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Copyright©2020 by Empoderar Editora

Copyright©2020 by Viviane Silva

Editora Estefania Cristina


Diagramação Estefania Cristina
Copidesque Estefania Cristina
Capa Ellen Scolfeld
Revisão Mari Vieira
_______________________________________________________________

S586s
Silva, Viviane
Stripper: Dominando o Prazer/ Viviane Silva.
1. Ed – Belo Horizonte, MG

ISBN: 978-65-86499-02-5 
Todos os direitos desta edição reservados ao autor da obra e a editora.
_______________________________________________________________
Índice para catálogo sistemático:

1. Romance - Brasil CDD 869.93


2. Romance CDU (82) - 31

É proibida a reprodução total e parcial dessa obra, de qualquer forma ou por qualquer meio
eletrônico, mecânico, inclusive por processos xerográficos, incluindo o uso da internet, sem
permissão expressa da Editora na pessoa do seu editor (Lei 9610 de 19/02/1998).
Está é uma obra de ficção. Nomes, lugares e acontecimentos são produtos do(a)
imaginação do autor(a). Quaisquer semelhanças com nomes e datas é mero acaso.

ESTA É UMA HISTÓRIA DE FICÇÃO BASEADA EM


ALGUNS FATOS CULTURAIS QUE REGEM
“Escreva algo que valha a pena ler,
ou faça algo acerca do qual valha a pena escrever."
— Benjamin Franklin

Dedico esse livro a todas as mulheres que


mesmo com todas as lutas diárias, ainda assim
conseguem sorrir e transmitir alegria por onde passam.
PREFÁCIO
Sinto-me lisonjeada pelo convite de fazer o prefácio de uma narrativa
tão incrível.
Conheci a escrita da Viviane Silva em 2019, confesso que me
encantei pelo dom que ela tem em criar personagens profundos e cativantes.
Julguei que ela já havia me arrancado todos os tipos de emoções possíveis;
doce engano. Eu ainda não havia conhecido Laura, Juan e Prieto. Um trio
muito bem arquitetado. Como uma maestrina que conduz um concerto
Viviane conseguiu conduzir essa trama.
Tudo, absolutamente tudo, fora dosado e ponderado da maneira
necessária, as cenas eróticas carregadas de uma sensualidade plausível, o
drama descrito de uma maneira tão formidável que não nos deixa apático a
nenhum dos fatos ocorridos. Confesso que não soltar um pouco da trama é
uma tarefa um tanto difícil. Laura, minha doce e corajosa Laura; forte e
destemida. Uma jovem que é o retrato de toda mulher, todas nós somos
“Lauras” cada uma dentro do seu cotidiano, imersas em seus próprios
dilemas; mas que encontramos força, que muitas vezes nem julgamos ter,
para prosseguir e continuar lutando até o novo amanhecer.
Juan e Pietro, dois homens tão diferentes, contudo, presos ao mesmo
objetivo. A diferença é apenas a linha tênue entra a obsessão e o amor.
Quando aquilo que julgamos amar torna-se algo tão tóxico, que perdemos
totalmente o controle de nossos atos, ferimos, abusamos e humilhamos, em
nome de um amor que existe única e exclusivamente em nossa mentia
doentia e psicótica.
A história aborda temas tão fortes e necessários de serem retratados,
as relações afetivas, os traumas, como os pais são peças chaves no
desenvolvimento de seus filhos, e como a omissão deles pode desencadear
problemas muitas vezes irreversíveis.
Se você está lendo isso, só te digo: prepare o lenço, pois com toda
certeza assim como eu você nunca mais será o mesmo depois de conhecer o
mundo de uma certa bailarina.
Viviane, essa história é uma obra de arte.
Obrigada por me deixar fazer parte deste espetáculo.
Gratidão.
Mari Vieira
PRÓLOGO

— Sua vez! — a voz de uma das meninas da boate me trouxe de


volta a realidade. — Vamos?
— Sim... — respondi, insegura.
Caminhei a passos lentos até a escada lateral que dava acesso ao
palco. Contei mentalmente até dez e subi. Em cima do palco, olhei toda a
plateia a minha volta. Homens de várias idades estavam lá para me ver
dançar.
Olhei para o lado e encontrei Juan me observando. Seus olhos azuis e
intensos sobre mim me dando coragem e medo ao mesmo tempo. Eu não
queria estar ali, mas era necessário.
Respirei fundo quando o som da música envolvente e sensual
começou a tocar. Segurei com força no poste de pole dance e comecei com os
primeiros movimentos. Na arte da dança, você não precisa apenas saber
dançar, tem que gostar do que faz, e eu gostava. Rodopiei para um lado e
depois para o outro, deslizando e subindo, sem perder o contato visual com a
plateia. Eu estava ali não apenas para dançar e sim, seduzir. Meus dedos
trabalhavam no fecho do sutiã preto. Respirei fundo quando me livrei da
peça, deixando meus seios à mostra. Eles estavam enlouquecidos, gritando e
batendo palmas pedindo por mais. Voltei a dançar, lentamente, me deixando
ser levada pela melodia. O clima era propício. As luzes baixas, o som da
música no nível certo, até o perfume que escolhi para àquela noite estava de
acordo, mas o que mais chamava atenção era a máscara. Uma máscara preta
com pedras brilhantes cobria metade do meu rosto. Não era um adereço que
eu sempre usaria, mas era necessário para a minha estreia. Ao final da dança
eu iria me livrar dela, assim, revelando meu rosto. Como Juan disse: horas
atrás, mistério é a alma no negócio, e eu seria o mistério da noite.
Novamente parei de dançar. Outro suspiro e me livrei da calcinha que
combinara com o sutiã. Nua. Eu estava completamente nua diante de vários
olhares famintos por sexo. Sinto minha pele arder como se tivessem me
ateando fogo. Os olhares me queimavam, proporcionando-me um misto de
sensações novas e prazerosas.
Os acordes finais da música foram tocados, dando fim a dança.
Virada de costas, tirei a máscara e a deixei cair ao meu lado. Sensualmente,
olhei por cima do ombro e sorri para os homens que pareciam estar
hipnotizados. Pronto, agora não tinha mais volta.
CAPÍTULO 1

Laura amarrava seu cabelo enquanto escutava mais uma vez a briga
de seus pais. Era a terceira vez naquela semana, era sempre seu pai que
começava. Ela perdera as contas das vezes que amparou sua mãe depois das
brigas, faltando às aulas de balé para ficar ao lado dela. Acolhendo a mulher
que lhe dera à luz, mas que naquele momento precisava do colo da filha. Ao
mesmo tempo em que Laura cuidava da mãe, também ajudava a cuidar da
irmã pequena de quatro anos. Era ela para as duas. Seu pai não era um
homem ruim; tinha seus problemas como todos. Ele era presente, sempre
fazia questão de estar por dentro da vida das filhas, comprava presentes e às
vezes saía junto com a família, mas esses eram momentos raros.
Assim que Laura ouviu a porta da sala ser fechada com força, correu
para o quarto onde sua mãe estava e a encontrou na cama, chorando
copiosamente agarrada a um travesseiro branco.
— Não chore, mamãe! — Seus dedos brincaram entre os fios de
cabelos sedosos de sua mãe. — Isso é apenas uma fase. Eu li uma vez em
algum artigo que a maioria dos casais passam por crises assim. Logo a
senhora e o papai estarão de bem. Acredite!
Nem ela mesma acreditava em suas palavras. De certa forma, achava
que o casamento dos pais não tinha mais jeito, as brigas eram efeito do
desgaste de ambos. Eles perderam a paixão do início do casamento, o que os
mantinham juntos eram as filhas.
Sua a mãe a olhou como se pedisse por ajuda, e sem falar nada
abraçou a filha. Chorou outra vez em seu ombro e ali ficou até que seu
coração estivesse mais tranquilo.
A sensação que Laura sentia naquele momento era de sufocamento.
Ela queria gritar com pai, fazer com que ele enxergasse o mal que estava
fazendo a sua mãe e a si mesmo. Insistir em um amor que não te faz bem, não
é sadio, e Laura sabia disso.
Quando sua mãe já não mais chorava, ela a olhou nos olhos e sorriu.
Aquele sorriso dizia que estaria com ela no que fosse preciso. Beijou a testa
suada da mãe e saiu para sua aula de dança. Já estava em cima da hora. O
ônibus passava as cinco horas da tarde, nem um minuto a mais. Ela teria que
esperar o próximo ou pegar um táxi se quisesse chegar na hora e não levar
uma advertência. A escola de dança onde estudava era uma das melhores de
Nova Iorque, e para ela, era tudo ou nada. Seria naquele lugar que ela
realizaria seu sonho de se tornar uma grande bailarina, assim como sua mãe
foi antes de se casar. Laura não suportava o fato de que seu pai obrigara a sua
mãe a largar a dança. Para ela, era algo inadmissível, abrir mão dos seus
sonhos por outra pessoa, ainda mais um homem. Não cometeria o mesmo
erro que sua mãe, mesmo seu pai não concordando. Ele achava um absurdo a
filha querer seguir os passos da mãe, para ele, dançar não era um trabalho
digno, não para uma mulher descente.
Roendo o pouco de unha que ainda lhe sobrava, caminhou até o
ponto de táxi mais próximo de sua casa. Sairia mais caro, mas ela não
aceitaria ganhar uma advertência por causa do pai. Assim que avistou um táxi
livre, Laura correu e entrou dentro do veículo amarelo. O motorista
assustado, a olhou e como sempre acontecia com todos ao redor da morena
estonteante, ela o ganhou com apenas um sorriso sem graça.
— Por favor, ande rápido. Estou atrasada — pediu, olhando as horas
em seu celular.
O senhor de cabelos brancos e pele enrugada não disse nada. Ligou o
rádio do táxi e cantou pneus pelas ruas movimentadas de Nova Iorque. Não
podia se dar ao luxo de faltar, afinal de contas, era bolsista, e como toda
bolsista, Laura deveria seguir as regras. Um deslize e tudo iria por água
abaixo.
No banco de trás do carro, Laura trocava mensagens de textos com
sua melhor amiga, Christina, que sempre serviu de diário quando precisava
desabafar. Assim que as mensagens acabaram, guardou seu celular na bolsa e
olhou para a janela. Através do vidro ela viu a cidade passar correndo. Viu
mulheres lindas desfilando sobre seus saltos altos pelas calçadas, homens que
praticamente perdiam a cabeça ao olhar elas passando. Imaginou se algum dia
seria ela a arrancar suspiros dos homens. Sorrindo dos seus próprios
pensamentos, Laura sacudiu a cabeça mandando embora as ideias.
O prédio da escola de artes Dance Art School se aproximava. Ela já
conseguia ver as janelas dos andares onde várias turmas praticavam hip hop.
Pagou pela corrida e agradeceu ao taxista. Arrumou sua mochila nas costas e
seguiu rumo adentro dos portões de ferro.
Alguns alunos que estavam no pátio central da escola dançavam,
outros apenas estavam ali jogando conversa fora até o sinal bater. Caminhou
até um dos bancos de concreto e sentou-se. Faltava menos de dez minutos
para a primeira aula começar. Novamente, verificou o horário em seu celular
e viu uma chamada perdida de sua mãe. De início estranhou, já que sua mãe
quase não ligava quando ela estava na escola. Alguma coisa muito grave
deveria ter acontecido, pensou. Com apenas um toque, retornou à ligação:
chamou uma, duas, três vezes e ninguém atendeu. Ligou novamente e outra
vez caixa de mensagem. Seu coração acelerou de uma maneira que jamais
aconteceu antes. Sua respiração ficou pesada. Uma sensação estranha se
alastrou pelo seu corpo tomando conta de tudo.
Laura queria correr para casa, mas sabia que se fizesse isso corria o
risco de perder sua bolsa de estudos. Uma das várias regras que ela deveria
seguir era de não faltar sem motivo, e naquele mês já tinha uma falta devido a
uma forte gripe que sua irmã pegou. Passou a noite acordada com Nicolle no
colo, o que resultou em sua falta no dia seguinte. O cansaço havia falado
mais alto a fazendo perder a hora naquela tarde.
Engolindo todas aquelas sensações estranhas, Laura guardou o
celular ao ouvir o sinal tocar. Primeira aula: dança contemporânea.
— Boa tarde! — Olga, a professora que não sorria para ninguém,
entrou na sala e os cumprimentou. — Andem logo, não tenho a tarde toda.
Estilo livre hoje. Christina, você é a primeira.
Enquanto Christina se deixava ser levada pela música, Laura não
parou de pensar no motivo pelo qual sua mãe havia ligado. Sua cabeça não
parava de formular perguntas sem respostas, algumas até eram sem nexo.
Tudo o que ela queria era sair dali e tirar da cabeça e de seus ombros aquela
dúvida maldita.
— Laura. Laura! — Olga gritou. — Onde está com a cabeça? Estou
lhe chamando, mas parece que você está em outro lugar.
— Desculpe! — Limitou-se a não dizer mais nada. Olga não gostava
muito de Laura, e qualquer palavra que ela falasse, seria um grande motivo
para ser levada até a diretora Díaz.
Inspirado e expirando, Laura esticou o braço e o desceu. Rodopiou e
saltou conforme seu coração e corpo mandavam, mas sua mente dizia para
fazer diferente, e isso causou o conflito e uma queda. Todos na sala ficaram
calados, era proibido rir ou fazer piadas sobre os outros alunos, mas essa
regra parecia não valer para Olga.
— E você diz ser bailarina — zombou. — Olha só, uma bailarina que
não sabe saltar sem cair no chão.
— Eu posso fazer de novo...
— Calada, não terminei. Tenho que lembrá-la que aqui, você é uma
bolsista? E sendo bolsista tem que manter a média para não perder a bolsa.
Não me faça lhe dar uma nota baixa. Agora levantasse e vá para trás. Observe
como se faz. Cassandra, mostre o que sabe. — Laura engoliu a raiva e fez
como lhe foi ordenado.
Todas as aulas foram iguais, Laura não conseguia se concentrar.
Quando não caía, pisava no pé de alguém. Definitivamente, aquele não estava
sendo um bom dia. Ela deu graças a Deus quando o sinal tocou dando fim as
aulas.
Sem pensar muito, ela jogou sua roupa de dança dentro da bolsa e
correu para fora da escola. Precisava chegar o quanto antes em casa.
Assim que o ônibus a deixou em frente ao prédio em que morava, ela
correu. Algumas pessoas que estavam ali a olhavam correr feito louca pelas
escadas indo em direção do terceiro andar. Ela não tinha paciência para
esperar o elevador, subiu de dois em dois degraus até o seu andar e acelerou
ainda mais quando viu a porta do seu apartamento. Assim que ela girou a
chave e entrou, o cenário que encontrou foi terrível. O sofá vermelho de três
lugares estava virado. As fotos da família estavam todas jogadas no chão. O
choro alto da sua irmã era o único barulho que se ouvia ali.
— Nick! — gritou pelo apelido da irmã.
Assim que ela viu a imagem à sua frente, seu mundo caiu. Sua irmã
estava ao lado do corpo da mãe caída no chão do quarto. A pequena Nicolle
chorava abraçada a mãe que não demonstrava nenhum sinal vital.
Desesperada, Laura pegou a irmã e a tirou dali. Ligou para a emergência e
contou os segundos para que alguém chegasse para ajudá-los. Todo o
pressentimento que ela sentiu na escola era de fato algo ruim.
Laura continuou com sua irmã nos braços, tentava a todo custo fazer
com que a pequena parasse de chorar, mas era impossível, até mesmo ela
queria chorar, porém tinha que ser forte para sua irmã.
— Você é o que dela? — Um dos paramédicos perguntou a Laura.
— Sou irmã. Me diga, o que minha mãe tem? — perguntou, com os
olhos ardendo devido à pressão que ela fazia para não chorar.
— Vamos levá-la ao hospital, mas olhando assim posso dizer que ela
ingeriu uma grande quantidade de medicamentos. Preciso que alguém nos
acompanhe.
— Eu vou! — disse ao homem alto negro.
Laura pegou uma mochila e colocou algumas peças de roupa da irmã,
sua boneca preferida e foi até o apartamento vizinho. Dona Cecília morava
ali. Uma senhora de cinquenta anos que ajudava Laura a cuidar da irmã
quando precisava estudar e sua mãe não estava em condições emocionais
para ficar com a filha.
Ela explicou rapidamente o que havia acontecido e deixou a menina
ali.
Ao lado da mãe na ambulância, Laura segurava sua mão e pedia com
toda as suas forças para que ela saísse bem daquela situação. Ela queria fazer
perguntas, saber o motivo que a levou a cometer tal insanidade, mas lá no
fundo tinha suas suspeitas, ela só não queria que fossem confirmadas.
Em tempo recorde, a ambulância chegou ao hospital. Enfermeiros
ajudavam a levar sua mãe para a sala de emergência. Laura sabia que não
podia fazer nada, estava nas mãos dos médicos, mas o sentimento de
inutilidade a deixava louca, foi só então, que ela lembrou que poderia fazer
uma coisa, pequena, mas podia.
— Laura, minha filha.
— Onde o senhor está? — ríspida, ela perguntou rezando para que a
resposta não fosse a mesma que ela estava pensando. — Vamos, diga!
Ouve um minuto de silêncio. Um minuto que parecia ser uma
eternidade.
— Eu vou sempre amar você e sua irmã. Sempre serei o pai de vocês,
mas sua mãe e eu não tem mais jeito.
— Minha mãe está no hospital por sua culpa! Sua! — gritou,
esquecendo de onde estava. — O que você causou não tem perdão. Esqueça
que tem duas filhas, para nós você morreu. E peça a Deus ou em quem você
acredita, para que nada de ruim aconteça a ela.
Com os olhares repreensivos das enfermeiras de plantão, encerrou a
ligação. Mal sabia que seu pai já estava longe de toda sua ira.
CAPÍTULO 2

As horas pareciam ser arrastar diante dos olhos de Laura. Ela perdeu
as contas de quantas vezes foi até ao balcão de informações do hospital e
perguntou, mas todas as vezes ela sempre recebia a mesma resposta: “Não
temos informações sobre a paciente.”
Olhando a chuva fina que começava a cair naquele início da
madrugada, uma lágrima escorreu pelo seu rosto. Pela primeira vez desde que
tudo aconteceu, permitiu-se chorar. Seu peito doía por estar guardando todos
aqueles sentimentos dentro de si. Necessitava liberar toda angústia e medo, e
chorar era a maneira mais fácil naquele momento. Apoiando sua cabeça nas
mãos, chorava baixinho. Laura não queria chamar atenção para si, só queria
acordar e ver que tudo não passou de um terrível pesadelo.
— Familiares de Núbia Cooper — a voz cansada do médico trouxe
Laura de volta ao mundo real.
— Sou filha — respondeu, passando as mãos em seu rosto, limpando
os vestígios das lágrimas. — Como está a minha mãe, doutor?
Ele a olhou de cima a baixo e tentou descobrir sua idade. Laura
parecia ser mais nova do que aparentava, mesmo tendo um corpo de dar
inveja a outras mulheres.
— Quantos anos a senhorita tem?
— Dezenove, mas isso não vem ao caso, me diga como está a minha
mãe?
Ele suspirou e olhou na ficha que tinha nas mãos.
— Sou o doutor Félix. — Uma mão grande surgiu na frente de Laura,
e mesmo estando impaciente, ela retribuiu o gesto. — Sua mãe chegou aqui
em quadro muito grave. Ela ingeriu uma grande quantidade de
tranquilizantes. Fizemos uma lavagem estomacal e alguns exames. Ela está
muito debilitada; com uma anemia profunda e um quadro de infecção
pulmonar. Pelos exames, constatamos que ela era fumante há muitos anos.
Laura concordou com tudo.
Núbia fora fumante ativa desde seus dezoito anos. Foi nessa mesma
época que ela conheceu seu marido, depois de oito anos de casada engravidou
e trouxe ao mundo Laura, sua primeira filha.
— Posso vê-la?
— Não será possível, pelo menos não agora. Tivemos que levá-la
para o CTI, está sedada. Assim será melhor para a recuperação dela. Não
gostamos de deixar os pacientes em coma induzido, mas quero que entenda
que essa era a melhor opção para a sua mãe.
O chão parecia se abrir para Laura, e aos poucos ela estava sendo
sugada para dentro. Nada fazia sentido. Naquela mesma manhã, ela deixou
sua mãe bem e estável em casa, tão estável que não precisou deixar sua irmã
com a vizinha. Ela não sabia o porquê daquela reviravolta. Culpava-se por
não ter seguido seus instintos. Se martirizava também por não ter ficado com
a mãe, ela precisava da filha, e se ela estivesse lá para ajudar, talvez nada
daquilo tivesse acontecido.
Laura não tinha muito o que fazer naquela sala de espera. Aceitou o
conselho do médico e foi para casa. Ela tinha a irmã para cuidar.
Caminhou sem vontade até o ponto de ônibus e esperou até que a
condução chegasse. Sentada no último banco da condução, encostou a cabeça
no vidro e fechou os olhos. Estava cansada, mas não só fisicamente; muito
mais emocional.
A primeira coisa que ela fez assim que chegou em casa, foi pegar sua
irmã que já dormia tranquilamente. A colocou em sua cama e beijou suas
bochechas. Voltou para a sala e começou a arrumar toda aquela bagunça.
Pegou os cacos de vidros e com cuidado, os jogou no lixo. As fotos onde seu
pai sorria ao seu lado, ela fez questão de rasgar e jogar fora. Laura não queria
nada que a fizesse lembrar dele. Estava furiosa com ele, e precisaria de tempo
para poder colocar as ideias em ordens e confrontá-lo.
Tudo arrumado, ela decidiu que estava na hora de um banho. Talvez
aquilo a ajudasse um pouco. Laura abriu o registro do chuveiro e deixou que
ele esquentasse o máximo possível. Tirou sua roupa suada e a deixou jogada
ao chão. Não estava bem, ela sabia disso e qualquer um que a olhasse veria o
quanto estava cansada. De olhos fechados e cabeça erguida, ela sentiu as
primeiras gotas de água caírem sobre seu corpo. Uma corrente de alívio fez
morada em seu corpo. Seus músculos foram relaxando e ela soltou um longo
suspiro. Parecia que o banho tinha propriedades mágicas que a faziam
relaxar. Ainda no banho, Laura se deu conta de que sua mãe estava internada
no hospital central de Nova Iorque, um hospital de grande porte e caro. Ela
não tinha pensado em nada disso quando viu sua mãe caída no chão do
quarto, apenas ligou e implorou por socorro. Agora que tudo estava se
encaixando nos lugares certos, ela se deu conta de que não tinha dinheiro
suficiente para pagar os exames da mãe, ela teria que recorrer ao dinheiro que
vinha guardando para viajar com o grupo de dança. Uma viagem que estava
sendo programada para o final do ano, e ela era uma das dançarinas que iria
se apresentar para uma grande companhia de balé. Aquela era a chance de
Laura para dar um salto perfeito em sua carreira, mas parecia que o destino
não queria que isso acontecesse.
Depois de um banho esclarecedor, deitou-se no quarto da irmã, ela
não queria passar a noite sozinha. Precisava ter alguém ao seu lado, e esse
alguém era Nicolle, que não merecia ter visto a mãe caída no chão,
praticamente sem vida.
— Ah, Nicolle, como eu queria apagar da sua cabeça o que você viu
— lamentou, baixinho ao lado de sua irmã.
Com cuidado para não acordá-la, Laura se deitou ao seu lado e ali
adormeceu abraçada a irmã.
O sol mal havia raiado e a moça já estava de pé. Preparou o café da
manhã da irmã e deixou pronta sua mochila. Mas uma vez ela teria que deixá-
la com a vizinha. Hospital não era lugar para levar uma criança pequena, sem
contar que estava decidida a transferir sua mãe. A condição financeira delas
não as deixavam ter um plano de saúde que cobrisse esses tipos de incidentes,
nem outros. Seu pai nunca se dispôs a fazer um, nem para as próprias filhas.
Lembrar dele lhe causava náuseas.
— Obedeça a senhora Cecília. Tudo bem?
— A mamãe vai ficar bem? — Pela primeira vez desde que acordou,
Nicolle perguntou sobre a mãe. — Ela morreu?
— Não, meu amor. A mamãe não morreu. Ela passou mal, mas os
médicos estão cuidando muito bem dela. Daqui a pouco ela estará aqui com a
gente. Agora vai lá brincar com as netas da senhora Cecília. — Laura sentia
seu peito apertar. Era como se mentisse para sua irmã. — Vem cá. Me dá um
abraço.
Nicolle passou seus bracinhos finos ao redor do pescoço de Laura e a
beijou no rosto.
— Vai dar tudo certo, minha filha — disse Dona Cecília ao se
despedir de Laura.
Com a cabeça a mil por hora, pegou o primeiro ônibus que viu, nem
se importou com a superlotação, ela queria chegar cedo e rápido ao hospital.
Tinha muitas coisas para resolver no dia e o ônibus era o de menos.
O barulho alto das pessoas falando em seu ouvido a deixou com dor
de cabeça. Parecia que a cada parada que o motorista fazia mais e mais
pessoas entravam no coletivo. Não cabia mais ninguém, mas mesmo assim,
ele insistia em parar. Laura chegou a cogitar em descer alguns pontos antes,
mas ela já estava ali, então o que seria mais cinco paradas?
Assim que desceu do ônibus, respirou fundo. Aquele com certeza
tinha sido um percurso complicado. Laura deixou isso de lado e se dirigiu
para a entrada do grande hospital: um prédio de mais de trinta andares todo
espelhado por fora.
— Bom dia, por gentileza, eu quero notícias da paciente Núbia
Cooper. — Laura esperou para que a outra recepcionista a respondesse. Com
certeza já deveriam ter trocado de plantão.
— O doutor Félix irá atendê-la.
— Desculpa, mas você não sabe nada a respeito sobre a minha mãe?
— Nervosa, Laura pressionou.
— Somente o médico de plantão poderá informá-la. — A
recepcionista de cabelos vermelhos e pele branca, olhou para trás de Laura e
sorriu. — O doutor Félix está vindo.
Laura virou-se, irritada e foi até o médico que a encarava com um
semblante derrotado.
— Como está a minha mãe? Posso vê-la? Quero respostas.
Félix suspirou e delicadamente deu a notícia que ninguém deseja
ouvir.
— Infelizmente, sua mãe faleceu hoje pela manhã.
Se antes o chão parecia estar se abrindo e sugando Laura aos poucos,
agora ele definitivamente a tinha tragado para baixo. Acabara de ouvir que a
mulher que mais lhe importava faleceu. A mesma mulher que a carregou
durante nove meses. Aquela que brigou com o marido quando ele soube que
ela faria dança e foi contra. Sua guerreira havia se rendido e perdeu a batalha.
Laura se esqueceu de onde estava e correu pelo corredor, sem
direção. Ela queria ver com os seus próprios olhos, queria ver se era verdade
o que tinha ouvido.
Félix correu atrás de Laura e a alcançou. A trouxe para seus braços e
deixou que ela chorasse por sua perda. Infelizmente, ele passava por aquilo
todos os dias, era inevitável, mas aquela menina havia mexido como ele.
— Minha mãe... — O choro e a dor embaralhavam sua fala. Quanto
mais ela tentava falar, mais chorava. — Minha mãe... minha mãe morreu!
Com ajuda das enfermeiras, Félix e sua equipe levaram Laura até um
quarto para descansar. Ela não estava doente, no entanto, precisava se
acalmar para poder agilizar os papéis do enterro da mãe.
Um medicamento foi prescrito para que ela se acalmasse; nada
aliviaria sua dor. Parte dela havia morrido. Um buraco enorme abriu em seu
peito. Era uma dor sem explicação, algo que jamais ninguém conseguiria
preencher.
— Senhorita Cooper, sou Emília Stron. — Uma mulher vestida de
azul-escuro entrou no quarto. Seus cabelos loiros combinavam perfeitamente
com sua pele branca feito porcelana. — Sinto muito por sua perda. Sei o
quanto é difícil, mas temos que tratar de alguns assuntos burocráticos. Sou
assistente social do hospital e quero saber qual plano de saúde e funerária a
senhora Núbia possuía?
A jovem encarou a mulher à sua frente e não respondeu nada. A
assistente social perguntou novamente, mas não obteve resposta. Laura estava
em choque. Sua ficha ainda não tinha caído.
— Senhorita Cooper? — Emília tentou mais uma vez. — Se a
senhorita não estiver em condições de cuidar desse assunto, terei que entrar
em contato com outro parente.
— Sou a única responsável. — Com dificuldade, Laura conseguiu
falar. — Não temos plano de saúde e nem funerária.
Emília, que antes mostrou-se amigável, bufou e revirou os olhos. Ela
detestava o seu trabalho, odiava ter que lidar com pessoas do nível social de
Laura, contudo, tinha que manter a postura profissional. Emília nem sempre
odiou seu trabalho, mas havia dias que ela desejava nunca ter escolhido
aquela profissão.
— Peço que passe no balcão de informações e negocie a melhor
maneira de pagar pelo tempo que sua mãe ficou aqui. Infelizmente, não posso
fazer muito. Trabalhamos com planos e se soubéssemos que a senhora Núbia
não possuía nenhum, seria impossível deixá-la aqui. Me desculpe.
Se Laura estivesse em condições emocionais boas, ela teria pulado
em cima da loira e arrancado fio por fio daqueles cabelos com as mãos. Mas
o que ela fez, foi levantar e passar por Emília como se ninguém estivesse ali.
Seguiu até o balcão de informações e assim que chegou à conta do
hospital já estava pronta. Parecia que ela andava com um letreiro escrito na
testa EU SOU POBRE em letras garrafais.
— Tudo isso? — perguntou, assustada.
— Está tudo explicado. Internação, exames, quarto e remédios. — A
recepcionista indicou com dedo. — Dinheiro ou cartão?
Laura sabia que sairia caro uma consulta naquele hospital, ela só não
imaginava que seria explorada daquela maneira. Mesmo que possuísse um
bom plano de saúde, ainda assim não conseguiria uma internação ali.
— Dinheiro. — Então, Laura puxou sua carteira e tirou o cartão de
debito, todo o dinheiro que havia juntado com o seu trabalho de babá, e
pagou. Ficou apenas com a quantia certa para pegar o ônibus de volta para
casa. — Como faço para ver minha mãe?
— No momento o corpo está no IML. Assim que a funerária que a
senhorita escolher chegar ao hospital, eles a levarão para realizar os
procedimentos para o enterro — informou a recepcionista. — Sei que é um
momento difícil, mas preciso saber, pretende doar os órgãos da senhora
Núbia?
Laura não fazia ideia de como aquela pergunta poderia machucar até
que ouviu.
— Sim. — respondeu, sem ânimo, porém certa de que sua mãe
aprovaria sua decisão.
Juntando o resto das suas forças, Laura arrastou seus pés para fora do
local. Eram quase uma hora de distância do hospital para sua casa de ônibus,
tempo o suficiente para ela pensar em como faria dali para frente. Ela só tinha
uma saída, ligar para seu pai. Com suas mãos trêmulas, ela pegou seu celular
na bolsa e discou o número dele.
“O número digitado não existe.”
Laura franziu o cenho. Conferiu se o número estava certo e ligou
novamente.
“O número digitado não existe.”
Ela tentou mais uma vez e a mesma resposta foi ouvida. Ele havia
cancelado seu número, cortando de vez qualquer vínculo com a família.
Laura estava sozinha no mundo, era somente ela e sua irmã. Sem mãe
e abandonada pelo pai. Uma adolescente que teria que amadurecer cedo
demais, tomando para si as responsabilidades que até o momento, não eram
dela.
Ela desceu do ônibus, e passou direto pela porta da dona Cecilia.
Necessitava de um tempo sozinha para pensar. Assim que parou em frente à
sua porta, uma carta colada chamou sua atenção. Uma pequena chama de
esperança se acendeu dentro dela, talvez seu pai estivesse explicando tudo
através daquela carta.
Ela a pegou e viu que não era uma simples carta, e sim uma ordem de
despejo. Seu pai não pagava o aluguel havia quatro meses, e aquele era o
último aviso. Laura entrou em desespero, viu que de fato estava sozinha e de
brinde, seu pai lhe deixara uma dívida. Ela se perguntou o que mais lhe
faltava acontecer.
CAPÍTULO 3

Com ajuda de dona Cecília, Laura conseguiu dar um enterro descente


a mãe. Não havia sido como ela merecia, mas foi digno de um ser humano
descente.
Passaram-se dois dias desde que ela disse adeus a Núbia, e ainda
assim custava a acreditar que não a veria mais. Laura não conseguiu nenhuma
notícia do pai. Toda vez que tentava ligar para ele, a mensagem gravada dizia
que aquele número não existia. Estava desesperada; foi logo depois do
enterro de sua mãe, quando chegou em casa que a ficha realmente caiu. Seu
pai tinha lhe abandonado, e havia sido por ele que sua mãe não estava mais
ali.
Laura jurou a si mesma que faria o pai pagar pelo sofrimento que
causara a sua família. Mesmo não sendo uma pessoa má, desejou que ele
sofresse o mesmo que ela estava sofrendo.
Com sua irmã dormindo, Laura pesquisou nos classificados do jornal,
algum emprego que a ajudasse a pagar as contas, que eram muitas. Como se
não bastasse as compras para dentro de casa, ainda tinham os alugueis
atrasados e suas aulas de dança, que pelo andar da carruagem, teria que parar
de frequentar. Ela não tinha cabeça e nem tempo para assistir as aulas o que
lhe causaria a perda da sua bolsa. Mesmo ganhando uma semana para tirar o
luto, ela ainda tinha que arrumar um emprego; e uma irmã pequena para criar.
— Nick? — carinhosamente, Laura a chamou. Passou os dedos em
seu rosto e admirou a beleza da irmã. Ela se parecia muito com sua mãe, e ver
o tamanho da semelhança entre as duas a fazia querer chorar, porém, sabia
que não podia. A dor sempre existiria, era inevitável não sofrer com a perda
de um ente querido, mas a vida deveria ser seguida. — Meu anjinho, acorde.
Laura foi presenteada com o olhar sonolento e manhoso de Nicolle. A
pequena de cabelos castanho-claros, olhos escuros e bochechas rosadas,
coçou os olhos e bocejou.
— A mamãe e o papai já voltaram? — Inocente, achava que algum
dia seus pais voltariam. — Estou com saudades.
Como contar para uma criança de quatro anos que seu pai a
abandonou a mercê da sorte? Como dizer que elas haviam sido rejeitadas
feito um animal asqueroso? Não tinha como contar a verdade, pelo menos
não naquele momento.
— Não, eles não voltaram — suspirou. — Você sabe que a mamãe
está lá no céu agora junto com a vovó e o vovô, não é? Eles estão juntos, e
você não pode ficar triste.
— Mas eu não consigo... Quero a mamãe — chorando, Nicolle
abraçou a irmã mais velha. Ela era apenas uma criança. Uma criança que não
conseguia lidar com os seus sentimentos.
Laura acalentou a menina até que ela estivesse mais calma. Ela teria
que usar todos os ensinamentos que sua mãe lhe passou quando viva.
Responsabilidades todo mundo tinha, mas saber como administrá-las, já era
outra coisa.
Depois do café da manhã triste, Laura arrumou sua irmã e a levou
para a escola. Algumas mães as olhavam com pena, e isso a incomodou. Ela
detestava quando a tratavam diferente, ainda mais com sentimento de dó.
Elas esperaram até o sinal tocar e se despediram com o beijo de
esquimó, encostando as pontas de seus narizes, e seguiriam seus caminhos.
Laura aproveitaria o tempo que a irmã estava em aula para procurar
um emprego. O que ela ganhava cuidando dos filhos das amigas e alguns
vizinhos, muito mal dava para pagar o aluguel, outra coisa que estava a
deixando de cabelos brancos. Como ela pagaria quatro meses de alugueis
atrasados?
A primeira parada era uma mercearia que ficava a duas ruas de sua
casa. O local era bem movimentado, o que gerava bastante lucro. Sorrindo
amigável, entrou no estabelecimento e se dirigiu até ao balcão.
— Bom dia.
— Bom dia, minha jovem. O que deseja? — A senhora de cabelos
claros e óculos grandes, lhe perguntou.
— Eu vim pela vaga de emprego. — Com rapidez, Laura tirou de
dentro de sua bolsa marrom, o jornal amassado.
— Desculpa, mas estamos querendo alguém mais velho. Você ainda
é muito nova.
Laura não desistiria, ela iria lutar por aquele emprego.
— Eu aprendo rápido as coisas. Prometo não decepcioná-la.
A senhora negou. Ela estava decidida a não contratá-la.
Derrotada, Laura deixou a mereceria. Olhou no jornal e viu que ainda
tinham mais dois lugares para ir. Uma daquelas vagas seria sua.
Caminhando depressa, Laura andava entre a multidão que se
aglomeravam nas calçadas. Seus pés começavam a doer devido ao sapato
apertado e por ficar andando de um lado para o outro.
Seus pensamentos estavam amontoados, uma verdadeira confusão
que precisava urgentemente de uma faxina.
O dia foi chegando ao fim e sem boas repostas, Laura voltou para
casa. Dona Cecília se ofereceu para ficar com Nicolle enquanto ela procurava
por emprego. A senhora a buscou na escola e passou a tarde toda ao lado da
menina que antes vivia sorrindo.
— Conseguiu algo, minha filha? — perguntou, entregando a Laura
uma xícara de café fumegante.
Sorvendo um bom gole do liquido, Laura sacudiu a cabeça dizendo
um não silencioso.
— Eles só querem pessoas com experiência. Como posso ter
experiência em alguma coisa se não me dão uma chance? Fica difícil assim.
Estou vendo que terei que voltar a trabalhar como babá, isso se eles ainda
quiserem. Depois do que aconteceu com a minha mãe, as pessoas passaram a
me olhar diferente.
— Realmente é complicado — Cecília puxou uma cadeira e sentou
ao lado de Laura. — Quero que saiba que sua mãe era uma grande amiga. Eu
gostava muito de ficar conversando com Núbia durante a tarde. Amo demais
sua irmã e você também...
— Onde a senhora quer chegar com essa história?
Cecília puxou o ar dos pulmões, encostou as costas na cadeira e
olhou para a morena à sua frente.
— Eu tentei conversar com o síndico do prédio, mas ele não aceitou.
Você tem uma semana para conseguir o dinheiro dos meses atrasados, ou ele
irá te despejar. Me desculpa, mas não tenho condições de ajudar. Eu já cuido
dos meus netos e uma filha doente. As despesas são enormes, a pensão do
meu falecido marido é a quantia certinha para as contas. Sinto muito!
Laura não podia fazer nada. Não era certo ficar com raiva da única
pessoa que estava lhe ajudando nesse período difícil de sua vida. Também
não seria certo ficar vivendo às custas dos outros; não havia sido criada para
isso.
— Tudo bem. Darei um jeito. — Terminou de beber o café.
Despediu-se da amiga, pegou sua irmã e foi embora.
Dentro de casa, Laura foi até sua cozinha, abriu a geladeira e quase
chorou quando viu apenas algumas garrafas de água e uma jarra de suco
velho. Abriu o armário e encontrou dois pacotes de macarrão instantâneo.
Aquela seria a refeição. Ela ligou o fogo, colocou a água para esquentar e
despejou o conteúdo que havia no pacote dentro da panela. Três minutos,
esse era o tempo estimado para o cozimento do macarrão. Com o auxílio de
duas colheres, ela serviu uma porção para sua irmã e outra para ela. Levou os
dois pratos fumegantes até a sala.
— O que você acha de jantarmos assistindo um filme? — Forçando
um sorriso, Laura colocou os pratos na pequena mesa de centro.
— Vamos ver um filme de princesa. Eu pego. — Correndo animada,
Nicolle sumiu em seu quarto. Laura sentia-se na obrigação de fazer sua irmã
esquecer a cena que viu há alguns dias. Não queria que a irmã crescesse com
algum trauma. — Achei!
Mandando a tristeza embora, Laura sorriu ao ler o título do filme.
— Rapunzel, de novo?
— E que você tem o cabelo grande igual ao dela. E eu acho tão
bonito. Vamos ver esses por favor. — Laura sabia que seria inútil discutir
com ela, quando Nicolle usava a sua voz infantil não tinha para ninguém.
As duas se aconchegaram com seus pratos de macarrão no sofá e
começaram a comer enquanto a música inicial do filme tocava. Recordou-se
da última vez que havia dançado sem ser nas aulas. Quando a música tocava,
Laura era tomada por uma energia imensa, que a fazia flutuar feito uma
pluma de tão leve. Era bom se sentir leve em meio ao caos. Ela se perguntou
se voltaria a dançar outra vez. Sua vida estava corrida e a tendência era
piorar.
— Olha como ela é linda! — Nicolle exclamou, fazendo com que
Laura se assustasse. — Ela parece com você, só que ela é loira.
— Sim, meu anjo. Agora coma.
Quem as olhassem agora chegaria à conclusão de que eram mãe e
filha. Mas elas sempre se trataram dessa maneira, com ternura e afeto.
O filme nem tinha chegado na metade e Nicolle já havia dormido no
sofá. Deu tempo apenas de comer e beber água. Laura riu da cena, desligou a
televisão e a levou para o quarto. Voltou para a sala e fechou as portas. Elas
não tinham nada de muito valor, mas não era por isso que elas passariam a
noite com a porta aberta. Fechou as janelas e desceu as cortinas verdes. Com
todas as luzes desligadas, Laura se encaminhou ao banheiro onde fez sua
higiene e se preparou para dormir. O cansaço do dia já pesava em seus
ombros. Ela precisava descansar para no dia seguinte começar tudo de novo.
Caminhou até seu quarto de sua irmã, puxou as cobertas de sua cama
e deitou-se esticando bem o seu corpo e relaxando todos os seus músculos.
Não demorou muito para que seus sonhos fossem embalados pela escuridão.

Longe dali, Juan pressionava seus capangas. Ele estava furioso com a
demora para encontrar uma pessoa. Era a primeira vez que tentavam fazê-lo
de otário, e aquilo o fez jurar que mataria o desgraçado.
— Senhor, não encontramos nada. Parece que ele sumiu da face da
terra.
— Não quero saber! — Irritado, ele socou o saco de areia pendurado
em sua sala.
— Eu quero informações sobre àquele filho da puta. Qualquer coisa!
— Ele tem duas filhas. — disse o capanga, temeroso.
Juan o olhou furioso pela demora para lhe passar aquela informação.
— Onde elas moram? Quero nomes, porra!
— No centro de Nova Iorque. A mais velha se chama Laura e a
pequena Nicolle.
“Laura, bonito nome.”
— Então, vamos hoje mesmo fazer uma visita a nossa mais nova
amiga, Laura. — Com um plano em mente, Juan secou o rosto com uma
toalha vermelha. Sorriu diabolicamente para os demais homens que ali
estavam e então partiram rumo à casa de Laura.
CAPÍTULO 4

Juan acelerava em sua moto pelas ruas de Nova Iorque. O vento batia
contra sua jaqueta de couro preta e o som do ronco do motor embalava sua
corrida, aquela era a vida que ele levava. Perigoso e implacável. Destemido e
sedutor. Não era o tipo de homem romântico e galante, ele era intenso. Com
seu olhar penetrante conseguia arrancar suspiros por onde passava, sabia
disso, e gostava. Para ele não tinha tempo ruim, se fosse preciso caçar alguém
nos confins do inferno ele iria. Não seria diferente com David. Juan atingiria
um por um até chegar em seu alvo principal. Ele não perdoava ninguém, o
que era dele, ele pegava, e o que não era, ele levava também. Juan havia sido
criado assim, e assim seria para sempre.
Estava a poucos metros de seu destino, a casa de Laura. Ele não sabia
o que encontraria lá, e pouco o importava qual seria a reação dela, tudo o que
Juan queria era receber o que era dele por direito, nem que para isso fosse
preciso derramar sangue.
Ele avistou o prédio e reduziu a velocidade até parar. Saltou da moto
e colocou o capacete no banco.
— Erick, cuide das motos. Não vamos demorar — disse, sem olhar
para o garoto que acabara de completar vinte anos, mas parecia não ter mais
que dezesseis.
Acompanhado dos seus capangas, Juan entrou no prédio sem fazer
barulho. Subiu pela escada até o andar onde a moça morava. Continuo
caminhado a passos lentos e largos até a porta do apartamento certo. Tudo
estava sendo feito em perfeito silêncio. Com o auxílio de uma ferramenta, ele
abriu a fechadura da porta e entrou. O escuro do lugar os abraçou e foi quase
impossível de achar o interruptor da luz. Assim que as luzes da sala se
acederam, um dos homens que estava com ele, esbarrou em um jarro de
plantas fazendo um barulho enorme ecoar pela casa.
Laura que dormia tranquilamente em seu quarto, acordou assustada
com o barulho. Ela olhou para seu lado da cama e viu que sua irmã
continuava a dormir.
“O que será esse barulho?”

Vozes cochichando fizeram com que todos os seus cabelos se


arrepiassem. Ela estava sendo assaltada. Temendo pela vida de sua irmã,
preferiu ficar ali, quieta. Não moveria um músculo sequer enquanto não
tivesse a certeza que estava sozinha de novo. Por um mísero momento de
fraqueza, ela cogitou a possibilidade de que talvez, seu pai tivesse se
arrependido e voltado. Mas ela não era burra, sabia muito bem que aquilo
jamais aconteceria. Seu pai era um homem orgulhoso e preferia morrer a
pedir perdão.
Laura ficou ali, durante minutos em silêncio, rezando para que nada
de mal acontecesse a elas. Bastava a dor da perda da mãe, o abandono do pai.
A necessidade que estavam passando, agora tinha isso.
Outro barulho, porém, de porta se fechando. Ela suspirou aliviada por
saber que eles já haviam ido embora, seja lá quem fosse. Calçou seus
chinelos, pegou o abajur do quarto e saiu, mas antes, passou a chave na porta
do quarto. Ela não correia o risco em deixar a irmã desprotegida. Andou até a
sala e viu que não estava sozinha. Suas mãos tentaram, mas falharam na
tentativa de jogar o objeto que segurava no homem parado a sua frente.
—É assim que você recebe as visitas, Laura? — A voz de Juan era
calma. Mas era quando ele estava calmo que as coisas de fato aconteciam.
Ela tentou correr, porém Juan foi mais rápido e a segurou firme. Ele
afundou seu rosto nos cabelos soltos de Laura e inalou seu perfume. Aquilo
lhe causou medo, e a todo momento tudo o que ela queria era que ele não
fizesse nada com sua irmã. Laura conseguia superar qualquer medo, mesmo
passando por situação terríveis. Ela só conseguia pensar no bem-estar dos
outros ao seu lado.
— Então você é a filha do canalha que está me devendo? — Juan
sabia muito bem que ela sentia muito mais do que medo, repudiava à
proximidade dele. Seu corpo inteiro tremia e sua respiração estava acelerada.
— Me diga, onde está o seu pai?
Com muito esforço, Laura o encarou. Desejara chorar, gritar por
socorro, mas ao lembrar que sua irmã dormia logo ali ao lado, calou-se.
— Eu não sei.
— Vai me dizer que você não sabe onde o seu pai está? — Seus
olhos brilhavam com toda a perversidade que ele tinha em mente. — Vamos,
Laura, faça um esforço e me diga para o bem da sua irmã, onde está o seu
pai?
— Por favor, não toque na minha irmã, ela é só uma criança. — A
moça não conseguia sequer imaginar sua irmã machucada ou longe dela. As
duas eram tudo o que ambas tinham. — Realmente não sei onde meu pai está.
Ele fugiu de casa pouco antes da minha mãe... da minha mãe falecer.
Juan não sentia compaixão por ninguém; dinheiro e mulheres
gostosas eram o que realmente interessava, o resto era lixo. E Laura se
encaixava perfeitamente, nas duas coisas que ele mais gostava.
— Diga ao seu papai, que ele tem uma semana para me pagar. Não
sou o tipo de homem que perdoa dívidas. Não quero ter que voltar aqui e
pegar outra coisa em troca, ou quero?
Ele se virou e deixou Laura ali, com aquelas palavras martelando em
sua cabeça como se fosse uma marreta. Até instantes atrás ela não sabia da
existência daquele homem, e nem de dívida alguma de seu pai, agora estava
no meio de uma confusão que não era dela.
Assim que Juan e os demais homens que ali estavam, passaram pela
porta, Laura correu e se jogou contra a mesma. Ela usava seu corpo como se
fosse uma barreira.
Raiva! Aquele era o sentimento que sentia. O medo já havia passado,
o que restara foi somente a raiva por ser filha de um homem que julgara
conhecer.
Naquela noite não conseguiu dormir. A todo instante achava que o
homem de olhos azuis e rosto furioso, voltaria. Qualquer barulho que ela
ouvira já era motivo para tremer em sua cama, também já era de se esperar,
afinal, quem não ficaria com medo se na calada da noite um bando de
homens desconhecidos invadisse a sua casa?
Já havia amanhecido quando o sono começou a vencer a batalha que
Laura travava durante a noite, porém, não podia dormir. O dia seria corrido
igual ao anterior, tinha que levar sua irmã para a escola, correr atrás de um
emprego, sua vida não podia parar, ela não seria para sempre “a menina que a
mãe se suicidou”, uma hora todos iriam esquecer aquilo e tudo voltaria ao
normal, mas não o normal que desejara.
— Por que a mãe do Billy disse que o papai é um safado? — Nicolle
perguntou ao chegar na sala. Seus cabelos estavam soltos e enfeitado com
uma tiara cor-de-rosa. O uniforme da escola impecável sem nenhuma
mancha. — Ele disse também, que a mamãe dele falou que a nossa mãe se
matou, mas eu falei que não era verdade.
Laura não sabia o que fazer, nunca havia se imaginado naquela
situação. Ela sempre foi responsável, ajudava nos afazeres de casa, cuidava
da mãe quando as crises de depressão falavam mais alto, sempre foi a filha
certinha, mas ela nunca havia sido mãe, e era isso o que estava se tornando,
mãe de sua própria irmã.
— Quando alguém falar essas coisas pra você, não ligue. Eles estão
com inveja porque a nossa mãe era linda. Você lembra como ela era, não é?
— Lembro. Ela tinha um cheiro gostoso. — Nicolle riu, mas logo
tampou sua boca escondendo os dentes que faltavam.
— Sim, ela tinha. — Lembrou-se da mãe, melancolicamente. —
Bom, vamos para a escola. Hoje quem vai te buscar sou eu.
De mãos dadas, elas saíram de seu apartamento. Andaram até o
elevador e assim que as portas de ferro se abriram, entraram. Elas poderiam
ter descido as escadas, eram apenas três andares, mas os pés de Laura ainda
doíam devido ao sapato apertado que usara no dia anterior quando saiu a
procura de emprego. Mal deu tempo de sair do elevador e o síndico do prédio
as abordaram.
— Era com você mesmo que eu queria falar. — Wilson, o síndico,
dono e zelador do edifício, falou. O senhor de idade avançada, careca com a
pele enrugada, era o homem mais sovina que Laura já havia visto.
— Bom dia, senhor Wilson.
— Não me venha com bom dia e nem com historinhas. Já esperei
tempo demais. Quero o dinheiro dos aluguéis atrasados e desse mês também.
— Eu não tenho no momento, mas prometo que...
— Promete nada! — ele gritou. Nicolle que estava segurando a mão
da irmã, grudou na perna de Laura, com medo do velho ranzinza. — Você
tem sete dias, ouviu bem? Sete dias para conseguir o meu dinheiro, ou vou
jogar você e sua irmã no olho da rua. Estamos entendidos? — Aquela era
uma pergunta retórica, não precisava que alguém respondesse em voz alta,
todos já sabiam a resposta.
Envergonhada pela situação que o pai havia lhe deixado, ela respirou
fundo enquanto o homem se distanciava.
Agora havia duas dividas para pagar. Dívidas que nem eram dela.
Ela sorriu para a irmã na tentativa de acalmá-la. Com o sorriso meigo de
sempre, Laura pegou a menina no colo e saiu dali. Como repetira para si
mesma na frente do espelho do banheiro, a vida continua. E foi com esse
pensamento que ela iniciou o dia.
CAPÍTULO 5

Em Seattle, Pietro andava de um lado para o outro, impaciente. Ele


não queria aceitar e nem acreditar no fato de sua mãe ter destruído uma
família. Aquilo era demais para ele.
— Como a senhora teve coragem? — perguntou sem olhá-la.
— Meu filho, você não entende. Eu o amo e temos um filho juntos,
seu irmão — Briana, falou.
— Não entendo? — Achando engraçado, Pietro indagou. — O que eu
não entendo é que você aceitou ser a outra durante sete anos, porra! A
senhora disse que o romance de vocês dois havia acabado, mas agora, assim
do nada descubro que aquele filho da puta está de mudança para cá. É isso o
que eu não entendo!
Pietro estava em seu direito de reclamar. Ele não julgava certo uma
mulher viúva ficar de romance com um homem casado. Ele não havia sido
criado assim, o certo era certo e o errado era errado, pronto! Não tinha
discussão, mas sua mãe estava indo contra tudo o que ele havia aprendido
com o casamento de seus pais.
— Por favor, pelo bem da nossa família, o trate bem, ele é pai do seu
irmão.
— Família? Que família? — Pietro, suspirou. Ele precisava manter o
controle, mesmo Briana estando errada, ainda era a sua mãe. — Adam
sempre será o meu irmão, independente do pai que tivera, mas não tenho
como ficar sob o mesmo teto que ele. A senhora vai ter que escolher eu, seu
filho, ou àquele homem. — Um silêncio pairou no ambiente. Briana fitou o
chão como se procurasse algo, mas na verdade estava com tanta vergonha de
falar que já havia escolhido há muito tempo. — Seu silêncio diz tudo.
Briana não falou nada, ela sabia que seu filho era irredutível em suas
decisões, quando ele decidia alguma coisa ninguém o fazia mudar de ideia.
Era igual ao seu falecido marido nesse aspecto, embora ele se parecesse
fisicamente com ela.
Ainda com raiva de sua mãe, Pietro entrou em seu quarto e começou
a pensar no que faria. Ele não queria nem imaginar qual seria a sua reação ao
ver o homem que havia feito sua mãe de amante por tantos anos. A melhor
saída seria ir embora de casa, Pietro se conhecia bem, e sabia que perderia a
cabeça acarretando uma possível tragédia.
Respirando fundo, ele começou a arrumar suas coisas. Pegou uma
mochila e jogou de qualquer jeito seus livros de arquitetura. Pegou seus
documentos e objetos pessoais. Em uma mala média, guardou suas roupas.
Pietro queria sair de casa o quanto antes, e pouco se importava se as roupas
estavam dobradas ou não. Olhou pela última vez para seu quarto se
despedindo do lugar onde passou sua infância e adolescência. Fechou a porta
atrás de si e saiu.
— Pietro, como vai? — Assim que chegou na sala, ele foi recebido
por David, que mantinha seu braço enroscado na cintura de Briana. — Está
de viagem?
“Sim, para puta que te pariu.”
Ele ficou imóvel diante deles. Encarando-os e pensando em tudo o
que seu pai lhe ensinou enquanto vivo: “Quando alguém te provocar, não
revide. Você é melhor do que eles. Às vezes é necessário ouvir e ficar calado,
o silêncio é a melhor resposta. Ame com intensidade, mais que isso não
machuque ninguém.”
Eram essas as palavras que vinham em sua mente, mas era difícil
quando tudo o que mais queria era socar com toda a sua força a cara do
homem parado à sua frente.
— Responda, Pietro. — Sua mãe falou, baixo. — Não seja mal-
educado. David te fez uma pergunta.
— Estou de partida. Não vou ficar acobertando a sua traição.
— Do que está falando, moleque? — David tirou o braço da cintura
de Briana e o encarou. — De que traição você está falando?
Nervoso, Pietro riu.
— Não se finja de desentendido. Ficou todos esses anos vivendo uma
vida dupla! Com duas famílias. Você não pensou em momento algum na sua
esposa e filhas. Que tipo de pai é você que abandona esposa e filhas? Que
tipo de homem é você que não se contenta com apenas uma mulher, mas
precisa ter duas, três ou mais? Você não é homem, é um pedaço de carne
podre!
David não perdoou, partiu para cima dele e o segurou pela gola da
camisa. O encarou com os olhos vermelhos de raiva. Seu punho havia parado
a poucos centímetros de distância do rosto de Pietro.
— Só não vou te bater em consideração a sua mãe e ao meu filho,
mas não ouse nunca mais colocar minhas filhas no meio dessa história. —
Como se estivesse com nojo, David soltou Pietro. O empurrando para trás e
voltou para perto de Briana. — Da minha vida cuido eu, não preciso que um
moleque insolente fique me dizendo o que fazer, e Laura é adulta, sabe se
virar se isso faz alguma diferença para você.
— Eu esperava mais da senhora — dito isso, Pietro pegou suas malas
que haviam caído no momento em que David o segurou, colocou nas costas e
sem olhar para trás foi embora.
Sua mãe não o chamou, não correu para abraçá-lo e nem pediu para
que ele ficasse, ela simplesmente fez a escolha, e escolheu o homem que
amava. Agora a única preocupação de Pietro era encontrar a família que
David havia abandonado para ajuda-los.

***

Dentro de um quarto de hotel, Pietro acessou a internet. Ele sabia o


sobrenome de David, e o primeiro nome da sua filha, se ele desse sorte, ela
teria alguma rede social, e foi exatamente isso o que aconteceu. Lá estava ela,
uma morena linda de olhos tão escuros como a noite, pele branca e cabelos
compridos. Seu corpo parecia ser escultural, e aqueles lábios... Sim, lábios
tão grossos que o fez querer beijá-la. Era normal sentir excitação por uma
mulher, ainda mais uma como Laura.
— Laura Cooper. — Pietro parecia experimentar o som do nome da
mulher que o fez ficar com uma enorme e potente ereção. Ele sabia que não
conseguiria dormir naquela noite, não apenas pelo fato de ter brigado com
sua mãe e saído de casa, também porque havia ficado hipnotizado pela beleza
de Laura.
Não aguentava mais, seu membro pulsando dentro de sua calça jeans
pedindo para ser libertado. Ele fechou o notebook, abriu o zíper da calça e
com rapidez seu membro já estava livre. Suas mãos o envolveram e assim
começou os movimentos de vai e vem, lentamente. Pietro estava totalmente
entregue ao prazer que ele mesmo estava se proporcionando. De olhos
fechados, ele imaginou como seria Laura sem roupa, em como seria sentir o
sabor dos beijos dela.
Ele gemeu. Um gemido tão profundo que parecia que eram as mãos
dela que estavam ali, o tocando carinhosamente.
Pietro sabia que aquilo não seria o bastante, ele necessitava estar
dentro dela. Ele estava enlouquecendo de todas as maneiras. Louco de prazer,
e louco por estar se masturbando ao imaginar uma mulher que ele ainda nem
conhecia, mas tinha certeza de que logo se encontrariam. Se antes ele estava
disposto a ir atrás da filha do homem que estava com sua mãe para ajudá-la,
agora então, ele sabia que não passaria mais nenhuma noite sem pensar em
como seria tê-la cavalgando sobre ele com seus seios balançando conforme
seus movimentos. Pensar isso só aumentou ainda mais sua excitação. Pietro
voltou a abrir o notebook, clicou sobre uma foto onde Laura estava sorrindo
para a lente da câmera. Na foto, ela vestia um short curto e uma blusa de alça.
Seus seios estavam desenhados sobre o tecido roxo da blusa. Ele levantou,
abaixou ainda mais sua calça e intensificou seus movimentos, tudo isso sem
deixar de olhar para a foto de Laura. Gemendo, gemendo e gemendo feito
louco, Pietro começou a sentir os primeiros sinais de que não demoraria logo
para que ele gozasse. Suas mãos eram ágeis, elas subiam e desciam
segurando firme o membro que parecia mais com uma rocha de tão duro que
estava.
“Gostosa.”
Como ele queria estar por cima dela agora, estocando forte em seu
sexo a fazendo gritar de prazer.
Ele não era o tipo de homem que saía transando com qualquer
mulher, tinha que ser algo mais íntimo. Não bastava abrir as pernas, tinha que
ter uma conexão, e isso era exatamente o que ele sentiu quando viu a foto de
Laura. Alguns homens achariam isso estranho, mas Pietro havia sido criado
assim, respeitando as mulheres.
Envolvido por uma nuvem de prazer, ele gozou, urrando feito um
louco. Ficou ali parado por alguns segundos recuperando o fôlego perdido. O
suor descia por sua testa, suas pernas estavam bambas, ele realmente havia se
libertado, por enquanto.
Depois de um banho e ter arrumando a sujeira que havia feito ao
homenagear Laura, deitou-se. No dia seguinte ele iria atrás dela, oferecia
ajuda e tentaria se aproximar.
Cansado, o sono foi o atingindo devagar. Seu corpo já estava
relaxado sobre a cama e seus olhos começavam a ficar pesados. Ele deixou
de lado o celular, enrolou seu corpo nos lençóis e dormiu com a imagem dela
em seus pensamentos.
CAPÍTULO 6

“A vaga já foi preenchida.”


“Não contratamos pessoas sem experiência.”
“Desculpa, mas você não se enquadra em nossa empresa.”

Laura já tinha percorrido quase toda a Nova Iorque atrás de um


emprego, mas eram sempre as mesmas respostas. Ela já estava entrando em
desespero, tantas dívidas a serem pagas, porém, Laura não tinha como quitá-
las.
Cabisbaixa, caminhou até a escola de sua irmã. Já estava quase na
hora de Nicolle sair. Laura escorou na árvore que havia na frente da escola
azul e esperou. Algumas mães que estava ali, a olhavam diferente. Algumas
cochichavam e outras se distanciavam como se ela estivesse com mau cheiro.
Laura ignorou, seu dia já estava sendo ruim demais para ficar se estressando
com coisas pequenas ou melhor pessoas pequenas.
Ao longe, ela avistou a menina de blusa branca, short azul escuro e
maria-chiquinha, correndo em sua direção. Apenas Nicolle conseguia a
proeza de arrancar um sorriso dela nos piores momentos.
— Você veio. Você veio! — Animada, ela pulou em seu colo e
beijou as bochechas da irmã.
— Eu disse que viria. — Sorriu. — Já almoçou?
— Sim.
“Graças a Deus.”
Laura estava um pouco mais aliava por saber que pelo menos o
almoço de sua irmã estava garantindo enquanto ela estivesse na escola, agora
ele teria de correr atrás da janta. Com sua irmã nos braços, Laura andou. Sua
cabeça estava em um turbilhão, seus pensamentos não se encaixavam e ela
tinha a sensação de que a qualquer momento iria desabar. Ela já não estava
mais aguentando aquela situação. Todas as dúvidas e sofrimento. O universo,
definitivamente, estava conspirando contra ela. Não era possível ir em vários
locais e não conseguir nenhum trabalho. Tudo bem que a falta de experiência
atrapalhava um pouco, mas nunca aprenderia nada se não a dessem uma
chance.
— Laura, você me ouviu? — Uma voz conhecida a traz de volta de
seus devaneios. — Você sumiu das aulas. O que houve?
Era Paty, a menina mais fofoqueira da escola de artes. Laura não a
suportava pelo simples fato de que ela não conseguia segurar a língua dentro
da boca. Quando elas eram amigas, Laura confidenciou para Christina e Paty,
que havia perdido sua virgindade com Caio, um músico que conheceu através
em um pub. Não demorou muito para que a escola toda ficasse sabendo.
Aquele foi o estopim para que Laura nunca mais contasse nada para Paty.
— Nada. Estou apenas ocupada com algumas coisas — respondeu,
voltando a andar. — Foi bom te ver.
— Tchau!
Laura andou o mais depressa possível com Nicolle em seus braços.
Ela não queria ter que ficar dando explicações para alguém que não podia
ficar sabendo de nenhuma fofoca.
Ao mesmo tempo que ela, praticamente, corria pela calçada, seu
corpo se arrepiava. Ela tinha a sensação de estar sendo seguida. Laura sentiu
que a observavam desde o momento em que saiu para procurar emprego,
porém, ignorou achando ser paranoia de sua cabeça. Ela ainda estava abalada
com a invasão da noite passada.
Faltava apenas alguns metros para que elas chegassem ao prédio que
moravam. Nicolle desceu do colo da irmã, pegou em sua mão e continuaram
andando.
— Que menina mais bonita.
Laura congelou. Ela conhecia aquela voz, sabia muito bem quem era
o dono. Nem se passasse anos ela conseguiria esquecer o pavor que lhe foi
dado pelo dono da voz. E lá estava ele outra vez, com seus óculos escuros,
braços tatuados amostra. Laura puxou Nicolle para mais perto de si.
— O que você quer? Eu já disse que não sei onde ele está.
Juan sorriu, mas não era um sorriso amigável, e sim de quem estava
planejando alguma coisa.

***

Assim que o dia amanheceu, Juan levantou da cama, expulsou a


mulher que tinha passado a noite e foi para o banho. Ele queria se livrar do
cheiro do sexo, dos orgasmos que ele proporcionou a mulher cujo nome não
sabia. Ele entrou no banheiro, tirou sua boxer preta, abriu o registro do
chuveiro. Deixou com que a água quente lavasse toda a sujeira da noite
anterior. Com as mãos cheias de espumas de sabão, Juan começou a lavar seu
corpo, não deixando nenhuma parte de fora, inclusive seu membro.
— Juan! — Liza, seu braço direito gritou. Ela era a única em que ele
confiava a chave de seu apartamento.
— Estou no banho! O que você quer?
Ela entrou no banheiro que havia no quarto dele e foi presenteada
com a vista perfeita de sua bunda. Liza sentiu sua intimidade pulsar. Ela
morria de tesão por ele, e já perdeu as contas de quantas vezes havia se
masturbando imaginando os dois juntos.
Liza não era uma mulher que se apaixonava, mas não abria mão de
uma boa noite de sexo.
— O que foi? — perguntou ele, virando de frente para ela. — Nunca
viu um pau?
— Não o seu. — Ela mordeu seu lábio inferior. — Como é grande.
Juan sabia o que ela queria, mas não seria ele a falar primeiro. Jamais
implorava por sexo, elas vinham até ele. Todas elas.
Liza sentiu seu sangue ferver, ela o queria a tempos, porém, Juan
nunca deu liberdade para que chegassem a tal ponto, mas aquela era a sua
chance. Lentamente, se desfez de seu vestido vermelho, extremamente,
colado em seu corpo. Seus seios pularam para fora. Andou a passos lentos até
Juan e entrou debaixo do chuveiro. A água quente fez com que um grito fino
escapasse de sua boca, mas aquilo não a fez mudar de ideia: ela queria e teria
ele naquele momento.
— Eu sempre quis saber se era tudo verdade o que dizem sobre você
— Liza falou manhosa.
— E o que dizem? — Juan apertou um dos seios de Liza.
— Que você faz qualquer mulher gozar em tempo recorde.
Sem esperar, Juan puxou Liza para si, circulou sua cintura fina com
seus braços tatuados e devorou sua boca. Um beijo que fez a ruiva gemer de
excitação. Ela deslizou suas mãos pelas costas de Juan, sem parar de beijá-lo.
Sem mais delongas, ele a virou de costas, e penetrou seu sexo com tanta força
que a fez gritar, mas logo em seguida ela foi tomada pelo prazer que ele a
estava proporcionando. Ele entrava e saía de dentro dela com tanta
velocidade que ela mal conseguia acreditar que estava acontecendo. Suas
mãos apoiadas na parede, e Juan com as deles em seus seios.
— Ah... — gemia Liza sem parar.
Juan não era igual a muitos homens que tinham pelo mundo, ele não
falava coisas durante o sexo, ele não gostava de carinhos e juras doces e
enjoativas de amor, ele apenas metia e metia cada vez mais forte. Liza
chegou ao ápice, realmente, em tempo recorde, e quando Juan estava prestes
a explodir, ele tirou seu pênis duro de dentro de Liza, a ordenou que se
ajoelhasse e como um touro, gozou no rosto branco da ruiva.
— Se limpe e vá embora. Tenho assuntos a serem resolvidos. —
Como se nada tivesse acontecido, Juan terminou seu banho. Enrolou uma
toalha em sua cintura e saiu do banheiro.
Ele tinha em mente outras coisas que estavam tirando o seu sono, e
uma delas se chamava Laura. A morena de curvas perfeitas, tinha uma dívida
a ser paga, e ele cobraria centavo por centavo.
Os próximos dez minutos foram normais. Juan tomou seu café da
manhã enquanto Liza acabava de se vestir.
— As informações que você pediu sobre a família Cooper estão sobre
o sofá — disse e seguiu para fora do apartamento.
Juan largou a xícara de café que bebia em cima da mesa e correu para
a sala. Abriu o envelope de papel pardo e começou a ler. Eram poucas
páginas e a que, realmente, o interessava estava no final:
“Laura Cooper, 19 anos. Branca, de olhos e cabelos castanho-
escuros. Filha de Núbia Cooper, falecida, e David Cooper, desaparecido.
Irmã mais velha de Nicolle Cooper, 4 anos. Bailarina na escola de artes
Dance Art School.”
— Bailarina... — Ponderou, Juan. — Interessante.
Aquilo bastava para ele, seu plano já estava formulado, e ele teria as
duas coisas de uma só vez. Fez algumas ligações e rapidamente já tinha a
localização exata de Laura, e lá estavam eles, parados na calçada.
— Tenho uma proposta para lhe fazer. Assim você paga a dívida de
seu pai e fica livre de mim.
— Que proposta? — Curiosa, Laura perguntou.
Juan se aproximou dela e sussurrou em seu ouvido para que Nicolle
não ouvisse.
— Dance em minha boate até sua dívida ser paga.
Laura o encarou assustada. Ela jamais se imaginou recebendo uma
proposta tão ousada como aquela. Se Nicolle não estivesse ali, ela com
certeza lhe daria um tapa.
— Jamais aceitarei tal proposta.
— Não seja tola. Não vou oferecer de novo. Digamos que, não sou
conhecido por ser muito paciente. — Laura sabia que as palavras do homem
à sua frente tinham segundas intenções, sabia muito bem que gente como ele
não perdoava dívidas. — Então, o que me diz?
— Minha resposta é não!
Pegou a mão da pequena Nicolle e correu até seu prédio. Ela ignorou
as perguntas de sua irmã, Nicolle não tinha idade suficiente para saber a
merda em que elas estavam, merda essa que seu pai havia criado.
Puxando o ar, subiu os degraus até o terceiro andar, mas ao chegar no
final da escada, ela viu seus móveis todos no corredor. Seu sofá, televisão,
armário de cozinha, tudo estava jogado de qualquer jeito.
— O que está acontecendo aqui?
— Que bom que voltou. — O dono do prédio surgiu de dentro do
apartamento. — Você tem trinta minutos para arrumar suas malas e sair
daqui.
— Mas senhor Wilson, eu não tenho para onde ir. Para onde vou com
a minha irmã? — Seus olhos ardiam com as lágrimas começando a se
formarem. — Por favor, o senhor havia me dado alguns dias...
— Isso não me interessa! Arrumei um novo inquilino. Os móveis
ficarão como forma de pagamento. Você tem trinta minutos.
Laura ficou ali, parada em meio aos seus antigos móveis. As lágrimas
começavam a rolar pelo seu rosto, o deixando molhado. Ela entrou no
apartamento vazio. Olhou para a sala e viu apenas suas fotos jogadas no chão.
— Não temos mais casa? — Chorosa, Nicolle perguntou. — Laura,
estou com medo.
— Vamos dar um jeito, eu prometo.
Ultimamente, estava fazendo muitas promessas, mas não conseguiu
cumprir nenhuma. Agora tinha mais uma, e sem dúvida, a mais importante.
CAPÍTULO 7

Sozinha, sem um tostão no bolso, sem emprego, com uma criança


pequena para cuidar e agora sem casa, essa era a vida de Laura. Ela não
parava de pensar em como sua vida mudou tanto. Ela tinha um futuro pela
frente, seria uma bailarina profissional, se casaria com o homem dos seus
sonhos quando ele aparecesse, porém, uma tempestade chegou e levou todos
os seus sonhos por água abaixo.
Com os olhos vermelhos de tanto chorar, fechou a última mala.
Pegou sua irmã e deu adeus ao seu apartamento. Ali, ela tinha vivido toda a
sua infância e adolescência, havia lembranças boas e ruins por todos os
lugares, agora não passava de um espaço vazio e solitário.
— Minha filha... — Dona Cecilia abraçou Nicolle e em seguida
Laura. — Eu juro eu tentei falar, mas ele ameaçou fazer o mesmo comigo.
— Velho desgraçado — Laura, resmungou. — Tudo bem. Quero
agradecer por toda ajuda. Pelos abraços e carinho. Não sei para aonde vamos,
mas quando as coisas melhorarem, prometo que venho visitá-la.
Cecilia usou toda a sua força para não chorar, ela tinha que ser forte,
as coisas já estavam ruins demais para que ficasse chorando feito uma louca
pelos cantos.
— Leve essa bolsa. Aqui tem alguns biscoitos e outras coisas para
vocês. Tem um lugar aqui perto, o Santa Lúcia, é um abrigo criado por
mexicanos há alguns anos. Peça abrigo a eles. Sempre que puder irei vê-las.
— Com um abraço, Laura e Nicolle se despediram da senhora que havia sido
muito mais do que uma vizinha.
Elas desceram de elevador e quando as portas se abriram, lá estava
ele, o dono do prédio. Seu sorriso iluminava o rosto enrugado. Possuída por
uma raiva, Laura caminhou a passos largos, parou de frente para ele que a
olhava com os olhos arregalados.
— Está feliz agora? Estamos indo embora. — Laura bufava com
raiva, mas ela utilizava aquele sentimento no momento para não ser fraca e
chorar na frente dele. — Como o senhor irá dormir essa noite sabendo que
uma criança de quatro anos está num abrigo? Me diga que sua consciência
não pesa nenhum pouquinho? Espero que quando você colocar sua cabeça
para descansar no travesseiro, a imagem da minha irmã não venha assombrar
seus pensamentos. Passar bem, senhor Wilson!
Ele não soube o que falar, Laura tinha sido feroz como uma leoa
quando protege os filhotes, falou tudo o que estava engasgado em sua
garganta e saiu de cabeça erguida.
Seu coração estava quebrado, ele nem sequer existia mais, apenas um
pedaço de carne que insistia em ficar pulsando. Laura caminhou com sua
irmã ao lado, com as mochilas nas costas, duas malas nas mãos e lágrimas
nos olhos, até o abrigo que dona Cecilia falou. O local parecia ser amplo, um
portão grande de ferro separava o abrigo da rua. Ela chamou por alguém.
Uma jovem miúda de cabelos claros mais ou menos da sua idade, abriu a
porta e olhou para o portão.
— Oi, preciso de ajuda. — Envergonhada, Laura falou.
A jovem que antes estava parada na porta, agora caminhava até elas.
— Bem-vindas ao Abrigo Santa Lúcia. Sou Jane a filha dos donos. —
Sorrindo, Jane abriu o portão. — Entrem, vamos conhecer o local. Meus pais
logo conversarão com você.
Laura e Nicolle caminharam atrás de Jane, que tagarelava sem parar.
Enquanto a moça dava instruções sobre o abrigo, Laura olhava com atenção
as crianças que andavam de um lado para o outro, sorrindo como se tudo
estivesse normal. Alguns adultos arrumavam suas camas.
— Aqui é onde as mulheres e crianças dormem. — Jane apontou para
uma sala enorme. Várias camas estavam alinhadas no local. Mulheres de
todas as idades dormiam ali. — Na outra ala é onde os homens dormem.
Aqui é proibido ter relações sexuais, em respeito aos outros. Suas camas
serão estas, vocês podem juntar as camas. Minha mãe vai mostrar onde fica o
banheiro e o refeitório.
Laura colocou suas malas sobre a pequena cama de ferro. Nicolle
olhava assustada para todos ao seu redor, e não era para menos, algumas
mulheres que estavam ali as olhavam de um jeito estranho.
— Não quero ficar aqui.
— É provisório, até eu arrumar um emprego. — Sorriu. — Venha,
vamos juntar nossas camas.
Juntas, as duas arrastaram as camas e as uniram lado a lado. De
dentro de uma das malas, Laura tirou uma colcha grande cor-de-rosa,
apropriada para uma cama de casal. Abriu sobre as duas camas e assim
formou uma cama só. A cada gesto que ela fazia, memórias de sua mãe
arrumando seu quarto, invadiam sua mente.

— Mamãe, mamãe, mamãe! — Laura gritava ao entrar em casa. —


Mamãe, olha o que eu ganhei da professora.
Laura tinha seis anos de idade. Seus cabelos escuros, balançavam
enquanto corria até o quarto de seus pais.
— Deixe-me ver, meu anjo. — Núbia, sorriu ao vê-la. Laura entregou
mostrando a estrela dourada em forma de medalha.
— A professora deu a medalhinha para quem fez a tarefa certa, e eu
fiz. — Feliz, Laura pulou nos braços da mãe.

Anos depois Laura já não era tão pequena. Ela acabara de


completar seus doze anos. Olhava seu reflexo na frente do espelho e se
perguntava o porquê não era igual as suas amigas. Todas tinham corpos
moldados que faziam os garotos da escola enlouquecerem, porém ela não
tinha. Seus seios eram tão pequenos que mal podiam ser notados.
— O que você faz aí parada? — Núbia perguntou. — Christina está
esperando na sala.
Suspirando um pouco triste, Laura pegou sua mochila e a colocou
em frente aos seus seios. Sua mãe a conhecia bem, sabia sempre o que se
passava com sua filha sem ao menos ela falar nada.
— Tudo no seu tempo. As coisas acontecem de forma natural, mesmo
que às vezes pareçam que vão demorar anos, mas uma hora elas acontecem.
— Núbia abraçou forte Laura e saiu a deixando refletir em suas palavras.

Seis anos à frente, Laura dançava feliz com seus amigos em sua
pequena festa de dezoito anos. Era uma data importante para ela, seria
quando sua maioridade chegaria e assim ela poderia, finalmente, entrar na
escola de artes e cursar balé como sempre sonhou. Seu pai não a apoiava,
dizia sempre que ela não seguiria os passos da mãe, pois menina de família
não dançava para os outros. Era como se ela estivesse se insinuando para os
homens.
— Eu disse que não queria uma festa aqui! — David gritou, fazendo
com que todos ouvissem. — Laura, acabe com isso!
— Papai, é só uma reunião, nada demais.
— Você está dançando e se insinuando. Não quero filha minha
assim, igual a uma...
David não terminou de falar, foi em direção ao som e desligou a
música. Com o rosto enrugado, ele abriu a porta e enxotou para fora de sua
casa os amigos de Laura como se fossem cães sarnentos.
Ela não podia falar nada, sabia que sua opinião não seria ouvida.

Laura chorava sem perceber. Seu rosto já estava completamente


tomando pelas lágrimas. Lembrar de sua antiga vida fazia seu peito arder de
saudades. Ela daria qualquer coisa para ter mais alguns momentos ao lado de
sua mãe. Laura se culpava por não ter ficado em casa no dia em que Núbia
decidiu tirar sua própria vida. Talvez, ela a tivesse impedido. Outra
lembrança a atingiu com força total, mas essa não era tão antiga.

Trajando um vestido preto até a altura de suas coxas, Laura prendeu


seus cabelos em um rabo de cavalo alto. Passou um batom vermelho nos
lábios e salpicou um pouco do perfume preferido de Núbia. Ela estava indo
ao enterro de sua mãe. Era como se estivesse morrendo aos poucos, a dor a
sufocava cada vez mais.
Laura havia deixado Nicolle com sua vizinha, sua irmã era muito
nova para ter que passar por algo tão doloroso como ver sua mãe sendo
enterrada.
Trinta e três minutos depois o ônibus já havia deixado Laura
próximo ao lugar. Caminhando, lentamente, ela entrou no cemitério. O
cheiro de velas e rosas invadiam suas narinas fazendo seu estômago revirar.
Mais alguns passos e, entrou na capela. Um caixão de madeira com o corpo
de sua mãe estava posto no centro. Havia duas coroas de flores uma de cada
lado do caixão, algumas velas e dois bancos de madeiras, que acomodaria
seis pessoas em cada um.
— Mamãe... — Laura chorou ao vê-la sem vida. — Mamãe, me
perdoa, por favor. Se eu soubesse que a senhora não estava bem, eu tinha
ficado. Eu... Eu... Ah, mamãe. Porque me deixou?
Laura chorava com a cabeça apoiada no caixão. Ela não conseguia
falar sem que engasgasse em suas próprias palavras. Seu corpo tremia e
suas pernas balançavam. Ela levantou o rosto e olhou a sua volta. Estava
sozinha. Ninguém tinha ido ao funeral. Laura decidiu não contar para
ninguém além de dona Cecilia que havia lhe dado dinheiro para o enterro.
— Eu prometo cuidar da Nicolle. Prometo dar a ela um futuro bom,
digno. Prometo também que não vou desistir do meu sonho. Vou ser uma
bailarina. Irei orgulhá-la. Eu só queria que a senhora estivesse aqui para ver
tudo isso.
Laura não teve tempo para chorar outra vez, dois homens que eram
encarregados de realizar o sepultamento chegaram e avisaram que estava na
hora. Eles fecharam o caixão e o carregaram até onde uma cova aberta os
aguardavam. Devagar e com cuidado, desceram o caixão.
— Descanse em paz, mamãe. Eu te amo! — Laura jogou uma flor
vermelha sobre o caixão antes de que começassem a jogar terra.

— Laura, porque está chorando? — Nicolle perguntou.


— Não é nada. Vamos procurar o banheiro para lavarmos nossas
mãos.
Laura tentava passar calma e tranquilidade a sua irmã, por mais que
ela não sentisse o mesmo, porém, era o seu dever como irmã mais velha
proteger e cuidar de Nicolle.
De mãos lavadas, elas continuaram a caminhar pelo abrigo até
encontrar o refeitório. Um lugar grande e frio. Haviam oito fileiras de mesas,
todas feitas de concreto. Os bancos eram feitos do mesmo material que as
mesas. Uma cozinha com uma enorme janela de madeira estava aberta, como
se fosse uma cozinha interligada com a sala de jantar.
— Oi, sou Elise e esse é meu esposo Tom. — Uma mulher alta de
cabelos quase brancos e óculos, estendeu a mão em sua direção. — Sejam
bem-vindas. Aqui somos uma família. Daremos abrigo, comida e respeito.
— Obrigada. Sou Laura e essa é minha irmã Nicolle. — Nicolle
agarrou nas pernas de Laura e escondeu seu rosto nelas. A pequena não era
acostumada com pessoas estranhas. — Ela é um pouco tímida.
— Entendemos — falou Tom, que até agora não havia se
pronunciado. Ele era um homem alto, igual a sua esposa. Cabelos grisalhos e
barba curta. Um homem bonito considerando que já devia ter quase sessenta
anos. — Vocês devem estar morrendo de fome. Vamos almoçar.
Laura não quis demonstrar, mas sua barriga gritava por comida. Ela
não comia nada desde a noite passada quando fez os dois últimos pacotes de
macarrão instantâneo.
Sentada ao lado de sua irmã, devorava toda a comida em seu prato.
Para ela, aquele macarrão com queijo e frango frito eram os melhores que já
havia comido em sua vida. Não existe coisa melhor do que comer quando se
está morrendo de fome, e era isso o que ela sentia.
Nicolle não ficava atrás, ela comia com tanto prazer que às vezes
chegava a se engasgar.
Pela primeira vez depois que suas vidas viraram um total caos, se
sentiram bem. Sentiram-se protegidas e amparadas.
— Estava uma delícia — Laura falou a Elise, assim que acabou a
refeição. — Como diz aquele ditado: matei o que estava me matando.
Elise riu.
De mãos dadas, Laura e Nicolle voltaram para sua cama. Ela
precisava pensar no que faria para sair daquela situação. Não poderiam ficar
para sempre no abrigo, uma hora elas teriam que sair dali, mas que saíssem
para uma vida melhor, ou mais ou menos estável, assim pensava a moça.
— Estou com sono. — Nicolle coçou seus olhos e bocejou.
— Deixa-me tirar as bolsas de cima da cama para... — Laura pausou
o que falava quando deu falta de uma bolsa. Desesperada, Laura começou a
procura pela bolsa, mas estava sendo em vão. — Não, não pode ser!
O desespero se abateu sobre ela. Laura não queria aceitar que a
haviam roubado. Nem os pacotes de biscoito que dona Cecilia as deu estavam
lá. Definitivamente, haviam roubado sua bolsa. Ela não estava segura nas
ruas, não estava segura dentro do abrigo, não estava segura em lugar algum,
porém, aquele era o único teto que ela tinha no momento, era aquilo ou
dormir na rua.
— Preciso respirar — Laura falou. Colocou sua irmã na cama, a
cobriu e saiu.
Já era início da noite quando Laura percebeu. Ela estava tão perdida
em seus pensamentos que nem viu as horas passarem.
Andou até o portão de ferro e encostou sua cabeça nas grades. Ela já
estava farta de tudo aquilo.
— Dia difícil? — Uma voz conhecida a faz levantar seus olhos. Era
ele.
— Nem te conto.
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AUTOGRAFADO COM A AUTORA
CAPÍTULO 8

Lutando contra sua intuição, Laura abriu o portão e caminhou até o


carro preto que estava estacionado. Ao mesmo tempo em que ela fazia isso,
Juan abriu a porta do carro e saiu, ficando frente a frente com ela. Eles se
olharam fixamente, porém, Laura cortou seu contato visual. Encostou na
lataria do veículo e cruzou seus braços.
— Parece que o universo não gosta de mim. Tudo o que faço dá
errado, tudo o que penso em fazer já dá errado. Eu estou começando achar
que estou errada também.
— Ei! Vai com calma, morena — Juan riu. Seu braço esticou até a
porta do carro onde ele se apoiou. O rosto de Laura ficou a poucos
centímetros da mão dele. Sem que ela notasse, inalou o aroma do perfume do
homem. Tinha um cheiro forte e gostoso. — Laurinha, as coisas só estão
assim por causa do seu pai. Se não fosse ele, não estaríamos aqui tendo essa
conversa.
Ele estava certo, e ela sabia disso e começava a sentir raiva de sempre
está errada.
— Perdi minha mãe. Meu pai sumiu. Não tenho emprego. Não tenho
casa, e para piorar, acabei de ser roubada aqui dentro do abrigo. — Laura
limpou as lágrimas que molhavam seu rosto.
— O que roubaram? — Juan parecia preocupado, mas Laura sabia
que aquilo era coisa da sua cabeça.
— Minha bolsa, mas não me importo que tenham a roubado, mas
dentro dela estava o anel de noivado da minha mãe. Ela ganhou da minha
avó. Era como uma herança de família. E agora eu o perdi.
Laura não era o tipo de mulher que se importava com bens materiais,
porém, o valor sentimental que esses bens que pertenciam a ela, era o que
realmente importava. Ela não queria acreditar que a única lembrança de sua
mãe havia se perdido. Era seu dever cuidar do anel, usá-lo quando fosse
noivar e passar adiante para sua irmã e depois filhas.
Juan parecia querer decifrar os pensamentos de Laura. Ela era
diferente das mulheres que ele conhecia pela cidade. Havia um jeito doce que
fazia Juan querer protegê-la.
Suspirando como se tentasse tirar um peso de suas costas, ele ergueu
o queixo da morena que tinha o rosto banhado em lágrimas e a encarou.
— Olha, não sou igual aos homens de filmes ou livros. Não faço
propostas a qualquer um, muito menos imploro por algo. — Fez uma pausa.
— Mas tenho um amigo que pode te arrumar lugar para morar.
— Olha... — Laura o olhou de cima a baixo. — Qual o seu nome
mesmo?
— Juan.
— Muito bem, Juan. — Laura ergueu seu corpo, olhou nos olhos de
Juan. — Eu nem te conheço, e mesmo que conhecesse, jamais aceitaria tal
coisa. Você esqueceu que a poucas horas me ofereceu um emprego como
“dançarina” na sua boate.
Juan era de poucas palavras, mas compensava com ações. Juan estava
começando a perder a paciência, era a segunda vez que ela recusava sua
proposta, e isso não o agradava. Ele era acostumado a conseguir tudo o que
queria, e não importava de quem ele teria que tirar.
— Você vai mesmo ficar nesse abrigo? Com sua irmã pequena? Será
que você não pensa na segurança dela? — Juan sabia como atingir seus
oponentes, e ele não descartaria a carta que tinha em sua manga. Laura não
teria como rebater aquilo. — Você mesma falou que não tinha uma casa.
Estou oferecendo moradia, e quem sabe um emprego, mas isso a gente pode
conversar amanhã. Agora quero saber, você vai comigo ou não?
Metade do corpo de Laura gritava para que ela aceitasse logo. Ela
teria um teto seguro sob sua cabeça, uma cama para deitar e um lar para criar
sua irmã. Porém, a outra parte do corpo de Laura implorava para que ela o
deixasse falando sozinho. Juan não era de confiança, não era amigo e muito
menos generoso, por trás de toda sua bondade, com certeza havia segundas
intenções.
— Eu não vou perguntar duas vezes.
— Fechado. — Ela estendeu sua mão em forma de agradecimento. —
Vou aceitar, por essa noite. Amanhã vejo o que farei.
Juan não disse nada, apenas sorriu de lado, e esperou que Laura
pegasse suas coisas e sua irmã.
Dentro do abrigo, Laura explicou o que tinha acontecido com ela.
Relatou o roubo aos donos do local e com um abraço de gratidão, se despediu
de Elise e Tom.
Caminhando ao lado de Nicolle em direção ao portão de saída,
Nicolle não parava de sorrir. Ela estava feliz por não ter que dormir naquele
lugar.
— Vamos? — Como nos filmes de cinema, Juan abriu a porta do
banco de trás do carro.
— Ele é seu namorado, Laura?
— Não! — Rapidamente, Laura respondeu. Seu rosto estava
vermelho e seus olhos quase saltando para fora. — Ele é um amigo do papai
que vai nos ajudar hoje. Agora entra no carro.
Se ela pudesse cavar um buraco no chão e enterrar sua cabeça ali
dentro, ela faria. Nicolle sabia como deixar Laura em situações
constrangedoras.
— Você sabe que seu pai ainda me deve, não é? — Laura concordou
com um aceno de cabeça. — E você terá que pagar. Eu não vou ficar sem
meu dinheiro.
— De quanto estamos falando?
Ele riu.
Negou com o dedo e disse que amanhã conversavam. Para ela estava
bom, naquela noite ela não iria se preocupar com dívidas ou qualquer outra
coisa que não fosse dormir.
Juan andava com seu carro pelas ruas de Nova Iorque como se fosse
o dono. Seus olhos fixos na pista, mas às vezes deslizavam para as coxas de
Laura. Ela usava uma calça jeans apertada, o que deixava suas pernas
destacadas. Ela sabia que ele a olhava, mas preferiu fingir que nada
acontecia.
— Ela dormiu — Juan disse ao olhar para trás. Nicolle dormia no
banco do passageiro. O sinto de segurança a protegia, não deixando que ela
caísse.
— Ela presenciou muita coisa hoje. — Laura não havia se dado conta
de que o carro já não estava mais em movimento. Só quando Juan tirou a
chave da ignição foi que ela viu que um prédio modesto estava ao seu lado.
— É aqui?
— Sim. Vamos, eu levo sua irmã.
Laura protestou, ela não deixaria que um desconhecido carregasse
sua irmã nos braços, mas Juan era teimoso, e não desistia. Ele carregou
Nicolle em seu colo até o quarto andar. Parou em frente a uma porta branca
com o número dezoito gravado.
— A chave está debaixo do tapete. O dono deixou aqui para que
entrássemos. Pegue.
Laura abaixou e pegou uma chave dourada. Girou na fechadura e
entrou. Seus dedos percorreram a parede e logo encontrou o interruptor.
Quando as luzes se acederam, Laura soltou um suspiro de alívio. Ela sentiu
seus olhos encherem de lágrimas. Finalmente, dormiria segura, pelo menos
até resolver o que faria da sua vida no dia seguinte.
As paredes da pequena sala eram em cores pastéis. Dois sofás
vermelhos, uma mesa de centro e uma televisão moderna. Esses era os
móveis da sala. Nas paredes, algumas prateleiras vazias decoravam ambiente.
— Pode ficar o tempo que quiser. Sua irmã está dormindo no quarto.
— Juan falou ao se aproximar por trás. — Enquanto estiver aqui, estará
segura. Eu prometo.
Laura sentiu seu corpo tremer. Ela não negaria que Juan era um
homem atraente, seus olhos azuis e braços tatuados a deixavam hipnotizada.
— Obrigada, mas será só por essa noite. — Laura se afastou. — Eu
nem teria como pagar para ficar aqui.
— Eu já disse, dance na minha boate. Você receberá um salário e
com isso pagará a dívida de seu pai.
Ele sempre a lembraria que o devia, mesmo que não fosse ela a
causadora da dívida. Ela queria saber o porquê seu pai havia feito isso com
ela. O motivo de ter abandonado a família.
— Você sabe o porquê ele pediu dinheiro? — Com medo da resposta,
Laura perguntou e virou de costas. Seus olhos fixaram nas pequenas janelas
da sala. — Ele te falou alguma coisa?
— Não. Ele pegou o dinheiro e foi embora.
— E isso foi quando? — Juan não respondeu. Ele sabia a que Laura
se referia. — Juan?
— Quando sua mãe faleceu mesmo? Talvez um mês antes disso.
Não precisou que ele falasse mais nada, Laura soube que o dinheiro
que seu pai havia pegado fora usado para ir embora de casa. O mesmo
maldito dinheiro que ele a deixou para pagar.
Laura quis gritar, socar algo para que sua raiva fosse dissipada.
Procurando com seus olhos, ela encontrou uma almofada branca sobre o sofá.
Com toda sua força, ela a socou, socou e socou. Ela jamais tinha sentido algo
tão ruim como naquele momento. Um sentimento o qual ela estava segurando
dentro de si desde o dia em que percebeu que estava sozinha, sem pai e sem
mãe, pois Núbia havia tirado a própria vida e seu pai fugido feito um
bandido. Ela queria odiar seu pai, queria desejar seu mal, porém não
conseguia. Mesmo ele sendo o motivo pelo qual sua mãe estava morta, ela
ainda assim não conseguia odiá-lo.
Vendo toda aquela situação, Juan agiu sem pensar. Abraçou Laura e
apoiou sua cabeça em seu peito.
— Me solta! — gritando, Laura bateu em Juan. — Me solta, merda!
Juan não a soltou. Ele sabia que ela precisava de alguém forte. Sabia
que Laura era só mais uma garota que teria que deixar seus sonhos morrerem
como várias que conhecia, mas assim era a vida.
Laura continuava lutando contra o aperto dos braços de Juan. Ela não
queria ajuda, muito menos dele, porém, sabia que nada podia fazer. Então
deixou ser levada pelas lágrimas que, finalmente, rolavam pelo seu delicado
rosto.
Seu corpo trêmulo estava sendo amparado pelos braços de Juan, que
não falava nada, apenas continuava ali, parado. Aquela situação era normal,
afinal, ele era dono de uma boate onde acontecia de tudo. Muitas das meninas
que trabalhavam para ele era por necessidade. Umas tinham filhos para
sustentar, outras uma mãe, um pai ou avós que precisavam de remédios ou
tratamentos caros. Ele estava acostumando a ver todo o tipo de situação, até
mesmo os surtos e choros.
Um pouco mais calma, Laura o afastou com força. Aquela não era
ela. Ela jamais se deixaria ser abraçada por um homem desconhecido. O
mesmo homem que a ofereceu um emprego onde ela teria que se despir para
poder pagar a dívida de seu pai e dar de comer a sua irmã.
Seu rosto estava todo vermelho devido ao choro. Seus olhos inchados
e o nariz escorrendo.
— Desculpa por isso — disse ela sem jeito. — Obrigada.
— Não me agradeça, ainda... — Piscou um olho para ela e caminhou
até a porta. — Você e sua irmã estão seguras. Ninguém fará nada contra
vocês. Amanhã volto para conversarmos sobre o emprego na boate. Boa
noite, Laura.
Assim que Juan saiu, Laura correu e se jogou contra a porta a
fechando. Ela ainda continuava nervosa, seu coração estava acelerado e sua
respiração falhando. Tudo o que Laura queria naquela noite era um banho e
depois dormir o sono dos justos. Necessitava.
Curiosa, procurou pelo banheiro e na primeira tentativa o achou. Não
era um cômodo grande, mas para aquele banho, estava ótimo. Rapidamente,
se despiu, ligou a ducha quente e entrou de uma só vez. A água caia sobre sua
cabeça e descia pelos seus ombros, passeando pelo seu corpo e levando
embora o cansaço, tristeza, raiva e desespero, pelo menos por algumas
míseras horas. A água parecia ser mágica, ela fazia com que Laura se sentisse
menos suja interiormente.
Enrolada na toalha, voltou para sala, pegou de dentro de umas das
bolsas um vestido velho e o vestiu. Desligou as luzes e foi para o quarto onde
Nicolle dormia, ressonando alto como se parecesse um adulto. Ela puxou as
cobertas e deitou. Experimentou a maciez do colchão que foi aprovado por
ela com um sorriso de satisfação. Repousou sua cabeça cansada no
travesseiro e deixou ser levada pela escuridão e sono.
Naquela noite, Laura não sonhou, não teve pesadelos. Ela apenas
dormiu abraçada a sua irmã e agora filha.
CAPÍTULO 9

Juan não conseguia aceitar o fato de que Laura sempre o dizia não.
Ele não gostava da sensação que ela causava em seu corpo.
Depois que a morena saiu e o deixou parado no meio da calçada,
sozinho, decidiu que não desistiria. Ele sempre foi temido pelos demais
gangster de Nova Iorque. Com seu jeito frio, olhar marcante e tatuagens, Juan
era implacável. Ele a seguiu até a entrada de um abrigo. Não a forçaria a
nada, ele sabia que as coisas ficariam piores, ainda mais vivendo sob o teto
de um abrigo. Juan esperou a tarde inteira e foi no início da noite que ele a
viu caminhando a passos lentos como se carregasse o peso do mundo nas
costas.
Assim que saiu do apartamento onde Laura e sua irmã dormiam, Juan
pegou seu carro e dirigiu até sua boate. Ele sabia que não conseguiria dormir
naquela noite. Ele precisava de agitação, e nada melhor do que ver várias
mulheres lindas tirando suas roupas. Só de pensar ele já ficava excitado.
Mulher sempre resolvia, mas às vezes elas eram o problema.
Dirigindo rapidamente e avançando alguns sinais fechados,
estacionou seu carro na frente do prédio enorme. Jogou as chaves para Ed, o
manobrista, e entrou. Quem olhasse para o ambiente, pensaria que era apenas
mais uma boate comum, mas o que muitos não sabiam, era que por trás da
parede escura do DJ, ficava a entrada para a verdadeira boate.
— Papi. — Lupi, uma das suas melhores strippers, o chamou. Ela era
uma morena de curvas incríveis e seios fartos. Sua pela caramelizada e seu
sotaque cubano a deixava sexy. — ¿Qué haces aquí en este momento, Papi?
— Já disse para não falar em espanhol. Você não está mais em Cuba.
— Lo siento, papi. — Cabisbaixa, Lupi falou.
— Dance para mim.
Ela sorriu e correu para o centro de um dos palcos vazios. A boate
que Juan gerenciava era grande, suas paredes em tons escuros davam ao
ambiente um ar sombrio. Luzes baixas, sofás de cantos, algumas mesas
espalhadas pelo lugar e cinco palcos. Haviam dois palcos pequenos de cada
lado e um maior no centro da boate. Nesse palco, era onde acontecia os
shows de strip-tease. Mulheres dançando e tirando as roupas ao mesmo
tempo. Homens desejando tê-las em suas camas, era isso que Juan gostava.
Lupi dançava, sensualmente, olhando fixo para ele que parecia estar
em outro lugar. Sua cabeça não parava de repassar a cena de Laura chorando.
A forma como ela batia na almofada. Uma raiva que somente uma pessoa
machucada de verdade pode sentir.
Ele bebeu o último gole de seu uísque, tragou seu cigarro e levantou.
Cansando, ele deixou algumas notas de dinheiro sobre o palco e saiu. Ele não
precisava pagar, mas aquele era o trabalho de Lupi, dançar para poder mandar
dinheiro para sua mãe doente.
Juan não foi para casa, ele estava cansado demais para dirigir. Entrou
em seu escritório, deitou no sofá e dormiu.

***

Enquanto todos da cidade dormiam, Laura já tinha levantado. Olhou


em seu celular e viu que não passava das cinco horas da manhã. Nicolle ainda
dormia.
Sem fazer barulho, saiu com cautela do quarto em direção a sala. Ela
precisava pensar no que faria de sua vida. Sua irmã precisava de comida,
escola e cuidados especiais que todas as crianças precisam. Ela tinha que agir,
fazer com que aquela situação fosse resolvida.
— Laura, estou com fome. — Olhando para trás, ela viu Nicolle
acordada, descalça e com o rosto vermelho. — Tem biscoito?
Como se um trator estivesse passando por cima dela, sentiu seu
coração ser esmagado. Seu pulmão doía pela falta de ar. Laura não sabia o
que fazer. Sua irmã estava com fome e ela não tinha nada para acabar com
aquilo. Lágrimas começaram a rolar pelo seu rosto, lágrimas silenciosas de
desespero. Não conhecia ninguém ali, era um lugar novo e estranho, não
tinha a dona Cecília para ajudá-la.
“Me ajude, mamãe” — pediu em pensamento.
— Volte a dormir, quando você acordar o café estará pronto. —
Concordou e voltou arrastando seus pés para o quarto.
***

Juan acordou mais cedo do que o costume. Seu pescoço doía devido
ao mau jeito que dormiu. Espreguiçou-se, passou as mãos em seu rosto,
pegou sua jaqueta de couro e seu celular. Ele precisava ir para casa tomar um
banho.
Passando por algumas garotas que trabalhavam ali, seguiu até onde
seu carro estava. Ed, entregou as chaves e Juan cantou pneus pelas ruas ainda
vazias.
Ele queria chegar o quanto antes em casa e tomar um banho, jogar
algo dentro de sua barriga que gritava por comida, e foi só então que se
lembrou de Laura. Ela deveria estar com fome, e essa era uma ótima hora
para fazer uma visita e tentar mais uma vez trazê-la para a boate. Juan deu a
volta e seguiu rumo ao prédio onde a jovem estava. Ao lado do prédio, tinha
uma padaria, ele pararia ali e compraria o café da manhã dos três. Ele tinha
tudo armado em sua cabeça e daquela vez não aceitaria um não como
resposta.
Dirigindo confiante, não demorou muito para chegar. Estacionou seu
carro em frente ao prédio e entrou na padaria.
— Juan, meu filho! — Mirtes, uma senhora com seus quase setenta
nos de idade, o cumprimentou assim quando o viu. — Que bom vê-lo por
aqui.
— É bom revê-la — Juan disse. Mirtes era a única quem Juan
deixava que se aproximasse dele. Era a única que sabia das coisas que fazia,
mas não o julgava. — Quero que prepare uma cesta de café da manhã.
Capriche.
Mirtes não fez perguntas, como sempre. Limitou-se a sorrir de lado
para ele e começou a preparar seu pedido. Dentro da cesta ela colocou bolo
de chocolate, torradas, geleia de morango, a garrafa de café e outra de
achocolatado. Algumas frutas e frios. Tudo pronto, Juan pegou a cesta e saiu
dali. Cinco passos e ele já estava entrando no prédio. Subindo devagar os
degraus das escadas, Juan mantinha um sorriso de vitória nos lábios. Apertou
a campainha do apartamento e não demorou muito para que uma Laura de
olhos inchados e rosto molhado o atendesse.
— Bom dia, Laura.
Laura secou seu rosto, olhou para as mãos de Juan, que seguravam
uma cesta parecida com uma que sua mãe tinha e usava para fazer
piqueniques.
— Oi — respondeu.
— Trouxe o café da manhã. — Ignorando o olhar assustado de Laura,
Juan entrou no apartamento e foi direto para a cozinha. Depositou sobre a
mesa a cesta e voltou para a sala. Laura estava virada para a janela e chorava
baixinho, agradecendo a Deus por ele ter mandando Juan ali com comida. Ela
não se importava com mais nada a não ser sua irmã. Seu bem-estar era o que
importava. Ali, chorando em silêncio, Laura tomou uma decisão.
— Juan? — ela o chamou, e quase gritou quando virou e o viu parado
atrás dela. — Eu aceito.
— Aceita o que, Laura? — Fingindo de desentendido, Juan cruzou
seus braços e arqueou uma das suas sobrancelhas.
— Aceito ser dançarina da sua boate.
Juan sabia que ela já estava no fundo do poço, e por mais que
tentasse ficar de pé e tentar fugir, ela jamais conseguiria sem ajuda dele.
— Onde está sua irmã?
— Dormindo, por quê?
Ele andou até o sofá e sentou. Laura fez o mesmo, porém manteve
um pouco de distância.
— Quero explicar como isso irá funcionar. — Laura concordou. —
Você dançará na minha boate, mas não é uma boate qualquer, é uma boate de
strippers. — Laura fez menção de falar, mas ele não a deixou. — Você não
precisa dormir com ninguém, a não ser que queira. Dançará tirando a roupa,
igual as demais mulheres que trabalham lá. Isso trará comida para sua casa e
aos poucos a dívida de seu pai vai sendo paga. Prometo não fazer nada contra
você ou sua família, se, cumprir com o combinado. Ninguém tocará em você
na boate.
Laura ponderava se aquilo era certo. Ela não queria ter que se despir
para ganhar a vida, mas parecia que aquela era única opção. Todos estavam
de prova do quanto ela correu atrás de um emprego, de quantas respostas
negativas ela recebeu todas as manhãs que saía de casa com apenas um copo
de água no estômago, pois dava seu café da manhã para sua irmã. Ela não
queria mesmo seguir um caminho desconhecido e talvez assustador, mas não
tinha outro jeito. Sua irmã dependia dela.
— Feito. Mas não me deitarei com nenhum homem.
— Tudo bem. Mas responda uma coisa, você é virgem? — Juan
sentiu seu membro pulsar dentro da cueca preta que usava. Ele estava
enlouquecendo de curiosidade para saber se ela já havia se entregado para
algum homem antes.
— Isso não é da sua conta — Laura respondeu com raiva e levantou
do sofá. — Vou chamar Nicolle para tomar café. Só te peço uma única coisa,
que não fale isso para ninguém. Não comente coisas relacionadas a boate
quando minha irmã estiver por perto. Não quero que ela saiba.
Juan sorriu em concordância. Ele não teria o porquê de discutir com
ela, já tinha conseguido o que queria. Ele estava matando dois coelhos com
uma tacada só.
Depois de um café da manhã um tanto estranho, Juan deixou
instruções para Laura de como chegar na boate. Deixou também um dinheiro
para que ela pegasse um táxi e, com aprovação de Laura, ele contratou
alguém para que cuidasse de Nicolle enquanto ela trabalhasse.
A noite se aproximava com rapidez, e quando Laura percebeu, já
estava parada do lado de fora da boate. Seu corpo todo tremia de medo. Ela
quis voltar, sair correndo dali, mas toda vez que lembrava de sua irmã
pedindo comida, seu coração se partia ainda mais.
Respirando fundo, caminhou até a entrada. Disse seu nome ao
segurança que liberou sua entrada. Seguiu até a porta secreta que Juan havia
dito mais cedo e se assustou quando viu algumas mulheres dançando nos
palcos. Não tinha ninguém além delas na boate, pareciam estar em algum tipo
de ensaio.
Uma mulher de olhos puxados avistou Laura e foi em sua direção.
— Está perdida, minha flor?
— Procuro por Juan. Sou...
— Laura! Bem na hora. — Ele surgiu em seu campo de visão.
Trajava um terno três peças muito bem desenhado para ele. Seu cabelo
penteando de forma certa, alguns botões da camisa de dentro abertos,
revelando parte de alguma tatuagem que ele tinha no peito. — Venha, vamos
trocar essa roupa.
Laura segurou em sua mão, assustada. Andaram até uma sala que
parecia um camarim. Um espelho grande cobria uma das paredes do cômodo.
Araras de roupas espalhadas pelos lados. Luzes fortes iluminavam o lugar.
— Eu...
— Sua roupa está naquela bolsa. — Juan apontou para uma mochila
vermelha. — Vista rápido. Faça uma maquiagem forte, e coloque a máscara
que está junto com a roupa. Você será minha atração principal. Bem-vinda ao
meu mundo, Laura.
Juan saiu a deixando sozinha. Ela poderia chorar de arrependimento,
poderia denunciar aquilo tudo para a polícia, mas de qualquer maneira ela
ficaria na pior.
De frente para o espelho, começava a fazer sua maquiagem. Olhos
marcantes em tons escuros, boca vermelha como sangue. Ela estava quase
pronta, faltava apenas a máscara e pronto.
— Sua vez. — A voz de uma das meninas da boate lhe trousse de
volta a realidade. — Vamos?
— Sim — respondeu, insegura.
Caminhando a passos lentos até a escada lateral que dava acesso ao
palco. Contou mentalmente até dez e subiu. Em cima do palco, olhou toda a
plateia a sua volta. Homens de várias idades estavam lá para lhe ver dançar.
Olhou para o lado e encontro Juan lhe observando. Seus intensos
olhos azuis sobre ela, lhe encorajavam e amedrontavam ao mesmo tempo. Ela
não queria estar ali, mas era necessário.
Respirou fundo quando o som envolvente e sensual da música
começou a tocar. Segurou com força no poste de pole dance e começou com
os primeiros movimentos. Na arte da dança, você não precisa apenas saber
dançar, tem que gostar do que faz, e ela gostava. Rodopiou para um lado e
depois para o outro, deslizou subindo sem perder o contato visual com a
plateia. Ela estava ali não apenas para dançar e sim, seduzir. Seus dedos
trabalhavam no fecho do sutiã preto. Respirou fundo quando se livrou da
peça, deixando seus seios amostra. Eles estavam loucos, gritando e batendo
palmas pedindo por mais. Voltou a dançar, lentamente, se deixando ser
levada pela melodia. O clima era propício. As luzes baixas, o som da música
no nível certo, até o perfume que escolheu para aquela noite estava de acordo,
mas o que mais chamava atenção era a máscara. Uma máscara preta com
pedras brilhantes cobria metade do seu rosto. Não era um adereço que sempre
usaria, mas era necessário para a sua estreia. Ao final da dança ela iria se
livrar delas, e assim revelando seu rosto. Como Juan disse horas atrás,
mistério é a alma no negócio, e ela seria o mistério da noite.
Novamente parou de dançar. Outro suspiro e se livrou da calcinha
que fazia par do sutiã. Nua. Ela estava completamente nua diante de vários
olhos famintos por sexo. Sentiu sua pele arder como se estivessem lhe
ateando fogo. Os olhares a queimavam, proporcionando-lhe um misto de
sensações novas e prazerosas.
Os acordes finais da música são tocados, dando fim a dança. Virada
de costas, tirou a máscara e a deixou cair ao seu lado. Sensualmente, olhou
por cima do ombro e sorriu para os homens que pareciam estar hipnotizados.
Pronto, agora não tinha mais volta.

***

Pietro já havia chegado a algumas horas em Nova Iorque, e se


encaminhava para onde Laura estaria aquela noite. Seu amigo que era um dos
melhores detetives, conseguiu encontrá-la, o que para Pietro havia sido
ótimo. Ele queria vê-la, saber como ela estava depois de seu pai a ter deixado.
Como seu amigo havia informado, o local era apenas uma fachada
para a verdadeira boate. Pietro pagou o valor necessário e entrou. Sentou em
um dos sofás de canto e ficou ali, esperando.
Quando Laura subiu no palco e começou a dançar, Pietro sentiu que
seu coração saltaria para fora de seu peito. Ela estava se despindo,
lentamente, e de uma maneira sensual que faria todos os homens daquele
lugar explodirem de desejo. Quando ela terminou de se apresentar, ele teve
que conter seu membro, estava duro e sua cabeça latejava. Ele a queria, mas,
não poderia tê-la, não naquele momento, mas um dia a teria.
CAPÍTULO 10

Alguns dias haviam se passado desde a primeira vez que Laura


dançou na boate de Juan. Aquela sensação de estar sendo observada por
vários olhos desconhecidos, a fazia se sentir diferente, mais forte, segura de
si, empoderada.
Era uma manhã de sexta-feira do mês de agosto, o sol brilhava no céu
de Nova Iorque, iluminado o quarto de Laura. Ela, ainda deitada em sua
cama, reviveu a cena de quando desceu do palco. Juan a esperava com um
sorriso nos lábios e a abraçou entregando o robe roxo. Aquela havia sido a
primeira vez que ela deixava ser abraçada por ele, sem questionar. Poderia ser
o efeito da adrenalina percorrendo seu corpo.
— Você foi incrível! — Juan vibrou. — A boate lotou. Não sobrou
nenhum espaço vazio.
— Isso é bom, não é?
— Ótimo! — Rindo, ele a puxou pela mão e a levou até o camarim.
— Troque de roupa, vou levá-la para casa, seu serviço já está feito.
Juan fechou a porta e deixou que Laura vestisse sua roupa. Ela ainda
estava seminua, apenas um robe roxo de seda cobria suas curvas. Laura
vestiu suas peças intimas, sua calça jeans, colocou a blusa branca de alças e
calçou seus tênis. Ela viu seu reflexo no espelho e sorriu. Algo havia
mudado, ela não se sentia tão suja como pensou que ficaria depois que
subisse no palco.
Com sua bolsa no ombro, desligou as luzes do camarim e saiu. Juan à
esperava do lado de fora, escorado na parede. Ele também estava diferente,
algo dentro dele tinha mudado também. O jeito como Laura dançou o
encantou. As curvas perfeitas da mulher que, ele a poucos dias invadiu a
casa, o seduziram. Ela era perfeita.
— Vamos? — Laura falou, quebrando o silêncio entre eles.
— Sim.
A volta para casa fora feita em total silêncio. Laura não sabia o que
dizer, Juan por outro lado, não parava de passar a cena em sua cabeça, dela se
despindo delicadamente, pouco a pouco até seu corpo está nu. Ele queria
provar o sabor dos seios fartos de Laura, queria sentir o calor de sua pele. Ele
agradeceu mentalmente aos céus quando estacionou o carro em frente ao
prédio. Juan já não aguentava mais ficar ao lado da moça. Seu desejo por ela
era tão grande que ele juraria que gozaria se ela o olhasse.
— Bom, como fica o assunto da dívida do meu pai? — Laura
perguntou ao sair do carro.
— Você trabalha para mim a partir de agora. Descontarei uma parte
da dívida toda vez que você receber — Juan falou firme. — Eu não sou um
homem caridoso. Não desculpo ninguém e muito menos dou oportunidades
como lhe dei. Então, faça tudo direito. Não quero ter que mudar as coisas
entre nós.
“Entre nós?”
Laura queria confrontá-lo, mandá-lo ir à procura de seu pai e exigir o
pagamento da dívida, porém, ela sabia que ao fazer isso colocaria a sua vida e
de sua família em risco. Ela engoliu seu orgulho, e entrou no prédio. Subiu os
degraus até o seu andar. Assim que entrou no apartamento, Laura viu a babá
com Nicolle nos braços, dormindo.
— Ela dormiu agora? — sussurrando, Laura perguntou.
— Uns dez minutos. Vou colocá-la na cama — disse Cléo, a babá.
Ela era uma mulher de meia idade. Sorriso largo no rosto e um bom-humor
que chegava a ser contagiante. Alguns segundos depois, Cléo reapareceu na
sala. Laura havia tirado seus tênis e agora desligava a televisão. — Ela é um
amor de criança. Espero ser chamada mais vezes.
— Pode ter certeza que será chamada. — “Com muita frequência”.
Laura quis dizer, mas preferiu se calar.
— Não se preocupe com o dinheiro, seu namorado já pagou.
— Namorado? — Franzindo as sobrancelhas, Laura perguntou
confusa. — Que namorado?
— O moço dos olhos azuis. Aquele com as tatuagens no corpo.
Cléo achava que Juan e Laura eram um casal, e aquilo chegou a ser
engraçado na mente um tanto perturbada de Laura, mas não passava de um
mal-entendido. Ela jamais se envolveria com alguém igual a Juan, ele era
mais do que um agiota, e ela sabia muito bem do que agiotas eram capazes de
fazer quando seus clientes não os pagavam. Ela também achou melhor não
contrariar Cléo, tinha sido Juan quem a contratara, e ela não queria provocar
a fúria dele com coisas pequenas.
Depois que a mulher saiu de seu apartamento, ela pôde respirar
aliviada. Seu corpo ainda tremia devido a sensação de horas atrás. Ela nunca
havia se sentindo tão poderosa, tão desejada e tão forte. Ela tinha certeza de
que, depois daquela dança, ela poderia fazer qualquer coisa.
Com um sorriso no rosto, Laura caminhou até seu quarto. Um banho
e sua cama quente eram tudo o que ela queria.

— Laura. Laura. Laura! — Nicolle entrou correndo em seu quarto.


— Meu Deus! — Laura riu. — O que foi, o prédio está caindo?
Nicolle riu para sua irmã. Pulou na cama e se enrolou nas cobertas.
Laura adorava ficar agarrada com sua irmã, parecia que suas vidas
continuavam a mesma e que a qualquer momento sua mãe entraria no quarto
para acordá-las.
— Um moço está lá na sala te esperando. — Laura, assustada,
encarou Nicolle.
— Como assim, tem um moço na sala?
— Aquele moço que deu essa casa para gente. Ele é legal, Laura.
Você está namorando com ele?
Laura não conseguia entender como Juan havia entrado em seu
apartamento. Ela entendia que ele tinha a chave, sendo que se não fosse pela
sua ajuda ela ainda estaria morando naquele abrigo, mas isso não dava o
direito dele entrar a hora que quisesse. Furiosa, levantou-se da cama, calçou
seus chinelos e ordenou a Nicolle que não saísse do quarto. Ela resolveria
aquilo.
— Laura...
— Quem você pensa que é para entrar aqui a hora que quer? — Juan
mal pode terminar de falar, Laura o interrompeu. — Já estou fazendo o que
você quer, não é? Você vai receber todo o dinheiro que meu pai... Ouviu
bem? Meu pai está devendo. Acho que já é o bastante.
Juan observou Laura ganhar vida. Ela já não era mais aquela garota
amedrontada de antes, agora tinha garra. Ele continuou ali, sentado no sofá,
calado e excitado. Vê-la com raiva e com roupa de dormir, o fez querer fazer
com ela o que muitos homens queriam na noite em que ela dançou.
— Vai ficar aí sem falar nada?
Ele riu. Riu e se levantou, revelando sua enorme ereção dentro da
calça. Andou até ela e, delicadamente, acariciou seu rosto.
— Bom dia, Laura — disse, sorrindo. — Eu vim trazer seu
pagamento, bom... parte dele, já que eu tirei a primeira parcela da dívida.
Juan estendeu a mão para Laura, que sem graça pegou o dinheiro. Ela
ainda estava irritada com ele, ainda não achava certo ele entrar a qualquer
hora em sua casa, mas ela também sabia que dependia dele e do dinheiro que
dançar na boate dava.
— Juan, eu...
— O aluguel deverá ser pago todo final do mês. Você já conhece o
responsável por aqui. Pague a ele e com o resto do dinheiro faça o que quiser.
Eu irei tirar uma parte do dinheiro de quinze em quinze dias.
Laura sacudiu sua cabaça em concordância.
— Não se preocupe, irei bater na porta antes de entrar na próxima
ves. Bom dia, Laura.
Assim que Juan saiu, Laura conseguiu finalmente respirar aliviada.
Seu peito subia e descia rápido, pesado. Suas mãos tremiam e ela começava a
sentir um formigamento em sua vagina. Ela estava excitada, como ele
também ficou.
“Mas que merda está acontecendo comigo?”
Ela se fez a mesma pergunta milhares de vezes. Como é que ela
poderia estar excitada por alguém como Juan? Tudo bem que seus olhos
azuis eram fascinantes, mas o seu jeito asqueroso já seria um bom motivo
para que ela o detestasse.
Laura se repreendeu mentalmente e seguiu para seu quarto.
— Vamos, meu amor. Vamos tomar o café da manhã.
O dia se passou e a sensação de desejo acumulado a torturava. Ela
precisava fazer algo que ocupasse sua mente. Já fazia tanto tempo que não
tinha ninguém que qualquer coisa a deixava excitada. Era nisso que ela estava
se apegando para ter alguma explicação plausível para o que tinha acontecido
mais cedo quando Juan estava em sua casa. Aquilo havia mexido tanto com
sua cabeça, que ela nem teve tempo para contar o dinheiro que recebera.
Laura voltou até seu quarto, pegou a bolsa preta de alças finas que
estava sobre uma poltrona velha e tirou de lá o dinheiro. Seu peito de encheu
de felicidade quando percebeu que poderia dar uma vida melhor para sua
irmã. Ela finalmente poderia voltar a estudar.
Sorrindo, Laura guardou o dinheiro e correu até a sala.
Nicolle assistia um filme de desenho na televisão. Seus olhinhos
estavam tão vidrados na imagem, que nem percebeu quando Laura sentou ao
seu lado.
— O que você acha de estudar numa escola bem grande e bonita?
— Sério, Laura? — perguntou, feliz. — Igual àquela que a Vick
estuda?
— Sim, meu amor. Eu prometi que iria cuidar de você. Você terá um
grande futuro pela frente. Farei qualquer coisa para que não passe por coisas
ruins.
— Eu acredito em você.
Nicolle envolveu seus braços pequenos e finos ao redor do pescoço
da jovem. Abraçou a irmã mais velha e ali ficaram as duas, assistindo o filme
naquele fim de tarde.
CAPÍTULO 11

As semanas se passavam diante dos olhos de Laura. Era como se o


relógio brincasse com ela, todos os dias eram iguais: acordar cedo, fazer o
café da manhã, levar sua irmã para a escola e voltar para casa. À noite, tinha
a boate onde ela dançava e assim conseguia quitar aos poucos a dívida de seu
pai, que fazia tempo que não dava sinal de vida. Ela queria confrontá-lo,
gritar e exigir explicações. Saber o motivo do seu abandono e o mais
importante, o porque não votou quando sua mãe faleceu.
— É você! — Juan, falou a tirando do transe que ela sempre entrava
quando pensava em seu pai. — A casa está cheia, não me decepcione,
Laurinha.
Suspirando, ela colocou a máscara como todas as noites e andou em
direção ao palco. Seus cabelos soltos com pequenos cachos nas pontas,
balançavam conforme ela andava lentamente. Seus olhos carregados de
maquiagem escura e seus lábios grossos pintados de vermelho. Uma lingerie
branca e saltos pretos. Laura era com certeza a mais bela daquele lugar. Ao
mesmo tempo em que era sexy, o jeito de menina doce se fazia presente. Ela
estava gostando daquela vida, se sentia mais forte e corajosa, como se
pudesse vencer o mundo.
No centro do palco, já ouvia os gritos dos vários homens que ali
estavam. Ela não se assustava mais, nem achava ruim quando algum homem
a chamava de gostosa, Laura sabia que era porquê estava ali, aquilo era
apenas resultado do que seus movimentos em cima do palco faziam com as
pessoas.
Rebolando, lentamente, Laura rodopiava de um jeito que faria
qualquer um enlouquecer. Ela sabia como usar os quadris, e se aquilo a
ajudasse a sair da lama em que seu pai havia lhe deixado, então ela rebolaria
mais e mais vezes.
Como todas as noites, Laura abriu o fecho do sutiã branco e deixou
que seus lindos seios brilhassem diante dos vários pares de olhos. Assobios
preenchiam toda a boate, se alguém ali falasse algo seria quase impossível de
ouvir. Virando de costas, Laura moveu seus quadris e focou seus olhos em
Juan. Ele observava atentamente cada movimento dela, era como se ele
estivesse hipnotizado. Ela não era boba, a inocência que Laura tinha antes,
havia sido deixada sobre aquele palco na primeira vez em que ela se despiu.
Sorrindo, desceu o fino e delicado tecido que cobria suas partes íntimas e
jogou na direção de Juan. Ela usaria todas as armas para se livrar daquela
vida.
Um pé na frente do outro, Laura virou e andou até uma cadeira que
estava posta no início do palco, bem de frente para a plateia. Andou ao seu
redor e de repente se sentou abrindo bem as pernas. Aquilo havia sido o ápice
da noite. Ela jamais se imaginou mostrando sua vagina tão explicitamente
para um homem estranho, quem dirá vários de uma vez só.
Do outro lado do palco, Juan sentiu que não aguentaria ver Laura se
mostrando tanto para os outros. Ele queria provar do seu sabor. Queria saber
como era estar dentro dela, a fodendo com força e a fazendo gozar feito louca
enquanto ele metia fundo e sem parar, porém, ele sabia que Laura era
diferente, ela não se jogaria em sua cama assim tão fácil, teria que domá-la
antes de partir para cima.
Depois que Laura saiu do palco e trocou de roupa, Juan a levou para
casa. Como sempre, foram em silêncio, apenas o som do ronco do motor do
carro e de suas respirações eram ouvidos.
— Obrigada pela carona — disse Laura assim que o carro parou.
— Foi um prazer.
Com uma tensão sexual pairando dentro do carro, Laura soltou um
leve suspiro e saiu. Seu plano estava dando certo, e ela não estragaria isso,
não dessa vez.

***

Distante dali, Pietro andava de um lado para o outro em seu quarto de


hotel, pensando em como voltaria a ver Laura de novo. Ele não conseguia
esquecer a bela morena nua sobre o palco. Suas curvas, assim como o
pequeno sorriso de lado que ela dera ao final da apresentação, o encantaram.
Ele sabia que chegar perto e conquistar a sua confiança não seria uma tarefa
fácil, não com tantos segredos entre eles. Ele era filho da mulher que causou
a separação de seus pais, a mesma mulher que escolheu um amor do que o
seu próprio filho. Mas ele não era a sua mãe, não agia e nem pensava como
ela. Seu pai havia lhe deixado várias lições de vida valiosas, e ele as
honrarias.
Tirado de seus devaneios, Pietro olhou para seu celular que tocava
sem parar sobre a cama.
— Alô! — exclamou, irritado.
— Calma, Pietro. — Dominic, um dos seus amigos de infância, disse.
— Desculpa, Dominic.
— Tudo bem, não liguei para isso. Minha empresa está precisando de
um arquiteto para cuidar de uma reforma. Quando soube que estava aqui
pensei logo em você. Minha equipe está atolada de trabalhos, não tenho
ninguém de confiança para entregar algo assim, só você mesmo. O que me
diz?
Ele estava mesmo precisando de um emprego, algo que ocupasse sua
mente e que o fizesse ganhar dinheiro. Ele não queria depender de sua mãe,
muito menos do homem que estava dormindo com ela.
— Mande as informações do projeto e o endereço para o meu e-mail.
— Sem demora, já estava abrindo seu notebook. — Obrigado, Dominic.
Eles encerraram a ligação com a promessa de se verem em breve para
tomarem umas cervejas juntos.
Pietro analisou o projeto e constatou que gastaria mais tempo que
imaginou. Era um café pequeno criado próximo ao centro comercial da
cidade que precisava de uma reforma e uma ampliação do local. O espaço era
pequeno demais para a reforma que o dono queria realizar. Pietro ficaria
responsável por criar um projeto que fosse bom e que atendesse todas as
necessidades do seu cliente. Ele sentia falta de sentir a adrenalina percorrer
por suas veias, a emoção de pôr tudo abaixo e reconstruir. Sorrindo, Pietro
começou a desenhar seu mais novo projeto, desenhou a noite toda que mal
percebeu que já havia amanhecido e nem havia dormido. Olhou em seu
relógio e viu que já se aproximava das sete e meia da manhã. Desligou o
notebook, guardou as folhas do projeto dentro de uma pasta escura e seguiu
para o banheiro. Ele precisava de um banho e um café forte para aguentar
aquele dia.
O banho não foi muito demorado, foi tempo suficiente para ele lavar
seus cabelos e seu corpo. Fez a barba e vestiu um dos seus ternos de três
peças feito sob encomenda. Arrumou o cabelo, pegou seu celular, carteira e
assim saiu.
Por onde Pietro passava arrancava sorrisos. Seu jeito másculo,
ombros largos e sorriso sedutor, formavam a combinação perfeita para
enlouquecer qualquer mulher.
Andando pelas calçadas movimentadas de Nova Iorque, ele pensava
em Laura. Não tinha um minuto sequer que a morena saísse de seus
pensamentos. Mal ele sabia que seus pensamentos se tornariam realidades.

***

Laura desfilava sobre seus saltos altos pretos, vestido justo e cabelos
presos. Depois de deixar sua irmã na nova escola, resolveu sair para procurar
um emprego, seu plano era trabalhar de manhã e dançar na boate à noite,
assim ela ganharia dinheiro mais rápido e pagaria a maldita dívida que seu
pai lhe deixou de presente de despedida.
Um raio cortou o céu de Nova Iorque, e em poucos segundos pingos
grossos de chuva caíram sobre a sua cabeça. Correndo desesperada na
tentativa de escapar da chuva, entrou no primeiro estabelecimento aberto que
encontrou. Lá dentro, várias pessoas se abrigavam do temporal que caía sobre
a cidade. Outro raio e de repente tudo estava escuro. As luzes da rua também
haviam se apagado, o que indicava que havia faltado luz.
— Vocês não têm um gerador de emergência? — Uma voz rouca
surgiu do meio. — Velas? Qualquer coisa. Tem mulheres e crianças aqui.
Andando devagar tentando não esbarrar em ninguém ou em nenhum
objeto. O que a tranquilizava era saber que sua irmã estava a salva na escola.
— Ai! — Laura gritou quando sentiu alguém pisar em seu pé.
— Me desculpe, está muito escuro. — Era o dono da voz que
reclamava com o dono do local. — Você está bem?
— Sim, não foi nada.
Fuçando em sua bolsa, Laura tirou seu celular e ligou a lanterna.
Apontou para seu pé só para ter certeza de que não havia machucado e foi
então que ela o viu.
Laura conseguiu sentar em uma mesa. Colocou sua bolsa sobre ela e
ficou à espera da luz voltar e da chuva parar.
Pietro encarava Laura com espanto. Ela estava bem ali na sua frente,
o fitando sem piscar. Parecia que seus olhares estavam conectados um ao
outro. Era uma ligação estranha e inexplicável, tão forte e densa que chegava
a ser palpável.
— Prazer, Pietro. — Educadamente, ele esticou sua mão em forma de
cumprimento.
— Laura. — Suas mãos se uniram e uma corrente elétrica percorreu
entre eles.
— Posso me sentar?
Com um leve aceno de cabeça, concordou.
Pietro sentou na cadeira à sua frente. Ele havia esperado tanto por
aquele momento, que finalmente havia chegado e ele não sabia o que falar.
Estava fora de cogitação falar que sabia onde seu pai estava e com quem ele
estava. Uma notícia assim não se dá de qualquer jeito. Ela não poderia saber
quem era ele.
— Espero que a luz não demore a voltar — comentou ele, tentando
puxar assunto.
— Concordo. Tenho que procurar emprego. Com luz já está difícil,
imagine sem.
Como se fosse um raio, uma ideia surgiu em sua cabeça. Seria
perfeito para se aproximar dela sem levantar suspeitas.
— Verdade, conseguir um bom emprego que pague bem está muito
difícil, creio que para todo mundo.
Laura o olhava atentamente enquanto ele falava. Ela estava encantada
com a sua beleza. Seus olhos demonstravam confiança, uma confiança que
ela não via há tempos.
Seu celular piscou a tirando do encantamento.
— Merda! Estou ficando sem bateria — disse ela, e desligou a
lanterna. Outra vez a escuridão pairou sobre o lugar. Laura odiava ficar no
escuro, sempre teve medo, porém, disfarçava bem para que sua mãe, na
época, não descobrisse.
Ela sempre se fez de forte, corajosa, tanto para sua mãe quanto para
sua irmã, mas desde que seu pai as deixara e sua mãe faleceu, ela descobriu o
quanto, realmente, era forte.
— Precisa usar o celular? — perguntou, Pietro colocando a mão no
bolso. — Pode usar o meu se quiser.
— Não, obrigada! — disse, sorrindo. — Eu só quero que essa chuva
passe logo. Preciso urgentemente arrumar um emprego.
— Não quero ser intrometido, mas porque tanto desespero?
Laura ponderou, antes de responder.
— Não está sendo intrometido. — Riu. — Tenho uma irmã pequena
para cuidar, escola para pagar e aluguel. Alimentação e coisas básicas. Por
isso estou tão desesperada — suspirou. — Minha mãe faleceu tem poucos
meses, nosso pai nos abandonou no dia em que ela... ela...
— Não precisa falar. — Pietro tocou sua mãe sobre a mesa. — Tudo
bem.
Pietro já odiava o pai de Laura por saber que ele tinha abandonado a
família, seu sentimento de ódio e raiva só fez aumentar quando soube que sua
esposa havia falecido e Laura estava à mercê da sorte. Ele sabia o que ela
fazia a noite para ganhar a vida e não a julgava, mas ele tinha que fazer algo
para que ela se reerguesse.
— Tenho uma proposta para fazer. — Seus olhares de conectaram.
— Estou prestes a fechar um negócio. Sou arquiteto e irei fazer a reforma de
um café, posso falar com o dono do lugar e arrumar para você um emprego
lá. O que acha?
Laura franziu o cenho. Aquilo estava bom demais para ser verdade.
Ninguém oferece um emprego assim do nada para outra pessoa sem ao
menos ver o currículo ou conhecê-la.
— Por que está querendo me ajudar? Você nem me conhece. Quem
garante que não estou mentindo? Ou que não sou uma garota de programa
querendo dar o golpe do baú?
Ela queria aceitar, mas ao mesmo tempo algo dentro dela gritava para
que o ignorasse e saísse de lá.
Pietro riu, mas ela não conseguiu ver muito bem devido a escuridão.
— Digamos que, me identifico um pouco com a sua história de vida.
Então, o que me diz? — perguntou de novo.
Laura ficou calada. Ela colocou na balança os prós e os contras, até
chegar na resposta certa.
— Não custa nada tentar. — Ela sabia que corria um grande risco de
acabar se dando mal naquela história, mas também sabia que tinha que pagar
suas contas e uma dívida alta. Quanto mais dinheiro ganhasse, mais cedo ela
se livrava de Juan e da boate.
CAPÍTULO 12

Pietro e Laura continuaram a conversar durante alguns minutos até


que a luz voltasse. A chuva ainda caía lá fora, o que impossibilitava Laura de
ir embora. Já estava quase na hora da sua irmã sair da escola, e ela teria que
correr contra o tempo para não se atrasar.
— Tenho que ir. — Laura levantou. Pegou sua bolsa e colocou no
ombro. — Daqui a pouco minha irmã sairá da escola e eu não posso me
atrasar.
Pietro fez menção de se levantar, mas Laura o interrompeu. Sua mão
pousou sobre o ombro largo de Pietro. Seu olhar cruzou com o dele e por um
curto período, ela sentiu seu corpo reagir. Um calor incontrolável atingiu sua
vagina a fazendo suspirar, e logo em seguida retirou sua mão de onde estava.
— Não se incomode.
— Por favor, deixe-me levá-la. A chuva ainda está forte e não quero
que minha futura colega de trabalho fique doente.
Sem esperar uma resposta, Pietro levantou e seguiu até a porta da
pequena lanchonete. Laura que ainda estava parada, foi trazida de volta
quando Pietro se aproximou outra vez dela. Circulou sua cintura com seu
braço e a guiou para fora.
Pietro estava sem carro, mas isso não foi um problema. Com apenas
um levantar de dedos, ele chamou o táxi e assim entraram os dois.
Laura estava estranha, calada e um pouco insegura. Ela sentia coisas
que jamais havia sentido antes. Uma atração louca e confusa que estava
fazendo sua cabeça latejar. Tentando disfarçar, ela cruzou suas pernas, ditou
o lugar onde iria e seguiram o caminho em silêncio.
“Laura, Laura... O que eu não faria para que você não tivesse que
dançar naquela boate” — Pietro pensava, e sem que Laura notasse, ele a
olhava pelos cantos dos olhos. Suas pernas cruzadas deixavam um pouco de
pele amostra. Sua coxa bem torneada o deixava com vontade de apertá-la. Se
ela não fosse tão importante e especial para ele, com certeza já estaria pelado
sobre seu corpo a fodendo como se não existisse o amanhã. Mas Laura era
diferente, ela estava carregando um fardo tão grande nas costas, sozinha,
quando seu pai estava curtindo e aproveitando o melhor da vida ao lado da
sua mãe. Pietro tinha vergonha de ser filho de quem era. Tinha raiva de
David. Por causa dele, ela estava levando a vida de qualquer jeito para poder
sustentar a irmã, uma responsabilidade que não era dela, porém, Laura era
madura o suficiente para saber quando tinha que lutar pelas coisas.
Vinte e cinco minutos, esse foi o tempo exato que o táxi percorreu até
a escola onde a irmã de Laura estudava.
Retirando umas notas da bolsa, Laura se ofereceu para pagar a
corrida, porém, Pietro era um homem educado que sempre puxava a cadeira
para a dama sentar. Ele não deixaria que Laura pagasse por aquela corrida.
— Eu pago — disse ele, tocando levante em sua mão. — Faço
questão, por favor.
— Obrigada. — Laura sorriu, guardando o dinheiro na bolsa.
Assim que Pietro pagou ao taxista, Laura e ele saíram do carro. O céu
ainda estava nublado, as nuvens carregadas anunciavam que mais uma forte
chuva estava por vir. Eles andaram rápido e lado a lado até a entrada da
escola.
Laura havia tomado a decisão de que sua irmã não teria o mesmo
destino que o dela. Ela estudaria nas melhores escolas, vestiria as melhores e
mais bonitas roupas, teria uma infância e adolescência digna, seu caráter seria
formado e quando ela chegasse na vida adulta, estaria pronta para tomar as
próprias decisões. Mas até que isso acontecesse, Laura lutaria por ela.
A frente da escola estava cheia de mães e alguns pais de alunos.
Todos olhavam para Laura e Pietro.
“Os dois formam um belo casal” — pensou uma senhora de cabelos
brancos, pele enrugada e casaco de pele.
E sim, era verdade. Eles ficavam bem juntos.
— Vocês moram por aqui? — Pietro perguntou.
— Mais ou menos — respondeu Laura, olhando para o portão. — Dá
para ir andando, uns quinze minutos.
— Posso chamar outro táxi.
Laura não conseguiu responder. Um mini furacão de trancinhas
surgiu correndo até ela.
— Oi, Laura. Choveu muito. Você viu? — Nicolle, com sua voz
meiga de criança, perguntou a irmã.
— Sim, meu amor.
Os olhos rápidos da pequena Nicolle foram para o homem alto de
cabelos loiro- escuros usando terno, que estava ao lado de sua irmã mais
velha. Ela não o conhecia, não sabia se era amigo ou não, porém, algo dentro
dela fez com que ela sorrisse para ele, mostrando os dentes que faltavam na
frente.
— Oi. Meu nome é Nicolle, com duas letras L. E o seu?
Laura riu.
— Oi, Nicolle com duas letras L, eu sou o Pietro — respondeu ele,
sorrindo.
Era impossível não se encantar por ela. Seu jeitinho inocente de
criança conquistava o coração de todos ao seu redor.
— Vamos? O tempo está feio e não quero que você pegue chuva. —
Laura ajeitou a capa de chuva na irmã. Pegou a mochila cor-de-rosa e
colocou nas costas. — Pietro, eu nem sei como te agradecer. Sério mesmo.
Você está me fazendo um grande favor.
— Não me agradeça Laura. Apenas compareça amanhã no endereço
que vou te mandar. — Pietro sacou o celular do bolso e entregou para Laura.
— Anote seu número aqui, por favor. Te mandarei todas as informações
necessárias.
Laura não pensou muito, pegou o aparelho das mãos grandes do
rapaz e rapidamente gravou seu número nele.
Todos se despediram e não demorou muito para que cada um
estivesse seguindo seu caminho.
Laura não parava de sorrir quando chegou em casa, parecia uma
criança alegre ao ganhar um presente de natal. Ela sentia que, finalmente, as
coisas começariam a dar certo em sua vida.

***

Na cozinha, ela tentava fazer alguma coisa para sua irmã comer, mas
o rosto de Pietro e seu sorriso galante não saiam de sua cabeça.
— Laura? Laura? LAURA! — gritou Nicolle, trazendo de volta para
a realidade sua irmã.
Laura percebeu que a panela que ela havia colocado no fogão estava
queimando. Seus pensamentos haviam ido tão longe que ele nem se lembrava
mais do que estava fazendo.
— Merda! — esbravejou, irritada. — Lá se vai o arroz.
Com auxílio de dois panos de pratos, Laura tirou a panela de arroz
queimado do fogão e colocou sobre a pia. Frustrada, ela olhou para sua irmã
que a encarava sem entender nada.
— O que acha de pedirmos comida?
— Eba! Quero sobremesa também. Eu mereço. Estou me
comportando na escola nova, mesmo eu sendo diferente das outras crianças.
Franzindo o cenho, Laura dobrou os joelhos e ficou na altura de
Nicolle. Acariciou seu rostinho gordinho e conseguiu ver as lágrimas que se
formavam em seus lindos olhinhos.
— Porque você disse que é diferente das outras crianças? — Nicolle
fungou. — Nick, alguém está fazendo alguma coisa para você?
Negando com a cabeça, Nicolle respondeu:
— Todas as crianças da minha sala têm mamãe e papai, e eu não.
Eles ficam falando que ninguém me quis, por isso foram embora. —
Soluçando, a pequena Nicolle agarrou o pescoço de sua irmã e chorou.
Laura sentiu seu coração se partir, se é que ela ainda tinha um
coração. Seu peito começou a doer, tamanha era a raiva que ela estava
sentindo naquele momento da vida. Não disse nada, apenas continuou
abraçada a sua irmã até que ela se acalmasse.
Laura não viu o tempo passar. Abraçadas, as irmãs entraram em seus
mundos diferentes e ali ficaram. Nicolle chorava porque queria seus pais de
volta, e Laura não parava de pensar em como faria para que sua irmã nunca
mais tivesse que passar por tal sofrimento.
— Meu anjo... — começou Laura. — Nem sempre as coisas
acontecem como queremos. Uns tem só papai, outros tem só a mamãe, e tem
aqueles que não tem ninguém. Mas isso não significa que eles são diferentes.
Todos somos iguais. Por baixo da pele, corre o sangue da mesma cor, os
ossos são brancos. Então quando alguém falar que você é diferente, não
importa o motivo, não fique triste. Do mesmo jeito que tem pessoas que não
tem o pai ou a mãe, também tem aqueles que são apenas fracos por julgarem.
Você é incrível, Nicolle. Ouviu?
— Eu te amo, Laura! — disse Nicolle, saindo do abraço de sua irmã.
— Não me deixe.
— Jamais irei te deixar. Eu também te amo, meu anjo.
Mais alguns abraços foram dados, lágrimas derramadas e então,
finalmente, Laura ligou para o restaurante pedindo comida.
Depois do almoço, Nicolle correu para a sala. Ela estava animada
para assistir ao filme de desenho que passaria. Enquanto isso, Laura
procurava nos jornais por uma escola de balé. Ela queria voltar a dançar, não
na boate, mas profissionalmente. Seu sonho era ser uma bailarina
mundialmente conhecida, mas seu sonho estava sendo deixado de lado. Fazia
tempo que ela não colocava uma sapatilha de balé e nem vestia tutu. Ela
sentia falta da sua vida normal, de ter que pegar o ônibus cheio até a escola.
De ouvir as mesmas piadas sem graça das mesmas pessoas. De ter que se
esforçar ao máximo para não perder a bolsa de dança. Porém, Laura sabia que
sua antiga vida estava morta.
Três batidas na porta chamaram sua atenção. Ela dobrou o jornal,
deixou sobre a pequena mesa de centro da sala e seguiu até a porta.
— Boa tarde, Laura. — Juan sorriu. — Podemos conversar?
Tinha algo nele que mexia com a cabeça de Laura. Poderia ser o fato
dele ser perigoso ou suas tatuagens. Ela não sabia ao certo, apenas sentia sua
vagina pulsar com a sua presença máscula.
— Claro! — Ela deu passagem para ele entrar. — Vamos para a
cozinha, Nicolle está na sala.
Juan fez menção com a mão para que Laura fosse na frente e depois a
seguiu. Juan estava calado, pensativo, porém, decidido do que havia ido
fazer.
— Laura, vou ser direto. — Juan a cercou. Prendeu seu corpo contra
a parede e a encarou. — Você a melhor dançarina da boate. Os homens vão à
loucura quando você sobe no palco. Eles fazem filas para vê-la tirar a roupa.
Imagina o quanto você ganharia se fosse uma acompanhante de luxo?
Os olhos de Laura quase saltaram para fora das órbitas quando ela o
ouviu.
— Você quer que eu me torne uma prostituta? — indagou. — É isso?
— Não, Laura. Uma acompanhante de luxo. Você teria apenas os
melhores clientes, eu até deixaria você escolher quais os clientes. Eles pagam
bem, e sei que você precisa de dinheiro, ou já se esqueceu da dívida do seu
pai?
Se Juan não fosse tão perigoso, Laura já teria esbofeteado seu rosto,
mas ela o temia não só por sua vida, mas também pela sua irmã que está
estava a poucos metros dali assistindo televisão sem saber o tamanho da
merda em que elas estavam atoladas.
— A resposta é não!
— Pense bem, Laura. Não vou oferecer outra vez. Já estou dando
muitas segundas chances a sua família e eu não sou assim.
Ele a soltou. Segurou firme em seu queixo, e ali depositou um beijo
no canto de seus lábios.
Laura sentiu seu corpo estremecer assim que ele saiu. Ele a deixava
com medo, e também a fazia sentir desejo.
“Louca! Estou ficando louca.”
Não descriminava quem seguia aquele tipo de vida, não julgava
ninguém por suas ações, mas ela tinha o direito de dizer não a propostas
como a de Juan. Se fosse necessário ter que dançar por mais três, quatro anos
até que a dívida de seu pai estivesse paga, ela dançaria.
Tentando esquecer o ocorrido com Juan, Laura decidiu ligar para sua
antiga escola de dança.
— Sim, eu sei que não tenho mais direito a bolsa... Sim, também sei
que estamos no meio do ano e eu abandonei as aulas. — Laura estava a mais
de dez minutos tentando convencer a reitora da sua antiga escola que tinha
condições de pagar pelas aulas. — Eu posso pagar. Quero continuar de onde
parei, por favor. Sim, amanhã estarei aí bem cedinho. Obrigada. Boa tarde!
Pulando de alegria com o celular na mão, Laura fez um dos passos de
balé que sempre fazia nas aulas, plié.
— Me ensina a fazer isso também? — Nicolle surgiu surpreendendo
Laura.
— Claro que ensino, meu amor. Vamos, é assim....
Naquela tarde, Laura e Nicolle riram e dançaram até se esquecerem
da dor que as atormentavam.
CAPÍTULO 13

Vida normal.
Essas eram as duas palavras que não saiam da cabeça de Laura. Ela
não sabia mais o que significava ser normal. Seus dias se resumiam em levar
sua irmã para escola e a noite dançar na boate. A ideia de que logo sua vida
poderia voltar ao normal a assustava. Trabalhar com Pietro seria a
oportunidade que ela estava esperando.
— Então, Laura? — Vitoria a chama. — Você vai com a gente?
— Oi?
Vitoria riu.
— Você não está prestando atenção em nada nesses últimos dias. O
que está acontecendo com você, Laura?
Vitoria era uma das dançarinas da boate tentação. Sempre com um
sorriso no rosto, a ruiva de curvas miúdas e olhos verdes, encantava com o
seu bom humor.
— Nada demais, apenas problemas — respondeu Laura, suspirando.
— Entendi. Quando quiser conversar saiba que estarei aqui. Mas
mudando de assunto. Juan nos dá uma noite de folga por mês. Nesse dia
sempre saímos juntas para beber e dançar como qualquer pessoa faz. Vem
com a gente, vai ser bom para você.
Laura ponderou.
Aquilo realmente seria bom para ela. Sair com pessoas e se divertir
pelo menos uma vez era o que ela precisava.
— Sim. Quando?
— Amanhã às 20h.
“Que mal haveria?”
Sorrindo, ela voltou a refazer sua maquiagem. Sempre escura e com
os lábios marcados pelo batom vermelho. Os cabelos soltos, lingerie preta e
saltos da mesma cor. Uma máscara prata coberta com pedras brilhantes, a
deixava ainda mais sexy e misteriosa.
As horas se passaram até que finalmente chegasse a hora dela
começar o show. Não sentia mais vergonha por estar ali tirando sua roupa e
se expondo para vários homens desconhecidos, ela até gostava da sensação
do frenesi que aquilo lhe causava. Estava sendo cobiçada, todos a queriam,
mas ninguém poderia ter, nem tocar, ao menos que ela quisesse, pois, essa era
a principal regra da boate.
Andando lentamente sobre seus saltos ao som calmo e sedutor da
música, Laura começou a dançar. A maneira que ela se mexia, arrancava os
mais brutais gemidos. Os homens estavam à beira da loucura, assim como
Juan que a observava dançar todas as noites e desejava provar de toda aquela
sedução que a morena tinha. Era a própria Afrodite, a deusa do amor e
sexualidade.
“Gostosa! Tira tudo!”
Gritou alguém do meio da plateia.
“Gostosa!”
Gritavam sem parar.
Laura sorriu ao virar de costas e tirar seu sutiã.
Juan a encarou. Seus olhos pegando fogo e seu membro duro,
pulsante dentro da calça jeans.
Continuando a dançar de costas para a plateia, rebelou e lentamente
tirou sua pequena calcinha rendada e os homens foram à loucura.
Rodopiando nua sobre o palco, Laura encerrou a noite com um passo de balé,
abrindo suas pernas e encostando sua vagina no chão.
Juan não se conteve, saiu às pressas de onde estava e correu para seu
escritório. Ele precisava aliviar aquele desejo acumulado. Com a porta
fechada de seu escritório, Juan se desfez da calça. Seus pensamentos foram
de encontro com a imagem de Laura, nua e dançando para ele. Seu membro
pulsava, pedindo por libertação. Então, Juan começou a se masturbar. Aquilo
era novo para ele e estranho. Ele nunca precisou fazer aquilo antes para
satisfazer seus desejos, porém, Laura era diferente das outras mulheres.
Gemendo feito um animal, gozou. Aquilo seria o suficiente para continuar o
resto da noite ao lado dela.
Duas batidas na porta fizeram com que Juan jogasse alguns papéis
sobre a mesa, onde ele havia acabado de despejar todo o seu desejo. Vestindo
sua roupa, ele passou as mãos pelos cabelos e respirou.
— Pode entrar — disse, firme.
Laura entrou na sala cabisbaixa. Algo a incomodava, dava para ser
notado a quilômetros de distância. Seu semblante estava carregado, suas
sobrancelhas franzidas.
— Juan, precisamos conversar.
Ele a olhou de cima a baixo. Laura estava vestida com um roupão
roxo, seus cabelos ainda estavam soltos e sua boca convidativa com aquele
batom vermelho.
— Diga.
Ela respirou fundo.
— Não gosto de ser forçada a fazer algo que não quero. Você foi até
a minha casa e insinuou que eu fizesse algo que vai contra os meus
princípios. Eu já disse que não tenho preconceito com quem faça, mas isso
não é para mim. Então, estou aqui pedindo, por favor, que você evite de ir até
a minha casa fazer tais tipo de convite. Nicolle é pequena, ela não sabe da
merda que o nosso pai nos deixou e pretendo que continue assim.
Juan não falou nada, apenas a ouviu. Ela ficava ainda mais linda
quando estava determinada. A imagem da garota inocente de antes já havia
sido destruída, agora ela estava mais forte, tinha se tornado uma mulher de
verdade disposta a fazer o que fosse necessário para o bem de quem amava.
— Estamos entendidos? — indagou ela. Cruzou os braços em frente
aos seus seios e o encarou séria. — Juan?
— Não gosto de ser pressionado, Laura. — Ele caminhou até ela.
Laura deu um passo para trás. — Aqui, quem faz as regras sou eu, e você as
cumpri. Quando eu falar para você fazer alguma coisa, você faz. Se tem um
teto para morar com sua irmã é por minha causa. Fui bondoso uma vez,
Laura. Garanto que não serei de novo. Agora se me der licença, tenho
assuntos para tratar.
Laura estava furiosa. Ela tinha a certeza de que se pudesse o mataria
naquele exato momento, porém, resolveu sair calada.
O táxi deixou Laura em frente ao prédio onde ela morava, às onze e
meia da noite. Ela estava cansada, mas acima de tudo, irritada por ele ter
falado daquele jeito com ela.
Laura caminhou para dentro do prédio, subiu os degraus até seu andar
e parou em frente à porta do apartamento da senhora Judith.
— Oi, minha filha — disse a senhora. — Chegou cedo.
— É! — Laura respondeu, cansada. — Obrigada por cuidar da minha
irmã.
Com cuidado, Laura pegou Nicolle em seus braços. Sua irmã dormia
tranquilamente, seu peito subia e descia devagar.
— Ela é um amor. Boa noite.
— Boa noite.
Caminhando a passos lentos, Laura entrou em sua casa e deitou
Nicolle em sua pequena cama cor-de-rosa. Deu um beijo em sua testa e saiu.
Dentro do banheiro, despiu-se. Abriu o chuveiro e deixou que a água
morna caísse em seus ombros, massageando seus músculos. Sua cabeça
rodava sem parar, eram tantas coisas que ela nem sabia como ainda estava de
pé. Uma noite era tudo o que ela queria para poder ser outra vez a velha
Laura de antes.

***

O sol mal havia raiado e ela já estava de pé.


Nervosa. Essa era a palavra que a definia naquela manhã de sexta-
feira.
Em frente ao espelho do banheiro, Laura penteava seu cabelo. Era um
grande dia para ela, finalmente seu sonho de ter um trabalho comum se
tornaria real.
Seu corpo estava agitado com a possibilidade de recomeçar uma vida
normal, mesmo que fosse apenas por meio período.
Sua blusa impecavelmente branca de mangas três por quatro,
combinava perfeitamente com a saia social preta que chegava quase aos
joelhos. Os dois primeiros botões da blusa estavam abertos.
Laura deixou a escova de cabelo sobre a pia do banheiro. Retocou o
batom da cor nude e sorriu.
— Vamos, meu amor? — disse ela à sua irmã ao sair do banheiro.
— Você está muito bonita — comentou Nicolle.
— Obrigada, Nick. Agora vamos, não podemos chegar atrasadas. —
Laura pegou sua bolsa e a colocou no ombro. — Dona Judith irá buscá-la na
escola. Obedeça.
— Posso brincar com o Floquinho?
— Pode, agora vamos.
Nicolle sorriu, alegre. Ela adorava o cachorrinho branco que sua
vizinha tinha em casa. Sempre que podia, ela corria para brincar com o
filhotinho.
Andando sobre seus saltos altos, Laura chamava atenção dos homens.
Seus cabelos balançando ao vento, o aroma do perfume de flores do campo e
claro, suas belas curvas eram a visão do paraíso para aqueles que a viam
desfilar na calçada naquela manhã.
Ela sabia que eles estavam olhando, sabiam também que estava em
suas mentes sujas, imaginando como seria seu corpo sem aquela roupa,
porém, aquilo não a incomodava mais. Laura sabia do seu poder de sedução e
gostava das sensações que provocava nos outros.
Assim que Nicolle entrou na escola, Laura apressou seus passos.
Pontualidade, seriedade e profissionalismo essas eram as três palavras que
sua mãe sempre dizia a ela.
Faltavam dez minutos para as oito horas da manhã quando passou
pela porta da frente do café. O sininho soou anunciando a sua chegada.
O local estava vazio, mas Pietro havia dito através de uma
mensagem, que ela poderia entrar assim que chegasse. E foi exatamente isso
o que fez.
— Olá? — disse Laura, desconfiada. — Tem alguém aqui?
Pietro respirou fundo e saiu da cozinha. Passou pelo balcão e assim
que Laura virou em sua direção, ele sentiu seu coração falhar uma ou duas
batidas.
— Laura... — gaguejou. — Você está... está muito bonita.
— Obrigada, senhor Pietro.
Ele a olhou sério como se a repreendesse.
— Senhor? — perguntou ele. — Sou tão velho assim?
Laura sentiu seu rosto queimar tamanha era a vergonha que ela sentia
naquele momento.
Pietro estava longe de ser velho.
Seus olhos a encaravam de uma maneira diferente, era como se ele
quisesse ler a sua alma, como se tentasse ver através da máscara de mulher
normal e feliz que ela adotou logo depois que sua mãe faleceu e seu pai a
abandonou.
— Não, claro que não. Eu só estava sendo educada.
Ele riu, revelando seus dentes incrivelmente brilhantes.
— Eu estava brincando, mas peço que não me chame mais de senhor.
Pode me chamar de Pietro.
— Tudo bem, Pietro. — Ela parecia estar experimentando a
sonoridade do nome do lindo homem parado à sua frente.
— Vamos começar — disse ele. — O café abre as oito horas da
manhã em ponto. O dono do estabelecimento chegará depois do almoço.
Você vai ficar responsável pelo balcão, então Mary fica pelas mesas.
— Entendi.
— Você sabe usar uma máquina de café expresso, não é? — Arqueou
uma sobrancelha. — Eu disse ao Sr. Koll, que você fazia um café
maravilhoso.
— Nada do que uns vídeos não ensinem. — Brincou. — A reforma
começa hoje?
Pietro andou até a porta e virou a pequena placa pendurada por uma
correntinha branca, indicando que já estavam abertos.
— Hoje irei ver o que o Sr. Koll tem em mente. Farei alguns esboços
e o mostrarei. Se ele estiver de acordo, começaremos a reforma dentro de
duas semanas no máximo. Mas confesso que já tenho algo em mente para
melhorar esse lugar.
Enquanto ele falava, Laura o observava atentamente. Seus braços se
movimentavam enquanto ele apontava para as paredes. Ele parecia ser
musculoso. A camisa preta de mangas compridas despertava a curiosidade
em Laura de querer saber como ele era sem aquela camisa.
Depois da breve explicação dele, Laura seguiu para o balcão onde iria
trabalhar.
O primeiro cliente chegou. Caminhou até o balcão e sentou em uma
das banquetas livres.
— Bom dia, em que posso servi-lo? — Com um sorriso no rosto,
Laura perguntou.
— Um café expresso e um croissant. — O senhor de óculos quadrado
e barba por fazer falou — rápido, estou com pressa.
“Nem um bom dia?”
Pensou Laura ao se virar. Ela foi até a máquina de café, colocou o
refil e esperou que a mágica acontecesse. Enquanto a xícara de café estava
sendo cheia, Laura se apressava para pegar o croissant. Não demorou para
que tudo já estivesse nas mãos do cliente.
O aroma do café inundava o ambiente e aquilo trazia imagens da
infância onde ela acordava cedo para ajudar sua mãe no preparo do café da
manhã de sua família.
— Eu acho que já te vi antes — disse o cliente. — Seu rosto, ele me
parece familiar.
— Desculpa Senhor, mas creio que não — dito isso Laura foi de
encontro a outro cliente que se aproximava.
De longe, Pietro observava Laura sorrir ao atender cada pessoa.
Aquilo estava errado, ele sabia que deveria ter contado a ela sua real
intenção, porém, não queria perdê-la. Mas como ele poderia perder alguém
que nem a ele pertencia?
Sacudindo sua cabeça para os lados, concentrou-se em seu trabalho.
Ele tinha muito o que fazer e ficar pensando em Laura ou em seu sorriso
encantador não ajudaria em nada.
O primeiro dia de trabalho de Laura já havia chegado ao fim. Seu
desempenho tinha sido elogiado por Pietro e o seu novo patrão, o Sr. Koll.
Pietro insistiu para que Laura aceitasse a carona que ele havia
oferecido, porém, ela bateu o pé firme no chão e disse que ele já havia feito
muito por ela.
Com um sorriso largo no rosto e cantarolando, Laura seguiu até sua
casa.
Nicolle estava na casa da vizinha e ficaria por lá até que Laura
chegasse da boate onde ela e suas novas amigas iriam.
Sem olhar para a porta da vizinha, Laura passou rápido e entrou em
seu apartamento. Jogou sua bolsa no chão e correu para o banheiro. Ela tinha
menos de uma hora para se arrumar. Sua roupa já estava separada sobre sua
cama: um vestido preto colado que deixava suas coxas expostas. Seus saltos
da mesma cor estavam ao lado da cama.
O recorde do banho mais rápido do mundo com certeza havia sido
dela, estava com pressa e pela primeira vez depois de muito tempo, ela estava
feliz por estar pensando em si em primeiro lugar.
Vestida, Laura fez a maquiagem, dessa vez caprichado nos olhos e
não só nos lábios. Seus cabelos soltos desciam sobre seus ombros com alguns
pequenos cachos nas pontas.
Ela se olhou no espelho e sorriu. Naquela noite ela iria dançar, mas
não para ganhar dinheiro e sim para se divertir.
A boate onde ela e mais cinco meninas estavam era enorme. Cabiam
duas boates de Juan dentro daquela. As paredes eram espelhadas, o chão de
LED combinava perfeitamente com as luzes dos holofotes. O som alto da
música sendo remixada pelo DJ da noite entrou em sintonia com o corpo de
Laura, o que a fez dançar no meio da multidão. Seus braços se
movimentavam de um lado para o outro igual o seu quadril.
Cansada, Laura foi até a mesa onde suas amigas estavam bebendo.
— Nossa, cansei — disse ela ao se sentar.
— Nunca te vimos tão alegre assim — comentou Vitoria. — Acho
que nunca te vi sorrir.
Laura bebericou um pouco da bebida florescente que estava sobre a
mesa.
— Digamos que eu não era assim antes.
— E porque mudou? — Lavínia, uma das dançarinas da boate onde
elas trabalhavam perguntou.
Laura olhou para suas unhas vermelhas.
— Não gosto de falar muito. Não me orgulho do que...
— Do que faz da vida? — interrompeu, Lavínia. — É isso?
Laura não respondeu.
— Laura, — começou Vitoria. — Ninguém chegou aqui por acaso,
todas nós temos um motivo para fazer o que fazemos. Eu por exemplo, fui
espancada pelo meu pai desde minha infância a adolescência inteira. Quando
fiz dezoito anos resolvi sair de casa. Eu era nova, não conhecia ninguém, não
tinha como me sustentar. Juan me encontrou dormindo ao relento debaixo de
uma ponte. Ele disse que eu era bonita demais para ter aquele fim. Me levou
para boate e me deu uma família. Tudo bem que é uma família não tão
convencional, porém, muito melhor do que a família que convivi.
Laura piscou algumas vezes tentando conter suas lágrimas.
— Já que estamos falando sobre nossas vidas... — Lavínia bebeu o
resto do líquido âmbar de seu copo e falou: — Minha mãe me vendeu para o
chefe do tráfico onde morávamos. Era terrível, ele me fazia ir buscar drogas
nos lugares mais horríveis. Fiz coisas que até Deus duvida. Um belo dia, ele e
Juan tiveram uma discussão. Não sei que fim levou o escroto do homem que
abusava de mim, mas sei que Juan me tirou de lá.
A conversa continuou. Laura ficou sabendo que Sabine, uma negra
linda de olhos pequenos, só estava naquela vida porque era a única maneira
de pagar o tratamento contra o câncer de sua mãe. Já Julie, a loira alta, que
mais parecia uma modelo do que uma dançarina, estava naquela vida porque
realmente gostava do que fazia, e não tinha vergonha de assumir sua
profissão, afinal, ela não estava fazendo mal a ninguém.
— Viu, Laura. Todas nós temos uma história de vida. Você pode se
abrir com a gente. — Vitoria secou o rosto de Laura. — Não somos pessoas
ruins, trabalhamos para nós sustentar ou sustentar alguém. Algumas dançam,
outras fazem programas, mas todas temos uma história de vida por trás da
máscara de sedução.
— Minha mãe cometeu suicido tem poucos meses. No mesmo dia
meu pai nos deixou. Fiquei sozinha no mundo com uma criança pequena para
criar, minha irmã. Fui despejada, fui roubada no abrigo onde fui com ela.
Fiquei sabendo que meu pai havia deixado uma dívida enorme com Juan, que
por acaso, eu tenho que pagar. Minha única saída era dançar para sobreviver
e criar minha irmã. Não é tão ruim agora, eu já dançava antes.
— O quê? — Lavínia perguntou.
— Balé — Laura respondeu e sorriu. — A parte que não gostei no
início foi ter que tirar a roupa, mas agora tanto faz. Minha irmã tem uma casa,
está estudando em uma escola boa, voltarei a dançar na minha antiga escola.
Fiz amigas lindas e com histórias de vida incrível.
— Mas ainda falta algo, não é? — Vitoria arqueou uma sobrancelha.
— Sim, só não sei ainda o que é.
A noite passou mais rápida do que Laura poderia imaginar. Quando o
táxi a deixou em frente ao seu prédio, já era três e meia da manhã. Nicolle
provavelmente já estava dormindo, e ela não queria acordá-la, e nem a
senhora Judith. Na manhã seguinte ela a buscaria.
Subindo os degraus até o seu andar, se deparou com Juan sentando no
meio da escada bloqueando sua passagem.
— Se divertiu essa noite? — perguntou ele, a olhando de cima a
baixo com um olhar faminto.
— O que você quer?
— Tenho um trabalho para você como acompanhante de luxo, mas
não se preocupe, você não terá que dormir com ninguém. Você será apenas
um troféu. Irá ficar ao lado do cliente pousando para fotos e sorrindo. Ele está
pagando muito bem.
— Juan, eu já disse que não quero.
Juan levantou. Colocou as mãos dentro do bolso e a encarou
determinado a ganhar aquela batalha.
— Com sua irmã estudando em uma escola particular, você voltando
a ter aulas de balé naquela academia cara, o custo de vida não vai subir? Sem
contar o aluguel e as outras despesas extras. Acho que você vai precisar de
dinheiro para pagar tudo isso, não é? Essa é a sua oportunidade, Laura. O que
me diz, aceita ser acompanhante de luxo do governador?
CAPÍTULO 14

Juan estava jogando sujo e Laura sabia disso, mas ele estava certo e
ela não podia negar esse fato. Realmente suas contas estavam aumentando, e
o dinheiro que ela ganhava como dançarina na boate mal dava para pagar a
dívida de seu pai e o aluguel do apartamento onde morava com a sua irmã.
Com o novo trabalho no café, ela poderia quitar um pouco das dívidas, mas
ainda assim, não era o bastante.
Laura olhou para seus pés, pensou bem e respondeu:
— Eu aceito. — Olhou para Juan que sorria. — Mas com uma
condição.
— Qual?
— Sem sexo. Me recuso a dormir com os clientes. Já basta eles
olhando meu corpo nu em cima daquele palco, tocar em mim é proibido.
— Tudo bem. — Juan desceu dois degraus. Ergueu a mão e tocou o
rosto dela. Aquele toque fez com que Laura sem querer, soltasse um suspiro.
— Durma bem. Amanhã à noite venho te buscar. Mandarei um motorista
entregar o vestido para que você possa usar.
Ele passou por ela indo embora sem olhar para trás.
Laura estava confusa. Nem ela mesmo sabia o que tinha acabado de
acontecer. Ela realmente havia aceitado aquele trabalho.
Balançando sua cabeça para os lados, Laura continuou a subir os
degraus até chegar em seu apartamento. Aquela noite tinha sido demais para
ela, e seu corpo cansado implorava por descanso.

Às sete horas da manhã o despertador do celular tocou. Com seus


olhos ainda fechados, ela tateou seus dedos sobre a cômoda ao lado de sua
cabeça, em busca do pequeno aparelho barulhento.
— Merda! — exclamou ela, irritada.
A cabeça de Laura latejava, resultado da ressaca da noite regada a
tequila e música alta. Contra a sua própria vontade, Laura abriu os olhos e
deixou que a claridade que entrava pela janela aberta de seu quarto
terminasse de acordá-la. Levantou e arrastando seus pés, começou a preparar
o café da manhã de sua irmã, que ainda dormia na casa da vizinha.
Aquela manhã havia se passado mais demorada do que o costume.
O café estava repleto de clientes, que ao mesmo tempo tinham que
dividir o espaço com Pietro e sua equipe de reforma. Para onde olhava, ela
via Pietro dando ordens, gesticulando seus braços fortes. De vez em quando
ele a olhava e sorria. Aquilo definitivamente estava acabando com o
subconsciente dela.
Cafés de todos os tipos estavam sendo preparado pelas as mãos
delicadas e habilidosas de Laura.
— Minha filha, você está sendo elogiada por todos os clientes que
entram aqui. O que você coloca nesses cafés? — perguntou Sr. Koll, rindo.
— Obrigada, mas estou apenas fazendo o meu trabalho. Trato todos
bem para que se sintam em casa. Às vezes, tudo o que precisamos é de um
sorriso amigável e um café quente.
O homem de meia idade, cabelos grisalhos e barriga um pouco
avantajada, sorriu e saiu.
Laura estava certa. Um sorriso já era o bastante para alegrar a vida de
alguém. Para Pietro aquilo bastava.
A hora do almoço se aproximava e Laura já conseguia ouvir o ronco
que vinha da sua barriga. Ela estava com fome, tinha saído de casa com um
café puro na tentativa de curar a ressaca. Na noite anterior ela não havia
comido nada, tudo o que fez foi beber e dançar como se o mundo fosse
acabar e era tudo o que restava para fazer.
— Laura! — chamou seu chefe. — Pode ir almoçar, eu fico no
comando até você voltar.
— Obrigada.
Com sua bolsa no ombro, Laura saiu rumo a um pequeno restaurante.
Era simples, porém, muito acolhedor. Mesas de madeiras espalhadas por toda
a extensão do ambiente. Cadeiras acolchoadas, sofás de cantos para os mais
íntimos.
Laura caminhou entre as mesas ocupadas até chegar em um dos sofás
que estavam livres. O lugar estava cheio, mas também não era para menos,
todos ali possivelmente, estavam em seus horários de almoço, e nada melhor
do que um lugar confortável para passar aqueles minutos descansando e
desfrutando de um gostoso prato de comida.
Laura esperou que um garçom fosse até ela. Olhou o cardápio e pediu
uma salada de folhas, arroz branco e filé de peixe. Por mais que ela estivesse
faminta, seu estômago poderia não aceitar muito bem a comida que lhe fosse
oferecida.
— Posso me sentar? — Uma voz rouca e grossa invadiu seus
tímpanos. Laura ergueu seu olhar e viu Pietro em pé ao seu lado usando um
terno azul escuro. — Se não for incomodo.
— Não, claro que não. — Laura sacudiu a cabeça saindo do transe.
— Sente-se, por favor.
Ele sorriu.
Sem perder o contato visual com Laura, ele sentou à sua frente.
Chamou um garçom e pediu um prato de macarrão ao molho branco com
champignon. Assim que a comida chegou, Laura e Pietro engataram uma
conversa animada.
— Então, Pietro... — Laura tomou um gole de seu suco natural. Ela
tinha prometido a si mesma, que não colocaria nenhuma bebida alcoólica em
seu organismo durante um longo tempo. — Me conte como é ser arquiteto?
Pietro deixou o garfo sobre o prato ainda cheio.
— É fascinante quando vejo a reação dos meus clientes. Fico tão
satisfeito quando consigo realizar seus sonhos. É como se eu estivesse
realizando os meus.
— Nossa, que lindo! — Admirada, Laura suspirou. — E seus pais te
apoiam nisso?
Cabisbaixo, Pietro deixou um suspiro longo e cansado escapar de sua
boca. Parecia sofrido, como se lá no fundo pedisse ajuda.
Vendo aquilo, Laura sentiu seu peito arder. Ela conhecia muito bem
aquela expressão de dor e sofrimento. Por impulso ou compaixão, tocou a
mão de Pietro que estava sobre a mesa. Seus olhares se conectaram naquele
instante.
— Eu sinto muito, não queria te deixar triste.
— Tudo bem, só é difícil falar sobre eles. — Laura concordou com
um leve balançar de cabeça. — Perdi meu pai quando eu ainda era um
adolescente imaturo. Não tive tempo de apresentar a ele a minha primeira
namorada e nem de ir aos jogos de futebol aos domingos com ele. — Pietro
piscou os olhos na tentativa de retrair as lágrimas.
— E sua mãe?
— Bom, minha mãe fez a escolha dela. Ficou com um homem que
causou muita dor a pessoas incríveis. Sinto muito por elas.
Laura se compadeceu outra vez da dor dele. Ela detestava ver o
sofrimento alheio, ainda mais quando era de uma pessoa que tinha erguido a
mão a ela sem ao menos conhece-la.
— Eu sei como é. Nossas dores são semelhantes. — Laura não tinha
percebido, mas suas mãos ainda estavam unidas. Seu olhar pousou sobre a
mesa. Pietro apertou de leve seus dedos e com um sorriso nos lábios disse
que já estava na hora de voltar ao trabalho.
A mesma senhora que havia pedido meia dúzia de salgadinhos voltou
ao balcão e pediu mais uma xícara de cappuccino. Laura fez o mesmo
processo pela milésima vez naquele dia. Sorriu, balançou a cabeça, virou em
direção a máquina de café, selecionou a opção certa e esperou alguns
segundos até que o café estivesse pronto.
No final do dia Laura já estava enjoada de tanto fazer café. Pietro
ofereceu uma carona, a qual dessa vez ela não recusou. Laura estava mesmo
cansada, e ela tinha que reunir forças para passar a noite ao lado de um
governador velhote, barrigudo e safado.
Ela se despediu de Pietro com um aceno de mão e correu para dentro
de seu prédio. Ao chegar em seu andar, Laura ouviu o som dá risada doce e
meiga de sua irmã.
Nicolle brincava no corredor com o cachorrinho da senhora Judith.
Ela corria de um canto para o outro enquanto o filhote corria atrás dela.
Vendo aquela cena, Laura percebeu o quanto ela era sortuda por ter
Nicolle em sua vida. Se não fosse por ela, Laura não estaria mais viva. Foram
inúmeras vezes em que pensou em dar um fim em sua dor e solidão, mas
todas às vezes que olhava para o pequeno corpinho dormindo ao seu lado, a
sensação se dissipava. Rindo, aproximou-se de sua irmã.
— Será que posso receber um abraço desse? — perguntou ela,
abrindo os braços.
— Laura! — Correndo, Nicolle pulou em seus braços e a abraçou
forte. — Você vai ficar comigo hoje à noite?
— Eu queria muito, meu amor, mas vou ter que ir trabalhar.
Os olhinhos pequenos dela se encheram de lágrimas. Ela sentia falta
de sua irmã, das brincadeiras e das vezes que assistiam algum filme de
desenho na televisão.
— Eu juro que assim que eu conseguir bastante dinheiro, vou parar
de trabalhar a noite. Vamos viajar e comprar muitos brinquedos, mas até que
isso aconteça, eu preciso trabalhar muito.
Nicolle não concordou, e nem entendeu o porquê dela querer tanto
dinheiro, mas aceitou.
— Agora vamos, você tem que tomar banho e eu tenho que me
arrumar para trabalhar. Já falei com a dona Judith, ela vai ficar com você.
Nicolle correu para seu quarto assim que Laura abriu a porta.
Respirando fundo, Laura deixou sua bolsa sobre o sofá e seguiu para
a cozinha. Sua boca estava seca, porém, antes mesmo que ela pudesse pensar
em abrir a geladeira para pegar uma garrafa de água, alguém tocou a
campainha.
Praguejando seja quem fosse que estivesse do outro lado da porta,
Laura foi até a sala.
— Senhorita Cooper? — Um homem alto e careca perguntou.
— Sim. Quem é você?
— O Sr. Juan me enviou aqui para fazer essa entrega. — Suas mãos
se ergueram diante dela, e uma sacola grande de uma loja de roupa apareceu
em seu campo de visão. — As instruções estão no cartão. Passar bem.
Como se nada tivesse acontecido, o homem saiu e deixou Laura sem
entender nada. Fechou a porta atrás de si e correu para o seu quarto. Colocou
a sacola sobre a cama e devagar, começou tirar a caixa de dentro. A caixa da
cor prata com um laço em cima aguçaria a curiosidade de qualquer um,
inclusive a de Laura. Seus dedos passaram pelo laço vermelho.
— O que será que Juan ganha com isso? — ela perguntou em voz alta
para si mesma.
Vencida pela curiosidade, Laura tirou o laço e o jogou de qualquer
jeito no chão. Tirou o papel que protegia o conteúdo da caixa e quase que
seus olhos saltaram para fora. Suas mãos ergueram o vestido que mais
parecia ser uma obra de arte de tão belo e delicado que era. Um vestido como
aquele, longo de tule plissado sem mangas na cor vermelho, com certeza
custara os olhos da cara como dizia sua mãe. Seu decote em V deixaria seus
seios quase amostra. Ela o colocou na frente de seu corpo e olhou seu reflexo
no espelho grande da porta do guarda-roupa. Realmente ele tinha bom gosto
no quesito vestuário. Com cuidado, Laura guardou o vestido na caixa. Olhou
na bolsa e viu uma pequena caixa onde tinha um lindo par de saltos finos da
mesma cor. Um bilhete dobrado dentro da pequena caixa chamou sua
atenção.
Espero que fique tão lindo em você quanto nos meus pensamentos.
Use essa noite. – J.

Laura sorriu e dobrou o bilhete. Olhou em seu relógio e viu que ainda
tinha algumas horas de sobra para se arrumar.
Algumas horas depois já estava pronta. Nicolle já tinha ido para a
casa da vizinha que cuidava dela como se fosse uma filha.
Duas batidas na porta.
Bastou apenas isso para que o coração de Laura começasse a bater
freneticamente. Sorvendo uma boa quantidade de ar para seus pulmões,
Laura colocou a mão na fechadura e abriu a porta.
Juan estava do outro lado, vestido em seu terno impecavelmente
lindo. Cabelo penteado para trás a pele do rosto lisa e aquele olhar, um olhar
que tinha o poder de deixar qualquer mulher louca para tê-lo dentro dela.
Ele não teve como disfarçar seu desejo. Laura estava perfeita. O
vestido parecia fazer parte do seu corpo. Sua cintura fina, os seios fartos,
pernas torneadas, tudo se encaixa perfeitamente ao vestido. Seus cabelos
estavam presos de um lado, e nas pontas alguns cachos grossos. A
maquiagem como sempre era leve, apenas sua boca carnuda estava marcada
com o batom vermelho.
— Você está linda. — Juan não conteve o elogio. — O governador
irá enlouquecer quando te ver.
Sem graça, Laura riu.
— Obrigada.
Ela pensou em dizer que ele também estava muito bonito, mas
preferiu se calar.
— Vamos? — Ele ofereceu seu braço para ela. Como se estivessem
indo para um baile real, Laura fechou a porta, cruzou seu braço com o dele e
seguiram rumo a festa.
No caminho, Juan explicou a Laura que ele faria o papel de
segurança, mas na verdade estava lá para orientá-la no que fazer. Ela apenas
concordou calada. Não tinha o porquê de contrariá-lo, afinal, quando ela
aceitou o emprego sabia muito bem no que estava se metendo, porém, a única
condição imposta era não ter relações sexuais com nenhum cliente, fosse ele
rico, famoso ou desconhecido. Seu corpo não estaria a venda.
O motorista informou que eles já tinham chegado. Laura olhou pela
janela do carro e viu o lindo e enorme prédio à sua frente.
Juan saiu do carro e elegantemente, abriu a porta para Laura sair.
Ela estava encantada com o luxo do local. Vários carros importados
estavam estacionados. Algumas pessoas riam e andavam em direção a
entrada.
— Esse lugar é lindo!
— Isso porque você ainda não viu por dentro — comentou Juan. —
Vamos entrar, o governador não gosta de atrasos. Você já sabe o que fazer:
apenas sorria, tire fotos ao lado dele e o acompanhe para todos os lados.
— Ok.
Juan assumiu seu posto de segurança e andando atrás de Laura, os
dois entraram no prédio.
Laura sabia onde o governador estava, Juan já tinha dito, porém, ela
achou grosseiro da parte dele não ir buscá-la na entrada. Para ela, aquilo era
falta de educação. Por mais que fosse tudo encenação, ela gostava de bons
modos
O governador era um senhor na faixa etária dos setenta anos de idade.
Cabelos totalmente brancos e pele enrugada. Estava de costas para ela.
— Querido, desculpa a demora. — Com a voz calma e doce, Laura
falou.
O governador virou e se surpreendeu com a beleza da mulher que o
chamava.
— Não foi nada, minha vida. Venha, vou lhe apresentar alguns
amigos.
O teatro estava indo de vento em polpa, ninguém diria que ela era
uma stripper contratada para omitir a triste e cruel verdade sobre o
governador, que ele não tinha ninguém porque era um velho asqueroso. Para
onde ele ia, Laura estava ao seu lado com o melhor e mais bonito sorriso.
Juan por outro lado, estava a observando atentamente. Com a
desculpa de ser um segurança, ele praticamente grudou no casal de mentira.
Ver Laura sendo guiada e mostrada como um troféu para os demais daquela
festa, estava deixando-o incomodado.
— Querido, se me der licença, preciso ir ao toalete. — Usando uma
voz doce, retirou-se sob o olhar de desejo do governador.
Juan a seguiu sem que ninguém percebesse.
— Onde pensa que vai? — indagou ele, pegando em seu braço.
— Respirar um pouco — disse ela se livrando de sua mão. — Aquele
velho está causando ânsia de vômito.
Juan concordou. A guiou até a varanda do prédio, onde tinha uma
bela visão de Nova Iorque. O céu estava estrelado, e o vento frio que soprava
entre as árvores, tocou o rosto dela.
— Aqui é tão lindo — comentou ela, com seu olhar perdido na
imensidão da noite escura. — Fazia tempo que eu não via as estrelas. Senti
falta disso.
— Em breve você terá a sua liberdade de volta — Juan disse.
Encurtou a distância entre eles, ficando ao lado de Laura.
Laura olhou para Juan. Suas tatuagens estavam todas cobertas, mas
ainda assim, ela conseguia ver um pedaço pequeno do desenho em seu
pescoço e nas mãos.
— Me responda uma coisa, Juan. — Laura voltou seus olhos para o
céu. — Por que escolheu essa vida?
Juan não respondeu.
Seu silêncio era ensurdecedor. Laura queria que ele respondesse, nem
que fosse qualquer coisa, até mesmo um palavrão. Ela só queria saber se ele
estava bem, pois algo dentro dela dizia que sua pergunta tinha despertado
algo doloroso dentro dele.
Com um suspiro longo, Juan falou:
— Eu não escolhi essa vida, ela que me escolheu. — Laura franziu o
cenho. — Sou filho de mexicanos, e naquela época a vida no México estava
muito difícil. Meus pais decidiram que seria melhor tentar a vida aqui em
Nova Iorque. Mas não tínhamos dinheiro para passagens e nem moradia.
Então, eles chegaram à conclusão de que entraríamos no país de forma ilegal.
Eu consegui, mas eles e minha irmã não.
— Eles foram deportados?
Juan riu.
— Antes fosse... Eles foram assassinados junto com outros que
tentaram pisar no solo americano. Eu vi tudo. Cada tiro. Cada grito de
desespero. O sangue jorrando de seus corpos já sem vida. Eu tinha apenas
seis anos. — Juan respirou fundo. Seus olhos ardiam devido as lágrimas que
se formavam. — Um casal me encontrou perdido nas ruas. Eu estava magro,
com frio, com fome e medo. Minha dor tocou o coração da mulher, que
convenceu o marido a me adotarem. Foi assim que consegui a minha
cidadania americana.
Laura não conteve as lágrimas, saber que Juan havia passado por
tanta dor e sofrimento enquanto ainda era uma criança, mexia demais com o
seu coração. Toda vez que ela via uma criança chorando ou passando por
alguma dificuldade, a imagem de sua irmã vinha em sua mente. Ela dava
graças a Deus por ser a irmã mais velha, e assim poder cuidar dela.
— Eu sinto muito. — As mãos de Laura tocaram as de Juan. — O
que aconteceu com seus pais adotivos?
— Fizeram o mesmo que o seu pai. Pegaram dinheiro com um agiota,
mas não conseguiram pagar. Eu cresci sendo criado por bandidos, cada um
pior que o outro, mas chega uma fase da vida que o coração não aguenta
mais. Assumi o lugar do homem que matou meus pais adotivos. Toda a Nova
Iorque responde ao meu chamado. E assim será até o dia da minha morte.
Laura não sabia o que dizer, ela sentia pena dele, mas ao mesmo
tempo medo do que era capaz de fazer.
— Acho melhor entrarmos. Falta muito para essa noite acabar?
— Na verdade... — Juan olhou em seu relógio de ouro. — Terminou
tem uns dez minutos. Vamos. Não precisa se despedir. Ele sabe o que fazer.
Laura agradeceu e o seguiu para fora do prédio. Entrou no carro e
pela primeira vez naquela noite deixou seu corpo relaxar sobre o banco de
couro do carro.
— Você não se importa de antes passarmos em meu apartamento?
Tenho que dar a sua parte do dinheiro.
— Tudo bem — respondeu ela, descansando sua cabeça na janela do
carro.
O percurso até a casa de Juan foi feito em total silêncio. Ninguém
tinha mais nada a dizer, não depois da conversa que tiveram.
As palavras dele não paravam de martelar na cabeça de Laura. Ela
estava intrigada com tanto mistério. O medo a excitava e a cada olhar que ele
lhe lançava, era como se uma parte de sua alma fosse despida.
O motorista parou o carro em frente a um grande prédio. A frente era
cinza e com enormes janelas.
Eles caminharam calados até o elevador. Foi digitado o código que
dava acesso a cobertura de Juan e ainda calados, eles entraram. O ar estava
pesado dentro da pequena caixa de metal. As portas fechadas, o cheiro do
perfume masculino de Juan, sua postura firme ao lado, tudo aquilo era demais
para a cabeça de Laura. Ela não aguentava mais.
Quando as portas se abriram, Laura conseguiu respirar. Sua vagina
pulsava quase implorando pelo toque de Juan, e ele parecia entender seu
olhar, pois também sentia o mesmo desejo naquela hora. Sem falar nada, ele
agarrou a nuca de Laura, olhou em seus olhos e como um leão faminto,
devorou seus lábios. Um beijo quente, sedutor e cheio de desejo carnal
tomava conta deles. Suas mãos explorando seus corpos, seus gemidos
enchendo aquele espaço. O desejo sendo emanado. Juan explorava o interior
da boca de Laura como se fosse uma das 7 maravilhas do mundo, e para ele
naquele momento, realmente estava sendo. Laura fazia o mesmo. Suas
línguas dançavam eroticamente, se enroscando e buscando liderança. Quando
o ar se fez necessário, ambos cessaram o beijo. Suas testas estavam grudadas,
suas respirações pesadas, e o desejo ainda continuava pairando no ar. Eles
não poderiam esperar, não teriam outra chance como aquela.
Com agilidade e força, Juan suspendeu Laura, a fazendo abrir as
pernas e prendê-las em volta de sua cintura. Outra vez suas bocas se uniram,
e enquanto suas salivas se misturavam, Juan andava com Laura em seu colo
até seu quarto. Com seu pé, ele empurrou a porta e continuou a andar até a
cama de casal, onde deitou Laura. Suas bocas já não estavam mais unidas.
Seus olhares diziam que queriam o mesmo. Com delicadeza, Juan tirou peça
por peça do seu terno, ficando apenas de cueca. Laura olhava tudo, e sorriu
quando viu que o corpo dele era ainda mais bonito do que ela havia
imaginado, e ainda mais tatuado. Eles não trocaram nenhuma palavra, e não
precisavam, suas expressões falavam por si próprio. Laura imitou o gesto de
Juan. Levantou-se diante dele e se desfez do vestido. Seus seios estavam
expostos, já que ela não usava sutiã. Sua calcinha também da cor vermelha,
era a única peça de roupa que sobrou no corpo.
— Deita — ordenou ele. E assim Laura fez. Deitou-se na cama e
Juan admirou seu belo corpo. Beijou seus pés que ainda estavam com os
saltos. Desafivelou os sapatos. Continuou a beijar suas pernas, subindo
devagar entre o meio das coxas grossas da morena, depositou um beijo sobre
o tecido fino e rendado da calcinha.
— Ah! — Laura, gemeu. — Juan, por favor...
Juan sorriu. Afastou o pequeno tecido que cobria o sexo dela e
começou a torturá-la, enfiando um dedo e tirando. Enfiava, girava e depois
tirava a fazendo gemer.
— Você gosta assim? — perguntou ele ao rasgar a calcinha de Laura.
— Ou assim?
Laura não teve tempo para responder, pois Juan a tirou todo o fôlego
quando sua língua quente entrou em contato com seu clitóris pulsante. Ele
sugava sua vagina de uma maneira intensamente deliciosa. Ela jamais tinha
sentido uma sensação tão prazerosa quanto aquela. Ela estava se perdendo na
boca dele, faltavam pouco para que ela chegasse ao ápice.
— Juan...
Ele não aguentava mais, seu pênis estava duro e começava a doer de
tanto desejo. Ele levantou e foi até sua calça que estava jogada no chão.
Sacou do bolso um preservativo, não demorou muito para que ele rasgar a
embalagem e vestir em seu membro ereto. Sem falar nada, ele abriu as pernas
de Laura e de uma vez só entrou dentro dela.
— Oh! — Urrou, ao sentir as paredes do sexo de Laura se contraindo
ao redor de seu pênis. — Puta que pariu, Laura. Que boceta gostosa.
Ele estocou de novo e de novo. Laura gemia de prazer. Suas unhas
estavam cravadas nas costas largas dele, e suas pernas presas em sua cintura.
Quanto mais ele entrava fundo e saía, mais Laura se entregava ao prazer do
momento. Cansado daquela posição, Juan saiu de dentro de Laura e deitou.
Laura sabia o que ele queria. Com uma perna de cada lado, Laura sentou de
frente e lentamente, deslizou o pênis para dentro de sua boceta. Seus peitos
balançavam para cima e para baixo conforme ela cavalgava sobre ele. Sua
cabeça jogada para trás, ela engolia o membro de Juan com sua vagina
encharcada de prazer.
— Tão grande... — murmurou ela.
— Vou te foder toda! — disse ele invertendo as posições. Laura ficou
de joelhos na cama enquanto ele a penetrava por trás, tomando para si o
controle outra vez. Laura gemeu alto quando Juan segurou seus seios e
intensificou as estocadas.
— Isso, assim Juan. Eu vou gozar! — anunciou ela aos quatro ventos
explodindo em um orgasmo intenso e prazeroso.
— Puta gostosa! — Ele deu uma, duas, três estocadas e caiu sobre o
seu corpo, despejando dentro do preservativo todo o seu desejo.

***

Juan dormia ao lado de Laura. Seu peito subia e descia


tranquilamente, enquanto ela, por outro lado estava mais que acordada. Fazia
meia hora que ela encarava a tesoura que estava em cima do criado mudo ao
lado da cama. Ela cogitou várias vezes a possibilidade de acabar de uma vez
por todas com aquela pressão em que estava. Colocou os prós e os contras na
balança, mas ainda não havia chegado na conclusão certa.
“O que fazer?” — Pensava ela.
Até que por um impulso, sua mão deslizou até a tesoura. Sua pele
entrou em contato com o material frio. Ela tinha que tomar uma decisão. Era
matar e fingir que nada tinha acontecido, ou esquecer a ideia de se tornar uma
assassina e continuar a fazer o que era necessário para viver em paz com sua
consciência.
Soltando um suspiro, Laura deixou a tesoura no mesmo lugar.
— Boa escolha! — disse Juan, a pegando de surpresa.
CAPÍTULO 15

Juan apoiou seu corpo sobre um braço. Deslizou seus dedos pelo
rosto de Laura, que o olhava assustada. Poucos segundos atrás ela cogitava a
possibilidade de matá-lo, e agora, sua vida poderia estar correndo perigo.
— Não a julgo por desejar minha morte — disse ele, colocando uma
mecha do cabelo de Laura atrás de sua orelha. — No seu lugar eu faria o
mesmo.
— Juan, eu juro que...
— Não fale nada. — Ele beijou seus lábios. Um beijo lento e calmo,
que aos poucos foi tomando proporções grandes. Seus corpos ainda estavam
nus, suas mãos deslizando para cima e para baixo provando do calor que
emanava debaixo dos lençóis. Juan segurou o seio esquerdo de Laura,
deslizou sua boca para seu pescoço e traçou uma trilha de beijos quentes e
molhados até o seio. — Eles são perfeitos — disse e abocanhou o mamilo
endurecido.
Laura fechou os olhos e absorveu a sensação que ele estava
proporcionando a ela.
Juan a provocava fazendo movimentos circulares em seu mamilo,
enquanto sua mão dava atenção ao outro.
Laura estava indo à loucura com aquilo. Juan era sexy, misterioso,
amedrontador, uma mistura de personalidades que o deixavam cada vez mais
atraente para ela. Ela gemeu, quando Juan desceu sua boca passando por sua
barriga e indo direto para o lugar onde ela mais implorava por atenção.
— Tão cheirosa... — Juan olhou para Laura, que o encarava
fixamente. Era evidente o desejo em seu rosto. — Vou beijá-la aqui. — E
assim ele fez.
Laura ergueu seu corpo e logo depois o deixou cair sobre a cama.
Afundou seus dedos nos cabelos pretos dele, o fazendo intensificar ainda
mais os beijos em sua vagina. Para provocá-la ainda mais, Juan afastou seu
rosto, cuidadosamente enfiou um dedo dentro do sexo molhado de Laura.
Enquanto ele a fodia com o dedo, chupava seu clitóris a fazendo chegar a um
orgasmo intenso.
O corpo de Laura ainda sentia os sinais do orgasmo quando Juan
deitou ao seu lado. Ela olhou para seu pênis e viu que ele estava ereto. Com a
boca salivando, Laura passou seus dedos na barriga definida de Juan e desceu
até seu membro. Fechou sua mão em volta e fazendo movimentos de vai e
vem, ela começou a masturbá-lo. Juan fechou os olhos desfrutando o
momento. Laura sabia o que fazer, ela queria fazer, então fez. Desceu até o
pênis de Juan e tocou a cabeça rosada do membro com a ponta da língua.
Lambeu devagar de baixo para cima e voltou a repetir o movimento várias e
várias vezes sem deixá-lo de masturbar.
— Laura... — gemeu Juan. — Assim você vai me matar, porra!
Ela riu.
— Talvez eu queira que você morra.
Laura sabia dominar o prazer, provocava frenesi em seus clientes
somente ao dançar, Juan não fazia ideia de que ela também poderia
enlouquecer um homem na cama como estava fazendo agora com ele.
Sem esperar mais, Laura engoliu alguns centímetros do mastro rígido
que Juan carregava entre as pernas. Seus lábios eram como seda, tão macios.
Juan estava no paraíso dentro da boca de Laura.
— Chupa, safada! — Suas mãos se enroscaram nos cabelos de
Laura, formando um rabo de cavalo. Laura sentiu o membro de Juan encostar
em sua garganta fazendo-a quase engasgar. A boca de Laura parecia fazer
mágica, fazendo o pênis de Juan desaparecer e reaparecer outra vez.
Juan pressentiu que não aguentaria por muito tempo, então ordenou
que Laura parasse. Se pôs em pé ao lado da cama, a ergueu e com brutalidade
colocou o corpo nu de Laura contra a parede.
Laura sentia o ar quente da boca dele roçar em seu pescoço. Ouvia
muito bem sua respiração pesada.
Juan beijou suas costas, mordiscou de leve sua pele, enquanto a
prendia com seu corpo. Seu membro encostando na bunda de Laura, e sua
mão invadindo o meio de suas pernas indo em direção a vagina quente e
úmida da morena.
— Não saia daí — sussurrou ele.
Juan foi até o criado mudo ao lado da cama, abriu a primeira gaveta e
tirou um preservativo. Rasgou com os dentes e o vestiu. Voltou para onde
estava, separou as pernas de Laura, e de uma só vez, estocou.
— Ah! — gritou ela.
Juan fodia forte, com rigidez como se necessitasse daquilo para
sobreviver. Seus gemidos se misturavam aos de Laura, o cheiro de sexo
começava a encher o quarto. As mãos dele prendiam os quadris dela, o
ajudando nas metidas fortes e fundas.
— Juan...
— Você gosta assim? — Ele começou a espalmá-la. O ardor deu
lugar ao prazer, desejo, excitação. Quando mais ele batia, mas ela se
aproximava do orgasmo. — Me diga, Laura, o que você quer?
Ela gemeu. Gemeu e gemeu. Era só o que ela conseguia falar. Seu
corpo, alma e mente estavam dominados pelo prazer. Nada mais importava a
não ser liberar todo o desejo que se tornava cada vez mais forte.
— Fala! — ordenou ele. — Não sei o que você quer. Como posso te
dar alguma coisa? Diga!
Ele saiu e entrou um, duas, três vezes.
— Gozar! Eu quero que você me faça gozar.
Ele sorriu. Acelerou seus movimentos, chegando a um maravilhoso
orgasmo junto a Laura.

***

As horas se passaram, Laura já estava em casa se preparando para


mais um dia de trabalho. Nicolle arrumava sua pequena mochila da escola,
colocando dentro o desenho que havia feito na aula anterior. Pintado de rosa
e preto, ela descreveu sua família: Laura e ela.
Laura chorou ao ver o desenho, sabia o quanto sua irmã sentia falta
dos pais, ela também sentia. A falta que sua mãe causara era enorme, não
tinha um dia que ela não pensasse nas noites que passaram acordadas
assistindo filmes na televisão. Ou na primeira vez que ela se apaixonou e sua
mãe a aconselhou. Sábios conselhos esses que a jovem fazia questão de
mantê-los vivos em sua memória.
— Vamos, estamos em cima da hora.
— Você vai dormir em casa hoje, Laura? — A voz sonolenta de
Nicolle tocou o coração de Laura. — A senhora Judith é legal, mas sinto
saudades de quando você me colocava na cama.
Laura se ajoelhou ficando na altura da sua irmã. Colocou uma mecha
solta da sua pequena franja atrás da orelha.
— Vou sim, meu bem. Hoje eu vou colocá-la para dormir. Prometo.
Nicolle pulou animada batendo palmas.
Saíram do apartamento rumo à rua, elas estavam mesmo em cima da
hora. Nem Nicolle muito menos Laura podiam se atrasar. O dia passaria
correndo. Deixaria sua irmã na escola, depois correria para trabalhar no café,
quando seu expediente terminasse ela pegaria um ônibus para tentar chegar a
tempo na academia de artes, onde voltaria a fazer suas aulas. E ainda tinha a
boate à noite; onde dançaria. Isso se repetiria todos os dias. Laura não sabia
se conseguiria, mas iria tentar até não aguentar mais. Ela se despediu de sua
irmã assim que chegaram na porta da escola, as demais crianças já haviam
entrado. Assim que Nicolle desapareceu entre os corredores, ela se dispôs a
correr, com certeza chegaria atrasada, e tudo o que ela não queria era ganhar
uma advertência por chegar atrasada. Pietro e o Sr. Koll estavam sendo tão
gentis com ela, não seria justo se começasse a falhar com eles.
Faltava poucos metros para Laura chegar ao café quando uma moto
reduziu a velocidade e começou a andar ao seu lado. Ela não olhou para o
lado, o medo de ser assaltada ou coisa pior fizeram com que o seu lado
consciente permanecesse calmo, mesmo que ela quisesse correr aos berros. A
moto continuou a segui-la, e assim que Laura atravessou a rua para entrar no
café, o piloto que estava na moto acelerou, fazendo que o coração de Laura
também acelerasse. Ela entrou no local já lotado, eram oito e quinze e várias
pessoas já estavam ali esperando para serem atendidos. Laura correu para
detrás balcão onde sua colega de trabalho estava.
— Está atrasada! — verberou Mary, irritada. — Tive que ouvir
vários velhos chatos resmungando porque não estavam sendo atendidos por
você. Me poupe, você nem é tudo isso.
Mary passou por Laura, jogando o avental sobre ela. Poderia ser
impressão, mas Laura tinha quase certeza de que sua colega de trabalho
estava com inveja dela. Maneando a cabeça para os lados em sinal de
negação, colocou sua bolsa no chão atrás do balcão, vestiu o avental marrom
e branco, e com um sorriso alegre nos lábios começou a trabalhar.
Pietro sentiu seu corpo todo tremer quando Laura passou pela
entrada. Ela estava cada dia mais linda. Seus cabelos ganhavam vida própria
quando ela caminhava sobre seus saltos. Seu corpo moldado na calça justa de
couro preto, dava a ele e a muitos homens, uma bela visão da sua bunda
avantajada, sem falar em seus seios que estavam quase saltando para fora do
decote da blusa preta.
Laura havia resolvido se vestir toda de preto, um conjunto que
combinava perfeitamente com ela. A deixava sexy, sem falar que também era
prático, não precisava combinar as peças ou cores, era só vestir e pronto.
— Um café puro, por favor. — Um dos clientes que toda manhã a
presenteava com uma bala de menta, pediu. — Você está muito bonita,
Laura. Não que nos outros dias você não estivesse bonita.
Ela riu, ao encher a caneca branca de porcelana de café.
— Obrigada pelo elogio — disse, entregando a caneca ao cliente, que
talvez por descuido, ou não, segurou sua mão. — O senhor está me
machucando.
— Uma mulher tão bonita e gostosa assim não deveria trabalhar. Se
estivesse comigo teria tudo do bom e do melhor. Posso te dar as estrelas, teria
uma vida de rainha.
Laura tentou se desvencilhar do aperto firme da mão do homem à sua
frente, porém, ele era muito mais forte do que ela,
— Por favor, me solte...
Ela não precisou dizer mais nada, Pietro se materializou ao lado do
homem. Olhou para suas mãos e encontrou o olhar de socorro de Laura.
— Algum problema aqui, Laura? — Pietro usou sua voz firme. —
Este cliente está lhe incomodando?
— Só estamos conversando, não é mesmo, Laura? — Cinicamente, o
homem perguntou. — Você não tem uma reforma para fazer?
Pietro riu sem mostrar divertimento.
Mantendo seu punho fechado, ele desferiu um soco certeiro no rosto
do homem o fazendo cair com tudo no chão. Laura gritou, quando viu Pietro
sobre o corpo caído. Ele socava o homem que tentava se proteger de um
Pietro descontrolado. Laura tentou separá-lo, mas seu esforço estava sendo
em vão.
— Parem com isso! — O Sr. Koll, junto aos outros clientes,
conseguiram apartar a briga. — Alguém pode me explicar o que está
acontecendo aqui?
— Esse maluco do caralho veio para cima de mim do nada!
— Mentira! — Laura gritou, defendendo Pietro. — Ele estava me
importunando, falando coisas inadequadas, Pietro apenas me ajudou. Foi ele
que me faltou com respeito.
— Vou ter que pedir ao senhor que se retire daqui, por favor. Não
quero ter que denunciá-lo por assédio sexual a minha funcionária. Tenho
câmeras espalhas por todo o recinto, e seria muito fácil comprovar o que
acabou de acontecer.
Com fogo saindo dos olhos e sangue escorrendo pelo nariz, o homem
saiu.
Laura respirou fundo e nem se deu conta de que duas lágrimas
escorriam de seus olhos. Sendo aparada por Koll, ela foi levada até sua sala
para poder se recompor.
— Fique aqui, vou trazer um chá de camomila.
Laura soluçava quando seu chefe saiu a deixando sozinha por pouco
tempo, pois Pietro entrou na sala e correu em sua direção. Se ajoelhou lado
de sua cadeira e pegou suas mãos, a beijando.
— Desculpa, Laura... — murmurou, triste. — Eu não queria assusta-
la. Mas quando vi o que ele estava fazendo... aquele ato...
— Você não me assustou — disse ela limpando a garganta. — O que
estava fazendo?
Pietro levantou. Respirou fundo e voltou a olhá-la.
— Enquanto ele segurava sua mão, ele abria o zíper da calça com a
outra mão e tentava se masturbar. Laura, eu juro que não consegui ver mais
nada diante de mim.
Aquilo a comoveu, ela sentiu algo de bom em Pietro, como se de
alguma maneira ele fosse lhe proteger sempre. Ela se levantou e o abraçou.
Repousou sua cabeça em seu peito e inalou o cheiro do seu perfume. Era
gostoso. Forte. Másculo igual a ele.
— Obrigada! — disse erguendo o olhar em sua direção. Passou a
mão por seu terno amassado. Seus dedos delicados arrumaram a gravata que
estava torta. — Pronto, agora você parece com o Pietro que conheço.
Eles riram.
— Não quero interromper, mas já interrompendo... — Nas mãos, o
Sr. Koll trazia uma xícara cheia de chá de camomila. — Aqui está o seu chá.
Se você não estiver se sentindo bem para trabalhar, pode tirar o dia de folga,
creio que Mary e eu damos conta disso aqui.
Laura tomou um gole generoso do chá.
— Estou ótima. Obrigada pela ajuda, Pietro. — Ela beijou
carinhosamente a bochecha dele. — E obrigada pelo chá, senhor Koll.
O dia foi embora e junto levou à tarde também. O ocorrido de mais
cedo já havia sido esquecido, Laura se concentrou em atender os clientes que
entravam e saíam a toda hora do café. À tarde, ela correu para a academia de
artes. Reencontrou alguns amigos antigos, inclusive sua melhor amiga,
Christina. Alguns professores e finalmente, sua antiga classe de balé. Ela
sentia falta de colocar sua roupa e saltar pela sala espelhada. De se olhar
através dos espelhos e junto aos demais, dançar coreografias belíssimas. Ela
estava voltando a suas origens, seu sonho não poderia morrer e não morreria.
Laura batalharia até conseguir entrar para o melhor grupo de balé clássico.
A aula pareceu passar mais rápido do que antigamente, quando ela
percebeu, já estava na hora de ir para a boate e assumir sua outra identidade.
Ela mais parecia uma agente do serviço secreto: de manhã era uma simples
atendente do Café do Sr. Koll, e ao anoitecer, ela era Laura, a stripper que
dominava o prazer.
Já de roupa trocada, saiu em direção ao ponto de ônibus e subiu na
condução que a levaria até a boate. Deixou sua cabeça descansar na janela e
olhando a rua através do vidro, ela seguiu viagem até seu destino.

***

Na versão mais lenta e sensual da música I Got You (I Feel Good),


Laura deslizava sobre o palco, dançando encantando a todos na boate.

“Oh, Eu me sinto bem, eu sabia que me sentiria


Eu me sinto bem, sabia que me sentiria
Tão bem, tão bem, por ter você
Oh, Eu me sinto bem, como açúcar e tempero
Eu me sinto bem, como açúcar e tempero
Tão bem, tão bem, por que eu tenho você”

Laura girou, e com um pulo, ficou de cabeça para baixo no poste de


pole dance. Assobios e gritos ecoaram por toda a boate. Sim, aquela música
combinava perfeitamente com ela naquele momento.
Laura se sentia bem, só não sabia o motivo de se sentir assim tão
bem, tão leve. Ela rodopiava fazendo movimentos sensuais.
Juan a observava da plateia, ele sempre ficava nos bastidores, atrás da
cortina, mas naquela noite ele queria saber qual era a sensação de vê-la
dançando para vários homens. Nua. Totalmente exposta, tendo somente seu
rosto coberto pela mesma máscara preta.
Os olhos de Laura estavam fixos na plateia, nas feições de alguns
homens que estavam mais próximos do palco. Ela estava se tornando uma
mulher forte, e isso a agradava. Ela não queria ser a garotinha chorona de
sempre, a menina que andava com medo pelas ruas. Laura queria ser forte,
capaz de correr atrás dos seus objetivos.
Assim que a última estrofe da música tocou, Laura encerrou o show.
Sorriu para todos e desfilando nua sobre seus saltos, desceu do palco. Ela não
sabia, mas um dos clientes da boate a esperava no camarim. Vestida com seu
roupão, ela abriu a porta do camarim e assim que entrou um rosto conhecido
a abordou.
— Oi, Laura. — A voz do homem que assediara pela manhã no café
fez seu corpo inteiro estremecesse. — Eu sabia que te conhecia, lembra da
primeira vez que te vi no café? Eu sabia que seu rosto não era estranho.
Agora sei quem você realmente é. Uma PUTA!
Ele fechou a porta e jogou Laura contra a parede. Ela gritou por ajuda
ao mesmo tempo que ele tentava desfazer o nó do roupão.
Com um chute, Juan colocou a porta abaixo. Correu em direção a
Laura e a puxou pelo braço e segundos depois, alguns dos seguranças da
boate estavam tirando o homem dali.
— Deem uma boa lição nesse filho da puta. Todos sabem que a regra
predominante daqui é de não tocar nas meninas, a não ser que elas queiram, e
tem que ser nos quartos.
Aquilo era demais para ela. O mesmo homem tentara lhe assediar
duas vezes seguida. Seu corpo tremia quando Juan a pegou no colo e a tirou
dali.
— Não se preocupe, cuidarei de você essa noite. Te levarei para
minha casa.
— Quero ir para a minha, por favor — pediu, escondendo seu rosto
no peito dele.
— Tudo bem. Cuidarei de você do mesmo jeito.
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AUTOGRAFADO COM A AUTORA
CAPÍTULO 16

Juan sentou no sofá ao lado de Nicolle. Os olhinhos intrigantes da


pequena irmã de Laura em cima dele, suas sobrancelhas franzidas e perninhas
balançando, o deixavam um pouco desconsertado. Ele a olhou, e como toda
criança, ela sorriu.
— Você gosta da minha irmã? — perguntou, com sua voz infantil.
— Você é muito nova para perguntar essas coisas. — Laura apareceu
na sala antes que Juan pudesse pensar em responder. — Vai brincar no seu
quarto. Preciso conversar com ele.
Bufando, Nicolle pulou do sofá e saiu reclamando pela casa.
Laura balançou a cabeça e pediu desculpas. Sentou ao lado dele e o
encarou. Seus pensamentos estavam embaralhados, tudo estava muito
confuso, nem ela mesma conseguia entender o que estava acontecendo com
ela ou com eles.
— Como você está? — perguntou. Sua voz não demonstrava nenhum
sentimento ou empatia, e aquilo matava Laura por dentro.
— Com um pouco de medo, confesso.
— Não tenha — disse ele. — Meus homens darão um jeito naquele
verme.
Um medo estranho se alastrou pelo corpo dela como se fosse algum
tipo de pressentimento. Juan era perigoso, e ela sabia muito bem, porém, sua
mãe sempre a ensinou que todos os seres humanos possuem um lado bom,
mesmo que não demonstre. E era nisso que queria acreditar, que Juan tinha
um lado bom, que tudo o que ele estava fazendo por ela e sua irmã, era nada
mais do que fruto do seu bondoso coração.
— Eles não vão matá-lo, não é? — sua voz falhou.
— Não... — respondeu. — Não hoje, mas se ele voltar a te
incomodar ou, se fizer qualquer outra coisa com as meninas da boate, terei
que tomar medidas nenhum pouco agradáveis. Para ele...
Laura maneou sua cabeça em concordância. Baixou seus olhos e fitou
seus pés descalços.
— Juan, eu queria saber o que nós somos?
A pergunta dela o pegou desprevenido. Não sabia se a resposta que
ele daria era a que ela queria ouvir.
Laura era uma mulher especial, diferente das outras, mas era parte de
um acordo que fizera para conseguir o que queria, o que era seu por direito.
Se envolver com ela não estava em seus planos, não do jeito normal como
muitos querem.
— Somos o que sempre fomos, patrão e empregada. Não me leve a
mal, Laura, eu gosto de você, mas somos diferentes.
— Tudo bem, eu só queria saber.
Juan gostava do jeito que Laura estava lidando com as coisas, ela
havia amadurecido muito ao longo do tempo. Se tornou mais corajosa e fatal.
Ele não disse mais nada, apenas encurtou o espaço que tinha entre eles,
agarrou sua nuca e a beijou ferozmente. Sua língua invadia a boca de Laura
de uma maneira quase brutal, arrancando dela gemidos abafados. Ela já
começava a ficar excitada, seu clitóris pulsava implorando pelo toque da
língua quente e molhada de Juan, mas ao invés dele fazer isso, ele cessou o
beijo e sem olhar para ela, caminhou até a porta e saiu. Laura ficou lá,
sentada no sofá encarando a porta fechada sem entender nada, mas na
verdade ela estava bem daquele jeito, não entender as vezes era a melhor
opção em alguns casos, ainda mais quando o caso envolvia um certo homem
tatuado com jeito de mafioso e olhar sedutor.

***

Naquela noite Laura não conseguiu dormir direito, toda vez que seus
olhos se fechavam ela via o mesmo homem que lhe assediou. Nos sonhos, ele
conseguia pegá-la e a transformara em sua escrava sexual. A batia durante o
dia, à tarde a fazia vê-lo fazendo sexo com outras mulheres e à noite, usava
seu corpo como brinquedo. Quando enjoava dela a matava, e então o sonho
se repetia outra vez.
Seus olhos estavam cansados, olheiras fundas marcavam seu lindo
rosto sem maquiagem. O cansaço era tão grande que assim que seu celular
despertou, Laura pegou a primeira roupa que viu em seu guarda-roupa e
vestiu, nem se preocupou em fazer maquiagem ou algum penteado novo.
Ela bocejou ao entregar o café com quatro colheres de açúcar para a
senhora.
— Noite ruim? — perguntou Pietro.
— Péssima. Tive pesadelos. — Laura encheu duas xicara de café
preto uma com açúcar e outra apenas com o café fumegante e amargo.
— Obrigado — agradeceu Pietro ao pegar seu café. Levou a boca e
desfrutou do sabor gostoso e do aroma de café moído. Era por isso que o café
do senhor Koll fazia tanto sucesso, ele mesmo moía os grãos. — Queria te
fazer um convite para hoje à noite.
Laura o olhou por cima da xícara. Espanto passava por suas feições.
Ela jamais esperaria ouvir algo assim de Pietro. Ele sempre parecia tão
focado em seu trabalho, não demonstrando ter mais tempo para nada a não
ser seus projetos.
— Convite?
— Sim. — Um sorriso de lado surgiu no rosto de Pietro. — Queria te
mostrar um projeto que trabalhei muito tempo atrás.
— Eu agradeço de verdade, mas não posso essa noite.
Pietro sabia o porquê dela não poder aceitar, mas não desistiria. Ele
havia chegado até ali, e não seria uma boate que atrapalharia seus planos.
— Se você tem algum compromisso tudo bem, eu te espero. Podemos
nos encontrar lá depois quando você puder. Mas preciso que seja hoje.
Laura odiava não saber negar as coisas. Odiava magoar as pessoas, e
não queria magoar Pietro. Ele parecia ser um homem bom, honesto, o qual
qualquer mulher sonharia ter ao lado, inclusive ela.
— Aceito. Envia o endereço, assim que eu sair do meu compromisso
te aviso.
Pietro sorriu, feliz. Deixou a xícara agora vazia sobre o balcão e
voltou para sua mesa onde arrumava alguns detalhes no esboço do projeto
que já tinha sido aceito pelo o Sr. Koll. Ele sentou na cadeira acolchoada da
cor azul. Pegou seus óculos de leitura e começou a redesenhar. Sua testa
franzida, uma linha de suor escorrendo pela lateral do rosto direito, o
transformava em um lindo e sexy arquiteto.
Laura o espionava pela pequena abertura da porta. Ela estava
intrigada com o porquê de um homem bom, aparentemente rico e lindo, estar
fazendo ali. Não que o café onde ela trabalhava graças a ele, fosse um lugar
ruim, mas pessoas como Pietro, com certeza estão acostumadas a coisas mais
luxuosas.
Pietro estava inerte a presença de Laura. Seus olhos estavam
concentrados no desenho. O calor só estava aumentando dentro da sala,
tornando quase impossível alguém ficar lá dentro. Pietro deixou o lápis de
lado, tirou seus óculos. Afrouxou a gravata. O suor já começava a irritar
quando Pietro decidiu que não dava mais. Ele levantou, tirou a gravata, e
logo em seguida desabotoou a camisa branca social.
Laura teve que tampar sua boca quando Pietro tirou a camisa
revelando seu corpo escultural. Ele era lindo, com sua pele morena, abdômen
definido com uma pequena listra de pelos que desciam do seu umbigo até o
cos da calça. Ela teve vontade de saber como ele era por dentro da cueca.
Saber a grossura e tamanho do seu pênis. Sua boca salivou. Seus mamilos
endureceram com o pensamento de fazer amor com ele bem ali, sobre a mesa
com seus projetos. Seria como nos filmes eróticos.
— Laura? — Pietro a surpreendeu ao chamá-la.
— Hum... desculpa, eu só queria saber se preciso usar alguma roupa
especial para hoje à noite. — Mentiu. Ela queria era pular em seu colo e
cavalgar em seu membro duro, a fazendo gemer e gozar. — Não queria
atrapalhar.
— Não, você nunca me atrapalha, Laura. Gosto da sua presença. —
Pietro andou até ela, abriu mais a porta para que Laura pudesse entrar. —
Aqui deve ser uma amostra grátis do inferno. O ar-condicionado quebrou, o
ventilado não dá vazão. Tive que tirar a camisa, mas já vou colocá-la...
— NÃO! — gritou, Laura. Ela olhou seu peitoral de cima a baixo.
Seus dedos pareceram criar vida própria. Quando ela percebeu, estava
tocando seu corpo. — Me desculpa, não sei o que está acontecendo comigo.
Eu...
Laura quis fugir, sair correndo para se esconder do jeito másculo
dele, do seu cheiro amadeirado com um toque leve de café, porém, Pietro era
mais rápido, e com apenas um passo a alcançou antes de sair. Fechou a porta
atrás de si e a encarou. Seus olhos eram como duas chamas ardentes, que a
queimava por completo. Ele deu um passo em sua direção, e ela outro para
trás, e assim continuou até que Laura não tivesse mais para onde ir. Seu
corpo estava preso entre Pietro e a mesa de madeira que antes ele trabalhava
concentrado. Seus dedos tocaram o rosto de Laura. Ela absorveu o toque
quente. Sentiu sua respiração perto do seu pescoço.
— Como eu queria tirar a roupa aqui e te foder. Acabar com suas
forças, te deixar suada. Lamber cada parte desse seu corpo lindo, mas não
vou fazer.
— O quê? — Laura perguntou espantada.
Ele a beijou na bochecha, seus lábios ficaram lado a lado.
— Nos vemos a noite, Laura. — Era como se ele estivesse gozando.
Pietro sempre falava o nome de Laura com um certo prazer no tom de voz. —
Agora tenho que terminar de redesenhar o projeto do espaço ao ar livre.
Laura piscou algumas vez antes de sair. Ela respirou fundo deixando
que o ar entrasse outra vez em seus pulmões. Aquilo, definitivamente, tinha
sido um momento excitante para ambos. Ela não deixara de notar o volume
que tinha sido criado dentro da calça de Pietro.

***

Andando de um lado para o outro depois de encerrar sua


apresentação da noite na boate. Ela estava nervosa, era a primeira vez em sua
vida que ela saía com um homem tão perfeito como Pietro. Ela era pobre,
órfã e acima de tudo: stripper. Ela temia ser julgada por ele se por acaso de
alguma forma descobrisse o que ela faz todas as noites para ganhar a vida,
porque o salário que ganhava mal dava para pagar a escola de sua irmã e suas
aulas de balé.
Com o coração acelerado, ela digitou uma mensagem para Pietro.

“Estou a caminho. Me espere!”

Não demorou muito para que a resposta chegasse carregada por uma
foto dele ao lado de uma roseira. Laura suspirou ao ver a imagem. Ele estava
sendo romântico, e ela adorava romantismo, mesmo sendo uma stripper, ela
ainda mantinha vivo dentro de seu coração o romance.
Como se o mundo estivesse prestes a acabar, ela jogou o roupão que
cobria seu corpo nu no chão. Pegou de dentro da bolsa que sempre carregava
um vestido curto de crochê de manga longa. O branco do vestido combinava
com o preto da bota over the knee strech de bico redondo, salto grosso de seis
centímetros com um zíper lateral e amarração traseira. Laura retocou sua
maquiagem, caprichando no batom vermelho. Seus cabelos soltos estavam
maiores, eles caiam em cascatas sobre seus ombros. Ela se olhou no espelho
aprovando o que via. Pegou sua bolsa, respirou fundo e saiu.
De longe Juan viu Laura sair. Arrumada como se fosse encontrar
alguém, ele a seguiu até a saída. Ela andava rápido até um táxi que havia
acabado de parar em frente à boate para deixar algum cliente. Ele estava
curioso para saber aonde Laura estava indo daquele jeito. Pensou em segui-la,
mas em seguida descartou a ideia e voltou para dentro da boate.
Laura tamborilava seus dedos sobre a tela do celular. Ansiedade
começava a tomar conta dela. Seu estômago estava frio como se estivesse
ingerindo algo gelado. Tinha uma grande chance de seus lábios ficarem
machucados devido as mordidas que ela mesma dava.
“Puta merda. É só um encontro bobo sem importância nenhuma.”
Esse era seu mantra. Laura seguiu o caminho todo repetindo para si
mesma, mentalmente, que tudo não passaria de um simples, tranquilo e
divertido encontro entre dois amigos de trabalho. Nada podia dar errado. Mas
o que queria mesmo era chegar logo no local marcado e descobrir o que tanto
Pietro queria lhe mostrar. Ela torcia que fosse seu corpo outra vez, porque ela
ainda não havia se recuperado do que quase tinha acontecido com eles mais
cedo. Toda vez que fechava os olhos podia sentir a forte respiração dele a
pouquíssimos centímetros da boca dela.
— Chegamos, Laura — falou Roger, o taxista que levava todos os
dias Laura da boate para casa.
— Obrigada. Tenha uma boa noite. — Ela saiu antes de ouvi-lo
retribuir o boa noite.
Desconfiada e insegura, caminhou sobre a rua de paralelepípedos,
amaldiçoando a pessoa que havia criado tal coisa.
Seus olhos buscavam por Pietro, mas não o encontrou. Seu coração
começou a pulsar em um ritmo descompensado quando se aproximou de uma
ruína. O lugar parecia estar largado há anos. Algumas paredes quebradas com
pedaços de concreto ao redor. O medo de estar no lugar errado atingiu com
força total Laura. Seus olhos forçaram as lágrimas a não saírem.
Ela estava quase ligando para Pietro quando o viu sair detrás de uma
parede. Em suas mãos, ele carregava um lindo buquê de rosas vermelhas.
Vestido como sempre, muito bem elegante, ele caminhou até ela desfilando
seu belo terno de três peças.
— Boa noite, Laura. — Beijou o rosto de Laura, roçando seu rosto.
Aquele gesto não demorou muito mais do que cinco segundos, mas foi o
bastante para Laura ficar excitada. O cheiro do perfume, o toque de seus
lábios em seu rosto, o jeito que o nome dela saia da boca dele, tudo aquilo
estava tendo um forte efeito sobre ela.
Seus rostos se afastaram, Laura o encarou enquanto Pietro fazia o
mesmo.
— Boa noite, Pietro.
— Espero que goste da noite, preparei nosso jantar com muito
carinho, especialmente para você
Laura suspirou.
Não tinha como aquele homem ser real. Ele era lindo, gentil,
dedicado e ainda sabia cozinhar.
— Você é real? — Seu tom de voz brincalhão, fez com que Pietro
sorrisse. — É sério...
Os dois foram rumo à mesa posta atrás das ruínas. Pietro narrava a
história do lugar, desde o primeiro esboço até o último tijolo. E Laura,
encantada com tamanha beleza do lugar iluminado por pequenas e brilhantes
luzes de LED, ouvia tudo atentamente, sem ao menos piscar.
— Isso era para ser o restaurante da minha família. Um amigo e eu,
trabalhamos no projeto, fizemos investimentos, formamos parcerias novas,
mas no final tudo veio, literalmente, a ruína.
— Porque o projeto não foi à frente? — Laura perguntou, aceitando a
taça de vinho que Pietro encheu, e bebeu dois longos goles da bebida de cor
vermelho intenso. — Aqui é tão bonito.
— Meu pai adoeceu antes mesmo do restaurante entrar na metade do
projeto. Ele foi diagnosticado com Alzheimer, infelizmente a doença já
estava na fase três, a pior.
Laura quis levantar de onde estava e abraça-lo. Queria sussurrar em
seu ouvido que tudo ficaria bem, mas quem era ela para dizer que tudo ficaria
bem se nem ela mesma acreditava em suas palavras.
— Eu sinto muito. Muito mesmo.
— Eu sei — respondeu. — Eu larguei tudo para cuidar dele,
enquanto minha mãe, bem... Ela cuidava do meu irmão caçula. Com a morte
do meu pai, não vi mais razão para continuar com algo que era mais vontade
dele do que minha ou de minha mãe. Abandonamos tudo. Mas eu queria
trazê-la aqui. Queria que você tivesse uma noite onde pudesse deixar os
problemas de lado e apenas usufruir de um bom jantar na companhia de um
amigo.
— Sou grata por pensar em mim. — Laura segurou a mão de Pietro
por cima da mesa. — Está tudo perfeito, obrigada.
— Me concede uma dança? — Ele levantou. Estendeu a mão para
ela, que piscando freneticamente, aceitou.
Corpos colados, mãos dadas, começaram a dançar ao som de uma
música suave. Laura estava sendo embalada pelos passos de Pietro que a
conduzia com leveza. Ela descansou sua cabeça no peito largo do homem que
estava confundido sua cabeça. Pietro era um homem para mulher nenhuma
colocar defeito e, era exatamente isso que estava deixando-a maluca.
— Eu queria beijá-la bem aqui, rasgar sua roupa e fazer amor
intensamente com você.
Laura suspirou fundo sentindo sua vagina pulsar.
— E porque não faz?
— Nossa primeira vez tem que ser especial. — Ele grudou ainda
mais seus corpos, pressionando sua ereção contra o ventre dela.
A dança não demorou muito, assim como o encontro. Laura explicou
que havia deixado sua irmã pequena esperando e precisava voltar para casa.
Assim que Pietro deixou Laura em casa, saiu cantando pneu. Um
sorriso enorme nasceu em seus lábios ao lembrar do beijo de despedida que
ele roubou de Laura. Ele já não aguentava mais ficar perto dela sem poder
tocá-la. Laura não protestou quando Pietro tocou seus lábios com os dele,
pelo contrário, ela queria que ele invadisse sua boca, porém ele parou, sorriu
para ela e a deixou ali querendo mais e mais. Aquele resto de noite com
certeza seria longo para ambos.

***

Correndo pelas calçadas de Nova Iorque, Laura puxava a mão


pequena de Nicolle, que tentava acompanhar os passos da irmã.
— Vamos Nicolle, estamos atrasadas.
Naquela manhã fria e nublada, elas ignoraram o som do despertador,
quando perceberam já era tarde.
— Eu não aguento correr...
— Estamos chegando, vem!
Faltava mais um quarteirão até chegar à escola. Um prédio enorme e
muito bem frequentado.
Chegaram e faltava alguns segundos para o sinal tocar. Algumas
mães cochichavam e apontavam para Laura. Uma mulher de cabelos escuros
a olhou de cima a baixo, e como se ela tivesse lepra puxou a criança que
estava ao seu lado para longe.
O sinal tocou e como todos os dias, Laura beijou a testa da sua irmã e
esperou que ela sumisse entre os corredores.
Ignorando os olhares, Laura segurou sua bolsa e saiu para mais um
dia de trabalho.
Três semanas já tinham se passado. Laura continuava como atendente
de manhã na cafeteria e a noite ela vestia sua máscara de stripper. Nesse
tempo, Pietro e Laura se aproximaram. Nas folgas da boate, Laura convidava
Pietro para sua casa, onde passavam o tempo assistindo algum filme bobo de
desenho com Nicolle. Ela gostava da companhia dele, da forma como a
tratava e como ele sempre ria das mesmas piadas que sua irmã contava. Nos
dias normais onde ela trabalhava no café, Laura o admirava de longe. Ver sua
postura firme ao executar seu trabalho a fazia querer ir até ele, pular em seu
colo e provar de toda aquela masculinidade. Quando ele sorria, ela suspirava
ao ver as covinhas que se formavam em suas bochechas.
Distraída, Laura sorriu. Ela caminhava para mais um dia de trabalho
no café quando uma mão forte a puxou pelo braço.
— Me solta! — gritou ela. Seus olhos dobraram de tamanho quando
viu quem era.
— Calma, princesa. Não irei fazer nada, a não ser que você queira. —
Ele riu.
— O que você quer?
— Você! Eu já disse que te darei o mundo. Ao meu lado você terá
dinheiro, não precisará trabalhar naquele café medíocre e nem naquela boate.
Você só tem que aceitar. Eu largo tudo, minha casa, minha esposa, meus
filhos...
Laura sentiu repulsa ao ouvi-lo.
— Você tem uma família e está querendo largar tudo para ficar
comigo? É isso mesmo o que ouvi? — Ele confirmou com um aceno. — Isso
só pode ser loucura. Dinheiro não funciona comigo. Eu não quero nada seu.
Agora faça o favor de me largar!
— Laura, eu tenho muito dinheiro...
— Pegue o seu dinheiro e vá se tratar, seu maluco.
Laura conseguiu se afastar do homem que estava começando a se
tornar obsessivo. Seu coração se partiu quando pensou na família dele. Ela
passou pelo mesmo quando fora abandonada por seu pai. Ela jamais faria o
mesmo, muito menos destruir uma família.
— Todos vão saber a verdade sobre você, querida! — gritou ele.
Laura virou e mostrou o dedo do meio.
“O que ele poderia fazer?”
Laura deixou de lado o pequeno medo que se instalou dentro dela e
seguiu para seu trabalho. Ela precisava daquele emprego e não seria um
homem transtornado e infeliz que iria mudar isso.
Laura atendia todos os clientes da mesma maneira: com um sorriso
no rosto, bons dias alegres, carisma e educação. Era por isso que todos a
elogiavam para o senhor Koll. Ninguém havia trabalhado com tanto carinho
naquele lugar, e isso deixava todos ao seu redor felizes. Por mais que
gostasse de dançar na boate, ela também gostava de ter uma vida normal fora
daquelas paredes escuras. Dançar era uma grande parte de quem ela era, mas
trabalhar naquele café ao lado de Pietro e do senhor Koll, também fazia parte
da sua vida, da nova pessoa que estava se tornando.
— Está tendo um bom dia, minha filha? — A voz do Sr. Koll a tirou
do seu transe pessoal. — A visão é boa daqui?
Seu rosto ganhou uma outra cor. Laura podia sentir suas bochechas
arderem de vergonha por ser pega no flagra.
— Eu só estava...
— Suspirando pelo Senhor arquiteto. — Ele piscou um olho para ela.
— Tudo bem, eu entendo. Sabe, um dia eu já fui assim igual a ele, todo
bonitão, jovem, cheio de admiradoras, mas a que eu queria nunca pude ter. E
você sabe por quê? — Ela maneou sua cabeça para os lados em sinal de
negação. — Porque eu só a observava de longe, assim como você. Se você
gosta dele não fique aí só admirando.
Ficou pensativa. Seu chefe estava certo, ela não podia ficar a vida
toda só olhando para Pietro, mas o que ela faria quando ele perguntasse o
porquê de tantas saídas à noite? Ela não podia dizer que era uma stripper, não
que o seu trabalho fosse ruim, ela estava ali porque precisava assim como
muitas meninas, mas sentia medo de ser julgada e abandonada. Ela não
queria voltar a se sentir assim outra vez o sentimento de abandono e
desprezo, já bastava sentir isso em relação ao seu pai. Ela não aguentaria
passar por mais uma decepção
O relógio marcava quatro horas da tarde, quando Laura tirou seu
avental e o pendurou na parede. Ela estava cansada, mas não fisicamente e
sim mentalmente. Passara praticamente o dia inteiro pensando nas palavras
ditas pelo Sr. Koll. Ela estava decidida em se aproximar ainda mais de Pietro,
mas sem que ele soubesse sua outra face.
Cansada, ela decidiu que não iria para aula de balé. Correu para o
escritório onde ele trabalhava, pegou sua bolsa e disse que já estava indo. Ele
queria levá-la para casa, porém, ainda tinha muito serviço para fazer e a obra
já estava atrasada.
De volta para casa, Laura passou em frente à escola de Nicolle, e foi
então que seu coração quase parou de bater. Cartazes estavam pendurados
nas grades do portão. Neles, a foto de Laura estampada em destaque com as
seguintes frases:

IRMÃ DE STRIPPER ESTUDA NESSA ESCOLA!


LAURA A STRIPPER!
SEGUREM SEUS MARIDOS, A STRIPPER PODE ATACAR!
ESTÁ MULHER É STRIPPER!

Para onde ela olhava a palavra stripper estava destacada em letras


garrafais. Ela não teve muito tempo para pensar, apenas correu na tentativa de
arrancar as provas que a incriminavam, sim, era verdade, porém, ninguém
precisava saber.
Laura tirou os cartazes, e rogou aos céus que ninguém mais tivesse
visto, mas outra vez ela estava enganada.
O portão da escola abriu, revelando uma mulher alta e magra. Seus
cabelos castanho-claros combinavam perfeitamente com sua pele albina.
— Era exatamente com a senhorita que eu queria falar. Eu já estava
de saída, mas nessa ocasião...
— Que ocasião, senhora Marcília? — A mulher deu passagem para
que Laura entrasse. Ao passar pelo portão, ela notou que alguns cartazes
semelhantes ao que estavam poucos segundos atrás preso nas grades, também
estavam espalhados no chão do pátio.
— Não será necessário ir até minha sala, o que tenho para tratar será
rápido. — Laura tremeu. — Na hora da saída esses cartazes foram
encontrados aqui, largados no chão do pátio da escola. Óbvio que as mães
viram, afinal, as crianças começaram a falar que a moça da foto e irmã de
uma coleguinha.
— Senhora...
Ela levantou a mão, impedindo Laura de continuar.
— O que a senhorita faz da vida não me interessa. Mas quero que a
minha escola fique fora disso. Ter sua irmã como aluna não é um bom
negócio, não com a sua profissão.
— Bom negócio? — Laura indagou, raivosa. — Minha irmã não é
“um bom negócio”.
— Creio que fui bem clara. As mães das crianças me ligaram e
pediram o meu posicionamento. Sua irmã está expulsa. Não posso correr o
risco de perder vários alunos por sua causa. Antes perco um do que todos.
Agora se me der licença, tenho que ir para casa ligar para as mães
informando que o problema indesejável já foi solucionado.
Laura quis estapeá-la. Ela estava tratando uma criança como se fosse
um objeto de barganha. Mas ela sabia que se tocasse em um fio só de cabelo
da senhora Marcília, ela iria presa e perderia a guarda da sua irmã.
Com raiva, ela passou pela mulher que a olhava com nojo. Laura
sabia muito bem quem havia feito aquilo, ela só não sabia o que ele ganharia
com tudo aquilo. Ele ainda não a teria. Laura jamais se venderia. Jamais
destruiria uma família como fizeram com a dela.
Longe dali, Pietro encarava os projetos da cafeteria. Alguns desenhos
foram redesenhados, outros se mantiveram os mesmos. Ele estava focado em
terminar aquele projeto, mas também pretendia prolongar o máximo possível
para poder ficar ao lado de Laura. Ele havia se apaixonado pelo jeito como
ela sorria, pela maneira como ela andava de um lado para o outro. Gostava
também quando ela o chamava para ir à sua casa. Ele simplesmente amava
tudo nela. Sua mente foi trazida de volta quando o som do celular vibrando
sobre a mesa de madeira chamou sua atenção. No visor o nome de sua mãe
piscava. Desde que ele saiu de casa, nunca mais falou com ela. Pensou em
recursar, mas seu coração era bom demais para ficar com raiva de sua mãe.
— Alô, mamãe.
— Oi, meu filho. Como você está? — Sua voz saiu melancólica.
— Muito bem. E meu irmão e a senhora?
— Estamos bem — disse ela. Houve uma pausa, até que ela voltasse
a falar. — Liguei para te convidar para o meu casamento com o Da....
— Casamento? — Pietro estava incrédulo. — A senhora vai se casar
com aquele homem?
— Meu filho, eu o amo mais que a minha própria vida. Ele é o pai do
seu irmão.
— Não acredito que depois desse tempo todo a senhora me liga para
falar que vai casar com aquele filho da puta maldito. A senhora não sabe o
mal que ele causou a pessoas incríveis.
— Pietro, eu liguei para te convidar. Será um dia especial, mas vejo
que não será necessário à sua presença aqui.
Ele nem teve tempo para retrucar, sua mãe desligou o telefone sem ao
menos se despedir.
Raiva e nojo o invadiram. Ele não queria acreditar que a mulher que
lhe dera a vida, iria se casar com o homem que abandonara a família. Por
causa dele, Laura tinha que trabalhar na boate, se despindo e ficando à mercê
dos olhos sedentos dos homens que ali frequentavam.
Pietro tinha que dar um jeito de contar a Laura quem ele era, contar o
porquê do abandono do pai, mas ele temia demasiadamente sua reação. Ele
largou seus óculos de leitura sobre a mesa, pegou as chaves do seu carro e
saiu. Não havia mais concentração para fazer nada. Pensar em sua mãe se
entregando nos braços do pai de Laura, um homem sem escrúpulos, fazia seu
estômago revirar.

***

— O que ele fez como você? — Juan perguntou em voz alta.


— Fisicamente nada. Ele foi atrás de mim e ofereceu dinheiro para
que eu aceitasse ficar com ele, mas não aceitei — Laura falou. Olhou para
Juan através do reflexo do espelho do camarim. — Para se vingar ele
espalhou cartazes pela escola onde minha irmã estuda, bom, estudava. Ela foi
expulsa por que a diretora disse que algumas mães não se sentiam bem com a
minha presença ali.
Como se não fosse nada Juan saiu do camarim batendo o pé, chamou
Simon, Peter, e Caio, seus melhores seguranças e homens de confiança.
— Descobriu onde àquele filho da puta está? — perguntou a Simon.
— Ele foi visto entrando no restaurante no centro. Ele está com a
esposa.
— Que se foda! Agora vamos! — Subiu na moto e correu sobre duas
rodas as ruas de Nova Iorque.
Juan estava com sangue nos olhos, seu corpo inteiro tremia de raiva.
Ele não conseguia parar de pensar em como Laura se sentiu ao ser exposta.
Ela não era como as outras meninas da boate, tinha uma doçura
incomparável, algo raro e intrigante, pois Juan a cada dia queria decifrá-la
mais.
Acelerando a moto, pensou nas várias maneiras de torturar alguém.
Existiam várias, mas Juan queria uma que o fizesse implorar por clemência.
Poucos minutos depois ele e seus homens chegaram no local.
Desceram das motos, guardaram os capacetes e começaram a andar
— Juan? — chamou Simon. — Não podemos entrar assim.
— Dê um jeito de levá-lo ao beco.
— Aquele do lado do restaurante? — Simon perguntou, mas logo em
seguida arrependeu-se. Juan andou até ele e por pouco não o fuzilou com
seus olhos.
— Me lembre o porquê de você ainda estar vivo?
— Desculpa...
— Chega! Leve-o, sem demoras.
Simon sumiu entre os carros, enquanto Juan e os demais que estavam
com ele seguiram para o beco. O local era escuro e cheirava a urina e drogas,
provavelmente bêbados e viciados usavam aquele lugar para isso.
Simon entregou três notas de cem dólares ao gerente do restaurante.
O homem de mais ou menos quarenta anos fitou o homem alto parado à sua
frente.
— Diga que Laura o espera — Simon falou. — Diga apenas isso.
Entendeu?
— Sim, senhor — O gerente guardou as notas no bolso do terno e
entrou. Ele era um homem ganancioso, dinheiro era sempre muito bem-
vindo, não importava de onde vinha.
Alguns segundos depois, Michael saiu do restaurante, deixando sua
esposa esperando. Seus olhos brilharam quando foi sussurrado em seu ouvido
que Laura o esperava. Ele andou rápido até o local marcado.
— Eu sabia que você aceitaria minha proposta — disse ao ver a
silhueta de alguém no escuro.
Juan riu.
— Você realmente achou que Laura ficaria com você por vontade
própria? — Ele andou até Michael, que assim que percebeu que era uma
armadilha, tentou fugir. Mas os capangas de Juan o impediriam. — Não
adianta correr, Michael.
— Como você sabe meu nome? — perguntou com medo.
— Eu sei de muitas coisas. Mais do que você possa imaginar. — A
distância que os separava terminou. Juan estava tão próximo ao corpo
trêmulo de Michael, que ele podia escutar o bater de seus dentes. — Eu dei
um aviso. Um aviso que tenho certeza que foi muito bem passado pelos meus
seguranças, mas acho que você não entendeu.
— Olha, se o assunto é dinheiro eu posso resolver.
Juan segurou seu rosto com força e apertou, arrancando um gemido
de dor. Ele o encarou, e com vontade cuspiu.
— Você realmente não entende... — Juan intensificou mais o aperto.
— Eu não preciso do seu dinheiro, Laura não precisa. Eu fui bom em não o
matar naquele dia na boate, mas sabe... — Juan o soltou. Circulou Michael,
parou atrás dele e sussurrou em seu ouvido. — Eu não sou bom.
Os homens que ali estavam, arrastaram Michael até a parede. Ele
gritava, mas ninguém iria ajudá-lo.
Juan sacou um soco inglês do bolso. E com força, desferiu o primeiro
golpe nos pênis de Michael, que curvou seu corpo e gritou. Outro golpe no
mesmo lugar, mais um, e mais um. Assim se repetiu, até ter certeza de que
ele nunca mais teria uma ereção.
— Você nunca mais colocará esse pau dentro de alguma boceta. —
Juan ergueu o rosto. Michael viu o sangue escorrer por suas pernas, ele sabia
que tinha sido grave. — Se eu fosse te deixar vivo, você poderia recorrer a
médicos, mas eu não vou cometer esse erro.
— Por favor...
— Por favor, não me mate? — perguntou. — Michael, Michael,
Michael... infelizmente não posso correr o risco de você ir atrás da Laura
novamente. Ela não é para o seu bico. Ela é gostosa demais, boa demais para
um relés humano. Deixa eu te contar uma coisa: ela geme muito gostoso
quando está gozando.
Michael não disse nada, ele não podia fazer mais nada. Ele já era um
homem morto, só faltava o carrasco chegar para buscá-lo.
— Eu pensei em dar um tiro bem no seu coração, mas seria muito
fácil. — Simon entregou uma faca para Juan. — Quero que você sofra
lentamente, lembrando de que foi eu, quem proporcionou tamanha dor.
Dito isso, Juan enfiou a faca de uma vez só na barriga de Michael.
Ele se curvou, caindo de joelhos no chão. Outro golpe foi dado. Juan viu o
corpo de Michael estirado no chão, gemendo e chorando, implorando por
ajuda.
— Faça uma boa viagem para o inferno. — Juan deu a última facada
em Michael na garganta, fazendo o sangue jorrar feito uma fonte.
Deixando o corpo agonizando no chão daquele beco, Juan seguiu até sua
moto. Não era a primeira pessoa que ele matava, mas era a primeira que ele
matava por um bom motivo, isso era o que julgara em sua cabeça.
CAPÍTULO 17

Sobre o palco, Laura dançava e dava o seu melhor. A cada dia que se
passava ela se tornava ainda mais sedutora, e sem saber, tornava-se fatal.
Juan voltara da rua, com suas mãos ainda sujas de sangue, o corpo
fervendo de raiva, seus olhos vermelhos devido às drogas que usou antes de
entrar na boate. Ele passou pela entrada e parou no mesmo lugar de sempre,
atrás das cortinas no palco. Havia uma visão privilegiada dali, podia ver
Laura e seu belo corpo nu. Ele a admirava, não só pelas curvas de seu corpo,
mas pela mulher que ela se tornava, tão forte e independente que acabava o
deixando amedrontado por dentro. Ele nunca quis tanto ter alguém em seus
braços todas as noites como ele a queria. Chegava a ser tolo, mas a desejava e
iria fazer qualquer coisa para que ela fosse dele para sempre, mesmo que
tivesse que sujar suas mãos todos os dias com o sangue de algum homem que
a olhasse.
Laura encerrou sua apresentação sob o som acolhedor das palmas e
assovios. Ela sorriu para a plateia e saiu desfilando nua.
— Garota... — Lavínia correu até ela. — A cada nova apresentação
os homens vão à loucura com você.
Elas riram.
Era verdade, todas as noites Laura dançava melhor, era como se ela
abraçasse seu verdadeiro eu e se entregasse por completo a sensação que
aquilo lhe causava. A dança já fazia parte de quem ela era, mas foi somente
na boate que realmente aceitou que aquela era a sua religião, fé; a sua crença.
— Faço o que gosto. A dança é uma parte de mim, sem ela não sou
ninguém.
— Eu diria que quando você está naquele palco, você é tudo o que
deseja ser. — Juan surgiu atrás de Laura, a pegando de surpresa. Segurou
seus ombros e os beijou. — Lavínia, nos de licença, por favor.
— Claro.
— Você tem um cliente. Fale com Liza, ela dirá quem é. — Sorrindo,
Lavínia saiu.
Laura ainda estava de costas para Juan, suas mãos em seus ombros,
causando ao corpo dela um incêndio. O desejava, mesmo sabendo que não
deveria, porém, era inevitável ficar perto dele sem ao menos morder os lábios
com força, reprimindo o desejo de tê-lo dentro de si.
Sussurrou em seu ouvido pedindo que ela o acompanhasse até seu
escritório. Laura não falou nada, apenas andou em direção a porta e entrou. A
sala onde Juan passava a maior parte do seu dia tinha o cheiro dele.
Laura andou até a cadeira em frente à mesa e sentou. Cruzou suas
pernas, mas o roupão que ela usava não conseguia cobrir por completo seu
corpo. Os olhos sedentos de Juan pousaram nas coxas grossas e morenas de
Laura. Seu pênis logo reagiu endurecendo.
— Queria dizer que você não terá mais problemas com aquele
homem. — Os olhos de Laura aumentaram de tamanho ao ouvi-lo falar.
— Você... Você... Ele está...
Por mais que Laura tentasse falar, não conseguia formar nenhuma
frase completa.
— Não, eu não fiz nada. — Mentiu. Juan via o medo no olhar da
moça, ele não queria assustá-la, mas também não queria ter que mentir sobre
algo que fez para resguarda-la. — Apenas cuidei para que você e sua irmã
tenham uma vida calma.
Juan sabia que no momento em que ele contasse que tinha dado um
fim à vida do homem que vinha fazendo da vida de Laura um inferno, ela
nunca mais o olharia como antes. Nunca mais permitiria que ele a tocasse
outra vez. Então, sua única saída foi mentir.
Laura não sabia se podia acreditar nas palavras de Juan, ele parecia
um pouco agitado, seus olhos estávamos vermelhos e suas mãos abriam e
fechava a todo instante, porém, ela preferiu dá-lhe o benefício da dúvida.
— Obrigada. — Tranquilidade transbordava de sua voz. Ela relaxou
seus ombros e soltou uma longa respiração. — Mais o que ele fez não pode
ser desfeito. Vou procurar outra escola para minha irmã.
Ela fez menção em se levantar, mas Juan foi mais rápido. Rodeou sua
mesa e parou em frente à Laura. Pôs suas mãos nas coxas dela e a encarou.
— Faz tempo desde a última vez que estivesse dentro de você. —
Confessou. Deslizou seus dedos para o meio da coxa de Laura e brincou com
seu clitóris. — Queria saber como está aqui embaixo.
Ela mordeu o próprio lábio, prendendo um gemido sofrido de
excitação vendo o inclinado sobre sua cadeira a fitando profundamente. Ele
continuava a brincar com o pequeno ponto de prazer. Circulava e esfregava
devagar, enquanto Laura cada vez mais abria suas pernas, dando acesso livre
para as mãos dele.
— Ahhh! — Gemeu, ao chegar no ápice. Seu corpo tremia e suas
pernas estavam bambas devido ao orgasmo que acabara de ter. Com a
respiração pesada, ela colocou uma mão sobre a de Juan, que ainda estava
entre suas pernas, e a tirou dali. — Eu tenho que ir.
Juan ficou ali, a olhando ir embora. Ela leve, pois havia acabado de
gozar, e ele duro feito uma rocha, cheio de desejo prestes a ser jorrado. Ele
não se contentaria com uma simples masturbação, ele tinha necessidade de ter
uma mulher embaixo de seu corpo, com as pernas abertas e recebendo tudo o
que ele podia oferecer.
Juan abriu a porta e dali mesmo gritou por Liza, seu braço direito
dentro da boate.
— O que foi, Juan? Estou ocupada... — Ela foi interrompida quando
Juan a pressionou contra porta. Segurou seu pescoço com força e atacou sua
boca. Suas línguas brincavam de vai e vem dentro de suas bocas. Uma das
mãos de Juan foi de encontro com o seio de Liza. Ele apertou a carne e
mostrando sinal de excitação e aprovação, Liza gemeu em sua boca. Juan
abandonou os lábios agora um pouco inchado devido ao beijo, e se apressou
em tirar o vestido preto do corpo dela. A deixou nua e com fome. Abocanhou
um de seus seios, enquanto com a outra mão ele dava atenção a sua vagina
repleta de desejo. Ele chupava seu seio como se fosse um bebê em busca de
alimento. Ela gemia de olhos fechados. Juan deslizou dois dedos para dentro,
a fodia em pé, com seus dedos. Gemidos e mais gemidos eram liberados da
garganta de Liza. Ela estava se perdendo. Juan desceu seus lábios lentamente
até sua vagina e a beijou bem ali. Passou a língua de cima para baixo sugando
todo o desejo de suas pernas. Os dedos de Liza entravam em meios aos fios
de cabelos de Juan, o pressionando para mais perto de si, a fazendo gemer
seu nome, o qual não gemia a muito tempo desde a chegada de Laura na
boate.
— Venha, quero te foder do jeito que você gosta. — Juan levantou e
pegou Liza. Pressionada contra a porta, ele a ergueu colocando as duas
pernas em volta de seu quadril, e sem mais delongas, deslizou com força para
dentro dela.
— Ahhh! — Liza gritou, e logo em seguida gemeu de prazer. Toda
vez que ela tinha Juan no meio de suas pernas, era como se fosse a primeira
vez.
Juan entrava e saía de dentro dela sem dizer nada, apenas seus
gemidos eram ouvidos dentro da sala e fora também. Liza gemia alto, gritava
o nome de Juan, e isso o irritou. Laura não era assim, ela gemia baixo em seu
ouvido, fazendo o desejo aumentar cada vez mais.
— Desce! — ordenou ele. Liza ficou de joelhos na sua frente, seus
lábios cobriam toda a extensão do pênis de Juan. Ela ergueu os olhos, e então,
Juan gozou em jatos. — Porra!
Liza limpou seus lábios com as pontas dos dedos, e os chupou depois.
— Quando precisar é só chamar.

***

Laura estava sentada em sua cama, seus pensamentos iam longe,


direto até Pietro. Ela estava confusa, não sabia ao certo o que queria, mas
naquela noite, ela sabia o que jamais poderia ter. Sentia a necessidade de
contar seus problemas para alguém, desabafar, chorar suas dores e confessar
seus medos, mas se resolvesse fazer isso com Pietro, correria o risco de nunca
mais poder olhar em seus olhos. Ele sentiria nojo dela, e isso a mataria aos
poucos.
Secando as lágrimas que rolavam pelo seu lindo rosto, deitou-se na
cama e abraçou seu corpo. Ela sentia falta do abraço de sua mãe nessas horas.
Somente ela sabia lhe dar os conselhos mais sensatos para certas ocasiões.
Sem ela, Laura não tinha mais ninguém a não ser Nicolle, mas sua irmã ainda
era nova demais para tais coisas.
Seus olhos pesaram, sendo impossível de deixá-los abertos por mais
tempo. Entregou-se a escuridão da noite sendo levada pelo vale dos sonhos,
mas ela não sonhava mais. Depois que perdera tudo nunca mais voltou a ter
lindos sonhos.
O dia raiou e Nicolle já estava pulando em cima dela, a acordando
contra a própria vontade.
— Nick, vai dormir — resmungou. — Amanhã vamos procurar outra
escola, mas hoje, vamos dormir mais um pouco.
— Você esqueceu que dia é hoje? — Nicolle não tinha mais alegria
em sua voz. — Poxa, Laura...
Laura levantou e sentou de frente a sua irmã que ainda continuava em
pé.
— Que dia é hoje?
Nicolle desceu da cama e correu para seu quarto, deixando Laura sem
entender nada. Ela realmente não sabia do que a irmã estava falando.
Decidida a descobrir o motivo da felicidade da irmã, Laura levantou e foi até
o quarto de Nicolle. A pequena chorava deitada em sua cama cor-de-rosa.
Soluçava e debatia seus pés no colchão.
Laura se aproximou e sentou na ponta da cama. Esticou seu braço e
acariciou as costas da irmã.
— Me desculpa, mas eu realmente não me lembro.
Nicolle levantou a cabeça e olhou para Laura. Seus pequenos
olhinhos ganharam um tom vermelho, devido ao choro. Aquela cena partira o
resto do coração que sobrava no peito de Laura.
— Hoje é o meu aniversário — disse ela fungando. — E eu não tenho
mais ninguém para me abraçar.
Voltou a chorar.
Laura não sabia o que dizer, ela jamais teve a intenção de esquecer o
aniversário da própria irmã, mas tanta coisa havia acontecido e estava
acontecendo, que Laura não tinha mais noção das datas. Se ninguém
decorasse a casa quando chegasse à época das festas de final do ano, Laura
passaria dormindo sem saber de nada.
— Nick, eu sinto muito. Me perdoe, por favor. — Laura deitou ao
lado da irmã e abraçou seu frágil corpinho. — Prometo que isso jamais irá se
repetir. Vou ficar em casa hoje. Vou avisar no trabalho que é seu aniversário.
O que você acha de tomarmos café fora?
Nicolle se animou com a notícia, fazia bastante tempo que elas não
saíam. Laura tinha seus motivos, com o trabalho na cafeteria, as aulas de balé
a tarde e a boate à noite, quase não sobrava tempo para ela.
— O Pietro vai estar lá? — Animada, outra vez, Nicolle perguntou.
— Eu quero tomar café com ele também, Laura.
— Tudo bem, hoje você pode tudo. —— Laura sorriu. — Agora
vamos tomar um banho e vestir uma roupa bem bonita.
Enquanto Laura esperava sua irmã sair do banho, ela digitava uma
mensagem para Pietro, pedindo que ele preparasse algo especial para Nicolle.
Assim que o pequeno corpinho surgiu no campo de visão de Laura, ela
deixou o celular de lado e foi em direção a sua irmã. Não existia nada que ela
não fizesse para ver o sorriso inocente da garotinha e seu rostinho angelical.
— Vamos secar esse cabelo... — Com uma toalha rosa e macia,
Laura enxugou toda água do cabelo de Nicolle. — Agora você se veste
enquanto eu vou arrumar a minha bolsa. Tudo bem? Você consegue fazer
isso sozinha?
— Sim, Laura. Eu já sou uma mocinha. — Rindo, Nicolle correu para
a cama e começou a se arrumar.
Laura não sabia, mas aquele dia estava repleto de coisas boas, e
outras nem tanto assim.
Arrumadas, Laura fechou a porta do seu apartamento, segurou a
pequena mão de Nicolle e desceu os degraus até chegarem na rua.
Os carros passavam rápidos, indo e vindo de todas as direções.
Nicolle andava alegremente ao lado da irmã. Para ela, aquele estava sendo o
melhor dia de todos, e se dependesse de Laura, seria mesmo.
O caminho até o café foi feito repleto de risadas e palavras
engraçadas, todas de Nicolle. Por mais que Laura tentasse distrair sua mente,
ela não conseguia. Os problemas estavam tirando sua paz.
— Chegamos. Venha, vou te apresentar ao Sr. Koll.
Elas entraram na cafeteria. O lugar ainda estava fechado, mas o
cheiro de café moído na hora já impregnava o ar.
— Que lugar bonito — Nicolle falou, encantada. — Olha, Laura! —
Nicolle correu em direção ao balcão e pulou de alegria. — Tem cupcakes!
Posso comer? Posso, Laura?
Laura riu, de verdade. Estava admirada era incrível como uma
criança conseguia se alegrar com tão pouca coisa, enquanto os adultos
sempre complicavam tudo ao redor.
— Só se eu ganhar um abraço de bom dia. — Pietro surgiu do
corredor que dava acesso ao escritório. Ele estava perfeito, calça jeans azul,
camisa polo branca e aquele sorriso que fazia o coração de Laura falhar
várias batidas em sequência.
Nicolle correu até Pietro e com um salto de dar inveja a muitos
atletas, ela pulou nos braços de Pietro.
— Feliz aniversário, meu amor. — Ele beijou a testa da menina
enquanto a mantinha em seus braços. — Tenho um presente para você.
— Eba! — gritando, Nicolle abraçou o pescoço dele, o enforcando de
uma forma gentil e engraçada.
— Pietro, não precisava se incomodar com isso. — Laura se
aproximou, tocou em seu braço esquerdo aproveitando o calor que emanava
de seus músculos. — Mas agradeço o carinho. Obrigada.
Ele assentiu. Deixou Nicolle no chão e pegou de cima de uma das
mesas, um enorme embrulho cor-de-rosa. Um lindo laço branco enfeitava o
presente. Nicolle não aguentou de ansiedade. Sentou-se no chão da cafeteria
e, rasgou o papel revelando a surpresa.
— É uma casinha de boneca! — ela gritou, outra vez. — E tem
móveis.
— Que bom que gostou, fiz com muito carinho.
Pietro sempre havia sonhado em formar uma família, quando a
oportunidade surgiu alguns anos atrás, ele não perdeu tempo. Com suas
habilidades, construiu uma casinha de bonecas para aquela que seria a sua
primogênita, mas infelizmente o lindo homem que estava preparado para
assumir a responsabilidade de cuidar de outra vida, não teve a chance de
entregar o presente feito por ele mesmo.
— Como você conseguiu fazer essa casinha enorme em apenas uma
hora? — Incrédula, Laura perguntou em voz baixa.
— Longa história que terei o prazer de contar hoje à noite em um
jantar especial na minha casa.
Laura não recusou, ela queria mesmo saber mais sobre ele, fazer
parte da vida dele e assim poder também se sentir parte de algo melhor que a
própria vida.
— Vamos tomar café, o Sr. Koll está preparando um banquete lá
fora. — Pietro ergueu Nicolle nos braços e juntos, seguiram até a parte aberta
da cafeteria. Pietro estava fazendo um ótimo trabalho, tanto fora quanto
dentro da loja, mas a parte que ele mais adorava ali, era a área ao ar livre.
Sentir o cheiro da grama molhada e o frescor do vento soprando entre as
folhas, trazia uma certa paz interior que ele tanto precisava encontrar para
não sucumbir à vontade de entrar na boate onde Laura dançava e a tirar dali
igual a um homem das cavernas.
Laura suspirou ao ver como o lugar estava ficando. Ainda não havia
visto aquela parte do café, mas sabia que sem dúvida, seria a mais linda.
Uma enorme mesa de madeira estava posta embaixo de uma árvore.
As grandes folhas davam uma ótima sombra. Seis cadeiras estavam coladas
ao redor da mesa. Laura, junto com Pietro e Nicolle caminharam até o Sr.
Koll, que de costas, terminava de arrumar o café da manhã.
— Oi. — A voz infantil de Nicolle trouxe a atenção do senhor para
ela.
— Você deve ser a aniversariante do dia, Nick, não é? — Ela
assentiu, feliz. — Seja bem-vinda ao café da manhã especial para a senhorita,
princesa Nicolle.
Pietro colocou a menina sentada na cadeira, enquanto Laura abraçava
e agradecia ao seu chefe.
A mesa estava repleta de coisas gostosas como: bolos, tortas de
chocolate, morango e baunilha. Frutas e frios, café e sucos.
Os olhos de Laura marejavam, ela queria poder proporcionar mais
momentos como aquele a sua irmã, mas com o que ganhava não dava. As
despesas de casa estavam aumentando, a expulsão de Nicolle da escola tinha
sido um golpe forte para Laura, ela teria que procurar uma escola boa, porém
suas opções eram poucas, todas se resumiam em três escolas caríssimas, além
disso todas ficavam em bairros distantes do qual ela morava atualmente.
Ainda tinha as aulas de balé, as quais não abriria mão.
— Eu trocaria esse pedaço delicioso de torta de chocolate pelos seus
pensamentos — sussurrou Pietro.
Sentou-se entre Pietro e Nicolle.
— Não é nada demais, só estou preocupada com a nova escola dela.
Pelo visto, teremos que nos mudar.
Pietro sabia o motivo pelo qual provavelmente ela se mudaria. Suas
mãos se fecharam em um aperto forte, se ele olhasse para baixo, veria que
elas estavam começando a ficar vermelhas.
— Vamos conversar sobre isso hoje à noite.
— Eu tenho que...
— Mandarei meu endereço por mensagem. Você me encontra lá
quando puder.
Pegando Pietro de surpresa, e a todos os demais, Laura beijou o rosto
barbudo do homem ao seu lado.
— Obrigada por estar ao meu lado — disse ela, sussurrando.
Nicolle e o Sr. Koll cochichavam animados. Pareciam que se
conheciam há anos. Laura sempre achava engraçado como as pessoas se
apaixonavam por Nicolle, mas ela não tinha como negar que aqueles olhinhos
redondos e maria-chiquinha derretiam o coração de qualquer um.

***
Assim que as portas do elevador pararam no último andar, Pietro
entrou em sua cobertura. Depois de dias dormindo no quarto de hotel, ele
sentiu necessidade de ter um lugar onde pudesse descansar depois de um
longo dia de trabalho. Dominic, seu melhor amigo fez questão de lhe
emprestar uma das várias coberturas que possuía em Nova Iorque. Pietro não
estava em posição de recusar nada, mas também não ficaria ali de graça, se o
amigo fazia questão de emprestá-lo, Pietro também fazia questão de pagá-lo.
Ele tirou sua camisa e a jogou sobre o sofá do hall de entrada. Foi até
o pequeno bar que seu amigo havia mandado montar meses atrás e bebericou
um pouco do melhor uísque que ali tinha. O gosto era bom e ardente, mas ele
já estava acostumado com aquela sensação. Bebeu mais um gole e deixou o
copo sobre a bancada de vidro. Voltou para o centro da sala e sentou no
enorme sofá branco em formato de L.
— Que mulher... — murmurou, baixinho. — Me enfeitiçou.
Sim, ela o havia enfeitiçado desde a primeira vez que a viu dançar na
boate.
Pietro fechou os olhos e relembrou a cena que para ele, era melhor
que um filme pornô. Seu pênis ficou duro, pulsando dentro de sua cueca e
empurrando o tecido de sua calça. Aquela maldita sensação de tesão
acumulado estava deixando-o literalmente de saco de cheio, porém, sabia que
ficar se masturbando feito um adolescente que acabara de descobrir a famosa
punheta, não adiantaria nada.
Frustrado, levantou-se.
Foi até seu quarto e tirou toda a roupa. Entrou no banheiro e
rapidamente já estava debaixo da água quente. Lavou seu corpo com
sabonete e seus cabelos. Ele achava que de algum jeito, aquele banho iria
fazê-lo esquecer a morena de boca vermelha, mero engano. Toda vez que
seus olhos se fechavam, a imagem de Laura surgia em sua frente.
A noite parecia se arrastar tão lenta quanto uma tartaruga. Ele cansou
de ficar olhando as horas em seu relógio e celular. Estava impaciente, andava
de um lado para o outro como se a sua vida dependesse daquele jantar. Outra
vez olhou em seu relógio. Onze e quarenta, da noite, pela hora que Laura
tinha mandado mensagem avisando que já estava a caminho, não iria demorar
muito até que ela chegasse. Ele desligou o computador, arrumou sua mesa,
guardou o desenho de uma casa que ele vinha trabalhando à finco.
A ocasião pedia algo elegante, ele escolheu o seu melhor terno. Deu
uma olhada em frente ao espelho e se agradou com a imagem que viu. Não
tinha como alguma mulher lhe dizer não. Ele não precisava fazer muito para
estar elegante ou atraente, seu charme era de nascença, e Laura já se rendera a
ele.
O táxi que Laura estava seguiu rápido até o endereço indicado, e
assim que chegou, enviou uma mensagem de texto dizendo que já estava no
prédio.
Como um cavalheiro, Pietro desceu para buscá-la. Assim que a viu,
seu coração acelerou. Estava deslumbrante em um vestido preto longo com
duas aberturas na cintura que deixava sua pele à mostra. O decote era lindo e
grande, o que para ele não era problema. Seus cabelos estavam presos de um
lado e soltos do outro. Quase nenhuma maquiagem, apenas um batom mais
concentrado nos lábios que ele estava louco para borrar com sua boca. Ele
andou até ela, esticou a mão para beijá-la e aproveitou para sentir o cheiro de
seu doce perfume de flores do campo.
— Você está linda, mas creio que já saiba disso.
— Obrigada. Você também não está nada mal.
Ele sorriu. Ofereceu seu braço a ela e a guiou até ao elevador. Assim
que as portas de aço se abriram, Pietro deu passagem para Laura, que olhava
o interior do seu apartamento e não conseguia acreditar que tanta beleza e
sofisticação estavam reunidas no mesmo lugar. Ele a guiou até a sala de
jantar. A mesa e cadeiras pareciam ser feitas de vidro. Cortinas vermelhas e
brancas, toalhas da mesma cor, o lustre belíssimo, logo ela já queria saber
onde poderia conseguir um.
Pietro sorria.
— Isso é tão lindo — comentou. — Você sabe mesmo como preparar
um jantar.
— Obrigado, sente-se, vou servi-la com uma taça de vinho. — Laura
mordeu seu lábio inferior quando ele virou de costas para pegar o vinho.
Andou até ela e puxou a cadeira. — Fique à vontade.
Laura bebericou um pouco do vinho de sua taça. Degustou o sabor
adocicado e gélido da bebida.
— Laura... — Pietro a chamou. — Gosto do seu nome.
— E eu do seu.
Eles flertavam, de uma maneira gentil.
Pietro sentiu seu pênis ganhar vida outra vez. Mas não se enfureceu,
pois ele sabia o que queria, e como eles iriam terminar a noite. Suando.
Gemendo. Gozando.
Não demorou muito para que servisse a comida, o que os tirou por
alguns minutos daquele jogo de flerte em que estavam. Saboreavam o salmão
que estava divino, mas Pietro não sabia pensar em mais nenhum sabor a não
ser os dos lábios daquela mulher, ele estava vidrado demais nos movimentos
que ela fazia para comer. Tudo o que Laura fazia para ele se tornava erótico.
Pietro já não aguentava mais, estava completamente apaixonado por ela.
— Está gostoso? — indagou, tentando disfarçar sua atração.
— Sim, quem fez está de parabéns.
— Obrigado. — Ela o olhou intrigada. — Foi eu que fiz o jantar.
Ela sorriu e voltou a comer o peixe que ainda restara em seu prato.
— Você tem vários talentos escondidos.
— Isso porque você não viu o tamanho do meu talento. — Pietro
ousou.
— Logo mais verei. — Ela piscou para ele e voltou a comer.
E lá estavam eles, outra vez no jogo de flerte.
CAPÍTULO 18

O jantar havia sido apenas o prato principal daquela noite. Pietro e


Laura queriam mesmo era partir direto para a sobremesa, no caso, o sexo. No
entanto, Pietro estava indo com cautela, não queria que ela pensasse que ele
estava interessado apenas em seu corpo, era muito mais que atração física;
estava apaixonado pela doçura que era a mulher sentada ao seu lado. Pela
melodia que era sua voz ao falar. E pelo jeito que ela se movia sobre o palco,
mostrando toda sua sensualidade.
— Me concede uma dança? — perguntou, casualmente. — Queria
desfrutar do resto da noite dançando contigo.
— Eu adoraria.
Pietro se pôs de pé ao lado de Laura. Sua mão erguida, Laura a
pegou. Uma corrente elétrica percorreu de um corpo para o outro, era como
se eles se conectassem com apenas um simples toque. Ela nunca se cansava
daquela sensação. Ter ele ao seu lado a guiando até a sala onde uma música
lenta já ecoava das caixas de som, parecia como os romances que ela
costumava ler escondida de seu pai.
— Então, me conte um pouco mais sobre você, Laura — suspirou.
Essa não era uma das coisas que ela gostava muito de falar, ainda mais
quando estava prestes a se entregar a um homem como aquele.
— Creio que já falei sobre mim. E, minha história de vida não é tão
interessante.
— Quero saber mesmo assim.
Eles se olharam, mas não como antes, havia alguma coisa estranha,
era como se cada vez mais a ligação entre eles ficasse mais forte, quase
sólida.
— Sou de família pobre, cresci sem muita coisa. O pouco que tinha
dividia com a minha irmãzinha. Meu pai nos deixou e nunca mais tive
notícias, mas isso você já sabe. Agora é a sua vez, me conte como conseguiu
fazer aquela casinha de bonecas? — Laura deitou sua cabeça no peito de
Pietro e deixou ser conduzida pelas mãos dele.
— Eu sinto muito! — lamentou, Pietro. Ela sentiu o calor de sua mão
tocando em seu braço e isso a fez estremecer.
— Obrigada — agradeceu.
— Eu tive uma namorada alguns anos atrás. Emily e eu éramos um
casal bonito aos olhos dos outros, mas eu não sentia o mesmo. Eu estava
infeliz, eram muitas brigas e todas causadas pelo ciúme doentio dela. Resolvi
terminar, mas ela alegou estar grávida. Era óbvio que eu não a deixaria,
iríamos ter uma criança, um bebê indefeso que necessitava do pai ao lado.
Mas acabei descobrindo que eu não era o pai do filho dela. Eu sinto falta da
sensação que senti na hora, saber que seria responsável por uma vida...
— Eu sinto muito, Pietro — Laura falou, ainda com a cabeça apoiada
em seu peito. — Sinto muita saudade da minha mãe, dá risada dela, dos
beijos de boa noite, do café da manhã. — Ela parou de dançar. Lembrar de
sua mãe, da infância alegre ao lado da mulher que lhe deu a vida a fazia
querer chorar. Seu peito ainda estava machucado, não sabia se voltaria a ser a
mesma de antes. — Tive uma criação normal, sem regalias ou luxo. Mas
sempre tive boas notas e um comportamento exemplar na escola. Minha mãe
sentia muito orgulho de mim, eu só queria que Nicolle tivesse essas mesmas
lembranças.
Laura deixou uma lágrima teimosa e solitária rolar pelo seu rosto. Ao
ver isso, Pietro passou seu polegar tirando quaisquer resquícios de choro.
— Eu jamais conheci alguém como você. Você é perfeita.
Palavras faltaram para Laura expressar sua reação. Seus olhos
estavam conectados. A mão dele segurava seu queixo, enquanto a outra
deslizava lentamente em seu braço.
— Você que é perfeito... — disse. — Tão lindo.
Laura esticou suas mãos até o rosto de Pietro. Sua barba estava por
fazer, mas isso não era incômodo para ela, até gostava de homens barbudos,
passava uma imagem de seriedade e virilidade. Seus dedos roçaram nos
lábios dele. Pareciam ser tão macios que ela quis prová-los naquela hora, mas
se conteve.
Eles continuaram presos na bolha de desejo, um intenso desejo que
agora os consumiam de uma maneira rápida e voraz. Ela queria que ele
falasse alguma coisa, mas pareciam que as palavras haviam sumido. Nem
mesmo Laura, que sempre tivera respostas para tudo na ponta da língua,
dessa vez preferiu se calar.
Pietro queria tê-la embaixo dele, nua, mas tinha medo de que ela
recuasse ao seu toque.
Ela respirava devagar, estava cheia de tesão, louca para que ele
rasgasse seu vestido e a penetrasse ali mesmo, no meio da sala em cima do
tapete vermelho. Seu peito largo, braços musculosos que ela só conseguia ver
por dentro das mangas de seu terno, só aumentava ainda mais a sua
curiosidade. Sua vagina pulsava, e ela já conseguia sentir a humidade se
alastrando. Sem perceber, respirou fundo.
— Tudo bem?
— O quê?
— Você respirou fundo.
— Desculpa, mas não aguento mais — Laura uniu seus lábios ao de
Pietro no beijo mais sedento que ela já dera na vida. Pietro não ficou para
trás, ele retribuiu com vontade, invadindo a boca dela com sua língua. Ele
explorava cada canto, apertava sua bunda com força. Laura gemeu em sua
boca. Suas bocas se afastaram quando seus pulmões começaram a se cansar
devido à falta de ar.
Pietro sorriu de canto. Um sorriso que fez Laura perder o resto da
sanidade que ainda lhe restara.
O calor que percorria entre eles era quase insuportável, poderia ser
comparado a um dia ensolarado do Caribe. Sem perder mais tempo, Pietro
puxou Laura para mais perto de seu corpo, ele podia sentir seu coração bater
acelerado dentro do peito, o dele estava igual. Seus dedos pousaram sobre os
lábios vermelhos de Laura, que agora estavam borrados.
— Você não sabe o quanto quis borrar esse batom.
Ela o olhava com fogo nos olhos e desejo emanando de sua pele.
Estava prestes a explodir de tanto desejo naquele momento.
— Esperou tanto tempo porquê? — Aquele havia sido o aviso que ele
esperava. Sinal verde para os dois.
Uniram suas bocas outra vez em um beijo quente. Ele a beijava como
se aquilo fosse necessário para a sua sobrevivência. Suas línguas
entrelaçadas, suas mãos passeando por seus corpos. Tudo indicava que eles
acabariam na cama, se não fosse o lado racional do cérebro de Laura gritando
que aquele provavelmente seria o maior erro da sua vida.
— Não podemos... não... podemos. — Ela o empurrou.
— Por que não?
— Eu sou... sou... — disse ela, ofegante. — Tenho que ser
profissional. Não posso dormir com o homem que está de certa forma sendo
um dos meus chefes. E também temos padrões de vida muito diferentes.
Laura se mantinha séria, mesmo que seu corpo inteiro clamasse pelo
o dele. Ela jamais havia sido beijada daquela maneira. Nunca ninguém a
havia tocado com tanto calor, desejo; vontade. Pietro era o primeiro homem
que fez alguma coisa dentro dela despertar, algo que a fez ficar assustada.
— Laura, que se foda se eu sou um dos seus chefes. Que se dane se
somos de níveis sociais diferentes. Você não consegue enxergar o quanto eu
te desejo? O quanto eu anseio pelo seu toque, pelas suas carícias. Laura, eu
quero você. Só você.
Seus olhos ardiam, ela queria chorar. Ela jamais imaginou que algum
dia receberia uma declaração como a que Pietro acabara de fazer.
Ele se recompôs, passou as mãos pelos cabelos e suspirou fundo. Foi
até Laura e a segurou pela cintura.
— Me diga que não sente isso? Essa chama.
— Pietro...
— Se você não me quiser, eu vou entender, mas quero que olhe nos
meus olhos e diga que não me deseja assim como eu te desejo.
Laura o encarou. Ela sabia que ele era demais para uma simples
stripper, um sonho em forma de homem. Ele jamais iria desejá-la caso
soubesse quem realmente era Laura. Mas seu lado carnal gritava para que ela
se jogasse nos braços fortes daquele homem e fizesse amor com ele a noite
toda, e foi isso o que ela fez. Sugando a língua de Pietro, Laura foi conduzida
até um corredor, ela o viu abrir uma porta e a puxou para dentro sem
desgrudar seus lábios.
— Deite-se — Laura ordenou a Pietro. Ele deitou na enorme cama de
casal, afastou os lençóis para o lado e fixou seus olhos em Laura, que andou
até a porta e a fechou. A luz do luar que entrava pela janela deixava o clima
ainda mais sensual.
Lentamente, ela começou a se despir. Tirou seu vestido, e o deixou
ao lado de seus pés. Logo em seguida foi a vez dos saltos, ficando por último
sua lingerie preta. Seus seios estavam quase pulando para fora, o sutiã mal
cobria seus mamilos. Ela se aproximou da cama, pegou as mãos de Pietro e
chupou seus dedos, o provocando ainda mais.
— Laura...
— Fique calado.
Ela parou o que estava fazendo e deu atenção ao sutiã. Ela abriu o
fecho detrás e deslizou as alças do tecido pelos braços. Os olhos de Pietro
quase saltaram longe ao ver os seios protuberantes dela. Ele já tinha visto
antes, mas era a primeira vez que ele os tinha somente para ele. Laura sentou
sobre a ereção de Pietro e rebolou devagar. Já era bem notável sua ereção,
mas Laura queria senti-lo antes de tê-lo dentro dela.
— Laura... — O interrompendo, Laura o beijou. Seus corpos se
desejavam. Com força, as mãos delicadas dela o tocavam.
— Tire o terno. — Assim que Pietro se livrou da peça, Laura passou
seus dedos pelo peitoral, que mais parecia ter sido esculpido pelos deuses
gregos do Olimpo. Sem esperar, ele tomou as rédeas da situação. Com um
impulso, ele a virou na cama, ficando sobre ela. Sua boca passeava da orelha
de Laura indo de encontro com seu pescoço e descendo para a clavícula. Seu
corpo todo estava arrepiado. Uma trilha de beijos era depositada sobre as
curvas perfeitas do corpo dela, a fazendo arfar. Seus lábios eram macios e
saborosos, Laura agarrou os cabelos de Pietro e o ergueu para um beijo. Sua
língua invadiu a boca dele, travando uma luta incansável por poder. Pietro
cessou o beijo para livrar-se do restante de sua roupa. Ele era ainda mais
lindo nu. Laura salivou ao ver o tamanho e grossura do membro dele.
Deitada, Pietro enfiou seus dedos nas laterais da calcinha de Laura e a puxou.
Ele estava prestes a mergulhar sua língua dentro dela, quando Laura levantou.
Mirou os olhos dele e se colocou de joelhos diante de Pietro. Agarrou seu pau
duro e o chupou aos poucos, passando a língua sobre a cabeça rosada e
deslizando até suas bolas. Seus gemidos eram baixos quase inaudíveis. Laura
continuou engolindo cada centímetro dele até desaparecer e reaparecer de
novo em sua boca. Laura estava no controle, e Pietro não se importava.
Desfrutava da sensação molhada e quente que era ter os lábios de Laura em
volta de seu pênis.
— Me fode vai. — Laura pediu com a voz falha. Pietro a ergueu
colocando-a de quatro na cama. Pegou uma das várias camisinhas dentro da
pequena cômoda ao lado da cama e vestiu em seu membro ereto. Laura
gemeu ao sentir sua língua quente em seu sexo, a lubrificando para em
seguida se perder dentro dela com estocadas fortes. Suas mãos espalmavam
sua bunda ao mesmo tempo em que puxavam seus cabelos. Pietro
transformava o que era gostoso em maravilhoso. Ele estava perdido no
desejo, quanto mais entrava e saía dela, mais ele sabia que ali era o seu lugar.
Ele saiu e a virou de barriga para cima, ficou entre o meio de suas pernas.
Suas bocas mais uma vez estavam unidas e ele a penetrando fundo. Suas
mãos seguravam os seios de Laura, que cravou as unhas nas costas dele ao
gozar.
— Você é muito gostosa... — sussurrou em seu ouvido. — Argh! —
Urrou, gozando e caindo ao seu lado na cama.
Laura já havia transando antes, mas nada se comparava aquela noite.
Havia sido rápido, mas intenso. Ele simplesmente a tinha feito se sentir uma
mulher de verdade e não uma qualquer que ganhava a vida se despindo,
porém ela sabia que aquilo não iria durar por muito tempo, uma hora ele
descobriria a verdade e tudo acabaria.
Seus braços estavam ao redor de Laura, puxando-a para mais perto de
seu corpo suado.

***

Laura já estava de pé, colocando sua roupa e calçando seus saltos


quando ele acordou.
— Você pretendia ir embora sem se despedir? — Com a voz
embargada pelo sono, questionou ao sentar-se na cama.
— Me desculpa, eu só não queria acordá-lo.
Pietro passou a mão no rosto dela. A beijou rápido, mas com paixão.
— Ontem à noite, foi a melhor da minha vida — confessou.
— Pare de mentir.
— Eu gosto de você, e queria que essa noite fosse a primeira de
várias que passaremos juntos.
Laura ponderou, ela também sentia algo por ele, sabia que era
diferente, mas tinha medo de se envolver demais e depois sofrer.
— Eu também gosto muito de você, mas prefiro que tenhamos um
pouco mais calma. Deixar rolar. Tudo bem? — Pietro assentiu. — Agora
tenho que ir para casa trocar de roupa e ver minha irmã. Não se preocupe em
me levar, já chamei um táxi.
Inclinou-se e o beijou. Suas línguas brincaram de empurra-empurra.
— Te vejo no trabalho — disse a ele.
— Tchau.
Ele à viu sair de seu quarto. Fazia tempo que não se sentia bem, era
como se Laura o tivesse curado.
Seu rosto continha um sorriso que de longe poderia ser visto. Era a
felicidade de estar apaixonado por alguém tão especial como Laura. Com a
promessa de vê-la no trabalho, ele levantou da cama e seguiu para o banheiro.
Ele precisava fazer sua higiene pessoal para poder continuar com o seu dia
normal de trabalho.

***

Juan fitava o teto da sua casa. Calado e pensativo, ele ponderava o


porquê de Laura ter saído arrumada na noite anterior. Precisava saber para
onde ela estava indo daquele jeito. Juan podia muito bem pegar seu celular,
digitar alguns números e pronto! Tudo estaria resolvido, porém, ele não fez.
Preferiu esperar para ter certeza de que não se repetiria.
— Juan! — Liza entrou em seu apartamento. Jogou a chave da moto
em cima da pequena mesa do centro da sala e sentou ao lado dele. — Você
não respondeu as minhas mensagens. O que aconteceu?
Juan revirou os olhos e bufou.
Ele gostava de Liza, a tinha como sua melhor amiga, porém, tinham
coisas que ele preferia guardar para si mesmo, ela não o entenderia.
— Nada demais, não se preocupe. — Continuou fitando o teto da sua
sala. — E você, o que veio fazer aqui?
Liza cruzou os braços. Olhou para seu rosto erguido.
— Laura — disse ela, fazendo com que ele a olhasse. — Tem muitos
clientes querendo uma noite com ela. Eles estão dispostos a pagar caro.
— Laura não está à venda — respondeu rude. — Já falamos sobre
isso.
— Eu sei, e acho uma coisa ridícula. Ela já tira a roupa mesmo, o que
custa transar? Mas isso não vem ao caso, o que eu quero dizer é que tem
vários homens a querendo como acompanhante. Pense nisso, seria bom para a
boate e até mesmo para ela.
Juan sabia que Liza estava certa, ela sempre cuidou das finanças da
boate, sabia quando era hora de abrir uma filial ou não, e não seria agora que
estaria errada. Laura era linda, com seus olhos redondos parecendo duas
jabuticabas, seus cabelos ondulados caindo em cascatas sobre seus ombros,
suas curvas definidas deixavam qualquer homem louco para tê-la. Mas ele já
não sabia se era isso o que ela queria. Depois do primeiro programa de
acompanhante que fizera, nunca mais voltaram a tocar no assunto. Juan
também torcia para que ela não tocasse, ver outro homem a tocando fez com
que seu corpo inteiro estremecesse. Não entendia o que estava acontecendo
com ele, mas era assustador.
— Vou falar com ela mais tarde, mas não é nada certo. — Outra vez,
ele voltou a fitar o teto. — Agora você pode ir. A boate não pode ficar muito
tempo sem alguém de pulso firme se não as meninas irão se matar.
Irritada com ele pelo modo como a tratou, Liza levantou. Pegou a
chave da moto e saiu sem dizer nada.
Juan tinha seus motivos para ficar calado, Laura!

***

Quando Laura percebeu o dia já tinha ido embora. O céu de Nova


Iorque brilhava devido as estrelas. Laura desceu do ônibus e andou alguns
passos até a boate. Ela estava cansada da aula de balé, fazia tanto tempo que
abandonara as aulas, que seus pés reclamavam pela má ideia.
Dentro da boate, Laura foi direto para o camarim. Algumas meninas
se arrumavam, outras apenas descansavam de suas apresentações. Deixou a
bolsa no canto da sala. Tirou seu batom vermelho e a paleta de maquiagem.
Sua roupa já estava separada sobre a cadeira preta em frente ao espelho. Uma
etiqueta indicava que aquele pacote a pertencia.
— Laura. — Juan a chamou da porta. Seus braços cruzados, seu
corpo encostado na entrada e aqueles olhos fixos. Laura não sentia mais o
arrepio de antes quando o via, não sentia mais nada. — Venha, precisamos
conversar.
Sem entender, olhou para suas amigas que a apoiaram com sorrisos.
Suas mãos deixaram sobre a mesa, a maquiagem e o batom.
O som do salto ecoava pelo lugar. Laura seguiu Juan até um dos
quartos particulares onde algumas strippers faziam seus programas. O lugar
era elegante. Cortinas vermelhas cobriam duas janelas grandes de vidro fumê.
Ela aproximou seu rosto da janela e viu que do outro lado tinha uma sala com
algumas cadeiras espalhadas.
— Esse quarto é para aqueles clientes que gostam de exibicionismo.
— Explicava ele. — Nem todas as meninas aceitam, mas tem aquelas que
gostam de aparecer.
— Você me chamou aqui para...
— Não! Claro que não. — Juan a cortou antes mesmo que ela
termine sua pergunta. — Eu a trouxe aqui para dizer que temos muitos
clientes querendo que você seja acompanhante deles. Todos estão dispostos a
pagar um valor altíssimo por você.
Dinheiro nunca funcionou com ela, mas naquele momento era tudo o
que mais precisava.
— De quanto estamos falando? — indagou, interessada.
— Tirando a dívida de seu pai, a mudança de casa, escola nova,
compras, balé... Ainda sobra um valor considerável.
Laura não tinha escolha, ela estava mesmo com a corda no pescoço.
As faturas dos cartões estavam chegando, e ela não tinha nenhum centavo
para pagar. Nicolle precisava de roupas novas e uma escola que custaria mais
caro. Sua nova casa também não seria nada barato, já que ficava localizada
em um bairro nobre da cidade.
— Aceito, mas você sabe que não me deitarei com ninguém.
— Eu sei. — Ele não a olhava. — Amanhã você terá seu próximo
programa, um modelo argentino precisa de uma mulher ao lado para posar
para fotos. Depois Liza explicará tudo, agora troque de roupa e suba no
palco.
Laura sentia que algo estava errado. Juan não era assim tão seco com
ela.
— Você está bem, Juan? — Sua voz saiu calma, quase como
melodia.
— Sim. — Não, ele não estava bem, porém, não deixaria que seus
demônios tomassem conta de seu corpo. — Agora vai.
CAPÍTULO 19

Lá estava Laura, olhando seu reflexo em frente ao enorme espelho do


banheiro do renomado e luxuoso restaurante de toda a Nova Iorque. Aquela
não era ela, não se reconhecia, sua roupa, seu cabelo e aquela maquiagem,
definitivamente, ela não se reconhecia.
Ela respirou fundo tentando não gritar. Necessitava daquele dinheiro,
suas despesas estavam altas e o que recebia trabalhando na cafeteria e
dançando na boate não estava dando para cobrir os gastos.
O aluguel da nova casa custava o dobro da antiga, o bairro era
melhor, isso ela não poderia negar, sem falar na nova escola de sua irmã que
era um absurdo de caro. Ela não tinha outra saída, teria que aceitar o trabalho
de acompanhante de luxo e os que viessem com ele.
Ela retocou a batom e guardou o pequeno objeto em sua bolsa.
— Vamos lá garota, você consegue. — Olhando para seu reflexo,
Laura estampou um sorriso forçado no rosto e saiu do banheiro.
No restaurante, seu cliente a esperava sentado em uma mesa
reservada acompanhado por outro casal. Laura desfilou com graciosidade até
a mesa, pôs a mão no ombro do homem que estava pagando para tê-la
naquela noite e como o combinado, o beijou no rosto.
— Que bom que voltou, meu amor — disse ele. — Estávamos
falando aqui como sua beleza é rara. Nem parece real.
— Assim fico tímida. — Laura sentou ao seu lado. — Meus avôs são
cubanos, então creio que puxei ao lado da família de minha mãe.
A morena sorria sem mostrar os dentes enquanto conversavam sobre
coisas banais como por exemplo; o fato de que aquela semana eles não iriam
à festa de uma modelo famosa que estava de passagem por Nova Iorque.
— Então, Jhonny... — Tomás, o homem que estava ao lado da ruiva
alta falou. — Como vocês se conheceram. Porque cá entre nós, você sempre
teve um dedo podre para mulheres.
Todos riram.
— Laura e eu nos conhecemos quando ela foi ao escritório do meu
empresário. Um olhar e nos apaixonamos na mesma hora.
Laura queria rir, falar que nem se ele fosse o último homem da face
da terra ela se apaixonaria por ele. Que só estava lá porque precisava mais do
que nunca do dinheiro.
Jhonny era um homem alto, forte e bastante bonito, mas tinha um ar
de perigoso, algo em seus olhos a deixava aterrorizada. Ela não queria de
jeito nenhum ter que ir a lugar com ele, mas o acordo se expandia além
daquele restaurante.
O jantar deu continuidade. Ela ainda mantinha um sorriso forçado
nos lábios, enquanto os demais conversavam. Tentava não pensar muito onde
estava, ou o que faria depois quando saíssem daquele restaurante. Porém,
Laura sabia que era preciso. Ela engoliu seco quando sentiu mais uma vez a
mão de Jhonny, pairar sobre sua coxa. Os dedos grossos do homem, subiam
lentamente o vestido.
— Você não sabe as coisas que estou pensando em fazer com você
— sussurrou ele para que somente Laura pudesse ouvir.
Ele voltou sua atenção para o outro casal e se desculpou por terem
que ir. Inventou uma desculpa dizendo que Laura não se sentia bem, e assim
foram embora.
A todo o momento, Jhonny acariciava Laura. Assim que chegaram no
carro, os olhares de quem passava por ali ficavam neles. Laura não sabia se
era seu vestido vermelho com um decote enorme na frente que deixava seus
seios amostra, ou o carro preto luxuoso de duas portas.
Jhonny abriu a porta do carona para Laura. Segurando a barra de seu
vestido longo, ela entrou. O nervosismo começava a dominar o corpo dela.
Aquela era a primeira vez que ela faria sexo com alguém por dinheiro. Ela
não se sentia bem, parecia que seu corpo estava traindo suas palavras. Laura
sempre dizia que jamais faria sexo por dinheiro. Que jamais venderia seu
corpo como se fosse um objeto, mas aqueles eram tempos passados. Agora,
tudo estava diferente, inclusive ela.
Jhonny deu partida no carro e logo estavam ganhando as ruas de
Nova Iorque.
Ela não sabia para onde ele estava indo. Apenas apoiou sua cabeça no
vidro do carro e deixou que ele a guiasse.
Os carros ficavam para trás quando o potente Bugatti passava.
Aquele carro era realmente uma máquina. As árvores pareciam apenas
rabiscos em cores que ela nem conseguia decifrar. O veículo estava em alta
velocidade, o som do motor a deixava um pouco assustada, mas seu maior
problema não era aquele, e nem Laura sabia.
Alguns minutos se passaram até que Laura percebeu que o caminho
que Jhonny fazia os levavam para fora da cidade. A rua já não era mais
asfaltada, agora buracos os faziam balançar de um lado para outro.
— Onde estamos? — Pela primeira vez, Laura disse alguma coisa
desde que entrara no carro. — Jhonny...
— Você logo saberá. — Ele não a olhou. Seus olhos se mantinham
fixos na pequena estrada de barro.
Um frio estranho atingiu Laura. Ela sabia que havia algo diferente no
olhar do homem que estava ao seu lado.
— Pare o carro. — Pediu. — Jhonny, pare o carro!
Laura não teve tempo de piscar. Tudo acontecera rápido demais,
quando ela notou, já estava cuspindo sangue.
Jhonny era uma pessoa nervosa. Todos ao seu redor sabiam que o
homem de boa postura e sorriso largo, tinha problemas de personalidade.
Porém, Laura não tinha como correr. Estava presa naquele carro, e tudo o que
ela conseguia pensar era em sua irmã.
Laura não chorou, não gritou, não fez nada.
“O cliente sempre tinha razão”.
Era isso o que todas as meninas que trabalhavam na boate diziam, e
ela tentava fazer com que aquela pequena e idiota frase fizesse sentido.
O carro continuou a seguir pela estrada de barro até que de longe, ela
avistou uma casa que parecia ser pequena e velha. Ela soltou um logo e baixo
suspiro quando Jhonny parou o carro em frente à casa. Saiu do carro e foi em
direção a porta do carona. Laura saiu de cabeça baixa. Ela não conseguia
olhar para ele sem ter medo ou querer sair e pedir por socorro.
Eles caminharam em silêncio até a entrada da velha casa. O rugir da
porta ao abrir parecia com os dos vários filmes de terror que seu pai e ela
eram acostumados a assistirem. O cheiro de mofo e podridão invadiram as
narinas dela, fazendo com que uma ânsia de vômito a atingisse com força
total. Elevou sua mão até a boca e forçou a comida a não subir.
— Essa casa era dos meus pais. — Jhonny começou a falar assim que
empurrou Laura para dentro da casa. — Quando minha irmã e eu éramos
pequenos, nossos pais nos traziam aqui todo o natal. Era bom ficar longe da
cidade grande, e das pessoas que não queriam o nosso bem.
Laura abraçou seu corpo. Encostou na parede suja e o escutou sem
falar nada.
Jhonny trancou a porta. Guardou a chave dentro do bolso da calça
social e ligou a luz da sala.
— Quando completei dez anos, meu pai foi embora com uma mulher
igual a você.
— Igual a mim? — perguntou ela, sem sair do lugar.
Ele a olhou com raiva. Seus olhos tinham ganhado uma nova cor; um
vermelho intenso.
— UMA MULHER DA VIDA! — gritou. — Uma prostituta. Uma
mulher igual a você acabou com a minha família. Destruiu o casamento dos
meus pais.
Ele gritava, andava de um lado para o outro puxando os cabelos.
Enquanto Laura chorava em silêncio, com medo. Seus olhos procuravam por
uma saída, mas o local parecia estar todo trancado. Nas janelas tinham
madeiras que as prendiam. A porta da frente estava trancada e a chave com
Jhonny. Havia um corredor escuro, mas Laura não conseguiria passar por ele.
— Eu não fiz nada — falou ela, baixinho.
— Vocês são todas iguais! — Jhonny correu até ela, e com força a
jogou no chão. Ele estava transtornado, completamente insano. Com a moça
no chão, ele prendeu seu corpo contra o seu e estapeou o rosto dela; uma,
duas, três vezes. Suas rápidas mãos, rasgaram o vestido de Laura, a deixando
com os seios expostos. Ele os apertou forte, e Laura não conseguiu controlar
o grito. Estava doendo, e ela era fraca demais para tentar se soltar.
— Por favor... Por favor, pare. Por favor...
— CALA A BOCA! — Sua boca encostou no ouvido de Laura. —
Eu odeio todas as mulheres que são iguais a que arruinou a minha família.
Vocês são uma aberração. Coisas desprezíveis.
Jhonny calou-se. Encarou uma Laura chorosa e gargalhou. Com as
duas mãos ao redor do pescoço começou asfixiá-la. Ele estava fora de si, via
em Laura uma pessoa que havia destruído sua família. Mesmo ela não sendo
essa pessoa, o que ela fazia com seu corpo, a maneira como usava-o, isso o
deixou furioso. Uma fúria sem explicação, pois não era Laura a causadora de
todo o seu sofrimento.
— Você não faz ideia de como eu te odeio. Como odeio pessoas que
se vendem por alguns míseros trocados. Minha família foi arruinada e eu
farei a mesma coisa com cada mulher daquele antro onde você diz trabalhar.
OUVIU?
Laura se debatia em vão. Jhonny era forte o bastante para contê-la.
Não satisfeito com o sofrimento dela, ele soltou seu pescoço e começou a
desferir socos nas costelas da mulher. Laura gritava por ajuda, implorava para
ser salva, mas ela sabia que aquele seria o seu fim. Já havia aceitado a morte,
abriu a porta para que ela a levasse, assim liberando toda sua dor. Laura
estava prestes a fechar seus olhos para sempre quando um estrondo alto a
trouxe de volta à vida.
— Laura!
Ela não conseguiu ver o homem que a chamava, porém, conhecia
muito bem aquela voz. Era ele. Juan!
Juan sabia que Jhonny não um homem comum, igual aos outros
clientes da boate. Ele frequentava o lugar há algum tempo, mas nunca pagou
por programas. Nunca se aproximou das dançarinas. Era estranho, porém, ele
pagava todos os dias para ver Laura dançando. Quando ele solicitou por um
programa com ela, Juan não aceitou. Disse que ela não era igual as outras,
que estava ali somente para dançar, mas Jhonny foi insistente, e quando
ofereceu a maior quantia de dinheiro já pago por alguma das dançarinas da
boate, Juan aceitou. Ele estava com raiva de Laura sem nem saber o motivo.
E achou que aquela seria uma ótima oportunidade para castigá-la. O que ele
não sabia era que aquela poderia ser a última noite de Laura, viva.
Ele os seguiu até o restaurante. Esperou do lado de fora a uma boa
distância para não ser percebido. As horas foram passando até que
finalmente, eles saíram. Juan subiu na sua moto, colocou o capacete e
continuou os seguindo. Assim que o carro entrou na pequena estrada de
barro na saída da cidade, Juan acionou seus comparsas. Algo estava errado,
mas ele esperaria o momento certo para agir, e foi quando ele ouviu os gritos
de Laura vindo da velha casa. Ele não pensou duas vezes, derrubou com um
chute a porta de madeira e correu para cima do homem que tentava matá-la.
Jhonny não correu. Ele enfrentou Juan assim que ele acertou seu
rosto com o primeiro soco. Os dois começaram a travar uma luta corporal,
socos, chutes e cabeçadas eram dadas. Juan gritava de raiva enquanto socava
o rosto de Jhonny, que já estava fraco. Com um golpe de jiu-jitsu, ele aplicou
a guilhotina, envolvendo a cabeça de Jhonny com um dos braços enquanto o
outro braço fechava a chave, pressionando a cabeça dele e usando o quadril
para exercer pressão.
Não demorou muito para que três homens de Juan chegassem no
local. Eles os separaram. Juan olhou para o resto do que um dia já havia sido
um homem, segurou seus cabelos.
— Você nunca mais fará mal a mulher alguma. — Um dos homens
que estava com Juan, o entregou a arma prateada que tinha caído de sua
cintura quando ele derrubou a porta. Apontou para a cabeça de Jhonny e com
alegria, puxou o gatilho.
Laura ouviu o som de uma arma disparando. Viu um corpo caindo
alguns metros ao seu lado. Ela queria saber quem era, precisava saber se Juan
estava bem, mas seus olhos estavam pesados demais e inchados para focar
em alguém. Ela deixou seu corpo ser levado pela sensação de alívio que era a
morte, e fechou os olhos.
CAPÍTULO 20

Laura piscou algumas vezes, tentando fazer com que seus olhos se
acostumassem com a claridade. Seu corpo doía, sua cabeça latejava tanto que
ela jurara ter uma bateria dentro. Tentou levantar o seu corpo, porém, mãos
fortes a fizeram retrair. Lutando contra a dor em sua cabeça, ergueu o rosto e
abriu lentamente seus olhos.
— Pietro? — disse ela, olhando ao redor. Laura demorou para
assimilar as coisas e perceber onde estava, porém, quando sua mente a
lembrou de como havia parado naquela cama de hospital, seu corpo entrou
em pânico. — Não! Tira a mão de mim. Me solta.
Laura chorava e gritava ao mesmo tempo. Flashes da noite anterior
invadiram sua mente com força total. Ela não queria ter lembrado, não queria
ter passado por tudo aquilo. Seus braços se debatiam enquanto Pietro tentava
acalmá-la.
— Calma, Laura. — Tentou. — Estou aqui com você, nada e nem
ninguém vai te fazer mal. Eu prometo.
Os gritos puderam ser ouvidos do outro lado da porta, chamando
assim, atenção dos enfermeiros que passavam por ali.
Pietro foi instruído a esperar lá fora, enquanto ela fosse sedada.
Ele caminhou até uma máquina de lanches, encostou sua cabeça no
vidro e com força, socou. Ele queria que a dor física tomasse conta da dor
emocional. Pietro estava se sentindo culpado por não ter falado a verdade
para Laura desde o início. O medo de perdê-la falara tão alto que acabou
fazendo com que ele se calasse.
Um dos seguranças do hospital correu em direção do homem
descontrolado. Pietro não o viu chegar, continuou a bater na máquina,
descontando sua raiva sobre a máquina.
— O senhor está destruindo um objeto do hospital. Terei que pedir
para se retirar. — A voz firme do segurança fez com que ele parasse. O
encarou e não disse nada, passou por ele indo direto para o quarto onde Laura
estava. — Senhor?
— Eu pago. Pago o que quebrei. Mas não posso deixá-la sozinha
aqui, não depois do que ela passou. — Com o coração estraçalhando em mil
pedaços, ele entrou no quarto.
Ela não se debatia mais. Não falava, e nem estava acordada. Apenas
dormia tranquilamente, descansando seu corpo completamente machucado.
Pietro sentiu seu corpo caindo aos poucos, seus olhos fraquejaram ao lado da
cama.
“Não a leve, meu Deus.”
Repetia a frase como se fosse uma oração. Vê-la machucada e imóvel
era como se o chão se abrisse e ele fosse sugado.
— Juro que ninguém mais irá encostar um dedo sequer em você. —
Pietro tocou o rosto ferido de Laura. Seus olhos estavam roxos e inchados ao
redor, sua boca com dois cortes laterais, sem falar nos vários hematomas pelo
corpo. Laura parecia outra pessoa ali deitada naquela cama branca de ferro.

***

As horas se passaram até que Laura avistou Pietro saindo do


banheiro. Faziam poucos minutos que ela havia acordado. Sentou na cama e
olhou para seus braços cheios de fios.
— Laura! — Pietro exclamou, correndo em sua direção. — Não se
altere, se não vão sedá-la de novo.
A mulher assustada que estava diante de Pietro era a sombra do que
um dia Laura havia sido. Não por sua beleza ou curvas, isso continuava o
mesmo, mas, sim pelo semblante apavorado. Ela olhava tudo ao seu redor,
como se procurasse por algo, ou alguém.
— Como vim parar aqui?
— Alguém me ligou dizendo que uma moça machucada, fora largada
na rua — Pietro falou. Sentiu o gosto da bile subir por sua garganta. Ele
odiava saber da verdade e não poder contar. Detestava saber que por causa do
seu egoísmo, Laura quase havia morrido. Ele se detestava! — Meu número
estava na sua discagem de emergência.
Laura forçou sua mente a lembrar do ocorrido, até que suas tentativas
deram certo. O rosto do seu algoz invadiu suas lembranças, os socos e
palavras ofensivas faziam com que ela quisesse chorar. Jamais pensou que
viveria momentos de horror como aqueles. Saber que alguém a queria contra
a sua vontade era repugnante. Já não bastava ela ter que se deitar com
homens por dinheiro, agora corria o risco de ser violentada todas as vezes que
concordasse em ser acompanhante de luxo ou algo a mais.
— Onde está Nicolle? — Sua voz saiu falha, sofrida.
— Está na minha casa. Contratei uma babá para que ficasse com ela.
Fique tranquila, sua irmã está bem.
Laura só ficaria tranquila quando a visse sã e salva ao seu lado.
Pietro segurou sua mão, acariciou seus cabelos pretos, tentando de
alguma maneira passar segurança e conforto. Ele queria beijá-la, tocar em seu
corpo e fazer com que ela nunca mais se sentisse só, porém, aquele não era o
lugar, muito menos o momento.
— Eu quero ir embora.
Pietro não sabia o que falar. Ele não fazia ideia do que Laura estava
passando, e deu graças a Deus por não ter que falar nada quando uma das
enfermeiras entrou no quarto.
— Vejo que a nossa bela adormecida já está melhor — disse ela,
sorrindo. — Vamos cuidar desses machucados e fazer novos curativos.
— Quando vou poder ir para casa?
Enquanto a enfermeira limpava as feridas dela, Pietro olhava a rua
pela janela do quarto. Ele sabia que Juan estava lá fora, sabia que ele não a
deixaria sozinha no hospital, mas não gostava do fato de tê-lo por perto. Se
não fosse por ele, Laura não estaria daquele jeito, machucada por fora e
despedaçada por dentro.
A enfermeira finalizou os curativos e saiu do quarto, deixando Laura
e Pietro sozinhos. Ele não a encarava, não tinha coragem suficiente para olhar
em seus olhos. Saber de tudo e não poder contar nada. Pietro tinha medo de
perdê-la quando a verdade sobre quem era sua mãe viesse à tona. Se não
fosse por ela, a mãe de Laura estaria viva, seu pai estaria em casa e ela não
precisaria trabalhar naquela boate.
— Pietro. — A voz fraca e suave dela o fez olhá-la rápido. — A
enfermeira disse que talvez eu tenha alta amanhã, vai depender do resultado
da minha tomografia.
— Vai dar tudo certo. — Seus olhos a encontraram. Ele detestava
estar tão perto dela e ao mesmo tempo tão distante. — Mas te peço apenas
uma coisa.
— O quê?
Andou lentamente até a cama, passou os dedos pelo rosto machucado
dela e ali, em seus lábios, depositou um rápido beijo.
— Fique na minha casa enquanto se recupera. Não terei paz se souber
que está sozinha. Você e sua irmã serão bem-vindas. Por favor, Laura. Pela
Nicolle... Por mim.
Laura sentiu algo se quebrando dentro de seu peito. Era uma sensação
estranha. Um sentimento de alegria e tristeza. Ela não o merecia, não era
digna de um homem tão bom igual a ele. Seu corpo era sujo, sua alma era
podre, ele merecia uma mulher que não precisasse vender o corpo para
ganhar a vida. Ela sentia que jamais seria digna de alguém, muito menos de
Pietro.
Com algumas lágrimas salpicando em seus olhos, ela abriu um
sorriso e aceitou o convite de Pietro.
Não tão longe dali, Juan observava a movimentação do hospital. O
entra e sai de pessoas, o deixava irritado. Ele queria saber como Laura estava,
se ela precisava de alguma coisa ou se já tinha acordado. Porém, sabia que se
entrasse naquele hospital, tanto ele quanto as pessoas que trabalhavam ao seu
redor, sofreriam consequências. Juan não podia dizer a ninguém o que
realmente havia acontecido com Laura, ele teria que dar explicações o que
levaria a polícia até ele. Mesmo sendo um dos homens mais perigosos das
ruas de Nova Iorque, tinha que manter a descrição. Chamar atenção da polícia
para sua boate atrapalharia todos os seus negócios, todos ilegais.
Irritado, Juan sacou o celular do bolso e ligou para Liza.
— O que foi, Juan? — disse ela, um pouco sonolenta. — Você sabe
que horas são?
— Ouça bem. Preciso que faça um trabalho para mim. Agora!
Ele passou os próximos cinco minutos explicando o que Liza teria
que fazer. Ela era a única em quem ele confiava o bastante para contar tudo o
que estava acontecendo.
Assim que encerrou a ligação, ele guardou o celular no bolso de sua
jaqueta, agachou atrás da moto e esperou até que Liza chegasse.
Dentro do hospital Pietro e Laura conversavam como seria a breve
estadia dela e de sua irmã. Laura não queria aceitar nada do que ele a
oferecia, desde remédios até fisioterapia se fosse necessário. E então foram
interrompidos pela chegada do médico. Um homem jovem e bonito. Cabelos
compridos presos em um coque estilo samurai.
— É muito bom vê-la sorrindo, Laura — disse ele. — Eu sou o
Doutor Andrews, e estou cuidando de você.
— Obrigada, Doutor.
Ele sorriu amigável. Olhou os exames que estavam em suas mãos e
encarou Laura.
Pietro não saiu do seu lado. De mãos dadas, ele acariciava com o
polegar a mão da moça, tentando de alguma maneira trazer um pouco de
conforto e segurança.
— A tomografia não acusou nada. — Andrews sorriu. — Mas irei
pedir que você repita o exame daqui uns meses só por precaução.
— Ela fará, eu garanto — Pietro falou sério. Cuidaria dela e faria o
possível para vê-la bem.
— Ótimo. — Ele olhou outro exame. — Você quebrou duas costelas
e teve uma rotura parcial no tendão de Aquiles, onde o musculo não se rompe
completamente. Felizmente, não irá precisar de cirurgia, mas será obrigatório
fazer as seções de fisioterapia e manter repouso se quiser voltar a andar
direito. Evitar ao máximo colocar o pé no chão para não causar uma lesão
mais grave. — O médico anotou algumas informações no prontuário de
Laura antes de prosseguir. — Amanhã você já poderá ir para casa, mas antes
eu queria fazer uma pergunta. — Laura olhou de Andrews para Pietro. — O
que aconteceu com você?
Ela lembrava de algumas coisas, porém não podia contar nenhuma
delas; sabia quem havia feito aquilo. Sabia também que fora salva por Juan,
mas também era outra coisa que ela não podia contar.
— Foi uma tentativa de assalto, mas quando os bandidos viram que
eu não tinha nada para ser roubado eles... Eles...
— Se o senhor não tem mais nada para perguntar, peço que a deixe
descansar um pouco.
Andrews não disse nada, apenas sorriu e deixou o quarto.
Laura agradeceu silenciosamente pela ajuda de Pietro. Deitou seu
corpo cansado sobre a cama fria do hospital e fechou seus olhos. Ela estava
cansada e com dores, precisava descansar.
As horas passaram, e Laura continuava a dormir. Pietro deixou o
posto de segurança que ele mesmo havia designado para si mesmo, e foi até
sua casa. Ele tinha que ver como Nicolle estava, precisava pegar algumas
peças de roupas para Laura e deixar tudo pronto para a sua chegada no dia
seguinte. Enquanto ele estava longe, Liza chegava ao hospital. Avistou Juan
de longe e entrou. Andando sobre seus saltos finos, ela foi até o balcão e
pediu informações sobre Laura.
— Temos ordens de não deixar ninguém subir. — Informou uma das
atendentes.
— Quem deu essa ordem?
— O namorado dela. Só ele pode liberar a sua passagem, senhorita...
— Meu nome não importa. Quero saber o nome desse tal namorado
de Laura. Vamos!
— Senhorita, por favor estamos em um hospital. Peço que faça
silêncio, ou serei obrigada a chamar os seguranças.
Liza a olhou furiosa. Ninguém falava assim com ela e saía ileso.
— Vou perguntar só mais uma vez, quero saber qual é o nome do
namorado de Laura — Liza falou séria. Seus olhos estavam vermelhos e suas
narinas inflavam de raiva.
A atendente ficou com medo. Digitou algo no computador e logo
respondeu.
— Pietro Williams.
Liza saiu do hospital pensando seriamente se contava ou não para
Juan que sua tão querida Laura estava namorando. Ela desconfiava de que
tinha algo rolando entre eles dois, mas não ousou perguntar a Juan. Liza sabia
que ele não era um homem de se abrir e falar de sentimentos, nem mesmo
com ela. Desde que o conhecera, ela soube que ele era duro e amargo, mas
com a chegada de Laura, ela viu o homem temido por muitos, mudar.
Juan esperava ansiosamente pela volta de Liza, e assim que a viu
estranhou a rapidez.
— Voltou rápido demais. O que aconteceu? — perguntou ele. Ela
ficou calada, ainda pensando nos prós e contras do que ela tinha para contar.
— Liza!
— Não me deixaram subir. Essa foi a ordem dada ao hospital.
Juan não entendeu.
— Ordem de quem, Liza?
Ela mordeu o lábio inferior.
— Ordem de Pietro Willians.
— Mas quem é esse homem? Vamos, Liza... Me dê respostas
completas e não...
— Ele é o namorado de Laura!
Juan se calou. Olhou para Liza tentando assimilar o que tinha
acabado de ouvir. Laura estava namorando e ele só havia descoberto naquele
momento.
“Pietro Willians...”
— Juan, eu...
Ele não ficou ali para ouvir o que Liza tinha a falar. Ele estava
transtornado por dentro, se sentia traído. Subiu na sua moto e correu pelas
ruas de Nova Iorque sentindo o vento bater em seu rosto.
— Pietro — disse ele. — Você não sabe com que mexeu.
CAPÍTULO 21

Laura estava feliz por estar saindo do hospital. Ela estava com
saudades de sua irmã, dá risada contagiante da pequena travessa; dos filmes
infantis que assistiam juntas.
Sendo guiada por Pietro, Laura fora conduzida até a saída na cadeira
de rodas. Sem poder andar direito, ele a ajudou a entrar no carro, afivelou o
cinto de segurança dela e assumiu a direção do carro.
— Você sabe que isso é demais, não é? Não precisa de...
— Laura, eu serei seu enfermeiro, motorista, amigo e tudo o que o
mais que quiser.
Laura sabia o que Pietro queira dizer, ela também queria que ele
fosse tudo para ela, mas não era merecedora. Assim que estivesse recuperada,
voltaria aos seus afazeres na cafeteria e na boate. Pensar na boate a fez
lembrar de Juan. Desde quando tudo aconteceu, ela não tivera mais notícias
dele. Por um lado, estava feliz por ter se afastado daquele lugar e de Juan,
mas por outro sentia saudades das amigas que acabara fazendo.

***

A cabeça de Juan não parava de girar. Ele queria confrontar Laura,


pedir explicações. Não havia motivos para que ela escondesse as coisas dele,
mas ele não podia cobrar respostas dela como se eles fossem algo um do
outro, pelo menos não naquele momento.
Parou algumas quadras antes do seu destino. Ele queria caminhar,
esfriar a cabeça. Melhor do que qualquer pessoa, ele sabia que jamais deveria
resolver algum problema de cabeça quente. Uma palavra pode acarretar
muitas coisas, e o que ele queria naquele momento, era pensar em como se
vingaria da traição de Laura.
A passos largos, ele caminhava sobre a calçada do prédio de Pietro.
Em poucos minutos, Juan já sabia de tudo sobre o jovem e sua família, coisas
que provavelmente Laura não sabia. Juan usaria todas as suas armas, e na
hora certa, aplicaria seu golpe final.
Ele parou na frente do prédio, olhou para o alto e voltou até onde
tinha deixado a sua moto.
“Logo vocês terão o que merecem.”

***

Dentro do carro, Pietro dirigia concentrado, enquanto Laura tentava


expulsar de todas as maneiras possíveis as imagens da noite de amor que teve
com Pietro. Ela sentia saudades do toque gentil do homem que a tratava tão
bem. Sentia falta dos beijos quentes e das carícias que ele fazia em seu corpo.
— Um chocolate pelos seus pensamentos — disse ele, rindo.
— Espero que o chocolate seja bom.
— O melhor para você.
Laura sorriu.
— Estou relembrando a noite que estive em seu apartamento... —
Suas bochechas ganharam uma tonalidade diferente.
Ele a olhou através do retrovisor e com um olhar um tanto
apaixonado, voltou a dirigir até chegarem em seu destino.
Assim que entrou na sala do apartamento dele, ela foi surpreendida
pelos gritos de Nicolle, que estava ao lado de uma senhora de cabelos
brancos amarrados em um perfeito coque.
— Laura! — Nicolle correu até a irmã que, com a ajuda de Pietro se
mantinha em pé. — Que saudades de você.
Nicolle abraçou a cintura da irmã e ali chorou.
Laura sentiu seu coração se partir, ou pelo menos o resto que sobrou
dele. Vê sua irmã chorar a fazia entristecer-se. Ela deveria estar ao lado da
menina, deveria ampará-la quando precisasse.
Sentindo dores nas costelas, ela tentou se abaixar para ficar na mesma
altura da irmã, porém foi vencida pela dor. Respirou fundo tentando não
gemer, ela não queria que sua irmã a visse sofrer ainda mais. Sorriu, e
segurou o rostinho angelical da menina a fazendo olhá-la.
— Eu prometo a você que jamais voltarei a ficar tanto tempo fora de
casa. Me perdoa?
Nicolle balançou a cabeça concordando e voltou a abraçá-la.
Laura sentira que desabaria a qualquer momento no chão de tanta dor
que estava sentindo, mas se manteve forte até que Pietro pegou Nicolle no
colo e começou a correr com ela pela sala.
— Deixe-me ajudá-la, senhorita. — A senhora que antes estava
distante se propôs ajudar. Laura apoiou seu corpo nela e se escorou. Andaram
até o sofá onde Laura sentou-se e sentiu seu corpo relaxar. — Sou a nova
funcionária do Senhor Pietro, pode me chamar de Miranda.
— Obrigada por cuidar da minha irmã, Miranda. Ela é tudo o que
tenho nessa vida.
— Vou trazer um chá para a senhorita. Fique aqui descansando.
Miranda deixou Laura no sofá enquanto preparava um chá.
Os olhos de Laura estavam pesados devido aos remédios. Ela sentia
sono praticamente o dia todo, e isso a deixava irritada. Não estava
acostumada a ficar parada, ela fora criada desde criança a nunca se deixar
acomodar. Ela só conseguia pensar em como liquidaria sua dívida com Juan.
Teria que dar um jeito de falar com ele, mas estava sem o seu celular.
Assim que Pietro voltou para a sala, ela perguntou se ele sabia que
fim havia tomando o seu aparelho celular, e o alívio percorreu seu corpo
quando ele a entregou. Lá estava todos os seus contatos, inclusive o de Juan.
Ela iria ligar e explicar o que havia acontecido. Ela só torcia para que ele
aceitasse o afastamento dela por algum tempo.

Alguns meses depois.

A cafeteira era perto do prédio onde Pietro morava, bastava caminhar


alguns minutos para chegar ao local. O lugar havia entrado na fase final da
reforma. As paredes tinham ganhado cores vivas e alegres. As janelas
continuavam as mesmas, apenas a porta tinha ganhado uma cara nova. O
lugar estava muito mais aconchegante do que antes, as cadeiras de madeiras
acolchoadas, os sofás de cantos que proporcionavam um conforto maior aos
clientes.
O cheiro de café fresco no ar atingiu Pietro assim que ele passou pela
entrada.
— Como ela está? — Koll perguntou assim que ele entrou em seu
escritório.
— Praticamente curada. Já consegue andar sozinha sem sentir dor ou
medo de cair. Está fazendo tarefas de casa.
— Isso é uma ótima notícia — comemorou Koll.
— É... Mas ela irá embora hoje. Eu havia me acostumado com a
presença delas.
A voz de Pietro se encheu de tristeza igual seu rosto.
— O importante é que ela está bem. Você esteve ao lado de Laura
todos os dias em que ela precisou. Ajudou nas seções de fisioterapia e cuidou
da irmã. Deveria se orgulhar disso. — Koll apertou o ombro esquerdo dele.
— Depois passarei na casa dela para vê-la, mas agora tenho que atender os
clientes. Isso aqui sem a Laura virou um caos total. Só aquela mulher sabe
como domar esses clientes.
Rindo, Koll voltou para detrás do balcão.
Pietro não demoraria muito, ele precisava apenas fazer algumas
ligações e ver se a reforma estava indo conforme planejara.

***

Laura engolia com força o nó que se formava em sua garganta a cada


tic-tac que o relógio fazia. Suas mãos voltaram a suar, seus olhos se
encheram lágrimas que estavam prestes a serem derramadas.
— Bom dia, senhorita Laura. — A voz de Miranda fez com que suas
lágrimas freassem. — O café da manhã já está servido. Sua irmã a aguarda.
Ela suspirou, triste.
— Obrigada por tudo, Miranda. Sentirei saudades. — Levantou-se da
cama e abraçou Miranda, que não pensou duas vezes e retribuiu o gesto.
— Também sentirei saudades, senhorita Laura. Prometa-me que trará
Nicolle para me ver.
— Nem precisa pedir, Miranda, ela à tem como uma avó.
Enxugando o rosto com as mãos, Laura sorriu e seguiu até a sala de
jantar onde eram servidas as refeições.
Antes que Laura pudesse chegar até a sala de jantar, a porta se abriu
revelando um Pietro exasperado. O suor escorrendo por sua testa o fazia
parecer estar correndo uma maratona.
— O que aconteceu? — indagou, indo em sua direção.
Pietro encurtou a distância entre eles. Parou diante de Laura e a
segurou pela cintura. Seus olhares se conectaram, e seus corpos pareciam agir
da mesma maneira.
— Laura, eu não poderia deixá-la ir sem antes contar o que sinto por
você. — Houve uma pausa. — Esses meses que esteve aqui foram os
melhores de toda a minha vida. Eu amo acordar todas as manhãs e vê-la ao
lado de Nicolle no sofá. Amo ouvir o som da sua risada. Amo quando você
faz birra com Miranda para decidir quem irá fazer o jantar. Eu amo tudo em
você. Eu te amo, Laura.
Ela não esperava por uma declaração. Não sabia o que dizer. Pietro
estava em sua frente dizendo que a amava e ela não sabia como reagir.
No início ela pensou estar sonhando, mas quando sentiu o toque
quente das mãos de Pietro em seu rosto, percebeu que era realidade.
— Você me ama? — questionou, sem acreditar. — Pietro eu...
— Não precisa dizer nada agora, não quero forçá-la, mas eu
precisava te dizer isso. Laura, eu te amo desde a primeira vez que te vi.
Pietro tocou os lábios de Laura com os dele. Um beijo calmo e lento
deu início a uma troca de carícias. Suas línguas brincavam de esconde-
esconde. Suas mãos estavam descontroladas, subindo e descendo sem parar.
Pietro já podia sentir seu pênis enrijecer e Laura sentia sua intimidade ficar
molhada. Eles estavam prestes a se entregarem ao calor do momento quando
Nicolle surgiu correndo.
— O que vocês estão fazendo? — perguntou a garotinha ingênua.
— Eu só estava falando com o Pietro que vamos sentir saudades dele.
— Rapidamente, Laura inventou uma mentira, que de certa maneira era
verdade.
— Verdade Pietro, vou sentir saudades das historinhas que você
contava antes de dormir. — Nicolle foi até ele que a pegou em seus braços.
— Promete que você não vai me esquecer?
— Eu jamais esqueceria uma menina tão linda e especial como você.
Além do mais, eu sempre irei visitá-la e você sempre será bem-vinda aqui.
Nicolle ficou animada com as palavras dele, em seguida começou a
falar de como seria legal se eles morassem juntos para sempre. Laura sorria,
mas não se pronunciava. Ela não queria dizer nada que pudesse magoar
Pietro. E por mais que ela quisesse mergulhar de cabeça nesse sentimento que
ambos sentiam, não seria capaz de enganá-lo.
Depois do café da manhã, ele levou Laura e Nicolle para casa. Ele
não queria que elas fossem embora, mas era uma decisão de Laura e não dele.
Tantos dias já tinham se passado que Laura nem lembrava mais de
como era seu novo apartamento. Tudo estava limpo e cheirando a limpeza,
cortesia de Miranda que havia limpado o local para elas.
Pietro não demorou, tinha que voltar para a cafeteira e resolver um
problema com a parte elétrica do local. Ele deixou Laura com a promessa que
passaria para buscá-las no fim de semana. Se despediram com um beijo e
cada um foi para o seu lado.
Laura mal teve tempo para tomar banho. Seu celular começou a
tocar.
Juan. Piscava no visor do aparelho.
Ela respirou fundo, e atendeu.
— Oi, Juan.
— Laurinha, como está? — Com uma falsa alegria na voz, Juan
perguntou. — Nós aqui da boate sentimos a sua falta. Principalmente os
clientes.
— Estou melhor, posso voltar hoje mesmo se quiser.
— Ótima notícia! — vibrou ele. — Venha no mesmo horário. Ficou
muito tempo sem trabalhar, sua dívida aumentou um pouquinho, já que fui
obrigado acrescentar juros pela falta de pagamento.
— Juan, eu...
— Venha hoje, e eu posso pensar em algo para abater os juros da sua
dívida. — Laura mal teve oportunidade de dizer nada, a ligação fora
encerrada.
Ela sabia que teria que voltar a dançar na boate, Juan não a deixaria
ficar mais tempo em casa sem render nenhum lucro.
Triste por ter que voltar a deixar sua irmã todas as noites, Laura
largou o celular em cima do sofá e seguiu até o banheiro.
O dia passou rápido, e ela reclamou por isso.
Quando ela teve que contar a Nicolle que voltaria a trabalhar naquela
noite, a menina chorou. Laura entendia a irmã, sabia o quanto era ruim ficar
sozinha, mesmo tendo alguém do seu lado. Mas não tinha o que fazer, era
obrigada a dançar, ou coisas ruins poderiam acontecer a sua família.
Com a mochila nas costas, Laura deixou Nicolle sob os cuidados de
uma babá contratada.
Ela seguiu de táxi até a boate, que mais uma noite estava lotada.
Muitos ali não sabiam que o verdadeiro espetáculo acontecia atrás da parede
preta.
Laura foi recebida com beijos e abraços pelas colegas de trabalho,
enquanto Juan a observava de longe. Laura o encontrou a olhando, sorriu sem
jeito para ele que fez um sinal com a mão a chamando. Ela caminhou até ele.
Um certo medo a acompanhou.
— Boa noite, Juan.
— É bom poder vê-la, Laura. Venha, precisamos conversar.
Seguiram até uma porta vermelha que ela nunca tinha visto ali. Ele
abriu a porta dando passagem para que ela entrasse primeiro e depois ele.
Com um cigarro entre os dedos, ele andou até a cama e sentou.
— Darei a você uma cartela dourada — comentou, levando o cigarro
até seus lábios e o tragou.
— E o que seria uma cartela dourada?
Juan soltou a fumaça presa em sua boca.
— Significa que os juros da sua dívida serão perdoados, e olha que os
juros são altos. — Sorriu. — Você não tem escolha, Laura.
Ela deu um passo para trás quando ele levantou. Seu olhar estava
diferente. Era como se a odiasse. Ela podia sentir que algo havia mudado
entre eles, e tudo indicava que não fora uma boa mudança.
— Juan...
— CALADA! — Ele a segurou pelos ombros. — Quem manda aqui
sou eu. Se eu mandar você dançar, você dança. Se eu mandar você foder,
você fode. Porque seu corpo me pertence até sua dívida ser paga.
Lágrimas rolavam pelo rosto de Laura. Sabia o que estava por vir,
sabia o que se passava pela cabeça dele, e não podia fazer nada. Ela havia se
livrado meses atrás de algo parecido só para viver o que provavelmente teria
acontecido agora.
Juan mergulhou sua língua na boca de Laura com brutalidade,
enquanto sua mão invadia o meio de suas pernas por baixo do vestido. Seus
dedos afastaram a calcinha dela para o lado e ali começou a tortura.
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AUTOGRAFADO COM A AUTORA
CAPÍTULO 22

Laura ainda sentia um pouco de dor em seu pé lesionado por ter que
ficar dançando com um salto fino durante quatro horas seguidas. Ele estava a
castigando, mudou sua carga horária na boate. Agora ela não só fazia strip-
tease, mas também dançava a noite toda sob os olhares famintos dos clientes,
rodando num poste de pole dance só para agradar aos homens que
frequentavam a boate. As mãos sujas de vários homens passavam pelo corpo
dela fazendo seu estômago embrulhar.
Laura estava mais nervosa do que nunca, naquela noite realizaria o
seu primeiro programa. Teria que se vender a um homem qualquer apenas
para não ter que sofrer ainda mais nas mãos de Juan, que agora finalmente
mostrava quem era.
— Se arrume, o seu primeiro cliente já a espera naquele quarto,
Laura. — Juan piscou um olho antes de sair.
Controlando suas emoções, desceu do palco e foi até o camarim.
Tirou a lingerie vermelha e colocou uma preta. Combinou a cor do salto com
a peça íntima. Seus cabelos estavam presos, mas a pedido do cliente, Laura
os soltou e cacheou as pontas dos fios escuros. Fez uma maquiagem leve
destacando como sempre seus lábios grossos.
Era a visão do paraíso, bonita e cheia de curvas, a morena; o sonho de
consumo de qualquer homem.
Ela obrigou seus pés a andarem até o quarto onde Juan a tinha feito
de escrava sexual por horas. Ela não teve prazer, não chegou ao ápice, não o
desejou como já havia feito antes, apenas sentiu medo e nojo do homem que
usava seu corpo.
Suas mãos trêmulas abriram a porta. Um homem a esperava nu,
deitado na cama. Seu membro ereto quase não era notável devido à enorme
barriga.
“Apenas feche os olhos e faça.”
— Dance para mim — ordenou ele, apertando um botão. A música
tomou conta do quarto e Laura começou a dançar.
Seu quadril balançava de um lado para o outro lentamente. Suas mãos
passeavam por suas curvas. O homem estava gostando do que via, levou sua
mão até seu membro e começou a se masturbar enquanto Laura virava de
costas.
— Tire a roupa, mas não pare de dançar. — Ela engoliu em seco.
Devagar, abriu o fecho do sutiã, deslizou as alças pelos braços e deixou seus
seios saltarem para fora do tecido. Sua mão desceram até às laterais da
calcinha e a tirou, fincando completamente nua. — Agora vire-se para mim.
Que ver esse corpo delicioso.
Laura virou. O homem estava quase tendo um orgasmo só de olhar
sua vagina recém depilada. Ele ergueu sua mão para ela. A colocou de
joelhos na cama e como um animal sujo, ficou em pé no chão, abriu a boca
de Laura e afundou seu pênis dentro de sua boca. Sentia ir fundo em sua
garganta, a fazendo querer vomitar, mas ela foi firme, aguentou sem reclamar
as estocadas que ele dava.
— Gostosa, chupa vai! Chupa meu pau.
As mãos de Laura seguraram o membro do homem cujo nome ela
preferiu não saber, começou a chupá-lo. Sua língua rodeava a cabeça rosada
enquanto suas mãos estavam apoiadas em suas coxas peludas. Ele empurrou
Laura na cama, esticou o braço até o pequeno criado mudo e pegou uma das
várias embalagens de preservativos. Vestiu em seu pênis e com pressa, abriu
as pernas de Laura e entrou de uma única vez.
Deitada embaixo de um homem careca de meia idade nada atraente,
Laura fingia estar gostando do seu desempenho sexual, esperando que ele
acabasse logo com aquele calvário.
Laura culpava seu pai por todo o seu sofrimento. Se não fosse o seu
abandono ela não precisaria se submeter a tal humilhação.
— Vou encher esse seu rabo de porra. Vira! — Suas mãos ergueram
Laura e a colocaram de quatro na cama. Ela viu o preservativo ser descartado
no chão. Sentiu o dedo do homem invadir um lugar que ninguém mais havia
tocado e outra vez, ele entrou.
Laura gritou, mas não de prazer, e sim dor. Ele entrava e saía com
força, batia em sua bunda.
— Goza, safada. Goza dando essa bunda gostosa.
Laura havia recebido orientações de algumas meninas da boate que
disseram para demonstrar interesse pelo ato, caso contrário os clientes
reclamariam com Juan o que causaria um sério problema.
Ela gemeu algumas vezes fingindo ter um orgasmo.
Ele urrava feito um animal selvagem ao liberar seu prazer dentro
dela.
— Você é muito gostosa — ele disse e apertou sua bunda antes de
sair de dentro dela.
Assim que ele saiu do quarto, Laura levantou e correu para o pequeno
banheiro. Abriu a tampa do vaso sanitário e vomitou tudo o que ela estava
segurando desde o início.
Sua bunda ardia devido aos tapas e pelo pênis que havia entrado e
saído com força de dentro do seu ânus.
Ela deu descarga e seguiu para o chuveiro. Girou o registro e deixou
que água quente lavasse seu corpo. Ela nunca mais seria a mesma. A Laura
de antes havia sido bruscamente assassinada por Juan quando ele a obrigou a
fazer sexo.
Do lado de fora do quarto, Juan esperava Laura sair. Seus braços
cruzados e seu olhar intimidador, o deixava terrivelmente sexy e perigoso.
Era capaz de matar alguém que entrasse em seu caminho.
Fumando o terceiro cigarro em menos de dez minutos, ele imaginava
como Laura deveria estar se sentindo. Ter seu corpo usado por alguém que a
queria apenas como um mero brinquedo sexual. Ser vendida por uma quantia
insignificante.
Juan sabia que ela jamais o olharia novamente com o mesmo carinho
de antes. Ele a tinha perdido, mas deixaria a sua marca gravada nela, para que
sempre soubesse que ninguém o contrariava.
— Juan, Laura tem mais dois clientes. — Liza chegou sem ser
notada.
— Mande-os para outra garota, Laura já teve o que merecia por hoje.
Não o questionou, ela sabia que Juan não estava bem. A notícia de
que Laura estava namorando, mexeu com os sentimentos dele, o deixando
mais pensativo e frio. Ele também não era mais o mesmo e, não sabia se
voltaria a ser outra vez o Juan de sempre.
Liza se afastou, o deixando sozinho. Ele encarava a porta de madeira
vermelha como se quisesse ver através dela. Laura estava lá dentro sozinha
fazia algum tempo. O cliente saiu, disse que voltaria mais vezes por ela e
pagou um extra pelo excelente serviço a ele prestado. Juan sabia que Laura
não estava bem, que tudo aquilo a afetou mais do que ele pensara, mas seu
orgulho havia sido ferido. Ele a queria como jamais quis outra mulher, mas
também queria que ela o desejasse da mesma maneira é intensidade que ele a
desejava, porém ela escolheu outro homem. Mas não desistia fácil das coisas,
ele a teria por bem ou por mal, e para que isso acontecesse, teria que fazê-la
chegar ao fundo do poço, deixá-la sozinha no mundo tendo somente ele como
âncora.
Seus devaneios foram interrompidos quando uma mulher pálida e
com o rosto inchado abriu a porta do quarto. Ela o encarou. Seu corpo tremia
como se estivesse com frio, mas era medo. Estava com medo do que ele
poderia fazer com ela caso o cliente reclamasse. Tinha medo de como agiria
com a sua irmã caso se cansasse daquele jogo de poder.
— Você demorou — disse ele com raiva.
— Me desculpe, eu não estou me sentindo bem. — Sua cabeça
abaixou e seus olhos fixaram no chão.
— Troque de roupa e vá para casa. Amanhã você tem que estar em
ótimo estado, já que tem outros clientes. — Juan respirou fundo, tentando
encontrar algum resquício de calmaria dentro de si mesmo. Ele detestava
saber que as mãos de outros homens tocariam o corpo curvilíneo dela.
— Obrigada. — Laura passou por ele sem olhá-lo.
Assim que saiu de seu campo de visão, Juan se deu ao direito de
respirar aliviado. Ele não conseguia entender o motivo pelo qual ela não o
queria.
Não sabia, mas já estava obcecado. Ele faria de tudo para tê-la
somente para ele. Ele mal conseguiu se concentrar no resto daquela noite.
Deixou a boate sem falar com ninguém e seguiu para seu apartamento. Ele
não parava de pensar em Laura, em como a queria.
Ela por outro lado, tentava de todas as maneiras esquecer a maldita
noite que tivera. Tentava esquecer que fora abusada por alguém que um dia
disse que a ajudaria.
De banho tomado, ela deitou em sua cama e deixou que as lágrimas
rolassem livres. Ela chorou por tudo o que estava acontecendo. Seu peito já
não aguentava mais tanto sofrimento. Ela queria dar um fim a todos os
problemas, mas não podia. Laura sabia que se o seu sofrimento acabasse da
maneira que ela estava pensando, outra pessoa passaria a sofrer em seu lugar,
e ela jamais deixaria que sua irmã que ainda tinha a inocência de uma
criança, pagasse pelo seu ato de fraqueza. Ela também chorava por ter que
abrir mão de um amor, Pietro. Ele a amava, mas Laura não ficaria com
alguém tendo que omitir a verdade sobre si mesma. Seu corpo não o
pertenceria, ela seria compartilhada com vários homens e ao final da noite se
deitaria ao seu lado. Essa não era ela.
Passou o resto da noite inteira ignorando suas ligações. Ela sabia que
se ouvisse o som rouco de sua voz, desabaria no mesmo instante.
Já se passavam das onze e meia da noite quando a campainha tocou.
Laura levantou da cama, calçou seus chinelos de dedos, e caminhou
lentamente até a sala. Com medo, ela não abriu a porta. Ficou ali, pedindo a
Deus que não fosse Juan.
— Laura, eu sei que você está aí. Abre a porta. — Era Pietro,
desesperado. — Meu amor, deixe-me entrar, por favor.
Laura encostou sua cabeça contra a porta e chorou em silêncio.
Aquilo era demais para ela.
— Laura, eu te amo. Deixe-me ajudá-la seja no que for. Por favor! —
Pietro implorava. Ele precisava vê-la, saber se estava bem, tocar em seus
cabelos e inspirar seu cheiro natural. — Eu não sei o que houve, mas quero
que saiba que estarei sempre ao seu lado porque eu te amo.
Laura respirou profundamente. Mordeu seu lábio inferior até sentir o
gosto do sangue em sua boca. Ela chorou mais ainda. Deixou seu corpo cair
lentamente no chão. Abraçou seus joelhos e ali afundou seu rosto enquanto
Pietro se distanciava do local.

***

Laura balançou a cabeça na tentativa de expulsar as lembranças de


um rápido passado que vivera com Pietro.
Os dias se passaram e mantivera a mesma rotina; de casa para a
boate.
Pietro a ligava todos os dias, ficava parado horas e horas em frente ao
seu prédio à espera de que ela entrasse ou saísse, mas tudo o que Laura fazia
era se esconder e esperar que ele fosse embora.
Era uma manhã de sábado, chovia fraco em Nova Iorque. Nicolle
estava na casa de uma colega da escola enquanto Laura olhava para seu
pequeno apartamento decidindo que já era hora de uma faxina. Trocou a
roupa de dormir por um short curto jeans com alguns rasgados nas coxas e
uma blusa de alças na cor preta. Prendeu seus cabelos em um rabo de cavalo
alto e começou o trabalho doméstico, ao som de músicas aleatórias no rádio,
fazia tempo que ela não ouvia uma música diferente das quais dançava na
boate.
Laura mal terminou de varrer a sala quando ouviu o som forte e alto
de socos sendo deferidos em sua porta.
“Juan” — Pensou ela.
Com a vassoura na mão, Laura desligou o rádio e atendeu a porta.
Seu coração disparou quando seus olhos fixaram na pessoa à sua frente.
Pietro estava diferente, a barba estava grande e ele parecia cansado.
Laura cogitou a possibilidade de fechar, mas optou por agir como
uma mulher. Ela tinha que dar um basta naquela história de uma vez por
todas.
— Quer entrar? — perguntou dando passagem para ele. — Só não
repare na bagunça, estou no meio de uma faxina.
— Não tem problema — disse ao entrar. — Serei breve.
Laura sentiu o calor que emanava dele. Fechou a porta e o
acompanhou até o sofá.
— Sente-se, por favor. — Apontou para o sofá.
Ela queria manter distância dele, assim seria mais fácil controlar o
desejo insano que sentia por ele.
Pietro percorreu com seu olhar o corpo dela como se a estivesse
analisando. Laura sentiu sua intimidade contrair e ficar úmida.
Respirando fundo tentando controlar sua vontade de beijá-lo, ela
cruzou as pernas.
— Por que não atendeu as minhas ligações? — Sério, ele perguntou.
— Eu estava sendo sincero com você quando disse que te amo.
Ela não sabia como reagir à sua pergunta. Ele estava visivelmente
triste, seus olhos demonstravam aquilo. Laura se sentiu mal por ele,
definitivamente, ela não queria magoar ninguém, mas estava magoando.
— Eu não sou digna do seu amor. — Sua voz saiu mais triste do que
ela esperava. — Sinto muito.
Poderia jurar que havia sentido o coração parar de bater. Ela o amava,
e tudo o que Laura queria era dizer para ele toda a verdade, mas ela não
podia. A voz da razão gritava em sua cabeça, ordenando que se calasse, e
assim fez. Reprimiu a vontade de ser sincera dentro de si e morreu aos
poucos com a dor.
Pietro ergueu sua cabeça, a olhou e logo se levantou. Laura imitou
seu gesto e levantou, seguiu cautelosamente os passos de Pietro que andava
em direção à porta. Ela quis chorar e gritar para que ele ficasse com ela, para
que a amasse como na primeira noite deles, mas era tarde demais, ele já havia
atravessado a porta e ido embora para sempre da sua vida.
Ali, parada no meio da sala, Laura deixou as lágrimas escorrerem
feito cachoeiras.
CAPÍTULO 23

— Sim. Aceito me casar com você. — Pietro sorriu ao deslizar o anel


de noivado no dedo de Laura, e o beijou.
— Te farei a mulher mais feliz do mundo. — Apaixonadamente,
Pietro pôs as mãos na cintura dela, a olhou carinhosamente e a beijou.
Eles estavam felizes, era o final perfeito para uma história de amor.
Finalmente, ela estava livre da dívida com Juan, não precisava mais ter que
dançar na boate e nem fazer programas. Não precisou contar a verdade
sobre sua vida. Pietro nunca saberia a verdade, e Laura poderia viver sua
vida em paz.
— Muito lindo... — Palmas ecoaram pelo local. — É tão
emocionante ver que você aceitou a profissão da nossa querida Laura. Não é
qualquer homem que aceitaria ter uma esposa stripper e prostituta.
Juan falava enquanto batia palmas.
Laura olhou para Pietro que ainda mantinha suas mãos em sua
cintura. De repente, como se ele sentisse nojo, afastou-se. A olhou com os
olhos marejados.
Laura tentava explicar, porém, ele não a ouviu. Jogou no chão o
buquê de flores que havia comprado para ela, e saiu pisando firme.
Laura caiu aos prantos no chão. Seu corpo inteiro tremia devido ao
choro compulsivo. Braços fortes e tatuados a abraçaram tentando conter o
choro.
— Não chore minha querida Laura... — sussurrou Juan. — Ninguém
irá te aceitar como eu. Ninguém.

***

Laura acordou assustada. Era apenas um sonho que tinha se


transformado em um pesadelo.
Sentada em sua cama, esticou o braço e ligou a luz do pequeno abajur
em formato de flor. A luz iluminou o quarto e ela teve a certeza de que nunca
mais sonharia outra vez com aquele pedido de casamento. Ela olhou sua mão,
onde em seu sonho Pietro havia colocado a aliança.
— É claro que era apenas um sonho... Um sonho bobo e impossível.
— disse para si mesma ainda encarando o anelar. Ela olhou as horas em seu
celular que estava próximo ao abajur sobre o criado-mudo.
Dez e meia da noite.
Ela desligou o aparelho e deitou outra vez.
Deitada em sua cama, Laura chorava fingindo não saber o motivo.
Seus olhos já estavam inchados de tantas lágrimas. Desde a hora que Pietro
havia saído de sua casa que seus olhos transbordavam rios e mais rios de
lágrimas. Estava ferida por dentro.
O destino a estava presenteando com um amor verdadeiro, mas seus
olhos estavam cegos para isso e seu corpo não a pertencia mais. E mesmo que
ela conseguisse enxergar o quão bom Pietro era para ela, mesmo assim, Laura
teria que lutar para renegar ao sentimento que a assustava tanto.
Seu celular tocava sem parar sobre o criado mudo ao lado da enorme
cama onde ela estava. No visor aparecia o nome de uma das suas melhores
amigas de infância. Ela não queria falar com ninguém, mas não poderia
ignorar aquela ligação, já fazia meses que não se falavam, e ela sentia
saudades da sua vida antiga.
Respirou fundo, secou o rosto e atendeu com um falso sorriso do
outro lado da linha.
— Christina!
— Laura! Que bom ouvir sua voz — falou animada, Christina. —
Estou com saudades, amiga. Você sumiu outra vez das aulas de balé. A turma
está perguntando se aconteceu alguma coisa. Você está bem?
“Não estou nada bem, virei stripper para pagar uma dívida enorme
do meu pai que parece que aumenta a cada dia.”
Laura pensou em dizer, mas preferiu a mentira, como sempre.
— Estou ótima. Também estou com saudades. Venho trabalhando
feito louca, estou sem tempo para nada, mas fora isso... Tudo bem. — Ela
queria ter dito a verdade a sua amiga, precisava de alguém que a
aconselhasse, que a ajudasse a passar por tudo aquilo, mas não queria
envolver mais ninguém na confusão que sua vida se tornara.
— Você está com uma voz estranha, estava chorando? — Sua amiga
a conhecia melhor do que ela mesma.
— Estou ótima — disse sorrindo amarelo como se Christina pudesse
vê-la do outro lado. — É só o cansaço, nada que uma boa noite de sono não
resolva. — Bocejou falsamente para disfarçar o real motivo de sua tristeza.
— Não sou boba. Me conte! — exigiu. — Eu te conheço.
Laura pensou em contar o que estava se passando com ela, mas em
que Christina poderia ajudar? Se nem ela conseguia resolver seu problema, os
demais só piorariam mais as coisas.
Ela estava confusa, ao mesmo tempo que queria que alguém a
ajudasse, no outro, queria apenas ficar sozinha.
— Realmente é o cansaço. Eu já estava me preparando para dormir,
amanhã tenho trabalho.
— Tudo bem, durma e quando você tiver uma folga, por favor venha
me visitar, tenho que te fazer um pedido muito especial e tem que ser
pessoalmente. — Despediram-se e deram fim a ligação.
Ela se virou para a cama vazia, já novamente aos prantos. Olhou para
cima como se alguma resposta fosse cair em seu colo.
— Por que tenho que sofrer tanto? Já não basta ter perdido minha
mãe? — perguntou ela voltando seus olhos para a cama vazia.
Ela não quis ser rude com Pietro, muito menos fazê-lo sofrer, mas
também não queria deixar que ele acreditasse que poderiam ter algo, sendo
que as chances eram nulas.
Expulsando a chutes toda a tristeza, ela fechou os olhos e tentou
dormir.

***

O domingo chegou e com ele trouxe o desânimo. Laura estava mais


triste do que na noite passada. Seus olhos estavam fundos e vermelhos de
tanto chorar, o rosto inchado e os cabelos desgrenhados. Encarou sua imagem
no espelho e não gostou de quem viu. Passou as mãos em seus cabelos
tentando colocar no lugar os fios bagunçados, mas não resolveu muito. Seus
olhos fixaram na bagunça que estava seu quarto. Roupas pelo chão, cobertas
jogadas de qualquer jeito na cama.
Laura bufou. Ela detestava ver as coisas fora do lugar. Calçou seus
chinelos de dedos, e começou a arrumar o quarto. As paredes precisavam de
uma nova camada de tinta. De brancas sem graça, passariam a ser roxas,
Laura sempre teve a vontade de ter um quarto todo roxo. A cama de ferro
sairia dali e outra nova ocuparia seu espaço. O teto que tinha apenas uma
lâmpada branca sem graça, ganharia um lustre consideravelmente grande. O
chão liso se tornaria macio devido ao tapete cinza que Laura tinha visto na
loja a duas quadras depois da sua nova casa. Ela estava decidida, faria uma
mudança total. Não era porque estava morando de aluguel que teria que
aceitar a casa do jeito que estivesse.
A arrumação durou menos tempo do que ela imaginara. O quarto já
não parecia o mesmo de antes. Nada que uma boa arrumação não resolva,
pensou ela, porém, nem tudo se ajeitaria com uma simples mudança de
móveis.
— Laura! Laura! — gritou Nicolle.
Desesperada, Laura saiu correndo de seu quarto até a sala.
Nicolle estava na porta. Sua mãozinha pequena segurava a madeira
enquanto seu rosto estava erguido.
Laura se aproximou, colocou a mão no ombro da irmã e congelou.
— Meu amorzinho, vai lá para o quarto e faz um desenho bem bonito
para mim, por favor.
Nicolle não questionou, ela saiu pulando, ela adorava rabiscar e tudo
virava motivo para ela pegar um papel em branco e um giz de cera.
— Laura. — A voz que uma vez fez Laura suspirar, agora lhe
causava medo e nojo.
— Juan.
Ele sorriu. Passou os dedos pelo rosto de Laura que o virou no
mesmo instante.
— Vim saber como está depois do... — Ele pausou. Sabia que
poderiam estar sendo ouvidos por um par de orelhas curiosas chamada
Nicolle.
— Bem. Estou bem. — Ela mentiu.
— A boate não abrirá hoje por motivos de problemas na tubulação de
água, mas amanhã tudo já terá voltado ao normal. Passei aqui só para te
informar. — Laura agradeceu com um sorriso forçado. — Lembre-se de uma
coisa; nada disso estaria acontecendo se você não tivesse me traído. Isso é
culpa sua.
Ele abriu um sorriso debochado. Deu as costas e foi embora.
Ela sentia que a qualquer momento cairia dura no chão, e pensou que
essa talvez não seria uma má ideia, mas depois voltou atrás e viu que não
poderia deixar sua irmã à mercê da sorte, igual a ela.
Depois que Juan foi embora, Laura trancou a porta e proibiu que
Nicolle abrisse a porta outra vez. Ela não queria correr o risco de Juan fazer
algo contra a vida de sua irmã.
O domingo passou voando, e logo a segunda-feira chegou. A
previsão do tempo anunciava que aquela semana seria fria em Nova Iorque, o
que deixou Laura animada. Gostava do frio, não que desprezasse o calor,
porém, o frio lhe trazia lembranças boas de quando era criança e sua mãe
preparava um enorme balde de pipoca e elas passavam horas e horas
assistindo filmes na televisão.
Laura deixou Nicolle em sua nova escola, e se encaminhou para a
cafeteria. Ela tinha a dura tarefa de pedir demissão. Seu coração estava
despedaçado, não queria fazer aquilo, o dinheiro que ela ganhava trabalhando
como atendente ajudava bastante nas despesas, mas seria impossível ficar no
mesmo lugar onde Pietro estava sem poder tocá-lo. Ela ainda se sentia suja,
imunda, mas aquela era sua vida até que a dívida de seu pai fosse quitada de
uma vez por todas.
Não muito longe de onde Laura estava, Pietro andava de um lado
para o outro no escritório improvisado do café do Senhor Koll. Ele já estava
em sua quinta xícara de café puro, naquela manhã. Estava enlouquecendo
com o afastamento de Laura, ela já fazia parte de sua vida. Para todos os
lados que ele olhava, lá estava ela sorrindo para ele. Era quase loucura, mas
nunca havia amado alguém daquela maneira.
O som da porta sendo aberta e a voz meiga de Laura o fez recobrar a
sanidade. Olhou rapidamente no pequeno espelho que tinha no escritório,
ajeitou a gravata, passou as mãos nos cabelos que estavam um pouco
maiores. Bebeu o resto de café e saiu.
Seus olhares de conectaram instantaneamente como todas as vezes.
Laura sentiu suas pernas ficarem bambas como se fosse cair a qualquer
momento, mas ela se manteve firme. Não poderia demonstrar fraqueza.
Pietro andou até o balcão. Parou à sua frente. Seus corpos estavam a
poucos centímetros de distância, bastante para ela ou ele darem um pequeno
passo para que, novamente, estivessem nos braços um do outro.
— Bom dia, Laura. — O tom grave da voz dele a fez suspirar. —
Como tem passado você e Nicolle?
— Bom dia, Senhor Pietro. Estamos bem, obrigada por perguntar.
Eles pareciam dois estranhos, era como se nunca tivessem se
conhecido.
O Senhor Koll, que estava do outro lado do balcão, observava toda a
cena como se estivesse vendo um filme. Chegava a ser engraçado como a
mandíbula de Pietro se contraia tentando controlar a vontade insana de
agarrar Laura. E Laura, que balançava seus dedos em sinal de nervosismo.
— Bem, vou deixá-los conversar...
— Não! — exclamou Laura, desesperada — Digo, não precisa. Vim
conversar com o senhor sobre a minha demissão...
— Venha comigo, precisamos conversar. — Laura não pôde fazer
nada, Pietro segurou em sua mão e praticamente a arrastou até o escritório.
Entrou com ela e fechou a porta, os deixando trancados ali. — Você não pode
se demitir por minha causa.
— Não é por sua causa, Pietro. Eu só não preciso mais desse
trabalho.
Pietro riu. Ele sabia que era mentira. Precisava de todo o dinheiro que
pudesse juntar.
— Laura, eu te amo mais do que tudo na minha vida. Pensei que
jamais voltaria amar de novo. Tranquei meu coração para esse tipo de
sentimento. Mas você apareceu e tudo mudou. Eu amo o seu sorriso, amo
como você mexe os dedos quando está nervosa. Amo a forma como coloca
sua irmã para dormir. Amo a sua irmã como se fosse a minha filha. Será que
você não ver o quanto eu sou apaixonado por você? O quanto sou incompleto
sem você perto de mim?
Laura soluçava ao ouvir a declaração de amor dele. Era impossível
segurar as lágrimas. Ele havia falado com tanto amor, que qualquer pessoa
poderia chorar.
— Você não entende, Pietro. Eu não sou quem você pensa. Eu não o
mereço.
— Foda-se se você diz que não é quem penso. Foda-se se você diz
que não me merece. Foda-se o mundo todo! — Pietro acabou com a distância
que ela havia colocado entre eles. — Eu te amo. E lutarei todos os dias para
tê-la ao meu lado como namorada, noiva e depois esposa. Porque amar
significa ter coragem para enfrentar tudo e a todos.
Pietro estava prestes a beijá-la quando Laura o abraçou afundando
seu rosto em seu peito. As mãos de Pietro pousaram em suas costas fazendo
um leve carinho.
— Eu só quero que você volte para mim. Não te pedirei explicações
de nada, não irei ficar te ligando perguntando onde está e com quem está. Eu
só quero fazer parte da sua vida, porque eu não sei mais como é viver sem
você, Laura.
Ela queria beijá-lo, mas ainda não estava pronta para fazer aquilo.
Limitou-se apenas em beijar seu rosto e disse:
— Eu te amo, Pietro, mas não posso...
— Pode sim.
Laura voltou a afundar seu rosto no peito largo dele. Inalou o cheiro
forte do perfume que ele usava. Ela sentia falta dele, tanto quanto sentia falta
da sua liberdade.
Laura ergueu o rosto. Mirou os olhos vermelhos de Pietro. Ele estava
chorando em silêncio. Pegou em seu rosto e disse:
— Eu não tenho absolutamente nada para te oferecer.
— Laura, me deixe ser pelo menos ser o seu ombro amigo onde você
poderá descansar a cabeça depois de um dia cansativo e chorar.
Ela sorriu.
— Isso eu aceito — disse ela, sorrindo de verdade.
Eles ficaram isolados do mundo abraçados dentro daquele escritório
como se não existisse nada além dos dois.
O momento estava lindo, Pietro acariciava os cabelos de Laura
enquanto ela cantava baixinho uma música. O tempo poderia congelar
naquele exato momento que ela ficaria imensamente grata, porém, a vida lá
fora continuava e logo estaria lá, vivendo todos os dias a mesma coisa que
estava destinada.
CAPÍTULO 24

O barulho chato do despertador fez com que Laura acordasse,


resmungando.
Seis e meia da manhã.
Sem ânimo, ela saiu da cama e calçou os chinelos. Laura odiava
acordar cedo, mas era preciso, já que tinha que preparar o café da manhã de
sua irmã e acordá-la para ir à escola.
Entrou na cozinha, pegou a pequena chaleira e encheu de água pondo
logo em seguida para esquentar. Enquanto isso, pegou um pacote de biscoito
de água e sal de dentro do armário da cozinha e passou manteiga. A chaleira
apitou anunciando que a água já estava quente. Deixando os biscoitos de
lado, desligou o fogo e começou a passar o café. Não demorou muito para
que tudo já estivesse pronto. Aquela era a única refeição que Laura conseguia
fazer com a irmã. Quando Nicolle chegava da escola ela ia direto para a casa
da vizinha, enquanto Laura ainda estava trabalhando na cafeteria e logo em
seguida na boate se preparando para dançar como fazia todas as noites.
Ela foi até o quarto de Nicolle e acabou se assustando ao vê-la
arrumada. Ela nunca acordava cedo, muito menos sozinha.
— Acordou sozinha? — Laura entrou em seu quarto e a beijou na
testa. — Bom dia, meu amor.
— Porque você chega tarde todas as noites? Eu sinto sua falta Laura,
sinto falta da mamãe e do papai. — Seus olhos estavam cheios de lágrimas e
era notável o quanto ela estava se esforçando para não chorar.
Laura sabia o porquê sua irmã estava melancólica. Aquela terça-feira
não seria nada fácil.
— Hoje é o aniversário da mamãe — Nicolle falou, secando seu rosto
já banhado pelas lágrimas. — Eu queria que ela estivesse aqui. Eu quero a
minha mãe.
Laura já não tinha mais coração para ser partido, nem mesmo os
pedaços do que um dia já havia sido um coração alegre e feliz, existiam.
Ela a puxou para um abraço forte e deixou algumas lágrimas caírem,
porém, as secou rapidamente antes que a garotinha pudesse ver.
— Olha vai ficar tudo bem. Eu sempre vou estar com você, custe o
que custar farei o possível para mudar nossa história. Entendeu? Eu te amo
mais do que tudo nessa vida. — Carinhosamente, Laura segurou seu rostinho
nas mãos e a olhou. — Agora vamos, antes que esfrie o seu café.
Depois do café da manhã Laura levou Nicolle para a escola e voltou
para casa. Ela ainda não sabia se voltaria a trabalhar na cafeteria. Sua vida
estava complicada demais e ficar perto de Pietro que a deixava ainda mais
confusa. Mas ela também sentia falta de ouvi-lo, desejar-lhe um bom dia
assim que o via. Ou quando ele preparava um café doce com um pão
recheado de queijo e presunto. Sentia falta dos beijos que trocavam, das
palavras carinhosas ditas. Das risadas que davam quando estavam juntos na
presença de Nicolle. Ela sentia falta dele, e sabia o que aquele sentimento
significava, só tinha medo de ser rejeitada. Ela não suportaria passar pela dor
do abandono, outra vez.
Laura bufou ao ouvir o som do celular tocando. Olhou na tela e viu o
nome de Juan.
— Pensei que não iria atender. — Mal educado como sempre, falou
ao telefone.
— Preciso que venha já para cá. Raissa se machucou fazendo pole
dance e preciso que você faça o show de abertura e pegue os programas dela
além dos seus.
Laura sempre fazia o último show da noite, e agora teria que
substituir uma das amigas da boate.
A vontade de Laura era de falar um belo e sonoro não para Juan, mas
ela sabia que se fizesse isso estaria despedida, sem casa e provavelmente sem
vida também, já seria impossível pagar o aluguel e as contas sem dinheiro. E
Juan não era mais o mesmo.
— Tudo bem, eu já estou indo. — Desligou sem dar chance para ele
responder algo.
Laura estava farta daquela vida, de ter que a cada noite se despir e
vender seu corpo para homens diferentes. Ela nunca conseguiria sentir prazer
no sexo que fazia com os clientes. Ela ansiava em mudar de vida, e não era
apenas por ela e sim, por sua irmã que não merecia ter o mesmo destino que
ela ou sua mãe.
Balançando a cabeça na tentativa de espantar a raiva que sentia no
momento, ela separou uma roupa e seguiu para o banheiro.
***

O trânsito na parte da manhã era tranquilo, o que facilitava a


ultrapassagem dos carros.
Laura desceu do ônibus e andou mais uns cinco minutos até chegar à
boate. Na parte da manhã, os seguranças ficavam todos dentro do
estabelecimento, somente ao cair da noite por volta das oito horas que eles
ficavam em suas posições do lado de fora, controlando o fluxo de clientes.
Laura tinha todo o cuidado para que ninguém a visse entrar na boate,
por isso sempre optava pela área de serviço, onde o lixo era descartado.
— Juan disse que assim que você chegasse fosse ao escritório dele —
Liza falou, sem olhar direito para Laura.
Ela sorriu em retribuição ao recado dado e seguiu direto para o
escritório dele.
Contando até dez, Laura bateu na porta. A voz de Juan surgiu alta e
rouca. Entrou e se deparou com ele sem camisa. Seus músculos definidos à
mostra.
— Liza me deu o recado — Laura disse, encarando a janela.
— Não é nada demais, Laura. Hoje você fará o show de abertura
usando sua máscara, fará os programas de Raissa e os seus também, afinal,
você ainda tem muito o que pagar. — Sem pronunciar nenhuma palavra
sequer, balançou a cabeça em concordância. — Ótimo.
Ele caminhou até ela que continuava parada na porta. Grudou seu
corpo ao dela e beijou seus lábios.
Laura segurava as lágrimas dentro de si. Ela queria chorar, mas não
daria a felicidade a Juan de vê-la sofrer, não em sua frente.
— Você é tão bonita... — disse ele. Pegou na mão de Laura e a levou
até a mesa. Sentado na cadeira de couro, ele colocou Laura em seu colo. Ela
podia sentir a ereção dentro das calças de Juan.
— Rebola — ordenou, mas Laura não se moveu. — Eu mandei você
rebolar.
— Juan, por favor... — soluçou.
— Você esqueceu quem manda aqui? — perguntou, já sabendo que
ela não responderia. — Faça o que mandei. Eu não quero ter que descontar a
minha raiva em sua irmã. Não quero ter que falar para o seu querido Pietro,
quem você é.
Sabia que Laura não faria sexo com ele por vontade própria, ela havia
perdido o pouco de confiança que tinha nele, porém, Juan usaria todas as suas
armas para tê-la, e a arma escolhida havia sido a pressão psicológica.
Sobre o membro duro de Juan, Laura rebolou. Ela estava perdida, não
tinha mais o que fazer, não tinha para onde correr sem que ele a encontrasse.
Entregando-se a realidade, ela fechou os olhos e deixou que o homem usasse
outra vez seu corpo.

***

Laura estava no quarto de sempre, deitada na cama com um vestido


curto que facilitaria o seu serviço, ela esperava pelo sexto e último cliente da
noite. Estava exausta, já não sentia mais nada da cintura para baixo. Seus
seios doíam de tanto serem apalpados. Ela respirou fundo quando a porta do
quarto se abriu. Um homem alto e bonito entrou. Seu olhar era penetrante.
Ele encarava Laura com tanta intensidade que a fazia tremer. Em pé, diante
da cama onde Laura estava, ele começou a tirar a roupa. Se livrou da camisa
preta social revelando seu corpo definido. Uma listra de pelos escuros
começam de seu peito e descia até a calça. Logo se livrou da calça jeans
ficando só de cueca. Laura não entendia o que estava acontecendo, ela ainda
estava vestida enquanto ele se despia.
— Sou Alec. Tire a roupa e deite-se — Alec pediu e assim Laura fez.
Rapidamente ela estava nua, deitada sobre os lençóis recém trocados.
Alec a olhava com puro desejo. Ele tirou a cueca e sua ereção rijada
saltou. Andou até a cama onde ficou de joelhos.
Laura sentiu as mãos grandes de Alec acariciando suas coxas,
subindo lentamente até sua vagina e pousando lá. O toque quente e molhado
da língua de Alec fez com que Laura soltasse um gemido sofrido. Sua língua
fazia movimentos circulares no clitóris inchado de Laura. Ela gemia se
contorcendo na cama. Pela primeira vez estava sentindo prazer no que fazia.
Alec lambia, chupava e sugava com vontade a vagina de Laura, a
proporcionando um orgasmo intenso. Deixando a vagina dela um pouco de
lado, ele continua beijando e acariciando seu corpo até parar em seus seios
onde ele os massageou. Sua língua encostou em um dos mamilos fazendo
com que, novamente, ela soltasse um gemido, só que dessa vez baixo. Logo
ele já está chupando um de cada vez, enquanto sua mão masturbava seu
clitóris ainda pulsante devido ao orgasmo anterior. Era incrível como em
poucos minutos Laura já conseguia sentir os espasmos do segundo orgasmo
chegar. Sem parar de sugar os seios de Laura, Alec enfiou um dedo dentro da
vagina encharcada de prazer, sua língua brincando com os mamilos
entumecidos de Laura, e seu clitóris que pulsava freneticamente. As mãos de
Laura procuravam por algo que ela pudesse se agarrar. Ela mergulhou os
dedos entre os cabelos de Alec e os puxou quando chegou ao ápice do prazer
em sua boca e dedos.
Alec não esperou muito tempo para que ela recuperasse o fôlego
perdido. Ele não queria que Laura fizesse nada. Suas mãos a viraram de
costas para ele. Alec tateou o criado-mudo ao lado da cama, pegou um
preservativo e o vestiu em seu pênis.
Laura gritou quando ele entrou com tudo dentro dela. A dor logo
cedeu lugar para o prazer. Aquele programa estava sendo diferente. Ninguém
queria saber se ela sentia ou não prazer, mas Alec era diferente. Ele era
atencioso e intenso. Ele a deitou na cama, deixando apenas sua bunda
empinada. Enrolou seus cabelos em sua mão e começou a estocar cada vez
mais forte, dando tapas em Laura e puxando seus cabelos. Ela gemia alto,
pois o prazer estava grande demais. Ele estocou mais três vezes e pediu para
que ela ficasse por cima. Com Alec deitado na cama, Laura começou a subir
e descer lentamente, levando Alec à beira da loucura. Seus seios balançavam
diante dele. Laura rebolou e sentou com força quando mais uma vez se
entregou ao orgasmo junto a ele.
Depois de um sexo gostoso com seu último cliente, Laura tomou um
banho rápido. A noite havia sido cansativa, e ela queria deitar em sua cama e
descansar.

***

Juan fez uma linha com um pó branco sobre a mesa do seu escritório.
Enrolou uma nota qualquer que pegou em seu bolso e formando um canudo,
inalou a droga. Depois que descobrira que Laura estava namorando, se
tornara outro homem. Passou a beber cada vez mais e a usar frequentemente
drogas.
— Juan. — Liza entrou no escritório. Viu Juan jogado de qualquer
jeito sobre a cadeira. Os olhos vermelhos e pupilas dilatadas. — Que merda
você está fazendo?
Seus dedos longos apontaram para a mesa suja.
— Me deixa em paz, Liza!
— Te deixar em paz? Você não ver que está se arruinando por causa
de uma boceta? Pelo amor de Deus, Juan. Você trabalha cercado de mulheres
gostosas doidas para ter uma noite de sexo com o chefe, e você aí, se
enchendo de drogas pensando na Laura.
Juan ignorou Liza como fazia há alguns dias. Ele não queria ouvir
falar de Laura, porém, buscava sempre saber se ela estava se encontrando
com Pietro.
— Olha, eu não vou ficar aqui vendo você se acabar. Sinto muito,
mas acho que isso não te levará a lugar nenhum a não ser o cemitério, porque
usando drogas e bebendo do jeito que você estava fazendo agora, é para lá
mesmo que você vai em pouco tempo.
Liza bateu a porta do escritório atrás de si e deixou um Juan acabado
e sujo. Aquele era apenas o resto do que um dia já tinha sido um homem
temido e respeitado nas ruas de Nova Iorque. Agora Juan não passava de um
homem descontrolado e possesso pelo ciúme.
— Isso não vai ficar assim. Você será minha, Laura. Só minha.
Dito isso, ele preparou outra linha de pó branco, usou o mesmo
canudo feito com a nota de dinheiro e inalou todo o conteúdo depositado
sobre a mesa.
CAPÍTULO 25

O dia raiou e com ele trouxe lembranças de uma noite quase perfeita.
Deitada em sua cama, Laura pensava em como sua vida havia
mudado. Um dia ela era aluna de uma das melhores escolas de dança de Nova
Iorque, e no outro, era dançarina de uma boate de stripper e outras coisas.
Com cuidado para não acordar a irmã que dormia ao seu lado, Laura
levantou-se da cama e começou a juntar as peças de roupas espalhadas pelo
chão do quarto. Após trocar sua confortável camisola vermelha por um
vestido azul até o meio de suas coxas, ela olhou para Nicolle e decidiu que
aquele dia seria de pura diversão. Elas mereciam um pouco de normalidade
em suas vidas.
Sorrindo animada com a ideia, Laura saiu do quarto deixando com
que Nicolle dormisse mais um pouco.
Ela prepararia tudo para quando fosse a hora e nada desse errado.

***

— Não acredito que vamos mesmo ao zoológico! — exclamou


animada pela milésima vez, Nicolle. — Vamos Laura! Vamos ver os
macaquinhos.
Laura estava admirava ao ver que um simples passeio estava
deixando sua irmã feliz como não ficava a tempos. Ela não via um sorriso tão
grande em seu rosto desde que sua mãe faleceu.
Laura pegou a pequena mochila de Nicolle, jogou alguns sanduíches
naturais dentro e uma garrafa de suco. Conferiu se não estava esquecendo de
nada e saiu de mãos dadas com sua irmã.
— Pronta? — Laura perguntou ao atravessarem a rua para esperar o
ônibus. Para aquele dia ensolarado, Laura havia escolhido um vestido até a
altura das coxas nas cores branco e roxo, com seus cabelos presos em um
rabo de cavalo alto e sem maquiagem.
— Sim!
O ônibus não demorou muito a chegar, Laura e Nicolle sentaram
juntas e seguiram falando de como o dia seria divertido.
Por mais que sorrisse, seus pensamentos estavam em outro lugar, em
outra pessoa. Ela tinha que resolver sua situação de uma vez por todas com
Pietro.
Praguejando mentalmente, Laura tirou o celular da bolsa e enviou
uma mensagem para ele.

Oi, Pietro.
Nicolle e eu estamos indo ao zoológico. Se você quiser e puder ir,
será muito bom tê-lo conosco.
Beijos, Laura.

Assim que enviou a mensagem se arrependeu, pensou em apagar o


conteúdo, mas já era tarde demais. Pietro parecia que estava à espera de
notícias suas. Visualizou a mensagem em questão de segundos, e respondeu
com um animado, sim, cheio de pontos de exclamação.
Sair de casa e respirar um pouco de ar puro, realmente parecia uma
boa escolha para Laura.
Trinta minutos dentro do ônibus e finalmente elas haviam chegado ao
zoológico. Pietro as esperava na entrada, com seu sorriso largo, mãos no
bolso da bermuda, camisa polo azul e óculos escuros.
Nicolle correu ao encontro dele que a recebeu de braços abertos. Ele
a girou no ar e com um sorriso enorme beijou o alto da sua cabeça.
Laura suspirou ao vê-los. Parecia até a cena de final de novela. Ela
queria ter um final como aquele, onde todas as dores fossem esquecidas e seu
passado apagado. Ela continuou a andar em direção aos dois.
— Oi — disse Laura, um pouco envergonhada.
— Bom dia, Laura. — Sentiu seu rosto arder conforme a vergonha a
consumia. — Vamos?
— Sim!
Animada, Nicolle saltou dos braços de Pietro. Segurou na mão de
Laura e Pietro, os puxando para mais perto. Como se fossem uma família,
eles caminharam até a entrada do zoológico. Outras crianças pulavam alegres
ao verem os animais ali enjaulados, e com Nicolle não era diferente.
***

Juan não conseguia controlar sua raiva, a cada soco que disferia
contra o saco de areia no galpão da boate, a raiva parecia aumentar. O suor já
escorria pelo seu rosto, quando um estrondo alto o fez parar. Era Liza.
— Eu disse que não queria ser incomodado — disse ele, entredentes.
— Juan, qual o seu problema? Porque você fica agindo como um
idiota atrás da Laura?
Ele não respondeu. Voltou a se concentrar no saco de areia à sua
frente e mais socos foram distribuídos. Para Juan, o saco de areia
representava Pietro.
— Juan! — Liza gritou, furiosa.
— Já chega! — Seu olhar era de puro ódio. — Não devo explicações
a ninguém, muito menos a você. Agora me deixe em paz.
Virado de costas, Juan ouviu os passos de Liza se afastando e ficando
cada vez mais longe, e assim que ouviu a porta grande de ferro sendo
fechada, ele pôde respirar.
— Laura, Laura... — murmurou ele. — Você não sabe com quem
está brincando.

***

Laura gargalhava sem parar das caretas que sua irmã fazia ao tirar
fotos. Era uma mais engraçada do que a outra.
Pietro admirava Laura sorrir, parecendo estar hipnotizado por sua
beleza.
Sentados, lado a lado, na mesa de uma lanchonete, Laura e Pietro,
observavam Nicolle comer como se não houvesse mais ninguém ali a não ser
ela. Envolvida em sua bolha particular de felicidade, ela nem prestava
atenção nos demais.
— Obrigada por aceitar o convite — falou Laura, com a voz baixa,
como se estivesse sussurrando. — Nicolle ficou muito feliz.
— Eu que agradeço por me convidar. — Eles se olhavam com
carinho. — Sinto sua falta.
Laura corou.
— Pietro... — sua voz se calou quando a mão dele tocou a dela por
cima da mesa.
Laura estava apaixonada, mesmo sabendo que não seria fácil. Seu
corpo tremia só com a possibilidade de pensar em seus lábios tocando os de
Pietro, ou em suas mãos passeando por sua pele causando-lhe arrepios. Ela
sabia que Pietro jamais aceitaria sua vida, e isso a matava por dentro. Como
Laura tinha inveja dos casais que estavam ao seu redor, felizes e livres de
qualquer culpa. Ela queria aquilo para si, queria poder sair com Pietro sem o
medo de que algum cliente da boate a reconhecesse. Ou que por causa do que
fazia, sua irmã fosse prejudicada como da última vez na escola onde
estudava.
Laura engoliu o nó que começava a se formar em sua garganta, ela
não iria chorar, não naquele momento. Aquele dia seria diferente para todos,
e Laura não se sucumbiria a sua dor.
— Você não sabe como quero te beijar agora, tomá-la em meus
braços e te proteger — Pietro falou sério, próximo ao seu ouvido. — Eu te
quero com seus medos e inseguranças, pois eu te amo mais do que tudo nesse
mundo.
Laura ergueu seu olhar e encontrou um Pietro apaixonado olhando
para ela. Suas bocas estavam tão próximas, que ela conseguiu senti o cheiro
do hálito quente misturado com refrigerante e hambúrguer, de Pietro. Seus
dedos se elevaram até a boca dele. O toque macio das pontas dos dedos de
Laura, o fizeram, sem querer, soltar um gemido.
— Vamos com calma, o tempo nos dirá tudo.
— Irei te esperar o tempo que for.
Laura sorriu, e o beijou no rosto.
O resto do dia passou voando diante dos olhos de Laura, e quando ela
percebeu já estava parada atrás do palco da boate, se preparando para entrar e
fazer o último show da noite. Seu nome foi anunciado, e a morena que usava
a mesma máscara de todas as noites, afastou as cortinas e andou lentamente
sobre seus saltos finos, lingerie preta e cabelos soltos. Uma cadeira estava em
frete ao público. Sorrindo sedutoramente, Laura rodopiou a cadeira,
rebolando e seduzindo a todos naquele lugar. Sentou de costas para eles,
balançou seus braços de um lado para o outro conforme a batida da música.
Sua mão foi de encontro ao fecho do sutiã, que ficava na parte da frente da
peça delicada que Laura usava. Assim que ela se livrou do sutiã e jogou ao
seu lado, os homens foram à loucura gritando palavras que para ela já eram
normais. Ela levantou, seus cabelos compridos caiam sobre seus seios fartos,
os cobrindo. Laura afastou a cadeira, e com um pulo, girou duas vezes no
poste, deslizando lentamente até o chão, onde ali ficou de joelhos e desatou
os pequenos laços da sua calcinha. Ela estava nua, outra vez. Com as mãos
apoiando no chão, Laura engatinhou até a parte da frente do placo, parou de
frente aos pares de olhares famintos de desejos, e tirou a máscara ao termino
da música.
Ao som de palmas e assobios, saiu. Vestiu seu roupão roxo e foi
direto para o camarim se preparar para os programas da noite.
Naquela noite Laura havia feito mais programas do que chegou a
imaginar. Sua vagina ardia tanto que ela mal conseguia ir ao banheiro sem
chorar. Ela se sentia como se fosse um saco de lixo podre. Fizeram tantas
coisas com ela que chagava a ser inexplicável.
Duas batidas na porta do quarto onde três homens haviam saído a
poucos minutos, fizeram Laura tremer mais ainda. Ela não aguentaria mais, a
morte seria a melhor saída para ela, se Nicolle não existisse.
— Laura. — Ela não sabia se era bom ou ruim ouvir a voz de Juan.
Ele entrou, fechou a porta atrás de si e caminhou até ela que estava sentada na
cama. — Hora de receber o pagamento da noite.
Laura não disse nada, apenas deixou que ele sentasse ao seu lado. O
viu pegar um envelope branco e tirou de dentro várias notas. Juan começou a
contar o dinheiro ao lado de Laura, e a viu o encarando com medo. Naquele
exato momento, ele soube que a tinha perdido para sempre.
— Se tivesse lhe tirado dessa vida antes, você teria ficado comigo?
— ele perguntou, parando de contar o dinheiro e mirando os olhos assustados
e vermelhos de Laura.
— Eu não me encaixo no seu mundo.
Juan processou suas palavras, e voltou a contar o dinheiro, separando
uma boa quantia para Laura que o olha sem entender.
— Talvez você tenha razão, somos de mundos diferentes e você já
ficou muito tempo longe do seu. — Ele levantou, entregou o roupão roxo que
estava jogado no chão para Laura e se dirigiu até aporta. — Hoje você
conseguiu sua liberdade.
Laura ficou sentada na cama tentando assimilar o que ele havia lhe
dito. Finalmente ela estava livre dele e da boate. Poderia voltar a sorrir sem
medo, trabalhar em algum lugar que pagasse mal, com um chefe chato e
colegas invejosos, tudo voltaria ao normal, menos ela. Laura jamais seria a
mesma depois de todos aqueles meses sendo feita de escrava por Juan. Por
um momento, bem no início de tudo, Laura chegou a pensar que ela e Juan
poderiam ter algo especial, algo puro e verdadeiro, mas com o passar do
tempo e a chegada de Pietro em sua vida, percebera que tudo não passara de
uma ilusão, uma fantasia de sua cabeça um tanto confusa com todos os
acontecimentos.
Quando Juan passou pela porta, ele se deixou ser levado por um
sentimento mais forte do que ele, o qual era desconhecido, porém, intenso.
Ele passou pelas pessoas que estavam ali no corredor, ignorou o chamado de
Liza e se enfurnou em seu escritório. Jogou o dinheiro sobre a mesa no sofá e
mergulhou em seus sentimentos e bebidas.
Em toda a sua vida, jamais pensou que sentiria uma dor feito aquela.
Ele já havia sofrido dor maior quando criança, quando a sangue frio,
assassinaram sua família, desde então, ele trancou seu coração para qualquer
tipo de sentimento, inclusive os que Laura havia despertado.
Encheu o segundo copo de uísque, e bebeu de uma vez só. Ele só
sairia dali quando todo o seu estoque de bebida chegasse ao fim, e se
dependesse dele não demoraria muito.
Laura ainda estava atônita, a ficha de que ele não seria mais uma
stripper ainda não tinha caído, parecia um sonho que estava prestes a virar
um pesadelo, como todos os outros, mas no fundo, Laura sabia que agora era
real.
Com um sorriso no rosto, algumas dores no corpo e a alma ainda
escura, ela levantou da cama e entrou no banheiro. Deixou o roupão cair no
chão, abriu o registro da água e deixou as gotas mornas massagearem seu
corpo.
— Livre... — falou ela, enquanto a água caía em sua cabeça. —
Estou livre.
Lágrimas se misturavam com a água do chuveiro. Ela chorava de
alegria, finalmente a dívida de seu pai estava paga, sua irmã teria uma vida
normal e ela poderia cuidar de Nicolle como sua mãe cuidaria se estivesse
viva.
Depois de dez minutos embaixo da água, Laura fechou o registro,
enrolou o seu corpo a uma toalha branca e seus cabelos em outra. Olhou seu
reflexo no espelho embaçado pelo vapor do banho. Usando sua mão para
limpá-lo, ela fitou um sorriso que não via a muito tempo.
Ela não demorou muito, secou seus cabelos e vestiu a roupa que tinha
escolhido para usar naquela noite; uma calça jeans escura com uma blusa de
mangas azul. Seu tênis branco nos pés, e a bolsa em seu ombro, Laura fechou
a porta do quarto sem olhar para trás. Ali ela pretendia deixar uma garota
sofrida e humilhada.
A cabaça de Juan girava, ele já tinha bebido mais do limite para uma
noite. Juan não era o tipo de homem que se embriagava por qualquer motivo,
ele gostava de se manter sóbrio caso tivesse que agir de última hora. Com o
nariz branco devido ao uso de drogas, ele andou cambaleando até a porta no
mesmo momento que Laura passava por ela. Seus olhares de cruzaram, um
frio percorreu o corpo dela, a fazendo temer de verdade por sua vida. Já ele, a
ignorou. Fingiu que não a viu e puxou a ruiva que estava atrás de Laura. Se
ele não podia tê-la, então fantasiaria com outra mulher.
Fora presenteada com o ar frio da noite de Nova Iorque, assim que
saiu da boate. Ela olhou sobre seu ombro e deu adeus a sua antiga vida.
— Para casa, Laura? — perguntou, o mesmo taxista que a levava
todos os dias para casa.
— Sim. Está livre? — indagou ela, pousando sua mão sobre o carro.
— Para você, sempre! — Rindo, ele abriu a porta de trás. — E você,
está livre?
— Sim — ela respondeu sorrindo com sinceridade. — Agora estou
livre.
CAPÍTULO 26

Três dias já tinham se passado desde que ganhara sua liberdade. Ela
não precisava mais ter que sair todas as noites, não tinha mais que deixar sua
irmã sob os cuidados de alguma vizinha, e nem tinha mais que mentir.
Sentada no sofá da sala ao lado de Nicolle, um bip em seu celular
tirou sua atenção do filme infantil. Esticando seu braço para pegar o pequeno
aparelho sobre a mesa de centro, ela abriu a mensagem do número
desconhecido.

“Sinto sua falta, Laura.”

Com aquela, já contabilizava cinco mensagens do mesmo número


desconhecido. Ela já estava cansada daquela perseguição, Laura sabia muito
bem quem era o autor das mensagens curtas e inoportunas, porém, como
havia feito nas outras vezes, apenas apagou a mensagem e desligou o celular.
Não seria uma mensagem que iria fazê-la perder o pouco de paz que já havia
conseguido recuperar.
— Estou com fome — disse Nicolle sem tirar os olhos da televisão.
— Me diz quando você não está com fome, mocinha? — Laura riu, e
fez leves cócegas na barriga da menina, que gargalhou com vontade. — Vou
preparar uma pipoca para gente.
Ainda rindo de Nicolle, seguiu até a cozinha. Pegou uma pequena
panela, acrescentou um pouco de olho no fundo e acendeu o fogo.
Rapidamente, ela despejou dois punhados de milho de pipoca e fechou a
panela. O som da campainha se misturou ao do milho sendo estourado dentro
da panela. Laura abaixou o fogo, e correu para atender.
— Boa tarde, Laura. — Juan parecia um zumbi. Seus olhos estavam
fundos e pretos. Sua boca estava ressecada, parecia que não bebia água e nem
tomava banho há um bom tempo.
Ela tentou fechar a porta, porém, ele ainda era mais rápido e forte do
que ela, e conseguiu entrar. Segurou o braço de Laura, deixando suas unhas
cravarem em sua pele delicada.
— Juan, por favor vai embora — sussurrou, ela. — Minha irmã está
aqui.
— Ótimo, estou com saudades daquela pirralha. — Ele a soltou e a
passos largos, seguiu até a sala onde Nicolle ria do filme. — Olha quem veio
te visitar!
Exclamou, ele.
Nicolle virou a cabeça na direção da voz e abriu um enorme sorriso.
— Tio Juan! — A pequena menina de sorriso largo, saltou do sofá e
correu para os braços dele. Nicolle era inocente, e nem fazia ideia das coisas
que o homem que a segurava nos braços, havia feito a sua irmã fazer. — Que
saudades, tio. Você veio ver o filme dos monstrinhos comigo?
Juan era esperto, e utilizaria tudo e todos ao seu favor, como sempre.
— Mas é claro que eu vim assistir ao filme com as minhas duas
meninas preferidas.
Laura observava tudo de uma distância consideravelmente cautelosa.
Ela jamais o deixaria perto de sua irmã sem alguém por perto. Ele era
perigoso.
Carregando Nicolle até o sofá novamente, Juan sentou ao lado da
pequena.
— Vem Laura, senta aqui com a gente — Nicolle chamou.
Ela não tinha saída, chamar à polícia não era uma opção, muito
menos Pietro, tudo o que ela não queria era ter os dois homens que
representavam seu passado e provavelmente seu futuro, no mesmo lugar,
ainda mais com sua irmã presente.

***

Pietro sentia que algo estava estranho, seu peito estava agitado e a
noites tinha o mesmo pesadelo assombrando seus sonhos, o deixando sob
alerta.
Na cafeteria, ele e o senhor Koll arrumavam as últimas coisas para a
reinauguração do estabelecimento. A reforma já terminara, e tudo estava
conforme Pietro planejara.
— Acho que essa caixa foi a última — disse Koll, ao empilhar mais
uma caixa de papelão em cima de outras.
— Também acho — disse ele, olhando a nova cozinha reformada. —
Fizemos um bom trabalho aqui.
— Você fez um ótimo projeto. O que eu tinha planejado nem
chegava perto do que fizestes aqui, meu filho. Agora é só esperarmos amanhã
e reabrir. Chamou a Laura?
Pietro olhou para além das enormes janelas de vidros como se
buscasse dali as respostas para seus problemas.
— Não, mas irei passar na casa dela assim que sair daqui.
— Ótimo, peça a ela que traga Nicolle também, estou com saudade
daquela menina travessa.
Pietro também sentia saudades de Nicolle e principalmente de Laura.
Ele estava agindo como ela havia pedido, com calma, porém, saber que
estava se deitando com outros homens o deixava louco de raiva.
— Acho que vou lá agora. — Pietro largou a caneta e a folha do
projeto da reforma em cima do balcão da cozinha. Correu até o escritório que
tinha sido dele por algum tempo pegou suas coisas e seguiu até a casa de
Laura, sem ao menos se despedir do senhor Koll, que sorria ao vê-lo sair
quase correndo.
— Jovens... — comentou ele, voltando a empilhar as caixas.
Pietro entrou no carro, ele não gostava de gastar dinheiro com coisas
matérias, mas ter um automóvel próprio era primordial em certas ocasiões,
por exemplo: para chegar o quanto antes na casa de Laura e poder vê-la, tocar
em seu rosto e tentar a sorte de sentir o sabor de seus beijos novamente. Ele
sentiu seu membro enrijecer só de pensar em tê-la nua embaixo de seu corpo.
A vida já tinha brincado demais com eles, e era chagado o momento
da felicidade ganhar seu devido lugar em suas vidas.
Enquanto Pietro acelerava com seu carro pelas ruas engarrafadas de
Nova Iorque, Juan se aproveitava do momento. Nicolle havia acabado de
dormir em seus braços, e com a desculpa de que a colocaria na cama, ele
apegou no colo e seguiu para o quarto cor-de-rosa da menina. Laura o seguiu,
o observou colocar sua irmã na cama e a cobrir com o lençol fino branco.
— Juan, por favor acho que já está na hora de você ir embora. —
Laura fechou a porta do quarto de Nicolle e o encarou, fingindo ter coragem
para enfrentá-lo, mas por dentro tremia de medo de que ele fizesse algo
contra elas.
— Eu te quero, fica comigo e não deixarei que falte nada para vocês
— Juan suplicou.
— Juan, eu e você não existe e nunca existirá. O que me prendia a
você era a dívida do meu pai, agora que ela já foi paga, não temos mais nada.
Agora, por favor vai embora.
Juan segurou forte nos ombros de Laura, a fazendo resmungar de dor
e a empurrou até a sala. Seus olhos haviam aumentado de tamanho, suas
narinas inflavam a cada passo que ele dava com ela.
— Você não entende... Você tem que ficar comigo. Eu te amo, Laura.
— Juan, isso não é amor, é obsessão.
— É AMOR SIM! — gritou ele. — E eu sei que você também sente
o mesmo por mim.
Laura tentava convencê-lo de que seus sentimentos não eram
verdadeiros, mas foi interrompida quando o som da campainha ecoou pelo
apartamento.
— Deixe-me abrir a porta — pediu ela.
— Cala a boca — disse ele, baixo e próximo ao seu ouvido. — Não
quero que ninguém atrapalhe a nossa conversa.
Outra vez tocaram a companhia. Havia duas opções: ou ficava calada
sob as mãos de um obsessivo descontrolado que poderia fazer algo de ruim
contra ela e sua irmã, ou gritaria por ajuda e acabaria com aquele pesadelo. O
tempo estava acabando, e ela precisava agir o quanto antes.
— SOCORRO! SOCORRO! — Laura conseguiu gritar antes dele
tampar sua boca.

***

Pietro estava nervoso ao volante. Os carros pareciam que não saiam


do mesmo lugar. Ele olhava em seu relógio e parecia que o tempo havia
congelado.
Sinal vermelho, e mais carros parados um atrás do outro.
Assim que o trânsito voltou ao seu percurso normal, ele acelerou
pouco se importando se ganharia algumas multas e perderia pontos na
carteira, o que ele queria era chegar na casa de Laura e dizer o quanto
precisava dela, e se tivesse que contar toda a verdade ele contaria, o que não
podia mais era conviver com toda aquela mentira guardada em seu peito o
sufocando e o fazendo ficar cada vez mais longe do amor da sua vida.
Assim que Pietro estacionou o carro em frente ao prédio de Laura, ele
subiu os degraus até o andar que o porteiro havia lhe informado e tocou a
campainha. Ele estava quase desistindo, quando os gritos abafados vindo de
dentro do apartamento o fizeram estagnar no lugar. Era Laura. Ela estava em
perigo. Sem pensar muito, Pietro tomou impulso e com um chute movido a
raiva e desespero, ele colocou a porta de madeira abaixo.
— Acho que você não entendeu... — Juan foi interrompido pelo
barulho da porta sendo derrubada no chão.
— SOLTE-A, JUAN! — gritou, Pietro.
— Olha só quem veio nos visitar, meu amor. — Juan estava
descontrolado, e isso só fazia Laura temer por sua vida mais ainda. — Muito
obrigado pela visita, mas Laura e eu temos alguns assuntos para serem
resolvidos.
As lágrimas começaram a rolar pelos olhos de Laura, que ainda
continuava com a boca presa pelas mãos de Juan.
— Por favor, a solte e juro que não chamarei à polícia. — Pietro
entrou na sala, lentamente. Seus passos estavam sendo observados pelos
olhos vermelhos do homem. — Se você quiser dinheiro...
Laura tomou coragem o suficiente e mordeu a mão de Juan, o
fazendo soltá-la e soltar alguns palavrões. Ela aproveitou o momento para
correr na direção de Pietro, que a abraçou e logo em seguida a colocou atrás
de seu corpo, fazendo-se de escudo humano.
— Você ainda vai se arrepender por não me escolher. — Juan parecia
derrotado, porém, tanto Laura quanto Pietro sabiam que ele não se daria por
vencido assim tão fácil. Ele estava planejando algo e não demoraria muito
para revelar seu plano. — Só quero que você saiba que a nossa querida
Laura, não passa de uma garota de programa. Uma stripper que vende o
corpo para sobreviver.
Laura congelou atrás de Pietro, que se mantinha firme à sua frente.
Ela odiou ainda mais Juan naquele momento e desejou com todas as suas
forças que ele sofresse muito por todo o mal que estava causando.
— Pietro, eu...
— Ah, também preciso contar que o seu amado Pietro sabe onde está
o seu pai, e com quem ele está também, já que foi a mãe dele o real motivo
pelo abandono e o suicídio da sua. Não se engane, Laura. Pietro sabia todo
esse tempo quem você era e o que você fazia. Sempre soube da sua dívida e
não fez nada para salvá-la das coisas que passou na boate. É realmente uma
pessoa como essa que você deseja ao seu lado e da sua irmã?
Laura sentiu sua cabeça girar e seu mundo ruir diante de seus olhos.
Depois de todo aquele tempo sem ouvir nenhuma notícia de seu pai,
finalmente ela soubera de alguma, mas não como desejou.
Juan já tinha jogado a bomba, agora era só deixá-la explodir e tudo
começaria a andar conforme o planejado. Ele saiu sem que ninguém
percebesse. Desceu os degraus até a entrada do prédio, pegou sua moto e saiu
dali sabendo que mais cedo ou mais tarde teria seu plano concretizado.
— Laura, não é bem assim. — Pietro a olhou. Ela permanecia com
seus olhos fechados, forçando as lágrimas teimosas voltarem para seu devido
lugar. — Eu posso explicar.
— Explicar? — repetiu ela. — Você sabia desde o início quem eu
era. O que eu fazia e onde estava o meu pai e não fez nada? Fui humilhada,
estuprada, espancada e várias outras coisas e você ficou só observando?
As palavras dela machucavam cada vez mais Pietro, que não sabia o
que fazer para contornar toda aquela situação.
— Me diga apenas uma coisa, só por uma vez seja honesto comigo.
— Laura fungou. — Você sequer falou alguma vez para meu pai aonde eu
estava ou o que estava fazendo para pagar uma dívida que não era minha?
Pietro ponderou, ele sabia o que tinha que falar, porém, como ela iria
reagir ele não fazia ideia.
— Não.
Laura chorou, mas não deixou que o choro tomasse conta dela. Ela
secou o rosto e parou ao lado da porta caída no chão.
— Saia da minha casa e da minha vida.
— Laura...
— Saia!
— Se você me ama de verdade seja honesta consigo mesma, quer
mesmo que eu saia da sua vida?
Ela engoliu seco.
Pietro estava dificultando as coisas para ela.
— Eu te amo — suspirou. — Você apareceu naquela manhã chuvosa
querendo conversar, me ofereceu um emprego mesmo sem saber quem eu
era, e ali, naquela hora eu descobri que tinha encontrado minha alma gêmea.
— Laura parou para pegar um pouco de ar, enquanto Pietro continha às
lagrimas. — Mas não tem como eu ficar com alguém que não moveu um
dedo sequer para me tirar da lama onde meu pai havia me deixado por causa
da sua mãe.
— Me perdoe, Laura deixe-me te fazer feliz. Reparar todos os erros
do passado. — Ele encurtou o espaço entre eles.
— Você não entende mesmo, Pietro! — aumentou seu tom de voz. —
Nunca serei essa pessoa que você quer. Adeus, Pietro.
Ela não o olhou. Virou de costas e esperou que saísse, para só então,
poder chorar.
CAPÍTULO 27

Já haviam se passado três dias desde que toda verdade veio à tona.
Laura e Pietro pareciam dois estranhos enclausurados em suas casas.
Tanto ela quanto ele, sofriam devido as mentiras.
Deitado em sua cama no quarto onde ele e Laura fizeram amor pela
primeira vez, Pietro secou a milésima lágrima que escorria de seus olhos.
Parecia que era somente aquilo o que ela sabia fazer ultimamente.
— PORRA! — esbravejou ele, irritado por ter deixado que tudo
chegasse naquele ponto.
O som do celular tocando no chão o faz recuperar um pouco a calma.
Na esperança de que fosse Laura do outro lado da linha, levantou e
rapidamente pegou o celular o levando até seu ouvido sem ao menos ver o
nome no visor do pequeno aparelho.
— Até que enfim! — Dominic falou, aliviado. — Estou à sua procura
há dias, por onde andou?
Outra vez o sentimento de tristeza voltou a tomar conta do corpo
dele. Por um momento, pensou que poderia ser Laura ligando para conversar
sobre tudo o que aconteceu, ou apenas para saber como ele estava, porém,
não era ela.
— Diga logo o que você quer, Dominic. Não estou...
— Não quero saber. Já estou cheio de problemas para resolver, não
posso ter mais um, mesmo que não seja meu. Liguei para saber quando você
vai para a casa da sua mãe? Quero uma carona, meu carro está na oficina
mecânica.
— Casa da minha mãe? — indagou Pietro, sem entender.
Dominic soltou uma longa respiração, até que voltou a falar.
— Você esqueceu do casamento da própria mãe? — Ele riu,
sarcástico. — Nesse sábado...
Pietro não esperou que seu amigo terminasse de falar, desligou o
celular e o tacou com força na cama. Era por cauda da sua mãe e do pai de
Laura que ele havia se metido naquela confusão. Ele jamais iria no casamento
das pessoas responsáveis pelo sofrimento de Laura, não depois de tudo o que
ela teve que passar.
Não muito distante dali, Laura tentava não pensar muito em Pietro,
ou nas coisas que Juan havia lhe dito. Ela não queria concordar com ele, mas
seu coração gritava afirmando que Juan estava certo. Ela não passava de uma
simples stripper, uma garota de programa e nada mais.
— Laura! — gritou Nicolle, trazendo-a para o mundo real. — Olha
só o desenho bonito que eu fiz. — A pequena menina que tinha um sorrido
largo nos lábios, entregou o papel a irmã, que olhava atentamente na tentativa
de entender do que se tratava. — Essa aqui... — Apontou ela. — É você, essa
sou eu, esse do me lado é o tio Juan e esse do seu lado é o tio Pietro. Não
ficou bonito meu desenho, Laura?
Ela queria dizer para a irmã nunca mais desenhar ou sequer pensar
em nada que fosse relacionado ao homem que a fez de garota de programa e
nem do homem que mentiu para ela sobre o paradeiro do seu pai.
— Está lindo, meu amor. Agora guarde seu desenho que já está na
hora de jantar.
Nicolle correu até a sala onde seus lápis de cores e folhas estavam
jogados, enquanto Laura prendia seu cabelo que já estava um pouco maior.
Cansada de ficar chorando, de perder noites de sonos. Ela ansiava sorrir de
novo e agora que estava finalmente livre, ela faria por onde nunca mais ter
que voltar para aquela vida de humilhação.
As horas pareciam não passar, para onde olhava lá estava ele. Era
evidente que ela o amava mais do que deveria, mais do que a si mesma,
porém, seu coração e orgulho estavam feridos demais para reconhecer o
quanto Pietro havia mudado sua vida por ela.
Andando até a cafeteria do senhor Koll, ela pedia aos anjos que não
esbarrasse com ele. Não sabia se aguentaria ficar muito tempo cara a cara
com ele sem dizer nada, sem olhá-lo nos olhos. Seu corpo clamaria pelo dele,
mesmo se sentindo suja.
Eram exatamente nove e meia da noite quando Laura atravessou a
porta da frente da cafeteria. Não havia mais nenhum cliente ali, e o senhor
Koll já se preparava para fechar a loja quando olhou em direção da porta e
avistou uma Laura abatida e alguns quilos mais magra. Ela sorriu sem ânimo
para ele, que soube na hora que ela não estava bem. Deixou seu avental sobre
o balcão e andou em sua direção com os braços abertos a abraçando. Laura se
permitiu chorar mais uma vez, só que dessa vez ela não estava sozinha, tinha
um ombro amigo para desabafar.
— Chora, minha filha... pode chorar. — Koll acariciava os cabelos de
Laura, enquanto ela soluçava.
— Eu o amo tanto... — sussurrou ela, entre os soluços e lágrimas. —
Mas não posso ficar com ele.
O senhor que um dia já tinha sido seu chefe e agora estava mais para
um amigo confidente, afastou seus corpos. Passou suas mãos enrugadas pela
face molhada pelas lágrimas e segurou o rosto de Laura, a encarando sério.
— Você pode fazer tudo o que quiser, o que te impede é você mesma.
Eu não sei o que aconteceu entre vocês, e sinceramente, nem quero saber,
isso é algo que diz respeito somente a você e ele, mas uma coisa eu posso
dizer... — Ele sorriu ao beijar as bochechas de Laura, que sorriu de volta. —
O Pietro é louco por você, minha querida. Eu sou bastante vivido, já vi
muitos casais se formarem aqui nesse café, já presenciei pedidos de
casamentos e declarações de amor, sei identificar quando um homem está
apaixonado, e eu posso afirmar com toda a certeza de que ele te ama.
Enquanto Laura ouvia o conselho do senhor Koll, Pietro tomava a
dura tarefa de falar com sua mãe. Depois de meses sem notícias dela ou de
seu irmão mais novo, Pietro tinha que tirar satisfação sobre tudo o que estava
acontecendo.
Respirando fundo, Pietro deslizou o dedo pela tela do celular indo aos
contatos achando o de sua mãe e logo em seguida colocou o aparelho em seu
ouvido.
Um toque.
Dois toques.
No terceiro toque a voz rouca de Briana invadiu seus tímpanos.
— Filho? — perguntou ela, com medo. — É você Pietro?
Silêncio.
Pietro não sabia o que dizer, ele estava furioso com sua mãe. Ele não
sabia se a perdoaria algum dia por ter escolhido ficar com um homem que
arruinou a própria família apara ficar com outra mulher.
— Meu filho...
— Agora sou o seu filho? — Sua voz tinha um som de desprezo. —
Mas quando você preferiu ficar com aquele homem eu não era mais o seu
filho, não é? Sou apenas quando lhe convém.
Briana deixou uma lágrima solitária e silenciosa cair. Ela sabia que
Pietro não aceitaria seu relacionamento com David, porém, ela o amava,
— Você vem para o meu casamento? Eu ficaria muito feliz em tê-lo
aqui. Queria tanto que você me levasse ao altar.
Pietro riu, alto. Passou a mão esquerda no cabelo e sorveu uma boa
lufada de ar.
— A senhora só pode estar de brincadeira. Eu jamais, ouça bem,
jamais irei concordar com uma coisa dessa. A senhora destruiu uma família.
Fez uma mãe tirar a própria vida por causa do abandono do marido, o mesmo
com quem pretende se casar. Acha mesmo que ele não fará igual da primeira
vez? Que garantia a senhora tem que ele não irá deixá-la por uma mulher
mais jovem?
— Pietro, não admito que fale nesse tom comigo. Eu sou sua mãe,
quer queira ou não!
— A verdade dói, não é? — perguntou Pietro, retoricamente. —
Espero que seja feliz sabendo que sempre será a outra.
Tomada pela raiva, Briana encerrou a ligação aos prantos. As
lágrimas brotavam de seus olhos sem nenhum esforço. Seu corpo se curvou e
o choro tomou conta da mulher que antes sorria.
David chegou em casa depois de mais um dia de trabalho, quando viu
a mulher chorando compulsivamente no chão da sala. Ele se apressou para
socorrer a mulher que só sabia chorar naquele momento.
— Amor, o que houve? Fala comigo. Briana. — David segurou a
mulher em seus braços e a levou até o sofá de três lugares da sala. — Deite-
se, vou pega um copo de água com açúcar...
— NÃO! — gritou ela. Suas mãos o segurava pela camisa azul
xadrez. — Eu sempre serei a outra na sua vida?
David a olhou sem entender onde ela queria chegar com aquela
pergunta.
— Como assim, outra?
— Pietro ligou... — Soluçou ao falar. — Ele disse que sempre serei a
outra em sua vida. Eu sei que não é verdade, acredito no seu amor, no nosso
amor. Eu só queria que ele aceitasse e me levasse até você no altar, mas ele
disse que não virá.
David sentou ao lado da esposa no sofá, abraçou seu corpo trêmulo e
disse:
— Mas tem uma coisa que não sai da minha cabeça. Porque você
nunca procurou suas filhas? — A pergunta de Briana pegou David
desprevenido. — Eu sei como lidar com o meu filho, mas eu acho que já está
na hora de você ir atrás das suas filhas.
— Não se preocupe com isso, tudo dará certo. Eu prometo.

***

Sete dias. Esse era o número de dias que Laura e Pietro já estavam
distantes um do outro. Depois da conversa como senhor Koll, Laura pensou
bem no que faria, e chegou à conclusão de que um hora ou outra eles teriam
que sentar e conversar, porém, faltava coragem para que Laura pudesse fazer
isso, até aquela noite.
Respirou fundo tomando coragem para fazer o que estava
determinada naquela hora. Contando de um até dez, ela digitou o código no
elevador que dava acesso ao último andar naquele prédio. Dentro do
elevador, ensaiava o que iria dizer, porém, ela tinha certeza que na hora todas
as palavras sumiriam como em um passe de mágica, e foi exatamente o que
aconteceu. Quando as portas enormes de ferro do elevador se abriram,
revelando um ambiente sujo, cheio de garrafas vazias e um Pietro caído em
meio a sujeira, Laura se desesperou. Ela correu até ele, que estava deitado no
chão com uma garrafa na mão.
— Pietro, por favor responde — pediu ela, agachando-se ao lado dele
e erguendo sua cabeça sobre suas pernas. — Acorde, Pietro. Vamos!
Estava sonhando com um lindo lugar, onde ele poderia estar com
Laura, livres de qualquer medo e preocupação. Podia ouvir a voz da sua
amada lhe chamando para caminharem de mãos dadas pelas ruas daquele
lugar, mas toda vez que tentava correr, Laura parecia ficar mais e mais
distante.
— PIETRO! — gritou Laura, desesperada já pensando o pior.
Aos poucos, ele foi recuperando a consciência, seus olhos piscavam
se acostumando com a luz da sala. Ele não sabia que dia e nem que horas
eram, para ele, nada mais importava se Laura não fizesse parte.
Depois de um banho frio e duas xícaras de café forte e sem açúcar,
Laura e Pietro estavam cara a cara.
Ela tamborilava seus dedos sobre a mesa da cozinha, enquanto ele, a
admirava. Fazia dias que ele não a via.
— Precisamos conversar — disse ele depois de um longo tempo
calado.
— Concordo.
— Onde está Nicolle? — Pietro bebeu o resto de café que estava na
xícara, com aquela, já contabilizava o total de três.
— Com uma vizinha. Não se preocupe.
As mãos dele formigavam para tocarem em Laura, mas ele iria
respeitar o espaço que ela tinha imposto. Esperaria tudo se acertar para só
então, tê-la outra vez em seus braços.
— Tudo bem, então... — Pietro foi interrompido pelo som do
interfone. Ele olhou em seu relógio e constatou que já se passava das quatro
horas da tarde. Ele pediu desculpas a Laura e foi atender. — O que
aconteceu, Ramiro?
Do outro lado da linha, Ramiro o porteiro informava que um senhor
desejava falar come ele, e que não poderia esperar mais. Intrigado, Pietro deu
a ordem para que deixasse subir. Caminhou até aporta de entrada do elevador
e esperou que as portas se abrissem e revelasse quem desejava falar com ele.
Seus olhos não queriam acreditar no que estavam vendo. Era impossível que
aquela pessoa estivesse ali, bem diante dele. Suas mãos se fecharam e Pietro
precisou cravar suas unhas nas palmas das mãos, uma tentativa falha e tosca
de reter sua raiva.
— O que você está fazendo aqui? — perguntou Pietro, com os dentes
serrados. — Como descobriu onde moro?
— Temos que conversar, e tem que ser agora.
Pietro sabia que se ele desse mais um passo em sua direção, sua raiva
não poderia ser contida. Porém, o fato de que Laura estava no outro cômodo
à sua espera o fez repensar no que diria.
— Não temos nada para conversar. Se retire, por favor. — Pietro
estava mantendo o cuidado para não fazer barulho e acabar chamando a
atenção de Laura. Tudo o que ele menos queria era que ela sofresse ainda
mais.
— Temos sim! Com que direito você fala para a sua mãe que ela
sempre será a outra em minha vida? Será que você não entende que nos
amamos, e ela só queria que o filho mais velho dela a levasse até o altar? Não
vim para brigar com você, Pietro. Estou aqui para te levar comigo para o meu
casamento, isso...
O homem que falava com Pietro se calou. Seus olhos fixaram em
Laura que o encarava incrédula.
— Laura...
— Casamento? — perguntou ela. — Eu não acredito no que acabei
de ouvir. Depois desse tempo todo, o senhor aparece na porta dele exigindo
que ele vá no seu casamento!
Pietro correu até Laura, que mantinha seus olhos fixo em seu pai. A
raiva era evidente em seu rosto, sua face branca ganhou um tom avermelhado
e seus olhos pareciam que saltariam a qualquer momento.
— Filha, deixa eu explicar. — David tentou acalmá-la, mas a jovem
já havia perdido a paciência.
— Não tem explicação para o que senhor fez! Por sua culpa minha
mãe se suicidou. Por sua culpa minha irmã e eu fomos despejadas de casa.
Por sua culpa eu tive que tirar a roupa para colocar comida na mesa e pagar a
merda da sua dívida com um bandido. Por sua culpa eu fui humilhada,
desprezada, espancada e estuprada. Por sua culpa. Sua. Sua. Sua! Será que
em nenhum momento você pensou em mim? Ou em Nicolle que é a mais
nova? Que merda de pai é você que abandona a família e não procura saber
pelo menos se estão vivas.
— Laura...
— Laura porra nenhuma! Eu te odeio com todas as minhas forças. Te
odeio. Te odeio. Te odeio! Quero que você morra sozinho igual fez com a
minha mãe.
Laura não havia notado, mas tinha se aproximado o bastante de
David ao ponto de socar seu peito.
Seu pai estava atônito, ele não fazia ideia do que a filha teve que
passar depois que a deixou à mercê da própria sorte. Ele abaixou sua cabeça.
Passou as pontas dos dedos em seus olhos e falou sem olhá-la:
— Isso não ficará assim.
CAPÍTULO 28

Depois que David foi embora sem dizer nada, Laura correu para os
braços de Pietro e chorou. Ali ela sentia que estava em segurança, em paz. A
paz que ela tanto buscava e que finalmente havia encontrado.
Pietro a levou até o quarto. Com carinho, a deitou sobre a cama e
como se Laura fosse uma criança com medo do escuro, ele deitou ao seu lado
e ali ficou.
— Eu não mereço isso. Não mereço o seu carinho — murmurou,
Laura. — Não depois de tê-lo tratado tão mal dias atrás.
— Não se preocupe com isso. Erramos, mas o que importa e que
agora estamos aqui e eu estou disposto a ficar do seu lado mesmo que eu
tenha que enfrentar um batalhão de Juans.
Laura sorriu.
Seus olhares se encontraram suas bocas estavam próximas. Bastava
apenas um deles se inclinar para que suas bocas se tornassem uma só. E foi
Laura quem tomou a iniciativa. Ela encurtou a distância entre eles. Sua língua
pediu passagem para dentro da boca de Pietro assim que seus lábios se
encostaram. Laura levou suas mãos até a nuca de Pietro, intensificando cada
vez mais o beijo.
Ele ansiava por aquele beijo a vários dias, que mal podia acreditar
que aquilo estava acontecendo. Seu corpo reagiu ao beijo, ele senti seu
membro ganhar vida, endurecendo dentro da cueca. Ele fez menção de ficar
por cima do corpo de Laura, mas como se algo despertasse dentro dela, ela o
afastou.
— Não posso — ela disse, ofegante. — Eu não consigo, não depois
de tudo o que aconteceu comigo.
— Calma, tudo bem. No seu tempo, só quero que saiba que eu te amo
e vou te esperar o tempo que for preciso.
Laura tinha certeza de que Pietro não era real. Não existia homem
mais gentil e atencioso que ele. Com o olhar de apaixonada, ela uniu outra
vez seus lábios, e com eles grudados, ela disse a frase que mudaria tudo.
— Eu te amo.
Pietro cessou o beijo. A encarou na esperança de que o que acabara
de ouvir fosse verdade e não uma brincadeira que sua cabeça estava lhe
pregando.
— Você disse...
— Que te amo, Pietro. Sei que você mentiu para mim, assim como eu
também achei que estava mentindo para você, erramos, somos humanos e
falhamos muitas vezes, mas no meio dessa confusão toda você surgiu e me
salvou da escuridão na qual eu me encontrava cada vez mais imersa.
Pietro parecia uma criança boba que ansiava pela chegada do bom
velhinho na véspera de Natal. Mal conseguia acreditar no que Laura estava
falando. A tempos ele não sentia-se assim, tão alegre; completo.
— Você acabou de me fazer o homem mais feliz do mundo, pelo
simples fato de ter o amor. — Ele a beijou de leve na boca. — Dorme aqui
essa noite?
Laura o olhava com amor e sabia que não resistiria, aceitaria seu
pedido de passar a noite ao seu lado, mesmo que fosse apenas para dormir.
Ela também queria e sabia que iria se arrepender depois quando chegasse em
casa. Eles precisavam de um tempo juntos e sozinhos. Lentamente, afastou as
cobertas e deitou-se. Pietro imitou o seu gesto e logo já estavam deitados na
cama. Com a cabeça apoiada sobre seu peito, Laura fechou os olhos se
entregando ao sono, seu corpo estava cansado demais devido ao que havia
acontecido mais cedo com o seu pai, ela só desejara dormir e deixar aquelas
horas vividas para trás. Mas antes que ela já estivesse totalmente entregue ao
sono, a voz de Pietro invadiu seus ouvidos em um sussurro.
— Você é tudo para mim. Eu te amo! — Laura não falou nada,
apenas absorveu aquelas palavras e assim dormiram juntos.

***

Os raios solares que entravam pela janela aberta do quarto, obrigaram


Laura a despertar. Ela não queria ter que voltar para a realidade. Deitada nos
braços de Pietro, ela percebeu que ali era seu verdadeiro lar, onde ela sabia
que poderia descansar e ser feliz.
Com cuidado, Laura levantou da cama para não acordá-lo, ele dormia
tranquilamente como se os problemas lá fora não existissem mais e isso
aquecia o seu coração. Ela calçou seus chinelos e deu uma rápida conferida
em seu rosto no espelho do banheiro, ela não queria que Pietro a vissem
descabelada logo de manhã cedo. Deixando um Pietro adormecido, Laura
seguiu até a cozinha para prepara um café da manhã especial para eles. Ao
chegar na cozinha, avistou sua bolsa sobre a mesa. Pegou seu celular e ligou
para saber como sua irmã estava. Sua vizinha que cuidava das crianças do
bairro, informou que Nicolle já estava na escola e que chamou por ela durante
a noite. Laura se sentiu um pouco mal por tê-la deixado sozinha, mas logo
arrumaria um jeito de recompensá-la. Laura mal guardou seu celular dentro
da bolsa e uma mensagem chegou.

“Número desconhecido”

O último número desconhecido que mandara mensagem para ela


havia sido Juan e fazia alguns dias que ela não sabia nada sobre ele. Ela
preferiu ignorar a mensagem e focar sua atenção no café da manhã que estava
prestes a começar a fazer, mas outra mensagem tinha acabado de chegar.
Laura estava começando a ficar intrigada para saber o conteúdo da
mensagem, mas outra vez resolveu deixar para depois as mensagens. Não
seria uma mensagem de um estranho que a tiraria do foco. Porém, o número
desconhecido era insistente, e mais duas mensagens chegaram uma atrás da
outra. Tomada pela curiosidade, Laura deixou a cafeteira de lado e pegou o
celular. Na primeira mensagem havia apenas um bom dia, na segunda um
saudades dos seus beijos, a terceira mensagem pedia para que ela não o
ignorasse, mas foi a quarta mensagem que a fez tremer. Um vídeo de seu pai
sendo torturado a fez querer gritar. Nele, Juan espancava David, arrancando
gemidos de dores.

“Está vendo o que acontece com quem me deve? Seu papai veio tirar
satisfação comigo. Dizendo que eu te aliciei, ingênuo, mal sabe que a filha
gostava de tirar a roupa, mas tudo bem, eu te perdoo por ter falado coisas
ruins sobre mim. Serei até bonzinho e irei deixá-lo ir se, você vier até a
boate, sozinha. Estarei à sua espera, entre pela garagem e desça as escadas,
tic-tac, o tempo está se esgotando e a vida do seu papai também.”

Laura deixou seu celular cair se espatifando todo no chão. Por mais
que sentisse raiva de David, jamais desejara seu mal, ele não merecia morrer
daquele jeito, muito menos pelas mãos de Juan. Ela pegou sua bolsa, correu
até a sala e pegou a chave do carro que estava sobre a pequena mesa de
centro e saiu sem se despedir de Pietro. A vida de seu pai dependia dela, e se
Pietro soubesse onde ela estava indo com tanta pressa, tentaria para-la e
acabaria colocando tudo a perder. Assim que chegou ao estacionamento do
prédio, Laura desativou o alarme do carro. O pouco que ela sabia sobre
direção aprendera nos jogos de corridas que jogou com os amigos depois que
saía das aulas de balé, aquilo teria que servi para alguma coisa. Ela ajeitou o
retrovisor do carro, girou a chave e dirigiu até a saída. Já na rua, ela deixava o
medo para trás e começava a ganhar velocidade, correndo contra o tempo
para chegar na boate e salvar seu pai. Laura ultrapassava os sinais vermelhos,
e quase provocou um acidente grave, se não fosse a agilidade do outro
motorista ao desviar do carro que ela dirigia. Em menos de vinte minutos,
Laura já estava estacionando em frente à boate. Ela desceu do carro e correu
até a garagem que ficava na parte de trás do local. A porta estava entreaberta,
dando uma pequena visão da parte de dentro. De repente, uma mão a puxou
para dentro. Laura não teve muito tempo para questionar, pois a mesma mão
que havia lhe puxado agora cobria sua boca a impedindo que gritasse por
ajuda. Fazendo como Juan havia dito no vídeo, ela desceu as escadas
chegando ao subsolo da boate. Seu pai estava caído no chão, mergulhado em
uma possa de sangue, o qual provavelmente seria o dele. Ela tentou gritar,
mas as mãos que a seguravam eram fortes demais.
— Pode soltá-la — falou Juan, surgindo de um canto escuro. Em sua
mão direita ele carregava uma arma, e na outra uma faca. Ele apontou para o
corpo de David com a faca e olhou para Laura. — Ele não parava de falar que
você jamais me amaria. Isso acabou me deixando muito furioso, então cortei
a língua a dele.
— NÃO! — Laura gritou. O choro tomou conta de seu corpo a
fazendo cair de joelhos, ao perceber que seu pai estava morto. — Pai...
Laura havia dito que desejava que seu pai morresse, mas não era
verdade. No momento da raiva, ela falou sem pensar, e só naquele momento
ela viu o quão forte eram as palavras. Seu peito doía, ela nem tinha mais um
coração o qual pudesse dizer que estava em frangalhos.
— Não chore por ele, meu amor. Lembre-se que se não fosse por ele
a gente não teria se conhecido. Eu apenas o matei porque ele me devia, e foi
você quem pagou a dívida e não ele, então nada mais justo do que ele morrer.
Aqui se faz aqui se paga, meu amor.
Ela não conseguia encarar Juan, o choro havia cedido o lugar ao
medo. Ela só queria chegar perto de seu pai. Queria pegar em sua mão e dizer
que o perdoava por tudo.
— Por que você fez isso, Juan?
— Porque? — perguntou ele de volta. — Por todo o sofrimento que
ele te causou, meu amor. Mas pode ficar tranquila, ele teve um fim bastante
doloroso.
— Doloroso... — murmurou ela.
— Sim — afirmou. — Primeiro, espanquei, acho que quebrei
algumas costelas dele. Depois, chamei dois homens que trabalham para mim.
Sabe, eles curtem um sexo selvagem e não importa se é com mulher ou
homem, deixei seu pai sob os cuidados deles por umas horas. Depois, voltei e
cortei o dedo que ele usou para me acusar de estrupo... Onde já se viu.
Mesmo assim ele continuava a me irritar, então cortei a língua dele. Eu não
queria matá-lo a facadas, nunca fui muito fã de armas brancas, e além do
mais eu já tinha matado aquele cara que vivia te perseguindo na boate, assim.
Mas no fim, mirei na cabeça e atirei.
A vida de Laura também estava sendo ceifada através das palavras
dele. Ela ainda não tinha se recuperado da perda de sua mãe, e agora teria que
lidar com o assassinato de seu pai. Ela pensou que chegaria a tempo e o
salvaria, mas já era tarde demais. Juan provavelmente já deveria tê-lo matado
a horas, gravou o vídeo só para fazê-la ir às pressas até a boate. Ela tinha
voltado à estaca zero, onde tudo começou e tudo terminaria.
— Eu deveria tê-lo matado quando tive chance — falou, ainda sem
olhá-lo. — EU TE ODEIO!
Finalmente Laura havia tido coragem para encará-lo, mas logo se
arrependeu. Juan a encarava com raiva, suas mãos tremiam. Ele estava fora
de controle, pronto para cometer outra loucura.
— Me odeia? — Juan se aproximou. Ela abaixou sua cabeça. — Eu
fiz tudo isso por você. Para te vingar!
— Vingar de quê? Juan, você é louco!
Ele riu alto. Levou suas mãos à cabeça e começou a andar em
círculos, resmungando palavras desconexas que Laura não conseguia
entender.
— Vou te mostrar como um louco fode. — Juan largou a arma e a
faca ao lado do corpo de David, ergueu Laura e começou a beijá-la a força.
Ela se debatia, porém, Juan tinha o dobro da sua força. A jogou no chão com
força fazendo-a bater com a cabeça. — Não finja que não gosta...
Laura fechou os olhos e pediu com todas as suas forças para que
alguém chegasse e tirasse sua vida, pois morrer seria melhor do que ter que
passar por aquilo outra vez.
Juan rasgou a blusa preta de alças finas que ela usava, apalpou seus
seios por cima do sutiã e quando sua boca estava prestes a tocar o mamilo de
Laura, o som de um disparo a ensurdeceu. Laura estava de olhos fechados,
esperando que a morte a levasse. O corpo de Juan caiu sobre o dela.
Lentamente, abriu os olhos e viu Juan, pálido a encarando com lágrimas nos
olhos.
— LAURA! — Pietro correu até ela, tirou Juan de cima de seu corpo
e a abraçou. — Você está bem? Ele te machucou?
Laura estava em choque. Não conseguia falar nada, ela apenas
observava o corpo de Juan perdendo a vida aos poucos. Ela caminhou até ele,
se ajoelhou ao seu lado, com cuidado, colocou a cabeça de Juan sobre suas
pernas.
— Pietro, chame ajuda, por favor — Laura suplicou.
— Laura, deixa ele morrer. Ele merece isso.
— Ninguém merece morrer sozinho, por mais que ele mereça. —
Laura falou.
— Me perdoa... — Sangue saía de sua boca. — Laura...
— Não consigo fazer isso. Você me tirou todos que eu amava. Não
posso te perdoar, mas posso ficar aqui até que você morra, lentamente, assim
como o meu pai morreu por suas mãos — sussurrando em seu ouvido, Laura
disse: — Eu te amei, mas seus atos me fizeram te odiar.
E assim ela fez. Laura ficou ali naquela posição até que aos poucos
Juan foi deixando a vida que levava para trás. Pietro não saiu de seu lado
enquanto os policiais fechavam o cerco na parte de cima da boate, tiros eram
ouvidos, mas Laura não se importava, quem ela queria ver morrer já estava
morto em seus braços. Finalmente todo o pesadelo que ela chamava de vida
havia chegado ao fim. Os paramédicos chegaram, tiraram Juan de Laura.
— Acabou, meu amor. Acabou. — Pietro repetia essas palavras como
se fosse um mantra.
— Como você me achou?
— Quando acordei e não te vi ao meu lado, algo dentro de mim me
alertou. Te procurei pelo apartamento todo, mas não te encontrei. Vi seu
celular no chão, infelizmente ele quebrou na queda. A sorte foi que meu carro
tem rastreador, notei que a chave não estava sobre a mesinha de centro, liguei
para a seguradora e junto com Dominic, meu amigo, acionamos a polícia. Eu
sinto muito pelo David, sei que ele fez coisas terríveis, mas era o seu pai, e é
o pai do meu irmão também. Não sei como irei dar a notícia da morte para
minha mãe.
— Daremos um jeito. — Laura descansou sua cabeça no peito de
Pietro, enquanto levavam o corpo de seu pai.

***

Laura não conseguiu dormir naquela noite, a todo instante as cenas da


morte de Juan vinham atormentar seus sonhos. Pietro estava ao seu lado. Ela
não quis ir para seu apartamento, preferiu dormir em casa com sua irmã.
Na manhã seguinte Laura, Pietro e Nicolle já estavam embarcando no
primeiro voo para Seattle. Eles tinham a dura tarefa de comunicar a morte de
David a Briana, ela também tinha o direito de se despedir do esposo, assim
como Laura do pai.
Nicolle não sabia o motivo deles estarem viajando, mas estava
animada, pois Laura tinha contado que elas iriam conhecer o irmãozinho
delas. Sempre tinha sido somente elas, agora um novo membro entrava para a
família.
Dentro do avião, Pietro segurava a mão que de Laura. Eles estavam
mais unidos do que nunca. Ele realmente estava ao lado dela para o que
viesse. O voo duraria quase cinco horas, tempo suficiente para ela ensaiar o
que falaria para Briana quando a visse.
As horas passaram, literalmente, voando. As duas horas da tarde
Laura pisava em Seattle. Do aeroporto até a casa de Briana, era quinze
minutos de carro. Laura só tinha uns míseros quinze minutos para criar
coragem.
— Você está bem? — perguntou Pietro, assim que entraram no táxi.
— Quando isso tudo passar, ficarei bem.
Ele a beijou de leve nos lábios e seguira rumo a sua antiga casa.

***
Briana recebeu o filho de braços abertos. Ela não sabia que estava de
volta, muito menos com Laura e Nicolle ao seu lado, mas as recebeu com
carinho.
— Esse é o Adam. Adam, essas são Laura e Nicolle, suas irmãs. Diga
oi, meu amor — Briana falava com a voz calma.
— Oi.
— Eu sou a Nicolle. Quantos anos você tem? Eu tenho cinco.
— Tenho seis anos. Você quer brincar no escorregador lá fora?
Laura sorriu para a irmã quando ela juntou as mãozinhas em um
pedido. Os dois saíram correndo até o quintal da casa como se já se
conhecem a tempos.
— Crianças tem uma facilidade incrível de fazer amizade uma com a
outra. Admiro isso nelas — comentou, Briana. — Então, vieram para o
casamento. Estou uma pilha de nervos. É amanhã! — Vibrou de felicidade.
Laura olhou de Briana para Pietro. Respirou fundo e com lágrimas
em seus olhos começou a contar.
Briana que antes sorria alegremente pela chegada do filho, gritou de
desespero ao saber que seu marido estava morto. Ela levantou e correu até a
porta da frente na tentativa de ver David chegar com a sacola do mercado
como fazia todas as noites ao sair do trabalho. Pietro correu até a mãe e
puxou para dentro. Prendeu seu corpo ao dele e deixou que ela chorasse.
Laura continuava ali sentada no sofá, chorando em silêncio. Era muita coisa
para ela lidar, Laura não tinha certeza se aguentaria por muito tempo manter a
pose de durona.
Aos poucos Briana foi se acalmando, mas suas lágrimas continuavam
a rolar pelo rosto.
— Eu não acredito, amanhã iriamos nos casar, agora tenho que
enterrar meu esposo.
— Mãe, estamos aqui para ajudá-la a passar por isso. Lembre-se que
ele era o pai de Laura.
Depois que contou tudo o que passou e o motivo pelo qual levou
David à morte, Briana a abraçou e se compadeceu da dor que Laura carregava
em seu peito.
— Ah, minha filha... — sussurrou, Briana. — Eu sinto muito. Eu
jamais imaginei que isso aconteceria. Juro que se soubesse eu mesma teria
ido atrás de você e da sua irmã. Vai ficar tudo bem, sei que seu pai iria querer
nos ver unidas. Afinal, temos elos que nos une. — Laura olhou para Pietro
que sorriu para ela. — Estamos todos juntos nessa.
Briana se jogou nos braços de Laura que retribuiu o abraço apertado
da sua madrasta.
Ali era o começo de algo novo. Por mais que fosse dolorido para
todos, certas atitudes foram necessárias para que eles chegassem até ali,
unidos como uma só família.
EPÍLOGO

Eu ainda não conseguia acreditar que quatro anos já tinham se


passado. Pietro e eu estávamos mais do que felizes, definitivamente
estávamos completos. Inacreditável que algo tão lindo pudesse acontecer em
nossas vidas depois de tanto sofrimento. Ao longo desses anos conseguimos
refazer nossas vidas, construindo tudo do zero.
Eu tinha me formado em dança e agora trabalhava no meu próprio
estúdio, onde também era uma ONG que atualmente ajudava mulheres e
crianças que sofreram algum tipo de abuso.
Minha relação com Briana tinha, aos poucos, melhorado. A cada dia
que passava eu descobria que tinha muita coisa em comum com ela. Pietro
mantinha uma relação saudável com sua mãe, apesar dela não ter aceitado a
sua oferta de vim morar em Nova Iorque. Isso havia me deixado um pouco
triste, pois com o decorrer do tempo fiquei sem tempo para cuidar de Nicolle.
Com as aulas de dança, o trabalho da cafeteria do senhor Koll e o projeto da
ONG, acabei deixando minha irmã de lado. Briana teve a ideia de levá-la
para Seattle, assim Nicolle teria Ada para brincar e uma mãe para dar amor,
carinho e cuidar da melhor maneira possível. Senti muito a partida dela, mas
sei que ela está em boas mãos, e sempre que podemos viajamos até Seattle
para visitá-los. Procuro ser o mais presente que posso, mesmo estando a duas
mil e quatrocentos e uma milhas de distância. Nicolle sempre seria a minha
irmãzinha.
Nesse exato momento estamos chegando a mais um fim de consulta,
e quando digo “estamos”, me refiro à Sheila, minha terapeuta e eu.
— Laura, você melhorou muito nesses quatro anos. A frequência que
vinha tendo os pesadelos diminuiu, parou de fazer uso dos antidepressivos,
também já não precisa mais de remédios para dormir e isso é um bom sinal,
resultado das consultas, mas é claro que não se supera assim tão facilmente
os abusos que você sofreu.
— Isso significa?
— Significa que você é guerreira, um exemplo de vida para muitas
mulheres. Acredite no que estou dizendo, não é muitas que tem a mesma
força e coragem para passar por tudo aquilo e chegar ao final com esse lindo
sorriso que você carrega no rosto. Vamos continuar com as nossas seções,
caminhando para que no futuro tudo o que você passou, realmente, fique para
trás.
— Obrigada.

***

Pietro e eu tínhamos combinado de passar nosso primeiro aniversário


de casamento no Brasil, mas como eu ainda não me sentia segura em sair da
minha zona de conforto, decidimos deixar mais para frente, mas sempre
íamos adiando, até que ele resolveu me fazer uma surpresa, comprou duas
passagens para o Brasil. Deixamos nossa casa sob os cuidados de Miranda,
agora nossa emprega, e partimos rumo ao Rio de Janeiro.
O avião finalmente estava pousando no aeroporto depois de oito
horas de voo. Meus pés estavam me matando dentro do tênis que resolvi usar.
Eu nunca tinha viajado antes para um lugar tão lindo, e ter Pietro ao meu lado
tornava tudo ainda mais incrível. Mais um sonho estava se realizando.

***

— Vamos? — Perguntei ao sair do banheiro do quarto do hotel. —


Estou faminta.
Resolvemos jantar no restaurante que Dominic havia nos
recomendado. Ele era um homem muito viajado. No início eu não gostava
muito da companhia dele, achava que uma hora ou outra ele acabaria levando
Pietro para o lado obscuro dos solteiros, mas com o tempo vi que ele era um
homem de boa índole e que não faria nada que prejudicasse o seu amigo.
O lugar era bem movimentado, as reservas tinham que ser feitas com
no mínimo um mês de antecedência, caso ao contrário, nem passaríamos da
entrada.
Vesti um vestido preto com pedrarias e muito brilho. Saltos cinza e
uma pulseira de brilhantes que ganhei de Pietro no meu aniversário de vinte e
dois anos. Optei por deixar meus cabelos soltos, fiz uma maquiagem um
pouco forte e passei um batom claro para não ficar muito chamativa.
Pietro estava impecável com seu terno feito especialmente para ele.
Ficaria lindo até com uma folha de parreira presa em seu pênis, apesar que
uma folha só não cobriria toda a sua extensão.
— Linda como sempre. — Beijou de leve meus lábios.
Saímos do hotel em direção ao restaurante. Um carro já estava a
nossa espera assim que descemos. Sentamos no banco de trás e seguimos
rumo a nossa noite inesquecível.
Às vezes fico imaginando como seria se eu não tivesse entrado
naquela cafeteria. Lembro-me muito bem que meu plano era sair andando
pelas ruas de Nova Iorque à procura de um emprego até gastar as solas dos
meus sapatos, mas a chuva me pegou de surpresa, e o jeito foi entrar às
pressas naquele lugar. Engraçado como a vida nos prega cada peça. Eu a
quase cinco anos atrás era uma pobre coitada que mal tinha dinheiro para
pagar as contas, tirava a roupa em troca de alguns trocados para pagar a
dívida de meu pai e levar o sustento da minha irmã, e olha onde cheguei.
Hoje sou uma mulher de vinte e três anos, casada com o meu primeiro e
único amor. Eu poderia perder tudo que consegui nesses anos que continuaria
feliz, pois tenho tudo que preciso bem ao meu lado.
— Pensando em que minha linda?
— Em como sou abençoada por ter você em minha vida. — Sorrio
para ele. — Se não fosse você, eu não teria essa família linda e unida que
tenho hoje. Obrigada por me fazer a mulher mais feliz do mundo. Eu te amo!
Pietro se aproximou de mim e me tomou em um beijo apaixonado.
Aos poucos nossas bocas foram se afastando. Meus lábios estavam inchados
devido a intensidade do beijo. Pietro sorriu ao apertar um botão de um
pequeno controle. Um vidro surgiu separando a parte da frente e de trás.
— Pietro...
— Vamos aproveitar a noite — disse ele, beijando meus lábios.
Suas mãos passearam pelo meu corpo fazendo-me arrepiar de um
jeito delicioso. Tirei meu vestido, lentamente, para não amarrotá-lo muito e
fiquei somente de calcinha. Não me enjoo nunca de ver o olhar que ele faz
quando estou nua em sua frente. Mesmo estando tanto tempo juntos o fogo
que tínhamos quando nos conhecemos ainda permanece cada vez mais
intenso é algo que chega arder na alma. Seus beijos me levam para outro
lugar onde existia somente ele e eu. Pietro tirou seu pênis para fora. Sento
lentamente em seu membro duro e começo a subir e descer aproveitando cada
segundo ao seu lado. Nossas bocas se chocaram me fazendo ficar até sem ar.
Comecei a acelerar os movimentos, já que não temos muito tempo. Fechei os
olhos aproveitando da sensação maravilhosa que era tê-lo dentro de mim,
duro. Joguei minha cabeça para trás totalmente entregue ao momento.
— Isso amor... — Pietro sussurrou em meu ouvido, fazendo-me
arrepiar mais ainda. Sua língua circulou um dos meus seios me fazendo
gemer.
— Ah! Pietro... Puta que pariu... — gritei gozando.
— Caralho, Laura!

***

Após um sexo rápido e incrível dentro do carro, finalmente, tínhamos


chegado ao restaurante. O lugar estava completamente cheio, várias pessoas
entravam no local que era sem dúvida um dos lugares mais belíssimos que eu
já tinha visto na minha vida. Uma música lenta embalava nosso jantar. Estava
realmente sendo uma noite memorável.
Terminamos nossos pratos satisfeitos.
Pedi gentilmente a Pietro que me levasse para darmos uma volta. Não
era sempre que teríamos a noite estrelada do Rio de Janeiro sobre nossas
cabeças. Caminhando de mãos dadas, paramos ao lado de um lindo chafariz,
onde outros casais também estavam eternizando seus momentos felizes nas
fotos.
— Minha vida sem você não tem graça, cor, sabor. Simplesmente,
não tem nada — falo olhando em seus olhos. — É algo inexplicável, não tem
como dizer ao certo ou a forma que é, apenas consegue-se sentir. Quando
encontramos aquela pessoa que estamos esperando, aquela que faz seu
mundo mudar de repente, aquela que faz seu coração pulsar
descontroladamente... Você é essa pessoa — respiro fundo. — Então, sinto
isso todos os dias quando acordo ao seu lado. Ter você perto de mim faz com
que meu dia, mesmo sendo ruim, se torne maravilhoso.
— Eu te amo, Laura desde o momento que te vi. — Nossos lábios se
unem agora em um beijo calmo com sabor de frutas.
Meu coração estava acelerado.
— Amo ser sua esposa, amiga, companheira, amante. Amo a mulher
que me tornei e amo ainda mais ainda ser mãe do nosso bebê que está por
vim. — Ponho sua mão sobre minha barriga e sorrio.
Seus olhos se enchem de lágrimas. O momento era lindo, perfeito.
— Estou grávida, meu amor.
Sem esperar, ele me pegou em seus braços e começou a me girar, não
se importando com quem estivesse ali por perto. Ali, era somente ele, eu e
mais ninguém.
— Você me faz ser o homem mais feliz do mundo todos os dias. Eu
te amo. — Nos beijamos ao lado daquela fonte sobre a luz do luar, mostrando
para todos que um amor verdadeiro é capaz de superar até as piores dores já
sentidas.
CENA EXTRA

— CALADA! — Ele a segurou pelos ombros. — Quem manda aqui


sou eu. Se eu mandar você dançar, você dança. Se eu mandar você foder,
você fode. Porque seu corpo me pertence até sua dívida ser paga.
Lágrimas rolavam pelo rosto de Laura. Ela sabia o que estava por
vim, sabia o que se passava pela cabeça de Juan, e não podia fazer nada. Ela
havia se livrado semanas atrás de algo parecido só para viver o que
provavelmente aconteceria ali.
Juan mergulhou sua língua na boca de Laura com brutalidade,
enquanto sua mão invadia o meio de suas pernas por baixo do vestido. Seus
dedos afastaram a calcinha de Laura para o lado e ali começou a tortura dela.
Enquanto Juan fodia a vagina de Laura com seus dedos, ela só
conseguia chorar. Laura sabia que não poderia fazer nada a não ser ficar
parada e deixar com que Juan usasse seu corpo como bem quisesse.
Juan não tinha compaixão por ninguém, ele fazia o que achava certo
sem se importar se machucaria outras pessoas, e naquele momento, era Laura
quem ele estava machucando. Sem pudor, ele arrancou toda a roupa dela, a
jogou sobre a cama. Em nenhum momento ela olhou para ele, sabia que iria
desmoronar caso fizesse isso. Outra vez ele invadiu a vagina dela, só que
dessa vez usando a língua ao invés dos dedos. Ele lambia, sugava e chupava
o clitóris dela imaginado que Laura estava morrendo de prazer, mas era ao
contrário, ela sentia nojo dele, de estar ali naquela situação. Ela nunca pensou
que passaria por aquilo, ser estuprada era o ápice da humilhação.
— Quero que olhe para mim enquanto te fodo com força, sua puta!
— Juan desferiu um tapa no rosto de Laura. — Vem, chupa meu pau com
vontade.
Juan puxou Laura, a colocando sentada na cama. Desfivelou seu
cinto, abriu o botão da calça jeans e desceu o zíper. Abaixou um pouco sua
cueca revelando seu membro ereto.
Laura segurou na base do pênis de Juan, com nojo. Levou sua boca
até o membro controlando a ânsia de vômito que se formava dentro dela, e
começou a chupar. Laura tentou se desligar do que estava fazendo, mas não
deu certo. Juan pegou em seu cabelo e a fez engolir mais ainda seu pênis. Ela
estava a ponto de engasgar, quando ele a fez parar. Ordenou que ela
mantivesse a boca aberta e com seus olhos fixos nele. Lutando contra as
lágrimas, Laura encontrou o rosto de um Juan desconhecido. Ele sorriu de
uma maneira sádica, que lhe causava medo. Pegou o rosto de Laura e
começou foder sua boca com toda a força. Ela poderia ter mordido seu pênis,
mas isso acarretaria em algo muito pior que um estrupo. Ele estava
descontrolado, e qualquer coisa que ela dissesse poderia causar uma
avalanche.
Cansado daquela posição, Juan a afastou com brutalidade. Tirou o
resto de sua roupa e logo em seguida as de Laura. Pegou um preservativo que
estava no bolso traseiro de sua calça e deslizou em seu membro. Abriu as
pernas de Laura e sem nenhum resquício de gentileza, entrou de uma vez só
dentro dela. Laura gritou de dor e então seus olhos não aguentaram mais
segurar as lágrimas. Ela chorava enquanto Juan a segurava pelo pescoço a
asfixiando e metia com força. Ele entrava e saía indo e voltando com mais
intensidade. Laura sentia sua vagina arder devido à força que Juan estava
usando. Ele estava machucando Laura por dentro e por fora.
— Olho nos meus olhos, cadela — disse ele, entredentes. — Olha
como eu te fodo. Sente o meu tesão por você. Ah, que boceta gostosa.
Laura se desligou. Deixou que suas emoções ficassem adormecidas
por algumas horas até que ele se cansasse dela, assim seria mais fácil de
suportar, só um pouco mais fácil.
Juan saiu de dentro de Laura e a virou a deixando de quatro na cama
como se fosse um cachorro. Passou o dedo molhado de saliva em seu ânus e
aos poucos foi introduzindo seu membro dentro. Laura mordeu os lábios e
sentiu o gosto do sangue, qualquer dor era melhor do que aquela que Juan
estava lhe causando. Segurando os seios de Laura, ele estocou algumas vezes,
falando palavras de baixo escalão para ela como se fosse a coisa mais normal
do mundo ser estuprada. Quando ele estava prestes a gozar, saiu outra vez de
dentro de Laura, tirou o preservativo do seu pênis e ordenou com avidez que
abrisse a boca para que ela pudesse provar o sabor do desejo que ele sentia
por ela. Laura sentou na cama de frente para o membro de Juan já livre do
preservativo. Enquanto ele se masturbava, ela implorava silenciosamente por
ajuda, qualquer uma que fosse, mas nada, ela estava sozinha como sempre
esteve.
Não demorou para que Juan gozasse na boca de Laura obrigando a
engolir seu gozo.
— Isso é para te mostrar que ninguém irá te foder como eu. Ninguém
te fará sentir mulher como eu faço. Entendeu? — Juan segurou firme o rosto
de Laura. — Agora tome um banho rápido e saia do quarto. Por hoje é só.
Quando eu precisar dos seus serviços te chamarei.
AGRADECIMENTOS

Primeiramente, agradeço ao meu Deus. Sem Ele não conseguiria


chegar até aqui.
Nunca pensei que algum dia eu teria tantas pessoas para agradecer,
pois hoje tenho, e não são simples pessoas; são anjos de luz que foram
enviados para me fortalecer a cada dia.
Ao meu pai José, que mesmo não estando mais presente fisicamente,
ainda assim olha por mim lá de cima. Obrigada, por ter sido o melhor pai do
mundo.
Minha mulher maravilha, Lúcia, que tem me apoiado em todas as
loucuras da minha vida, minha mãe. Mulher, tu arrasa!
Meus irmãos Gabriel e Rafael, que posso dizer serem meus
patrocinadores. Obrigada pelo carinho, confiança e dinheiro gasto com os
meus livros.
Aos meus lindos filhos Fernanda, Karla e Miguel, minha razão de
viver e fonte interminável de inspiração.
Ao meu esposo Anderson por aturar meus surtos e as vezes que eu
ficava falando sobre meus personagens, mesmo ele não entendendo nada.
Obrigada por permanecer ao meu lado.
Aos autores das frases de cada capítulo. Obrigada por terem
participado desse momento tão especial para mim. Vocês são INCRÍVEIS!
Um agradecimento mais do que especial para mim: Estefania
Cristina, minha Editora-Chefe e amiga especial que surgiu do nada e se
tornou tudo para mim. Obrigada por ter me dado essa oportunidade, por ter
acreditado no meu trabalho e por ter passado meses ao meu lado enquanto
reescrevia do zero a história de Laura, Pietro e Juan. Eu te adoro, meu anjo!
A minha querida revisora, Mari Vieira, que já vem me
acompanhando nessa jornada de autora. Obrigada pela paciência comigo e
por me aconselhar quando precisei.
Não poderia deixar de agradecer a uma pessoa linda tanto por fora
quanto por dentro, que aceitou a tarefa de ser a primeira pessoa a ler o meu
livro, Kaylane Dias. Obrigada minha flor pelo o seu carinho.
Agradeço imensamente aos meus leitores e leitoras, a cada resenha e
avaliação, sem vocês esse sonho não seria possível.
Aos demais, deixo aqui o meu grande abraço e meus agradecimentos.
Todos fazem parte desse trabalho.

Gratidão,
Viviane Silva
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te responder nos comentários para agradecer.

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