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Introdução
Pode-se dizer que os estudos versados sobre o mundo rural e do campo vêm
deixando de ser ‘um não lugar’ na agenda acadêmica (CANÁRIO, 2008), para
ocupar um importante espaço no debate atual. De acordo com Portes, Campos e
Santos (2008), tal fato pode estar atribuído à própria complexidade dos fenômenos
sociais que as populações que aí habitam vêm enfrentando desde a segunda metade
do século XX, em detrimento da penetração do sistema capitalista nos modos de
produção dos pequenos camponeses e agricultores. Segundo Vendramini (2004),
a modernização da agricultura favoreceu a concentração da propriedade de terra e
a subordinação do trabalhador do campo às novas exigências das agroindústrias,
destruindo as pequenas unidades de produção. Como consequência, uma série de
pesquisas e estudos relacionados à educação rural e do campo ganharam centralidade
no debate acadêmico, debate este que enfatizou os problemas concernentes a esta
modalidade de ensino, a realidade das escolas rurais, a formação do corpo docente,
a situação socioeconômica das famílias rurais, o processo formativo do professor,
a situação dos alunos/trabalhadores e das professoras que se dedicam também à
colheita, o currículo, o transporte dos estudantes, a emergência dos movimentos
sociais no campo e suas propostas educativas específicas (ARROYO, 1982;
ARROYO, 2003; ARROYO, CALDART E MOLINA, 2004; FERNANDES,
2003; NETO, 2003).
Pensando em contribuir para a transformação de um ‘objeto social’ em
‘objeto de investigação científica’, este artigo pretende realizar uma reflexão acerca
dos processos de socialização familiar e escolar no contexto rural/do campo. Para
tanto, utilizamos como ponto de partida as impressões e registros dos alunos do
curso de licenciatura do campo da UFMG, turma de 2008. A discussão ensejada faz
parte do planejamento das atividades do Tempo Comunidade, momento em que os
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Agradecimentos: Agradeço à colega Isabel A. Rocha, pelo convite à parceria intelectual, acadêmica
e afetiva. À turma do LECAMPO 2008, pelo convite ao desafio.
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Profª Adjunta da Faculdade de Educação - Universidade Federal de Minas Gerais
EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE 213
alunos, escolarizados em um regime de alternância, podem debruçar-se sobre temas
importantes de análise trabalhados durante o curso.
Como bem sublinham Portes, Campos e Santos (2008), a relevância de estudos
desta natureza diz respeito, no campo da pesquisa concernente a uma sociologia da
educação de cunho mais qualitativo, à escassez de trabalhos que reflitam sobre as
práticas de escolarização das famílias rurais. De acordo com os autores (2008),
nos últimos anos, é possível observar um afluxo de trabalhos que versam sobre as
práticas familiares/de escolarização dos filhos, que vão desde as camadas populares
urbanas (PORTES, 2001; 2003; SOUZA E SILVA, 1999; VIANA, 2003; ZAGO,
2003), à baixa classe média (ROMANELLI, 2003), e passam pelas classes médias
propriamente ditas (ALMEIDA, 1999; NOGUEIRA, 2003), encerrando-se com
as elites (ALMEIDA, 2004; NOGUEIRA, 2002), por outro lado, como mostra a
pesquisa bibliográfica levada a cabo pelos autores, pouco se tem pesquisado sobre
as práticas de escolarização das famílias rurais/do campo. A relação cotidiana que
estas mantêm com a escola é ainda muito pouco investigada.
Em se tratando especificamente da educação do campo, Fernandes e Molina
(2004, p. 64) destacam a emergência de um novo paradigma como sendo resultado
do conjunto de práticas pedagógicas desenvolvidas por diferentes movimentos
sociais. Nesse sentido, de acordo com esses autores:
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A cartografia é a ciência que tem a proposição de representar o ambiente terrestre em diversas
escalas através de mapas, cartas e recursos gráficos digitais. Têm como origem tempos remotos
quando o homem primitivo representava seu ambiente e a disposição de certos recursos importantes
à sua sobrevivência através de pinturas rupestres. Do início das grandes navegações européias
no século XV aos dias atuais, foram sendo desenvolvidos métodos e tecnologias de captação e
agrupamento de dados matemáticos e astronômicos mais precisos, buscando alcançar maior
exatidão nas representações cartográficas. No campo educacional a cartografia parte do princípio
de que o aluno deve elaborar primeiro um mapa menta a respeito da escola em que está se formando
para atuar. Posteriormente, ele deve fazer o contato com as escolas e ao mesmo tempo proceder
às descrições daquele universo observado: como a escola está organizada e estruturada, quais a
condições físicas e materiais daquela escola, quem são os sujeitos que habitam esse universo, etc.
Considerações finais
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Segundo Vendramini (2006, p. 162) a nucleação escolar refere-se ao processo de agrupamento
de escolas do campo e tem como projeto racionalizar a estrutura e a organização das pequenas
escolas, que contam com reduzido número de alunos e diminuir o número de classes multisseriadas,
orientando-se pelo Plano Nacional de Educação (Projeto de lei 4.173/98).
REFERÊNCIAS
CALDART, Roseli Salete. Por Uma Educação do Campo: traços de uma identidade
em construção. In: KOLLING, Edgar Jorge; CERIOLI, Paulo Ricardo; CALDART,
Roseli Salete (Orgs.). Educação do Campo: identidade e políticas públicas. Brasília:
CANÁRIO, Rui. Escola rural: de objeto social a objeto de estudo. Revista Educação,
Santa Maria, v.33, n.1, p.33-44, jan./abr.2008. Disponível em http://www.ufsm.br/
ce/revista.
______. O trabalho escolar das famílias populares. In: NOGUEIRA, Maria Alice;
ROMANELLI, Geraldo; ZAGO, Nadir (Orgs.). Família e escola: trajetórias de
escolarização em camadas médias e populares. Petrópolis: Vozes, 2003. p. 61-80.
VIDAL, Diana Gonçalves. No interior da sala de aula: ensaio sobre cultura e prática
escolares. Revista Currículo sem Fronteiras, v.9, n.1, p. 25-41, jan./jun.2009.