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Manual Da Quimica Imperfeita - Hellen R. P
Manual Da Quimica Imperfeita - Hellen R. P
Eu não precisava ser gênia, na verdade não precisava nem ser muito
inteligente para saber do que aquilo se tratava, ainda assim, quis perguntar.
Porque algo dentro de mim insistia em dizer que era só uma coincidência.
— O que é isso, Killian?
Killian se virou para mim e então viu o caderno em minhas mãos.
Ele venceu a distância que se formava entre nós em apenas dois passos e
puxou o caderno.
— O que você pensa que está fazendo? — perguntou, os olhos
arregalados indo da página aberta até mim.
— Diga que não é o que estou pensando — falei, sentindo minhas
pernas tremer, o maldito joelho querendo falhar. — Diga que não me usou
para realizar a lista de desejos do seu irmão.
As lágrimas começaram a escorrer antes que eu pudesse impedi-las
e meu coração doeu com a possibilidade de que aquilo fosse verdade.
— Por favor, me diga que estou errada — implorei, minha voz
vacilando.
Ele olhou para o chão por um momento, parecendo angustiado,
antes de finalmente levantar os olhos para me encarar. Seu rosto estava
contorcido em uma expressão de dor.
— Eu... — começou ele, hesitante. — Eu posso explicar.
Killian esticou o braço na minha direção e então parou. Eu não sabia
o que ele estava pensando, mas ele pareceu desistir de tentar se justificar.
Pareceu desistir de mim.
Então as palavras de Agatha ecoaram na minha cabeça. “Ocupar o
lugar de Kenny”. Encarei Killian e fiz a pergunta entalada em meu peito.
— Você vai para New Jersey, mas onde realmente gostaria de atuar?
Ele me olhou, curioso, e então passou a mão pelos cabelos.
— Em Detroit, claro. Red Wings.
— Por quê? — perguntei em um sussurro.
Killian fechou os olhos por um segundo, como se lutasse contra a
resposta. Ele fechou o caderno e guardou-o de volta na gaveta e então,
virado de costas para mim, respondeu:
— Porque era o time de Kenny.
Balancei a cabeça em concordância. Então Agatha tinha razão. Era
quase como se Killian quisesse substituir o irmão em todos os aspectos de
sua vida. Andei até Killian, segurei seu braço e o virei de frente para mim.
— Você não é o Kenny! Nunca vai ser. — Senti Killian enrijecer, e
finalmente ele me encarou. Os olhos sempre tão cálidos agora tinham um
brilho diferente, quase como se carregassem culpa.
Killian andou até a porta do seu quarto e a abriu. Ele não falou mais
nada, mas eu entendi o que aquilo significava. Peguei meu sketchbook, as
mãos tremendo, segurando o caderno de capa escura. Então era aquilo.
Passei em sua frente, meus All Star pisando no piso amadeirado do
corredor. Não encarei Killian, não tinha coragem. Não tinha forças.
Caminhei devagar, mesmo desejando correr, as lágrimas ameaçando
embaçar minha visão, o coração doendo. Antes que eu pudesse chegar às
escadas, Killian finalmente respondeu à minha acusação.
— Não, eu não sou. Se eu fosse ele eu não teria te machucado. Mas
é isso que eu faço, Candice. Eu sou especialista em magoar as pessoas.
Você é só mais uma na minha lista.
KILLIAN DI ANGELIS
— Eu pensei que química fosse fácil. Quer dizer, minhas notas
caíram, mas no geral entendo muita coisa. Sei que em boa parte dos casos a
nanossílica retarda o processo de hidratação da pozolana. E que a argila
calcinada é formada em sua maioria por óxido de silício. Mas não sei como
lidar com a combustão. Deveria ser algo simples: materiais inflamáveis em
contato com o comburente e calor resultam em chamas. No entanto, acabei
sendo o único que saiu queimado. Você entende o que estou querendo
dizer?
Não. Claro que meu irmão não entendia. Ele sempre havia sido
péssimo em química. E em matemática e física também. Por isso tinha se
formado em direito.
Passei a mão pelos cabelos, o frio do fim da tarde deixando minha
respiração visível, e olhei a lápide de mármore, esperando uma resposta que
sabia que não teria.
— Ok! Vou supor que quem cala consente — comentei, me
perguntando se tinha sido uma boa ideia ter ido ali.
O frio de dezembro fez eu passar os braços em volta do meu corpo e
eu olhei o vasto gramado composto por lápides e mais lápides. Os
cemitérios americanos eram horríveis. Apenas pedras cinzentas e muitas
árvores a perder de vista. Os italianos eram mais confortáveis, coloridos,
cheios de flores e homenagens. Talvez Kenny tivesse gostado de ser
enterrado lá.
— Você lembra do dia em que você me pegou usando seus patins e
em vez de brigar comigo você me ensinou a usá-los?
Sorri com a lembrança, o garoto dois anos mais velho era diferente
dos demais irmãos. Kenny não odiava dividir suas coisas, nem mesmo
brigava quando eu pegava seus brinquedos e os quebrava sem querer.
— A gente quase nunca brigava, você era tão calmo e pacífico.
Me sentei no gramado em frente à lápide, cruzando as pernas, como
se tivesse em uma roda de conversa com amigos e não dando um de
Ghostbusters. Puxei o diário de Killian do bolso da jaqueta de couro preta e
também o celular velho que eu usava. A foto minha e de Candice, ainda ali,
trouxe uma dor que jamais imaginei sentir. Quando as coisas pareciam ir
bem, eu havia destruído tudo.
Apoiei tanto o caderno quanto o celular sobre o gramado, onde o
corpo de Kenny descansava a uns palmos do chão. E me deixei chorar pela
primeira vez desde que tinha estado naquele mesmo cemitério, um pouco
mais de um ano atrás.
— Eu cometi uma burrada. E não sei como concertar. Eu fiz a coisa
que prometi a mim mesmo que não iria fazer. Eu brinquei com os
sentimentos de Candice Miller. De novo. E dessa vez nem foi por uma
bobagem como um jogo de verdade ou desafio.
Cobri meus olhos com minha mão, a dor de imaginar uma vida sem
Candice ameaçando me sufocar. Ela tinha entendido tudo errado. Eu não a
usei para realizar os desejos de Kenny. Na verdade, eu usei os desejos de
Kenny como desculpa para alcançar minhas próprias vontades. Mas como
explicar para ela meus sentimentos quando tudo o que eu fazia era magoar
as pessoas? Kenny, Gus e ela?
— Me desculpa por não ter atendido sua ligação. — A frase saiu
rasgando minha garganta, era a primeira vez que eu pedia perdão ao meu
irmão em meus vinte e dois anos de vida.
Os soluços cruzaram meu peito e me abracei mais uma vez,
passando o polegar sobre as asas marcadas em minha pele.
— Eu me culpei tanto por algo que eu não tinha o controle. Eu quis
tanto seguir os seus passos, que, em algum momento, eu me perdi. O pior
de tudo, eu perdi Candice no processo. Lembra que você disse que nós
combinávamos? Pois é, nós realmente combinamos. Uma combinação
perigosa. Uma que eu faria de tudo para ter de volta.
Ver Candice saindo do meu quarto, chorando, foi demais para mim.
Aquilo me quebrou de um jeito que eu nem sabia que era possível. Eu não
tinha intenção de magoá-la, mas as palavras de Gus me fizeram pensar que
seria melhor para ela ficar longe de mim. O problema é que eu não
conseguia ficar longe dela.
— Algumas pessoas dizem que o amor dói, Kenny, mas elas estão
erradas. O que dói é não ter o amor. O que dói é deixá-lo escapar por entre
nossos dedos. O que eu faço, Kenny?
— Você não sabe que os mortos não respondem? — Uma voz me
fez levantar depressa, e tomei um susto ao notar uma garotinha ao meu
lado.
A menina tinha cabelos claros, amarelo como o sol, olhos escuros e
alguns dentes ausentes dentro da boca.
— Oi — respondi, olhando para os lados, procurando algum adulto
por perto, mas sem encontrar ninguém.
— Cadê seus pais? — perguntei, preocupado com a possibilidade
da garotinha estar perdida.
— Papai está na terra. Mamãe foi comprar água e disse para eu ficar
quieta perto do papai. — A garota apontou a lápide ao lado de onde eu
estava, e eu li o nome "Cole Sear" inscrito sobre a pedra de cor branca.
— Você não tem medo de ficar só, aqui no cemitério? — questionei,
ao tempo que tentava imaginar quantos anos aquela menina tinha. Seis?
Talvez sete?
— Não, mamãe disse que tenho que ter medo dos vivos, não dos
mortos — ela respondeu, passando a mão pelo vestido rosa, desamassando
o tecido que insistia em formar vincos devido ao vento.
— Sua mãe é uma mulher sábia.
A garotinha assentiu com a cabeça e eu não pude deixar de sorrir.
Ela tinha um brilho nos olhos que me lembrava outra garotinha, uma que eu
acompanhei durante quase toda a minha vida.
— Qual seu nome? — perguntei, curioso.
— Não devo falar com estranhos. — Ela ficou na defensiva, os
bracinhos pequenos se cruzando sobre o peito.
— Mas foi você que começou a falar comigo.
Ela pareceu pensar por um segundo, e então se deu por vencida.
— Melody Sear.
— Oi Melody, eu sou Killian Di Angelis — falei, abrindo meu
melhor sorriso, passando a mão pelos olhos, afastando as lágrimas dali.
— Seu nome é estranho. Posso te chamar de Lian?
A perguntar me fez travar. Como um nome tão simples tinha um
poder tão grande sobre mim? Ainda assim, não consegui evitar um sorriso
quando respondi:
— Claro, pode me chamar de Lian.
— O que você estava perguntando para ele? — Melody questionou,
apontando para a lápide de Kenny.
Vi uma curiosidade genuína estampando seus olhinhos brilhosos.
Pensei por um segundo e então respondi.
— Cometi uma série de erros e queria o perdão do meu irmão.
— Eu tenho um irmão — ela comentou e eu me surpreendi com o
fato de que crianças conseguiam enxergar só o que queriam em uma
conversa. — Ele está vindo ali.
Uma mulher de cabelos laranjas, segurando uma sacola cheia e uma
criança de uns dois anos no colo, corria na direção de Melody, esbaforida.
— Deixa eu te ajudar com isso. — Fui até ela e depois de olhar para
mim, desconfiada, ela largou a sacola em minhas mãos se ajoelhando no
chão e tocando nos cabelos claros de Melody.
— Está tudo bem, filha? — ela olhou da garota para mim, como se
esperasse que a filha fosse contar que eu estava dando pirulito envenenado
ou algo do tipo.
— Está sim, mãe. Lian está aqui pedindo desculpas para o irmão.
A mulher, então, olhou para a lápide de Kenny, e um tom rosado
cobriu suas bochechas.
— Ó, sinto muito — ela falou, deixando o menino pequeno no chão
e pegando a sacola da minha mão.
— Foi um prazer te conhecer, Melody — disse para a garotinha, e
ela me deu um tchau desengonçado com suas mãozinhas pequenas.
Eu já estava a uns bons metros longe quando um gritinho agudo
ecoou atrás de mim.
— Espera. Você vai deixar seu celular aqui? — Melody questionou,
trazendo o aparelho grande demais para a sua mão. A foto de Candice mais
uma vez aparecendo, em uma constante lembrança do que eu havia perdido.
— Vou.
— Tem certeza? — ela questionou, e por um momento, uma
vozinha dentro de mim sugeriu que eu pegasse o maldito aparelho e fosse
embora. No entanto, eu não dei ouvidos àquela voz.
— Sim. — Ela me analisou, curiosa. — Se meu irmão acordar, pode
precisar de um telefone para me ligar.
Melody me olhou com um semblante inusitado, e então sua
bochecha corou que nem a da mãe dela.
— Posso te pedir uma coisa? — perguntou, tímida.
— Claro.
— Se meu papai acordar ele pode usar seu celular também?
Me vi ajoelhando, para ficar na mesma altura dela. E admirei sua
beleza. Os cabelos dourados me lembrando a garota que era a luz da minha
vida.
— Claro, zuccherina. — O apelido saiu de forma espontânea e eu
sorri com a lembrança do dia que o usei pela primeira vez. O passeio da
roda gigante vindo em flashes na minha mente.
Melody assentiu e voltou correndo para sua mãe, depositando o
aparelho de volta onde eu tinha deixado.
Atravessei o cemitério, sentindo, pela primeira vez, o peso deixando
minhas costas. Eu poderia estar equivocado, mas Melody era como um
sinal, um que me dizia que Kenny não me culpava.
Entrei no Jeep e me olhei no retrovisor interno, tirando os brincos e
piercing e guardando-os dentro do porta-luvas. Faltavam poucos minutos
para o jogo e segui até a Yost Ice Arena, pronto para entrar no rinque, não
como um Di Angelis que queria pegar o lugar de Kenny. Mas como Killian.
O barulho da torcida já podia ser ouvido do lado de fora e eu fui
direto para o vestiário. Ali, a movimentação estava agitada, homens quase
pelados andando para lá e para cá, a algazarra de sempre antes de qualquer
jogo. Enfiei meu uniforme embaixo do braço, pegando as luvas no meu
armário, quando um braço tocou meu ombro.
— O que você está fazendo aqui? — Gus parecia mais surpreso do
que furioso.
— O mesmo que você. Jogar hóquei. Pensei que você fosse o nerd
da equipe — respondi, sarcástico, me sentando no banco ao lado de um dos
reservas e tirando meus tênis. Precisava tirar o conjunto de moletom do
time e vestir o uniforme e equipamentos e Gus ainda estava me fazendo
perder tempo.
Sabia que as coisas entre a gente não estavam perfeitas, mas uma
parte de mim se recusava a perder a piada.
— Você não deveria estar no teatro? — perguntou, erguendo uma de
suas sobrancelhas claras.
— Não, eu jogo hóquei no rinque. Esqueceu? — me levantei,
voltando até meu armário para pegar as meias e protetor bucal.
— Você está de brincadeira. Candice vai ficar furiosa. Não acredito
que você vai perder a peça. — Gus passou a mão pelos cabelos ondulados.
— Do que você está falando. A peça de Candice é só amanhã —
falei, segurando seus ombros.
— Não, Killian. É hoje! — Gus bufou, dando um coque na minha
cabeça.
— Não, não é hoje, é amanhã. Eu anotei no meu caderno de química
dos coloides e de superfícies.
— Killian, eu sou o nerd do grupo, esqueceu? Coloquei um alarme
no meu celular como lembrete. É hoje a peça. Na verdade já deve estar
começando.
Fiquei paralisado, olhando meu melhor amigo. Ele estava brincando,
não era possível. Por que diabos eu tinha anotado a data errada? Que merda.
— Meu Deus! — exclamei, travado.
— Que merda você fez com Candice, Killian? — Gus questionou, e
eu sabia que ele não estava falando da peça.
Me remexi, o tecido do moletom subitamente me deixando com
calor.
— Eu a deixei ir.
— Por quê? — Gus perguntou, a voz fraca, como se fosse culpado.
— Porque eu a amo. — A declaração saiu fácil, porque era a
verdade. Eu amava Candice mais que tudo. — Foi o que a Fera fez. Deixou
a Bela livre. Deixou-a ir, porque a amava demais.
Gus me olhou, com uma expressão curiosa, como se estivesse se
perguntando se eu havia batido a cabeça no caminho por estar falando sobre
contos de fadas
— E o que acontece na história? — ele perguntou, genuinamente
interessado.
— A Fera fica à beira da morte e a Bela volta.
— Se esse for o problema, eu posso te deixar à beira da morte. Mas
você sabe que ela não vai voltar, né? Você que vacilou. Vacilou feio e agora
terá que ir atrás dela.
Sim, Gus era o filho da puta do nerd. Ele tinha razão. Eu precisava ir
atrás de Candice. Larguei o uniforme pelo chão do vestiário e saí correndo.
— Ei, você vai descalço? — Gus gritou quando eu já estava longe,
mas não dei importância. Eu iria até se fosse pelado.
Entrei no meu carro e acelerei em direção ao Michigan Theater, os
dedos tamborilando sobre a direção com velocidade.
— Merda. — O local estava lotado, teria que botar o carro longe e ir
a pé.
Estacionei o Jeep de qualquer jeito na primeira vaga que encontrei,
desliguei o motor e saltei para fora. Não tinha tempo a perder. Minha
respiração estava acelerada e meu coração palpitava em descompasso.
E então eu comecei a correr pelo asfalto, os pés tocando a superfície
áspera do piche. E, nem por um segundo, eu vacilei. Nem mesmo que eu
estivesse machucando meus pés, que até então eram meu futuro. Mas,
correndo em direção ao teatro, eu percebi que eu não queria um futuro sem
Candice.
Aquela era minha chance.
E eu não iria desperdiçá-la.
CANDICE MILLER
Um filme natalino passava na pequena televisão de tubo, escorada
de forma nada segura na parede do camarim. Ainda faltavam alguns dias
para o Natal, mas toda a programação televisiva focava em filmes cheios de
casais bonitos, presentes e, para minha decepção, neve.
Odiava ter que ver um casal esquiando, de mãos dadas, sorrisos
bobos no rosto. Aquele filme idiota me lembrava Killian, e eu não queria
pensar nele. Sua falta de sinceridade comigo me magoou de um modo que
eu não sabia que era possível. Ele tinha me usado, repetia a mim mesma a
cada segundo. Então, por que seus olhos cheios de dor permaneciam na
minha mente o tempo todo? Por que eu não conseguia simplesmente
esquecê-lo e seguir em frente?
O reflexo no espelho mostrava que a peruca de fios marrons ficava
horrível na minha cabeça, e abri um sorriso só de pensar como Killian iria
zombar de mim.
— Eu estou horrível — falei, ajeitando a roupa azul da Bela em meu
corpo. Sentindo o tecido pinicando em meus braços.
— Você está horrível por conta das olheiras, não da peruca. — Kira
comentou, ajeitando a alça da câmera fotográfica em seu pescoço. — Nada
que um corretivo não ajude.
— Era para eu estar me sentindo uma princesa, não um trapo —
resmunguei, verificando o relógio de aro dourado pendurado na parede
marrom do camarim.
— Você está bela. E, sim, é uma piada boba. — Kira tirou uma foto,
e o flash faz eu soltar um muxoxo. — Alice e Ava estão ansiosas para te ver
em cima do palco. Sorte que eu tenho privilégios por fazer parte do jornal,
então pude entrar para te fotografar.
— Você viu se Killian já chegou? — perguntei, sentindo meu
coração acelerar só de pensar nele.
Kira balançou a cabeça, indicando que não, e eu me remexi sobre a
cadeira. Eu não sabia o que pensar. A última vez que tinha visto Killian foi
quando brigamos. Depois, não tive mais notícias suas. Fiz questão de dizer
para Kira, Ava e Alice que não queria saber nada sobre ele. Mas ali estava
eu, ansiando por sua chegada. Eu dizia a mim mesma que era por conta da
maldita peça, mas algo dentro de mim parecia dizer que não era apenas
aquilo.
Mais uma vez, aquele olhar carregado de culpa e dor veio à minha
mente. Eu poderia tentar entender seu esforço em continuar a caminhada do
irmão, mas a verdade é que eu não compreendia. Eu não tinha sofrido o
luto; Kenny era um grande amigo, mas não era meu irmão. Pensei em Gus e
como estaria destruída se não o tivesse ao meu lado.
— Será que fui injusta? — perguntei, olhando Kira atrás de mim
pelo espelho. — Se eu tivesse Killian na minha vida no último ano, talvez
não tivesse tido medo de continuar com a patinação. Será que, estando ao
lado dele, teria feito alguma diferença? Teria conseguido aliviar um pouco
de sua dor?
Perguntei mais para mim mesma, por isso me surpreendi quando
Kira suspirou e apoiou a bunda no braço da minha cadeira.
— Eu sei que falou que não queria saber de Killian, mas acho que
deveria que ele e Gus brigaram.
— O quê?
— Gus descobriu que vocês dois estavam transando — Kira falou,
tocando meu ombro.
— Ai meu Deus! — Então o sangue em sua camisa... tinha sido
Gus?! Meu irmão tinha partido para violência física? Era até difícil de
imaginar, o grandão tinha um coração de ouro. Vê-lo me defendendo
deveria aquecer meu coração, mas só fez eu lembrar que minha briga com
Killian tinha sido logo depois.
— Você sabe que foi um ano difícil para vocês dois. Não estou
passando pano para o Killian, mas homens são burros. Até mesmo seu
irmão foi. — Kira sorriu e então continuou. — A maioria deles tendem a
guardar os sentimentos dentro de si.
Pensei em Killian, em como ele não se abria nem mesmo com seus
amigos de time, e como ele deveria acumular sentimentos que deveriam ser
difíceis demais para uma pessoa só guardar.
— Eu preciso ligar para ele — falei, me levantando da cadeira e
procurando o celular sobre a mesa que estava repleta de maquiagens e
outros trecos de teatro.
Encontrei meu celular em meio a roupas brilhosas de paetê e disquei
o número de Killian. Chamou algumas vezes e ninguém atendeu.
— Que droga. — Joguei o celular sobre a cadeira acolchoada e
arranquei a peruca. — Se a professora Sara aparecer, você avisa que eu
volto já.
Me levantei e saí correndo do camarim.
— Mas para onde você vai? — Kira gritou, quando eu já estava
corredor, mas não respondi, não tinha tempo a perder.
Corri em disparada, segurando o vestido para não tropeçar sem
querer, a sapatilha quase saindo dos meus pés. Sorte que era o vestido azul
da Bela e não aquele amarelo cheio de firulas.
Saí para o lado de fora do teatro, vendo uma imensidão de carros
estacionados e muitas pessoas indo para o guichê comprar os ingressos da
peça, na qual teoricamente eu seria a estrela.
Sem saber o que fazer, corri pela rua sem destino. Não podia ficar
parada, esperando as coisas caírem do céu, como fiz quando me acidentei.
Esperei me recuperar sozinha, esperei que voltasse a patinar mesmo que eu
não tivesse forças para me levantar da cama e calçar os patins. Daquela vez
eu não iria esperar sentada.
Foi quando o vi. Killian corria na minha direção, a distância entre
nós diminuindo mais e mais, e eu estaquei. Meu estômago se revirou, e uma
chuva fina começou a molhar meus cabelos e roupa.
Killian se aproximou a ponto de seu corpo irradiar calor sobre o
meu. Inspirei seu perfume, uma mistura de frescor, madeira e
masculinidade. E então ele me beijou, num ritmo tão lento que eu desejei
implorar por mais, mas, em vez disso, eu o empurrei.
— O que você está fazendo? Realizando o último desejo da lista do
seu irmão? — perguntei, ainda magoada, desejando bater nele, ao mesmo
tempo que queria beijá-lo de novo.
Ele passou os braços por minha cintura, me trazendo mais para
perto.
— Não. Estou realizando o primeiro desejo da minha lista. Uma
lista em que todos os desejos estão relacionados a você — Killian falou, os
olhos escuros fixos nos meus, os cabelos molhados grudados no rosto.
— Seu nariz está meio roxo — comentei, segurando sua face, vendo
o estrago que meu irmão tinha feito.
— Não foi nada demais — ele disse.
— Meu irmão deu uma surra em você — falei, sorrindo pela
primeira vez no dia.
— Eu deixei ele me dar uma surra. É diferente. — Killian fez uma
careta.
— Por quê? — perguntei, o coração batendo forte, ter Killian tão
perto me deixava sem fôlego.
— Eu sabia que ele estava chateado e precisava descontar em
alguém. Preferi que fosse em mim do que em você. — Killian deu de
ombros, olhando-me nos olhos. Sua proximidade me fez sentir um
formigamento na pele.
— Você é mesmo irritantemente nobre às vezes, sabia? — revirei os
olhos, sorrindo. Era difícil ficar com raiva quando ele estava tão perto, sua
voz suave me inebriando.
Killian também sorriu, um sorriso que fez meu coração bater ainda
mais rápido.
— É um fardo que tenho que carregar.
Nesse momento Killian se inclinou e beijou minha boca, e de
repente tudo ficou confortável. Era como estar em casa, um ambiente
seguro, aconchegante e quente.
Nossas bocas se moveram em um ritmo perfeito, o calor e a tensão
se transformando em eletricidade.
— Me desculpe, zuccherina — ele falou, quando nossas bocas se
separaram, o peito subindo e descendo acelerado, os olhos, fixos nos meus,
marejados.
Eu envolvi o corpo de Killian com meus braços e ele apoiou o
queixo na minha cabeça. Eu senti algo molhado em meus cabelos e não
soube dizer se era a chuva ou as lágrimas que escorriam pelo seu rosto.
— Eu te amo, Candice. Você é como a luz que ilumina os dias mais
sombrios, como a calma no meio da tempestade, mas também é como a
combustão que incendeia meu corpo. Não sei precisar desde quando, mas
sei que esse sentimento tem estado presente dentro de mim há muito tempo.
— Provavelmente é desde a época em que me viu correndo do palco
para fazer xixi. Deve ter sido uma cena inesquecível — falei, sentindo meus
próprios olhos arderem diante da confissão de Killian.
— Talvez. Ver uma fadinha tão linda saindo em disparada realmente
foi um marco na minha vida. — Killian se afastou e então beijou minha
testa.
— Eu te amo, Killian Di Angelis. Te amo mesmo quando quero te
odiar. Eu falei que só anjos levam alguém para o céu, mas também só os
anjos são capazes de mostrar que o paraíso pode ser encontrado em meio ao
caos.
Olhei para Killian, vendo-o descabelado e sem sapatos. Fitei-o,
confusa, sem saber por que ele estava daquele jeito, mas naquele momento
isso não pareceu importar. O paraíso usava moletom do time de hóquei e
pés descalços. E, como diria Kira: era gostoso como o inferno!
KILLIAN DI ANGELIS
Eu ainda estava sem acreditar que Candice me amava. Que eu a
amava não era segredo, mas que a recíproca era verdadeira, me pegou de
surpresa. Eu parecia anestesiado, quando Candice segurou minhas mãos e
me guiou na direção oposta ao teatro.
— Para onde você está me levando? — perguntei, sentindo o calor
de seus dedos, mesmo que a chuva insistisse em cair sobre nós.
— Vamos para seu jogo — ela falou, determinada, e eu sorri.
— Mas e a peça? — perguntei, com as sobrancelhas erguidas.
— Eu tenho quatro anos para me formar. Você só tem esse semestre
para mostrar para o New Jersey Devils que você merece estar no time.
— E se eu reprovar em teatro? — perguntei, realmente com medo.
— Provavelmente seu treinador deve dar um jeito. — Candice então
parou, olhando para os lados, como se então tivesse percebido que
estávamos longe da Yost Ice Arena.
— Meu carro está ali. — Apontei para o Jeep estacionado de forma
torta na rua.
Candice entrou no carro, ajeitando o vestido azul de modo que o
tecido não ficasse preso pela porta do automóvel. Ela estava tão linda de
Bela que me perguntei por que diabos não a contrataram ao invés da Emma
Watson.
— Venha aqui — chamei, quando me sentei ao seu lado, me
inclinando na sua direção. E ela veio com seu corpinho pequeno, o cheiro
de baunilha vindo de seus cabelos me fizeram abrir um sorriso.
Beijei sua boca, encontrando sua língua no meio dos meus lábios, e
mordi seu lábio inferior, arrancando um gemido seu. Sem pensar duas
vezes, segurei sua cintura e a ergui, colocando-a em meu colo. Candice se
ajeitou em cima de mim, as mãos passando pelo meu pescoço.
— Killian, o que está fazendo? — ela perguntou, o corpo tão colado
ao meu, que eu tinha certeza de que ela percebeu minha ereção.
— Beijando minha namorada — falei, a voz rouca, meu desejo de
tê-la era maior do que qualquer coisa.
— Não temos tempo, Lian.
— Enquanto eu respirar, eu tenho tempo. E, agora, a única coisa que
quero é você.
A vida era efêmera demais para esperar. Eu não sabia o que iria
acontecer no futuro, e justamente por essa incerteza, eu queria que o
presente fosse vivido ao máximo.
— O que acontece se você entregar esse vestido rasgado para a
professora Sara? — perguntei, levando meus dedos até suas costas, tendo
dificuldade em encontrar o zíper da roupa.
— Provavelmente ela vai me reprovar. De qualquer forma, eu já
devo estar reprovada. — Ela deu de ombros, as pernas em volta do meu
quadril.
Consegui abrir o zíper antes que precisasse rasgar sua roupa e desci
as alças do vestido deixando seus seios expostos.
— Sabe, cada vez eu sou mais adepto dos seios livres — comentei,
tocando um de seus mamilos, sentindo-o ficar rígido. — Tão linda.
Seus seios se encaixavam perfeitamente em minhas mãos, como se
tivessem sido esculpidos para mim. Somente para mim.
— Lian! — Candice gemeu, jogando a cabeça para trás, deixando o
pescoço alvo à mostra. — E sua reputação? Você não tinha medo de algo
destruir sua carreira?
— Candice, você não está entendendo. De que importa minha
reputação sem você? — questionei, levando meu nariz até a curva entre seu
ombro e o pescoço, e a beijei. — Eu preciso saber se você me quer tanto
quanto eu te quero.
Candice se esfregou em mim, a boceta roçando meu pau duro, e eu
mordi meu lábio, prendendo a respiração.
— Sempre, Lian.
Desci com uma mão até embaixo de seu vestido e afastei a calcinha
para o lado, enfiando um dedo na sua boceta já molhada. As paredes
internas se contraíram contra meu dedo, e eu imaginei o que Candice seria
capaz de fazer com meu pau.
— Eu quero tanto te comer, Candice. Eu quero foder você de um
jeito que nunca mais vai esquecer de mim. Que toda vez que olhe nos meus
olhos, lembre dessa noite e de como nós transamos gostoso.
— Por favor, Lian. — Candice implorou, as mãos inexperientes
indo até a calça de moletom do Lynx.
Ela retirou meu pau duro para fora e o alisou, as unhas finas
brincando com as veias expostas.
— Eu quero cavalgar você, Lian. Eu quero te domar. Te fazer meu.
— Zuccherina, eu já sou todo seu. — Passei a mão em seus cabelos
e os segurei com firmeza, puxando-os para trás, e então beijei sua boca.
Diferente dos beijos anteriores, esse foi carregado de desejo. Nossas
bocas lutando em frenesi, as línguas em movimentos complexos, o sabor de
Candice se fixando em cada um dos meus nervos.
Candice tomou a dianteira e levou meu pau até sua entrada.
Resvalando a cabeça dele em sua boceta.
— Argh, Candice — gemi, louco de tesão, estendendo a mão até o
porta-luvas e vasculhando às cegas o espaço. — Droga! Eu não tenho
camisinha. É melhor a gente parar...
— Não precisa, eu tomo remédio.
Encarei seus olhos, as pupilas quase não deixando espaço para o
azul. Havia desejo neles.
— Tem certeza? — questionei. — Eu nunca transei sem
preservativo.
Candice balançou a cabeça em afirmativa e guiou meu pau até sua
umidade. Ela se sentou sobre ele com calma, e eu segurei a lateral da sua
bunda, mas a deixei assumir o controle.
Candice desceu devagar, meu pau pulsando freneticamente dentro
de sua boceta. E desceu mais um pouco e depois mais. Até que toda minha
extensão estava dentro dela, e então ela fez o que prometeu. Ela me domou,
como se eu fosse um cavalo arredio. Rebolou como se sua vida dependesse
daquilo. Minhas mãos apertaram sua bunda enquanto ela subia e descia com
velocidade, diversos xingamentos desconexos saindo de sua boca.
— Ai, meu Deus — ela gemeu, me cavalgando como uma amazona,
fazendo eu chegar cada vez mais perto de ter um orgasmo.
— Bem-vinda ao sexo de reconciliação — falei, sorrindo, vendo-a
tão entregue ao prazer.
— Não sabia que podia ser tão bom — ela comentou, a voz saindo
entrecortada.
— Nem eu — respondi.
— Como assim? — Candice perguntou, passando as mãos em volta
do meu pescoço.
— Bem, é minha primeira vez. Ou você acha que eu saía transando
mais de uma vez com a mesma pessoa?
Candice sorriu, enquanto sua boceta gostosa trabalhava ao redor do
meu pau. Os seios pequenos pulando perto da minha cara.
Meu Deus. Só de olhar para ela dava vontade de gozar. Eu estava
muito fodido. Tinha me apaixonado pela garota que me deixava louco antes
mesmo de eu provar sua boceta.
Envolvi sua cintura, seguindo seus movimentos, ajudando-a no
processo. E meti forte em sua boceta, estocando-a em um ritmo intenso.
— Lian — ela choramingou.
— Diga isso de novo.
— Lian — Candice suspirou em meio a um gemido.
— Eu adoro ver nossos corpos unidos, eu me movendo dentro de
você. — Puxei seu vestido para cima, mostrando para Candice o que eu
estava falando. Ela olhou para baixo, onde sua boceta se unia a meu pau e
sorriu, um sorriso fraco. Um sorriso de quem estava prestes a gozar.
Candice gemeu, as pernas tremendo ao meu redor, as paredes da sua
boceta se contraindo. Tão apertada, tão perfeita. E então ela chamou meu
nome. Aquele que, atualmente, só ela chamava. E eu mantive o ritmo,
bruto, rápido, arrebatador e derramei minha porra dentro dela, um som
gutural saindo da minha garganta.
Tinha sido a melhor transa da minha vida, e não tinha a ver só com
uma boceta apertada, e sim com a conexão, a troca de olhares em meio à
cumplicidade.
Ergui Candice, tirando-a de cima do meu pau, e ela se sentou em
meu colo, apoiando o rosto em meu peito. Beijei o topo de sua cabeça e
passei meus braços ao redor de suas costas em um abraço.
— Te amo, zuccherina — falei, mesmo que soubesse que era piegas
falar esse tipo de coisa após o sexo.
— Te amo, Lian.
E ficamos assim por um tempo, mesmo que a apresentação estivesse
sem nenhum dos protagonistas, ou que Lynx tivesse entrado no rinque sem
seu capitão.
Afinal, tínhamos nosso próprio tempo, porque, naquele instante,
tudo que importava era só nós dois.
CANDICE MILLER
— Não acredito que fiquei de exame final! — Killian resmungou
pelo menos pela décima vez, desde que descobriu que sua ausência na
apresentação de A Bela e a Fera deixou-o com uma nota péssima. — Você
disse que o técnico ia conseguir livrar minha barra.
Ele se remexeu sobre uma das cadeiras da Coffee & Chapters e eu
me sentei ao seu lado. Aquele era o meu turno, mas a cafeteria estava vazia,
por isso tirei o avental de cor vinho, o colocando sobre a mesinha.
— Eu falei "TALVEZ". — Revirei os olhos. Por mais que Paul
Levine tenha tentado livrar a barra de Killian, a professora Sara não aliviou.
Nem para ele, nem para mim, que também precisava recuperar a nota. —
Você teve sorte. A prova vai ser uma peça. Só eu e você. E, claro, a
professora julgando. Seria pior se tivéssemos que fazer uma prova escrita
sobre a teoria de atuação.
— Mas eu não sei nada sobre O Fantasma da Ópera. — Ele passou a
mão pelos cabelos, bagunçando-os.
Killian havia retornado à arena logo após nossa escapulida dentro do
carro. O Lynx havia feito uma boa partida e ganhado o jogo. A peça de
teatro foi um sucesso, mesmo que tenha começado atrasada. Os substitutos
de Killian e eu tiveram um desempenho excepcional. Até mesmo o jornal
do qual Kira fazia parte, que destacou a peça teatral em sua manchete, teve
uma tiragem maior do que o esperado. Foram vendidas vinte cópias!
Eu poderia olhar para trás, para meu boletim vermelho, para a
ligação que vó Greta fez para mim aos berros, e ter me arrependido. Mas eu
não conseguia. Não quando Killian Di Angelis estava ao meu lado.
— A gente pode assistir ao musical e também podemos treinar
beijos técnicos — comentei, tentando amenizar o clima.
Os olhos de Killian pararam por um segundo na minha boca, e
depois voltaram a me encarar.
— Ok, você tem um bom argumento. Mas, e se eu reprovar? — ele
realmente estava preocupado.
— Killian, se a Kira passou em ética, você consegue passar em
teatro — falei, não para menosprezar minha amiga, pelo contrário, para
mostrar que, quando se tinha vontade, era possível alcançar o melhor.
— Kira teve um bom professor. Gus é um nerdola. Não é mais
virgem, mas continua nerdola — Killian comentou e eu sorri.
— Você pode não ter Gus, mas tem eu, que sou uma Miller e devo
ter neurônios em comum com meu irmão — falei, orgulhosa.
Eu havia entrado na Alpha Phi, certo? Como minha mãe e avó.
Deveria significar algo. Eles olhavam o histórico acadêmico e meu boletim
não era ruim. Eu não era só um rostinho bonito. Tinha passado nas outras
disciplinas do curso de teatro com êxito.
— Você também está no exame final, Candice. — Killian apontou o
indicador na minha direção.
— Isso é um mero detalhe — respondi, dando de ombros.
— Pensei que você iria me oferecer ajuda em Atuação I em troca de
eu ser seu namorado. Não era esse o acordo? Eu faria com que você
entrasse na irmandade e, em troca, você faria eu passar na matéria? Acho
que não foi um acordo muito justo.
Killian levantou uma sobrancelha, a camisa branca deixando seu
corpo bem definido, marcado. Ele era tão bonito que tive que me focar no
que estava dizendo, porque era fácil perder a concentração quando estava
tão perto.
— Você ganhou uma namorada. Isso é melhor do que qualquer nota.
— Você tem razão. — Killian me puxou pela cintura, me fazendo
sentar em seu colo.
— Ei, alguém pode entrar — falei, olhando para os lados, para
confirmar que não tinha nenhum cliente.
— Todos já sabem sobre nós. A quantidade de meninas tem
diminuído durante os treinos. Parece que boa parte do time já foi fisgado.
— Killian passou a mão na minha nuca, afastando meus cabelos para o lado
e dando um beijo ali.
Meu corpo inteiro arrepiou. Será que um dia iria me acostumar à
sensação de ter seus lábios em minha pele? E mais uma vez me forcei a
manter o controle e continuar uma conversa normal.
— As pessoas no Twitter ainda comentam sobre o defensor do Lynx
e a caloura de teatro. Alguns falam que somos lindos juntos; outros, não dão
um mês para a gente terminar — atualizei Killian sobre o que estavam
falando sobre nós. — Ainda é estranho saber que você não tem redes
sociais.
— Passei um ano sem e não fez diferença na minha vida.
Killian tinha comprado um celular novo. Um que não trouxesse
tantas lembranças dolorosas. Nossa foto dentro da cabine telefônica
continuava em sua tela de bloqueio e quase todos os dias ele me ligava só
para dizer oi.
— Vou sentir sua falta — declarei, me ajeitando sobre suas pernas,
virando meu tronco para encará-lo.
Com a formatura iminente, era questão de tempo que ele fosse para
New Jersey.
— Eu também, zuccherina — ele segurou meu rosto, os olhos
escuros fixos nos meus. — Eu te prometo que enquanto eu respirar, vou
fazer de tudo para voltar para Michigan. Meu sonho não é ir para o Red
Wings por causa de Kenny, e sim por causa de você. Para ficar perto de
você. Já passei tempo demais distante da minha fadinha.
— Vamos para casa? — perguntei, tocando sua testa com a minha,
sentindo seu cheiro invadindo cada poro meu.
— Eu já estou na minha casa — ele sussurrou, passando o polegar
na minha bochecha, as íris castanhas indo rapidamente para a minha boca.
Meu corpo todo aqueceu, suas palavras trazendo um conforto que eu
nem sabia ser possível. Meu celular vibrou dentro do bolso e eu me levantei
para ver uma mensagem de Kira, convidando para uma noite de filme.
— Kira quer assistir filmes natalinos. Embora Gus ainda não tenha
superado o trauma, ele faz tudo pela Kira, que é fã das películas regadas a
músicas da Mariah Carey. Arrume suas coisas, a gente pode estudar depois
do filme — falei, pegando minhas canetas e guardando-as dentro da minha
bolsa.
Quando Killian terminou de se arrumar, dei uma olhada na cozinha.
Tudo estava em seu devido lugar, sem copos térmicos espalhados ou livros
fora de ordem. "Icebreaker" voltou à estante depois que terminei de lê-lo, e
Killian e eu passamos uma tarde inteira discutindo sobre o livro.
Era fácil conversar com Killian. Ele escutava atentamente o que eu
tinha para falar, mesmo que isso envolvesse os namorados da Taylor Swift
ou algum filme de princesa. Ele ainda era o mesmo cara convencido, safado
e de mente poluída de sempre, e eu amava tudo isso.
— Você realmente vai me ensinar beijos técnicos ou é só uma
desculpa para me beijar? Porque tenho a impressão de que a professora Sara
não vai querer me ver enfiando a língua dentro da sua boca durante a
apresentação.
— Você é bobo, Di Angelis. — Levei meu cotovelo até suas costelas
e ele sorriu com meu gesto. — Vamos?
Seguimos até a Ômega Teta onde assistimos dois filmes seguidos e
depois treinamos O fantasma da Ópera até a exaustão. Os beijos técnicos
ficaram para depois, porque toda vez que chegávamos na cena do beijo, era
inevitável, beijávamos de verdade.
À medida que as horas passavam e estudávamos juntos em meio a
piadas, flertes e divertimento, percebi que a química entre nós era algo que
não podia ser explicado por fórmulas ou manuais. Era algo único, cheio de
descobertas.
E se um dia decidíssemos escrever um livro sobre nossas vidas, eu
tinha certeza de que não seria uma história de perfeição, mas sim uma
jornada cheia de aventuras e descobertas. Pensei que o título desse livro
poderia ser algo como "Um Manual da Química Imperfeita". E o desfecho
dessa história? Bem, como uma entusiasta de contos de fadas e histórias de
princesas, eu só poderia imaginar que teria um final feliz.
(2 ANOS DEPOIS)
CANDICE MILLER