas existentes,
sujeitas ao risco de se perderem, danificarem ou,
Cabe denunciação à lide per saltum? ainda, sofrerem deterioração )
d) consensual ou solene e
En. 29 - Art. 456: a interpretação do art. 456 do no- e) translativo do domínio, não no sentido de operar
vo Código Civil permite ao evicto a denunciação sua transferência, mas de servir domo "titulus adqui-
direta de qualquer dos responsáveis pelo vício. rendi", isto é, de ser o ato causal da transmissão da
propriedade gerador de uma obrigação de entregar
Art. 456. Para poder exercitar o direito que da evic- a coisa alienada. O contrato de compra e venda
ção lhe resulta, o adquirente notificará do litígio o vem a ser o título hábil à aquisição do domínio, que
alienante imediato, ou qualquer dos anteriores, só se dá com a tradição e a transcrição, conforme o
quando e como lhe determinarem as leis do proces- caso.
so.
Requisitos: só haverá responsabilidade do alienan-
Parágrafo único. Não atendendo o alienante à de- te pela evicção no contrato oneroso translativo de
nunciação da lide, e sendo manifesta a procedência domínio, posse ou uso (art. 1107/447, CC), eis
da evicção, pode o adquirente deixar de oferecer que se o evicto for privado de uma coisa adqui-
contestação, ou usar de recursos. rida a título gratuito não experimentará diminui-
ção do seu patrimônio.
Quais são os direitos do evicto quando for respon-
sabilizar o alienante? A jurisprudência do STJ admite o exercício do
direito de evicção, sem exigir prévia sentença judici-
Art. 450. Salvo estipulação em contrário, tem al, bastando, para tanto, que fique privado do bem
direito o evicto, além da restituição integral do por ato de autoridade administrativa, como se dá,
preço ou das quantias que pagou: por exemplo, com apreensão de objetos suspeitos
I - à indenização dos frutos que tiver sido de furto ou roubo (RSTJ 74/219).
obrigado a restituir;
II - à indenização pelas despesas dos contra- Direitos do evicto: restituição integral do preço
tos e pelos prejuízos que diretamente resulta- tendo por base o valor da coisa ao tempo em que
rem da evicção; se evenceu, correção monetária, juros legais, a
III - às custas judiciais e aos honorários do previsão do art. 450, CC, que incluí honorários de
advogado por ele constituído. advogado e mais a do art. 453, CC, que incluí di-
reito de retenção e acessões.
Art. 448 a cláusula de garantia da evicção pode ser
reforçada, diminuída ou excluída. Evicção parcial – possibilidade de o evicto optar
entre a rescisão do contrato ou a restituição de par-
Art. 448. Podem as partes, por cláusula ex- te do
pressa, reforçar, diminuir ou excluir a respon- preço correspondente ao desfalque (art. 455, CC).
sabilidade pela evicção.
9. Extinção do Contrato.
Art. 449 e o cuidado na hipótese de exclusão:
5.4.1.Causas anteriores ou contemporâneas à cele-
Art. 449. Não obstante a cláusula que exclui a ga- bração: invalidade.
rantia contra a evicção, se esta se der, tem direito o
evicto a receber o preço que pagou pela coisa evic- 5.4.2. Causas supervenientes:
ta, se não soube do risco da evicção, ou, dele in-
formado, não o assumiu. a) Exaustão ou cumprimento do objeto;
b) Vencimento do prazo;
# Observar que se o adquirente sabia que a coisa c) Implemento da condição resolutiva;
era alheia ou litigiosa, não poderá demandar pela d) Frustração da condição suspensiva;
evicção. e) Morte da parte (contrato intuitu personae);

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f) Resilição: # Consequências da imprevisão: resolução ou revi-


f.1) unilateral: revogação, renúncia, resgate e são. Sendo que para revisar é necessária a concor-
jus poenitendi; dância do beneficiado.
f.2) bilateral: distrato (art. 472, CC);
g) Rescisão: lesão ou estado de perigo; Art. 479. A resolução poderá ser evitada,
h) Resolução: art. 474, CC; oferecendo-se o réu a modificar equitativa-
mente as condições do contrato.
10. Revisão do Contrato – Teoria da Imprevisão
x Resolução. 11. Contrato Preliminar (antecontrato, pré-
contrato, promessa)
Art. 317. Quando, por motivos imprevisíveis, sobre-
vier desproporção manifesta entre o valor da pres- Art. 462. O contrato preliminar, exceto quanto à
tação devida e o do momento de sua execução, forma, deve conter todos os requisitos essenciais ao
poderá o juiz corrigi-lo, a pedido da parte, de modo contrato a ser celebrado.
que assegure, quanto possível, o valor real da Art. 463. Concluído o contrato preliminar, com ob-
prestação. servância do disposto no artigo antecedente, e des-
de que dele não conste cláusula de arrependimento,
Atenção! qualquer das partes terá o direito de exigir a cele-
Súmula 380 do STJ. “A simples propositura da ação bração do definitivo, assinando prazo à outra para
de revisão de contrato não inibe a caracterização da que o efetive.
mora do autor”. Parágrafo único. O contrato preliminar deverá ser
levado ao registro competente.
Art. 478. Nos contratos de execução continuada ou
diferida, se a prestação de uma das partes se tor- 12. Exceção do Contrato Não Cumprido (Exceptio
nar excessivamente onerosa, com extrema vanta- non adimpleti contractus)
gem para a outra, em virtude de acontecimentos
extraordinários e imprevisíveis, poderá o devedor Art. 476. Nos contratos bilaterais, nenhum dos con-
pedir a resolução do contrato. Os efeitos da sen- tratantes, antes de cumprida a sua obrigação, pode
tença que a decretar retroagirão à data da citação. exigir o implemento da do outro.

Atenção! Atenção!

A teoria da base objetiva ou da base do negócio Cláusula “Solve et Repete”.


jurídico tem sua aplicação restrita às relações jurídi-
cas de consumo, não sendo aplicável às contratuais
puramente civis. REsp 1.321.614-SP, Rel. p/ ac.
Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, DJe 3.3.15. 3ª T.
(Info STJ 556)
Tratando-se de relação contratual paritária – a qual
não é regida pelas normas consumeristas – a maxi-
desvalorização do real em face do dólar americano
ocorrida a partir de janeiro de 1999 não autoriza a Não é possível exigir a devolução ao erário dos
aplicação da teoria da imprevisão ou da teoria da valores recebidos de boa-fé pelo servidor públi-
onerosidade excessiva, com intuito de promover a co, quando pagos indevidamente pela Adminis-
revisão de cláusula de indexação ao dólar america- tração Pública, em função de interpretação equi-
no. REsp 1.321.614-SP, Rel. p/ ac. Min. Ricardo vocada de lei.
Villas Bôas Cueva, DJe 3.3.15. 3ª T. (Info STJ 556)
O art. 46, caput, da Lei n. 8.112/1990 deve ser in-
Requisitos: terpretado com alguns temperamentos, mormente
em decorrência de princípios gerais do direito, como
- contrato comutativo (oneroso e bilateral) de execu- a boa-fé. Com base nisso, quando a Administração
ção diferida ou continuada (não momentânea) Pública interpreta erroneamente uma lei, resultando
- superveniência de circunstância extraordinária e em pagamento indevido ao servidor, cria-se uma
imprevisível falsa expectativa de que os valores recebidos são
- alteração da base econômica objetiva do contrato, legais e definitivos, impedindo, assim, que ocorra a
com onerosidade excessiva para uma das partes e restituição, ante a boa-fé do servidor público. Pre-
extrema vantagem a uma das partes cedentes citados do STF: MS 25641, DJe 22/2/2008
; do STJ: EDcl no RMS 32.706-SP, DJe 9/11/2011;
AgRg no Ag 1.397.671-RS, DJe 15/8/2011; AgRg no
REsp 1.266.592-RS, DJe 13/9/2011; REsp

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1.190.740-MG, DJe 12/8/2010; AgRg no Ag sula que prevê os riscos cobertos a conceitos de
1.030.125-MA, DJe 1º/9/2008; AgRg nos EDcl no Ag direito penal está aquém daquilo que se supõe de
785.552-RS, DJ 5/2/2007; MS 10.740-DF, DJ clareza razoável no âmbito das relações consume-
12/3/2007, e EDcl no RMS 12.393-PR, DJ ristas, sobretudo diante da carga limitativa que o
6/6/2005. REsp 1.244.182-PB, Rel. Min. Benedito dispositivo do ajuste encerra, pois a peculiar e es-
Gonçalves, julgado em 10/10/2012. treitíssima diferenciação entre roubo e extorsão
perpassa o entendimento do homem médio, mor-
mente em se tratando de consumidor, não lhe sen-
do exigível a capacidade de diferenciar tipos penais.
Trata-se de situação distinta daquela apreciada pela
Quarta Turma, na qual se assentou que a cobertura
securitária estabelecida para furto e roubo não
DIREITO CIVIL. CONTRATO DE SEGURO DE abrangia hipóteses de apropriação indébita (REsp n.
VEÍCULO. PREVISÃO DE COBERTURA DE CRI- 1.177.479-PR). Precedente citado: REsp 814.060-
ME DE ROUBO. ABRANGÊNCIA DO CRIME DE RJ, DJe 13/4/2010. REsp 1.106.827-SP, Rel. Min.
EXTORSÃO. Marco Buzzi, julgado em 16/10/2012.
É devido o pagamento de indenização por segu-
radora em razão dos prejuízos financeiros sofri-
dos por vítima de crime de extorsão constrangi-
da a entregar o veículo segurado a terceiro, ain-
da que a cláusula contratual delimitadora dos
riscos cobertos somente preveja as hipóteses
de colisão, incêndio, furto e roubo. Em que pese DIREITO DO CONSUMIDOR. VÍCIO OCULTO.
ser de rigor a interpretação restritiva em matéria de DEFEITO MANIFESTADO APÓS O TÉRMINO DA
direito penal, especialmente ao se aferir o espectro GARANTIA CONTRATUAL. OBSERVÂNCIA DA
de abrangência de determinado tipo incriminador, VIDA ÚTIL DO PRODUTO.
isso por força do princípio da tipicidade fechada ou
estrita legalidade (CF, art. 5º, XXXIX; e CP, art. 1º), O fornecedor responde por vício oculto de pro-
tal viés é reservado à seara punitivo-preventiva (ge- duto durável decorrente da própria fabricação e
ral e especial) inerente ao Direito Penal, cabendo ao não do desgaste natural gerado pela fruição
aplicador do Direito Civil emprestar aos institutos de ordinária, desde que haja reclamação dentro do
direito privado o efeito jurídico próprio, especialmen- prazo decadencial de noventa dias após eviden-
te à luz dos princípios da boa-fé objetiva e da con- ciado o defeito, ainda que o vício se manifeste
servação dos contratos. A restrição legal do art. 757 somente após o término do prazo de garantia
do CC encerra vedação de interpretação extensiva contratual, devendo ser observado como limite
somente quando a cláusula delimitadora de riscos temporal para o surgimento do defeito o critério
cobertos estiver redigida de modo claro e insuscep- de vida útil do bem. O fornecedor não é, ad aeter-
tível de dúvidas. Assim, é possível afastar termino- num, responsável pelos produtos colocados em
logias empregadas na construção de cláusulas con- circulação, mas sua responsabilidade não se limita,
tratuais que redundem na total subtração de efeitos pura e simplesmente, ao prazo contratual de garan-
de determinada avença, desde que presente um tia, o qual é estipulado unilateralmente por ele pró-
sentido interpretativo que se revele apto a preservar prio. Cumpre ressaltar que, mesmo na hipótese de
a utilidade econômica e social do ajuste. Além dis- existência de prazo legal de garantia, causaria es-
so, havendo relação de consumo, devem ser obser- tranheza afirmar que o fornecedor estaria sempre
vadas as diretrizes hermenêuticas de interpretação isento de responsabilidade em relação aos vícios
mais favorável ao consumidor (art. 47, CDC), da que se tornaram evidentes depois desse interregno.
nulidade de cláusulas que atenuem a responsabili- Basta dizer, por exemplo, que, embora o construtor
dade do fornecedor, ou redundem em renúncia ou responda pela solidez e segurança da obra pelo
disposição de direitos pelo consumidor (art. 51, I, prazo legal de cinco anos nos termos do art. 618 do
CDC), ou desvirtuem direitos fundamentais ineren- CC, não seria admissível que o empreendimento
tes à natureza do contrato (art. 51, § 1º, II, CDC). A pudesse desabar no sexto ano e por nada respon-
proximidade entre os crimes de roubo e extorsão desse o construtor.
não é meramente topológico-geográfica, mas tam- Com mais razão, o mesmo raciocínio pode ser utili-
bém conceitual, uma vez que, entre um e outro, o zado para a hipótese de garantia contratual. Deve
que essencialmente os difere é a extensão da ação ser considerada, para a aferição da responsabilida-
do agente criminoso e a forçada participação da de do fornecedor, a natureza do vício que inquinou
vítima. A distinção é muito sutil já que, no roubo, o o produto, mesmo que tenha ele se manifestado
réu desapossa, retira violentamente o bem da víti- somente ao término da garantia. Os prazos de ga-
ma; na extorsão, com o mesmo método, obriga a rantia, sejam eles legais ou contratuais, visam a
entrega. Dessa forma, a singela vinculação da cláu- acautelar o adquirente de produtos contra defeitos

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relacionados ao desgaste natural da coisa, são um


intervalo mínimo de tempo no qual não se espera
que haja deterioração do objeto. Depois desse pra-
zo, tolera-se que, em virtude do uso ordinário do
produto, algum desgaste possa mesmo surgir. Coi-
sa diversa é o vício intrínseco do produto, existente DIREITO ADMINISTRATIVO. DIREITO LÍQUIDO E
desde sempre, mas que somente vem a se manifes- CERTO. ATO VINCULADO. TEORIA DOS MOTI-
tar depois de expirada a garantia. Nessa categoria VOS DETERMINANTES.
de vício intrínseco, certamente se inserem os defei-
tos de fabricação relativos a projeto, cálculo estrutu- Há direito líquido e certo ao apostilamento no
ral, resistência de materiais, entre outros, os quais, cargo público quando a Administração Pública
em não raras vezes, somente se tornam conhecidos impõe ao servidor empossado por força de deci-
depois de algum tempo de uso, todavia não decor- são liminar a necessidade de desistência da
rem diretamente da fruição do bem, e sim de uma ação judicial como condição para o apostilamen-
característica oculta que esteve latente até então. to e, na sequência, indefere o pleito justamente
Cuidando-se de vício aparente, é certo que o con- em razão da falta de decisão judicial favorável
sumidor deve exigir a reparação no prazo de noven- ao agente. O ato administrativo de apostilamento é
ta dias, em se tratando de produtos duráveis, inici- vinculado, não cabendo ao agente público indeferi-
ando a contagem a partir da entrega efetiva do bem lo se satisfeitos os seus requisitos. O administrador
e não fluindo o citado prazo durante a garantia con- está vinculado aos motivos postos como fundamen-
tratual. Porém, em se tratando de vício oculto não to para a prática do ato administrativo, seja vincula-
decorrente do desgaste natural gerado pela fruição do seja discricionário, configurando vício de legali-
ordinária do produto, mas da própria fabricação, o dade – justificando o controle do Poder Judiciário –
prazo para reclamar a reparação se inicia no mo- se forem inexistentes ou inverídicos, bem como se
mento em que ficar evidenciado o defeito, mesmo faltar adequação lógica entre as razões expostas e
depois de expirado o prazo contratual de garantia, o resultado alcançado, em atenção à teoria dos
devendo ter-se sempre em vista o critério da vida motivos determinantes. Assim, um comportamento
útil do bem, que se pretende "durável". A doutrina da Administração que gera legítima expectativa no
consumerista – sem desconsiderar a existência de servidor ou no jurisdicionado não pode ser depois
entendimento contrário – tem entendido que o CDC, utilizado exatamente para cassar esse direito, pois
no § 3º do art. 26, no que concerne à disciplina do seria, no mínimo, prestigiar a torpeza, ofendendo,
vício oculto, adotou o critério da vida útil do bem, e assim, aos princípios da confiança e da boa-fé obje-
não o critério da garantia, podendo o fornecedor se tiva, corolários do princípio da moralidade. MS
responsabilizar pelo vício em um espaço largo de 13.948-DF, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, jul-
tempo, mesmo depois de expirada a garantia con- gado em 26/9/2012.
tratual. Assim, independentemente do prazo contra-
tual de garantia, a venda de um bem tido por durá-
vel com vida útil inferior àquela que legitimamente
se esperava, além de configurar um defeito de ade-
quação (art. 18 do CDC), evidencia uma quebra da
boa-fé objetiva, que deve nortear as relações con-
tratuais, sejam elas de consumo, sejam elas regidas DIREITO CIVIL. CONTRATO DE COMODATO.
pelo direito comum. Constitui, em outras palavras, ALUGUEL-PENA EM RAZÃO DE MORA NA RES-
descumprimento do dever de informação e a não TITUIÇÃO.
realização do próprio objeto do contrato, que era a
compra de um bem cujo ciclo vital se esperava, de O comodante pode fixar aluguel de forma unilateral
forma legítima e razoável, fosse mais longo. Os em caso de mora do comodatário na restituição da
deveres anexos, como o de informação, revelam-se coisa emprestada, desde que em montante não
como uma das faces de atuação ou „operatividade‟ superior ao dobro do valor de mercado. O art. 582,
do princípio da boa-fé objetiva, sendo quebrados 2ª parte, do CC dispõe que o comodatário constituí-
com o perecimento ou a danificação de bem durável do em mora, além de por ela responder, pagará, até
de forma prematura e causada por vício de fabrica- restituir a coisa, o aluguel que for arbitrado pelo
ção. Precedente citado: REsp 1.123.004-DF, DJe comodante. A natureza desse aluguel é de uma
9/12/2011. REsp 984.106-SC, Rel. Min. Luis Felipe autêntica pena privada, e não de indenização pela
Salomão, julgado em 4/10/2012. ocupação indevida do imóvel emprestado. O objeti-
vo central do aluguel não é transmudar o comodato
em contrato de locação, mas sim coagir o comoda-
tário a restituir o mais rapidamente possível a coisa
emprestada, que indevidamente não foi devolvida
no prazo legal. O arbitramento do aluguel-pena não

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DEFENSORIA PÚBLICA – TEORIA E QUESTÕES
Direito Civil – Aula 03
Roberto Figueiredo

pode ser feito de forma abusiva, devendo respeito prorrogada por prazo indeterminado se o locatário
aos princípios da boa-fé objetiva (art. 422/CC), da continuar na posse do imóvel alugado por mais de
vedação ao enriquecimento sem causa e do repúdio trinta dias sem oposição do locador. Conforme a
ao abuso de direito (art. 187/CC). Havendo arbitra- Súm. n. 214/STJ, “o fiador na locação não responde
mento em valor exagerado, poderá ser objeto de por obrigações resultantes de aditamento ao qual
controle judicial, com eventual aplicação analógica não anuiu". Todavia, diferente é a situação para
da regra do parágrafo único do art. 575 do CC, que, os contratos de fiança firmados na vigência da Lei
no aluguel-pena fixado pelo locador, confere ao juiz n. 12.112/2009, que não pode retroagir para atingir
a faculdade de redução quando o valor arbitrado se pactos anteriores. Referida lei conferiu nova reda-
mostre manifestamente excessivo ou abusivo. Para ção ao art. 39 da Lei n. 8.245/1991, passando a
não se caracterizar como abusivo, o montante do estabelecer que “salvo disposição contratual em
aluguel-pena não pode ser superior ao dobro da contrário, qualquer das garantias da locação se
média do mercado, considerando que não deve estende até a efetiva devolução do imóvel, ainda
servir de meio para o enriquecimento injustificado que prorrogada a locação por prazo indeterminado,
do comodante. REsp 1.175.848-PR, Rel. Min. Pau- por força desta Lei”. Dessa forma, para os novos-
lo de Tarso Sanseverino. Julgado em 18/9/2012. contratos, a prorrogação da locação por prazo in-
determinado implica também prorrogação automáti-
ca da fiança (ope legis), salvo pactuação em sentido
contrário, resguardando-se, evidentemente, durante
essa prorrogação, a faculdade do fiador de exone-
rar-se da obrigação mediante notificação resilitória.
VALORES RECEBIDOS INDEVIDAMENTE. SER- Precedente citado: EREsp 566.633-CE, DJe
VIDOR PÚBLICO. BOA-FÉ. 12/3/2008. REsp 1.326.557-PA, Rel. Min. Luis
Felipe Salomão, julgado em 13/11/2012.
É incabível a restituição ao erário dos valores rece-
bidos de boa-fé pelo servidor público em decorrên-
cia de errônea ou inadequada interpretação da lei
por parte da Administração Pública. Em virtude do
princípio da legítima confiança, o servidor público,
em regra, tem a justa expectativa de que são legais
os valores pagos pela Administração Pública, por-
que jungida à legalidade estrita. Assim, diante da
ausência da comprovação da má-fé no recebimento
dos valores pagos indevidamente por erro de direito
da Administração, a Turma deu provimento ao re-
curso para afastar qualquer desconto na remunera-
ção da recorrente, a título de reposição ao erário.
Precedente citado do STJ: EREsp 711.995-RS, DJe
7/8/2008. RMS 18.780-RS, Rel. Min. Sebastião
Reis Júnior, julgado em 12/4/2012.

DIREITO CIVIL. CONTRATO DE LOCAÇÃO.


PRORROGAÇÃO POR PRAZO INDETERMINADO.
RESPONSABILIDADE DO FIADOR PELOS DÉBI-
TOS LOCATÍCIOS. LEI N. 12.112/2009.

Em contrato de locação ajustado por prazo de-


terminado antes da vigência da Lei n.
12.112/2009, o fiador somente responde pelos
débitos locatícios contraídos no período da
prorrogação por prazo indeterminado se houver
prévia anuência dele no contrato. A Lei n.
8.245/1991 (Lei do Inquilinato) prevê em seus arts.
46 e 50 que, findo o prazo ajustado, a locação será

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Direito Civil – Aula 03
Roberto Figueiredo

1(2015-CESPE-DPE-RN-Defensor Público) deveria assinar um instrumento escrito. Além


No tocante à extinção dos contratos, assinale a disto, recusou-se a indenizar Arnaldo e exigiu de
opção correta. volta o aparelho de recepção de sinal. A presta-
dora de serviço
A) Nos contratos bilaterais, o credor pode exigir a
realização da obrigação pela outra parte, ainda que A) tem razão quanto à forma do distrato, que deve
não cumpra a integralidade da prestação que lhe ser feito por escrito, quanto a não indenizar Arnaldo
caiba. pelas despesas com o uso da coisa e pela exigência
B) A extinção do contrato decorrente de cláusula na devolução ao aparelho.
resolutiva expressa configura exercício do direito B) tem razão quanto à forma do distrato, que deve
potestativo de uma das partes do contrato de impor ser feito por escrito, e também quanto à exigência
à outra sua extinção e depende de interpelação da devolução do aparelho, obrigando-se, contudo, a
judicial. indenizar Arnaldo pelas despesas com o uso da
C) Situação hipotética: Joaquim, mediante contrato coisa.
firmado, prestava serviços de contabilidade à em- C) não tem razão quanto à forma do distrato, que
presa de Joana. Joaquim e Joana decidiram encer- poderá ser feito por telefone, tampouco quanto a
rar, consensualmente, o pactuado e dar fim à rela- não indenizar Arnaldo pelas despesas com o uso da
ção contratual. Assertiva: Nessa situação, configu- coisa ou quanto à exigência da devolução do apare-
rou-se a resilição do contrato por meio de denúncia lho.
de uma das partes. D) não tem razão quanto à forma do distrato, que
D) A cláusula resolutiva tácita é causa de extinção poderá ser feito pelo telefone, nem quanto a não
contemporânea à celebração ou formação do con- indenizar Arnaldo pelas despesas com o uso da
trato, e a presença do vício torna o contrato nulo. coisa, mas está correta quanto à exigência da devo-
E) A resolução do contrato por onerosidade exces- lução do aparelho.
siva não se aplica aos contratos de execução ins- E) não tem razão quanto à forma do distrato, que
tantânea, pois ocorre quando, no momento da efeti- poderá ser feito por telefone, mas possui quanto a
vação da prestação, esta se torna demasiadamente não indenizar Arnaldo pelas despesas com o uso da
onerosa para uma das partes, em virtude de acon- coisa e pela exigência na devolução do aparelho.
tecimentos extraordinários e imprevisíveis.
Ministério Público Estadual – Concurso – MPE-
2. (2015-FGV-DPE-RO) MT – Ano 2014
Fernanda celebrou contrato de conta corrente Banca – UFMT – Direito Civil – Contratos
com determinada entidade bancária. Ao receber Discorra sobre o Princípio da Socialidade como
o instrumento do contrato ao qual aderiu, perce- limitação à liberdade de contratar, abordando os
beu algumas ambiguidades e contradições em defeitos do negócio jurídico conectados à ideia de
determinadas cláusulas relativas às tarifas ban- solidarismo social.
cárias.
É correto afirmar, nesse caso, que: Magistratura do Trabalho – Concurso: TRT9 –
Ano 2009
A) as mencionadas cláusulas contratuais devem ser Banca – TRT9 – Direito Civil – Contratos
interpretadas mais favoravelmente a Fernanda; Afirma-se que o Princípio da Boa-fé objetiva, além
B) as mencionadas cláusulas contratuais devem ser de ter função interpretativa e de integração do ne-
interpretadas mais favoravelmente à entidade ban- gócio jurídico, incide, também, como limitador, ao
cária; vedar o exercício abusivo de posições jurídicas.
C) o contrato é nulo; Explique estas funções, apontando exempls.
D) o contrato é juridicamente inexistente;
E) as mencionadas cláusulas contratuais serão nu- Magistratura do Trabalho – Concurso: TRT8 –
las de pleno direito. Ano 2009
Banca – TRT8 – Direito Civil – Contratos
3. (2014-FCC-DPE-PB-Defensor Público) Discorra sobre a concepção social do contrato. Sua
Arnaldo contratou, por telefone, serviço de TV a adoção pelo Código Civil de 2002 eliminou os prin-
cabo por meio do qual recebeu, em comodato, cípios da autonomia da vontade e da “pacta-sunt
aparelho de recepção de sinal. Passado algum servanda”? Justifique
tempo, informou, também por telefone, que de-
sejava realizar distrato, além de ser indenizado Magistratura do Trabalho – Concurso: TRT14 –
pelo que gastou nas despesas com o uso da Ano 2013
coisa, consistentes em aquisição de televisor Banca – TRT14 – Direito Civil – Contratos
compatível com a tecnologia do aparelho de Disserte sobre o princípio da Boa-fé objetiva, e os
recepção de sinal. A prestadora de serviço in- contornos de sua tríplice função no Direito Civil Bra-
formou que, para realização do distrato, Arnaldo sileiro.

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Direito Civil – Aula 03
Roberto Figueiredo

GABARITO:

1. E
2. A
3. E

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Direito Civil – Aula 04
Roberto Figueiredo

Posse decorrente da propriedade (posse causal ou O Surgimento da Teoria Sociológica da Posse (sé-
ius possidendi) x Posse autônoma (ius possessio- culo XX, Europa, na Itália, SILVIO PEROZZI, na Fran-
nis). ça, pelos cuidados de RAYMOND SALEILLES e na
Espanha, por ANTÔNIO HERNANDEZ GIL): função so-
TEORIAS EXPLICATIVAS cial da posse.

Duas teorias “originadas do esforço de seus autores O possuidor há de ter a conduta de um bom proprie-
para uma interpretação exata dos textos romanos” tário, tendo comportamento ético e social no exercí-
(ORLANDO GOMES). cio do seu direito (CAIO MÁRIO DA SILVA PEREIRA).
a) Teoria Subjetiva (Friedrich Carl Von Savigny
(“Tratado da Posse”, 1893)

Crítica: diante do problema dos comodatários, loca-


tários, arrendatários, dentre outros, SAVIGNY tentou
uma solução tangencial, criando uma figura inter-
mediária entre o detentor e o possuidor, chamado
de possuidor derivado.

Elogio representou enorme avanço, pois ao estudar


a posse na Alemanha, com fundamento em Roma,
Objeto da Posse:
conferiu autonomia ao instituto. A posse deixará de
ser uma mera decorrência proprietária.
Direito Romano: apenas sobre bens físicos (majori-
b) Teoria Objetiva (Rudolf Von Ihering)
tária, o Código Civil Brasileiro, da Alemanha e da
Grécia).
Comportamento objetivo: posse como exteriorização
Direito Canônico: para todo e qualquer direito (mino-
da propriedade ou o exercício de um dos seus po-
ritária, ORLANDO GOMES, VICENTE RÁO e Ruy Barbo-
deres.
sa em a “Posse dos Direitos Pessoais”).
Obs: O detentor configura-se com a mera incidência
POSSE VERSUS DETENÇÃO
de obstáculo legal à aquisição da posse, verifican-
do-se uma posse degradada (CARLOS ROBERTO
Obs: o NCPC extinguiu o instituto da nomeação à
GONÇALVES).
autoria e optou por simplificar a situação processual,
Importantes diferenças entre as duas teorias:
de modo a autorizar ao réu suscitar como um dos
temas de contestação a sua ilegitimidade passiva
a) Savigny enxerga a detenção como um corpus –
ad causam, nos termos do art. 339 do NCPC: “Ale-
entendido como poder físico – sem o animus – des-
gando o réu, na contestação, ser parte ilegítima ou
provido de intenção.
não ser o responsável pelo prejuízo invocado, o juiz
b) Ihering enxerga a detenção como o corpus –
facultará ao autor, em quinze dias, a alteração da
conduta de dono – com um obstáculo legal que
petição inicial para substituição do réu.”.
impeça a posse.
A propósito, reza o art. 340 do NCPC: “Quando
alegar sua ilegitimidade, incumbe ao réu indicar o
MAS AFINAL, O QUE É A POSSE?
sujeito passivo da relação jurídica discutida sempre
que tiver conhecimento, sob pena de arcar com as
Corrente 1) Posse é um fato (W INDSCHEID, PACIFICI-
despesas processuais e de indenizar o autor pelos
MAZZONI, BONFANTE, DERNBURG, TRABUCCHI E CUJA-
prejuízos decorrentes da falta da indicação.”
CIUS).
Obs: o desforço incontinente - art. 1.210, parágrafo
primeiro, do Código Civil e o ENUNCIADO 493 DA V
Corrente 2) Posse é um direito (IHERING, TEIXEIRA DE
JORNADA EM DIREITO CIVIL: “O detentor pode, no
FREITAS, ORLANDO GOMES, MARIA HELENA DINIZ, CAIO
interesse do possuidor, exercer a autodefesa do
MÁRIO, DEMOLOMBE, SINTENIS, MOLITOR, PESCATO-
bem sob seu poder”.
RE).

Obs: detenção dependente (no alemão, Besitzdie-


Corrente 3) Eclética (BARASSI, SAVIGNY, POTHIER,
ner): relação de subordinação.
BRINZ, DOMAT, RIBAS, LAURENT, W ODON E OUTROS).
A AQUISIÇÃO DA POSSE
Atenção!
Art. 1.204 do CC/02: “Adquire-se a posse desde o
Para CLÓVIS BEVILÁQUA, JOEL DIAS FIGUEIRA, JOSÉ
momento em que se torna possível o exercício, em
CARLOS BARBOSA MOREIRA ALVES a posse é um di-
reito pessoal especial, típico e autônomo.

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Direito Civil – Aula 04
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nome próprio, de qualquer dos poderes inerentes à direito de defender a sua posse contra o indireto, e
propriedade”. este, contra aquele”.
Forma originária x Forma derivada de aquisição: Composse ou compossessão
A tradição pode ser classificada em efetiva ou real,
simbólica e consensual ou ficta: Dois requisitos a) Pluralidade de Sujeitos e b) Coisa
Indivisa ou em estado de indivisão (MARIA HELENA
a) Na tradição efetiva ou real, como se nota pelo DINIZ).
termo, existe a verdadeira entrega do bem físico.
Exemplifica-se com a entrega de uma caneta;
b) Na tradição simbólica não haverá esta entrega
real, mas apenas uma atitude a evidenciar a transfe-
rência possessória. Exemplifica-se com a entrega
das chaves na locação, bem como com a venda sob
documentos (arts. 529 a 532 do CC/02).
c) A tradição consensual ou ficta é a realizada me-
diante contrato, tendo como exemplos a traditio
brevi manu, traditio longa manu e o constitutum
possessorium.

Atenção!
traditio breve manu alguém possuía, originariamen-
te, a posse em nome alheio, e passa a possuí-la em
nome próprio. O oposto disto: constituto possessório
ou cláusula constituti.
Obs: a posse do imóvel faz presumir a dos bens
móveis (princípio da gravitação jurídica ou universal
– arts. 92 e 1.223 do Código Civil).

A aquisição originária da posse dar-se-á indepen-


dentemente de translatividade ou vontade do pos-
suidor originário.
Decorrerá, em regra, de ato unilateral, a exemplo da
apropriação (apreensão) de coisas abandonadas,
pela usucapião.
A aquisição derivada demanda a existência de pos-
se anterior, transmitida com a anuência do possui-
dor primitivo, sendo, em regra, bilateral. Exemplifica- Posse Justa versus Posse Injusta. Vícios Objetivos
se com a tradição da posse. da Posse

A posse uma vez adquirida pode ser transmitida


com os mesmos caracteres da sua aquisição (arts.
1.203 e 1.206, ambos do Código Civil). A isto se
denomina de princípio da continuidade da posse.

Nessa toada, o sucessor universal continua, de


pleno direito, a posse do seu antecessor; enquanto
que ao sucessor singular é facultado unir a sua pos-
se à do antecessor, para efeitos legais (art. 1.207,
CC).

A PERDA DA POSSE

CLASSIFICAÇÃO DA POSSE

Posse Direta versus Posse Indireta. Os Desdo-


bramentos da Posse

Enunciado 76 da I Jornada de Direito Civil do Con-


selho da Justiça Federal: “O possuidor direto tem

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Direito Civil – Aula 04
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Posse de Boa-fé versus Posse de Má-fé. Vícios mas que não leva à usucapião. Exemplifica-se com
Subjetivos da Posse a posse do locatário. Este, em sendo possuidor
direito, poderá lançar mão dos interditos; porém não
Art. 1.201, que “É de boa-fé a posse, se o possuidor poderá usucapir a coisa.
ignora o vício ou o obstáculo que impede a aquisi- Já a posse ad usucapionem remete à posse passí-
ção da coisa”. vel de ocasionar a aquisição proprietária, mediante
a usucapião. Como se verá em capítulo específico
Consequências da Boa-Fé e da Má-Fé da Posse sobre o tema, esta posse, para fins de usucapião,
(Efeitos da Posse): presunção da propriedade, direi- haverá de ser mansa, pacífica e por um dado lapso
to aos interditos, direito à percepção dos frutos, temporal.
direito à indenização das benfeitorias úteis e neces-
sárias, direito de retenção pelo valor das benfeitori- A TUTELA DINÂMICA OU JURISDICIONAL DA
as voluptuárias, direito a usucapir a coisa possuída, POSSE. AÇÕES POSSESSÓRIAS
direito à indenização dos prejuízos sofridos com a
turbação ou o esbulho. proteção stricto sensu da posse (desforço inconti-
nenti e as ações ou interditos possessórios stricto
sensu – arts. 1.210 do CC e 560 do NCPC).

tutela ampla da posse (a imissão de posse, a ação


de dano infecto e os embargos de terceiro).

Como o Novo Código de Processo Civil (NCPC)


regula o tema?
O art. 560 do novo CPC (NCPC) tem a seguinte
redação: “O possuidor tem direito a ser mantido na
posse em caso de turbação e reintegrado em caso
de esbulho”.
A Legítima Defesa da Posse e o Desforço Inconti-
nenti
O direito civil permite àquele que sofreu lesão à
posse que, “por sua própria força”, pratique atos em
legítima defesa da mesma, “contanto que o faça
logo” e não indo “além do indispensável à manuten-
ção ou restituição da posse” (art. 1.210, § 1º do CC).
Enunciado 495, da V Jornada: “a expressão contan-
to que o faça logo deve ser entendida restritivamen-
te, apenas como a reação imediata ao fato do esbu-
Posse Nova e Posse Velha lho ou da turbação, cabendo ao possuidor recorrer à
via jurisdicional nas demais hipóteses”.
Art. 558 do NCPC ”Regem o procedimento de ma- ação de reintegração da posse (NCPC, 561) tam-
nutenção e de reintegração de posse as normas da bém denominada de Espoliativa.
Seção II deste Capítulo quando a ação for proposta
dentro de ano e dia da turbação ou do esbulho afir- ação de manutenção da posse (555 do NCPC).
mado na petição inicial”.
Atenção!
Posse Natural e Posse Civil ou Jurídica A Lei 9.099/95 autoriza, em seu art. 3º, que ações
possessórias envolvendo bens não excedentes a
A posse natural é aquela que se constitui pelo exer- quarenta salários mínimos sejam ajuizadas perante
cício de poderes de fato sobre a coisa, havendo os Juizados Especiais Cíveis,.
efetiva apreensão material. interdito proibitório (567 do NCPC).
Já a civil ou jurídica é a adquirida por força da lei, Atenção!
sem, necessariamente, haver uma apreensão mate- Nos termos da Súmula 228 do Superior Tribunal de
rial da coisa, a exemplo do constituto possessório, Justiça “É inadmissível o interdito proibitório para a
já estudado. proteção do direito autoral”, aspecto já tratado neste
capítulo.
Posse ad interdicta e Posse ad usucapionem Princípio da Fungibilidade das Tutelas Possessórias
(CPC/15, 554).
Posse ad interdicta é aquela apta a ser defendida
pelos interditos possessórios (ações possessórias), Atenção!

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DEFENSORIA PÚBLICA ESTADUAL
Direito Civil – Aula 04
Roberto Figueiredo

Em face das pessoas jurídicas de direito público é O art. 1.212 do CC autoriza ao possuidor ajuizar
vedado o deferimento da manutenção ou da reinte- ação possessória contra terceiro que recebeu a
gração liminar sem prévia audiência dos respectivos coisa esbulhada, sabendo que o era. Trata-se de
representantes judiciais. É o que determina o art. um combate à má-fé.
562 do NCPC. Enunciado 80, na I Jornada em Direito Civil, com o
seguinte conteúdo: “É inadmissível o direcionamen-
Cumulação de Pedidos. Ação de Força Nova to de demanda possessória ou ressarcitória contra
art. 555 do NCPC terceiro possuidor de boa-fé, por ser parte passiva
O Descabimento da Exceptio Domini ilegítima, diante do disposto no art. 1.212 do novo
A teor do § 2º do art. 1.210 do CC, não obsta a ma- Código Civil. Contra o terceiro de boa-fé cabe tão
nutenção ou a reintegração da posse a alegação da somente a propositura de demanda de natureza
propriedade, ou de outro direito sobre a coisa. real”.
A regra se alinha à ideia prevista também no art. Propriedade
557 do NCPC, segundo a qual, na pendência da
ação possessória, é vedada a discussão, pelas par- 2. TEORIAS EXPLICATIVAS DO SURGIMENTO
tes e nos mesmos autos, do domínio. DA PROPRIEDADE
Exatamente por isto a doutrina consolidou, na I Jor-
nada de Direito Civil, o ENUNCIADO 78, segundo o teoria da ocupação; a teoria da lei; a teoria do tra-
qual “Tendo em vista a não recepção pelo novo balho e a teoria da natureza humana.
Código Civil da exceptio proprietatis (art. 1.210, § Segundo a teoria da ocupação: a propriedade surgi-
2º), em caso de ausência de prova suficiente para ria mediante a ocupação pelo ser humano da coisa
embasar decisão liminar ou sentença final ancorada sem dono (res nullius). Sendo assim, inexistindo
exclusivamente no ius possessionis, deverá o pedi- sobre a coisa o domínio de outrem, tornou-se pro-
do ser indeferido e julgado improcedente, não obs- prietário aquele que se apossou, ocupou a coisa,
tante eventual alegação e demonstração de direito pela primeira vez. Continuando o curso da história e
real sobre o bem litigioso”. devido ao caráter perpétuo da propriedade, a apro-
priação foi se mantendo até a atualidade, por meio
Ainda na I Jornada de Direito Civil, foi elaborado o de sucessivas transmissões.
ENUNCIADO 79, no mesmo sentido de inadmitir a A grande crítica à teoria da ocupação reside no fato
exceção de domínio em sede de ações possessó- de o direito de propriedade não se restringir, tão
rias. Cita-se: “A exceptio proprietatis, como defesa somente, à vontade unilateral do ocupante, sendo
oponível às ações possessórias típicas, foi abolida que terceiros têm de respeitar o direito de proprietá-
pelo Código Civil de 2002, que estabeleceu a abso- rio (caráter erga omnes). Além disso, perde força a
luta separação entre os juízos possessório e petitó- teoria acaso leve-se em conta a grande possibilida-
rio”. de de sua utilização afrontar a boa-fé.
Súmula 487 do Supremo Tribunal Federal: “Será Consoante a teoria da lei – também chamada de
deferida a posse a quem, evidentemente, tiver o positivista (Hobbes, Bossuet, Montesquieu, Mirabe-
domínio se com base neste for ela disputada”. au e Bethan) – a propriedade consiste em uma con-
cessão do direito. Essa teoria cai por terra com a
O que fazer quando mais de uma pessoa se dis- constatação de que a propriedade antecede ao di-
ser possuidora? reito, sendo que já existia até mesmo antes da tute-
la jurídica, conforme visto no tópico anterior.
Nas pegadas do art. 1.211 do CC, “Quando mais de Teoria da propriedade individual (John Locke), de-
uma pessoa se disser possuidora, manter-se-á pro- nominada de teoria da especificação ou do trabalho:
visoriamente na posse a que tiver a coisa, se não é através do trabalho humano, o qual é de exclusi-
estiver manifesto que a obteve de alguma das ou- vidade de seu titular, que poderá surgir a apropria-
tras por modo vicioso”. Percebe-se a tutela daquilo ção.
que a doutrina denomina como posse aparente. A teoria da natureza humana: o fundamento da pro-
priedade é a própria natureza humana. A proprieda-
ENUNCIADO 239 DA III JORNADA EM DIREITO CIVIL auxi- de é inerente ao ser humano, sendo pressuposto de
lia na solução do problema da posse, informando existência e liberdade deste (direito natural).
que: “Na falta de demonstração inequívoca de pos-
se que atenda a função social, deve-se utilizar a A FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE (INCI-
noção de melhor posse”, coadunando-se com o SOS XXII E XXII DO ART. 5º DA CF/88 E § 1º DO
princípio da socialidade e as teorias sociológicas da ART. 1.228 DO CC/02).
posse.
ENUNCIADO 507 DA V JORNADA: “Na aplicação do
O terceiro que recebeu coisa esbulhada pode ser princípio da função social da propriedade imobiliária
réu em possessória? rural, deve ser observada a cláusula aberta do § 1º
do art. 1.228 do Código Civil, que, em consonância

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com o disposto no art. 5º, inciso XXIII, da Constitui- preço fixado para a desapropriação judicial, e ultra-
ção de 1988, permite melhor objetivar a funcionali- passado o prazo prescricional para se exigir o crédi-
zação mediante critérios de valoração centrados na to correspondente, estará autorizada a expedição
primazia do trabalho”. de mandado para registro da propriedade em favor
Função social como seu conteúdo (teoria interna) ou dos possuidores”.
como um mero limite proprietário (teoria externa)
A teoria interna (LÉON DUGUIT): a função social esta- O QUE É A PROPRIEDADE?
ria inserida no próprio direito de propriedade, inte-
grando o seu conteúdo. A propriedade é um direito- “direito de propriedade o mais importante e mais
função (e não um direito subjetivo). sólido de todos os direito subjetivos, sendo o direito
Já a teoria externa (JOSSERAND, JORGE MIRANDA e real por excelência, ao redor do qual gravita o direito
VIRGÍLIO AFONSO DA SILVA): a função social enquanto das coisas” (W ASHINGTON DE BARROS MONTEIRO).
limite ao exercício do direito de propriedade. Há “um direito complexo, se bem que unitário, consis-
propriedade ainda que não haja função social, sen- tindo num feixe de direitos consubstanciados nas
do esta apenas um limite no exercício daquela. faculdades de usar, gozar, dispor e reivindicar a
O ENUNCIADO 496 da V Jornada em Direito Civil: coisa que lhe serve de objeto” (ORLANDO GOMES).
possibilidade de ajuizamento de desapropriação
privada fundada na posse-trabalho, mediante ação “é o direito de usar, gozar e dispor da coisa e rei-
autônoma (vide também os ENUNCIADO 82, 84, 241 vindicá-la de quem injustamente a detenha” (CAIO
e 308). MÁRIO DA SILVA PEREIRA).

O art. 127 da CF, o art. 178 do NCPC e o Enuncia- Teoria realista: relação jurídica entre o homem e o
do 309 da IV Jornada em Direito Civi: atuação do objeto proprietário.
Ministério Público nas desapropriações que envol-
vam relevante interesse público, determinado pela Teoria personalista: a relação proprietária é estabe-
natureza dos bens jurídicos envolvidos. lecida entre o proprietário e o sujeito passivo univer-
sal, entendido este como todos os terceiros que
haverão de respeitar a propriedade.

Atenção!

a) Nua-propriedade (senhorio direto ou proprietário


direto e possuidor indireto) – que é igual à titularida-
de do domínio; ou seja, decorre do fato de ser o
proprietário o dono da coisa, apesar de não ter o
direito de usar e fruir do bem.

b) Domínio útil (possuidor direto) – corresponde ao


atributo daquele que tem a posse direta do bem.
Atenção! Leia-se: a possibilidade de usar, gozar e dispor do
A doutrina admite a utilização do § 4º do art. 1228 próprio domínio útil, tal como ocorre com o enfiteuta
do CC tanto para as ações reivindicatórias, quanto ou usufrutuário.
para as ações possessórias, interpretando extensi-
vamente o significado da expressão “imóvel reivin- Propriedade Resolúvel
dicado” contido na norma.
Trata-se de importante raciocínio apto a demonstrar “propriedade resolúvel ou revogável é aquele que
a autonomia da tutela da posse (Enunciado 320 da no próprio título de sua constituição encerra o prin-
IV Jornada em Direito Civil). cípio que a tem de extinguir, realizada a condição
Uma questão interessante se apresenta: imagine resolutória, ou vindo o termo extintivo, seja por força
que o Juiz da Causa determine o pagamento da da declaração de vontade, seja por determinação da
justa indenização a que se refere o § 5º do art. 1228 lei” (Clóvis Beviláqua).
do CC e, a partir deste instante, a parte credora se ENUNCIADO 509: “a resolução da propriedade, quan-
mantenha inerte, de modo que passe a fluir o prazo do determinada por causa originária, prevista no
legal sem a necessária cobrança. título, opera ex tunc e erga omnes; se decorrente de
A hipótese é de prescrição a autorizar, uma vez causa superveniente, atua ex nunc e inter partes”.
consumada, a ordem judicial de registro da proprie-
dade em benefício dos possuidores. Nessa linha Exemplos de propriedade resolúvel cobrados em
que caminha o ENUNCIADO 311 da IV Jornada em prova: retrovenda (art. 505 a 508), a cláusula espe-
Direito Civil, ao verberar que “caso não seja pago o cial de venda com reserva de domínio (art. 521 a

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527), a doação com reversão (art. 547) e a ingrati- Acessões Naturais e Artificiais
dão do donatário (art. 555 e 557).
Propriedade Resolúvel Fiduciária Atenção!
A teor do Código das Águas (Decreto-Lei
Art. 1.361 do CC: considera-se fiduciária a proprie- 24.643/34), bem como à luz da Constituição Federal
dade resolúvel de coisa móvel infungível que o de- de 1988 (arts. 20, IV, e 26, II e III), pertencem à
vedor, com escopo de garantia, transfere ao credor. União, ou aos Estados, as ilhas fluviais e lacustres
Portanto, a propriedade fiduciária seria uma modali- de zonas de fronteira, assim como as ilhas oceâni-
dade de propriedade resolúvel, envolvendo coisa cas ou costeiras.
móvel, infungível, dada em garantia, com transfe- Portanto, quando o Direito Civil trata das ilhas so-
rência da posse. mente estará regulamentando aquelas constituídas
Tal propriedade resolúvel é transferida pelo Fiduci- em rios não navegáveis ou particulares; leia-se:
ante (instituição financeira) ao Fiduciário (compra- àquelas que necessariamente são passíveis da
dor). propriedade particular.

Como já se pronunciou o SUPERIOR TRIBUNAL DE b) Acessão por aluvião


JUSTIÇA sobre o tema? Aquisição pela Usucapião de Bem Imóvel

• Usucapião. Veículo. Alienação fiduciária Atenção!


A transferência a terceiro de veículo gravado como Não apenas a propriedade, mas também outros
propriedade fiduciária, à revelia do proprietário (cre- direitos reais poderão ser objeto da usucapião, a
dor), constitui ato de clandestinidade, incapaz de exemplo da enfiteuse, da servidão de passagem, da
induzir posse (art. 1.208 do CC/02), sendo por isso superfície e, até mesmo, do uso de linha telefônica,
mesmo impossível a aquisição do bem por usucapi- na forma da Súmula 193 do Superior Tribunal de
ão. Justiça.
De fato, em contratos com alienação fiduciária em Obviamente que nos dias atuais o uso da linha tele-
garantia, sendo o desdobramento da posse e a pos- fônica não mais possui o valor econômico de outro-
sibilidade de busca e apreensão do bem inerentes ra, tendo perdido, em muito, a importância prática
ao próprio contrato, conclui-se que a transferência da Súmula 193 do STJ.
da posse direta a terceiros – porque modifica a es-
sência do contrato, bem como a garantia do credor Inicialmente recorda-se que as terras públicas, em
fiduciário – deve ser precedida de autorização. tese, não poderão ser usucapidas, como bem pon-
REsp 881.270, rel. Min. Luis F. Salomão, 2.3.10. 4ª tuam o art. 102 do Código Civil e a Súmula 340 do
T. (Info 425) SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Malgrado esta premis-
Propriedade Aparente (VITOR FREDERICO KÜMPEL). sa, o SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA (RESp.
154.123/PE e 575.572/RS) vem entendendo pelo
Hipótese de propriedade aparente sobre bem móvel cabimento da usucapião de enfiteuse sobre terras
a venda a non domino, prevista no art. 1.268 do CC, públicas.
segundo a qual feita por quem não seja proprietário, Que fique claro: a usucapião não será sobre a pro-
a tradição não aliena a propriedade, exceto se a priedade, mas sim sobre a enfiteuse (direito real na
coisa oferecida ao público for transferida em cir- coisa alheia).
cunstâncias tais que, ao adquirente de boa-fé, como
a qualquer pessoa, o alienante se afigurar como E um bem condominial? E um bem integrante de
dono. Outrossim, igualmente será convalidada a um espólio? Poderiam ser usucapidos?
venda caso aquele que vendeu coisa que não é sua
– realizou uma alienação a non domino – após a Excepcionalmente, porém, será possível usucapir
venda venha a adquirir a coisa para si. bem condominial em situações de copropriedade. A
princípio a copropriedade não admite a usucapião
FORMAS DE AQUISIÇÃO DA PROPRIEDADE por conta do caráter pro indiviso de quem possui
IMÓVEL fração ideal.
Contudo, acaso se estabeleça posse com exclusivi-
Atenção! dade, alijando os demais, será possível (STJ, REsp.
As aquisições originárias de propriedade “apagam” 10.978/RJ).
todas as relações jurídicas anteriores, tais como os Quanto ao bem de família, a jurisprudência admite a
tributos e direitos reais de garantia (STF, RE nº usucapião (STJ, REsp. 174.108/SP). A jurisprudên-
94.586/RS). cia também já admitiu a supressio em situações nas
Nas causas derivadas, teremos à transferência dos quais a usucapião é incabível, havendo a supressão
tributos e dos direitos reais de garantia ao novo do direito daquele que não está a exercitar a posse
adquirente. do bem (supressio) e o surgimento do direito do

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outro que está a utilizar-se da área (surrectio) (STJ, Atenção!


REsp. 214.680/SP). O que é a usucapião tabular (convalesça registral)?
prescrição aquisitiva. São tantas as semelhanças Constitui uma variável da usucapião ordinária e está
com o instituto da prescrição extintiva que o art. prevista no art. 214, § 5º da Lei nº 6015/73 – Lei de
1.244 do CC estende ao possuidor as causas que Registros Públicos, acrescido pela Lei Federal
obstam, suspendem ou interrompem a prescrição 10.931/04.
“as quais também se aplicam à usucapião”. É a possibilidade de um réu, em uma ação de inva-
lidade de registro público, alegar a usucapião em
A soma das posses para fins de usucapião, seja seu favor para, assim, adquirir a propriedade. Neste
inter vivos (compra da posse, acessio possessionis), caso o juiz, na mesma sentença que declara a inva-
seja causa mortis (herança, sucessio possessionis), lidade do registro, reconhecerá a usucapião e man-
é plenamente aceita e possível no ordenamento terá o réu na posse, seguindo requisitos próximos
jurídico nacional (arts. 1243 do CC). aos da usucapião ordinária.

Atenção! Usucapião especial rural, agrária, Pro–Labore ou


A doutrina vem sustentando a tese de que a soma Rústico (art. 1.239, CC; art. 191, CF/88 e Lei
de posses apenas seria possível na usucapião ex- 6.969/81)
traordinária e ordinária, não sendo aplicada às mo- Art. 191, CF: “aquele que, não sendo proprietário de
dalidades especiais de usucapião. Neste sentido imóvel rural ou urbano, possua como seu, por cinco
caminha o Enunciado 317 da III Jornada em Direito anos ininterruptos, sem oposição, área de terra, em
Civil “A accessio possessionis, de que trata o art. zona rural, não superior a cinquenta hectares, tor-
1.243, primeira parte, do Código Civil, não encontra nando-a produtiva por seu trabalho ou de sua famí-
aplicabilidade relativamente aos arts. 1.239 e 1.240 lia, tendo nela sua moradia, adquirir-lhe-á a proprie-
do mesmo diploma legal, em face da normatividade dade”.
da usucapião constitucional urbano e rural, arts. 183 . Equivocadamente, o art. 2º da Lei 6.969/81 ad-
e 191, respectivamente”. mitiu a usucapião sobre terras devolutas (espécies
Outrossim, sobre o tema é interessante o Enunciado de propriedade pública). Contudo, a jurisprudência e
497 da V Jornada em Direito Civil, ao admitir que “O a doutrina majoritárias e pacíficas jamais admitiram
prazo, na ação de usucapião, pode ser completado esta prática.
no curso do processo, ressalvadas as hipóteses de
má-fé processual do autor”. Art. 1.239, CC: “não sendo proprietário de imóvel
rural ou urbano, possua como sua, por cinco anos
Atenção! ininterruptos, sem oposição, área de terra em zona
Recorda-se, ainda, que “A usucapião pode ser ar- rural não superior a cinquenta hectares, tornando-a
guida em defesa” (súmula 237, STF), sendo certo produtiva por seu trabalho ou de sua família, tendo
que “O possuidor deve ser citado, pessoalmente, nela sua moradia”.
para a ação de usucapião” (súmula 263, STF), co- “Quando a posse ocorre sobre área superior aos
mo também que “O confinante certo deve ser citado, limites legais, não é possível a aquisição pela via da
pessoalmente, para a ação de usucapião”. (súmula usucapião especial, ainda que o pedido restrinja a
391, STF). dimensão do que se quer usucapir” (ENUNCIADO
Usucapião extraordinária (art. 1.238, CC) 313, CJF/STJ).
Deve-se estar atento à regra de transição prevista De acordo com o ENUNCIADO 312 DO CJF/STJ “ob-
no art 2.029 do Código Civil: “até dois anos após a servado o teto constitucional, a fixação da área má-
entrada em vigor deste Código, os prazos estabele- xima para fins de usucapião especial rural levará em
cidos no parágrafo único do art. 1.238 e no parágra- consideração o módulo rural e a atividade agrária
fo único do art. 1.242 serão acrescidos de dois regionalizada”.
anos, qualquer que seja o tempo transcorrido na
vigência do anterior, Lei n. 3.071, de 1 de janeiro de Ademais, atento à função social, verbera o Enunci-
1916”. ado 594 do CONSELHO DA JUSTIÇA FEDERAL ser pos-
sível adquirir a propriedade de área menor do que o
Usucapião Ordinária, Regular ou Comum (art. módulo rural estabelecido para a região, por meio
1.242, CC) da usucapião especial rural.
Mas o que seria o justo título? Obs: art. 3º da Lei Federal nº 6.969/81 veda a usu-
Segundo a doutrina majoritária, na forma do Enun- capião agrária para áreas indispensáveis à segu-
ciado 86 do CONSELHO DA JUSTIÇA FEDERAL, “A ex- rança nacional, assim como para terras habitadas
pressão justo título contida nos arts. 1.242 e 1.260 por silvícolas e, finalmente, em áreas de interesse
do CC abrange todo e qualquer ato jurídico hábil, ecológicos, tais como as reservas florestais, biológi-
em tese, a transferir a propriedade, independente- cas, os parques nacionais, estaduais ou municipais,
mente de registro”. assim declarados pelo Poder Executivo, assegurada

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aos atuais ocupantes a preferência para assenta- Sobre o abandono do lar, a doutrina cível elaborou o
mento em outras regiões, pelo órgão competente. ENUNCIADO 595 na VI JORNADA EM DIREITO CIVIL, com
o seguinte teor “O requisito abandono de lar deve
Atenção! ser interpretado na ótica do instituto da usucapião
Recorde-se que “A presença da União ou de qual- familiar como abandono voluntário da posse do
quer de seus entes, na ação de usucapião especial, imóvel somado à ausência da tutela da família, não
não afasta a competência do foro da situação do importando em averiguação da culpa pelo fim do
imóvel” (STJ, Súmula 11). casamento ou da união estável”.
d) Usucapião urbano ou Pro-Misero (art. 1.240, CC; ENUNCIADO 500 DA V JORNADA EM DIREITO CIVIL: “A
art. 183, CF/88 e arts. 9º e 10 do Estatuto das Cida- modalidade de usucapião prevista no art. 1240-A do
des – Lei Federal n. 10.257/01, ou seja: individual Código Civil pressupõe a propriedade comum do
ou coletiva): casal e compreende todas as formas de família ou
Eis o conteúdo do art. 183 da CF: “Aquele que pos- entidades familiares, inclusive as homoafetivas”.
suir como sua área urbana de até duzentos e cin-
quenta metros quadrados, por cinco anos, ininter- O raciocínio, aqui, é clarividente à luz solar, posto
ruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua que em sendo o instituto aplicável à união estável
moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, (art. 1.240-A do CC), somado ao fato de que às
desde que não seja proprietário de outro imóvel uniões homoafetivas são aplicadas, por analogia, às
urbano ou rural”. regras da união estável (ADPF 132-RJ), é cristalina
à aplicação da normativa aos casais homoafetivos.
Segundo o ENUNCIADO 85 DA I JORNADA EM DIREITO
CIVIL, “para efeitos do art. 1.240, caput, do novo Usucapião indígena
Código Civil, entende-se por área urbana o imóvel O Código Civil, desde a parte geral, destaca ex-
edificado ou não, inclusive unidades autônomas pressamente que a disciplina jurídica envolvendo os
vinculadas a condomínios edilícios”. índios há de ser regulada por leis especiais. É as-
Observe-se, de igual sorte, nos termos do ENUNCIA- sim, por exemplo, no parágrafo único do art. 4º do
DO 314 DO CJF/STJ, que “para os efeitos do art. CC, quando à capacidade de fato ou de exercício
1.240, não se deve computar, para fins de limite de dos índios.
metragem máxima, a extensão compreendida pela
fração ideal correspondente à área comum”. Nessa esteira, a Lei Federal nº 6.001/73 – Estatuto
do Índio – admite, em seu art. 33, a usucapião tanto
para o índio, quanto para o silvícola (índio sem hábi-
to urbano). Eis o conteúdo normativo: “O índio, inte-
grado ou não, que ocupe como próprio, por dez
anos consecutivos, trecho de terra inferior a cin-
quenta hectares, adquirir-lhe-á a propriedade ple-
na”.
Apesar do art. 4º da Lei Federal nº 6.001/73 distin-
guir os índios isolados dos integrados e, finalmente,
dos índios em via de integração, todos estes po-
dem, em tese, lançar mão da usucapião indígena, a
qual tem vistas à função social e manutenção da
vida humana digna.
e) Usucapião de meação ou por abandono do lar O fato é que, sendo ou não silvícola, o índio terá a
Com o advento da Lei Federal nº 12.424/11, foi possibilidade de manejar uma específica ação de
acrescido o art. 1.240-A ao Código Civil, com a se- usucapião. Tal forma aquisitiva proprietária, todavia,
guinte redação: “Aquele que exercer, por 2 (dois) não poderá ter como objeto as terras do domínio da
anos ininterruptamente e sem oposição, posse dire- união ocupadas por tribos, bem como as já reserva-
ta, com exclusividade, sobre imóvel urbano de até das pelo Estatuto do Índio, na forma do parágrafo
2 único do art. 33 da Lei Federal nº 6.001/73.
250m (duzentos e cinquenta metros quadrados)
cuja propriedade divida com ex-cônjuge ou ex- Usucapião administrativa
companheiro que abandonou o lar, utilizando-o para
sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o do- Atualmente é possível falar-se de uma nova modali-
mínio integral, desde que não seja proprietário de dade de usucapião, a qual se dará de maneira ex-
outro imóvel urbano ou rural”. trajudicial (administrativa), advinda com o ingresso,
no ordenamento jurídico nacional, da Lei Federal nº
Interessante notar que o direito à aquisição da mea- 11.977/09, por um lado, e, do Novo Código de Pro-
ção não será reconhecido ao mesmo possuidor cesso Civil, por outro
mais de uma vez (§ 1º do art. 1240-A, CC).

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Reza o art. 59 da Lei Federal nº 11.977/09 que “A tes, esse será notificado pelo registrador competen-
legitimação de posse devidamente registrada consti- te, pessoalmente ou pelo correio com aviso de re-
tui direito em favor do detentor da posse direta para cebimento, para manifestar seu consentimento ex-
fins de moradia”, de forma que o Executivo poderá presso em 15 (quinze) dias, interpretado o seu si-
cadastrar moradores não concessionários, foreiros lêncio como discordância.
ou proprietários de outro imóvel, bem como não O oficial de registro de imóveis dará ciência à União,
beneficiários de legitimação de posse anteriormente ao Estado, ao Distrito Federal e ao Município, pes-
deferida, para quem estiver na posse do aludido soalmente, por intermédio do oficial de registro de
imóvel por cinco anos. títulos e documentos, ou pelo correio com aviso de
Dessa maneira, surge ao titular o direito de reque- recebimento, para que se manifestem em 15 (quin-
rer, administrativamente, ao Oficial de Registro do ze) dias sobre o pedido.
Cartório de Imóveis o registro da propriedade adqui-
rida por usucapião. Esta providência é essencial, afinal de contas o bem
objeto do pedido pode ser público e, como sabe-
Ademais disto, o art. 1.071 do NCPC acresceu ao mos, bem público não pode ser usucapido (CC, art.
o
102).
Capítulo III, do Título V da Lei n 6.015, de 31 de O oficial de registro de imóveis promoverá a publi-
dezembro de 1973 (Lei de Registros Públicos), o cação de edital em jornal de grande circulação, on-
art. 216-A, para admitir, sem prejuízo da via jurisdi- de houver, para a ciência de terceiros eventualmen-
cional, o pedido de reconhecimento extrajudicial de te interessados, que poderão se manifestar em 15
usucapião, processado diretamente perante o cartó- (quinze) dias.
rio do registro de imóveis da comarca em que esti- Para a elucidação de qualquer ponto de dúvida,
ver situado o imóvel usucapiendo, a requerimento poderão ser solicitadas ou realizadas diligências
do interessado, devidamente representado por ad- pelo oficial de registro de imóveis.
vogado. Transcorrido o prazo das notificações e acaso não
Não há mais dúvida alguma: é possível, no Brasil, o haja nenhuma outra pendência de diligências,
reconhecimento da usucapião extrajudicial ou admi- achando-se em ordem a documentação, com inclu-
nistrativo perante o cartório de registro de imóveis. são da concordância expressa dos titulares de direi-
Para tanto, o requerente deverá apresentar ata no- tos reais e de outros direitos registrados ou averba-
tarial lavrada pelo tabelião, atestando o tempo de dos na matrícula do imóvel usucapiendo e na matrí-
posse do requerente e seus antecessores, conforme cula dos imóveis confinantes, o oficial de registro de
o caso e suas circunstâncias. imóveis registrará a aquisição do imóvel com as
descrições apresentadas, sendo permitida a abertu-
Além disto, a norma exige a apresentação de planta ra de matrícula, se for o caso.
e memorial descritivo assinado por profissional le-
galmente habilitado, com prova de anotação de Em qualquer caso, é lícito ao interessado suscitar o
responsabilidade técnica no respectivo conselho de procedimento de dúvida, nos termos desta Lei.
fiscalização profissional, e pelos titulares de direitos De igual sorte, é certo que se ao final das diligên-
reais e de outros direitos registrados ou averbados cias a documentação não estiver em ordem, o oficial
na matrícula do imóvel usucapiendo e na matrícula de registro de imóveis rejeitará o pedido de usuca-
dos imóveis confinantes. pião administrativa. A rejeição do pedido extrajudici-
Evidentemente que o aludido requerimento pressu- al não impede o ajuizamento de ação de usucapião.
põe a inexistência de processo judicial, daí porque Em caso de impugnação do pedido de reconheci-
será imprescindível demonstrar isto mediante a mento extrajudicial de usucapião, apresentada por
juntada de certidões negativas dos distribuidores da qualquer um dos titulares de direito reais e de outros
comarca da situação do imóvel e do domicílio do direitos registrados ou averbados na matrícula do
requerente. imóvel usucapiendo e na matrícula dos imóveis
A prova do justo título deverá ser feita, como tam- confinantes, por algum dos entes públicos ou por
bém deverá o autor do pedido carrear documentos algum terceiro interessado, o oficial de registro de
que demonstrem a origem, a continuidade, a natu- imóveis remeterá os autos ao juízo competente da
reza e o tempo da posse, tais como o pagamento comarca da situação do imóvel, cabendo ao reque-
dos impostos e das taxas que incidirem sobre o rente emendar a petição inicial para adequá-la ao
imóvel. procedimento comum.
De posse de tais documentos, o pedido será autua- Em arremate, é importante recordar que a usucapi-
do pelo registrador, prorrogando-se o prazo da pré- ão judicial passou a se submeter ao procedimento
notação até o acolhimento ou a rejeição do pedido. comum ordinário no NCPC. Vale dizer, não mais
Se a planta não contiver a assinatura de qualquer existe o procedimento especial de usucapião.
um dos titulares de direitos reais e de outros direitos
registrados ou averbados na matrícula do imóvel Usucapião Coletiva
usucapiendo e na matrícula dos imóveis confinan-

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O fenômeno social das comunidades carentes processual, com personalidade jurídica própria,
(também denominadas de favelas) dá ensejo a situ- desde que expressamente autorizada pelos associ-
ações nas quais a população de baixa renda ocupa ados.
terrenos de modo desordenado (coletiva), mas de E se alguns dos moradores se recusarem a litigar
maneira mansa e pacífica. no polo ativo como litisconsortes necessários?
A resposta está no art. 9º do Estatuto: devem ser
Sendo assim, em atenção ao direito de moradia (art. citados para integrar a lide. Após a resposta destes
6º, da CF), bem como da função social da proprie- à citação, o Juiz apreciará a manutenção, ou não,
dade (art. 5º, incisos XXIII da CF), necessitou o do processo, suprindo, ou não, a inércia destes.
ordenamento jurídico fazer uma leitura da questão Registra-se que o Ministério Público Estadual deve-
fincada na usucapião. rá, obrigatoriamente, intervir no processo (§ 1º do
Por conta disto, a Lei Federal nº 10.257/01, deno- art. 12 do Estatuto da Cidade). Atuando como fiscal
minada Estatuto das Cidades, disciplina que as da lei, o Ministério Público terá a prerrogativa de
áreas urbanas com mais de duzentos e cinquenta pronunciar-se nos autos depois das partes, devendo
metros quadrados, ocupadas por população de bai- ser intimado de todos os atos do processo.
xa renda para sua moradia, por cinco anos, ininter- Igualmente poderá juntar documentos, produzir
ruptamente e sem oposição, onde não for possível prova em audiência, requerer medidas ou diligên-
identificar os terrenos ocupados por cada possuidor, cias necessárias ao descobrimento da verdade,
são susceptíveis de serem usucapidas coletivamen- além de recorrer de forma independente, ainda que
te, desde que os possuidores não sejam proprietá- as partes não recorram (STJ, SÚMULA 99).
rios de outro imóvel urbano ou rural (art. 10). Consoante o art. 14 do Estatuto das Cidades, o rito
para a usucapião urbana é sumário, também sendo
Neste caso, o possuidor poderá, para o fim de con- possível alegá-la como matéria de defesa (art. 13 da
tar o prazo exigido por este preceito normativo, mesma Lei Extravagante e Súmula 237 do STF).
acrescentar sua posse à de seu antecessor, contan- Ademais, enquanto a ação judicial de usucapião
to que ambas sejam contínuas (§ 1º, art. 10). Trata- não for dirimida, nenhuma outra poderá tramitar,
se da aplicação da acessio possessionis e sucessio seja possessória, seja reivindicatória.
possessionis.
Nessa toada, mediante processo com prolação de Aquisição do Bem Imóvel pelo Registro do Título
sentença (§ 2º, art. 10), o Juiz da causa atribuirá
igual fração ideal de terreno a cada possuidor, inde- ENUNCIADO 503 DA V JORNADA EM DIREITO CIVIL, o
pendente da dimensão do terreno que cada um registro do título aquisitivo enseja a presunção rela-
ocupe, salvo acordo escrito entre estes coproprietá- tiva da propriedade. Deste modo, será possível ao
rios estabelecendo frações ideais diversas (§ 3º, art. interessado desconstituir esta presunção, não abso-
10). luta, comprovando que efetivamente a propriedade
não é daquele que figura no registro civil.
Nessa senda, para a verificação da usucapião cole-
tiva mister que estejam presentes, cumulativamente, Atenção!
os seguintes requisitos: Ainda no âmbito doutrinário, o Enunciado 87 da I
a) Imóvel localizado em área urbana, com posse Jornada em Direito Civil reconhece também como
contínua, mansa e pacífica (sem oposição), com o título aquisitivo a promessa de compra e venda de-
animus domini, pelo prazo de, ao menos, cinco vidamente quitada e irretratável, em fiel harmonia
anos; com o art. 1417 e 1418 do CC, assim como na es-
b) Não seja possível averiguar, efetivamente, a teira no § 6º do art. 26 da Lei Federal nº 6766/79 e
específica área de cada possuidor; Súmula 239 do Superior Tribunal de Justiça.
c) Que a posse seja exercitada por famílias caren- Lembra-se que apesar da norma falar em promessa
tes, as quais não são proprietárias de nenhum outro de compra e venda registrada (arts. 1.417 e 1.418
imóvel e com o fim exclusivo de moradia; do CC), a doutrina vem mitigando esta necessidade
d) Que cada família tenha sua fração do terreno (Súmula 239 do STJ). Outrossim, recorda-se que a
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irretratabilidade é uma característica implícita dos
limitada à 250m (duzentos e cinquenta metros qua- contratos preliminares (art. 463 do CC), apenas
drados). sendo afastada a referida presunção caso o próprio
A teor do art. 12, do Estatuto das Cidades, o legiti- contrato expressamente veicule cláusula de arre-
mado ativo ad causam na usucapião coletiva será: pendimento.
a) o possuidor, isoladamente ou em litisconsórcio
originário ou superveniente; O que seria a função social registral?
b) os possuidores em situação jurídica de compos-
se; Remete à ideia segundo a qual o registro dever ser
c) a associação de moradores da comunidade, confiável, sendo que àquele que fez aquisições
regularmente constituída, na qualidade de substituto proprietárias com base em registros aparentemente

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sólidos, haverá de ser protegido, consoante à boa-


fé. Caducou (perdeu os efeitos) a súmula 621 do STF:
E o registro poderá ser retificado? “não enseja embargos de terceiro à penhora a pro-
messa de compra e venda não inscrita no registro
Sim! de imóveis”.
a) Retificação em Cartório, mediante procedimento • Ausência de prazo para o exercício do direito de
administrativo e extrajudicial, quando não existir adjudicar compulsoriamente imóvel objeto de com-
interesse de terceiros em xeque, sem a presença de promisso de compra e venda.
advogado. O promitente comprador, amparado em compromis-
b) Retificação em Vara de Registros Públicos, me- so de compra e venda de imóvel cujo preço já tenha
diante procedimento especial de jurisdição graciosa, sido integralmente pago, tem o direito de requerer
no caso de existir interesse de terceiros sem ampli- judicialmente, a qualquer tempo, a adjudicação
ação da área do imóvel. compulsória do imóvel. REsp 1.216.568-MG, Rel.
c) Retificação na Vara Cível, mediante procedimen- Min. Luis Felipe Salomão, DJe 29.9.15. 4ª T. (Info
to comum ordinário, quando existir interesse de STJ 570)
terceiros e ampliação da área do imóvel (STJ, FORMAS DE AQUISIÇÃO DA PROPRIEDADE
REsp. 323.924/SC). MÓVEL (ARTS. 1.260/1.274, CC)

A Promessa de Compra e Venda de Imóvel e o Di- a) Originárias: tais como a ocupação, o achado do
reito Real de Aquisição da Propriedade do Promi- tesouro e a usucapião de bem móvel.
tente Comprador: Compromisso Irretratável de b) Derivadas: tais como a especificação, a confu-
Compra e Venda de Imóveis são, a comistão, a adjunção, a tradição e, finalmen-
te, a sucessão.
“Consiste a promessa irretratável de compra e ven-
da no contrato pelo qual o promitente vendedor Aquisição por usucapião de bem móvel
obriga-se a vender ao compromissário comprador (1.260/1.261, CC).
determinado imóvel, pelo preço, condições e modos
convencionados, outorgando-lhe a escritura pública Aquisição por ocupação
definitiva quando houver o adimplemento da obriga-
ção”. Arremata o autor: “o compromissário compra- Existem coisas no mundo jurídico que não são de
dor, por sua vez, obriga-se a pagar o preço e cum- ninguém – res nullius –, encontrando-se em estado
prir todas as condições estipuladas na avença, ad- de abandono ou inutilidade.
quirindo, em consequência, direito real sobre o imó- De acordo com a legislação, quem se assenhorear
vel, com a faculdade de reclamar outorga da escritu- de coisa sem dono, para logo, lhe adquire a propri-
ra definitiva, ou sua adjudicação compulsória ha- edade, não sendo essa ocupação vedada (defesa)
vendo recusa por parte do promitente vendedor” em lei (art. 1.263, CC).
(Carlos Roberto Gonçalves).
Aquisição por achado de tesouro
Em síntese é possível aduzir que no que tange à
natureza jurídica do compromisso irretratável de Os arts. 1.264 a 1.266 do Código Civil também ad-
compra e venda de imóvel devidamente registrado mitem a aquisição da propriedade móvel relativa ao
existem, em uma análise histórica, três posiciona- depósito antigo de coisas preciosas, oculto e de
mentos. cujo dono não haja memória (tesouro). Trata-se o
tesouro de coisa de ninguém, posto nunca ter sido
Posicionamento 1) – Majoritário: direito real de aqui- apropriada, consistindo em objeto oculto, antigo e
sição da propriedade. (Caio Mário da Silva Pereira, valioso.
Serpa Lopes, Maria Helena Diniz, Gustavo Tepedi-
no). Recorda-se que é tipo penal apropriar-se da quota a
quem tem direito de propriedade do prédio (art. 169,
Posicionamento 2) – Minoritário: direito real de gozo parágrafo único, I do Código Civil).
e fruição (Silvio Rodrigues). Aquisição por tradição (1.267, CC).
Enunciado 253 do CONSELHO DA JUSTIÇA FEDERAL
“O promitente comprador, titular de direito real (art. - Tradição Real: é a regra, sendo a usualmente
1.417), tem a faculdade de reivindicar de terceiro o praticada. Materializa-se com a entrega do objeto ao
imóvel prometido à venda”. adquirente. Exemplifica-se com a entregue de um
sanduíche comprado ao seu adquirente;
O STJ, na Súmula 84: “é admissível a oposição de - Tradição Simbólica: consiste no ato representati-
embargos de terceiros fundados em alegação de vo de transferência. Não há a entrega real, mas sim
posse advinda de compromisso de compra e venda sua substituição por coisa equivalente.
de imóvel, ainda que desprovido de registro”.

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O exemplo corriqueiro é a entrega das chaves de


um imóvel;
- Tradição Consensual ou Ficta: resultante de um
negócio jurídico, ocorrendo através de cláusula con-
tratual, sem qualquer alteração no mundo dos fatos.
Dar-se-á através do:

• Constituto Possessório (cláusula constituti):


quando alguém que possui em nome próprio e pas-
sa a possuir em nome alheio, a exemplo do proprie-
tário que aliena o bem e passa a possuí-lo direta-
mente por força de uma locação. Assim, o vende-
dor, transferindo a outrem o domínio da coisa, con-
serva-a, todavia, em seu poder, por outro título;
• Traditio Breve Manu: no caminho oposto ao
constituto possessório, aquele que possuía em no-
me alheio passa a possuir em nome próprio, como o
locatário que realiza a aquisição do bem; ou o ar-
rendatário que faz a compra do aludido bem. Trata-
se de instituto já consagrado em Roma.
Aquisição por especificação

A PERDA DA PROPRIEDADE (ARTS. 1.275 E


1.276, CC)
RESPONSABILIDADE CIVIL DO PROPRIETÁRIO

Em regra, a responsabilidade civil do proprietário é


subjetiva, de modo que sem a comprovação de dolo
ou culpa, nos danos causados a terceiros, não será
possível responsabilizá-lo. Faltante a culpa, não há
falar-se no dever de indenizar. Esta é a regra.

Contudo, há exceções:
a) A primeira delas está no art. 936 do CC, para o
caso do dono ou detentor do animal que responderá
objetivamente, sem risco integral, pelos danos cau-
sados;
b) A segunda exceção é a ruína de prédio, quando
a responsabilidade também será objetiva, sem risco
integral, na forma do art. 937 do CC.
c) A terceira e última exceção está no art. 938 do
CC, o qual se refere às coisas caídas ou arremes-
sadas (objeto lançado – effusio et dejectis), quando
também será objetiva com risco integral.

. Diz-se sem risco integral quando o caso fortuito e


a força maior podem ser alegados para o fim de
excluir o dever de reparar o dano.

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