Digamos logo que, segundo HORKHEIMER, o conceito de racionalidade que está
na base da civilização industrial é podre na raiz: “A doença da razão está no fato de que ela nasceu da necessidade humana de dominar a natureza [...]”. Essa vontade de dominar a natureza, de compreender suas “leis” para submetê-la, exigiu a instauração de uma organização burocrática e impessoal, que, em nome do triunfo da razão sobre a natureza, chegou a reduzir o homem a simples instrumento. Ao progresso dos recursos técnicos, que poderiam servir para “iluminar” a mente do homem, acompanha um processo de desumanização, de tal modo que o progresso ameaça destruir o que deveria realizar: a ideia de homem. E a ideia do homem, isto é, sua humanidade, sua emancipação, seu poder de crítica e de criatividade acham-se ameaçados porque o desenvolvimento do “sistema” da civilização industrial substituiu os fins pelos meios e transformou a razão em instrumento para atingir fins, dos quais a razão não sabe mais nada. Em outros termos, “o pensamento pode servir para qualquer objetivo, bom ou mau. E instrumento de todas as ações da sociedade, mas não deve procurar estabelecer as normas da vida social ou individual, que se supõe serem estabelecidas por outras forças”. A razão, portanto, não nos dá mais verdades objetivas e universais às quais possamos nos agarrar, mas somente instrumentos para objetivos já estabelecidos. Não é ela que fundamenta e estabelece o que sejam o bem e o mal, como base para orientarmos nossa vida; quem decide sobre o bem e o mal é agora o “sistema”, ou seja, o poder. A razão é agora ancilla administrationis e, “tendo renunciado à sua autonomia, a razão tornou- se um instrumento.
REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da filosofia: de Nietzsche à Escola de
Frankfurt. São Paulo: Paulus, 2006. (Vol. 6 – p. 476 – 477).
Prof. Marcelo José Caetano – FILOSOFIA: RAZÃO E MODERNIDADE