Nesse texto, Eric Hobsbawm analisa como as relações entre sociedade,
ciência(considerando também os seus agentes, os cientistas) e tecnologia se deram no contexto globalizado do século XX, uma era onde os extremos e opostos se atraíram com brutalidade extrema e, no meio desses conflitos e atritos, a sociedade se viu dividida entre desejos contraditórios. Se por um lado a ciência permitiu um avanço tecnológico sem precedentes na história humana, gerando conforto, integração de pessoas e conhecimentos, por outro também criou aberrações assustadoras e, gerou medo em diferentes níveis, mas quase que onipresente por todos os grupos humanos. Perante estes dois sentidos opostos, aceitar a ciência de bom grado recebendo também as suas problemáticas, ou recusá-la e sofrer com a sua ausência, a sociedade do século passado escolheu o conflito hipócrita em alguns casos e tão real quanto a maior das guerras já travadas em outros. O avanço científico e tecnológico no século XX é marcado por uma sequência de fatos onde este gera alguma alteração e reação na sociedade, que por sua vez geram reações no meio científico. É sem dúvidas um sistema complexo interligado que num contexto de globalização cada vez maior, tem repercussões cada vez mais fortes, e neste momento, o fator político/militar ganha não apenas grande relevância, mas se torna o centro das atenções, ofuscando tudo mais. Isso é possível ser observado na medida em que o avanço científico e tecnológico criou ferramentas de comunicação em massa, desenvolvimento de armas e tecnologias de informação, além do acirramento da disputa no meio industrial que criou toda a circunstância para o desenvolvimento de uma guerra, que culminou em uma migração de cientistas da Europa para os EUA. A criação da bomba atômica é o reflexo dessa concentração de cientistas, é a faísca do atrito entre uma ciência que pode ser grandiosa e perigosa, com interesses político conflitantes. É fácil entender as reações de desconfiança de boa parte da sociedade com relação a ciência se levar em conta que ela evolui de tal maneira que não estava mais presente na experiência diária, e que esta agora era direcionada pela matemática, ou seja, complexas teorias agora dominavam o campo científico, e aquelas especulações com o passar do tempo possibilitavam a criação de tecnologias utilizadas e massa, surgindo quase como por mágica. Estava sendo introduzido na sociedade elementos totalmente desconhecidos que, hora geravam reações de repulsa e medo histérico, e hora eram completamente ignorados, sendo observados com total tédio. Isso dá as reações sociais um caráter de total aleatoriedade e misticismo, afinal não podendo avaliar moralmente se essas reações estão certas ou erradas, é perceptível por outro lado que elas não passam por qualquer tipo de análise na maioria dos casos. Apesar disso, nesse século a ciência se espalha para mais regiões do globo; mantendo-se concentrado agora nos EUA, a Europa e a Rússia se mantém logo atrás tendo agora como companhia países da região Asiática que tem um especial destaque, graças ao seu grande desenvolvimento. Outros países como Canadá, Austrália e a Argentina também acumulam méritos, se tornando pontos de pesquisa e desenvolvimento independentes. Porém o panorama geral continua constante, as pesquisas são em sua maioria feitas em países capitalistas desenvolvidos, normalmente com parcerias (com exceção dos EUA) e grandes investimentos dos estados. Esse efeito aglutinador da ciência em torno dos recursos e estruturas também é observável no âmbito dos próprios estados, onde as melhores universidades eram responsáveis por grande parte de todo o conteúdo científico produzido. É claro e evidente que o fator financeiro é em grande medida determinante quando se fala em desenvolvimento científico a partir do século XX, é notável que grandes quantias investidas de maneira eficiente nos maiores cientistas e pesquisadores, geram descobertas tanto propositais quanto acidentais que possibilitam o desenvolvimento tecnológico acelerado. Isto leva a discussões éticas das mais variáveis com relação aos limites das pesquisas, que não se encerraram no século passado; elas se prolongarão por tempo ainda indeterminado, podendo chegar a muitos resultados diferentes e contraditórios, mas não há como negar que essas se iniciaram de maneira relevante no século XX, que com certeza ainda vem direcionando os rumos da ciência, tecnologia e sociedade.