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O grau de marca: Inglês x York

29/07/2023

Introdução
Histórico
Homem da Marca e Mestre de Marca
A marca propriamente dita
A cerimónia da marca
A cerimónia principal
A lenda
A parábola
A pedra chave
Qual dos dois escolher?
Bibliografia

Introdução
Este Grau existe tanto no Rito de York quanto no sistema dos graus
colaterais ingleses. Mas, há diferenças fundamentais entre eles. Além
daquilo que é mais trivial, como o avental e afins, quais as principais
diferenças?
O objectivo deste artigo é procurar responder a essa dúvida. Todavia, em
razão da fidelidade aos seus juramentos e também em respeito a quem
pretende fazer os graus, o artigo não só não conterá segredo de grau,
como também evitará dar detalhes que possam estragar a surpresa.

Embora, evidentemente, quem já fez um dos dois sistemas terá um


entendimento mais profundo do que está sendo dito, o artigo foi escrito
de forma que um Maçom que ainda não fez a Marca possa, pelo menos,
ter uma ideia das diferenças.

Para compreender a origem das diferenças, é preciso um pouco de


contexto histórico.

Histórico
A prática de se ter uma marca acompanha os pedreiros operativos desde
tempos imemoriáveis. Marcas podem ser encontradas em várias
construções operativas, em diferentes lugares do mundo.

Numa obra que empregava vários profissionais, as marcas serviam para


identificar que pedreiro tinha sido responsável por produzir aquela
determinada obra ou porção da obra.

Desde os tempos operativos, portanto, os maçons tinham a sua marca


pessoal. Há documentos que indicam que, ao se tornarem companheiros
de ofício, recebiam a sua marca.

Com o desenvolvimento da Maçonaria especulativa, a marca também


passou por uma ressignificação, da mesma forma que o maço, o cinzel, o
avental, etc. Desta forma, logo surgiriam cerimónias e graus associados à
recepção da marca.

Homem da Marca e Mestre de Marca


Os primeiros registros de graus da marca datam de 1769, numa acta
cifrada do capítulo do Real Arco chamado Chapter of Friendship, em
Portsmouth, Hampshire, na Inglaterra. Nele, há registro de que Thomas
Dunckerley, filho do príncipe de Gales, conferiu os graus de Homem da
Marca (ou Maçom de Marca) e de Mestre de Marca.

Havia, portanto, dois graus distintos: Homem da Marca e Mestre de


Marca. Isto também é confirmado pelos discursos de William Finch de
1812, que listam esses dois graus separadamente.

Ao que tudo indica, entre os Antigos, eram cerimónias separadas que


complementavam os graus de Companheiro e Mestre, respectivamente.

O grau de Homem da Marca era essencialmente o momento em que o


Companheiro recebia a sua marca e aprendia a utilizar o alfabeto cifrado
dos maçons.

Já o grau de Mestre de Marca revolve em torno da lenda da Pedra Chave


do Templo de Salomão.

Como era comum que vários graus fossem conferidos numa mesma
ocasião, algo indicado, inclusive, por outras actas do mesmo Capítulo, é
provável que, pela sua semelhança temática, os graus de Homem da
Marca e Mestre de Marca tenham sido unificados em alguns capítulos.
Noutros, em função da fluidez da Maçonaria no século 18, a cerimónia do
Homem da Marca teria sido omitida.

Facto é que hoje não se tem notícia do grau de Homem da Marca, ou


Maçom da Marca, ser conferido de forma independente. Um dos seus
pontos principais, o alfabeto cifrado, passou a ser ensinado noutros graus
do simbolismo (quando é ensinado).

E aqui está uma das principais diferenças entre os dois sistemas: O York
reteve apenas o grau de Mestre de Marca, ao passo que o sistema inglês
manteve os dois, de forma unificada.

Não se sabe ao certo por que razão o York não manteve ambas as
cerimónias, mas provavelmente se deve à fluidez supracitada e a uma
ramificação ocorrida ainda no século 18.
Resumindo: No York, faz-se apenas Mestre de Marca. Ao passo que,
no sistema inglês, faz-se Homem da Marca e Mestre de Marca.

Não pense, contudo, o leitor que o grau no York tem menos conteúdo,
pois a cerimónia do York traz ainda uma parte adicional interessantíssima,
que será descrita mais adiante.

Abaixo, as diferenças entre os sistemas serão relatadas. Como dito na


introdução, algumas descrições serão mais abstractas porque o autor
tomou o máximo de cuidado possível para não revelar nenhum conteúdo
que possa estragar o impacto e a surpresa das cerimónias.

A marca propriamente dita


Há uma diferença fundamental na maneira como a marca é feita no Rito
de York e no grau inglês.

No Rito de York, a marca é escolhida e gravada pelo próprio candidato ao


grau. Não há uma regra fixa, além de recomendar ao candidato que não
trace linhas circulares, por razões óbvias. A marca é feita no
preenchimento do formulário de adesão.

Já no sistema inglês, a obtenção da marca é ritualizada. Não é o


candidato que a faz; ela é atribuída ao último por ordem do Mestre da loja.
Além disso, há regras que devem ser observadas e não são admitidas
marcas fora de um determinado padrão. Até porque, há um tipo de marca
que é utilizada apenas pelo Mestre da loja.

A marca inglesa faz uso, ainda, da cifra maçónica, sendo um dos poucos
momentos em que o alfabeto cifrado é utilizado ritualisticamente dentro
da Maçonaria.

Por um lado, a marca do York parece mais próxima da realidade operativa,


cujos registros históricos indicam algo bem fluido, bastante diferente do
critério inglês, que tem carácter mais lendário.

Por outro lado, a marca inglesa é mais personalizada, contendo elementos


que aludem ao próprio candidato. Além disso, acaba encaixando-se
melhor na narrativa da lenda, já que nem sempre as lendas maçónicas
seguem a historicidade.

A cerimónia da marca
Chamada de “Homem da Marca”, esta cerimónia aparece no sistema
inglês, mas não no York.

Há uma forte ênfase no facto da mesma ser uma espécie de conclusão do


grau de Companheiro, incompleto sem a marca.

Há uma pequena actuação, que ajuda a enfatizar qual a função histórica


da marca para os pedreiros operativos.

Esta cerimónia também antecipa um pouco, e explica bem, o motivo do


recipiendário na cerimónia principal se colocar entre os obreiros na parte
final da cerimónia principal.

Embora isso não fique sem explicação no Rito de York, esta cerimónia
contribui para deixar este ponto um pouco mais enfatizado. Nesta parte, o
irmão que recebe o grau sente que está concluindo o grau 2 e tornando-
se um companheiro de ofício pleno.

A cerimónia principal
A cerimónia principal é bastante semelhante entre ambos os sistemas,
embora a do York seja um pouco mais dinâmica.

Isto ocorre porque, no sistema inglês, a “verificação” é feita para três


Companheiros, ao passo que no York apenas para dois. Além disso, as
prelecções da marca inglesa são um pouco mais extensas.

No sistema inglês, porém, a Palavra de Passe cumpre um papel de maior


destaque durante a cerimónia.

Nada disso, contudo, altera de forma significativa a essência da cerimónia


ou da mensagem transmitida.

A lenda
Há uma curiosa variação quanto a quem é o autor da Pedra Chave. No
sistema inglês, trata-se do próprio recipiendário: Um hábil artesão, que
contou com um momento de sorte.

Já no York, o autor é um terceiro. E há uma atitude moralmente


questionável realizada em conexão com isso, o que altera um pouco a
percepção que se tem do protagonista.

Além disso, na lenda do York, o horário de trabalho tem um papel


importante, pois faz conexão com a segunda parte da cerimónia. Isto não
está presente no ritual inglês.

A parábola
O grau no York contém ainda mais uma cena, que não está presente na
marca inglesa. Nessa cena, há uma actuação inspirada numa parábola
cristã.

A parábola é bem marcante e traz um ensinamento que é muito precioso,


especialmente para aqueles que já têm bastante tempo de Maçonaria.

Essa cerimónia não existe na loja de marca inglesa.

(Embora não constitua segredo de grau, o autor se absterá de identificar


qual parábola inspira a cena, já que entende que o mero nome da mesma
já revela muito sobre ela e pode, assim sendo, estragar a surpresa.)

A pedra chave
Uma pequena, porém significativa, curiosidade acerca da Pedra Chave,
que também não é segredo, já que está visível em aventais, comendas e
outros: No York, a Pedra Chave utiliza os caracteres HTWSSTKS, aludindo
ao inglês.
No sistema inglês, os caracteres são utilizados em dois idiomas. De um
lado, o inglês, exactamente como no York. De outro, o hebraico:
‫חבאשלשמי‬.

Isto em nada altera o sentido, que é o mesmo em ambos os sistemas, nem


qualquer aspecto da lenda. Contudo, o uso do hebraico é bastante
interessante para ambientar o recipiendário no contexto bíblico do grau
(apesar da lenda em si ser fictícia e não uma história bíblica) e pode ser
uma fonte interessante para aqueles que, por exemplo, gostam de fazer
associações com a Cabala ou coisa do género.

Qual dos dois escolher?


Duas perguntas são muito comuns. Mestres que ainda não fizeram o grau
podem se indagar qual devem escolher. Já Mestres que tenham recebido
o grau num dos sistemas se podem indagar se vale a pena fazer o outro.

A primeira coisa a considerar é que o sistema inglês e o York oferecem


vários graus parecidos, mas de forma diferente. No York, há uma
progressão clara de graus. No sistema inglês, muitos graus podem ser
feitos de forma independente.

Deixando isso de lado, a escolha seria algo muito pessoal. Aqueles que
preferem cerimónias mais simples, dinâmicas e com uma maior variedade
de temas, provavelmente preferirão o grau do York.

Já aqueles que preferem cerimónias mais detalhadas e apreciam detalhes


mais históricos, e uma maior conexão com os operativos, provavelmente
preferirão o grau inglês.

Mas, o autor, um apaixonado pelo grau da Marca, faz votos para que você,
caro leitor, opte por fazer ambas as versões, assim aproveitando tudo
aquilo que nos chegou, a partir das diferentes tradições.

Nesse caso, o autor sugeriria fazer primeiro o grau inglês, pois a


Cerimónia Principal, a conexão com os operativos e a conclusão do grau
de Companheiro ficam um pouco mais claros. E também porque, numa
segunda oportunidade, a diferença do final do grau no York serviria como
uma surpresa adicional. Mas, em qualquer ordem, fazer ambos seria
bastante proveitoso.

Luis Felipe Moura M∴ M∴

Bibliografia
BEGG, David M. (ed) The “Standard” Ritual of Scottish Freemasonry.
Edinburgo: The Grand Lodge of Antient Free and Accepted Masons
of Scotland, 2012.
JONES, Bernard. Freemason’s Book of the Royal Arch. Londres:
George G. Harrap & Company, 1957.
SNOEK, Jan A. M. (ed.). British Freemasonry, 1717-1813 (vol. 2). Nova
York: Routledge, 2016.
RITUAL do Grau de Mestre de Marca (ed. 2017). Rio de Janeiro:
Supremo Grande Capítulo de Maçons do Real Arco do Brasil, 2017.
RITUAL da Ordem da Marca (1ª ed.). São Paulo: Grande Loja de
Mestres Maçons da Marca do Estado de São Paulo, 2017.
RITUAL of Mark Master Mason. Indiana, 1952.
RITUAL of Mark Master Mason. Iowa, 2001.
RITUAL for Mark Master – Order of Mark Master Masons, 1992.

A tolerância
Dos Operativos aos Especulativos: Vitrúvio
A marca
O Templo do Rei Salomão – A origem da lenda
Compreendendo o uso do Avental

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