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P O R T A A B E R T A

Motrivivência Ano XIX, Nº 28, P. 120-138 Jul./2007

AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM NA

EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR

Saulo Fernandes
Roberta Greenvile

Resumo Abstract
Acreditamos que a significação da We understand the significance of
educação física dentro do currículo physical education into the school
escolar, perpassa por um entendi­ curriculum, colours for a more ela­
mento mais elaborado e planejado da borate and planned understanding
avaliação de seu ensino, sendo esta of the assessment of their teaching,
tomada como um processo contínuo and making this as a continuous
de verificação, tanto para os alunos, process of verification, both for the
quanto para professores. O seu desme­ students, and for teachers. Your des­
recimento por parte das escolas possui, merecimento by the schools has, in
em seu bojo, a defeituosa avaliação its midst, the defective assessment
realizada pelos professores dos obje­ by teachers of the goals of learning
tivos de aprendizagem propostos. Em offered. In the period of practice
período de prática de ensino e estágio teaching and supervised internship,
supervisionado, realizado em escola held in the city of Recife school-PE,
do município do Recife-PE, procurou- it is making observations of classes,
se efetuar observações de aulas, documented by reports from the
documentadas através de relatórios de field, as well as regência through
campo, bem como a regência através the use of varied teaching methods,
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da utilização de variados métodos de yet focused in the training of ways


ensino, ora centrados no treinamento sports, sometimes organised throu­
das modalidades esportivas, ora organi­ gh creative methods of teaching.
zados através de métodos criativos de At the end, that the entire process
ensino. Constatamos, ao final, que todo of rise and rise of discipline within
o processo de surgimento e ascensão the school brought to the current
da disciplina dentro da escola trouxe, practice of teachers, methodologies
para a atual prática dos professores, focus on sports and the technicality
metodologias centradas nos desportos of practical “how to do”. We propo­
e no tecnicismo prático do “fazer por se, therefore, the use of assessments
fazer”. Propomos, então, a utilização de also practice, but geared to the pro­
avaliações igualmente práticas, porém, duction of knowledge through cre­
voltadas à produção do conhecimento ative methods of teaching physical
através de métodos criativos de ensino education, focusing on the practice
da educação física, focando a práxis of discipline and, consequently, the
da disciplina e, conseqüentemente, o “thinking the practice.”
“pensar a prática”. Keywords: physical education; scho­
Palavras-chaves: Educação física; ol; assessment.
escola; avaliação

1- Introdução está aquela qualidade / quantidade


que se pretende qualificar/quanti­
Avaliação. Do ponto de ficar. Estes padrões, a partir desse
vista do seu conceito, segundo FER­ confronto, podem ser conceituados
REIRA (1986), possui como sinôni­ como normais, quando encontram-
mos/significados determinar a valia se próximos aos valores de referên­
ou o valor de; calcular; apreciar ou cia, ou como anormais, quando
estimar o merecimento. Trata-se distantes desses valores.
de um processo, portanto, que nos Essa é uma das característi­
remete à parâmetros determinados, cas importantes da avaliação especi­
escolhidos e confrontados, a fim ficamente, e do processo avaliativo
de qualificar, ou quantificar, deter­ de uma forma geral, porém não é a
minado processo, quantidade ou única. Ainda neste particular, pode­
qualidade, que se pretende definir. mos sistematizar várias formas de
Estas qualidades e quantidades avaliação, ora referenciadas por nor­
referenciais, como o próprio nome mas, ora por critérios e ora por va­
nos sugere, são utilizadas para que lores, todos procurando padronizar
possamos entender em quão grau um determinado evento, processo
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ou qualidade. Recomendamos aqui, A disciplina, caracterizada por não


caso pretendemos manter um olhar ser uma ciência1 por si só, tende a
para estas características “fechadas” manifestar suas escolhas e objetos
de avaliação, a análise de GUEDES de estudos dentro de uma área de
(2006), no que diz respeito aos conhecimento especifica. Esta luta
vários tipos e processos avaliativos, por sua significação, foi forjada a
principalmente quando dos primei­ partir da própria história da educa­
ros capítulos de sua obra, no qual ção no Brasil, servindo a educação
mantém uma sistematização elegan­ física aos interesses e influências da
te e fixa sobre essas características sociedade brasileira nos vários perí­
pragmáticas da avaliação, embora o odos temporais (imperial, republica­
referido texto tratar de um aspecto no, militar, capitalista, etc). Dentro
da avaliação em educação física destes vários períodos, a educação
fora do contexto escolar. física, e seus estudiosos, procura­
Porém, não é essa visão ram desenvolver metodologias que
e discussão dialogais que preten­ assegurassem a sua permanência
demos manter sobre o tema. Pelo dentro da escola brasileira, e essas
contrário. Quando nos propomos metodologias, cercadas por ideais
a estudar e realizar uma revisão políticos e influenciados por seus
dos conceitos, históricos e epis­ interesses, apresentaram objetivos-
temológicos sobre a avaliação da características distintas umas das ou­
aprendizagem, focamos nossa expe­ tras. Essas características-objetivos,
riência dentro do contexto escolar, desencadeiam todo um processo de
de uma forma geral, e na educação ensino e aprendizagem que vão, de
física especificamente, por vários uma maneira ou de outra, influen­
motivos, que serão sistematizados ciar as formas de avaliação deste
a seguir. É notório, a partir das mesmo processo.
várias produções científicas que se É com o interesse de es­
sucedem, que há uma forte deman­ tudar os mecanismos históricos,
da pela significação da disciplina sociais, metodológicos e filosófi­
educação física na vida / currículo cos, que interferem no processo
escolar (SOUZA JÚNIOR, 1999, de avaliação da educação física
2000) Coletivo de autores (1992), escolar, bem como confrontar estes
TAFFAREL (1985), dentre inúmeros. mecanismos com nossa prática de

1
Entende-se aqui como o conjunto de experiências e conhecimentos que garantem sua própria
definição e organização a partir de instrumentos que lhe são únicos, não dependendo de outras
ciências, para explicar fenômenos e processos por ela estudados.
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ensino supervisionado e propor se encontrou, seja pelas influências


alternativas que atenuem os pro­ e objetivos característicos de cada
blemas que venham a surgir, que metodologia do ensino / presente da
nos propomos a discutir esse tema educação física na escola.
que, em nosso entendimento, pode No inicio da sistematiza­
qualificar ainda mais o trabalho do ção do conhecimento nas escolas
professor e, sobretudo, ajudar a – aproximadamente meados do
significação da disciplina dentro da século XVIII – a didática e o surgi­
escola brasileira. mento das principais disciplinas de
conhecimentos gerais, encontravam
2- Referenciais teóricos no seu interior, o objetivo de ensi­
nar “tudo a todos”, ou seja, ao aluno
era ensinado todos os conteúdos e
2.1- A avaliação no contexto ciências naturais, sociais, exatas e
histórico da Educação Física religiosas, entendendo este ensino
brasileira relativo apenas a uma parte da po­
pulação política e economicamente
A avaliação do ensino com privilegiada. É importante lembrar
base no que é visto e vivenciado ainda que, as instituições responsá­
no cotidiano das escolas brasileiras, veis pelo oferecimento, organização
serve-se de algumas características e aferição da aprendizagem dos
bastante discutíveis, tanto do ponto alunos eram instituições altamente
de vista histórico, quanto do ponto repressivas o opressivas, que faziam
de vista pedagógico e metodológico. valer o poder do Estado, Império,
Tais características estão altamente República ou Igreja, e que aqueles
interligadas entre si, fazendo com que que não se adaptavam as normas
tenhamos que interpretar seus valores pré-estabelecidas, simplesmente
e influencias de forma globalizada. eram excluídos do processo ou
Historicamente, sem nos postos em segundo plano, desenca­
ater a aspectos muito detalhados deando ao final do período escolar
das passagens temporais da edu­ a ocupação de funções inferiores de
cação como um todo, percebemos trabalho e de produção. A avaliação,
que, como todas as questões afetas neste sentido, servia apenas como
a escola, a avaliação passou pelas mais um instrumento de repressão
diversas fases de desenvolvimento e opressão social. A força e o poder
do contexto escolar, seja por conta das instituições dominantes eram
das características advindas do pe­ postos em prática nos momentos
ríodo sócio-político em que o Brasil pré-determinados de avaliação dos
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conhecimentos e conteúdos ensi­ população. Talvez a grande distinção


nados, que geralmente aconteciam encontrada neste período, compa­
por meio de provas documentais. rando com o período militarista, é
Procurando focalizar a o fato de haver uma preocupação
discussão do ponto de vista da biológica maior, no que concerne
educação física, e mantendo um ao exercício e ao corpo humanos,
olhar direcionado às fases históricas principalmente devido aos conhe­
do desenvolvimento da disciplina, cimentos advindos da anatomia e
veremos que as vertentes metodoló­ da fisiologia sistêmicas. A avaliação,
gicas do ensino deste componente neste sentido, encontrava-se susten­
curricular, como mostrado por tada pelos objetivos de controle e
GUIRALDELLI JÚNIOR (2002), são aferição dos processos biológicos e
capazes de influenciar os métodos anatômicos do corpo humano, sem­
e conceitos avaliativos. pre voltados à compreensão e alcance
Durante os períodos mi­ da saúde individual desvinculada do
litares – nos quais a disciplina compromisso do Estado com a saúde
incorporava métodos de ensino de coletiva da população. Mais uma vez,
conteúdos e padronização de ci­ a avaliação na educação física dentro
dadãos forjando práticas rígidas de das escolas brasileiras, é forjada para
movimentos baseados em métodos a consecução dos objetivos de “con­
ginásticos europeus – a avaliação quista de aptidões” por parte dos mais
do ensino era realizada com base fortes e mais bem preparados, sejam
da submissão e na averiguação dos fisicamente ou cognitivamente.
mais fortes e capazes de defender os Mais adiante no tempo,
objetivos do Estado dominante. A ri­ veremos que com o surgimento e
gidez, o medo, o respeito aos supe­ aumento do número de praticantes
riores e a submissão dos alunos, era dos desportos coletivos e individu­
a tônica das avaliações, realizadas ais, bem como a crescente demanda
tanto do ponto de vista teórico (pro­ industrial e de mecanização social
vas, avaliações físicas, etc.), quanto pela influência do capitalismo na
do ponto de vista prático (testes de vida das pessoas e instituições, o
esforço, provas de nado, corrida, esporte de alto-rendimento passa
desportos individuais, etc.). a ocupar um lugar importante nas
Com um objetivo parecido práticas escolares, e a educação físi­
ao das instituições militares, o perío­ ca torna-se a disciplina encarregada
do higienista de ensino da educação de transmitir e possibilitar a vivência
física, também manteve seu olhar de seus conteúdos por parte dos alu­
voltado à assepsia social e política da nos. O ensino dos desportos tratou
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de formar equipes qualificadas a pedagógicas, aparecendo não como


disputarem jogos escolares, inter- componente curricular igual os
classes, ou universitários, conforme demais, mas como um simples
nos mostra MORAES (2003), e as momento de lazer, ou de esforço
aulas eram baseadas em programas obrigatório, visando o adestramento
de treinamento de equipes para a aos padrões de saúde individual
participação nesses torneios. Se o e de participação competitiva em
ensino é baseado em treinamentos alguns desportos, focando única
desportivos das diversas moda­ e exclusivamente os resultados
lidades, individuais e coletivas, alcançados pelas instituições que
a metodologia e a avaliação do representam.
desempenho dos alunos, deverá Como renovador da es­
acontecer de forma similar às aulas, perança do ensino da educação
ou seja, baseando-se na aplicação e física nas escolas, surge a proposta
crítico-superadora dos conteúdos,
demonstração dos conhecimentos
que visa a sistematização destes por
tecnicamente corretos, do ponto
parte dos alunos, a fim de significar
de vista biomecânico. Portanto,
a disciplina dentro das escolas brasi­
aqueles alunos que não detinham
leiras. Possui em seu bojo uma pe­
certa facilidade na execução dos
dagogia fundamentada no estilo dia­
movimentos, eram mais uma vez lético de ensino, sustentado pelos
excluídos das práticas e postos em cinco pilares-conteúdos pertinentes
segundo plano durante as aulas. a educação física (dança, esporte,
Novamente observamos luta, jogo, lazer). A avaliação, neste
pouco ou nenhum compromisso sentido, ganha caráter espiralado2
dos professores com os conteúdos de construção do conhecimento
realmente relevantes ao aprendi­ entre professor e aluno, e ensino e
zado e crescimento dos alunos aprendizagem, tornando-se partici­
como cidadãos sociais e democra­ pativo, qualitativo, e contínuo, den­
ticamente críticos de suas práticas tro do planejamento traçado pelo
dentro da sociedade. A educação professor à luz dos conhecimentos
física serve-se, de novo, aos obje­ prévios dos alunos, suas condições
tivos alienados de certas práticas sociais, físicas e afetivas.

2
O sentido espiralado vem da palavra espiral, sendo considerado o tipo de ensino que se caracteriza
pelo ciclo-retorno dos conteúdos do processo de ensino-aprendizagem. Um mesmo conteúdo
pode ser transmitido ao(s) aluno(s) em várias fases do processo, modificando apenas o grau de
especificidade deste com relação às fases anteriores. Este significado é observado freqüentemente
em escolas que adotam o sentido de ciclo escolar em detrimento ao sentido de classe escolar.
126

Nesta proposta, a educa­ nosso próprio trabalho docente.


ção física é decomposta em 5 (cin­ Isto porque a avaliação é uma via
co) grandes áreas de conhecimento de mão dupla, que deve começar
e sistematização, que são o jogo, o com o olhar critico do professor
esporte, a dança, as lutas e a ginásti­ sobre sua própria prática. Ao nos
ca. Assim, detendo de uma caracte­ perguntarmos como está dividido o
rização dos objetivos propostos para trabalho pedagógico? Como e quais
o processo de ensino-aprendizagem foram os critérios para seleção dos
da educação física, parece-nos ser o conteúdos? E quais os instrumentos
inicio de uma determinação lógica didáticos e metodológicos utilizados
para a avaliação, ou avaliações, des­ para o alcance dos objetivos? Nós
te processo. O quê avaliar? Acaba estaremos efetuando uma avalia­
determinando o como avaliar? ção prévia do processo, clareando,
Utilizamos estes períodos conseqüentemente, os mecanismos
históricos com o intúito de demons­ para avaliação da aprendizagem dos
trar como eram tratados os conteú­ conteúdos por parte dos alunos.
dos da educação física nas diversas
fases de seu desenvolvimento. Este
trato errôneo com o conhecimento
2.2- O conceito de prova e
da disciplina dentro das escolas, ao sua relação com a avaliação
que parece, trata-se de um entrave escolar e a Educação Física.
problemático no que diz respeito
à avaliação do seu ensino. Ora, Diversas literaturas mos­
se não sabemos ao certo quais os tram que a questão das provas
conteúdos que iremos ministrar em no contexto da educação escolar
nossas aulas, o que de fato iremos tornou-se um vício que dificilmente
avaliar em nossos alunos? Talvez, o estará sendo curado, caso conti­
passo inicial para o alcance de uma nuemos tratando da forma como é
avaliação significativa em educação visto atualmente. Algumas escolas
física escolar, seja a definição clara utilizam um discurso de que a prova
dos objetivos e dos conteúdos a é apenas um instrumento a mais
serem ensinados, bem como a me­ do processo de avaliação, e que os
todologia que empregaremos em demais são organizados no decorrer
nossas aulas. Ou seja, a avaliação do desempenho dos alunos durante
sem planejamento não existe! o período de ensino. Realmente o
Ao planejarmos nossas que vemos é a não organização da
ações, estamos efetuando, por si escola com base nestes parâmetros
só, uma avaliação sistemática de avaliativos que, por muitas vezes, se
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encontra numa posição complicada alunos, podemos desenvolver e


no que diz respeito à avaliação de utilizar vários instrumentos de ca­
determinado aluno, já que interes­ ráter avaliativo durante o processo.
ses financeiros e políticos acabam Segundo BETTI (2003), os meios
por prevalecer sobre os objetivos didáticos para produzir e organizar
educacionais de aprendizagem e criteriosamente o aprendizado dos
formação do cidadão. alunos, e conseqüentemente os me­
Na verdade, diferente­ canismos avaliativos, podem ser:
mente das demais disciplinas do
currículo escolar, a educação física ESTRATÉGIAS METODOLÓ­
existe, dentro da escola, como uma GICAS NO CAMPO SÓCIO-
disciplina de caráter altamente práti­ COMPORTAMENTAL:
co. Ora, lidamos com o movimento (grifos nossos)
corporal cultural humano, quer seja
(...) Autotestagem ou conteste, jo­
objetivando a melhoria da qualida­
gos de competição e cooperação,
de de vida individual, quer seja no
seqüências pedagógicas, demons­
intuito de entender e desenvolver
tração, descobrimento guiado,
as práticas que minimizem a discre­ resolução de problemas, jogos
pância sócio-econômica brasileira. de mímica e expressão corporal,
Por este motivo básico, a realiza­ grandes jogos, jogos simbólicos,
ção de provas para a averiguação jogos rítmicos, exercícios em du­
dos conhecimentos dos alunos, no plas, trios, grupos, com e sem ma­
tocante à educação física, acaba terial, circuito, aulas com música,
sendo apenas um instrumento para aulas historiadas, jogos pré-des­
esta avaliação, contendo um fim portivos, gincanas, campeonatos,
num processo maior de aprendiza­ festivais. (...)
do durante as próprias aulas.
Verificamos que a ava­ (...)
liação ganha importância dentro
do contexto educacional quando, ESTRATÉGIAS METODOLÓGI­
CAS NO CAMPO COGNITIVO:
de fato, temos bem definidos os
(grifos nossos)
objetivos que pretendemos com as
(...) discussões sobre temas da atu­
práticas metodologicamente desen­ alidade ligados à cultura corporal
volvidas. No que concerne à edu­ de movimento, leitura de textos,
cação física especificamente, por se dinâmicas de discussão em grupo,
tratar de uma disciplina que trabalha matérias de jornais e revistas, uso
conteúdos, na grande maioria, re­ de vídeo/TV (produções especí­
cepcionados positivamente pelos ficas ou gravações de programas
128

da TV), mural de notícias e in­ na educação física escolar apenas


formações sobre esporte e outras através do caráter de repetição de
práticas corporais, organização de gestos por parte dos alunos, estare­
campeonatos pelos próprios alu­ mos constantemente observando e
nos, trabalhos escritos, pesquisas
avaliando a mera participação dos
de campo, etc. (...)
indivíduos no processo de ensino e,
no mais das vezes, somos obrigados
2.3- A observação do proces- inclusive a atribuir um valor, nota
so de ensino-aprendizagem na ou medida, aquela participação em
Educação Física escolar sala de aula (quadra, pátio, etc).
Participação não é nota, nem tam­
Por vezes nos encontra­ pouco atributo para avaliação de
mos cometendo um equívoco na aprendizado. A participação é obri­
elaboração de planejamentos anu­ gação dos alunos, enquanto enten­
ais, semestrais ou mensais, e até dimento da educação física como
mesmo na produção de simples componente curricular obrigatório,
planos de aulas, ao enfatizarmos previsto, inclusive, em Lei.
que a avaliação será realizada por Segundo HAYDT (1997),
intermédio da observação direta dos a observação sistemática do aluno
conhecimentos adquiridos pelos em sala de aula é um elemento
alunos. Em que momento? Quais as indispensável à organização dos
características que pretendemos ob­ conceitos e das determinações a res­
servar nos alunos? Se o aprendizado peito da avaliação do processo de
é uma mudança de comportamento, ensino-aprendizado. A autora nos
quais os comportamentos que deve­ mostra que, quando a observação
riam ser observados e tidos como é realizada de forma sistemática e
parâmetros de aprendizagem? consciente serve não apenas como
É inevitável analisar que, critério de avaliação para promo­
se a aprendizagem deriva de uma ção ou classificação do aluno, mas
mudança de comportamento, este, também de feedback para a auto-
por sua vez, tende a ser uma ca­ avaliação do professor, seja para
racterística observável daquele o alcance dos objetivos, seja para
indivíduo que se pretende avaliar. averiguação de sua metodologia
Como avaliar, portanto, algumas de trabalho.
características ou mudanças de Identifica ainda que, neste
comportamentos que não são ob­ particular, a observação sistemática
serváveis no decorrer do processo? e organizada pode servir de instru­
Caso nós centremos nossa atuação mento avaliativo para:
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• A consecução de alguns ob­ Neste particular, analisa­


jetivos de ensino, como por remos apenas aquelas característi­
exemplo os que descrevem a cas que, direta ou indiretamente,
habilidade de executar tarefas são plenamente influenciáveis
motoras, os relacionados à edu­ pelos mecanismos sócio-comporta­
cação física, ou aqueles que se
mentais atualmente vigentes. Caso
referem aos resultados de apren­
seja este o ideal de cidadão e de so­
dizagem em educação artística
(artes plásticas, musicais, artes
ciedade que o professor acredita e
cênicas e expressão corporal); almeja, enquanto sujeito mediador
• A consecução de certos ob­ e condutor do processo de ensino-
jetivos educacionais na área aprendizagem, estaremos realizan­
afetiva, envolvendo interesses, do aquilo que seria determinado
hábitos e mudança de atitudes; até mesmo pela própria atuação
• O comportamento social tra­ deste para com os alunos. Contu­
duzido em termos de habilida­ do, se confiamos numa pedagogia
des de convívio social; voltada para a critica sócio-cultural
• Alguns aspectos referentes ao e a sistematização dos conteúdos
desenvolvimento físico. relacionados à transformação mul­
tilateral dos sujeitos envolvidos
Verificamos, portanto, que
no processo, é preciso determinar
a pedagogia cuida deste tema de
forma sistemática e exaustiva, pro­ quais metodologias de ensino fa­
curando inclusive conceituar alguns cilitem o alcance à emancipação
fatores característicos dessas práti­ destes sujeitos.
cas. Entretanto, não encontramos A participação nas aulas e
dados que venham a corroborar no nas atividades propostas pelo pro­
sentido de transformar a avaliação fessor deve ter o mesmo objetivo
numa prática transformadora e de que têm nas demais disciplinas do
inserção social. Na verdade todas currículo escolar, como no ensino
as metodologias encontradas para
da matemática, das línguas, da ge­
a avaliação, procuraram analisar
os objetivos propostos aos alunos, ografia e da história. A participação
mas, sobretudo, aqueles objetivos é uma condição que se faz neces­
pré-determinados, pautados em sária para o aprendizado dos vários
filosofias positivistas que, em mo­ conteúdos propostos pela educação
mento algum, procuraram fazer física, talvez mais importante até
da prática em sala de aula um ato do que para outras disciplinas, por
critico e reflexivo dos alunos sobre possuírem características marcada­
esta mesma prática. mente teóricas.
130

Ainda assim, se preten­ 3- Metodologia


demos organizar nossas ações em
prol de um aprendizado relevante 3.1 A instituição de ensino,
por parte do aluno, devemos ob­
suas relações profissionais e
servar sim, constantemente, perio­
pedagógicas, e a Educação
dicamente, sistematicamente e de
maneira organizada. Contudo o que Física nela inserida.
se pretende observar e analisar não
A instituição onde desen­
é somente a execução dos gestos
volvemos nossa pesquisa de campo,
técnicos das danças, dos esportes ou
bem como o período de prática de
das lutas, mas o que de fato o aluno ensino e estágio supervisionado,
produziu em sala de aula, ou seja, trata-se de escola particular, per­
avaliamos não só o praticar, mas o tencente à congregação religiosa
pensar a prática. católica com mais de dois séculos
Se nossos alunos não pro­ de existência, localizada no bairro da
duzem em sala de aula, como fare­ Boa Vista, município do Recife-PE.
mos nosso juízo de valor em relação Ela oferece em suas instalações todos
aos conteúdos ensinados? Se eles os graus de ensino, que vão desde a
não conseguem organizar-se em educação infantil até o ensino médio.
grupo, como poderemos falar aqui Este último correspondente à faixa de
de pressupostos e atitudes sociais escolaridade na qual tivemos carga
na prática esportiva ou num deter­ horária de regência e observação
minado desporto coletivo? De fato de aulas práticas. De maneira mais
específica, nós concentramos as
eles precisam mostrar a si próprios
investigações nas turmas de 1º e 2º
que sabem como e onde jogar...
ano do ensino médio.
que organizam-se para, e com quê
É importante deixar claro
e quem jogar... que, ainda assim, que, por conta da instituição ser de
conseguem desenvolver seu poten­ congregação religiosa, apresenta em
cial criativo dentro do jogo, inclu­ suas atitudes pedagógicas algumas
sive utilizando suas regras formais, práticas filantrópicas de apoio a
bem como modificando-as quando crianças carentes que, mesmo sem
necessário. É dessa forma, ao nosso ter condições de financiar os estu­
ver, que a avaliação na educação dos em escolas particulares, têm a
física tornar-se-á mais clara e ob­ possibilidade de receberem bolsas
jetiva, tanto do ponto de vista do integrais para freqüentarem as aulas
professor quanto do aluno. normalmente, e ainda lugar digno
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de moradia e alimentação. Esta a disciplina dentro da instituição.


característica filantrópica não in­ Procuram trabalhar os conteúdos
terfere nas atitudes dos professores correspondentes à Cultura Cor­
ao tratarem os conteúdos das disci­ poral do Movimento, procurando
plinas, ou seja, as aulas acontecem sistematizá-los de maneira continua
da mesma forma que aconteceriam e cíclica, dividindo-os de forma
se não tivesse a presença desses seqüencial para cada etapa de esco­
garotos bolsistas. Talvez, por parte laridade (ensino seriado). Seguindo
dos professores, haja um cuidado o que é proposto por BETTI (2003), a
a mais com estes alunos, não por produção do conhecimento por par­
serem de classe social baixa, mas te dos alunos também é estimulada,
por possuírem uma dificuldade tanto na forma de trabalhos, quanto
de aprendizado maior, devido aos através de pesquisas em bases de
seus déficits pedagógicos anterio­ dados, e relatórios descritivos pro­
res. O nível sócio-econômico dos duzidos pelos alunos.
alunos da escolar varia bastante, A participação em eventos
inclusive por conta dessa diferen­ de congregação e reuniões, que
ciação filantrópica praticada pela são incentivados pela diretoria da
instituição. Mesmo grande parte dos escola, incorporam algumas carac­
alunos cujos pais pagam a escola terísticas específicas da educação
integralmente são pertencentes a física e outras que visam o atendi­
classes sociais distintas, fato que, a mento às necessidades financeiras
princípio, não vem interferindo no e mercadológicas da instituição.
trabalho dos professores. Sabemos que a inadimplência é um
Com relação à educação fator preocupante em muitas escolas
física especificamente, a instituição particulares do estado e, quer seja
apresenta uma disponibilidade e pre­ ou não, este aspecto econômico
ocupação com a prática permanente acaba por influenciar as práticas dos
dos seus alunos, sejam nas aulas pro­ professores, que se sentem no dever
priamente ditas, sejam em festivais, de propor atividades interessantes
jogos e olimpíadas internas, todos para os alunos (conquista de prê­
organizados pelo departamento e mios, atividades diferentes e varia­
coordenação esportiva da escola. das, participação em competições,
Este, por sua vez, é composto por etc), ao passo que sejam também
profissionais capacitados, todos for­ rentáveis para a escola (venda de
mados e licenciados em educação uniformes e camisas, inscrição de
física, e que possuem compromisso atletas, etc). Os eventos previstos e
com o ensino e o respeito para com realizados na instituição tiveram um
132

caráter beneficente e filantrópico de estruturais quanto pedagógicas da


arrecadação de alimentos, exata­ escola, ambas relacionadas ao tema
mente pelo fato de ser uma prática escolhido e a outros aspectos da
presente e constante da escola. A educação física em particular.
organização de festivais, olimpí­
adas, jogos internos, entre outras 3.2- A avaliação do ensino
atividades, agregam também aspec­ da educação física dentro da
tos pedagógicos (p.ex. interdiscipli­
naridade, cooperação, participação
escola-campo de pesquisa.
em eventos científicos, produção de
A avaliação do ensino da
conhecimento por parte dos alunos,
educação física por parte dos pro­
etc), e estas características puderam
fessores da escola, especificamente
ser observadas tanto nas olimpíadas
nas turmas onde se desenvolveu o
culturais, direcionadas ao ensino
período de estágio (1º e 2º ano do
médio e segundo segmento do en­
ensino médio), se tratou de um pro­
sino fundamental (5ª a 8ª séries),
cesso contínuo, em que os alunos
como também durante os jogos foram constantemente impelidos a
internos realizados para o primeiro participarem de eventos e produzi­
segmento do ensino fundamental rem junto ao professor. Com relação
(Alfabetização a 4ª série). Cabe aos conteúdos de ensino da educa­
aqui, ressaltarmos a importância da ção física, estes são ministrados no
presença do professor de educação intuito de fazer com que os alunos
física nesses eventos, seja partici­ aprendam e os utilizem para a vida,
pando do projeto idealizador de independentemente das condições
tais atividades, seja organizando o físicas, técnicas, de gênero, de
espaço físico, os materiais e instru­ raça, etc. Foram selecionados, pelo
mentos, ou outras estruturas impor­ professor titular da disciplina, os
tantes para a sua realização. conteúdos de basquetebol e futsal
Com relação à averigua­ durante o período de prática de
ção desses aspectos relativos a ensino supervisionado. Portanto,
instituição, bem como da educa­ nossas intervenções foram no senti­
ção física nela inserida, realizamos do de sistematizar esses dois temas
relatórios de aulas e observações, da cultura corporal de movimento
onde procuramos manter por escrito e, por se tratarem de turmas em fim
um diálogo e um levantamento das de escolaridade, nossa responsabi­
características mais importantes. lidade, e também dos alunos, em
Nesses relatórios, ou diários de dominar aspectos mais básicos des­
campo, enfatizamos tanto questões sas duas modalidades, bem como
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proporcionar um aprendizado mais requisitado para “tomar conta”, dos


aprofundado das mesmas, tornou-se alunos que já as concluíram. Isto
mais evidenciada. mostra que, embora a instituição in
Do ponto de vista da atri­ casu reconheça a importância da
buição de conceitos como critério prática da educação física por parte
de avaliação do desempenho dos dos alunos, ainda possui algumas
alunos, notamos que há a distinção atitudes de discriminação com a
de três momentos (notas) distintos, disciplina e com o professor, colo-
organizados da seguinte forma: cando-os num plano inferior frente às
demais matérias escolares. É como se
• Nota 1 – prática dos alunos a avaliação do ensino da educação
nas aulas; física não existisse, e o professor
• Nota 2 – Realização de traba­ pudesse efetuar qualquer juízo de
lhos intra ou extra-classe; valor em cima da simples participa­
• Nota 3 – Relatórios produzi­ ção dos alunos durante as aulas, e a
dos pelos alunos. disciplina fosse um componente de
menor importância ganhando um
Estes três conceitos dizem caráter apenas de atividade escolar,
respeito aos conteúdos atitudinais, e não de componente curricular
pedagógicos, sociais e disciplina­ obrigatório, como preconiza a LDB-
res, previamente selecionados pelo EN (Lei 9.394/96).
professor, contudo, há também a
possibilidade de realização de pro­ 4- Discussão e análise dos
vas escritas em sala de aula. Dife­ dados
rentemente das outras disciplinas no
currículo escolar, a educação física Com relação à primeira
não tem períodos pré-determinados nota (prática dos alunos durante as
de avaliação (p.ex. semana de pro­ aulas), percebemos que o tempo
vas, testes, etc), ficando totalmente de experiência do professor e o seu
a cargo do professor a programação conhecimento dos alunos, fazem a
avaliativa das turmas. E, como se não diferença nas observações que ele
bastasse, durante o período “oficial” executa da prática dos mesmos.
onde ocorrem as avaliações dos Neste particular, as observações
outros componentes curriculares, acontecem no sentido de verificar
geralmente o professor de educação características como comprometi­
física é retirado da quadra, ou sala, mento com as atividades propostas,
e aproveitado para realização e fis­ assiduidade, aspectos relativos aos
calização das provas, quando não é relacionamentos sociais com os
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demais alunos e com o próprio essa turma especificamente. Pelo fato


professor e os níveis de apropriação do aluno ser cadeirante, evidencia­
dos conteúdos ensinados. Como mos claramente algumas limitações,
foi relatado anteriormente, por se principalmente quando tratávamos
tratarem de turmas avançadas e, o conteúdo de futsal. Mesmo assim,
principalmente, pelo fato do obje­ procuramos minimizar constante­
tivo geral da disciplina na escola ser mente essas dificuldades fazendo
o de “produzir cidadãos críticos e com que os próprios alunos produ­
consumidores das formas de parti­ zissem, em momentos previamente
cipação ativa em desportos, seja na estabelecidos das aulas, algumas
forma de ocupação do tempo livre, alternativas práticas (mudanças de
seja na forma competitiva”, nossas regras, utilização de equipamentos,
intervenções foram no sentido de adaptação ao jogo, etc), para que ele
proporcionar o entendimento de participasse normalmente.
algumas características gerais e es­ A segunda nota seleciona­
pecíficas dos conteúdos, contudo, da refere-se à produção de pesqui­
impelindo os alunos para que de­ sas e trabalhos sobre temas previa­
monstrassem seus conhecimentos mente selecionados pelo professor.
das modalidades, a fim de organi­ Esta metodologia de pesquisa pode
zarem-se sozinhos e corretamente representar um problema, princi­
para a realização dos jogos e ativi­ palmente quando nos referimos
dades. Para nós, que não dispomos às bases de dados encontradas na
de experiência com os alunos dessa Internet, revistas e jornais que não
escola, a questão da observação das tem nenhum compromisso científi­
aulas, acabou se tornando apenas co e pedagógico com a educação
uma observação da participação física e, o que é mais grave, ainda
dos alunos, ou seja, a participação transmitem de forma errônea cer­
nas atividades torna-se um fim nela tos conhecimentos sobre esportes
própria, e os alunos apenas partici­ e atividades físicas, colocando o
pam, não demonstrando nenhum, desporto de alto-rendimento como
ou quase nenhum, compromisso meio socializador e de aquisição de
com os conteúdos propostos. uma “saúde” que não existe, e está
Vale ressaltar que na turma desvinculada do compromisso so­
do 1º ano do ensino médio, temos cial de saúde coletiva. Na verdade,
um aluno portador de necessidades eles devem tratar este tipo de ava­
especiais (PNE), fato que nos impul­ liação de maneira crítica e reflexiva,
sionou ainda mais no sentido de pro­ trazendo para a discussão do grupo
duzir e avaliar as aulas ministradas a essas características que permeiam
Ano XIX, n° 28, Julho/2007 135

o desporto de alto nível, e como observação da prática dos alunos.


poderíamos tratá-lo para que seja Contudo, se por um lado estamos
um meio de aquisição de experi­ na vanguarda da avaliação escolar
ências ricas, quer sejam de caráter qualitativa, com ênfase na regulação
biológico, filosófico ou social. das aprendizagens, conforme preco­
Com relação à última nota niza SAUL (1994), o componente
prevista para a avaliação da dis­ curricular educação física ainda
ciplina, referente à produção de sofre preconceitos e indetermina­
relatórios e anotações das aulas por ções dentro das escolas brasileiras,
parte dos alunos, parece-nos ser de seja por desconhecimento de suas
importância significativa para o pro­ especificidades por parte das ins­
cesso de avaliação do aprendizado, tituições, seja pela contaminação
muito embora a análise de todos sócio-histórica, fortalecida pelas
os cadernos seja uma proposta ilusões vendidas pela mídia, que
avaliativa que demande tempo con­ ainda permanecem vivas na teoria
siderável ao professor. A partir do e na prática, inclusive dos próprios
relato das experiências organizado professores da disciplina.
pelos alunos, o professor também As características metodo­
estabelece uma relação dialogal lógicas encontradas durante as aulas
de feedback entre os objetivos e podem ser interpretadas de várias
metodologias planejadas por ele, formas. Como pudemos perceber a
e o que de fato foi aprendido pelos partir dos textos de SOUZA JÚNIOR
alunos durante as aulas. (2000), o que é visto nas escolas é
Analisando estes três tipos uma exacerbação dos conteúdos
/ critérios de avaliação propostos na esportivos (modalidades coletivas),
escola, fica claro que, do ponto de nas aulas de educação física. Mes­
vista da avaliação escolar, a edu­ mo que tenhamos que vivenciar
cação física possui um repertório estes conteúdos, não é interessante
maior de possibilidades avaliativas do ponto de vista pedagógico, que
que às demais disciplinas e, em tem­ os alunos tenham apenas tais assun­
pos de negação da avaliação formal, tos para vivenciarem e aprenderem
preconceituosa, classificatória, ba­ durante as aulas de educação física.
seada em provas que pouco medem Além do mais, tratam-se de temas
o conhecimento real que o aluno particularmente difíceis de serem
possui, a disciplina está à frente avaliados do ponto de vista educa­
dos demais componentes curricu­ cional e pedagógico, principalmen­
lares, exatamente por conta dessa te durante a realização dos mesmos.
diversificação e do uso constante da Esta exacerbação é fruto da própria
136

influência do desporto de rendi­ atuação pedagógica, reformulando


mento na educação física escolar objetivos, conteúdos e metodologias
brasileira, especificamente por volta que favoreçam a descoberta dos
dos anos 70 e 80 do século passado, conteúdos por parte dos alunos. È
onde a preocupação e valorização importante reconhecer que, pelo fato
de atitudes “patrióticas”, bem como dos alunos não estarem acostumados
a realização de competições es­ com este tipo de metodologia de
colares e universitárias cresceram aula, nos primeiros momentos não
fortemente (MORAES, 2003). há o entendimento correto de como
Sob a lente da participação seriam operacionalizadas as ativida­
dos alunos nas aulas, procuramos des. Assim, tivemos que modificar
evidenciar, em todos momentos, a gradativamente a estrutura de nossas
participação ativa e produtiva dos aulas, a fim de fazer a transição entre
alunos nas atividades. Para enfati­ as metodologias de ensino, para que
zarmos este aspecto metodológico os alunos não rejeitassem de pronto
da organização das aulas, utilizamos as novas alternativas de atividades.
como base os métodos criativos des­
critos por TAFFAREL (1985), na parte 5- Conclusão
final do semestre, principalmente o
método das perguntas operaciona­ Quando concentramos
lizadas. Foram vivenciadas formas nossa metodologia na simples par­
diferentes de realização dos jogos e ticipação dos alunos nas aulas,
verificação do conhecimento prévio como acontecem nas metodologias
dos alunos, na forma de execução tecnicistas e predominantemente
e descrição de movimentos, habili­ desportivas, nas quais os alunos
dades técnico-táticas dos desportos, apenas executam as tarefas apresen­
conceitos e características especificas tadas pelo professor, sem qualquer
das modalidades propostas, tudo isso comprometimento ou produção
através de situações-problemas, ora durante as atividades, eles acabam
propostas e ora resolvidas pelos pró­ apenas participando delas, sem que
prios alunos. Desta forma, pudemos tenham nenhuma intencionalidade e
ter mais clareza no que diz respeito à aprendizado real. Esta mera partici­
transmissão de conhecimentos, bem pação, por sua vez, trás consigo um
como avaliar o que de fato está sen­ descompromisso dos alunos com a
do internalizado e aprendido pelas disciplina, o que obriga o professor
turmas. Da mesma forma, podemos a avaliar esta participação e ainda
identificar quais são os pontos po­ atribuir um juízo de valor a mesma.
sitivos e negativos da nossa própria O vivenciar é parte essencial no pro­
Ano XIX, n° 28, Julho/2007 137

grama de ensino e de avaliação em da disciplina, bem como das meto­


educação física, exatamente por ter dologias empregadas pelos profes­
como especificidade característica os sores, que favorecem a repetição,
conteúdos de caráter prático. Porém, a exclusão e a falta de clareza dos
este vivenciar deve vir acompanhado objetivos de ensino, conseqüente­
de um significado de práxis, para que mente, tornando a avaliação pouco
o aluno além de vivenciar, coloque clara e significativa, tanto para pro­
em prática, através de uma reflexão fessor, quanto para o aluno.
também teórica, o que foi aprendido Estes alunos devem pro­
nas aulas, bem como seus conhe­ duzir para que vivenciem o apren­
cimentos e experiências pessoais dizado, e, logicamente, também
adquiridas fora da escola. Participa­ o erro. Sem haver a participação
ção não é critério de avaliação, e produtiva dos alunos durante as
sim parte obrigatória do processo. aulas, o aprendizado torna-se por
Afinal, Como atribuir “notas” ao ensaio e erro. Esta participação deve
aprendizado de técnicas e funda­ ser estimulada a partir de metodo­
mentos específicos do basquetebol, logias que facilitem o pensamento
por exemplo? Iremos preconizar divergente, a criação e as situa­
a realização dos movimentos bio­ ções-problemas pedagogicamente
mecanicamente corretos? Iremos direcionadas e organizadas. Esta
observar a quantidade de cestas ou participação deve acontecer não no
gols marcados pelos alunos? Após o sentido de presença, mas no sentido
caminho percorrido pela educação de produção de conhecimento, de
física no sentido de distanciá-la desta descoberta de possibilidades, de
visão tecnicista, efetuar uma avalia­ uma metodologia de aula baseada
ção com base nestes parâmetros, numa forma intencional de apren­
seria regredir no tempo e pôr à baixo der e pensar a prática.
toda produção e esforço científico Por fim, concluímos que a
em qualificar a disciplina, o trabalho educação física encontra-se diante
dos professores e o aprendizado das de um paradoxo estabelecido entre a
crianças e jovens. pedagogia, as instituições de ensino
As influências e critérios e seus profissionais. No mesmo ins­
que existem dentro das escolas bra­ tante que temos um avanço relativo
sileiras, no que diz respeito à avalia­ à área pedagógica da avaliação do
ção da aprendizagem na educação ensino em educação, encontramos
física, estão relacionados a fatores metodologias avaliativas utilizadas
históricos de total desmerecimento pelos professores de educação física
com os conteúdos e especificidades que, na maioria das vezes, não é
138

tida com respeito, nem tampouco universidade. Porto Alegre:


compreendida pelas instituições Mediação, 1995.
e as pessoas que fazem parte do COLETIVO DE AUTORES.
processo. Este fato, ao nosso ver, Metodologia do ensino da
se deve a situação sócio-histórica educação física. São Paulo:
estabelecida entre a disciplina e a Cortez, 1992.
educação brasileira, o que desen­ MORALES, Pedro. Avaliação
cadeia este esteio de confusões que escolar: o que é, como se faz.
pode, afinal, serem minimizadas São Paulo: Loyola, 2003.
com um trabalho planejado e orga­ PERRENOUD, Philippe. Avaliação:
nizado realizado pelos docentes, no da excelência à regulação das
sentido de conscientizar os alunos aprendizagens. Entre Duas
e instituições a respeito dos ver­ Lógicas. Porto Alegre: Artes
dadeiros objetivos do ensino e da Médicas, 1999.
aprendizagem da educação física, SAUL, Ana Maria. Avaliação
e conseqüente avaliação, dentro do emancipatória: desafio à teoria
contexto escolar. e à prática de avaliação e
reformulação de currículo. São
Referências Paulo: Cortez, 1988.
VASCONCELLOS, Celso dos S.
D’ANTOLA, Arlette. A observação Avaliação: superação da lógica
na avaliação escolar: um estudo classificatória e excludente. do “é
experimental. São Paulo: Loyola, proibido reprovar” ao “é preciso
1976. garantir a aprendizagem”. 4.ed.
GUIRALDELLI JÚNIOR, Paulo. São Paulo: Libertad, 1998.
Educação física progressista:
uma pedagogia crítico-social dos
conteúdos. São Paulo: Loyola, Contato com os autores:
2003.
HAYDT, Regina Cazaux. Saulo Fernandes:
Avaliação do processo ensino- saulo.fernandes@ammas.com.br
aprendizagem. 6.ed. São Paulo:
Ática, 1997.
HOFFMANN, Jussara. Avaliação Recebido: setembro/2008
mediadora: uma prática em Aprovado: fevereiro/2009
construção da pré-escola à

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