Você está na página 1de 6

Brazilian Journal of Development 97702

ISSN: 2525-8761

Urolitíase e cistite por proteus mirabilis em canino: relato de caso

Urolithiasis and cystitis by proteus mirabilis in canine: case report

DOI:10.34117/bjdv7n10-202

Recebimento dos originais: 07/09/2021


Aceitação para publicação: 18/10/2021

Fabiana Cecchin
Graduando em Medicina Veterinária pela Universidade de Caxias do Sul (UCS)
Instituição: Universidade de Caxias do Sul (UCS)
Endereço: Rua Francisco Getúlio Vargas, 1130 -Petrópolis, Caxias do Sul-RS, 95070-
560
fcecchin2@ucs.br

Eduardo Conceição de Oliveira


Professor Doutor em Patologia Animal do Curso de Medicina Veterinária da
Universidade de Caxias do Sul (UCS)
Instituição: Universidade de Caxias do Sul (UCS)
Endereço: Rua Francisco Getúlio Vargas, 1130 -Petrópolis, Caxias do Sul-RS, 95070-
560
ecoliveira4@ucs.br

RESUMO
A infecção urinária pela bactéria Proteus Mirabilis é frequentemente relatada como
causadora de cistite em caninos, podendo estar associada a cálculos de estruvita na
vesícula urinária. A infecção é comum de acontecer, visto que a bactéria está presente
naturalmente no trato digestório dos animais. Objetivo: Apresentar o relato de experiência
profissional através de um atendimento clínico de um cão com cistite e urolitíase,
apresentando seus aspectos clínicos, diagnósticos complementares e terapia empregada.
Métodos: um canino, fêmea, adulta, da raça pug encaminhada para atendimento clínico.
Resultados: Durante o atendimento foi constatado que o animal já tinha sido encaminhado
para atendimento veterinário anterior sendo seu diagnóstico e tratamento baseado
somente em anamnese e exame clínico não gerando melhora clínica no animal. Com base
em exames complementares solicitados foi possível diagnosticar o animal com cistite
bacteriana e urolitíase vesical, sendo isolada a bactéria Proteus Mirabilis como causadora
do quadro e o antibiograma evidenciou que a bactéria era resistente ao antimicrobiano
utilizado no tratamento anterior e também a outros 7 dos 11 fármacos testados, também
com base em exames complementares foi estabelecido o tratamento e dieta para
dissolução dos cálculos. Após 35 dias de tratamento o canino foi reavaliado, oportunidade
que foi constatado a cura clínica do animal. O caso evidencia a importância do
diagnóstico e tratamento serem baseados em exames complementares, garantindo assim
a cura completa do animal e evitando dessa maneira casos de resistência bacteriana.

Palavras-chave: infecção urinária, resistência microbiana, cão.

ABSTRACT
Urinary infection by the bacterium Proteus Mirabilis is frequently reported to cause
cystitis in canines, which may be associated with struvite stones in the urinary vesicle.

Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.7, n.10, p. 97702-97707 oct. 2021


Brazilian Journal of Development 97703
ISSN: 2525-8761

Infection is common to happen, as the bacteria is naturally present in the digestive tract
of animals. Objective: To present the report of professional experience through a clinical
care of a dog with cystitis and urolithiasis, presenting its clinical aspects, complementary
diagnoses and therapy used. Methods: an adult female pug canine referred for clinical
care. Results: During the service, it was found that the animal had already been referred
for veterinary care and its diagnosis and treatment based only on anamnesis and clinical
examination did not generate clinical improvement in the animal. Based on requested
complementary exams, it was possible to diagnose the animal with bacterial cystitis and
bladder urolithiasis, being isolated the Proteus Mirabilis bacterium as the cause of the
condition and the antibiogram showed that the bacterium was resistant to the
antimicrobial used in the previous treatment and also to other 7 of the 11 drugs tested,
also based on complementary exams, the treatment and diet to dissolve the stones were
established. After 35 days of treatment, the canine was re-evaluated, an opportunity that
the clinical cure of the animal was found. The case highlights the importance of diagnosis
and treatment being based on complementary tests, thus ensuring the complete cure of
the animal and thus avoiding cases of bacterial resistance.

Keywords: urinary tract infection, microbial resistance, dog.

1 INTRODUÇÃO
A infecção urinária por Proteus Mirabilis é uma infecção comum em caninos,
visto que a bactéria está presente naturalmente no trato digestório do animal, sendo as
fêmeas mais acometidas devido a uretra ter menor comprimento e ser mais larga quando
comparada ao macho (BYRON, 2019). A patogenicidade da bactéria inclui a urease
positiva, que compreende na degradação da uréia para formar amônia e CO2, ocasionando
assim a alcalinidade da urina e predispondo dessa maneira à formação de cálculos nos
rins e vesícula urinária, além disso o microorganismo pode causar cistite e pielonefrite
aguda (BYRON, 2019). Descreve-se um caso de um canino fêmea acometida pela
infecção urinária por Proteus Mirabilis com a formação de cistite e urolitíase, tendo
ausência de resposta clínica em um primeiro momento de tratamento. Sabe-se que Proteus
Mirabilis faz parte do grupo de bactérias produtoras de biofilme no qual a torna mais
resistente ao uso de antimicrobianos somando isso com uma antibioticoterapia incorreta
e imprecisa se está favorecendo a resistência microbiana, colocando em risco a saúde
animal e humana (CARVALHO et al., 2013). O presente trabalho tem por objetivo
apresentar o relato de experiência profissional através de um acompanhamento de um
atendimento clínico de um cão com cistite e urolitíase, apresentando seus aspectos
clínicos, diagnósticos complementares e terapia empregada.

Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.7, n.10, p. 97702-97707 oct. 2021


Brazilian Journal of Development 97704
ISSN: 2525-8761

2 RELATO DO CASO
Foi encaminhado para atendimento um canino, fêmea, raça pug, não castrada,
adulta e pesando 8,2 kg. O tutor relatou que o animal estava com polaciúria, hematúria e
apresentava-se prostrado, relatou também que o canino já tinha sido encaminhado para
atendimento veterinário antes (aproximadamente 3 meses atrás) e o veterinário
diagnosticou o animal com infecção urinária baseado somente em anamnese e exame
clínico e instituiu como tratamento o uso de enrofloxacina na dose de 5 mg/kg de 12 em
12 horas durante 5 dias e meloxicam 2 mg um comprimido a cada 24 horas durante 5 dias,
mas ao final do tratamento o animal não apresentou melhora.
No exame clínico o canino apresentava mucosas normocoradas, ausência de febre,
frequência cardíaca normal porém o animal se mostrava com respiração ruidosa e
dispneia sugestivo de síndrome do braquicefálico. Para exames complementares foi
requerido hemograma, urinálise, cultivo bacteriano com antibiograma e ultrassonografia.
O hemograma não revelou alterações. Na urinálise houveram alterações
significativas como aumento considerável de pH (9,0), na sedimentoscopia da urina foi
detectado hemácias, leucócitos, presença de bacteriúria bem como a existência de cristais
e um grande número de células epiteliais evidenciando cistite bacteriana e urolitíase. O
cultivo revelou o crescimento de Proteus Mirabilis. Para verificação da composição dos
cristais foi realizado exames de imagem e análise qualitativa da composição do urólito,
sendo identificado dessa maneira cristais de fosfato triplo, também conhecidos como
estruvita. O antibiograma revelou que a bactéria era resistente ao antimicrobiano usado
anteriormente, e sensível à amoxicilina mais ácido clavulânico, sendo esse o fármaco de
escolha sendo tratada na dose de 25 mg/kg de 12 em 12 horas durante 35 dias. A
ultrassonografia detectou irregularidades na vesícula urinária como espessamento de
mucosa, confirmando assim o quadro de cistite e conteúdo anecogênico com pontos
ecogênicos em suspensão não formadores de sombra acústica e outra parte ecogênica
formadora de sombra acústica que confirmou o quadro de urolitíase.
Com base nos exames complementares foi firmado o diagnóstico de cistite
bacteriana e urolitíase vesical. Foi estabelecida uma dieta para a dissolução dos cálculos.
Após 35 dias de tratamento o animal foi reavaliado, oportunidade no qual o tutor relatou
a remissão completa dos sinais clínicos e exames complementares como a urinálise não
revelou achados compatíveis com cistite ou outras alterações e a ultrassonografia a
ausência de cálculos vesicais.

Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.7, n.10, p. 97702-97707 oct. 2021


Brazilian Journal of Development 97705
ISSN: 2525-8761

3 DISCUSSÃO
O diagnóstico do caso descrito foi realizado através de exames laboratoriais e
ultrassonográficos e o tratamento baseado no antibiograma o que evidenciou o sucesso
terapêutico e a cura bacteriana completa do animal que se confirmou por meio do
resultado da cultura de urina. Em tratamento anterior o diagnóstico bem como o
tratamento foram presuntivos, a antibioticoterapia foi instituída com base em antibióticos
de uso empírico, sendo o fármaco de escolha a enrofloxacina. pertencente ao grupo das
quinolonas, considerado um dos fármacos de primeira escolha para tratamento de
infecção urinária em cães.
O resultado do antibiograma indicou que dos fármacos testados a bactéria era
resistente a 7 do total de 11 utilizados para o teste, incluindo substâncias de uso comum
na prática clínica tais como a enrofloxacina, doxiciclina e tetraciclina. Com base nessa
apuração e com um potencial grande de resistência da bactéria descrita a duração do
tratamento foi de 35 dias no qual causou alguns efeitos colaterais no animal mas garantiu
a morte bacteriana do agente causador da infecção e evitou dessa maneira que a bactéria
torna-se resistente também amoxicilina mais ácido clavulânico.
A bactéria Proteus Mirabilis isolada no cultivo é considerada resistente a muitos
antibióticos utilizados nas clínicas possuindo um mecanismo intrínseco de resistência que
é chamado de biofilme, juntamente com outros fatores de virulência que incluem a
presença de fímbria que causa aderência da bactéria ao tecido epitelial, flagelos que causa
a ascensão da bactéria dos ureteres aos rins e urease que é considerado o fator mais
importante elevando o pH urinário que resulta na formação de cálculos de estruvita, fatos
esses que o clínico deve ficar atento e aderir a fármacos no qual a bactéria se mostra
sensível e fazer monitoramento do paciente após a conclusão do tratamento para assegurar
a recuperação completa do quadro (EHSAN et al., 2018)
Somando-se o fator de resistência antimicrobiana natural com a adquirida por
tratamento incorreto está se induzido a formação de bactérias cada vez mais resistentes e
gerando infecções difíceis de se tratar colocando em risco a saúde animal e humana, a
última é favorecida pelo contato cada vez mais estreito com os animais de companhia,
sendo um agravante que Proteus Mirabilis é a 3º causa mais comum de ITU complicada
em humanos (CARVALHO et al., 2013).
Tendo em vista todos os aspectos observados acima é possível comprovar a
importância que os exames complementares possuem na área da medicina veterinária, em
especial os exames de cultura bacteriana e antibiograma. Através da cultura é possível

Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.7, n.10, p. 97702-97707 oct. 2021


Brazilian Journal of Development 97706
ISSN: 2525-8761

identificar o agente causador da infecção e o antibiograma permite verificar a


sensibilidade da bactéria aos antibióticos, possibilitando ao médico veterinário designar
o antibiótico mais aconselhado para agir sobre a infecção, proporcionando assim um
tratamento mais preciso para cada paciente e evita-se casos de resistência bacteriana
frente à antimicrobianos.

4 CONCLUSÃO
O caso evidencia a importância do diagnóstico e o tratamento serem baseados em
exames complementares, assim teremos diagnósticos mais específicos, terapêutica
adequada e a resolução do caso por completo garantindo assim uma melhor qualidade de
vida para o paciente e evitando dessa maneira a resistência bacteriana que é um grande
problema nos dias atuais que deve ser combatida tanto na área da medicina veterinária
quanto na medicina humana.

Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.7, n.10, p. 97702-97707 oct. 2021


Brazilian Journal of Development 97707
ISSN: 2525-8761

REFERÊNCIAS

BYRON, Julie K. Urinary Tract Infection. Veterinary Clinics of North America: Small
Animal Practice, [S. l.], p. 211-221, 1 mar. 2019.

CARVALHO, Vania M. et al.In: Infecções do Trato Urinário (ITU) de cães e gatos:


etiologia e resistência aos antimicrobianos. [S. l.], 19 nov. 2013. Disponível
em<https://www.scielo.br/pdf/pvb/v34n1/11.pdf>. Acesso em: 8 set. 2020.

EHSAN, Nosheen et al. Identification of potential antibiotic targets in the proteome of


multi-drug resistant Proteus mirabilis. Meta Gene, [S. l.], p. 167-173, 1 dez. 2018.

Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.7, n.10, p. 97702-97707 oct. 2021

Você também pode gostar