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A vida como um ato de coragem – por Ricardo Coelhoi

Sêneca, filósofo e escritor romano, disse certa vez que “viver é um ato de
coragem”. Sendo um dos mais importantes representantes do estoicismo, Sêneca se
destacou por sua sabedoria e simplicidade. Por que viver pode ser um ato de coragem?
É importante destacar que a coragem é uma das 4 virtudes da filosofia estoica,
somada à justiça, autocontrole e sabedoria. Os embates do cotidiano, as crises
existenciais, a presença do nada, a própria angústia, a que nós somos submetidos, testa
a nossa coragem, nossa capacidade de enfrentamento da realidade.
Mas a coragem aqui não está relacionada com valentia, com aquele que com sua
força física consegue domar um leão. Não, não se trata disso. Para dizer a verdade, na
acepção latina, o termo está relacionado com a palavra cor, de onde surge uma outra
muito conhecida por nós: coração. É isso mesmo. O corajoso é aquele que vive com o
coração. Na poesia este órgão representa o centro das emoções. E aí reside o verdadeiro
sentido da palavra coragem.
A vida como um ato de coragem é ter sob seu domínio as emoções, porque estas
estão dentro do contexto das coisas que se pode controlar. Mas isso nunca pode ser
fácil. O peso das responsabilidades da vida moderna, o sofrimento, em suas múltiplas
facetas, o desespero humano, tão comum entre nós, nos empurram para uma vida de
não coragem.
Mas nunca é tarde para recorrer aos ensinos daqueles que, sinceramente,
pensaram mais do que “nós”. O importante, como disse Epicteto, não é o que acontece
com você, mas como você reage frente ao que acontece com você. O que pode
acontecer conosco, não temos o mínimo controle. Mas, e as emoções? Essas, podemos
ter algum controle. A vida como um ato de coragem é reconhecer aquilo que está sob o
nosso controle ou não.
Como disse Marco Aurélio, imperador romano, a felicidade da sua vida depende
da qualidade de seus pensamentos. Pensamentos bons, vida boa; pensamentos maus,
vida ruim. Fazer isso significa viver com coragem. Não perder tempo querendo saber
como seria uma pessoa boa, mas sendo uma pessoa boa, afirma o mesmo imperador.
Mas isso depende de coragem. Porque a coragem depende daquilo que podemos
controlar e escolher. Escolha não ser atingido e você não será atingido, conclui o
imperador filósofo. Isso é a verdadeira coragem, a de decidir sobre aquilo podemos.
Como disse Guimarães Rosa: “a vida quer da gente é coragem”.

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Mestre em Filosofia pela Universidade Federal do Tocantins

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