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Stripper - Dominando o Prazer - Viviane Silva
Stripper - Dominando o Prazer - Viviane Silva
S586s
Silva, Viviane
Stripper: Dominando o Prazer/ Viviane Silva.
1. Ed – Belo Horizonte, MG
ISBN: 978-65-86499-02-5
Todos os direitos desta edição reservados ao autor da obra e a editora.
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Índice para catálogo sistemático:
É proibida a reprodução total e parcial dessa obra, de qualquer forma ou por qualquer meio
eletrônico, mecânico, inclusive por processos xerográficos, incluindo o uso da internet, sem
permissão expressa da Editora na pessoa do seu editor (Lei 9610 de 19/02/1998).
Está é uma obra de ficção. Nomes, lugares e acontecimentos são produtos do(a)
imaginação do autor(a). Quaisquer semelhanças com nomes e datas é mero acaso.
Laura amarrava seu cabelo enquanto escutava mais uma vez a briga
de seus pais. Era a terceira vez naquela semana, era sempre seu pai que
começava. Ela perdera as contas das vezes que amparou sua mãe depois das
brigas, faltando às aulas de balé para ficar ao lado dela. Acolhendo a mulher
que lhe dera à luz, mas que naquele momento precisava do colo da filha. Ao
mesmo tempo em que Laura cuidava da mãe, também ajudava a cuidar da
irmã pequena de quatro anos. Era ela para as duas. Seu pai não era um
homem ruim; tinha seus problemas como todos. Ele era presente, sempre
fazia questão de estar por dentro da vida das filhas, comprava presentes e às
vezes saía junto com a família, mas esses eram momentos raros.
Assim que Laura ouviu a porta da sala ser fechada com força, correu
para o quarto onde sua mãe estava e a encontrou na cama, chorando
copiosamente agarrada a um travesseiro branco.
— Não chore, mamãe! — Seus dedos brincaram entre os fios de
cabelos sedosos de sua mãe. — Isso é apenas uma fase. Eu li uma vez em
algum artigo que a maioria dos casais passam por crises assim. Logo a
senhora e o papai estarão de bem. Acredite!
Nem ela mesma acreditava em suas palavras. De certa forma, achava
que o casamento dos pais não tinha mais jeito, as brigas eram efeito do
desgaste de ambos. Eles perderam a paixão do início do casamento, o que os
mantinham juntos eram as filhas.
Sua a mãe a olhou como se pedisse por ajuda, e sem falar nada
abraçou a filha. Chorou outra vez em seu ombro e ali ficou até que seu
coração estivesse mais tranquilo.
A sensação que Laura sentia naquele momento era de sufocamento.
Ela queria gritar com pai, fazer com que ele enxergasse o mal que estava
fazendo a sua mãe e a si mesmo. Insistir em um amor que não te faz bem, não
é sadio, e Laura sabia disso.
Quando sua mãe já não mais chorava, ela a olhou nos olhos e sorriu.
Aquele sorriso dizia que estaria com ela no que fosse preciso. Beijou a testa
suada da mãe e saiu para sua aula de dança. Já estava em cima da hora. O
ônibus passava as cinco horas da tarde, nem um minuto a mais. Ela teria que
esperar o próximo ou pegar um táxi se quisesse chegar na hora e não levar
uma advertência. A escola de dança onde estudava era uma das melhores de
Nova Iorque, e para ela, era tudo ou nada. Seria naquele lugar que ela
realizaria seu sonho de se tornar uma grande bailarina, assim como sua mãe
foi antes de se casar. Laura não suportava o fato de que seu pai obrigara a sua
mãe a largar a dança. Para ela, era algo inadmissível, abrir mão dos seus
sonhos por outra pessoa, ainda mais um homem. Não cometeria o mesmo
erro que sua mãe, mesmo seu pai não concordando. Ele achava um absurdo a
filha querer seguir os passos da mãe, para ele, dançar não era um trabalho
digno, não para uma mulher descente.
Roendo o pouco de unha que ainda lhe sobrava, caminhou até o
ponto de táxi mais próximo de sua casa. Sairia mais caro, mas ela não
aceitaria ganhar uma advertência por causa do pai. Assim que avistou um táxi
livre, Laura correu e entrou dentro do veículo amarelo. O motorista
assustado, a olhou e como sempre acontecia com todos ao redor da morena
estonteante, ela o ganhou com apenas um sorriso sem graça.
— Por favor, ande rápido. Estou atrasada — pediu, olhando as horas
em seu celular.
O senhor de cabelos brancos e pele enrugada não disse nada. Ligou o
rádio do táxi e cantou pneus pelas ruas movimentadas de Nova Iorque. Não
podia se dar ao luxo de faltar, afinal de contas, era bolsista, e como toda
bolsista, Laura deveria seguir as regras. Um deslize e tudo iria por água
abaixo.
No banco de trás do carro, Laura trocava mensagens de textos com
sua melhor amiga, Christina, que sempre serviu de diário quando precisava
desabafar. Assim que as mensagens acabaram, guardou seu celular na bolsa e
olhou para a janela. Através do vidro ela viu a cidade passar correndo. Viu
mulheres lindas desfilando sobre seus saltos altos pelas calçadas, homens que
praticamente perdiam a cabeça ao olhar elas passando. Imaginou se algum dia
seria ela a arrancar suspiros dos homens. Sorrindo dos seus próprios
pensamentos, Laura sacudiu a cabeça mandando embora as ideias.
O prédio da escola de artes Dance Art School se aproximava. Ela já
conseguia ver as janelas dos andares onde várias turmas praticavam hip hop.
Pagou pela corrida e agradeceu ao taxista. Arrumou sua mochila nas costas e
seguiu rumo adentro dos portões de ferro.
Alguns alunos que estavam no pátio central da escola dançavam,
outros apenas estavam ali jogando conversa fora até o sinal bater. Caminhou
até um dos bancos de concreto e sentou-se. Faltava menos de dez minutos
para a primeira aula começar. Novamente, verificou o horário em seu celular
e viu uma chamada perdida de sua mãe. De início estranhou, já que sua mãe
quase não ligava quando ela estava na escola. Alguma coisa muito grave
deveria ter acontecido, pensou. Com apenas um toque, retornou à ligação:
chamou uma, duas, três vezes e ninguém atendeu. Ligou novamente e outra
vez caixa de mensagem. Seu coração acelerou de uma maneira que jamais
aconteceu antes. Sua respiração ficou pesada. Uma sensação estranha se
alastrou pelo seu corpo tomando conta de tudo.
Laura queria correr para casa, mas sabia que se fizesse isso corria o
risco de perder sua bolsa de estudos. Uma das várias regras que ela deveria
seguir era de não faltar sem motivo, e naquele mês já tinha uma falta devido a
uma forte gripe que sua irmã pegou. Passou a noite acordada com Nicolle no
colo, o que resultou em sua falta no dia seguinte. O cansaço havia falado
mais alto a fazendo perder a hora naquela tarde.
Engolindo todas aquelas sensações estranhas, Laura guardou o
celular ao ouvir o sinal tocar. Primeira aula: dança contemporânea.
— Boa tarde! — Olga, a professora que não sorria para ninguém,
entrou na sala e os cumprimentou. — Andem logo, não tenho a tarde toda.
Estilo livre hoje. Christina, você é a primeira.
Enquanto Christina se deixava ser levada pela música, Laura não
parou de pensar no motivo pelo qual sua mãe havia ligado. Sua cabeça não
parava de formular perguntas sem respostas, algumas até eram sem nexo.
Tudo o que ela queria era sair dali e tirar da cabeça e de seus ombros aquela
dúvida maldita.
— Laura. Laura! — Olga gritou. — Onde está com a cabeça? Estou
lhe chamando, mas parece que você está em outro lugar.
— Desculpe! — Limitou-se a não dizer mais nada. Olga não gostava
muito de Laura, e qualquer palavra que ela falasse, seria um grande motivo
para ser levada até a diretora Díaz.
Inspirado e expirando, Laura esticou o braço e o desceu. Rodopiou e
saltou conforme seu coração e corpo mandavam, mas sua mente dizia para
fazer diferente, e isso causou o conflito e uma queda. Todos na sala ficaram
calados, era proibido rir ou fazer piadas sobre os outros alunos, mas essa
regra parecia não valer para Olga.
— E você diz ser bailarina — zombou. — Olha só, uma bailarina que
não sabe saltar sem cair no chão.
— Eu posso fazer de novo...
— Calada, não terminei. Tenho que lembrá-la que aqui, você é uma
bolsista? E sendo bolsista tem que manter a média para não perder a bolsa.
Não me faça lhe dar uma nota baixa. Agora levantasse e vá para trás. Observe
como se faz. Cassandra, mostre o que sabe. — Laura engoliu a raiva e fez
como lhe foi ordenado.
Todas as aulas foram iguais, Laura não conseguia se concentrar.
Quando não caía, pisava no pé de alguém. Definitivamente, aquele não estava
sendo um bom dia. Ela deu graças a Deus quando o sinal tocou dando fim as
aulas.
Sem pensar muito, ela jogou sua roupa de dança dentro da bolsa e
correu para fora da escola. Precisava chegar o quanto antes em casa.
Assim que o ônibus a deixou em frente ao prédio em que morava, ela
correu. Algumas pessoas que estavam ali a olhavam correr feito louca pelas
escadas indo em direção do terceiro andar. Ela não tinha paciência para
esperar o elevador, subiu de dois em dois degraus até o seu andar e acelerou
ainda mais quando viu a porta do seu apartamento. Assim que ela girou a
chave e entrou, o cenário que encontrou foi terrível. O sofá vermelho de três
lugares estava virado. As fotos da família estavam todas jogadas no chão. O
choro alto da sua irmã era o único barulho que se ouvia ali.
— Nick! — gritou pelo apelido da irmã.
Assim que ela viu a imagem à sua frente, seu mundo caiu. Sua irmã
estava ao lado do corpo da mãe caída no chão do quarto. A pequena Nicolle
chorava abraçada a mãe que não demonstrava nenhum sinal vital.
Desesperada, Laura pegou a irmã e a tirou dali. Ligou para a emergência e
contou os segundos para que alguém chegasse para ajudá-los. Todo o
pressentimento que ela sentiu na escola era de fato algo ruim.
Laura continuou com sua irmã nos braços, tentava a todo custo fazer
com que a pequena parasse de chorar, mas era impossível, até mesmo ela
queria chorar, porém tinha que ser forte para sua irmã.
— Você é o que dela? — Um dos paramédicos perguntou a Laura.
— Sou irmã. Me diga, o que minha mãe tem? — perguntou, com os
olhos ardendo devido à pressão que ela fazia para não chorar.
— Vamos levá-la ao hospital, mas olhando assim posso dizer que ela
ingeriu uma grande quantidade de medicamentos. Preciso que alguém nos
acompanhe.
— Eu vou! — disse ao homem alto negro.
Laura pegou uma mochila e colocou algumas peças de roupa da irmã,
sua boneca preferida e foi até o apartamento vizinho. Dona Cecília morava
ali. Uma senhora de cinquenta anos que ajudava Laura a cuidar da irmã
quando precisava estudar e sua mãe não estava em condições emocionais
para ficar com a filha.
Ela explicou rapidamente o que havia acontecido e deixou a menina
ali.
Ao lado da mãe na ambulância, Laura segurava sua mão e pedia com
toda as suas forças para que ela saísse bem daquela situação. Ela queria fazer
perguntas, saber o motivo que a levou a cometer tal insanidade, mas lá no
fundo tinha suas suspeitas, ela só não queria que fossem confirmadas.
Em tempo recorde, a ambulância chegou ao hospital. Enfermeiros
ajudavam a levar sua mãe para a sala de emergência. Laura sabia que não
podia fazer nada, estava nas mãos dos médicos, mas o sentimento de
inutilidade a deixava louca, foi só então, que ela lembrou que poderia fazer
uma coisa, pequena, mas podia.
— Laura, minha filha.
— Onde o senhor está? — ríspida, ela perguntou rezando para que a
resposta não fosse a mesma que ela estava pensando. — Vamos, diga!
Ouve um minuto de silêncio. Um minuto que parecia ser uma
eternidade.
— Eu vou sempre amar você e sua irmã. Sempre serei o pai de vocês,
mas sua mãe e eu não tem mais jeito.
— Minha mãe está no hospital por sua culpa! Sua! — gritou,
esquecendo de onde estava. — O que você causou não tem perdão. Esqueça
que tem duas filhas, para nós você morreu. E peça a Deus ou em quem você
acredita, para que nada de ruim aconteça a ela.
Com os olhares repreensivos das enfermeiras de plantão, encerrou a
ligação. Mal sabia que seu pai já estava longe de toda sua ira.
CAPÍTULO 2
As horas pareciam ser arrastar diante dos olhos de Laura. Ela perdeu
as contas de quantas vezes foi até ao balcão de informações do hospital e
perguntou, mas todas as vezes ela sempre recebia a mesma resposta: “Não
temos informações sobre a paciente.”
Olhando a chuva fina que começava a cair naquele início da
madrugada, uma lágrima escorreu pelo seu rosto. Pela primeira vez desde que
tudo aconteceu, permitiu-se chorar. Seu peito doía por estar guardando todos
aqueles sentimentos dentro de si. Necessitava liberar toda angústia e medo, e
chorar era a maneira mais fácil naquele momento. Apoiando sua cabeça nas
mãos, chorava baixinho. Laura não queria chamar atenção para si, só queria
acordar e ver que tudo não passou de um terrível pesadelo.
— Familiares de Núbia Cooper — a voz cansada do médico trouxe
Laura de volta ao mundo real.
— Sou filha — respondeu, passando as mãos em seu rosto, limpando
os vestígios das lágrimas. — Como está a minha mãe, doutor?
Ele a olhou de cima a baixo e tentou descobrir sua idade. Laura
parecia ser mais nova do que aparentava, mesmo tendo um corpo de dar
inveja a outras mulheres.
— Quantos anos a senhorita tem?
— Dezenove, mas isso não vem ao caso, me diga como está a minha
mãe?
Ele suspirou e olhou na ficha que tinha nas mãos.
— Sou o doutor Félix. — Uma mão grande surgiu na frente de Laura,
e mesmo estando impaciente, ela retribuiu o gesto. — Sua mãe chegou aqui
em quadro muito grave. Ela ingeriu uma grande quantidade de
tranquilizantes. Fizemos uma lavagem estomacal e alguns exames. Ela está
muito debilitada; com uma anemia profunda e um quadro de infecção
pulmonar. Pelos exames, constatamos que ela era fumante há muitos anos.
Laura concordou com tudo.
Núbia fora fumante ativa desde seus dezoito anos. Foi nessa mesma
época que ela conheceu seu marido, depois de oito anos de casada engravidou
e trouxe ao mundo Laura, sua primeira filha.
— Posso vê-la?
— Não será possível, pelo menos não agora. Tivemos que levá-la
para o CTI, está sedada. Assim será melhor para a recuperação dela. Não
gostamos de deixar os pacientes em coma induzido, mas quero que entenda
que essa era a melhor opção para a sua mãe.
O chão parecia se abrir para Laura, e aos poucos ela estava sendo
sugada para dentro. Nada fazia sentido. Naquela mesma manhã, ela deixou
sua mãe bem e estável em casa, tão estável que não precisou deixar sua irmã
com a vizinha. Ela não sabia o porquê daquela reviravolta. Culpava-se por
não ter seguido seus instintos. Se martirizava também por não ter ficado com
a mãe, ela precisava da filha, e se ela estivesse lá para ajudar, talvez nada
daquilo tivesse acontecido.
Laura não tinha muito o que fazer naquela sala de espera. Aceitou o
conselho do médico e foi para casa. Ela tinha a irmã para cuidar.
Caminhou sem vontade até o ponto de ônibus e esperou até que a
condução chegasse. Sentada no último banco da condução, encostou a cabeça
no vidro e fechou os olhos. Estava cansada, mas não só fisicamente; muito
mais emocional.
A primeira coisa que ela fez assim que chegou em casa, foi pegar sua
irmã que já dormia tranquilamente. A colocou em sua cama e beijou suas
bochechas. Voltou para a sala e começou a arrumar toda aquela bagunça.
Pegou os cacos de vidros e com cuidado, os jogou no lixo. As fotos onde seu
pai sorria ao seu lado, ela fez questão de rasgar e jogar fora. Laura não queria
nada que a fizesse lembrar dele. Estava furiosa com ele, e precisaria de tempo
para poder colocar as ideias em ordens e confrontá-lo.
Tudo arrumado, ela decidiu que estava na hora de um banho. Talvez
aquilo a ajudasse um pouco. Laura abriu o registro do chuveiro e deixou que
ele esquentasse o máximo possível. Tirou sua roupa suada e a deixou jogada
ao chão. Não estava bem, ela sabia disso e qualquer um que a olhasse veria o
quanto estava cansada. De olhos fechados e cabeça erguida, ela sentiu as
primeiras gotas de água caírem sobre seu corpo. Uma corrente de alívio fez
morada em seu corpo. Seus músculos foram relaxando e ela soltou um longo
suspiro. Parecia que o banho tinha propriedades mágicas que a faziam
relaxar. Ainda no banho, Laura se deu conta de que sua mãe estava internada
no hospital central de Nova Iorque, um hospital de grande porte e caro. Ela
não tinha pensado em nada disso quando viu sua mãe caída no chão do
quarto, apenas ligou e implorou por socorro. Agora que tudo estava se
encaixando nos lugares certos, ela se deu conta de que não tinha dinheiro
suficiente para pagar os exames da mãe, ela teria que recorrer ao dinheiro que
vinha guardando para viajar com o grupo de dança. Uma viagem que estava
sendo programada para o final do ano, e ela era uma das dançarinas que iria
se apresentar para uma grande companhia de balé. Aquela era a chance de
Laura para dar um salto perfeito em sua carreira, mas parecia que o destino
não queria que isso acontecesse.
Depois de um banho esclarecedor, deitou-se no quarto da irmã, ela
não queria passar a noite sozinha. Precisava ter alguém ao seu lado, e esse
alguém era Nicolle, que não merecia ter visto a mãe caída no chão,
praticamente sem vida.
— Ah, Nicolle, como eu queria apagar da sua cabeça o que você viu
— lamentou, baixinho ao lado de sua irmã.
Com cuidado para não acordá-la, Laura se deitou ao seu lado e ali
adormeceu abraçada a irmã.
O sol mal havia raiado e a moça já estava de pé. Preparou o café da
manhã da irmã e deixou pronta sua mochila. Mas uma vez ela teria que deixá-
la com a vizinha. Hospital não era lugar para levar uma criança pequena, sem
contar que estava decidida a transferir sua mãe. A condição financeira delas
não as deixavam ter um plano de saúde que cobrisse esses tipos de incidentes,
nem outros. Seu pai nunca se dispôs a fazer um, nem para as próprias filhas.
Lembrar dele lhe causava náuseas.
— Obedeça a senhora Cecília. Tudo bem?
— A mamãe vai ficar bem? — Pela primeira vez desde que acordou,
Nicolle perguntou sobre a mãe. — Ela morreu?
— Não, meu amor. A mamãe não morreu. Ela passou mal, mas os
médicos estão cuidando muito bem dela. Daqui a pouco ela estará aqui com a
gente. Agora vai lá brincar com as netas da senhora Cecília. — Laura sentia
seu peito apertar. Era como se mentisse para sua irmã. — Vem cá. Me dá um
abraço.
Nicolle passou seus bracinhos finos ao redor do pescoço de Laura e a
beijou no rosto.
— Vai dar tudo certo, minha filha — disse Dona Cecília ao se
despedir de Laura.
Com a cabeça a mil por hora, pegou o primeiro ônibus que viu, nem
se importou com a superlotação, ela queria chegar cedo e rápido ao hospital.
Tinha muitas coisas para resolver no dia e o ônibus era o de menos.
O barulho alto das pessoas falando em seu ouvido a deixou com dor
de cabeça. Parecia que a cada parada que o motorista fazia mais e mais
pessoas entravam no coletivo. Não cabia mais ninguém, mas mesmo assim,
ele insistia em parar. Laura chegou a cogitar em descer alguns pontos antes,
mas ela já estava ali, então o que seria mais cinco paradas?
Assim que desceu do ônibus, respirou fundo. Aquele com certeza
tinha sido um percurso complicado. Laura deixou isso de lado e se dirigiu
para a entrada do grande hospital: um prédio de mais de trinta andares todo
espelhado por fora.
— Bom dia, por gentileza, eu quero notícias da paciente Núbia
Cooper. — Laura esperou para que a outra recepcionista a respondesse. Com
certeza já deveriam ter trocado de plantão.
— O doutor Félix irá atendê-la.
— Desculpa, mas você não sabe nada a respeito sobre a minha mãe?
— Nervosa, Laura pressionou.
— Somente o médico de plantão poderá informá-la. — A
recepcionista de cabelos vermelhos e pele branca, olhou para trás de Laura e
sorriu. — O doutor Félix está vindo.
Laura virou-se, irritada e foi até o médico que a encarava com um
semblante derrotado.
— Como está a minha mãe? Posso vê-la? Quero respostas.
Félix suspirou e delicadamente deu a notícia que ninguém deseja
ouvir.
— Infelizmente, sua mãe faleceu hoje pela manhã.
Se antes o chão parecia estar se abrindo e sugando Laura aos poucos,
agora ele definitivamente a tinha tragado para baixo. Acabara de ouvir que a
mulher que mais lhe importava faleceu. A mesma mulher que a carregou
durante nove meses. Aquela que brigou com o marido quando ele soube que
ela faria dança e foi contra. Sua guerreira havia se rendido e perdeu a batalha.
Laura se esqueceu de onde estava e correu pelo corredor, sem
direção. Ela queria ver com os seus próprios olhos, queria ver se era verdade
o que tinha ouvido.
Félix correu atrás de Laura e a alcançou. A trouxe para seus braços e
deixou que ela chorasse por sua perda. Infelizmente, ele passava por aquilo
todos os dias, era inevitável, mas aquela menina havia mexido como ele.
— Minha mãe... — O choro e a dor embaralhavam sua fala. Quanto
mais ela tentava falar, mais chorava. — Minha mãe... minha mãe morreu!
Com ajuda das enfermeiras, Félix e sua equipe levaram Laura até um
quarto para descansar. Ela não estava doente, no entanto, precisava se
acalmar para poder agilizar os papéis do enterro da mãe.
Um medicamento foi prescrito para que ela se acalmasse; nada
aliviaria sua dor. Parte dela havia morrido. Um buraco enorme abriu em seu
peito. Era uma dor sem explicação, algo que jamais ninguém conseguiria
preencher.
— Senhorita Cooper, sou Emília Stron. — Uma mulher vestida de
azul-escuro entrou no quarto. Seus cabelos loiros combinavam perfeitamente
com sua pele branca feito porcelana. — Sinto muito por sua perda. Sei o
quanto é difícil, mas temos que tratar de alguns assuntos burocráticos. Sou
assistente social do hospital e quero saber qual plano de saúde e funerária a
senhora Núbia possuía?
A jovem encarou a mulher à sua frente e não respondeu nada. A
assistente social perguntou novamente, mas não obteve resposta. Laura estava
em choque. Sua ficha ainda não tinha caído.
— Senhorita Cooper? — Emília tentou mais uma vez. — Se a
senhorita não estiver em condições de cuidar desse assunto, terei que entrar
em contato com outro parente.
— Sou a única responsável. — Com dificuldade, Laura conseguiu
falar. — Não temos plano de saúde e nem funerária.
Emília, que antes mostrou-se amigável, bufou e revirou os olhos. Ela
detestava o seu trabalho, odiava ter que lidar com pessoas do nível social de
Laura, contudo, tinha que manter a postura profissional. Emília nem sempre
odiou seu trabalho, mas havia dias que ela desejava nunca ter escolhido
aquela profissão.
— Peço que passe no balcão de informações e negocie a melhor
maneira de pagar pelo tempo que sua mãe ficou aqui. Infelizmente, não posso
fazer muito. Trabalhamos com planos e se soubéssemos que a senhora Núbia
não possuía nenhum, seria impossível deixá-la aqui. Me desculpe.
Se Laura estivesse em condições emocionais boas, ela teria pulado
em cima da loira e arrancado fio por fio daqueles cabelos com as mãos. Mas
o que ela fez, foi levantar e passar por Emília como se ninguém estivesse ali.
Seguiu até o balcão de informações e assim que chegou à conta do
hospital já estava pronta. Parecia que ela andava com um letreiro escrito na
testa EU SOU POBRE em letras garrafais.
— Tudo isso? — perguntou, assustada.
— Está tudo explicado. Internação, exames, quarto e remédios. — A
recepcionista indicou com dedo. — Dinheiro ou cartão?
Laura sabia que sairia caro uma consulta naquele hospital, ela só não
imaginava que seria explorada daquela maneira. Mesmo que possuísse um
bom plano de saúde, ainda assim não conseguiria uma internação ali.
— Dinheiro. — Então, Laura puxou sua carteira e tirou o cartão de
debito, todo o dinheiro que havia juntado com o seu trabalho de babá, e
pagou. Ficou apenas com a quantia certa para pegar o ônibus de volta para
casa. — Como faço para ver minha mãe?
— No momento o corpo está no IML. Assim que a funerária que a
senhorita escolher chegar ao hospital, eles a levarão para realizar os
procedimentos para o enterro — informou a recepcionista. — Sei que é um
momento difícil, mas preciso saber, pretende doar os órgãos da senhora
Núbia?
Laura não fazia ideia de como aquela pergunta poderia machucar até
que ouviu.
— Sim. — respondeu, sem ânimo, porém certa de que sua mãe
aprovaria sua decisão.
Juntando o resto das suas forças, Laura arrastou seus pés para fora do
local. Eram quase uma hora de distância do hospital para sua casa de ônibus,
tempo o suficiente para ela pensar em como faria dali para frente. Ela só tinha
uma saída, ligar para seu pai. Com suas mãos trêmulas, ela pegou seu celular
na bolsa e discou o número dele.
“O número digitado não existe.”
Laura franziu o cenho. Conferiu se o número estava certo e ligou
novamente.
“O número digitado não existe.”
Ela tentou mais uma vez e a mesma resposta foi ouvida. Ele havia
cancelado seu número, cortando de vez qualquer vínculo com a família.
Laura estava sozinha no mundo, era somente ela e sua irmã. Sem mãe
e abandonada pelo pai. Uma adolescente que teria que amadurecer cedo
demais, tomando para si as responsabilidades que até o momento, não eram
dela.
Ela desceu do ônibus, e passou direto pela porta da dona Cecilia.
Necessitava de um tempo sozinha para pensar. Assim que parou em frente à
sua porta, uma carta colada chamou sua atenção. Uma pequena chama de
esperança se acendeu dentro dela, talvez seu pai estivesse explicando tudo
através daquela carta.
Ela a pegou e viu que não era uma simples carta, e sim uma ordem de
despejo. Seu pai não pagava o aluguel havia quatro meses, e aquele era o
último aviso. Laura entrou em desespero, viu que de fato estava sozinha e de
brinde, seu pai lhe deixara uma dívida. Ela se perguntou o que mais lhe
faltava acontecer.
CAPÍTULO 3
Longe dali, Juan pressionava seus capangas. Ele estava furioso com a
demora para encontrar uma pessoa. Era a primeira vez que tentavam fazê-lo
de otário, e aquilo o fez jurar que mataria o desgraçado.
— Senhor, não encontramos nada. Parece que ele sumiu da face da
terra.
— Não quero saber! — Irritado, ele socou o saco de areia pendurado
em sua sala.
— Eu quero informações sobre àquele filho da puta. Qualquer coisa!
— Ele tem duas filhas. — disse o capanga, temeroso.
Juan o olhou furioso pela demora para lhe passar aquela informação.
— Onde elas moram? Quero nomes, porra!
— No centro de Nova Iorque. A mais velha se chama Laura e a
pequena Nicolle.
“Laura, bonito nome.”
— Então, vamos hoje mesmo fazer uma visita a nossa mais nova
amiga, Laura. — Com um plano em mente, Juan secou o rosto com uma
toalha vermelha. Sorriu diabolicamente para os demais homens que ali
estavam e então partiram rumo à casa de Laura.
CAPÍTULO 4
Juan acelerava em sua moto pelas ruas de Nova Iorque. O vento batia
contra sua jaqueta de couro preta e o som do ronco do motor embalava sua
corrida, aquela era a vida que ele levava. Perigoso e implacável. Destemido e
sedutor. Não era o tipo de homem romântico e galante, ele era intenso. Com
seu olhar penetrante conseguia arrancar suspiros por onde passava, sabia
disso, e gostava. Para ele não tinha tempo ruim, se fosse preciso caçar alguém
nos confins do inferno ele iria. Não seria diferente com David. Juan atingiria
um por um até chegar em seu alvo principal. Ele não perdoava ninguém, o
que era dele, ele pegava, e o que não era, ele levava também. Juan havia sido
criado assim, e assim seria para sempre.
Estava a poucos metros de seu destino, a casa de Laura. Ele não sabia
o que encontraria lá, e pouco o importava qual seria a reação dela, tudo o que
Juan queria era receber o que era dele por direito, nem que para isso fosse
preciso derramar sangue.
Ele avistou o prédio e reduziu a velocidade até parar. Saltou da moto
e colocou o capacete no banco.
— Erick, cuide das motos. Não vamos demorar — disse, sem olhar
para o garoto que acabara de completar vinte anos, mas parecia não ter mais
que dezesseis.
Acompanhado dos seus capangas, Juan entrou no prédio sem fazer
barulho. Subiu pela escada até o andar onde a moça morava. Continuo
caminhado a passos lentos e largos até a porta do apartamento certo. Tudo
estava sendo feito em perfeito silêncio. Com o auxílio de uma ferramenta, ele
abriu a fechadura da porta e entrou. O escuro do lugar os abraçou e foi quase
impossível de achar o interruptor da luz. Assim que as luzes da sala se
acederam, um dos homens que estava com ele, esbarrou em um jarro de
plantas fazendo um barulho enorme ecoar pela casa.
Laura que dormia tranquilamente em seu quarto, acordou assustada
com o barulho. Ela olhou para seu lado da cama e viu que sua irmã
continuava a dormir.
“O que será esse barulho?”
***
***
Seis anos à frente, Laura dançava feliz com seus amigos em sua
pequena festa de dezoito anos. Era uma data importante para ela, seria
quando sua maioridade chegaria e assim ela poderia, finalmente, entrar na
escola de artes e cursar balé como sempre sonhou. Seu pai não a apoiava,
dizia sempre que ela não seguiria os passos da mãe, pois menina de família
não dançava para os outros. Era como se ela estivesse se insinuando para os
homens.
— Eu disse que não queria uma festa aqui! — David gritou, fazendo
com que todos ouvissem. — Laura, acabe com isso!
— Papai, é só uma reunião, nada demais.
— Você está dançando e se insinuando. Não quero filha minha
assim, igual a uma...
David não terminou de falar, foi em direção ao som e desligou a
música. Com o rosto enrugado, ele abriu a porta e enxotou para fora de sua
casa os amigos de Laura como se fossem cães sarnentos.
Ela não podia falar nada, sabia que sua opinião não seria ouvida.
Juan não conseguia aceitar o fato de que Laura sempre o dizia não.
Ele não gostava da sensação que ela causava em seu corpo.
Depois que a morena saiu e o deixou parado no meio da calçada,
sozinho, decidiu que não desistiria. Ele sempre foi temido pelos demais
gangster de Nova Iorque. Com seu jeito frio, olhar marcante e tatuagens, Juan
era implacável. Ele a seguiu até a entrada de um abrigo. Não a forçaria a
nada, ele sabia que as coisas ficariam piores, ainda mais vivendo sob o teto
de um abrigo. Juan esperou a tarde inteira e foi no início da noite que ele a
viu caminhando a passos lentos como se carregasse o peso do mundo nas
costas.
Assim que saiu do apartamento onde Laura e sua irmã dormiam, Juan
pegou seu carro e dirigiu até sua boate. Ele sabia que não conseguiria dormir
naquela noite. Ele precisava de agitação, e nada melhor do que ver várias
mulheres lindas tirando suas roupas. Só de pensar ele já ficava excitado.
Mulher sempre resolvia, mas às vezes elas eram o problema.
Dirigindo rapidamente e avançando alguns sinais fechados,
estacionou seu carro na frente do prédio enorme. Jogou as chaves para Ed, o
manobrista, e entrou. Quem olhasse para o ambiente, pensaria que era apenas
mais uma boate comum, mas o que muitos não sabiam, era que por trás da
parede escura do DJ, ficava a entrada para a verdadeira boate.
— Papi. — Lupi, uma das suas melhores strippers, o chamou. Ela era
uma morena de curvas incríveis e seios fartos. Sua pela caramelizada e seu
sotaque cubano a deixava sexy. — ¿Qué haces aquí en este momento, Papi?
— Já disse para não falar em espanhol. Você não está mais em Cuba.
— Lo siento, papi. — Cabisbaixa, Lupi falou.
— Dance para mim.
Ela sorriu e correu para o centro de um dos palcos vazios. A boate
que Juan gerenciava era grande, suas paredes em tons escuros davam ao
ambiente um ar sombrio. Luzes baixas, sofás de cantos, algumas mesas
espalhadas pelo lugar e cinco palcos. Haviam dois palcos pequenos de cada
lado e um maior no centro da boate. Nesse palco, era onde acontecia os
shows de strip-tease. Mulheres dançando e tirando as roupas ao mesmo
tempo. Homens desejando tê-las em suas camas, era isso que Juan gostava.
Lupi dançava, sensualmente, olhando fixo para ele que parecia estar
em outro lugar. Sua cabeça não parava de repassar a cena de Laura chorando.
A forma como ela batia na almofada. Uma raiva que somente uma pessoa
machucada de verdade pode sentir.
Ele bebeu o último gole de seu uísque, tragou seu cigarro e levantou.
Cansando, ele deixou algumas notas de dinheiro sobre o palco e saiu. Ele não
precisava pagar, mas aquele era o trabalho de Lupi, dançar para poder mandar
dinheiro para sua mãe doente.
Juan não foi para casa, ele estava cansado demais para dirigir. Entrou
em seu escritório, deitou no sofá e dormiu.
***
Juan acordou mais cedo do que o costume. Seu pescoço doía devido
ao mau jeito que dormiu. Espreguiçou-se, passou as mãos em seu rosto,
pegou sua jaqueta de couro e seu celular. Ele precisava ir para casa tomar um
banho.
Passando por algumas garotas que trabalhavam ali, seguiu até onde
seu carro estava. Ed, entregou as chaves e Juan cantou pneus pelas ruas ainda
vazias.
Ele queria chegar o quanto antes em casa e tomar um banho, jogar
algo dentro de sua barriga que gritava por comida, e foi só então que se
lembrou de Laura. Ela deveria estar com fome, e essa era uma ótima hora
para fazer uma visita e tentar mais uma vez trazê-la para a boate. Juan deu a
volta e seguiu rumo ao prédio onde a jovem estava. Ao lado do prédio, tinha
uma padaria, ele pararia ali e compraria o café da manhã dos três. Ele tinha
tudo armado em sua cabeça e daquela vez não aceitaria um não como
resposta.
Dirigindo confiante, não demorou muito para chegar. Estacionou seu
carro em frente ao prédio e entrou na padaria.
— Juan, meu filho! — Mirtes, uma senhora com seus quase setenta
nos de idade, o cumprimentou assim quando o viu. — Que bom vê-lo por
aqui.
— É bom revê-la — Juan disse. Mirtes era a única quem Juan
deixava que se aproximasse dele. Era a única que sabia das coisas que fazia,
mas não o julgava. — Quero que prepare uma cesta de café da manhã.
Capriche.
Mirtes não fez perguntas, como sempre. Limitou-se a sorrir de lado
para ele e começou a preparar seu pedido. Dentro da cesta ela colocou bolo
de chocolate, torradas, geleia de morango, a garrafa de café e outra de
achocolatado. Algumas frutas e frios. Tudo pronto, Juan pegou a cesta e saiu
dali. Cinco passos e ele já estava entrando no prédio. Subindo devagar os
degraus das escadas, Juan mantinha um sorriso de vitória nos lábios. Apertou
a campainha do apartamento e não demorou muito para que uma Laura de
olhos inchados e rosto molhado o atendesse.
— Bom dia, Laura.
Laura secou seu rosto, olhou para as mãos de Juan, que seguravam
uma cesta parecida com uma que sua mãe tinha e usava para fazer
piqueniques.
— Oi — respondeu.
— Trouxe o café da manhã. — Ignorando o olhar assustado de Laura,
Juan entrou no apartamento e foi direto para a cozinha. Depositou sobre a
mesa a cesta e voltou para a sala. Laura estava virada para a janela e chorava
baixinho, agradecendo a Deus por ele ter mandando Juan ali com comida. Ela
não se importava com mais nada a não ser sua irmã. Seu bem-estar era o que
importava. Ali, chorando em silêncio, Laura tomou uma decisão.
— Juan? — ela o chamou, e quase gritou quando virou e o viu parado
atrás dela. — Eu aceito.
— Aceita o que, Laura? — Fingindo de desentendido, Juan cruzou
seus braços e arqueou uma das suas sobrancelhas.
— Aceito ser dançarina da sua boate.
Juan sabia que ela já estava no fundo do poço, e por mais que
tentasse ficar de pé e tentar fugir, ela jamais conseguiria sem ajuda dele.
— Onde está sua irmã?
— Dormindo, por quê?
Ele andou até o sofá e sentou. Laura fez o mesmo, porém manteve
um pouco de distância.
— Quero explicar como isso irá funcionar. — Laura concordou. —
Você dançará na minha boate, mas não é uma boate qualquer, é uma boate de
strippers. — Laura fez menção de falar, mas ele não a deixou. — Você não
precisa dormir com ninguém, a não ser que queira. Dançará tirando a roupa,
igual as demais mulheres que trabalham lá. Isso trará comida para sua casa e
aos poucos a dívida de seu pai vai sendo paga. Prometo não fazer nada contra
você ou sua família, se, cumprir com o combinado. Ninguém tocará em você
na boate.
Laura ponderava se aquilo era certo. Ela não queria ter que se despir
para ganhar a vida, mas parecia que aquela era única opção. Todos estavam
de prova do quanto ela correu atrás de um emprego, de quantas respostas
negativas ela recebeu todas as manhãs que saía de casa com apenas um copo
de água no estômago, pois dava seu café da manhã para sua irmã. Ela não
queria mesmo seguir um caminho desconhecido e talvez assustador, mas não
tinha outro jeito. Sua irmã dependia dela.
— Feito. Mas não me deitarei com nenhum homem.
— Tudo bem. Mas responda uma coisa, você é virgem? — Juan
sentiu seu membro pulsar dentro da cueca preta que usava. Ele estava
enlouquecendo de curiosidade para saber se ela já havia se entregado para
algum homem antes.
— Isso não é da sua conta — Laura respondeu com raiva e levantou
do sofá. — Vou chamar Nicolle para tomar café. Só te peço uma única coisa,
que não fale isso para ninguém. Não comente coisas relacionadas a boate
quando minha irmã estiver por perto. Não quero que ela saiba.
Juan sorriu em concordância. Ele não teria o porquê de discutir com
ela, já tinha conseguido o que queria. Ele estava matando dois coelhos com
uma tacada só.
Depois de um café da manhã um tanto estranho, Juan deixou
instruções para Laura de como chegar na boate. Deixou também um dinheiro
para que ela pegasse um táxi e, com aprovação de Laura, ele contratou
alguém para que cuidasse de Nicolle enquanto ela trabalhasse.
A noite se aproximava com rapidez, e quando Laura percebeu, já
estava parada do lado de fora da boate. Seu corpo todo tremia de medo. Ela
quis voltar, sair correndo dali, mas toda vez que lembrava de sua irmã
pedindo comida, seu coração se partia ainda mais.
Respirando fundo, caminhou até a entrada. Disse seu nome ao
segurança que liberou sua entrada. Seguiu até a porta secreta que Juan havia
dito mais cedo e se assustou quando viu algumas mulheres dançando nos
palcos. Não tinha ninguém além delas na boate, pareciam estar em algum tipo
de ensaio.
Uma mulher de olhos puxados avistou Laura e foi em sua direção.
— Está perdida, minha flor?
— Procuro por Juan. Sou...
— Laura! Bem na hora. — Ele surgiu em seu campo de visão.
Trajava um terno três peças muito bem desenhado para ele. Seu cabelo
penteando de forma certa, alguns botões da camisa de dentro abertos,
revelando parte de alguma tatuagem que ele tinha no peito. — Venha, vamos
trocar essa roupa.
Laura segurou em sua mão, assustada. Andaram até uma sala que
parecia um camarim. Um espelho grande cobria uma das paredes do cômodo.
Araras de roupas espalhadas pelos lados. Luzes fortes iluminavam o lugar.
— Eu...
— Sua roupa está naquela bolsa. — Juan apontou para uma mochila
vermelha. — Vista rápido. Faça uma maquiagem forte, e coloque a máscara
que está junto com a roupa. Você será minha atração principal. Bem-vinda ao
meu mundo, Laura.
Juan saiu a deixando sozinha. Ela poderia chorar de arrependimento,
poderia denunciar aquilo tudo para a polícia, mas de qualquer maneira ela
ficaria na pior.
De frente para o espelho, começava a fazer sua maquiagem. Olhos
marcantes em tons escuros, boca vermelha como sangue. Ela estava quase
pronta, faltava apenas a máscara e pronto.
— Sua vez. — A voz de uma das meninas da boate lhe trousse de
volta a realidade. — Vamos?
— Sim — respondeu, insegura.
Caminhando a passos lentos até a escada lateral que dava acesso ao
palco. Contou mentalmente até dez e subiu. Em cima do palco, olhou toda a
plateia a sua volta. Homens de várias idades estavam lá para lhe ver dançar.
Olhou para o lado e encontro Juan lhe observando. Seus intensos
olhos azuis sobre ela, lhe encorajavam e amedrontavam ao mesmo tempo. Ela
não queria estar ali, mas era necessário.
Respirou fundo quando o som envolvente e sensual da música
começou a tocar. Segurou com força no poste de pole dance e começou com
os primeiros movimentos. Na arte da dança, você não precisa apenas saber
dançar, tem que gostar do que faz, e ela gostava. Rodopiou para um lado e
depois para o outro, deslizou subindo sem perder o contato visual com a
plateia. Ela estava ali não apenas para dançar e sim, seduzir. Seus dedos
trabalhavam no fecho do sutiã preto. Respirou fundo quando se livrou da
peça, deixando seus seios amostra. Eles estavam loucos, gritando e batendo
palmas pedindo por mais. Voltou a dançar, lentamente, se deixando ser
levada pela melodia. O clima era propício. As luzes baixas, o som da música
no nível certo, até o perfume que escolheu para aquela noite estava de acordo,
mas o que mais chamava atenção era a máscara. Uma máscara preta com
pedras brilhantes cobria metade do seu rosto. Não era um adereço que sempre
usaria, mas era necessário para a sua estreia. Ao final da dança ela iria se
livrar delas, e assim revelando seu rosto. Como Juan disse horas atrás,
mistério é a alma no negócio, e ela seria o mistério da noite.
Novamente parou de dançar. Outro suspiro e se livrou da calcinha
que fazia par do sutiã. Nua. Ela estava completamente nua diante de vários
olhos famintos por sexo. Sentiu sua pele arder como se estivessem lhe
ateando fogo. Os olhares a queimavam, proporcionando-lhe um misto de
sensações novas e prazerosas.
Os acordes finais da música são tocados, dando fim a dança. Virada
de costas, tirou a máscara e a deixou cair ao seu lado. Sensualmente, olhou
por cima do ombro e sorriu para os homens que pareciam estar hipnotizados.
Pronto, agora não tinha mais volta.
***
***
***
Laura desfilava sobre seus saltos altos pretos, vestido justo e cabelos
presos. Depois de deixar sua irmã na nova escola, resolveu sair para procurar
um emprego, seu plano era trabalhar de manhã e dançar na boate à noite,
assim ela ganharia dinheiro mais rápido e pagaria a maldita dívida que seu
pai lhe deixou de presente de despedida.
Um raio cortou o céu de Nova Iorque, e em poucos segundos pingos
grossos de chuva caíram sobre a sua cabeça. Correndo desesperada na
tentativa de escapar da chuva, entrou no primeiro estabelecimento aberto que
encontrou. Lá dentro, várias pessoas se abrigavam do temporal que caía sobre
a cidade. Outro raio e de repente tudo estava escuro. As luzes da rua também
haviam se apagado, o que indicava que havia faltado luz.
— Vocês não têm um gerador de emergência? — Uma voz rouca
surgiu do meio. — Velas? Qualquer coisa. Tem mulheres e crianças aqui.
Andando devagar tentando não esbarrar em ninguém ou em nenhum
objeto. O que a tranquilizava era saber que sua irmã estava a salva na escola.
— Ai! — Laura gritou quando sentiu alguém pisar em seu pé.
— Me desculpe, está muito escuro. — Era o dono da voz que
reclamava com o dono do local. — Você está bem?
— Sim, não foi nada.
Fuçando em sua bolsa, Laura tirou seu celular e ligou a lanterna.
Apontou para seu pé só para ter certeza de que não havia machucado e foi
então que ela o viu.
Laura conseguiu sentar em uma mesa. Colocou sua bolsa sobre ela e
ficou à espera da luz voltar e da chuva parar.
Pietro encarava Laura com espanto. Ela estava bem ali na sua frente,
o fitando sem piscar. Parecia que seus olhares estavam conectados um ao
outro. Era uma ligação estranha e inexplicável, tão forte e densa que chegava
a ser palpável.
— Prazer, Pietro. — Educadamente, ele esticou sua mão em forma de
cumprimento.
— Laura. — Suas mãos se uniram e uma corrente elétrica percorreu
entre eles.
— Posso me sentar?
Com um leve aceno de cabeça, concordou.
Pietro sentou na cadeira à sua frente. Ele havia esperado tanto por
aquele momento, que finalmente havia chegado e ele não sabia o que falar.
Estava fora de cogitação falar que sabia onde seu pai estava e com quem ele
estava. Uma notícia assim não se dá de qualquer jeito. Ela não poderia saber
quem era ele.
— Espero que a luz não demore a voltar — comentou ele, tentando
puxar assunto.
— Concordo. Tenho que procurar emprego. Com luz já está difícil,
imagine sem.
Como se fosse um raio, uma ideia surgiu em sua cabeça. Seria
perfeito para se aproximar dela sem levantar suspeitas.
— Verdade, conseguir um bom emprego que pague bem está muito
difícil, creio que para todo mundo.
Laura o olhava atentamente enquanto ele falava. Ela estava encantada
com a sua beleza. Seus olhos demonstravam confiança, uma confiança que
ela não via há tempos.
Seu celular piscou a tirando do encantamento.
— Merda! Estou ficando sem bateria — disse ela, e desligou a
lanterna. Outra vez a escuridão pairou sobre o lugar. Laura odiava ficar no
escuro, sempre teve medo, porém, disfarçava bem para que sua mãe, na
época, não descobrisse.
Ela sempre se fez de forte, corajosa, tanto para sua mãe quanto para
sua irmã, mas desde que seu pai as deixara e sua mãe faleceu, ela descobriu o
quanto, realmente, era forte.
— Precisa usar o celular? — perguntou, Pietro colocando a mão no
bolso. — Pode usar o meu se quiser.
— Não, obrigada! — disse, sorrindo. — Eu só quero que essa chuva
passe logo. Preciso urgentemente arrumar um emprego.
— Não quero ser intrometido, mas porque tanto desespero?
Laura ponderou, antes de responder.
— Não está sendo intrometido. — Riu. — Tenho uma irmã pequena
para cuidar, escola para pagar e aluguel. Alimentação e coisas básicas. Por
isso estou tão desesperada — suspirou. — Minha mãe faleceu tem poucos
meses, nosso pai nos abandonou no dia em que ela... ela...
— Não precisa falar. — Pietro tocou sua mãe sobre a mesa. — Tudo
bem.
Pietro já odiava o pai de Laura por saber que ele tinha abandonado a
família, seu sentimento de ódio e raiva só fez aumentar quando soube que sua
esposa havia falecido e Laura estava à mercê da sorte. Ele sabia o que ela
fazia a noite para ganhar a vida e não a julgava, mas ele tinha que fazer algo
para que ela se reerguesse.
— Tenho uma proposta para fazer. — Seus olhares de conectaram.
— Estou prestes a fechar um negócio. Sou arquiteto e irei fazer a reforma de
um café, posso falar com o dono do lugar e arrumar para você um emprego
lá. O que acha?
Laura franziu o cenho. Aquilo estava bom demais para ser verdade.
Ninguém oferece um emprego assim do nada para outra pessoa sem ao
menos ver o currículo ou conhecê-la.
— Por que está querendo me ajudar? Você nem me conhece. Quem
garante que não estou mentindo? Ou que não sou uma garota de programa
querendo dar o golpe do baú?
Ela queria aceitar, mas ao mesmo tempo algo dentro dela gritava para
que o ignorasse e saísse de lá.
Pietro riu, mas ela não conseguiu ver muito bem devido a escuridão.
— Digamos que, me identifico um pouco com a sua história de vida.
Então, o que me diz? — perguntou de novo.
Laura ficou calada. Ela colocou na balança os prós e os contras, até
chegar na resposta certa.
— Não custa nada tentar. — Ela sabia que corria um grande risco de
acabar se dando mal naquela história, mas também sabia que tinha que pagar
suas contas e uma dívida alta. Quanto mais dinheiro ganhasse, mais cedo ela
se livrava de Juan e da boate.
CAPÍTULO 12
***
Na cozinha, ela tentava fazer alguma coisa para sua irmã comer, mas
o rosto de Pietro e seu sorriso galante não saiam de sua cabeça.
— Laura? Laura? LAURA! — gritou Nicolle, trazendo de volta para
a realidade sua irmã.
Laura percebeu que a panela que ela havia colocado no fogão estava
queimando. Seus pensamentos haviam ido tão longe que ele nem se lembrava
mais do que estava fazendo.
— Merda! — esbravejou, irritada. — Lá se vai o arroz.
Com auxílio de dois panos de pratos, Laura tirou a panela de arroz
queimado do fogão e colocou sobre a pia. Frustrada, ela olhou para sua irmã
que a encarava sem entender nada.
— O que acha de pedirmos comida?
— Eba! Quero sobremesa também. Eu mereço. Estou me
comportando na escola nova, mesmo eu sendo diferente das outras crianças.
Franzindo o cenho, Laura dobrou os joelhos e ficou na altura de
Nicolle. Acariciou seu rostinho gordinho e conseguiu ver as lágrimas que se
formavam em seus lindos olhinhos.
— Porque você disse que é diferente das outras crianças? — Nicolle
fungou. — Nick, alguém está fazendo alguma coisa para você?
Negando com a cabeça, Nicolle respondeu:
— Todas as crianças da minha sala têm mamãe e papai, e eu não.
Eles ficam falando que ninguém me quis, por isso foram embora. —
Soluçando, a pequena Nicolle agarrou o pescoço de sua irmã e chorou.
Laura sentiu seu coração se partir, se é que ela ainda tinha um
coração. Seu peito começou a doer, tamanha era a raiva que ela estava
sentindo naquele momento da vida. Não disse nada, apenas continuou
abraçada a sua irmã até que ela se acalmasse.
Laura não viu o tempo passar. Abraçadas, as irmãs entraram em seus
mundos diferentes e ali ficaram. Nicolle chorava porque queria seus pais de
volta, e Laura não parava de pensar em como faria para que sua irmã nunca
mais tivesse que passar por tal sofrimento.
— Meu anjo... — começou Laura. — Nem sempre as coisas
acontecem como queremos. Uns tem só papai, outros tem só a mamãe, e tem
aqueles que não tem ninguém. Mas isso não significa que eles são diferentes.
Todos somos iguais. Por baixo da pele, corre o sangue da mesma cor, os
ossos são brancos. Então quando alguém falar que você é diferente, não
importa o motivo, não fique triste. Do mesmo jeito que tem pessoas que não
tem o pai ou a mãe, também tem aqueles que são apenas fracos por julgarem.
Você é incrível, Nicolle. Ouviu?
— Eu te amo, Laura! — disse Nicolle, saindo do abraço de sua irmã.
— Não me deixe.
— Jamais irei te deixar. Eu também te amo, meu anjo.
Mais alguns abraços foram dados, lágrimas derramadas e então,
finalmente, Laura ligou para o restaurante pedindo comida.
Depois do almoço, Nicolle correu para a sala. Ela estava animada
para assistir ao filme de desenho que passaria. Enquanto isso, Laura
procurava nos jornais por uma escola de balé. Ela queria voltar a dançar, não
na boate, mas profissionalmente. Seu sonho era ser uma bailarina
mundialmente conhecida, mas seu sonho estava sendo deixado de lado. Fazia
tempo que ela não colocava uma sapatilha de balé e nem vestia tutu. Ela
sentia falta da sua vida normal, de ter que pegar o ônibus cheio até a escola.
De ouvir as mesmas piadas sem graça das mesmas pessoas. De ter que se
esforçar ao máximo para não perder a bolsa de dança. Porém, Laura sabia que
sua antiga vida estava morta.
Três batidas na porta chamaram sua atenção. Ela dobrou o jornal,
deixou sobre a pequena mesa de centro da sala e seguiu até a porta.
— Boa tarde, Laura. — Juan sorriu. — Podemos conversar?
Tinha algo nele que mexia com a cabeça de Laura. Poderia ser o fato
dele ser perigoso ou suas tatuagens. Ela não sabia ao certo, apenas sentia sua
vagina pulsar com a sua presença máscula.
— Claro! — Ela deu passagem para ele entrar. — Vamos para a
cozinha, Nicolle está na sala.
Juan fez menção com a mão para que Laura fosse na frente e depois a
seguiu. Juan estava calado, pensativo, porém, decidido do que havia ido
fazer.
— Laura, vou ser direto. — Juan a cercou. Prendeu seu corpo contra
a parede e a encarou. — Você a melhor dançarina da boate. Os homens vão à
loucura quando você sobe no palco. Eles fazem filas para vê-la tirar a roupa.
Imagina o quanto você ganharia se fosse uma acompanhante de luxo?
Os olhos de Laura quase saltaram para fora das órbitas quando ela o
ouviu.
— Você quer que eu me torne uma prostituta? — indagou. — É isso?
— Não, Laura. Uma acompanhante de luxo. Você teria apenas os
melhores clientes, eu até deixaria você escolher quais os clientes. Eles pagam
bem, e sei que você precisa de dinheiro, ou já se esqueceu da dívida do seu
pai?
Se Juan não fosse tão perigoso, Laura já teria esbofeteado seu rosto,
mas ela o temia não só por sua vida, mas também pela sua irmã que está
estava a poucos metros dali assistindo televisão sem saber o tamanho da
merda em que elas estavam atoladas.
— A resposta é não!
— Pense bem, Laura. Não vou oferecer outra vez. Já estou dando
muitas segundas chances a sua família e eu não sou assim.
Ele a soltou. Segurou firme em seu queixo, e ali depositou um beijo
no canto de seus lábios.
Laura sentiu seu corpo estremecer assim que ele saiu. Ele a deixava
com medo, e também a fazia sentir desejo.
“Louca! Estou ficando louca.”
Não descriminava quem seguia aquele tipo de vida, não julgava
ninguém por suas ações, mas ela tinha o direito de dizer não a propostas
como a de Juan. Se fosse necessário ter que dançar por mais três, quatro anos
até que a dívida de seu pai estivesse paga, ela dançaria.
Tentando esquecer o ocorrido com Juan, Laura decidiu ligar para sua
antiga escola de dança.
— Sim, eu sei que não tenho mais direito a bolsa... Sim, também sei
que estamos no meio do ano e eu abandonei as aulas. — Laura estava a mais
de dez minutos tentando convencer a reitora da sua antiga escola que tinha
condições de pagar pelas aulas. — Eu posso pagar. Quero continuar de onde
parei, por favor. Sim, amanhã estarei aí bem cedinho. Obrigada. Boa tarde!
Pulando de alegria com o celular na mão, Laura fez um dos passos de
balé que sempre fazia nas aulas, plié.
— Me ensina a fazer isso também? — Nicolle surgiu surpreendendo
Laura.
— Claro que ensino, meu amor. Vamos, é assim....
Naquela tarde, Laura e Nicolle riram e dançaram até se esquecerem
da dor que as atormentavam.
CAPÍTULO 13
Vida normal.
Essas eram as duas palavras que não saiam da cabeça de Laura. Ela
não sabia mais o que significava ser normal. Seus dias se resumiam em levar
sua irmã para escola e a noite dançar na boate. A ideia de que logo sua vida
poderia voltar ao normal a assustava. Trabalhar com Pietro seria a
oportunidade que ela estava esperando.
— Então, Laura? — Vitoria a chama. — Você vai com a gente?
— Oi?
Vitoria riu.
— Você não está prestando atenção em nada nesses últimos dias. O
que está acontecendo com você, Laura?
Vitoria era uma das dançarinas da boate tentação. Sempre com um
sorriso no rosto, a ruiva de curvas miúdas e olhos verdes, encantava com o
seu bom humor.
— Nada demais, apenas problemas — respondeu Laura, suspirando.
— Entendi. Quando quiser conversar saiba que estarei aqui. Mas
mudando de assunto. Juan nos dá uma noite de folga por mês. Nesse dia
sempre saímos juntas para beber e dançar como qualquer pessoa faz. Vem
com a gente, vai ser bom para você.
Laura ponderou.
Aquilo realmente seria bom para ela. Sair com pessoas e se divertir
pelo menos uma vez era o que ela precisava.
— Sim. Quando?
— Amanhã às 20h.
“Que mal haveria?”
Sorrindo, ela voltou a refazer sua maquiagem. Sempre escura e com
os lábios marcados pelo batom vermelho. Os cabelos soltos, lingerie preta e
saltos da mesma cor. Uma máscara prata coberta com pedras brilhantes, a
deixava ainda mais sexy e misteriosa.
As horas se passaram até que finalmente chegasse a hora dela
começar o show. Não sentia mais vergonha por estar ali tirando sua roupa e
se expondo para vários homens desconhecidos, ela até gostava da sensação
do frenesi que aquilo lhe causava. Estava sendo cobiçada, todos a queriam,
mas ninguém poderia ter, nem tocar, ao menos que ela quisesse, pois, essa era
a principal regra da boate.
Andando lentamente sobre seus saltos ao som calmo e sedutor da
música, Laura começou a dançar. A maneira que ela se mexia, arrancava os
mais brutais gemidos. Os homens estavam à beira da loucura, assim como
Juan que a observava dançar todas as noites e desejava provar de toda aquela
sedução que a morena tinha. Era a própria Afrodite, a deusa do amor e
sexualidade.
“Gostosa! Tira tudo!”
Gritou alguém do meio da plateia.
“Gostosa!”
Gritavam sem parar.
Laura sorriu ao virar de costas e tirar seu sutiã.
Juan a encarou. Seus olhos pegando fogo e seu membro duro,
pulsante dentro da calça jeans.
Continuando a dançar de costas para a plateia, rebelou e lentamente
tirou sua pequena calcinha rendada e os homens foram à loucura.
Rodopiando nua sobre o palco, Laura encerrou a noite com um passo de balé,
abrindo suas pernas e encostando sua vagina no chão.
Juan não se conteve, saiu às pressas de onde estava e correu para seu
escritório. Ele precisava aliviar aquele desejo acumulado. Com a porta
fechada de seu escritório, Juan se desfez da calça. Seus pensamentos foram
de encontro com a imagem de Laura, nua e dançando para ele. Seu membro
pulsava, pedindo por libertação. Então, Juan começou a se masturbar. Aquilo
era novo para ele e estranho. Ele nunca precisou fazer aquilo antes para
satisfazer seus desejos, porém, Laura era diferente das outras mulheres.
Gemendo feito um animal, gozou. Aquilo seria o suficiente para continuar o
resto da noite ao lado dela.
Duas batidas na porta fizeram com que Juan jogasse alguns papéis
sobre a mesa, onde ele havia acabado de despejar todo o seu desejo. Vestindo
sua roupa, ele passou as mãos pelos cabelos e respirou.
— Pode entrar — disse, firme.
Laura entrou na sala cabisbaixa. Algo a incomodava, dava para ser
notado a quilômetros de distância. Seu semblante estava carregado, suas
sobrancelhas franzidas.
— Juan, precisamos conversar.
Ele a olhou de cima a baixo. Laura estava vestida com um roupão
roxo, seus cabelos ainda estavam soltos e sua boca convidativa com aquele
batom vermelho.
— Diga.
Ela respirou fundo.
— Não gosto de ser forçada a fazer algo que não quero. Você foi até
a minha casa e insinuou que eu fizesse algo que vai contra os meus
princípios. Eu já disse que não tenho preconceito com quem faça, mas isso
não é para mim. Então, estou aqui pedindo, por favor, que você evite de ir até
a minha casa fazer tais tipo de convite. Nicolle é pequena, ela não sabe da
merda que o nosso pai nos deixou e pretendo que continue assim.
Juan não falou nada, apenas a ouviu. Ela ficava ainda mais linda
quando estava determinada. A imagem da garota inocente de antes já havia
sido destruída, agora ela estava mais forte, tinha se tornado uma mulher de
verdade disposta a fazer o que fosse necessário para o bem de quem amava.
— Estamos entendidos? — indagou ela. Cruzou os braços em frente
aos seus seios e o encarou séria. — Juan?
— Não gosto de ser pressionado, Laura. — Ele caminhou até ela.
Laura deu um passo para trás. — Aqui, quem faz as regras sou eu, e você as
cumpri. Quando eu falar para você fazer alguma coisa, você faz. Se tem um
teto para morar com sua irmã é por minha causa. Fui bondoso uma vez,
Laura. Garanto que não serei de novo. Agora se me der licença, tenho
assuntos para tratar.
Laura estava furiosa. Ela tinha a certeza de que se pudesse o mataria
naquele exato momento, porém, resolveu sair calada.
O táxi deixou Laura em frente ao prédio onde ela morava, às onze e
meia da noite. Ela estava cansada, mas acima de tudo, irritada por ele ter
falado daquele jeito com ela.
Laura caminhou para dentro do prédio, subiu os degraus até seu andar
e parou em frente à porta do apartamento da senhora Judith.
— Oi, minha filha — disse a senhora. — Chegou cedo.
— É! — Laura respondeu, cansada. — Obrigada por cuidar da minha
irmã.
Com cuidado, Laura pegou Nicolle em seus braços. Sua irmã dormia
tranquilamente, seu peito subia e descia devagar.
— Ela é um amor. Boa noite.
— Boa noite.
Caminhando a passos lentos, Laura entrou em sua casa e deitou
Nicolle em sua pequena cama cor-de-rosa. Deu um beijo em sua testa e saiu.
Dentro do banheiro, despiu-se. Abriu o chuveiro e deixou que a água
morna caísse em seus ombros, massageando seus músculos. Sua cabeça
rodava sem parar, eram tantas coisas que ela nem sabia como ainda estava de
pé. Uma noite era tudo o que ela queria para poder ser outra vez a velha
Laura de antes.
***
Juan estava jogando sujo e Laura sabia disso, mas ele estava certo e
ela não podia negar esse fato. Realmente suas contas estavam aumentando, e
o dinheiro que ela ganhava como dançarina na boate mal dava para pagar a
dívida de seu pai e o aluguel do apartamento onde morava com a sua irmã.
Com o novo trabalho no café, ela poderia quitar um pouco das dívidas, mas
ainda assim, não era o bastante.
Laura olhou para seus pés, pensou bem e respondeu:
— Eu aceito. — Olhou para Juan que sorria. — Mas com uma
condição.
— Qual?
— Sem sexo. Me recuso a dormir com os clientes. Já basta eles
olhando meu corpo nu em cima daquele palco, tocar em mim é proibido.
— Tudo bem. — Juan desceu dois degraus. Ergueu a mão e tocou o
rosto dela. Aquele toque fez com que Laura sem querer, soltasse um suspiro.
— Durma bem. Amanhã à noite venho te buscar. Mandarei um motorista
entregar o vestido para que você possa usar.
Ele passou por ela indo embora sem olhar para trás.
Laura estava confusa. Nem ela mesmo sabia o que tinha acabado de
acontecer. Ela realmente havia aceitado aquele trabalho.
Balançando sua cabeça para os lados, Laura continuou a subir os
degraus até chegar em seu apartamento. Aquela noite tinha sido demais para
ela, e seu corpo cansado implorava por descanso.
Laura sorriu e dobrou o bilhete. Olhou em seu relógio e viu que ainda
tinha algumas horas de sobra para se arrumar.
Algumas horas depois já estava pronta. Nicolle já tinha ido para a
casa da vizinha que cuidava dela como se fosse uma filha.
Duas batidas na porta.
Bastou apenas isso para que o coração de Laura começasse a bater
freneticamente. Sorvendo uma boa quantidade de ar para seus pulmões,
Laura colocou a mão na fechadura e abriu a porta.
Juan estava do outro lado, vestido em seu terno impecavelmente
lindo. Cabelo penteado para trás a pele do rosto lisa e aquele olhar, um olhar
que tinha o poder de deixar qualquer mulher louca para tê-lo dentro dela.
Ele não teve como disfarçar seu desejo. Laura estava perfeita. O
vestido parecia fazer parte do seu corpo. Sua cintura fina, os seios fartos,
pernas torneadas, tudo se encaixa perfeitamente ao vestido. Seus cabelos
estavam presos de um lado, e nas pontas alguns cachos grossos. A
maquiagem como sempre era leve, apenas sua boca carnuda estava marcada
com o batom vermelho.
— Você está linda. — Juan não conteve o elogio. — O governador
irá enlouquecer quando te ver.
Sem graça, Laura riu.
— Obrigada.
Ela pensou em dizer que ele também estava muito bonito, mas
preferiu se calar.
— Vamos? — Ele ofereceu seu braço para ela. Como se estivessem
indo para um baile real, Laura fechou a porta, cruzou seu braço com o dele e
seguiram rumo a festa.
No caminho, Juan explicou a Laura que ele faria o papel de
segurança, mas na verdade estava lá para orientá-la no que fazer. Ela apenas
concordou calada. Não tinha o porquê de contrariá-lo, afinal, quando ela
aceitou o emprego sabia muito bem no que estava se metendo, porém, a única
condição imposta era não ter relações sexuais com nenhum cliente, fosse ele
rico, famoso ou desconhecido. Seu corpo não estaria a venda.
O motorista informou que eles já tinham chegado. Laura olhou pela
janela do carro e viu o lindo e enorme prédio à sua frente.
Juan saiu do carro e elegantemente, abriu a porta para Laura sair.
Ela estava encantada com o luxo do local. Vários carros importados
estavam estacionados. Algumas pessoas riam e andavam em direção a
entrada.
— Esse lugar é lindo!
— Isso porque você ainda não viu por dentro — comentou Juan. —
Vamos entrar, o governador não gosta de atrasos. Você já sabe o que fazer:
apenas sorria, tire fotos ao lado dele e o acompanhe para todos os lados.
— Ok.
Juan assumiu seu posto de segurança e andando atrás de Laura, os
dois entraram no prédio.
Laura sabia onde o governador estava, Juan já tinha dito, porém, ela
achou grosseiro da parte dele não ir buscá-la na entrada. Para ela, aquilo era
falta de educação. Por mais que fosse tudo encenação, ela gostava de bons
modos
O governador era um senhor na faixa etária dos setenta anos de idade.
Cabelos totalmente brancos e pele enrugada. Estava de costas para ela.
— Querido, desculpa a demora. — Com a voz calma e doce, Laura
falou.
O governador virou e se surpreendeu com a beleza da mulher que o
chamava.
— Não foi nada, minha vida. Venha, vou lhe apresentar alguns
amigos.
O teatro estava indo de vento em polpa, ninguém diria que ela era
uma stripper contratada para omitir a triste e cruel verdade sobre o
governador, que ele não tinha ninguém porque era um velho asqueroso. Para
onde ele ia, Laura estava ao seu lado com o melhor e mais bonito sorriso.
Juan por outro lado, estava a observando atentamente. Com a
desculpa de ser um segurança, ele praticamente grudou no casal de mentira.
Ver Laura sendo guiada e mostrada como um troféu para os demais daquela
festa, estava deixando-o incomodado.
— Querido, se me der licença, preciso ir ao toalete. — Usando uma
voz doce, retirou-se sob o olhar de desejo do governador.
Juan a seguiu sem que ninguém percebesse.
— Onde pensa que vai? — indagou ele, pegando em seu braço.
— Respirar um pouco — disse ela se livrando de sua mão. — Aquele
velho está causando ânsia de vômito.
Juan concordou. A guiou até a varanda do prédio, onde tinha uma
bela visão de Nova Iorque. O céu estava estrelado, e o vento frio que soprava
entre as árvores, tocou o rosto dela.
— Aqui é tão lindo — comentou ela, com seu olhar perdido na
imensidão da noite escura. — Fazia tempo que eu não via as estrelas. Senti
falta disso.
— Em breve você terá a sua liberdade de volta — Juan disse.
Encurtou a distância entre eles, ficando ao lado de Laura.
Laura olhou para Juan. Suas tatuagens estavam todas cobertas, mas
ainda assim, ela conseguia ver um pedaço pequeno do desenho em seu
pescoço e nas mãos.
— Me responda uma coisa, Juan. — Laura voltou seus olhos para o
céu. — Por que escolheu essa vida?
Juan não respondeu.
Seu silêncio era ensurdecedor. Laura queria que ele respondesse, nem
que fosse qualquer coisa, até mesmo um palavrão. Ela só queria saber se ele
estava bem, pois algo dentro dela dizia que sua pergunta tinha despertado
algo doloroso dentro dele.
Com um suspiro longo, Juan falou:
— Eu não escolhi essa vida, ela que me escolheu. — Laura franziu o
cenho. — Sou filho de mexicanos, e naquela época a vida no México estava
muito difícil. Meus pais decidiram que seria melhor tentar a vida aqui em
Nova Iorque. Mas não tínhamos dinheiro para passagens e nem moradia.
Então, eles chegaram à conclusão de que entraríamos no país de forma ilegal.
Eu consegui, mas eles e minha irmã não.
— Eles foram deportados?
Juan riu.
— Antes fosse... Eles foram assassinados junto com outros que
tentaram pisar no solo americano. Eu vi tudo. Cada tiro. Cada grito de
desespero. O sangue jorrando de seus corpos já sem vida. Eu tinha apenas
seis anos. — Juan respirou fundo. Seus olhos ardiam devido as lágrimas que
se formavam. — Um casal me encontrou perdido nas ruas. Eu estava magro,
com frio, com fome e medo. Minha dor tocou o coração da mulher, que
convenceu o marido a me adotarem. Foi assim que consegui a minha
cidadania americana.
Laura não conteve as lágrimas, saber que Juan havia passado por
tanta dor e sofrimento enquanto ainda era uma criança, mexia demais com o
seu coração. Toda vez que ela via uma criança chorando ou passando por
alguma dificuldade, a imagem de sua irmã vinha em sua mente. Ela dava
graças a Deus por ser a irmã mais velha, e assim poder cuidar dela.
— Eu sinto muito. — As mãos de Laura tocaram as de Juan. — O
que aconteceu com seus pais adotivos?
— Fizeram o mesmo que o seu pai. Pegaram dinheiro com um agiota,
mas não conseguiram pagar. Eu cresci sendo criado por bandidos, cada um
pior que o outro, mas chega uma fase da vida que o coração não aguenta
mais. Assumi o lugar do homem que matou meus pais adotivos. Toda a Nova
Iorque responde ao meu chamado. E assim será até o dia da minha morte.
Laura não sabia o que dizer, ela sentia pena dele, mas ao mesmo
tempo medo do que era capaz de fazer.
— Acho melhor entrarmos. Falta muito para essa noite acabar?
— Na verdade... — Juan olhou em seu relógio de ouro. — Terminou
tem uns dez minutos. Vamos. Não precisa se despedir. Ele sabe o que fazer.
Laura agradeceu e o seguiu para fora do prédio. Entrou no carro e
pela primeira vez naquela noite deixou seu corpo relaxar sobre o banco de
couro do carro.
— Você não se importa de antes passarmos em meu apartamento?
Tenho que dar a sua parte do dinheiro.
— Tudo bem — respondeu ela, descansando sua cabeça na janela do
carro.
O percurso até a casa de Juan foi feito em total silêncio. Ninguém
tinha mais nada a dizer, não depois da conversa que tiveram.
As palavras dele não paravam de martelar na cabeça de Laura. Ela
estava intrigada com tanto mistério. O medo a excitava e a cada olhar que ele
lhe lançava, era como se uma parte de sua alma fosse despida.
O motorista parou o carro em frente a um grande prédio. A frente era
cinza e com enormes janelas.
Eles caminharam calados até o elevador. Foi digitado o código que
dava acesso a cobertura de Juan e ainda calados, eles entraram. O ar estava
pesado dentro da pequena caixa de metal. As portas fechadas, o cheiro do
perfume masculino de Juan, sua postura firme ao lado, tudo aquilo era demais
para a cabeça de Laura. Ela não aguentava mais.
Quando as portas se abriram, Laura conseguiu respirar. Sua vagina
pulsava quase implorando pelo toque de Juan, e ele parecia entender seu
olhar, pois também sentia o mesmo desejo naquela hora. Sem falar nada, ele
agarrou a nuca de Laura, olhou em seus olhos e como um leão faminto,
devorou seus lábios. Um beijo quente, sedutor e cheio de desejo carnal
tomava conta deles. Suas mãos explorando seus corpos, seus gemidos
enchendo aquele espaço. O desejo sendo emanado. Juan explorava o interior
da boca de Laura como se fosse uma das 7 maravilhas do mundo, e para ele
naquele momento, realmente estava sendo. Laura fazia o mesmo. Suas
línguas dançavam eroticamente, se enroscando e buscando liderança. Quando
o ar se fez necessário, ambos cessaram o beijo. Suas testas estavam grudadas,
suas respirações pesadas, e o desejo ainda continuava pairando no ar. Eles
não poderiam esperar, não teriam outra chance como aquela.
Com agilidade e força, Juan suspendeu Laura, a fazendo abrir as
pernas e prendê-las em volta de sua cintura. Outra vez suas bocas se uniram,
e enquanto suas salivas se misturavam, Juan andava com Laura em seu colo
até seu quarto. Com seu pé, ele empurrou a porta e continuou a andar até a
cama de casal, onde deitou Laura. Suas bocas já não estavam mais unidas.
Seus olhares diziam que queriam o mesmo. Com delicadeza, Juan tirou peça
por peça do seu terno, ficando apenas de cueca. Laura olhava tudo, e sorriu
quando viu que o corpo dele era ainda mais bonito do que ela havia
imaginado, e ainda mais tatuado. Eles não trocaram nenhuma palavra, e não
precisavam, suas expressões falavam por si próprio. Laura imitou o gesto de
Juan. Levantou-se diante dele e se desfez do vestido. Seus seios estavam
expostos, já que ela não usava sutiã. Sua calcinha também da cor vermelha,
era a única peça de roupa que sobrou no corpo.
— Deita — ordenou ele. E assim Laura fez. Deitou-se na cama e
Juan admirou seu belo corpo. Beijou seus pés que ainda estavam com os
saltos. Desafivelou os sapatos. Continuou a beijar suas pernas, subindo
devagar entre o meio das coxas grossas da morena, depositou um beijo sobre
o tecido fino e rendado da calcinha.
— Ah! — Laura, gemeu. — Juan, por favor...
Juan sorriu. Afastou o pequeno tecido que cobria o sexo dela e
começou a torturá-la, enfiando um dedo e tirando. Enfiava, girava e depois
tirava a fazendo gemer.
— Você gosta assim? — perguntou ele ao rasgar a calcinha de Laura.
— Ou assim?
Laura não teve tempo para responder, pois Juan a tirou todo o fôlego
quando sua língua quente entrou em contato com seu clitóris pulsante. Ele
sugava sua vagina de uma maneira intensamente deliciosa. Ela jamais tinha
sentido uma sensação tão prazerosa quanto aquela. Ela estava se perdendo na
boca dele, faltavam pouco para que ela chegasse ao ápice.
— Juan...
Ele não aguentava mais, seu pênis estava duro e começava a doer de
tanto desejo. Ele levantou e foi até sua calça que estava jogada no chão.
Sacou do bolso um preservativo, não demorou muito para que ele rasgar a
embalagem e vestir em seu membro ereto. Sem falar nada, ele abriu as pernas
de Laura e de uma vez só entrou dentro dela.
— Oh! — Urrou, ao sentir as paredes do sexo de Laura se contraindo
ao redor de seu pênis. — Puta que pariu, Laura. Que boceta gostosa.
Ele estocou de novo e de novo. Laura gemia de prazer. Suas unhas
estavam cravadas nas costas largas dele, e suas pernas presas em sua cintura.
Quanto mais ele entrava fundo e saía, mais Laura se entregava ao prazer do
momento. Cansado daquela posição, Juan saiu de dentro de Laura e deitou.
Laura sabia o que ele queria. Com uma perna de cada lado, Laura sentou de
frente e lentamente, deslizou o pênis para dentro de sua boceta. Seus peitos
balançavam para cima e para baixo conforme ela cavalgava sobre ele. Sua
cabeça jogada para trás, ela engolia o membro de Juan com sua vagina
encharcada de prazer.
— Tão grande... — murmurou ela.
— Vou te foder toda! — disse ele invertendo as posições. Laura ficou
de joelhos na cama enquanto ele a penetrava por trás, tomando para si o
controle outra vez. Laura gemeu alto quando Juan segurou seus seios e
intensificou as estocadas.
— Isso, assim Juan. Eu vou gozar! — anunciou ela aos quatro ventos
explodindo em um orgasmo intenso e prazeroso.
— Puta gostosa! — Ele deu uma, duas, três estocadas e caiu sobre o
seu corpo, despejando dentro do preservativo todo o seu desejo.
***
Juan apoiou seu corpo sobre um braço. Deslizou seus dedos pelo
rosto de Laura, que o olhava assustada. Poucos segundos atrás ela cogitava a
possibilidade de matá-lo, e agora, sua vida poderia estar correndo perigo.
— Não a julgo por desejar minha morte — disse ele, colocando uma
mecha do cabelo de Laura atrás de sua orelha. — No seu lugar eu faria o
mesmo.
— Juan, eu juro que...
— Não fale nada. — Ele beijou seus lábios. Um beijo lento e calmo,
que aos poucos foi tomando proporções grandes. Seus corpos ainda estavam
nus, suas mãos deslizando para cima e para baixo provando do calor que
emanava debaixo dos lençóis. Juan segurou o seio esquerdo de Laura,
deslizou sua boca para seu pescoço e traçou uma trilha de beijos quentes e
molhados até o seio. — Eles são perfeitos — disse e abocanhou o mamilo
endurecido.
Laura fechou os olhos e absorveu a sensação que ele estava
proporcionando a ela.
Juan a provocava fazendo movimentos circulares em seu mamilo,
enquanto sua mão dava atenção ao outro.
Laura estava indo à loucura com aquilo. Juan era sexy, misterioso,
amedrontador, uma mistura de personalidades que o deixavam cada vez mais
atraente para ela. Ela gemeu, quando Juan desceu sua boca passando por sua
barriga e indo direto para o lugar onde ela mais implorava por atenção.
— Tão cheirosa... — Juan olhou para Laura, que o encarava
fixamente. Era evidente o desejo em seu rosto. — Vou beijá-la aqui. — E
assim ele fez.
Laura ergueu seu corpo e logo depois o deixou cair sobre a cama.
Afundou seus dedos nos cabelos pretos dele, o fazendo intensificar ainda
mais os beijos em sua vagina. Para provocá-la ainda mais, Juan afastou seu
rosto, cuidadosamente enfiou um dedo dentro do sexo molhado de Laura.
Enquanto ele a fodia com o dedo, chupava seu clitóris a fazendo chegar a um
orgasmo intenso.
O corpo de Laura ainda sentia os sinais do orgasmo quando Juan
deitou ao seu lado. Ela olhou para seu pênis e viu que ele estava ereto. Com a
boca salivando, Laura passou seus dedos na barriga definida de Juan e desceu
até seu membro. Fechou sua mão em volta e fazendo movimentos de vai e
vem, ela começou a masturbá-lo. Juan fechou os olhos desfrutando o
momento. Laura sabia o que fazer, ela queria fazer, então fez. Desceu até o
pênis de Juan e tocou a cabeça rosada do membro com a ponta da língua.
Lambeu devagar de baixo para cima e voltou a repetir o movimento várias e
várias vezes sem deixá-lo de masturbar.
— Laura... — gemeu Juan. — Assim você vai me matar, porra!
Ela riu.
— Talvez eu queira que você morra.
Laura sabia dominar o prazer, provocava frenesi em seus clientes
somente ao dançar, Juan não fazia ideia de que ela também poderia
enlouquecer um homem na cama como estava fazendo agora com ele.
Sem esperar mais, Laura engoliu alguns centímetros do mastro rígido
que Juan carregava entre as pernas. Seus lábios eram como seda, tão macios.
Juan estava no paraíso dentro da boca de Laura.
— Chupa, safada! — Suas mãos se enroscaram nos cabelos de
Laura, formando um rabo de cavalo. Laura sentiu o membro de Juan encostar
em sua garganta fazendo-a quase engasgar. A boca de Laura parecia fazer
mágica, fazendo o pênis de Juan desaparecer e reaparecer outra vez.
Juan pressentiu que não aguentaria por muito tempo, então ordenou
que Laura parasse. Se pôs em pé ao lado da cama, a ergueu e com brutalidade
colocou o corpo nu de Laura contra a parede.
Laura sentia o ar quente da boca dele roçar em seu pescoço. Ouvia
muito bem sua respiração pesada.
Juan beijou suas costas, mordiscou de leve sua pele, enquanto a
prendia com seu corpo. Seu membro encostando na bunda de Laura, e sua
mão invadindo o meio de suas pernas indo em direção a vagina quente e
úmida da morena.
— Não saia daí — sussurrou ele.
Juan foi até o criado mudo ao lado da cama, abriu a primeira gaveta e
tirou um preservativo. Rasgou com os dentes e o vestiu. Voltou para onde
estava, separou as pernas de Laura, e de uma só vez, estocou.
— Ah! — gritou ela.
Juan fodia forte, com rigidez como se necessitasse daquilo para
sobreviver. Seus gemidos se misturavam aos de Laura, o cheiro de sexo
começava a encher o quarto. As mãos dele prendiam os quadris dela, o
ajudando nas metidas fortes e fundas.
— Juan...
— Você gosta assim? — Ele começou a espalmá-la. O ardor deu
lugar ao prazer, desejo, excitação. Quando mais ele batia, mas ela se
aproximava do orgasmo. — Me diga, Laura, o que você quer?
Ela gemeu. Gemeu e gemeu. Era só o que ela conseguia falar. Seu
corpo, alma e mente estavam dominados pelo prazer. Nada mais importava a
não ser liberar todo o desejo que se tornava cada vez mais forte.
— Fala! — ordenou ele. — Não sei o que você quer. Como posso te
dar alguma coisa? Diga!
Ele saiu e entrou um, duas, três vezes.
— Gozar! Eu quero que você me faça gozar.
Ele sorriu. Acelerou seus movimentos, chegando a um maravilhoso
orgasmo junto a Laura.
***
***
***
Naquela noite Laura não conseguiu dormir direito, toda vez que seus
olhos se fechavam ela via o mesmo homem que lhe assediou. Nos sonhos, ele
conseguia pegá-la e a transformara em sua escrava sexual. A batia durante o
dia, à tarde a fazia vê-lo fazendo sexo com outras mulheres e à noite, usava
seu corpo como brinquedo. Quando enjoava dela a matava, e então o sonho
se repetia outra vez.
Seus olhos estavam cansados, olheiras fundas marcavam seu lindo
rosto sem maquiagem. O cansaço era tão grande que assim que seu celular
despertou, Laura pegou a primeira roupa que viu em seu guarda-roupa e
vestiu, nem se preocupou em fazer maquiagem ou algum penteado novo.
Ela bocejou ao entregar o café com quatro colheres de açúcar para a
senhora.
— Noite ruim? — perguntou Pietro.
— Péssima. Tive pesadelos. — Laura encheu duas xicara de café
preto uma com açúcar e outra apenas com o café fumegante e amargo.
— Obrigado — agradeceu Pietro ao pegar seu café. Levou a boca e
desfrutou do sabor gostoso e do aroma de café moído. Era por isso que o café
do senhor Koll fazia tanto sucesso, ele mesmo moía os grãos. — Queria te
fazer um convite para hoje à noite.
Laura o olhou por cima da xícara. Espanto passava por suas feições.
Ela jamais esperaria ouvir algo assim de Pietro. Ele sempre parecia tão
focado em seu trabalho, não demonstrando ter mais tempo para nada a não
ser seus projetos.
— Convite?
— Sim. — Um sorriso de lado surgiu no rosto de Pietro. — Queria te
mostrar um projeto que trabalhei muito tempo atrás.
— Eu agradeço de verdade, mas não posso essa noite.
Pietro sabia o porquê dela não poder aceitar, mas não desistiria. Ele
havia chegado até ali, e não seria uma boate que atrapalharia seus planos.
— Se você tem algum compromisso tudo bem, eu te espero. Podemos
nos encontrar lá depois quando você puder. Mas preciso que seja hoje.
Laura odiava não saber negar as coisas. Odiava magoar as pessoas, e
não queria magoar Pietro. Ele parecia ser um homem bom, honesto, o qual
qualquer mulher sonharia ter ao lado, inclusive ela.
— Aceito. Envia o endereço, assim que eu sair do meu compromisso
te aviso.
Pietro sorriu, feliz. Deixou a xícara agora vazia sobre o balcão e
voltou para sua mesa onde arrumava alguns detalhes no esboço do projeto
que já tinha sido aceito pelo o Sr. Koll. Ele sentou na cadeira acolchoada da
cor azul. Pegou seus óculos de leitura e começou a redesenhar. Sua testa
franzida, uma linha de suor escorrendo pela lateral do rosto direito, o
transformava em um lindo e sexy arquiteto.
Laura o espionava pela pequena abertura da porta. Ela estava
intrigada com o porquê de um homem bom, aparentemente rico e lindo, estar
fazendo ali. Não que o café onde ela trabalhava graças a ele, fosse um lugar
ruim, mas pessoas como Pietro, com certeza estão acostumadas a coisas mais
luxuosas.
Pietro estava inerte a presença de Laura. Seus olhos estavam
concentrados no desenho. O calor só estava aumentando dentro da sala,
tornando quase impossível alguém ficar lá dentro. Pietro deixou o lápis de
lado, tirou seus óculos. Afrouxou a gravata. O suor já começava a irritar
quando Pietro decidiu que não dava mais. Ele levantou, tirou a gravata, e
logo em seguida desabotoou a camisa branca social.
Laura teve que tampar sua boca quando Pietro tirou a camisa
revelando seu corpo escultural. Ele era lindo, com sua pele morena, abdômen
definido com uma pequena listra de pelos que desciam do seu umbigo até o
cos da calça. Ela teve vontade de saber como ele era por dentro da cueca.
Saber a grossura e tamanho do seu pênis. Sua boca salivou. Seus mamilos
endureceram com o pensamento de fazer amor com ele bem ali, sobre a mesa
com seus projetos. Seria como nos filmes eróticos.
— Laura? — Pietro a surpreendeu ao chamá-la.
— Hum... desculpa, eu só queria saber se preciso usar alguma roupa
especial para hoje à noite. — Mentiu. Ela queria era pular em seu colo e
cavalgar em seu membro duro, a fazendo gemer e gozar. — Não queria
atrapalhar.
— Não, você nunca me atrapalha, Laura. Gosto da sua presença. —
Pietro andou até ela, abriu mais a porta para que Laura pudesse entrar. —
Aqui deve ser uma amostra grátis do inferno. O ar-condicionado quebrou, o
ventilado não dá vazão. Tive que tirar a camisa, mas já vou colocá-la...
— NÃO! — gritou, Laura. Ela olhou seu peitoral de cima a baixo.
Seus dedos pareceram criar vida própria. Quando ela percebeu, estava
tocando seu corpo. — Me desculpa, não sei o que está acontecendo comigo.
Eu...
Laura quis fugir, sair correndo para se esconder do jeito másculo
dele, do seu cheiro amadeirado com um toque leve de café, porém, Pietro era
mais rápido, e com apenas um passo a alcançou antes de sair. Fechou a porta
atrás de si e a encarou. Seus olhos eram como duas chamas ardentes, que a
queimava por completo. Ele deu um passo em sua direção, e ela outro para
trás, e assim continuou até que Laura não tivesse mais para onde ir. Seu
corpo estava preso entre Pietro e a mesa de madeira que antes ele trabalhava
concentrado. Seus dedos tocaram o rosto de Laura. Ela absorveu o toque
quente. Sentiu sua respiração perto do seu pescoço.
— Como eu queria tirar a roupa aqui e te foder. Acabar com suas
forças, te deixar suada. Lamber cada parte desse seu corpo lindo, mas não
vou fazer.
— O quê? — Laura perguntou espantada.
Ele a beijou na bochecha, seus lábios ficaram lado a lado.
— Nos vemos a noite, Laura. — Era como se ele estivesse gozando.
Pietro sempre falava o nome de Laura com um certo prazer no tom de voz. —
Agora tenho que terminar de redesenhar o projeto do espaço ao ar livre.
Laura piscou algumas vez antes de sair. Ela respirou fundo deixando
que o ar entrasse outra vez em seus pulmões. Aquilo, definitivamente, tinha
sido um momento excitante para ambos. Ela não deixara de notar o volume
que tinha sido criado dentro da calça de Pietro.
***
Não demorou muito para que a resposta chegasse carregada por uma
foto dele ao lado de uma roseira. Laura suspirou ao ver a imagem. Ele estava
sendo romântico, e ela adorava romantismo, mesmo sendo uma stripper, ela
ainda mantinha vivo dentro de seu coração o romance.
Como se o mundo estivesse prestes a acabar, ela jogou o roupão que
cobria seu corpo nu no chão. Pegou de dentro da bolsa que sempre carregava
um vestido curto de crochê de manga longa. O branco do vestido combinava
com o preto da bota over the knee strech de bico redondo, salto grosso de seis
centímetros com um zíper lateral e amarração traseira. Laura retocou sua
maquiagem, caprichando no batom vermelho. Seus cabelos soltos estavam
maiores, eles caiam em cascatas sobre seus ombros. Ela se olhou no espelho
aprovando o que via. Pegou sua bolsa, respirou fundo e saiu.
De longe Juan viu Laura sair. Arrumada como se fosse encontrar
alguém, ele a seguiu até a saída. Ela andava rápido até um táxi que havia
acabado de parar em frente à boate para deixar algum cliente. Ele estava
curioso para saber aonde Laura estava indo daquele jeito. Pensou em segui-la,
mas em seguida descartou a ideia e voltou para dentro da boate.
Laura tamborilava seus dedos sobre a tela do celular. Ansiedade
começava a tomar conta dela. Seu estômago estava frio como se estivesse
ingerindo algo gelado. Tinha uma grande chance de seus lábios ficarem
machucados devido as mordidas que ela mesma dava.
“Puta merda. É só um encontro bobo sem importância nenhuma.”
Esse era seu mantra. Laura seguiu o caminho todo repetindo para si
mesma, mentalmente, que tudo não passaria de um simples, tranquilo e
divertido encontro entre dois amigos de trabalho. Nada podia dar errado. Mas
o que queria mesmo era chegar logo no local marcado e descobrir o que tanto
Pietro queria lhe mostrar. Ela torcia que fosse seu corpo outra vez, porque ela
ainda não havia se recuperado do que quase tinha acontecido com eles mais
cedo. Toda vez que fechava os olhos podia sentir a forte respiração dele a
pouquíssimos centímetros da boca dela.
— Chegamos, Laura — falou Roger, o taxista que levava todos os
dias Laura da boate para casa.
— Obrigada. Tenha uma boa noite. — Ela saiu antes de ouvi-lo
retribuir o boa noite.
Desconfiada e insegura, caminhou sobre a rua de paralelepípedos,
amaldiçoando a pessoa que havia criado tal coisa.
Seus olhos buscavam por Pietro, mas não o encontrou. Seu coração
começou a pulsar em um ritmo descompensado quando se aproximou de uma
ruína. O lugar parecia estar largado há anos. Algumas paredes quebradas com
pedaços de concreto ao redor. O medo de estar no lugar errado atingiu com
força total Laura. Seus olhos forçaram as lágrimas a não saírem.
Ela estava quase ligando para Pietro quando o viu sair detrás de uma
parede. Em suas mãos, ele carregava um lindo buquê de rosas vermelhas.
Vestido como sempre, muito bem elegante, ele caminhou até ela desfilando
seu belo terno de três peças.
— Boa noite, Laura. — Beijou o rosto de Laura, roçando seu rosto.
Aquele gesto não demorou muito mais do que cinco segundos, mas foi o
bastante para Laura ficar excitada. O cheiro do perfume, o toque de seus
lábios em seu rosto, o jeito que o nome dela saia da boca dele, tudo aquilo
estava tendo um forte efeito sobre ela.
Seus rostos se afastaram, Laura o encarou enquanto Pietro fazia o
mesmo.
— Boa noite, Pietro.
— Espero que goste da noite, preparei nosso jantar com muito
carinho, especialmente para você
Laura suspirou.
Não tinha como aquele homem ser real. Ele era lindo, gentil,
dedicado e ainda sabia cozinhar.
— Você é real? — Seu tom de voz brincalhão, fez com que Pietro
sorrisse. — É sério...
Os dois foram rumo à mesa posta atrás das ruínas. Pietro narrava a
história do lugar, desde o primeiro esboço até o último tijolo. E Laura,
encantada com tamanha beleza do lugar iluminado por pequenas e brilhantes
luzes de LED, ouvia tudo atentamente, sem ao menos piscar.
— Isso era para ser o restaurante da minha família. Um amigo e eu,
trabalhamos no projeto, fizemos investimentos, formamos parcerias novas,
mas no final tudo veio, literalmente, a ruína.
— Porque o projeto não foi à frente? — Laura perguntou, aceitando a
taça de vinho que Pietro encheu, e bebeu dois longos goles da bebida de cor
vermelho intenso. — Aqui é tão bonito.
— Meu pai adoeceu antes mesmo do restaurante entrar na metade do
projeto. Ele foi diagnosticado com Alzheimer, infelizmente a doença já
estava na fase três, a pior.
Laura quis levantar de onde estava e abraça-lo. Queria sussurrar em
seu ouvido que tudo ficaria bem, mas quem era ela para dizer que tudo ficaria
bem se nem ela mesma acreditava em suas palavras.
— Eu sinto muito. Muito mesmo.
— Eu sei — respondeu. — Eu larguei tudo para cuidar dele,
enquanto minha mãe, bem... Ela cuidava do meu irmão caçula. Com a morte
do meu pai, não vi mais razão para continuar com algo que era mais vontade
dele do que minha ou de minha mãe. Abandonamos tudo. Mas eu queria
trazê-la aqui. Queria que você tivesse uma noite onde pudesse deixar os
problemas de lado e apenas usufruir de um bom jantar na companhia de um
amigo.
— Sou grata por pensar em mim. — Laura segurou a mão de Pietro
por cima da mesa. — Está tudo perfeito, obrigada.
— Me concede uma dança? — Ele levantou. Estendeu a mão para
ela, que piscando freneticamente, aceitou.
Corpos colados, mãos dadas, começaram a dançar ao som de uma
música suave. Laura estava sendo embalada pelos passos de Pietro que a
conduzia com leveza. Ela descansou sua cabeça no peito largo do homem que
estava confundido sua cabeça. Pietro era um homem para mulher nenhuma
colocar defeito e, era exatamente isso que estava deixando-a maluca.
— Eu queria beijá-la bem aqui, rasgar sua roupa e fazer amor
intensamente com você.
Laura suspirou fundo sentindo sua vagina pulsar.
— E porque não faz?
— Nossa primeira vez tem que ser especial. — Ele grudou ainda
mais seus corpos, pressionando sua ereção contra o ventre dela.
A dança não demorou muito, assim como o encontro. Laura explicou
que havia deixado sua irmã pequena esperando e precisava voltar para casa.
Assim que Pietro deixou Laura em casa, saiu cantando pneu. Um
sorriso enorme nasceu em seus lábios ao lembrar do beijo de despedida que
ele roubou de Laura. Ele já não aguentava mais ficar perto dela sem poder
tocá-la. Laura não protestou quando Pietro tocou seus lábios com os dele,
pelo contrário, ela queria que ele invadisse sua boca, porém ele parou, sorriu
para ela e a deixou ali querendo mais e mais. Aquele resto de noite com
certeza seria longo para ambos.
***
***
Sobre o palco, Laura dançava e dava o seu melhor. A cada dia que se
passava ela se tornava ainda mais sedutora, e sem saber, tornava-se fatal.
Juan voltara da rua, com suas mãos ainda sujas de sangue, o corpo
fervendo de raiva, seus olhos vermelhos devido às drogas que usou antes de
entrar na boate. Ele passou pela entrada e parou no mesmo lugar de sempre,
atrás das cortinas no palco. Havia uma visão privilegiada dali, podia ver
Laura e seu belo corpo nu. Ele a admirava, não só pelas curvas de seu corpo,
mas pela mulher que ela se tornava, tão forte e independente que acabava o
deixando amedrontado por dentro. Ele nunca quis tanto ter alguém em seus
braços todas as noites como ele a queria. Chegava a ser tolo, mas a desejava e
iria fazer qualquer coisa para que ela fosse dele para sempre, mesmo que
tivesse que sujar suas mãos todos os dias com o sangue de algum homem que
a olhasse.
Laura encerrou sua apresentação sob o som acolhedor das palmas e
assovios. Ela sorriu para a plateia e saiu desfilando nua.
— Garota... — Lavínia correu até ela. — A cada nova apresentação
os homens vão à loucura com você.
Elas riram.
Era verdade, todas as noites Laura dançava melhor, era como se ela
abraçasse seu verdadeiro eu e se entregasse por completo a sensação que
aquilo lhe causava. A dança já fazia parte de quem ela era, mas foi somente
na boate que realmente aceitou que aquela era a sua religião, fé; a sua crença.
— Faço o que gosto. A dança é uma parte de mim, sem ela não sou
ninguém.
— Eu diria que quando você está naquele palco, você é tudo o que
deseja ser. — Juan surgiu atrás de Laura, a pegando de surpresa. Segurou
seus ombros e os beijou. — Lavínia, nos de licença, por favor.
— Claro.
— Você tem um cliente. Fale com Liza, ela dirá quem é. — Sorrindo,
Lavínia saiu.
Laura ainda estava de costas para Juan, suas mãos em seus ombros,
causando ao corpo dela um incêndio. O desejava, mesmo sabendo que não
deveria, porém, era inevitável ficar perto dele sem ao menos morder os lábios
com força, reprimindo o desejo de tê-lo dentro de si.
Sussurrou em seu ouvido pedindo que ela o acompanhasse até seu
escritório. Laura não falou nada, apenas andou em direção a porta e entrou. A
sala onde Juan passava a maior parte do seu dia tinha o cheiro dele.
Laura andou até a cadeira em frente à mesa e sentou. Cruzou suas
pernas, mas o roupão que ela usava não conseguia cobrir por completo seu
corpo. Os olhos sedentos de Juan pousaram nas coxas grossas e morenas de
Laura. Seu pênis logo reagiu endurecendo.
— Queria dizer que você não terá mais problemas com aquele
homem. — Os olhos de Laura aumentaram de tamanho ao ouvi-lo falar.
— Você... Você... Ele está...
Por mais que Laura tentasse falar, não conseguia formar nenhuma
frase completa.
— Não, eu não fiz nada. — Mentiu. Juan via o medo no olhar da
moça, ele não queria assustá-la, mas também não queria ter que mentir sobre
algo que fez para resguarda-la. — Apenas cuidei para que você e sua irmã
tenham uma vida calma.
Juan sabia que no momento em que ele contasse que tinha dado um
fim à vida do homem que vinha fazendo da vida de Laura um inferno, ela
nunca mais o olharia como antes. Nunca mais permitiria que ele a tocasse
outra vez. Então, sua única saída foi mentir.
Laura não sabia se podia acreditar nas palavras de Juan, ele parecia
um pouco agitado, seus olhos estávamos vermelhos e suas mãos abriam e
fechava a todo instante, porém, ela preferiu dá-lhe o benefício da dúvida.
— Obrigada. — Tranquilidade transbordava de sua voz. Ela relaxou
seus ombros e soltou uma longa respiração. — Mais o que ele fez não pode
ser desfeito. Vou procurar outra escola para minha irmã.
Ela fez menção em se levantar, mas Juan foi mais rápido. Rodeou sua
mesa e parou em frente à Laura. Pôs suas mãos nas coxas dela e a encarou.
— Faz tempo desde a última vez que estivesse dentro de você. —
Confessou. Deslizou seus dedos para o meio da coxa de Laura e brincou com
seu clitóris. — Queria saber como está aqui embaixo.
Ela mordeu o próprio lábio, prendendo um gemido sofrido de
excitação vendo o inclinado sobre sua cadeira a fitando profundamente. Ele
continuava a brincar com o pequeno ponto de prazer. Circulava e esfregava
devagar, enquanto Laura cada vez mais abria suas pernas, dando acesso livre
para as mãos dele.
— Ahhh! — Gemeu, ao chegar no ápice. Seu corpo tremia e suas
pernas estavam bambas devido ao orgasmo que acabara de ter. Com a
respiração pesada, ela colocou uma mão sobre a de Juan, que ainda estava
entre suas pernas, e a tirou dali. — Eu tenho que ir.
Juan ficou ali, a olhando ir embora. Ela leve, pois havia acabado de
gozar, e ele duro feito uma rocha, cheio de desejo prestes a ser jorrado. Ele
não se contentaria com uma simples masturbação, ele tinha necessidade de ter
uma mulher embaixo de seu corpo, com as pernas abertas e recebendo tudo o
que ele podia oferecer.
Juan abriu a porta e dali mesmo gritou por Liza, seu braço direito
dentro da boate.
— O que foi, Juan? Estou ocupada... — Ela foi interrompida quando
Juan a pressionou contra porta. Segurou seu pescoço com força e atacou sua
boca. Suas línguas brincavam de vai e vem dentro de suas bocas. Uma das
mãos de Juan foi de encontro com o seio de Liza. Ele apertou a carne e
mostrando sinal de excitação e aprovação, Liza gemeu em sua boca. Juan
abandonou os lábios agora um pouco inchado devido ao beijo, e se apressou
em tirar o vestido preto do corpo dela. A deixou nua e com fome. Abocanhou
um de seus seios, enquanto com a outra mão ele dava atenção a sua vagina
repleta de desejo. Ele chupava seu seio como se fosse um bebê em busca de
alimento. Ela gemia de olhos fechados. Juan deslizou dois dedos para dentro,
a fodia em pé, com seus dedos. Gemidos e mais gemidos eram liberados da
garganta de Liza. Ela estava se perdendo. Juan desceu seus lábios lentamente
até sua vagina e a beijou bem ali. Passou a língua de cima para baixo sugando
todo o desejo de suas pernas. Os dedos de Liza entravam em meios aos fios
de cabelos de Juan, o pressionando para mais perto de si, a fazendo gemer
seu nome, o qual não gemia a muito tempo desde a chegada de Laura na
boate.
— Venha, quero te foder do jeito que você gosta. — Juan levantou e
pegou Liza. Pressionada contra a porta, ele a ergueu colocando as duas
pernas em volta de seu quadril, e sem mais delongas, deslizou com força para
dentro dela.
— Ahhh! — Liza gritou, e logo em seguida gemeu de prazer. Toda
vez que ela tinha Juan no meio de suas pernas, era como se fosse a primeira
vez.
Juan entrava e saía de dentro dela sem dizer nada, apenas seus
gemidos eram ouvidos dentro da sala e fora também. Liza gemia alto, gritava
o nome de Juan, e isso o irritou. Laura não era assim, ela gemia baixo em seu
ouvido, fazendo o desejo aumentar cada vez mais.
— Desce! — ordenou ele. Liza ficou de joelhos na sua frente, seus
lábios cobriam toda a extensão do pênis de Juan. Ela ergueu os olhos, e então,
Juan gozou em jatos. — Porra!
Liza limpou seus lábios com as pontas dos dedos, e os chupou depois.
— Quando precisar é só chamar.
***
***
Assim que as portas do elevador pararam no último andar, Pietro
entrou em sua cobertura. Depois de dias dormindo no quarto de hotel, ele
sentiu necessidade de ter um lugar onde pudesse descansar depois de um
longo dia de trabalho. Dominic, seu melhor amigo fez questão de lhe
emprestar uma das várias coberturas que possuía em Nova Iorque. Pietro não
estava em posição de recusar nada, mas também não ficaria ali de graça, se o
amigo fazia questão de emprestá-lo, Pietro também fazia questão de pagá-lo.
Ele tirou sua camisa e a jogou sobre o sofá do hall de entrada. Foi até
o pequeno bar que seu amigo havia mandado montar meses atrás e bebericou
um pouco do melhor uísque que ali tinha. O gosto era bom e ardente, mas ele
já estava acostumado com aquela sensação. Bebeu mais um gole e deixou o
copo sobre a bancada de vidro. Voltou para o centro da sala e sentou no
enorme sofá branco em formato de L.
— Que mulher... — murmurou, baixinho. — Me enfeitiçou.
Sim, ela o havia enfeitiçado desde a primeira vez que a viu dançar na
boate.
Pietro fechou os olhos e relembrou a cena que para ele, era melhor
que um filme pornô. Seu pênis ficou duro, pulsando dentro de sua cueca e
empurrando o tecido de sua calça. Aquela maldita sensação de tesão
acumulado estava deixando-o literalmente de saco de cheio, porém, sabia que
ficar se masturbando feito um adolescente que acabara de descobrir a famosa
punheta, não adiantaria nada.
Frustrado, levantou-se.
Foi até seu quarto e tirou toda a roupa. Entrou no banheiro e
rapidamente já estava debaixo da água quente. Lavou seu corpo com
sabonete e seus cabelos. Ele achava que de algum jeito, aquele banho iria
fazê-lo esquecer a morena de boca vermelha, mero engano. Toda vez que
seus olhos se fechavam, a imagem de Laura surgia em sua frente.
A noite parecia se arrastar tão lenta quanto uma tartaruga. Ele cansou
de ficar olhando as horas em seu relógio e celular. Estava impaciente, andava
de um lado para o outro como se a sua vida dependesse daquele jantar. Outra
vez olhou em seu relógio. Onze e quarenta, da noite, pela hora que Laura
tinha mandado mensagem avisando que já estava a caminho, não iria demorar
muito até que ela chegasse. Ele desligou o computador, arrumou sua mesa,
guardou o desenho de uma casa que ele vinha trabalhando à finco.
A ocasião pedia algo elegante, ele escolheu o seu melhor terno. Deu
uma olhada em frente ao espelho e se agradou com a imagem que viu. Não
tinha como alguma mulher lhe dizer não. Ele não precisava fazer muito para
estar elegante ou atraente, seu charme era de nascença, e Laura já se rendera a
ele.
O táxi que Laura estava seguiu rápido até o endereço indicado, e
assim que chegou, enviou uma mensagem de texto dizendo que já estava no
prédio.
Como um cavalheiro, Pietro desceu para buscá-la. Assim que a viu,
seu coração acelerou. Estava deslumbrante em um vestido preto longo com
duas aberturas na cintura que deixava sua pele à mostra. O decote era lindo e
grande, o que para ele não era problema. Seus cabelos estavam presos de um
lado e soltos do outro. Quase nenhuma maquiagem, apenas um batom mais
concentrado nos lábios que ele estava louco para borrar com sua boca. Ele
andou até ela, esticou a mão para beijá-la e aproveitou para sentir o cheiro de
seu doce perfume de flores do campo.
— Você está linda, mas creio que já saiba disso.
— Obrigada. Você também não está nada mal.
Ele sorriu. Ofereceu seu braço a ela e a guiou até ao elevador. Assim
que as portas de aço se abriram, Pietro deu passagem para Laura, que olhava
o interior do seu apartamento e não conseguia acreditar que tanta beleza e
sofisticação estavam reunidas no mesmo lugar. Ele a guiou até a sala de
jantar. A mesa e cadeiras pareciam ser feitas de vidro. Cortinas vermelhas e
brancas, toalhas da mesma cor, o lustre belíssimo, logo ela já queria saber
onde poderia conseguir um.
Pietro sorria.
— Isso é tão lindo — comentou. — Você sabe mesmo como preparar
um jantar.
— Obrigado, sente-se, vou servi-la com uma taça de vinho. — Laura
mordeu seu lábio inferior quando ele virou de costas para pegar o vinho.
Andou até ela e puxou a cadeira. — Fique à vontade.
Laura bebericou um pouco do vinho de sua taça. Degustou o sabor
adocicado e gélido da bebida.
— Laura... — Pietro a chamou. — Gosto do seu nome.
— E eu do seu.
Eles flertavam, de uma maneira gentil.
Pietro sentiu seu pênis ganhar vida outra vez. Mas não se enfureceu,
pois ele sabia o que queria, e como eles iriam terminar a noite. Suando.
Gemendo. Gozando.
Não demorou muito para que servisse a comida, o que os tirou por
alguns minutos daquele jogo de flerte em que estavam. Saboreavam o salmão
que estava divino, mas Pietro não sabia pensar em mais nenhum sabor a não
ser os dos lábios daquela mulher, ele estava vidrado demais nos movimentos
que ela fazia para comer. Tudo o que Laura fazia para ele se tornava erótico.
Pietro já não aguentava mais, estava completamente apaixonado por ela.
— Está gostoso? — indagou, tentando disfarçar sua atração.
— Sim, quem fez está de parabéns.
— Obrigado. — Ela o olhou intrigada. — Foi eu que fiz o jantar.
Ela sorriu e voltou a comer o peixe que ainda restara em seu prato.
— Você tem vários talentos escondidos.
— Isso porque você não viu o tamanho do meu talento. — Pietro
ousou.
— Logo mais verei. — Ela piscou para ele e voltou a comer.
E lá estavam eles, outra vez no jogo de flerte.
CAPÍTULO 18
***
***
***
Laura piscou algumas vezes, tentando fazer com que seus olhos se
acostumassem com a claridade. Seu corpo doía, sua cabeça latejava tanto que
ela jurara ter uma bateria dentro. Tentou levantar o seu corpo, porém, mãos
fortes a fizeram retrair. Lutando contra a dor em sua cabeça, ergueu o rosto e
abriu lentamente seus olhos.
— Pietro? — disse ela, olhando ao redor. Laura demorou para
assimilar as coisas e perceber onde estava, porém, quando sua mente a
lembrou de como havia parado naquela cama de hospital, seu corpo entrou
em pânico. — Não! Tira a mão de mim. Me solta.
Laura chorava e gritava ao mesmo tempo. Flashes da noite anterior
invadiram sua mente com força total. Ela não queria ter lembrado, não queria
ter passado por tudo aquilo. Seus braços se debatiam enquanto Pietro tentava
acalmá-la.
— Calma, Laura. — Tentou. — Estou aqui com você, nada e nem
ninguém vai te fazer mal. Eu prometo.
Os gritos puderam ser ouvidos do outro lado da porta, chamando
assim, atenção dos enfermeiros que passavam por ali.
Pietro foi instruído a esperar lá fora, enquanto ela fosse sedada.
Ele caminhou até uma máquina de lanches, encostou sua cabeça no
vidro e com força, socou. Ele queria que a dor física tomasse conta da dor
emocional. Pietro estava se sentindo culpado por não ter falado a verdade
para Laura desde o início. O medo de perdê-la falara tão alto que acabou
fazendo com que ele se calasse.
Um dos seguranças do hospital correu em direção do homem
descontrolado. Pietro não o viu chegar, continuou a bater na máquina,
descontando sua raiva sobre a máquina.
— O senhor está destruindo um objeto do hospital. Terei que pedir
para se retirar. — A voz firme do segurança fez com que ele parasse. O
encarou e não disse nada, passou por ele indo direto para o quarto onde Laura
estava. — Senhor?
— Eu pago. Pago o que quebrei. Mas não posso deixá-la sozinha
aqui, não depois do que ela passou. — Com o coração estraçalhando em mil
pedaços, ele entrou no quarto.
Ela não se debatia mais. Não falava, e nem estava acordada. Apenas
dormia tranquilamente, descansando seu corpo completamente machucado.
Pietro sentiu seu corpo caindo aos poucos, seus olhos fraquejaram ao lado da
cama.
“Não a leve, meu Deus.”
Repetia a frase como se fosse uma oração. Vê-la machucada e imóvel
era como se o chão se abrisse e ele fosse sugado.
— Juro que ninguém mais irá encostar um dedo sequer em você. —
Pietro tocou o rosto ferido de Laura. Seus olhos estavam roxos e inchados ao
redor, sua boca com dois cortes laterais, sem falar nos vários hematomas pelo
corpo. Laura parecia outra pessoa ali deitada naquela cama branca de ferro.
***
Laura estava feliz por estar saindo do hospital. Ela estava com
saudades de sua irmã, dá risada contagiante da pequena travessa; dos filmes
infantis que assistiam juntas.
Sendo guiada por Pietro, Laura fora conduzida até a saída na cadeira
de rodas. Sem poder andar direito, ele a ajudou a entrar no carro, afivelou o
cinto de segurança dela e assumiu a direção do carro.
— Você sabe que isso é demais, não é? Não precisa de...
— Laura, eu serei seu enfermeiro, motorista, amigo e tudo o que o
mais que quiser.
Laura sabia o que Pietro queira dizer, ela também queria que ele
fosse tudo para ela, mas não era merecedora. Assim que estivesse recuperada,
voltaria aos seus afazeres na cafeteria e na boate. Pensar na boate a fez
lembrar de Juan. Desde quando tudo aconteceu, ela não tivera mais notícias
dele. Por um lado, estava feliz por ter se afastado daquele lugar e de Juan,
mas por outro sentia saudades das amigas que acabara fazendo.
***
***
***
Laura ainda sentia um pouco de dor em seu pé lesionado por ter que
ficar dançando com um salto fino durante quatro horas seguidas. Ele estava a
castigando, mudou sua carga horária na boate. Agora ela não só fazia strip-
tease, mas também dançava a noite toda sob os olhares famintos dos clientes,
rodando num poste de pole dance só para agradar aos homens que
frequentavam a boate. As mãos sujas de vários homens passavam pelo corpo
dela fazendo seu estômago embrulhar.
Laura estava mais nervosa do que nunca, naquela noite realizaria o
seu primeiro programa. Teria que se vender a um homem qualquer apenas
para não ter que sofrer ainda mais nas mãos de Juan, que agora finalmente
mostrava quem era.
— Se arrume, o seu primeiro cliente já a espera naquele quarto,
Laura. — Juan piscou um olho antes de sair.
Controlando suas emoções, desceu do palco e foi até o camarim.
Tirou a lingerie vermelha e colocou uma preta. Combinou a cor do salto com
a peça íntima. Seus cabelos estavam presos, mas a pedido do cliente, Laura
os soltou e cacheou as pontas dos fios escuros. Fez uma maquiagem leve
destacando como sempre seus lábios grossos.
Era a visão do paraíso, bonita e cheia de curvas, a morena; o sonho de
consumo de qualquer homem.
Ela obrigou seus pés a andarem até o quarto onde Juan a tinha feito
de escrava sexual por horas. Ela não teve prazer, não chegou ao ápice, não o
desejou como já havia feito antes, apenas sentiu medo e nojo do homem que
usava seu corpo.
Suas mãos trêmulas abriram a porta. Um homem a esperava nu,
deitado na cama. Seu membro ereto quase não era notável devido à enorme
barriga.
“Apenas feche os olhos e faça.”
— Dance para mim — ordenou ele, apertando um botão. A música
tomou conta do quarto e Laura começou a dançar.
Seu quadril balançava de um lado para o outro lentamente. Suas mãos
passeavam por suas curvas. O homem estava gostando do que via, levou sua
mão até seu membro e começou a se masturbar enquanto Laura virava de
costas.
— Tire a roupa, mas não pare de dançar. — Ela engoliu em seco.
Devagar, abriu o fecho do sutiã, deslizou as alças pelos braços e deixou seus
seios saltarem para fora do tecido. Sua mão desceram até às laterais da
calcinha e a tirou, fincando completamente nua. — Agora vire-se para mim.
Que ver esse corpo delicioso.
Laura virou. O homem estava quase tendo um orgasmo só de olhar
sua vagina recém depilada. Ele ergueu sua mão para ela. A colocou de
joelhos na cama e como um animal sujo, ficou em pé no chão, abriu a boca
de Laura e afundou seu pênis dentro de sua boca. Sentia ir fundo em sua
garganta, a fazendo querer vomitar, mas ela foi firme, aguentou sem reclamar
as estocadas que ele dava.
— Gostosa, chupa vai! Chupa meu pau.
As mãos de Laura seguraram o membro do homem cujo nome ela
preferiu não saber, começou a chupá-lo. Sua língua rodeava a cabeça rosada
enquanto suas mãos estavam apoiadas em suas coxas peludas. Ele empurrou
Laura na cama, esticou o braço até o pequeno criado mudo e pegou uma das
várias embalagens de preservativos. Vestiu em seu pênis e com pressa, abriu
as pernas de Laura e entrou de uma única vez.
Deitada embaixo de um homem careca de meia idade nada atraente,
Laura fingia estar gostando do seu desempenho sexual, esperando que ele
acabasse logo com aquele calvário.
Laura culpava seu pai por todo o seu sofrimento. Se não fosse o seu
abandono ela não precisaria se submeter a tal humilhação.
— Vou encher esse seu rabo de porra. Vira! — Suas mãos ergueram
Laura e a colocaram de quatro na cama. Ela viu o preservativo ser descartado
no chão. Sentiu o dedo do homem invadir um lugar que ninguém mais havia
tocado e outra vez, ele entrou.
Laura gritou, mas não de prazer, e sim dor. Ele entrava e saía com
força, batia em sua bunda.
— Goza, safada. Goza dando essa bunda gostosa.
Laura havia recebido orientações de algumas meninas da boate que
disseram para demonstrar interesse pelo ato, caso contrário os clientes
reclamariam com Juan o que causaria um sério problema.
Ela gemeu algumas vezes fingindo ter um orgasmo.
Ele urrava feito um animal selvagem ao liberar seu prazer dentro
dela.
— Você é muito gostosa — ele disse e apertou sua bunda antes de
sair de dentro dela.
Assim que ele saiu do quarto, Laura levantou e correu para o pequeno
banheiro. Abriu a tampa do vaso sanitário e vomitou tudo o que ela estava
segurando desde o início.
Sua bunda ardia devido aos tapas e pelo pênis que havia entrado e
saído com força de dentro do seu ânus.
Ela deu descarga e seguiu para o chuveiro. Girou o registro e deixou
que água quente lavasse seu corpo. Ela nunca mais seria a mesma. A Laura
de antes havia sido bruscamente assassinada por Juan quando ele a obrigou a
fazer sexo.
Do lado de fora do quarto, Juan esperava Laura sair. Seus braços
cruzados e seu olhar intimidador, o deixava terrivelmente sexy e perigoso.
Era capaz de matar alguém que entrasse em seu caminho.
Fumando o terceiro cigarro em menos de dez minutos, ele imaginava
como Laura deveria estar se sentindo. Ter seu corpo usado por alguém que a
queria apenas como um mero brinquedo sexual. Ser vendida por uma quantia
insignificante.
Juan sabia que ela jamais o olharia novamente com o mesmo carinho
de antes. Ele a tinha perdido, mas deixaria a sua marca gravada nela, para que
sempre soubesse que ninguém o contrariava.
— Juan, Laura tem mais dois clientes. — Liza chegou sem ser
notada.
— Mande-os para outra garota, Laura já teve o que merecia por hoje.
Não o questionou, ela sabia que Juan não estava bem. A notícia de
que Laura estava namorando, mexeu com os sentimentos dele, o deixando
mais pensativo e frio. Ele também não era mais o mesmo e, não sabia se
voltaria a ser outra vez o Juan de sempre.
Liza se afastou, o deixando sozinho. Ele encarava a porta de madeira
vermelha como se quisesse ver através dela. Laura estava lá dentro sozinha
fazia algum tempo. O cliente saiu, disse que voltaria mais vezes por ela e
pagou um extra pelo excelente serviço a ele prestado. Juan sabia que Laura
não estava bem, que tudo aquilo a afetou mais do que ele pensara, mas seu
orgulho havia sido ferido. Ele a queria como jamais quis outra mulher, mas
também queria que ela o desejasse da mesma maneira é intensidade que ele a
desejava, porém ela escolheu outro homem. Mas não desistia fácil das coisas,
ele a teria por bem ou por mal, e para que isso acontecesse, teria que fazê-la
chegar ao fundo do poço, deixá-la sozinha no mundo tendo somente ele como
âncora.
Seus devaneios foram interrompidos quando uma mulher pálida e
com o rosto inchado abriu a porta do quarto. Ela o encarou. Seu corpo tremia
como se estivesse com frio, mas era medo. Estava com medo do que ele
poderia fazer com ela caso o cliente reclamasse. Tinha medo de como agiria
com a sua irmã caso se cansasse daquele jogo de poder.
— Você demorou — disse ele com raiva.
— Me desculpe, eu não estou me sentindo bem. — Sua cabeça
abaixou e seus olhos fixaram no chão.
— Troque de roupa e vá para casa. Amanhã você tem que estar em
ótimo estado, já que tem outros clientes. — Juan respirou fundo, tentando
encontrar algum resquício de calmaria dentro de si mesmo. Ele detestava
saber que as mãos de outros homens tocariam o corpo curvilíneo dela.
— Obrigada. — Laura passou por ele sem olhá-lo.
Assim que saiu de seu campo de visão, Juan se deu ao direito de
respirar aliviado. Ele não conseguia entender o motivo pelo qual ela não o
queria.
Não sabia, mas já estava obcecado. Ele faria de tudo para tê-la
somente para ele. Ele mal conseguiu se concentrar no resto daquela noite.
Deixou a boate sem falar com ninguém e seguiu para seu apartamento. Ele
não parava de pensar em Laura, em como a queria.
Ela por outro lado, tentava de todas as maneiras esquecer a maldita
noite que tivera. Tentava esquecer que fora abusada por alguém que um dia
disse que a ajudaria.
De banho tomado, ela deitou em sua cama e deixou que as lágrimas
rolassem livres. Ela chorou por tudo o que estava acontecendo. Seu peito já
não aguentava mais tanto sofrimento. Ela queria dar um fim a todos os
problemas, mas não podia. Laura sabia que se o seu sofrimento acabasse da
maneira que ela estava pensando, outra pessoa passaria a sofrer em seu lugar,
e ela jamais deixaria que sua irmã que ainda tinha a inocência de uma
criança, pagasse pelo seu ato de fraqueza. Ela também chorava por ter que
abrir mão de um amor, Pietro. Ele a amava, mas Laura não ficaria com
alguém tendo que omitir a verdade sobre si mesma. Seu corpo não o
pertenceria, ela seria compartilhada com vários homens e ao final da noite se
deitaria ao seu lado. Essa não era ela.
Passou o resto da noite inteira ignorando suas ligações. Ela sabia que
se ouvisse o som rouco de sua voz, desabaria no mesmo instante.
Já se passavam das onze e meia da noite quando a campainha tocou.
Laura levantou da cama, calçou seus chinelos de dedos, e caminhou
lentamente até a sala. Com medo, ela não abriu a porta. Ficou ali, pedindo a
Deus que não fosse Juan.
— Laura, eu sei que você está aí. Abre a porta. — Era Pietro,
desesperado. — Meu amor, deixe-me entrar, por favor.
Laura encostou sua cabeça contra a porta e chorou em silêncio.
Aquilo era demais para ela.
— Laura, eu te amo. Deixe-me ajudá-la seja no que for. Por favor! —
Pietro implorava. Ele precisava vê-la, saber se estava bem, tocar em seus
cabelos e inspirar seu cheiro natural. — Eu não sei o que houve, mas quero
que saiba que estarei sempre ao seu lado porque eu te amo.
Laura respirou profundamente. Mordeu seu lábio inferior até sentir o
gosto do sangue em sua boca. Ela chorou mais ainda. Deixou seu corpo cair
lentamente no chão. Abraçou seus joelhos e ali afundou seu rosto enquanto
Pietro se distanciava do local.
***
***
***
***
***
Juan fez uma linha com um pó branco sobre a mesa do seu escritório.
Enrolou uma nota qualquer que pegou em seu bolso e formando um canudo,
inalou a droga. Depois que descobrira que Laura estava namorando, se
tornara outro homem. Passou a beber cada vez mais e a usar frequentemente
drogas.
— Juan. — Liza entrou no escritório. Viu Juan jogado de qualquer
jeito sobre a cadeira. Os olhos vermelhos e pupilas dilatadas. — Que merda
você está fazendo?
Seus dedos longos apontaram para a mesa suja.
— Me deixa em paz, Liza!
— Te deixar em paz? Você não ver que está se arruinando por causa
de uma boceta? Pelo amor de Deus, Juan. Você trabalha cercado de mulheres
gostosas doidas para ter uma noite de sexo com o chefe, e você aí, se
enchendo de drogas pensando na Laura.
Juan ignorou Liza como fazia há alguns dias. Ele não queria ouvir
falar de Laura, porém, buscava sempre saber se ela estava se encontrando
com Pietro.
— Olha, eu não vou ficar aqui vendo você se acabar. Sinto muito,
mas acho que isso não te levará a lugar nenhum a não ser o cemitério, porque
usando drogas e bebendo do jeito que você estava fazendo agora, é para lá
mesmo que você vai em pouco tempo.
Liza bateu a porta do escritório atrás de si e deixou um Juan acabado
e sujo. Aquele era apenas o resto do que um dia já tinha sido um homem
temido e respeitado nas ruas de Nova Iorque. Agora Juan não passava de um
homem descontrolado e possesso pelo ciúme.
— Isso não vai ficar assim. Você será minha, Laura. Só minha.
Dito isso, ele preparou outra linha de pó branco, usou o mesmo
canudo feito com a nota de dinheiro e inalou todo o conteúdo depositado
sobre a mesa.
CAPÍTULO 25
O dia raiou e com ele trouxe lembranças de uma noite quase perfeita.
Deitada em sua cama, Laura pensava em como sua vida havia
mudado. Um dia ela era aluna de uma das melhores escolas de dança de Nova
Iorque, e no outro, era dançarina de uma boate de stripper e outras coisas.
Com cuidado para não acordar a irmã que dormia ao seu lado, Laura
levantou-se da cama e começou a juntar as peças de roupas espalhadas pelo
chão do quarto. Após trocar sua confortável camisola vermelha por um
vestido azul até o meio de suas coxas, ela olhou para Nicolle e decidiu que
aquele dia seria de pura diversão. Elas mereciam um pouco de normalidade
em suas vidas.
Sorrindo animada com a ideia, Laura saiu do quarto deixando com
que Nicolle dormisse mais um pouco.
Ela prepararia tudo para quando fosse a hora e nada desse errado.
***
Oi, Pietro.
Nicolle e eu estamos indo ao zoológico. Se você quiser e puder ir,
será muito bom tê-lo conosco.
Beijos, Laura.
Juan não conseguia controlar sua raiva, a cada soco que disferia
contra o saco de areia no galpão da boate, a raiva parecia aumentar. O suor já
escorria pelo seu rosto, quando um estrondo alto o fez parar. Era Liza.
— Eu disse que não queria ser incomodado — disse ele, entredentes.
— Juan, qual o seu problema? Porque você fica agindo como um
idiota atrás da Laura?
Ele não respondeu. Voltou a se concentrar no saco de areia à sua
frente e mais socos foram distribuídos. Para Juan, o saco de areia
representava Pietro.
— Juan! — Liza gritou, furiosa.
— Já chega! — Seu olhar era de puro ódio. — Não devo explicações
a ninguém, muito menos a você. Agora me deixe em paz.
Virado de costas, Juan ouviu os passos de Liza se afastando e ficando
cada vez mais longe, e assim que ouviu a porta grande de ferro sendo
fechada, ele pôde respirar.
— Laura, Laura... — murmurou ele. — Você não sabe com quem
está brincando.
***
Laura gargalhava sem parar das caretas que sua irmã fazia ao tirar
fotos. Era uma mais engraçada do que a outra.
Pietro admirava Laura sorrir, parecendo estar hipnotizado por sua
beleza.
Sentados, lado a lado, na mesa de uma lanchonete, Laura e Pietro,
observavam Nicolle comer como se não houvesse mais ninguém ali a não ser
ela. Envolvida em sua bolha particular de felicidade, ela nem prestava
atenção nos demais.
— Obrigada por aceitar o convite — falou Laura, com a voz baixa,
como se estivesse sussurrando. — Nicolle ficou muito feliz.
— Eu que agradeço por me convidar. — Eles se olhavam com
carinho. — Sinto sua falta.
Laura corou.
— Pietro... — sua voz se calou quando a mão dele tocou a dela por
cima da mesa.
Laura estava apaixonada, mesmo sabendo que não seria fácil. Seu
corpo tremia só com a possibilidade de pensar em seus lábios tocando os de
Pietro, ou em suas mãos passeando por sua pele causando-lhe arrepios. Ela
sabia que Pietro jamais aceitaria sua vida, e isso a matava por dentro. Como
Laura tinha inveja dos casais que estavam ao seu redor, felizes e livres de
qualquer culpa. Ela queria aquilo para si, queria poder sair com Pietro sem o
medo de que algum cliente da boate a reconhecesse. Ou que por causa do que
fazia, sua irmã fosse prejudicada como da última vez na escola onde
estudava.
Laura engoliu o nó que começava a se formar em sua garganta, ela
não iria chorar, não naquele momento. Aquele dia seria diferente para todos,
e Laura não se sucumbiria a sua dor.
— Você não sabe como quero te beijar agora, tomá-la em meus
braços e te proteger — Pietro falou sério, próximo ao seu ouvido. — Eu te
quero com seus medos e inseguranças, pois eu te amo mais do que tudo nesse
mundo.
Laura ergueu seu olhar e encontrou um Pietro apaixonado olhando
para ela. Suas bocas estavam tão próximas, que ela conseguiu senti o cheiro
do hálito quente misturado com refrigerante e hambúrguer, de Pietro. Seus
dedos se elevaram até a boca dele. O toque macio das pontas dos dedos de
Laura, o fizeram, sem querer, soltar um gemido.
— Vamos com calma, o tempo nos dirá tudo.
— Irei te esperar o tempo que for.
Laura sorriu, e o beijou no rosto.
O resto do dia passou voando diante dos olhos de Laura, e quando ela
percebeu já estava parada atrás do palco da boate, se preparando para entrar e
fazer o último show da noite. Seu nome foi anunciado, e a morena que usava
a mesma máscara de todas as noites, afastou as cortinas e andou lentamente
sobre seus saltos finos, lingerie preta e cabelos soltos. Uma cadeira estava em
frete ao público. Sorrindo sedutoramente, Laura rodopiou a cadeira,
rebolando e seduzindo a todos naquele lugar. Sentou de costas para eles,
balançou seus braços de um lado para o outro conforme a batida da música.
Sua mão foi de encontro ao fecho do sutiã, que ficava na parte da frente da
peça delicada que Laura usava. Assim que ela se livrou do sutiã e jogou ao
seu lado, os homens foram à loucura gritando palavras que para ela já eram
normais. Ela levantou, seus cabelos compridos caiam sobre seus seios fartos,
os cobrindo. Laura afastou a cadeira, e com um pulo, girou duas vezes no
poste, deslizando lentamente até o chão, onde ali ficou de joelhos e desatou
os pequenos laços da sua calcinha. Ela estava nua, outra vez. Com as mãos
apoiando no chão, Laura engatinhou até a parte da frente do placo, parou de
frente aos pares de olhares famintos de desejos, e tirou a máscara ao termino
da música.
Ao som de palmas e assobios, saiu. Vestiu seu roupão roxo e foi
direto para o camarim se preparar para os programas da noite.
Naquela noite Laura havia feito mais programas do que chegou a
imaginar. Sua vagina ardia tanto que ela mal conseguia ir ao banheiro sem
chorar. Ela se sentia como se fosse um saco de lixo podre. Fizeram tantas
coisas com ela que chagava a ser inexplicável.
Duas batidas na porta do quarto onde três homens haviam saído a
poucos minutos, fizeram Laura tremer mais ainda. Ela não aguentaria mais, a
morte seria a melhor saída para ela, se Nicolle não existisse.
— Laura. — Ela não sabia se era bom ou ruim ouvir a voz de Juan.
Ele entrou, fechou a porta atrás de si e caminhou até ela que estava sentada na
cama. — Hora de receber o pagamento da noite.
Laura não disse nada, apenas deixou que ele sentasse ao seu lado. O
viu pegar um envelope branco e tirou de dentro várias notas. Juan começou a
contar o dinheiro ao lado de Laura, e a viu o encarando com medo. Naquele
exato momento, ele soube que a tinha perdido para sempre.
— Se tivesse lhe tirado dessa vida antes, você teria ficado comigo?
— ele perguntou, parando de contar o dinheiro e mirando os olhos assustados
e vermelhos de Laura.
— Eu não me encaixo no seu mundo.
Juan processou suas palavras, e voltou a contar o dinheiro, separando
uma boa quantia para Laura que o olha sem entender.
— Talvez você tenha razão, somos de mundos diferentes e você já
ficou muito tempo longe do seu. — Ele levantou, entregou o roupão roxo que
estava jogado no chão para Laura e se dirigiu até aporta. — Hoje você
conseguiu sua liberdade.
Laura ficou sentada na cama tentando assimilar o que ele havia lhe
dito. Finalmente ela estava livre dele e da boate. Poderia voltar a sorrir sem
medo, trabalhar em algum lugar que pagasse mal, com um chefe chato e
colegas invejosos, tudo voltaria ao normal, menos ela. Laura jamais seria a
mesma depois de todos aqueles meses sendo feita de escrava por Juan. Por
um momento, bem no início de tudo, Laura chegou a pensar que ela e Juan
poderiam ter algo especial, algo puro e verdadeiro, mas com o passar do
tempo e a chegada de Pietro em sua vida, percebera que tudo não passara de
uma ilusão, uma fantasia de sua cabeça um tanto confusa com todos os
acontecimentos.
Quando Juan passou pela porta, ele se deixou ser levado por um
sentimento mais forte do que ele, o qual era desconhecido, porém, intenso.
Ele passou pelas pessoas que estavam ali no corredor, ignorou o chamado de
Liza e se enfurnou em seu escritório. Jogou o dinheiro sobre a mesa no sofá e
mergulhou em seus sentimentos e bebidas.
Em toda a sua vida, jamais pensou que sentiria uma dor feito aquela.
Ele já havia sofrido dor maior quando criança, quando a sangue frio,
assassinaram sua família, desde então, ele trancou seu coração para qualquer
tipo de sentimento, inclusive os que Laura havia despertado.
Encheu o segundo copo de uísque, e bebeu de uma vez só. Ele só
sairia dali quando todo o seu estoque de bebida chegasse ao fim, e se
dependesse dele não demoraria muito.
Laura ainda estava atônita, a ficha de que ele não seria mais uma
stripper ainda não tinha caído, parecia um sonho que estava prestes a virar
um pesadelo, como todos os outros, mas no fundo, Laura sabia que agora era
real.
Com um sorriso no rosto, algumas dores no corpo e a alma ainda
escura, ela levantou da cama e entrou no banheiro. Deixou o roupão cair no
chão, abriu o registro da água e deixou as gotas mornas massagearem seu
corpo.
— Livre... — falou ela, enquanto a água caía em sua cabeça. —
Estou livre.
Lágrimas se misturavam com a água do chuveiro. Ela chorava de
alegria, finalmente a dívida de seu pai estava paga, sua irmã teria uma vida
normal e ela poderia cuidar de Nicolle como sua mãe cuidaria se estivesse
viva.
Depois de dez minutos embaixo da água, Laura fechou o registro,
enrolou o seu corpo a uma toalha branca e seus cabelos em outra. Olhou seu
reflexo no espelho embaçado pelo vapor do banho. Usando sua mão para
limpá-lo, ela fitou um sorriso que não via a muito tempo.
Ela não demorou muito, secou seus cabelos e vestiu a roupa que tinha
escolhido para usar naquela noite; uma calça jeans escura com uma blusa de
mangas azul. Seu tênis branco nos pés, e a bolsa em seu ombro, Laura fechou
a porta do quarto sem olhar para trás. Ali ela pretendia deixar uma garota
sofrida e humilhada.
A cabaça de Juan girava, ele já tinha bebido mais do limite para uma
noite. Juan não era o tipo de homem que se embriagava por qualquer motivo,
ele gostava de se manter sóbrio caso tivesse que agir de última hora. Com o
nariz branco devido ao uso de drogas, ele andou cambaleando até a porta no
mesmo momento que Laura passava por ela. Seus olhares de cruzaram, um
frio percorreu o corpo dela, a fazendo temer de verdade por sua vida. Já ele, a
ignorou. Fingiu que não a viu e puxou a ruiva que estava atrás de Laura. Se
ele não podia tê-la, então fantasiaria com outra mulher.
Fora presenteada com o ar frio da noite de Nova Iorque, assim que
saiu da boate. Ela olhou sobre seu ombro e deu adeus a sua antiga vida.
— Para casa, Laura? — perguntou, o mesmo taxista que a levava
todos os dias para casa.
— Sim. Está livre? — indagou ela, pousando sua mão sobre o carro.
— Para você, sempre! — Rindo, ele abriu a porta de trás. — E você,
está livre?
— Sim — ela respondeu sorrindo com sinceridade. — Agora estou
livre.
CAPÍTULO 26
Três dias já tinham se passado desde que ganhara sua liberdade. Ela
não precisava mais ter que sair todas as noites, não tinha mais que deixar sua
irmã sob os cuidados de alguma vizinha, e nem tinha mais que mentir.
Sentada no sofá da sala ao lado de Nicolle, um bip em seu celular
tirou sua atenção do filme infantil. Esticando seu braço para pegar o pequeno
aparelho sobre a mesa de centro, ela abriu a mensagem do número
desconhecido.
***
Pietro sentia que algo estava estranho, seu peito estava agitado e a
noites tinha o mesmo pesadelo assombrando seus sonhos, o deixando sob
alerta.
Na cafeteria, ele e o senhor Koll arrumavam as últimas coisas para a
reinauguração do estabelecimento. A reforma já terminara, e tudo estava
conforme Pietro planejara.
— Acho que essa caixa foi a última — disse Koll, ao empilhar mais
uma caixa de papelão em cima de outras.
— Também acho — disse ele, olhando a nova cozinha reformada. —
Fizemos um bom trabalho aqui.
— Você fez um ótimo projeto. O que eu tinha planejado nem
chegava perto do que fizestes aqui, meu filho. Agora é só esperarmos amanhã
e reabrir. Chamou a Laura?
Pietro olhou para além das enormes janelas de vidros como se
buscasse dali as respostas para seus problemas.
— Não, mas irei passar na casa dela assim que sair daqui.
— Ótimo, peça a ela que traga Nicolle também, estou com saudade
daquela menina travessa.
Pietro também sentia saudades de Nicolle e principalmente de Laura.
Ele estava agindo como ela havia pedido, com calma, porém, saber que
estava se deitando com outros homens o deixava louco de raiva.
— Acho que vou lá agora. — Pietro largou a caneta e a folha do
projeto da reforma em cima do balcão da cozinha. Correu até o escritório que
tinha sido dele por algum tempo pegou suas coisas e seguiu até a casa de
Laura, sem ao menos se despedir do senhor Koll, que sorria ao vê-lo sair
quase correndo.
— Jovens... — comentou ele, voltando a empilhar as caixas.
Pietro entrou no carro, ele não gostava de gastar dinheiro com coisas
matérias, mas ter um automóvel próprio era primordial em certas ocasiões,
por exemplo: para chegar o quanto antes na casa de Laura e poder vê-la, tocar
em seu rosto e tentar a sorte de sentir o sabor de seus beijos novamente. Ele
sentiu seu membro enrijecer só de pensar em tê-la nua embaixo de seu corpo.
A vida já tinha brincado demais com eles, e era chagado o momento
da felicidade ganhar seu devido lugar em suas vidas.
Enquanto Pietro acelerava com seu carro pelas ruas engarrafadas de
Nova Iorque, Juan se aproveitava do momento. Nicolle havia acabado de
dormir em seus braços, e com a desculpa de que a colocaria na cama, ele
apegou no colo e seguiu para o quarto cor-de-rosa da menina. Laura o seguiu,
o observou colocar sua irmã na cama e a cobrir com o lençol fino branco.
— Juan, por favor acho que já está na hora de você ir embora. —
Laura fechou a porta do quarto de Nicolle e o encarou, fingindo ter coragem
para enfrentá-lo, mas por dentro tremia de medo de que ele fizesse algo
contra elas.
— Eu te quero, fica comigo e não deixarei que falte nada para vocês
— Juan suplicou.
— Juan, eu e você não existe e nunca existirá. O que me prendia a
você era a dívida do meu pai, agora que ela já foi paga, não temos mais nada.
Agora, por favor vai embora.
Juan segurou forte nos ombros de Laura, a fazendo resmungar de dor
e a empurrou até a sala. Seus olhos haviam aumentado de tamanho, suas
narinas inflavam a cada passo que ele dava com ela.
— Você não entende... Você tem que ficar comigo. Eu te amo, Laura.
— Juan, isso não é amor, é obsessão.
— É AMOR SIM! — gritou ele. — E eu sei que você também sente
o mesmo por mim.
Laura tentava convencê-lo de que seus sentimentos não eram
verdadeiros, mas foi interrompida quando o som da campainha ecoou pelo
apartamento.
— Deixe-me abrir a porta — pediu ela.
— Cala a boca — disse ele, baixo e próximo ao seu ouvido. — Não
quero que ninguém atrapalhe a nossa conversa.
Outra vez tocaram a companhia. Havia duas opções: ou ficava calada
sob as mãos de um obsessivo descontrolado que poderia fazer algo de ruim
contra ela e sua irmã, ou gritaria por ajuda e acabaria com aquele pesadelo. O
tempo estava acabando, e ela precisava agir o quanto antes.
— SOCORRO! SOCORRO! — Laura conseguiu gritar antes dele
tampar sua boca.
***
Já haviam se passado três dias desde que toda verdade veio à tona.
Laura e Pietro pareciam dois estranhos enclausurados em suas casas.
Tanto ela quanto ele, sofriam devido as mentiras.
Deitado em sua cama no quarto onde ele e Laura fizeram amor pela
primeira vez, Pietro secou a milésima lágrima que escorria de seus olhos.
Parecia que era somente aquilo o que ela sabia fazer ultimamente.
— PORRA! — esbravejou ele, irritado por ter deixado que tudo
chegasse naquele ponto.
O som do celular tocando no chão o faz recuperar um pouco a calma.
Na esperança de que fosse Laura do outro lado da linha, levantou e
rapidamente pegou o celular o levando até seu ouvido sem ao menos ver o
nome no visor do pequeno aparelho.
— Até que enfim! — Dominic falou, aliviado. — Estou à sua procura
há dias, por onde andou?
Outra vez o sentimento de tristeza voltou a tomar conta do corpo
dele. Por um momento, pensou que poderia ser Laura ligando para conversar
sobre tudo o que aconteceu, ou apenas para saber como ele estava, porém,
não era ela.
— Diga logo o que você quer, Dominic. Não estou...
— Não quero saber. Já estou cheio de problemas para resolver, não
posso ter mais um, mesmo que não seja meu. Liguei para saber quando você
vai para a casa da sua mãe? Quero uma carona, meu carro está na oficina
mecânica.
— Casa da minha mãe? — indagou Pietro, sem entender.
Dominic soltou uma longa respiração, até que voltou a falar.
— Você esqueceu do casamento da própria mãe? — Ele riu,
sarcástico. — Nesse sábado...
Pietro não esperou que seu amigo terminasse de falar, desligou o
celular e o tacou com força na cama. Era por cauda da sua mãe e do pai de
Laura que ele havia se metido naquela confusão. Ele jamais iria no casamento
das pessoas responsáveis pelo sofrimento de Laura, não depois de tudo o que
ela teve que passar.
Não muito distante dali, Laura tentava não pensar muito em Pietro,
ou nas coisas que Juan havia lhe dito. Ela não queria concordar com ele, mas
seu coração gritava afirmando que Juan estava certo. Ela não passava de uma
simples stripper, uma garota de programa e nada mais.
— Laura! — gritou Nicolle, trazendo-a para o mundo real. — Olha
só o desenho bonito que eu fiz. — A pequena menina que tinha um sorrido
largo nos lábios, entregou o papel a irmã, que olhava atentamente na tentativa
de entender do que se tratava. — Essa aqui... — Apontou ela. — É você, essa
sou eu, esse do me lado é o tio Juan e esse do seu lado é o tio Pietro. Não
ficou bonito meu desenho, Laura?
Ela queria dizer para a irmã nunca mais desenhar ou sequer pensar
em nada que fosse relacionado ao homem que a fez de garota de programa e
nem do homem que mentiu para ela sobre o paradeiro do seu pai.
— Está lindo, meu amor. Agora guarde seu desenho que já está na
hora de jantar.
Nicolle correu até a sala onde seus lápis de cores e folhas estavam
jogados, enquanto Laura prendia seu cabelo que já estava um pouco maior.
Cansada de ficar chorando, de perder noites de sonos. Ela ansiava sorrir de
novo e agora que estava finalmente livre, ela faria por onde nunca mais ter
que voltar para aquela vida de humilhação.
As horas pareciam não passar, para onde olhava lá estava ele. Era
evidente que ela o amava mais do que deveria, mais do que a si mesma,
porém, seu coração e orgulho estavam feridos demais para reconhecer o
quanto Pietro havia mudado sua vida por ela.
Andando até a cafeteria do senhor Koll, ela pedia aos anjos que não
esbarrasse com ele. Não sabia se aguentaria ficar muito tempo cara a cara
com ele sem dizer nada, sem olhá-lo nos olhos. Seu corpo clamaria pelo dele,
mesmo se sentindo suja.
Eram exatamente nove e meia da noite quando Laura atravessou a
porta da frente da cafeteria. Não havia mais nenhum cliente ali, e o senhor
Koll já se preparava para fechar a loja quando olhou em direção da porta e
avistou uma Laura abatida e alguns quilos mais magra. Ela sorriu sem ânimo
para ele, que soube na hora que ela não estava bem. Deixou seu avental sobre
o balcão e andou em sua direção com os braços abertos a abraçando. Laura se
permitiu chorar mais uma vez, só que dessa vez ela não estava sozinha, tinha
um ombro amigo para desabafar.
— Chora, minha filha... pode chorar. — Koll acariciava os cabelos de
Laura, enquanto ela soluçava.
— Eu o amo tanto... — sussurrou ela, entre os soluços e lágrimas. —
Mas não posso ficar com ele.
O senhor que um dia já tinha sido seu chefe e agora estava mais para
um amigo confidente, afastou seus corpos. Passou suas mãos enrugadas pela
face molhada pelas lágrimas e segurou o rosto de Laura, a encarando sério.
— Você pode fazer tudo o que quiser, o que te impede é você mesma.
Eu não sei o que aconteceu entre vocês, e sinceramente, nem quero saber,
isso é algo que diz respeito somente a você e ele, mas uma coisa eu posso
dizer... — Ele sorriu ao beijar as bochechas de Laura, que sorriu de volta. —
O Pietro é louco por você, minha querida. Eu sou bastante vivido, já vi
muitos casais se formarem aqui nesse café, já presenciei pedidos de
casamentos e declarações de amor, sei identificar quando um homem está
apaixonado, e eu posso afirmar com toda a certeza de que ele te ama.
Enquanto Laura ouvia o conselho do senhor Koll, Pietro tomava a
dura tarefa de falar com sua mãe. Depois de meses sem notícias dela ou de
seu irmão mais novo, Pietro tinha que tirar satisfação sobre tudo o que estava
acontecendo.
Respirando fundo, Pietro deslizou o dedo pela tela do celular indo aos
contatos achando o de sua mãe e logo em seguida colocou o aparelho em seu
ouvido.
Um toque.
Dois toques.
No terceiro toque a voz rouca de Briana invadiu seus tímpanos.
— Filho? — perguntou ela, com medo. — É você Pietro?
Silêncio.
Pietro não sabia o que dizer, ele estava furioso com sua mãe. Ele não
sabia se a perdoaria algum dia por ter escolhido ficar com um homem que
arruinou a própria família apara ficar com outra mulher.
— Meu filho...
— Agora sou o seu filho? — Sua voz tinha um som de desprezo. —
Mas quando você preferiu ficar com aquele homem eu não era mais o seu
filho, não é? Sou apenas quando lhe convém.
Briana deixou uma lágrima solitária e silenciosa cair. Ela sabia que
Pietro não aceitaria seu relacionamento com David, porém, ela o amava,
— Você vem para o meu casamento? Eu ficaria muito feliz em tê-lo
aqui. Queria tanto que você me levasse ao altar.
Pietro riu, alto. Passou a mão esquerda no cabelo e sorveu uma boa
lufada de ar.
— A senhora só pode estar de brincadeira. Eu jamais, ouça bem,
jamais irei concordar com uma coisa dessa. A senhora destruiu uma família.
Fez uma mãe tirar a própria vida por causa do abandono do marido, o mesmo
com quem pretende se casar. Acha mesmo que ele não fará igual da primeira
vez? Que garantia a senhora tem que ele não irá deixá-la por uma mulher
mais jovem?
— Pietro, não admito que fale nesse tom comigo. Eu sou sua mãe,
quer queira ou não!
— A verdade dói, não é? — perguntou Pietro, retoricamente. —
Espero que seja feliz sabendo que sempre será a outra.
Tomada pela raiva, Briana encerrou a ligação aos prantos. As
lágrimas brotavam de seus olhos sem nenhum esforço. Seu corpo se curvou e
o choro tomou conta da mulher que antes sorria.
David chegou em casa depois de mais um dia de trabalho, quando viu
a mulher chorando compulsivamente no chão da sala. Ele se apressou para
socorrer a mulher que só sabia chorar naquele momento.
— Amor, o que houve? Fala comigo. Briana. — David segurou a
mulher em seus braços e a levou até o sofá de três lugares da sala. — Deite-
se, vou pega um copo de água com açúcar...
— NÃO! — gritou ela. Suas mãos o segurava pela camisa azul
xadrez. — Eu sempre serei a outra na sua vida?
David a olhou sem entender onde ela queria chegar com aquela
pergunta.
— Como assim, outra?
— Pietro ligou... — Soluçou ao falar. — Ele disse que sempre serei a
outra em sua vida. Eu sei que não é verdade, acredito no seu amor, no nosso
amor. Eu só queria que ele aceitasse e me levasse até você no altar, mas ele
disse que não virá.
David sentou ao lado da esposa no sofá, abraçou seu corpo trêmulo e
disse:
— Mas tem uma coisa que não sai da minha cabeça. Porque você
nunca procurou suas filhas? — A pergunta de Briana pegou David
desprevenido. — Eu sei como lidar com o meu filho, mas eu acho que já está
na hora de você ir atrás das suas filhas.
— Não se preocupe com isso, tudo dará certo. Eu prometo.
***
Sete dias. Esse era o número de dias que Laura e Pietro já estavam
distantes um do outro. Depois da conversa como senhor Koll, Laura pensou
bem no que faria, e chegou à conclusão de que um hora ou outra eles teriam
que sentar e conversar, porém, faltava coragem para que Laura pudesse fazer
isso, até aquela noite.
Respirou fundo tomando coragem para fazer o que estava
determinada naquela hora. Contando de um até dez, ela digitou o código no
elevador que dava acesso ao último andar naquele prédio. Dentro do
elevador, ensaiava o que iria dizer, porém, ela tinha certeza que na hora todas
as palavras sumiriam como em um passe de mágica, e foi exatamente o que
aconteceu. Quando as portas enormes de ferro do elevador se abriram,
revelando um ambiente sujo, cheio de garrafas vazias e um Pietro caído em
meio a sujeira, Laura se desesperou. Ela correu até ele, que estava deitado no
chão com uma garrafa na mão.
— Pietro, por favor responde — pediu ela, agachando-se ao lado dele
e erguendo sua cabeça sobre suas pernas. — Acorde, Pietro. Vamos!
Estava sonhando com um lindo lugar, onde ele poderia estar com
Laura, livres de qualquer medo e preocupação. Podia ouvir a voz da sua
amada lhe chamando para caminharem de mãos dadas pelas ruas daquele
lugar, mas toda vez que tentava correr, Laura parecia ficar mais e mais
distante.
— PIETRO! — gritou Laura, desesperada já pensando o pior.
Aos poucos, ele foi recuperando a consciência, seus olhos piscavam
se acostumando com a luz da sala. Ele não sabia que dia e nem que horas
eram, para ele, nada mais importava se Laura não fizesse parte.
Depois de um banho frio e duas xícaras de café forte e sem açúcar,
Laura e Pietro estavam cara a cara.
Ela tamborilava seus dedos sobre a mesa da cozinha, enquanto ele, a
admirava. Fazia dias que ele não a via.
— Precisamos conversar — disse ele depois de um longo tempo
calado.
— Concordo.
— Onde está Nicolle? — Pietro bebeu o resto de café que estava na
xícara, com aquela, já contabilizava o total de três.
— Com uma vizinha. Não se preocupe.
As mãos dele formigavam para tocarem em Laura, mas ele iria
respeitar o espaço que ela tinha imposto. Esperaria tudo se acertar para só
então, tê-la outra vez em seus braços.
— Tudo bem, então... — Pietro foi interrompido pelo som do
interfone. Ele olhou em seu relógio e constatou que já se passava das quatro
horas da tarde. Ele pediu desculpas a Laura e foi atender. — O que
aconteceu, Ramiro?
Do outro lado da linha, Ramiro o porteiro informava que um senhor
desejava falar come ele, e que não poderia esperar mais. Intrigado, Pietro deu
a ordem para que deixasse subir. Caminhou até aporta de entrada do elevador
e esperou que as portas se abrissem e revelasse quem desejava falar com ele.
Seus olhos não queriam acreditar no que estavam vendo. Era impossível que
aquela pessoa estivesse ali, bem diante dele. Suas mãos se fecharam e Pietro
precisou cravar suas unhas nas palmas das mãos, uma tentativa falha e tosca
de reter sua raiva.
— O que você está fazendo aqui? — perguntou Pietro, com os dentes
serrados. — Como descobriu onde moro?
— Temos que conversar, e tem que ser agora.
Pietro sabia que se ele desse mais um passo em sua direção, sua raiva
não poderia ser contida. Porém, o fato de que Laura estava no outro cômodo
à sua espera o fez repensar no que diria.
— Não temos nada para conversar. Se retire, por favor. — Pietro
estava mantendo o cuidado para não fazer barulho e acabar chamando a
atenção de Laura. Tudo o que ele menos queria era que ela sofresse ainda
mais.
— Temos sim! Com que direito você fala para a sua mãe que ela
sempre será a outra em minha vida? Será que você não entende que nos
amamos, e ela só queria que o filho mais velho dela a levasse até o altar? Não
vim para brigar com você, Pietro. Estou aqui para te levar comigo para o meu
casamento, isso...
O homem que falava com Pietro se calou. Seus olhos fixaram em
Laura que o encarava incrédula.
— Laura...
— Casamento? — perguntou ela. — Eu não acredito no que acabei
de ouvir. Depois desse tempo todo, o senhor aparece na porta dele exigindo
que ele vá no seu casamento!
Pietro correu até Laura, que mantinha seus olhos fixo em seu pai. A
raiva era evidente em seu rosto, sua face branca ganhou um tom avermelhado
e seus olhos pareciam que saltariam a qualquer momento.
— Filha, deixa eu explicar. — David tentou acalmá-la, mas a jovem
já havia perdido a paciência.
— Não tem explicação para o que senhor fez! Por sua culpa minha
mãe se suicidou. Por sua culpa minha irmã e eu fomos despejadas de casa.
Por sua culpa eu tive que tirar a roupa para colocar comida na mesa e pagar a
merda da sua dívida com um bandido. Por sua culpa eu fui humilhada,
desprezada, espancada e estuprada. Por sua culpa. Sua. Sua. Sua! Será que
em nenhum momento você pensou em mim? Ou em Nicolle que é a mais
nova? Que merda de pai é você que abandona a família e não procura saber
pelo menos se estão vivas.
— Laura...
— Laura porra nenhuma! Eu te odeio com todas as minhas forças. Te
odeio. Te odeio. Te odeio! Quero que você morra sozinho igual fez com a
minha mãe.
Laura não havia notado, mas tinha se aproximado o bastante de
David ao ponto de socar seu peito.
Seu pai estava atônito, ele não fazia ideia do que a filha teve que
passar depois que a deixou à mercê da própria sorte. Ele abaixou sua cabeça.
Passou as pontas dos dedos em seus olhos e falou sem olhá-la:
— Isso não ficará assim.
CAPÍTULO 28
Depois que David foi embora sem dizer nada, Laura correu para os
braços de Pietro e chorou. Ali ela sentia que estava em segurança, em paz. A
paz que ela tanto buscava e que finalmente havia encontrado.
Pietro a levou até o quarto. Com carinho, a deitou sobre a cama e
como se Laura fosse uma criança com medo do escuro, ele deitou ao seu lado
e ali ficou.
— Eu não mereço isso. Não mereço o seu carinho — murmurou,
Laura. — Não depois de tê-lo tratado tão mal dias atrás.
— Não se preocupe com isso. Erramos, mas o que importa e que
agora estamos aqui e eu estou disposto a ficar do seu lado mesmo que eu
tenha que enfrentar um batalhão de Juans.
Laura sorriu.
Seus olhares se encontraram suas bocas estavam próximas. Bastava
apenas um deles se inclinar para que suas bocas se tornassem uma só. E foi
Laura quem tomou a iniciativa. Ela encurtou a distância entre eles. Sua língua
pediu passagem para dentro da boca de Pietro assim que seus lábios se
encostaram. Laura levou suas mãos até a nuca de Pietro, intensificando cada
vez mais o beijo.
Ele ansiava por aquele beijo a vários dias, que mal podia acreditar
que aquilo estava acontecendo. Seu corpo reagiu ao beijo, ele senti seu
membro ganhar vida, endurecendo dentro da cueca. Ele fez menção de ficar
por cima do corpo de Laura, mas como se algo despertasse dentro dela, ela o
afastou.
— Não posso — ela disse, ofegante. — Eu não consigo, não depois
de tudo o que aconteceu comigo.
— Calma, tudo bem. No seu tempo, só quero que saiba que eu te amo
e vou te esperar o tempo que for preciso.
Laura tinha certeza de que Pietro não era real. Não existia homem
mais gentil e atencioso que ele. Com o olhar de apaixonada, ela uniu outra
vez seus lábios, e com eles grudados, ela disse a frase que mudaria tudo.
— Eu te amo.
Pietro cessou o beijo. A encarou na esperança de que o que acabara
de ouvir fosse verdade e não uma brincadeira que sua cabeça estava lhe
pregando.
— Você disse...
— Que te amo, Pietro. Sei que você mentiu para mim, assim como eu
também achei que estava mentindo para você, erramos, somos humanos e
falhamos muitas vezes, mas no meio dessa confusão toda você surgiu e me
salvou da escuridão na qual eu me encontrava cada vez mais imersa.
Pietro parecia uma criança boba que ansiava pela chegada do bom
velhinho na véspera de Natal. Mal conseguia acreditar no que Laura estava
falando. A tempos ele não sentia-se assim, tão alegre; completo.
— Você acabou de me fazer o homem mais feliz do mundo, pelo
simples fato de ter o amor. — Ele a beijou de leve na boca. — Dorme aqui
essa noite?
Laura o olhava com amor e sabia que não resistiria, aceitaria seu
pedido de passar a noite ao seu lado, mesmo que fosse apenas para dormir.
Ela também queria e sabia que iria se arrepender depois quando chegasse em
casa. Eles precisavam de um tempo juntos e sozinhos. Lentamente, afastou as
cobertas e deitou-se. Pietro imitou o seu gesto e logo já estavam deitados na
cama. Com a cabeça apoiada sobre seu peito, Laura fechou os olhos se
entregando ao sono, seu corpo estava cansado demais devido ao que havia
acontecido mais cedo com o seu pai, ela só desejara dormir e deixar aquelas
horas vividas para trás. Mas antes que ela já estivesse totalmente entregue ao
sono, a voz de Pietro invadiu seus ouvidos em um sussurro.
— Você é tudo para mim. Eu te amo! — Laura não falou nada,
apenas absorveu aquelas palavras e assim dormiram juntos.
***
“Número desconhecido”
“Está vendo o que acontece com quem me deve? Seu papai veio tirar
satisfação comigo. Dizendo que eu te aliciei, ingênuo, mal sabe que a filha
gostava de tirar a roupa, mas tudo bem, eu te perdoo por ter falado coisas
ruins sobre mim. Serei até bonzinho e irei deixá-lo ir se, você vier até a
boate, sozinha. Estarei à sua espera, entre pela garagem e desça as escadas,
tic-tac, o tempo está se esgotando e a vida do seu papai também.”
Laura deixou seu celular cair se espatifando todo no chão. Por mais
que sentisse raiva de David, jamais desejara seu mal, ele não merecia morrer
daquele jeito, muito menos pelas mãos de Juan. Ela pegou sua bolsa, correu
até a sala e pegou a chave do carro que estava sobre a pequena mesa de
centro e saiu sem se despedir de Pietro. A vida de seu pai dependia dela, e se
Pietro soubesse onde ela estava indo com tanta pressa, tentaria para-la e
acabaria colocando tudo a perder. Assim que chegou ao estacionamento do
prédio, Laura desativou o alarme do carro. O pouco que ela sabia sobre
direção aprendera nos jogos de corridas que jogou com os amigos depois que
saía das aulas de balé, aquilo teria que servi para alguma coisa. Ela ajeitou o
retrovisor do carro, girou a chave e dirigiu até a saída. Já na rua, ela deixava o
medo para trás e começava a ganhar velocidade, correndo contra o tempo
para chegar na boate e salvar seu pai. Laura ultrapassava os sinais vermelhos,
e quase provocou um acidente grave, se não fosse a agilidade do outro
motorista ao desviar do carro que ela dirigia. Em menos de vinte minutos,
Laura já estava estacionando em frente à boate. Ela desceu do carro e correu
até a garagem que ficava na parte de trás do local. A porta estava entreaberta,
dando uma pequena visão da parte de dentro. De repente, uma mão a puxou
para dentro. Laura não teve muito tempo para questionar, pois a mesma mão
que havia lhe puxado agora cobria sua boca a impedindo que gritasse por
ajuda. Fazendo como Juan havia dito no vídeo, ela desceu as escadas
chegando ao subsolo da boate. Seu pai estava caído no chão, mergulhado em
uma possa de sangue, o qual provavelmente seria o dele. Ela tentou gritar,
mas as mãos que a seguravam eram fortes demais.
— Pode soltá-la — falou Juan, surgindo de um canto escuro. Em sua
mão direita ele carregava uma arma, e na outra uma faca. Ele apontou para o
corpo de David com a faca e olhou para Laura. — Ele não parava de falar que
você jamais me amaria. Isso acabou me deixando muito furioso, então cortei
a língua a dele.
— NÃO! — Laura gritou. O choro tomou conta de seu corpo a
fazendo cair de joelhos, ao perceber que seu pai estava morto. — Pai...
Laura havia dito que desejava que seu pai morresse, mas não era
verdade. No momento da raiva, ela falou sem pensar, e só naquele momento
ela viu o quão forte eram as palavras. Seu peito doía, ela nem tinha mais um
coração o qual pudesse dizer que estava em frangalhos.
— Não chore por ele, meu amor. Lembre-se que se não fosse por ele
a gente não teria se conhecido. Eu apenas o matei porque ele me devia, e foi
você quem pagou a dívida e não ele, então nada mais justo do que ele morrer.
Aqui se faz aqui se paga, meu amor.
Ela não conseguia encarar Juan, o choro havia cedido o lugar ao
medo. Ela só queria chegar perto de seu pai. Queria pegar em sua mão e dizer
que o perdoava por tudo.
— Por que você fez isso, Juan?
— Porque? — perguntou ele de volta. — Por todo o sofrimento que
ele te causou, meu amor. Mas pode ficar tranquila, ele teve um fim bastante
doloroso.
— Doloroso... — murmurou ela.
— Sim — afirmou. — Primeiro, espanquei, acho que quebrei
algumas costelas dele. Depois, chamei dois homens que trabalham para mim.
Sabe, eles curtem um sexo selvagem e não importa se é com mulher ou
homem, deixei seu pai sob os cuidados deles por umas horas. Depois, voltei e
cortei o dedo que ele usou para me acusar de estrupo... Onde já se viu.
Mesmo assim ele continuava a me irritar, então cortei a língua dele. Eu não
queria matá-lo a facadas, nunca fui muito fã de armas brancas, e além do
mais eu já tinha matado aquele cara que vivia te perseguindo na boate, assim.
Mas no fim, mirei na cabeça e atirei.
A vida de Laura também estava sendo ceifada através das palavras
dele. Ela ainda não tinha se recuperado da perda de sua mãe, e agora teria que
lidar com o assassinato de seu pai. Ela pensou que chegaria a tempo e o
salvaria, mas já era tarde demais. Juan provavelmente já deveria tê-lo matado
a horas, gravou o vídeo só para fazê-la ir às pressas até a boate. Ela tinha
voltado à estaca zero, onde tudo começou e tudo terminaria.
— Eu deveria tê-lo matado quando tive chance — falou, ainda sem
olhá-lo. — EU TE ODEIO!
Finalmente Laura havia tido coragem para encará-lo, mas logo se
arrependeu. Juan a encarava com raiva, suas mãos tremiam. Ele estava fora
de controle, pronto para cometer outra loucura.
— Me odeia? — Juan se aproximou. Ela abaixou sua cabeça. — Eu
fiz tudo isso por você. Para te vingar!
— Vingar de quê? Juan, você é louco!
Ele riu alto. Levou suas mãos à cabeça e começou a andar em
círculos, resmungando palavras desconexas que Laura não conseguia
entender.
— Vou te mostrar como um louco fode. — Juan largou a arma e a
faca ao lado do corpo de David, ergueu Laura e começou a beijá-la a força.
Ela se debatia, porém, Juan tinha o dobro da sua força. A jogou no chão com
força fazendo-a bater com a cabeça. — Não finja que não gosta...
Laura fechou os olhos e pediu com todas as suas forças para que
alguém chegasse e tirasse sua vida, pois morrer seria melhor do que ter que
passar por aquilo outra vez.
Juan rasgou a blusa preta de alças finas que ela usava, apalpou seus
seios por cima do sutiã e quando sua boca estava prestes a tocar o mamilo de
Laura, o som de um disparo a ensurdeceu. Laura estava de olhos fechados,
esperando que a morte a levasse. O corpo de Juan caiu sobre o dela.
Lentamente, abriu os olhos e viu Juan, pálido a encarando com lágrimas nos
olhos.
— LAURA! — Pietro correu até ela, tirou Juan de cima de seu corpo
e a abraçou. — Você está bem? Ele te machucou?
Laura estava em choque. Não conseguia falar nada, ela apenas
observava o corpo de Juan perdendo a vida aos poucos. Ela caminhou até ele,
se ajoelhou ao seu lado, com cuidado, colocou a cabeça de Juan sobre suas
pernas.
— Pietro, chame ajuda, por favor — Laura suplicou.
— Laura, deixa ele morrer. Ele merece isso.
— Ninguém merece morrer sozinho, por mais que ele mereça. —
Laura falou.
— Me perdoa... — Sangue saía de sua boca. — Laura...
— Não consigo fazer isso. Você me tirou todos que eu amava. Não
posso te perdoar, mas posso ficar aqui até que você morra, lentamente, assim
como o meu pai morreu por suas mãos — sussurrando em seu ouvido, Laura
disse: — Eu te amei, mas seus atos me fizeram te odiar.
E assim ela fez. Laura ficou ali naquela posição até que aos poucos
Juan foi deixando a vida que levava para trás. Pietro não saiu de seu lado
enquanto os policiais fechavam o cerco na parte de cima da boate, tiros eram
ouvidos, mas Laura não se importava, quem ela queria ver morrer já estava
morto em seus braços. Finalmente todo o pesadelo que ela chamava de vida
havia chegado ao fim. Os paramédicos chegaram, tiraram Juan de Laura.
— Acabou, meu amor. Acabou. — Pietro repetia essas palavras como
se fosse um mantra.
— Como você me achou?
— Quando acordei e não te vi ao meu lado, algo dentro de mim me
alertou. Te procurei pelo apartamento todo, mas não te encontrei. Vi seu
celular no chão, infelizmente ele quebrou na queda. A sorte foi que meu carro
tem rastreador, notei que a chave não estava sobre a mesinha de centro, liguei
para a seguradora e junto com Dominic, meu amigo, acionamos a polícia. Eu
sinto muito pelo David, sei que ele fez coisas terríveis, mas era o seu pai, e é
o pai do meu irmão também. Não sei como irei dar a notícia da morte para
minha mãe.
— Daremos um jeito. — Laura descansou sua cabeça no peito de
Pietro, enquanto levavam o corpo de seu pai.
***
***
Briana recebeu o filho de braços abertos. Ela não sabia que estava de
volta, muito menos com Laura e Nicolle ao seu lado, mas as recebeu com
carinho.
— Esse é o Adam. Adam, essas são Laura e Nicolle, suas irmãs. Diga
oi, meu amor — Briana falava com a voz calma.
— Oi.
— Eu sou a Nicolle. Quantos anos você tem? Eu tenho cinco.
— Tenho seis anos. Você quer brincar no escorregador lá fora?
Laura sorriu para a irmã quando ela juntou as mãozinhas em um
pedido. Os dois saíram correndo até o quintal da casa como se já se
conhecem a tempos.
— Crianças tem uma facilidade incrível de fazer amizade uma com a
outra. Admiro isso nelas — comentou, Briana. — Então, vieram para o
casamento. Estou uma pilha de nervos. É amanhã! — Vibrou de felicidade.
Laura olhou de Briana para Pietro. Respirou fundo e com lágrimas
em seus olhos começou a contar.
Briana que antes sorria alegremente pela chegada do filho, gritou de
desespero ao saber que seu marido estava morto. Ela levantou e correu até a
porta da frente na tentativa de ver David chegar com a sacola do mercado
como fazia todas as noites ao sair do trabalho. Pietro correu até a mãe e
puxou para dentro. Prendeu seu corpo ao dele e deixou que ela chorasse.
Laura continuava ali sentada no sofá, chorando em silêncio. Era muita coisa
para ela lidar, Laura não tinha certeza se aguentaria por muito tempo manter a
pose de durona.
Aos poucos Briana foi se acalmando, mas suas lágrimas continuavam
a rolar pelo rosto.
— Eu não acredito, amanhã iriamos nos casar, agora tenho que
enterrar meu esposo.
— Mãe, estamos aqui para ajudá-la a passar por isso. Lembre-se que
ele era o pai de Laura.
Depois que contou tudo o que passou e o motivo pelo qual levou
David à morte, Briana a abraçou e se compadeceu da dor que Laura carregava
em seu peito.
— Ah, minha filha... — sussurrou, Briana. — Eu sinto muito. Eu
jamais imaginei que isso aconteceria. Juro que se soubesse eu mesma teria
ido atrás de você e da sua irmã. Vai ficar tudo bem, sei que seu pai iria querer
nos ver unidas. Afinal, temos elos que nos une. — Laura olhou para Pietro
que sorriu para ela. — Estamos todos juntos nessa.
Briana se jogou nos braços de Laura que retribuiu o abraço apertado
da sua madrasta.
Ali era o começo de algo novo. Por mais que fosse dolorido para
todos, certas atitudes foram necessárias para que eles chegassem até ali,
unidos como uma só família.
EPÍLOGO
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Gratidão,
Viviane Silva
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INTENSO DESEJO:
Proibido, Estefania Cristina
Secreto, Estefania Cristina
CORAÇÃO DE FOGO:
O sacrifício de Izak #1
O Segredo de Kalki #2
O Devorador de Mentes #3,
Maitê Sombra
O RELICÁRIO:
A Guerra dos Mundos #1
Em Busca do Poder #2
Guerra dos Dragões #3,
Estefania Cristina
CRISPR:
A Fera de Montrack, #1
O Gene do Futuro, #2
DNA a Revolução #3,
Estefania Cristina e Maitê Sombra
ANTOLOGIAS:
Girl Power
Creepypasta
Bromance
Poemas Para Instagram