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Experimento I: Titulação Condutimétrica

Clara D. M. Cavalcantea,** e Rayla N. T. de Britoa,*

a
Instituto de Química, Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

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( x ) Manuscrito com material suplementar
( ) Manuscrito sem material suplementar

*
e-mail: rayla.taveira.124@ufrn.edu.br
ORCID – Rayla N. T. de Brito: -

**
e-mail: clara.cavalcante.708@ufrn.edu.br
EXPERIMENTO I: TITULAÇÃO CONDUTIMÉTRICA

A titulação condutimétrica é uma técnica que consiste na adição de uma solução de


concentração conhecida (titulante) a uma segunda solução de concentração desconhecida
(analito), em que o ponto de equivalência é verificado a partir da variação da condutividade
durante a adição do titulante. A condutividade está relacionada à migração dos íons presentes
em solução quando aplicado um campo eletrostático, em que quanto maior a quantidade de
íons presentes, maior a condutividade do meio. Na titulação condutimétrica ácido-base
realizada, ao adicionar o titulante básico ao analito ácido, a quantidade de íons H+ diminui
gradativamente devido a reação com os íons OH- com a formação de água, ocasionando o
abaixamento da condutividade da solução até o ponto de equivalência, em que ocorre o
aumento da condutividade. A partir dos dados obtidos durante a experimentação, foram
construídos os gráficos para as titulações condutimétricas com utilizando o NaOH como
titulante dos analitos HCl e ácido acético. Por fim, foi possível determinar a concentração dos
ácidos para as duas titulações.

Keywords: titulação condutimétrica; condutividade; concentração


INTRODUÇÃO

Titulação condutimétrica

A titulação é uma técnica analítica comum em atividades de pesquisa e em sala de aula. Ela é
definida como a adição de uma solução de concentração conhecida (titulante) a uma segunda
solução de concentração desconhecida (analito), com o objetivo de determinar a concentração
do analito. A titulação condutimétrica é baseada na medição de mudanças de condutância
durante a adição do titulante ao analito.1

Os métodos condutimétricos estão fundamentados na medição da condutância de soluções


iônicas em função da migração dos íons em conjunto com a aplicação de um campo
eletrostático. Ela é dada como o inverso da resistência, e no caso de soluções iônicas, é
utilizada a condutividade molar (Equação 1).2

κ
Λ𝑚 = 𝑐
(Equação 1)

Sendo Λ𝑚 a condutividade molar (S.m2/mol), κ a condutividade (S/cm) e c a concentração

molar da solução (mol/dm3).2

Usualmente, a condutividade de soluções eletrolíticas é medida para concentrações entre 10-3


a 10-1 mol/L. Com isso, a condutividade molar dessas soluções pode ser ajustada de acordo
com a equação de Kohlrausch (Equação 2).3

Λ𝑚 = Λ°𝑚 − 𝐾 𝑐 (Equação 2)

Onde Λ°𝑚 é a condutividade molar limite, à diluição infinita, e K é uma constante de

proporcionalidade empírica, obtida experimentalmente.3

Por outro lado, a condutividade molar de soluções eletrolíticas fracas depende do grau de
dissociação dos eletrólitos. Pela lei de Ostwald, no limite de soluções muito diluídas, tem-se
que:3

1 1 Λ𝑚 𝐶𝐴
Λ𝑚
= Λ°𝑚
+ 2 𝐾𝑑
(Equação 3)
(Λ°𝑚)
Onde CA é a concentração analítica do eletrólito e Kd é a constante de dissociação.3

A condutividade molar em diluição infinita pode ser decomposta nas contribuições de cada
íon,3

+ + − −
Λ°𝑚 = ν λ + ν λ (Equação 4)

+ − + −
Onde λ e λ são as condutividades iônicas dos cátions e ânions, respectivamente, e ν e ν
são seus coeficientes estequiométricos na fórmula molecular do sal.

Na condutimetria, todos os íons presentes na solução contribuem para a condutividade


elétrica do sistema. Sendo assim, a condutividade aumenta se os íons adicionados em uma
solução não reagirem entre si. Caso contrário, se eles reagem para formar uma substância
(Reação 1), alterando a concentração total dos íons, então a condutividade da solução pode
mudar de três maneiras:4

B+ + A- + C+ + D- → BD + A- + C+ (Reação 1)
analito reagente

Caso 1: A condutância diminui quando a mobilidade de B+ (λB) é maior que λC. A


condutância da solução BA diminui com a adição de CD. Como ocorre, geralmente, na
titulação de ácidos fortes com bases fortes ou na titulação reversa. Os íons de hidrogênio e
hidroxila se distinguem dos outros íons por uma mobilidade muito maior.
Caso 2: A condutância permanece inalterada quando λB e λC são iguais. A condutância
permanece inalterada pela adição de CD até que o ponto de equivalência seja alcançado. Caso
encontrado na maioria das reações de precipitação.
Caso 3: A condutância aumenta desde o início da titulação se uma substância ligeiramente
dissociada for titulada e o produto da reação for um eletrólito forte. Ocorre em geral na
neutralização de um ácido fraco com uma base forte ou uma base fraca com um ácido forte.4

A prática realizada e discutida neste documento tem como objetivo estudar a condutividade
molar de soluções ácidas pela titulação com hidróxido de sódio, além de determinar a
concentração dessas substâncias com os dados obtidos e de acordo com a técnica apresentada.
PARTE EXPERIMENTAL

Coletar 100 mL de solução do ácido a ser analisado na concentração indicada (HCl 0,01
mol/L e CH3COOH 0,1 mol/L) e adicionar em um béquer de 250 mL. Se necessário, fazer a
diluição de uma solução mais concentrada. Em seguida, preencher e zerar a bureta com
hidróxido de sódio 0,1 mol/L. Montar o sistema de titulação em um agitador magnético e
com o condutivímetro iniciado. Medir a condutividade inicial da solução do ácido e iniciar a
titulação, registrando os valores de condutividade a cada 1 mL.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Titulação de um ácido forte com uma base forte

Inicialmente, foi feita a medição da condutividade da solução de HCl, em que k = 4,31


mS.cm-1. Ao dar início a titulação, foi observado que a condutividade da solução foi
diminuindo gradualmente à medida que era acrescentado 1 mL do titulante (NaOH) até que,
acrescentado um volume de 13 mL, a condutividade começou a aumentar novamente (Tabela
1S). O comportamento da condutividade a partir da titulação pode ser analisada pela Figura 1.

Figura 1. Gráfico da titulação HCl com NaOH

A princípio, antes da titulação, a solução de HCl possuía apenas os íons H+ e Cl-, em que sua
elevada condutividade verificada se dá pela alta mobilidade dos íons H+ presentes. Entretanto,
com a adição sucessiva de NaOH, inicia-se a reação de neutralização (Reação 2).

HCl(aq) + NaOH(aq) → NaCl(aq) + H2O(l) (Reação 2)

Dessa forma, à medida que foi adicionado o titulante, ocorreu a formação de água pela reação
entre os íons H+ e OH-, diminuindo a concentração desse íon presente em solução e, por
consequência, diminuindo a condutividade do meio. Apesar de ainda estarem presentes os
íons Na+ e Cl-, possuem baixa condutividade, não influenciando significativamente no
sistema.

O ponto de equivalência da titulação pode ser observado também pela Figura 1, em que,
nesse ponto, se tem a neutralização total do ácido pela base com a adição de VNaOH = 12 mL.
Além do volume do titulante, graficamente, também é possível obter a condutividade no
ponto de equivalência para o sistema, em que verifica-se que k = 1,17 mS/cm. Dessa forma, a
partir desses dados, pode-se determinar a concentração do HCl (Cálculo 1S), em que, após o
desenvolvimento matemático, foi verificado que MHCl = 0,012 mol.L-1, bem próximo da
concentração do rótulo da solução.

Após o ponto de equivalência, com as adições de mais titulante, houve o aumento da


condutividade em que, tendo sido o ácido totalmente neutralizado, restaram os íons hidroxila
em excesso que possuem alta condutividade.

Titulação de um ácido fraco com uma base forte

Na titulação do ácido acético, foi medido inicialmente uma condutividade de 1,027 mS.cm-1,
sem a adição do hidróxido de sódio. A cada 1 mL de NaOH adicionados, observou-se a
diminuição da condutividade da solução. Após a adição de 5 mL do titulante, a
condutividade voltou a aumentar. A partir dos resultados obtidos (Tabela 1S) foi construído o
gráfico abaixo.

Figura 1. Gráfico da titulação CH3COOH com NaOH

No início da titulação havia em solução apenas os íons referentes à dissociação do ácido


acético (CH3COO- e H+), que por sua vez possui uma condutividade inicial menor que a do
ácido clorídrico, visto que ele é um ácido fraco e não é dissociado completamente. Por outro
lado, assim como na titulação do HCl, à medida que é adicionado NaOH na solução os íons
presentes reagem com o Na+ e OH-, como na reação abaixo.

CH3COOH(aq) + NaOH(aq) → CH3COONa(aq) + H2O(l) (Reação 3)

Com isso, a condutividade do meio diminui até atingir o ponto de equivalência, em que k =
0,855 mS.cm-1 (4 mL de NaOH), onde todos os íons do ácido reagiram com os íons da base.
Após esse ponto, quando a base começa a ficar em excesso na solução, a mobilidade de íons
na solução aumenta, elevando gradativamente a condutividade da solução.

A partir dos dados no ponto de equivalência é possível determinar a concentração real do


ácido acético (Cálculo 2S), obtendo então MCH3COOH = 0,004 mol.L-1. Ao comparar a
concentração calculada com a concentração indicada no frasco (0,1 mol.L-1), percebe-se uma
diferença significativa. Porém, pela natureza do ácido, é esperado que apenas os íons
dissociados (CH3COO- e H+) reajam com a base. Concluindo então que a concentração
calculada é referente a esses íons.

CH3COOH(aq) ⇌ CH3COO-(aq) + H+(aq) (Reação 4)

CONCLUSÕES

Na titulação condutimétrica dos ácidos clorídrico e acético, forte e fraco, respectivamente,


com uma base forte (NaOH), foi possível observar o comportamento dos íons nas soluções de
acordo com a condutividade do meio, à medida que era adicionado hidróxido de sódio. Com
os dados obtidos, foi possível estimar a concentração real dos ácidos (MHCl = 0,012 mol.L-1 e
MCH3COOH = 0,004 mol.L-) e compará-las com os valores dos rótulos. Sendo a concentração de
ácido clorídrico bem próxima da concentração real, e a concentração do ácido acético distante
da concentração real, por ser um ácido fraco. Dessa forma, a titulação condutimétrica pode
ser considerada um método adequado para a determinação da concentração de uma solução
ácida.

MATERIAL SUPLEMENTAR

A tabela 1S e cálculos 1S e 2S.


AGRADECIMENTOS

Ao Instituto de Química pela estruturação e equipamentos necessários para a execução do


experimento, ao professor Anderson e ao técnico Maurício pelas orientações.

REFERÊNCIAS

1. Farris, S.; Mora, L.; Capretti, G.; Piergiovanni, L.; Journal of Chemical Education, 2012,
89, 124. [https://doi.org/10.1021/ed200261w]

2. Werlang, V.; Trabalho de Conclusão de Curso, Universidade Tecnológica Federal do


Paraná, Brasil, 2015.

3. Martínez, L.; Química Nova 2018, 41, 814.

4. Kolthoff, I. M.; Industrial & Engineering Chemistry Analytical Edition, 1930, 2, 225.
[https://doi.org/10.1021/ac50071a007]
MATERIAL SUPLEMENTAR

Tabela 1S. Dados de volume e condutividade das duas titulações

CÁLCULOS

Cálculo 1S. Concentração molar do HCl


Cálculo 2S. Concentração molar do CH3COO- e H+

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