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CENTRO UNIVERSITÁRIO DE BRUSQUE - UNIFEBE

CURSO: ENGENHARIA CIVIL


PROFESSOR: ELIAS RIFFEL
DISCIPLINA: ALVENARIA ESTRUTURAL
DIMENSIONAMENTO ALVENARIA ESTRUTURAL I

PRESCRIÇÕES NORMATIVAS BRASILEIRAS


ESTADO LIMITE ÚLTIMO - NBR 15961-1:2011

CAPÍTULO 4 │PARÂMETROS DE DIMENSIONAMENTO


À COMPRESSÃO AXIAL

4.1 Ações verticais e horizontais

A estrutura, em especial nas edificações de alvenaria estrutural, está


sujeita a várias ações de naturezas distintas, entre as quais: permanentes,
variáveis e excepcionais. As ações verticais estão definidas na norma NBR
6120:1980 - Cargas para o Cálculo de Estruturas de Edificações. Na
determinação do cálculo das ações verticais permanentes, como peso próprio da
estrutura e dos elementos de construção, adotam-se os valores do peso
específico dos materiais empregados. As ações verticais acidentais para as
edificações residenciais são orientadas a partir da mesma norma, devendo-se
considerar uma carga de 150 kgf/m² nas lajes de piso de dormitórios, sala, copa,
cozinha e banheiro, 200 kgf/m² em área de despensa, de serviço e lavanderia, e
de 300 kgf/m² em garagens para veículos de passageiros. As ações horizontais
comuns sempre presentes são as de vento e eventualmente os empuxos. A
consideração do aumento de esforço de flexão no edifício pelo fato do
carregamento vertical ser deslocado do centro geométrico quando do
desaprumo da edificação, também pode ser considerada, impondo-se uma força
que produza o efeito (PARSEKIAN; HAMID; DRYSDALE, 2013).

Segundo Sánchez (2013), as ações cujos valores apresentam pequena


variação durante toda a vida da estrutura são denominadas ações permanentes, e
são classificadas como diretas e indiretas.

Ações permanentes diretas.

a) Peso próprio da alvenaria: y alv,conc = 14 kN/m³; peso próprio da alvenaria: y


alv,cerâm = 12 kN/m³; peso próprio da alvenaria: y alv,graute = 16 kN/m³;
b) Os pesos específicos dos materiais de construção que são obtidos na NBR
6120:1980;
c) Os empuxos provenientes de materiais granulosos ou líquidos não
removíveis.

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Ações permanentes indiretas.

a) Imperfeições geométricas locais que geram solicitações;


b) Imperfeições geométricas globais, isto é, desaprumo.

4.2 Desaprumo

De acordo com a norma brasileira NBR 15961-1: 2011 e com a norma


alemã Deutsch Industrie Normen (DIN) 1053 - Alvenaria: Cálculo e Execução,
para edifícios de múltiplos pavimentos, deve ser considerado um desaprumo
global, por meio do ângulo de desaprumo φ, em radianos, conforme
representado na figura 1.
Assim, temos: φ = 1/ 100 √ H, para H altura total da edificação em (m) e,

Figura 1 - Ações horizontais devido ao desaprumo

Fonte: Reproduzido de Sánches (2013, p. 250).

De acordo com Ramalho e Corrêa (2003), o ângulo do desaprumo


decresce em relação à altura da edificação, permitindo determinar uma ação
horizontal equivalente a ser aplicada no nível de cada pavimento denominada
Fd. Esta força horizontal devido ao efeito do desaprumo (F d) a ser considerada é
igual ao ângulo de desaprumo multiplicado pelo peso total do pavimento (ΔP),
na qual “Para o peso total do pavimento, é considerado um peso médio de
aproximadamente 1 ton./m² ou 10 kN/m²” (MOHAMMAD, 2015, p. 174).

Assim, temos: Fd = φ . ΔP, conforme representa a figura 2.

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Figura 2 - Desaprumo equivalente por pavimento

Fonte: Reproduzido de Ramalho e Corrêa (2003, p. 48).

4.3 A ação dos ventos

Na determinação da ação do vento, deve-se utilizar as prescrições da


norma NBR 6123 - Forças Devidas ao Vento em Edificações, determinando
forças ao nível de cada pavimento, às quais serão distribuídas pelos painéis de
contraventamento. O vento atua sobre as paredes que são normais a sua direção,
essas paredes transmitem as ações às lajes dos pavimentos, consideradas como
diafragmas rígidos, que as distribuem aos painéis de contraventamento, de
acordo com a rigidez de cada um, conforme esquema indicado na figura 3.
Figura 3 - Ações horizontais devido ao vento

Fonte: Reproduzido de Ramalho e Corrêa (2003, p. 46).

Sobre a ação do vento, Parsekian, Hamid e Drysdale (2013, p. 107),


afirmam que

[...] deve ser considerada em praticamente todas as estruturas. O vento


ocorre por diferença de pressões na atmosfera, causando movimentação do
ar. Quando há uma barreira a essa movimentação (por exemplo, prédio),
ocorre a força ou ação do vento a qual pode ser horizontal (por exemplo, nas
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fachadas verticais) ou vertical ou inclinada (por exemplo, em coberturas.
Pode ainda ocorrer como pressão (interna ou externa a uma edificação) ou
sucção (também interna ou externa). A ação do vento, portanto, pode ocorrer
nas mais variadas direções e sentidos. É uma ação de caráter bastante
aleatório em relação a sua intensidade, duração e sentido.

Mohamad (2013) esclarece que nos projetos em alvenaria


estrutural, as ações horizontais principais que devem ser avaliadas são os efeitos
do vento e do desaprumo das paredes, que podem produzir uma combinação de
tensões normais de tração, compressão e cisalhamento. As forças atuantes (F) na
edificação para determinação das ações do vento são proporcionais ao
coeficiente de arrasto (Ca), pressão dinâmica do vento (q em N/m²) e a área de
atuação efetiva de vento (Ae), como mostram as equações:

F = Ca . q . Ae ; considerando q = 0,613 . Vk², sendo VK a velocidade


característica do vento, onde:
Vk = Vo . S1 . S2 . S3.

V0 = velocidade básica do vento (m/s) conforme mostra o gráfico 1 das isopletas;


S1 = fator topográfico; S2 = fator rugosidade; S3 = fator estatístico.

Gráfico 1 - Isopletas

Fonte: Reproduzido da NBR 6123 (2013, p. 6).


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O fator topográfico S1 vale:

i. S1 = 1, para terreno plano ou fracamente acidentado;


ii. S1 é variável e depende do ângulo θ dos taludes e morros;
iii. S1 = 0,9, para vales profundos, protegidos de ventos de qualquer direção.

O fator S2 é empregado para considerar a rugosidade do terreno, ou seja,


os obstáculos entre o vento e a edificação em análise, a altura do ponto de
aplicação da carga de vento e as dimensões do edifício, às quais são organizadas
a partir das três classes, conforme indicação do quadro 1.
Quadro 1 - Classes das dimensões da edificação
Classe A: Todas as unidades de vedação, seus elementos de fixação e peças
individuais de estruturas sem vedação. Toda edificação na qual a maior
dimensão horizontal ou vertical não exceda 20 m.
Classe B: Toda edificação ou parte de edificação para a qual a maior dimensão
horizontal ou vertical da superfície frontal esteja entre 20 m e 50 m.
Classe C: Toda edificação ou parte da edificação para a qual a maior dimensão
horizontal ou vertical da superfície frontal exceda 50 m.
Para toda edificação ou parte de edificação para a qual a maior dimensão hori-
zontal ou vertical da superfície frontal exceda 80 m, o intervalo de tempo cor-
respondente poderá ser determinado de acordo com indicações do Anexo A.
Fonte: Adaptado da NBR 6123:2013.

Outro aspecto do fator S2 é o topográfico, o qual relaciona a altura dos


obstáculos ao nível do solo entre o vento e a edificação, ou seja, considera-se
que, quanto maior o número de obstáculos, menor será a velocidade do vento ao
atingir o edifício. As cinco categorias estão definidas no quadro 2.

Quadro 2 - Categorias de rugosidade do terreno


Categoria Descrição Exemplos
I Superfícies lisas de grandes dimensões, com Mar calmo
mais de 5 km de extensão, medidas na direção e Lagos e rios
sentido do vento incidente. Pântanos sem vegetação
II Terrenos abertos em nível ou aproximadamente Zonas costeiras planas
em nível, com poucos obstáculos isolados, tais Pântanos com vegetação rala,
como árvores e edificações baixas. A cota campos de aviação,
média do topo dos obstáculos é considerada Pradarias e charnecas
inferior ou igual a 1,0 m. Fazendas sem sebes ou muros
III Terrenos planos ou ondulados com obstáculos, Granjas e casas de campo,
tais como sebes e muros, poucos quebra-ventos fazendas com sebes e/ou muros,
de árvores, edificações baixas e esparsas. A cota subúrbios a considerável
média do topo dos obstáculos é considerada distância do centro, com casas
igual a 3,0 m. baixas e esparsas
5
Continua...

Categoria Descrição Exemplos


IV Terrenos cobertos por obstáculos numerosos e Zonas de parques e bosques
pouco espaçados em zona florestal, industrial com muitas árvores, cidades
ou urbanizada. pequenas e seus arredores,
A cota média do topo dos obstáculos é subúrbios densamente
considerada igual a 10,0 m. construídos de grandes cidades
V Terrenos cobertos por obstáculos numerosos, Florestas com árvores altas, de
grandes, altos e pouco espaçados. A cota média copas isoladas, centros de
do topo dos obstáculos é considerada igual ou grandes cidades, complexos
superior a 25 m. industriais bem desenvolvidos.
Fonte: Adaptado da NBR 6123:2013.

A tabela 1 determina o fator S2 relacionando as classes das dimensões da


edificação e as categorias de rugosidade do terreno a partir da interpolação com
a altura (z) a qual se deseja calcular a pressão do vento.

Tabela 1 - Coeficiente S2

Fonte: Reproduzido da NBR 6123 (2013, p. 10).

O fator estatístico S3 é baseado em conceitos estatísticos e considera o


grau de segurança e a vida útil da segurança, conforme o grupo em que a
edificação se enquadra. Os valores estão representados na tabela 2.

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Tabela 2 - Coeficiente S3

Fonte: Reproduzido da NBR 6123 (2013, p. 10).

4.4 Segurança estrutural

Os valores das solicitações de cálculo (Sd) são obtidos pelos valores


característicos das ações (Fk) multiplicados pelos respectivos coeficientes de
ponderação (yf) das ações, assim, Sd = fk . yf. O quadro 3 fornece esses
coeficientes.

Quadro 3 - Coeficientes de ponderação


Combinação Tipo de ação Valor
ELU - Normal Permanente yfg = 1,4
Variável yfq = 1,4
Variável - carga acidental simultânea ψ0 = 0,5
Variável - ação de vento simultânea ψ0 = 0,6
Fonte: Adaptado de Parsekian, Hamid e Drysdale (2013).

As resistências de cálculo (fd) são obtidas a partir dos valores das


resistências características (fk) minoradas por meio do emprego de coeficientes
para cada tipo de material (ym), assim: fd = fk / ym. O quadro 4 estabelece esses
coeficientes.

Quadro 4 - Coeficientes de minoração


Combinações/ELU Alvenaria Concreto Aço
Normais 2,0 1,4 1,15
Especiais/construção 1,5 1,2 1,15
Excepcionais 1,5 1,2 1,0
Fonte: Adaptado de Parsekian, Hamid e Drysdale (2013).

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Assim, para atender aos Estados-Limite Último deve ser validado a
inequação da desigualdade Sd ≤ Rd.

Segundo Sánchez (2013) e Parsekian (2014), quando as argamassas


forem dispostas apenas em dois cordões laterais, existe uma redução de 20% na
resistência da alvenaria.

4.5 Detalhes do projeto estrutural

Parsekian (2014) atesta que, no caso de armadura horizontal em bloco


canaleta ou armadura vertical no alvéolo do bloco, deve-se respeitar o
cobrimento mínimo de 15 mm, desconsiderando-se qualquer espessura do bloco
ou da canaleta, conforme mostra a figura 4.

Figura 4 - Cobrimento mínimo

Fonte: Parsekian (2014).

A figura 5 mostra uma estrutura de apoio, em que o comprimento efetivo


de ancoragem deve ser de 12ϕ + metade da altura útil d, desde que o trecho
curvo não se inicie a uma distância d/2 da face do apoio (PARSEKIAN, 2014).

Figura 5 - Ancoragem de armaduras verticais

Fonte: Parsekian (2014).

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O comprimento mínimo da emenda por transpasse é de 40ϕ conforme
identificado na figura 6, não se adotando valores menores que 15 cm para barras
corrugadas e 30 cm no caso de barras lisas. Na figura 7, é mostrado que duas
barras podem ser emendadas no mesmo espaço grauteado, seja para um alvéolo
vertical ou para uma canaleta horizontal, e no caso de uma segunda emenda, esta
devera estar a uma distância mínima de 40ϕ da primeira emenda, orientando-se
utilizar apenas uma barra vertical por furo (PARSEKIAN, 2014).

Figura 6 - Comprimento mínimo para emendas

Fonte: Parsekian (2014).


Fonte: Parsekian (2014).

Figura 7 - Emenda de duas barras

Fonte: Parsekian (2014).

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4.6 Exercícios Propostos

Exercício 1: Determinar a carga dinâmica do vento (q) em N/m² para uma


edificação comercial com projeção das dimensões horizontais 10.00 m x 15.00
m e 5 m de altura, localizada em terreno pouco acidentado de cidade pequena.

Exercício 2: Verificar a resistência à compressão de um bloco de concreto que


atende aos ELU aplicada nas paredes 1 e 2 do 1º. pavimento de um edifício com
quatro pavimentos, de alvenaria grauteada, cujas cargas das lajes estão indicadas
em anexo. Dados do projeto: fbk = 6,0 MPa, tef = 14 cm.
Adotar: fpk/fbk = 0,50

Cargas Tipo Forro


Peso próprio 0,15 . 25 ≈ 3,8 kN/m² 3,0 kN/m²
Revestimento 1,0 kN/m² 1,0 kN/m²
Sobrecarga 2,0 kN/m² 1,5 kN/m²
Total 6,8 kN/m² 5,5 kN/m²

Exercício 3: Para o mesmo edifício do exercício 1, admitir fbk = 4,5 Mpa.

Exercício 4: Calcular a força normal resistente do pilar de blocos com


dimensões 280 mm x 390 mm. Dado de projeto: fbk = 6,0 Mpa.
Adotar: fpk/fbk = 0,50

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4.6.1 Formulário

i. Resistência de cálculo em paredes

Nrd = fd . A. R, para:

Nrd = força normal resistente de cálculo; fd = resistência de cálculo à compressão


da alvenaria;

A = área da seção resistente; R = coeficiente redutor devido à esbeltez da


parede.

R = [ 1 - (λ/40)³ ] e λ = hef / tef , para:

λ (lambda) = índice de esbeltez; hef = altura efetiva; tef = espessura efetiva.

fd = fk / ym; fk = 70% . fpk.

fk = resistência característica à compressão da alvenaria;


fpk = resistência característica à compressão do prisma.

N´k = Gk + Qk  Nk = N´k . L  Nsd = Nk . yf

Verificação da desigualdade: Nsd ≤ Nrd

Laje armada em uma direção: pparede = plaje . l / 2


 l

L
Laje armada em duas direções:
↔ l
Vão menor  pparede = plaje . l / 4
L
Vão maior  pparede = plaje . l / 4 . (2 - l/L)

ii. Resistência de cálculo em pilares

Nrd = 0,9 . fd . A. R

OBSERVAÇÃO1: As equações para o cálculo das resistências “devem ser


consideradas quando todas as juntas (horizontais e verticais) estiverem
preenchidas com argamassa” (SÁNCHEZ, 2013, p. 252)

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4.7 Parâmetros de cálculo

A alvenaria estrutural não armada pode ser considerada como um sistema


formado por materiais distintos que interagem para responder às cargas verticais
e horizontais produzidas pelo peso próprio, pelo vento e por sismos, durante a
sua vida útil, cuja natureza resistente é frágil à tração. Cabe salientar que o
comportamento do conjunto depende não somente da qualidade de cada material
empregado, mas também das interações físico-químicas que se processam entre
os materiais. Assim deve-se tratar a parede de alvenaria não em função das
características de seus materiais isoladamente, mas sim como um material
compósito fruto da interação da unidade, da argamassa e, quando também usado,
do graute.
Dessa forma, é importante que se entenda perfeitamente o comportamento
do “material alvenaria”, comportamento que varia de unidade para unidade e
com os diferentes tipos de argamassa e graute. Por essa razão, o desempenho
estrutural de paredes de alvenaria não pode ser estimado sem a realização de
testes com paredes ou prismas dos materiais que serão utilizados. As principais
propriedades mecânicas que devem apresentar as paredes de alvenaria são as
resistências à compressão, à tração, à flexão e ao cisalhamento. De todas essas
propriedades, a mais importante é a resistência à compressão, pois, geralmente,
as paredes de alvenaria estão submetidas a carregamentos verticais mais intensos
que os horizontais, produzido pelo vento e por sismos (MOHAMAD, 2015).

a) Juntas de Controle.

Conforme recomendações da National Concrete Masonry Association, o


espaçamento entre as juntas de controle deve respeitar a relação entre: l / h = 2 e
não exceder 7,62 m. Com isso, o espaçamento entre juntas de controle é de 7,62
m. Para esse tipo de parede deve ser prevista a colocação de barras de
transferência a cada duas fiadas entre as camadas para restringir os
deslocamentos horizontais (MOHAMAD, 2015).

b) Argamassa.

As argamassas utilizadas para o assentamento das unidades podem ser


classificadas segundos os materiais presentes, como: argamassa com base de cal,
argamassas de cimento, argamassas mistas de cimento e cal e argamassas
industrializadas. A NBR 15812-1:2005 designa as argamassas destinadas as
assentamento, sendo que as mesmas devem atender aos requisitos estabelecidos
na NBR 13.281:2005. Para a resistência à compressão, deve ser atendido o valor
mínimo de 1,5 MPa e o máximo limitado a 0,7 f bk (resistência característica do
bloco) referida à área líquida. A resistência da argamassa deve ser determinada
de acordo com a NBR 13279:2005 (SÁNCHEZ, 2013).

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c) Graute.

O graute para a alvenaria é uma mistura de cimento, agregado e água com


alto slump, que é lançado ou bombeado no local da obra. O graute é usado para
preencher os vazados verticais ou horizontais da alvenaria, aumentando a
resistência e permitindo aderência da armadura. Eventualmente, o graute pode
ser utilizado para preenchimento de espaços entre as duas ou mais paredes ou
outro elemento de alvenaria.
As principais diferenças entre graute em relação ao concreto são o alto
slump (20 a 25) e elevada relação água/cimento. Essa mistura fluida permite boa
plasticidade e preenchimento completo dos vazados, e quando dosado de forma
correta, baixa segregação. No caso de blocos vazados de concreto e blocos
cerâmicos vazados, a relação de área bruta e área líquida se aproxima de 2 a 2,5,
respectivamente. Nesse caso, uma estimativa inicial (indicativa) para a
resistência do graute será de 2,0 a 2,5vezes o fbk. Recomenda-se aproximar esse
valor para as classes de resistência de concreto 15, 20 e 25 Mpa (PARSEKIAN,
2013).

d) Altura efetiva da parede.

A altura efetiva da parede é definida como a altura real da parede para


paredes apoiadas na base e no topo.
Para evitar a flambagem em paredes simples de alvenaria estrutural, a norma
NBR 15961-1 (ABNT, 2011a) recomenda que a esbeltez da parede não armada
seja de 24, e de 30 para paredes armadas.

 λ = (hef / tef) ≤ 24, para alvenaria não armada;

 λ = (hef / tef) ≤ 30, para alvenaria armada.

A mínima espessura da parede estrutural foi mantida em 14 cm, com


flexibilização de critério para especificações de até dois pavimentos, onde se
deve respeitar o limite do índice de esbeltez (MOHAMAD; MACHADO;
JANTSCH, 2017)

Segundo Gallegos (1988 apud MOHAMAD, MACHADO e JANTSCH,


2017), para que uma parede estrutural possa ter um bom desempenho, é preciso
que exista uma relação aceitável entre a altura e o comprimento, considerando 3
parâmetros:

Ideal Aceitável Ruim


2 ≤ h/c ≤ 4 1 ˂ h/c ˂ 2 ou 4 ˂ h/c ≤ 5 h/c ˂ 1 ou ˃ 5

e) Área e diâmetros de armaduras mínimas.


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● Armadura longitudinal.
Paredes e vigas: As ≥ 0,10% bxd (armadura principal);
As ≥ 0,05% bxd (armadura secundária).
Pilares: As ≥ 0,30% b x d (armadura principal).

● Armadura transversal.
Asw = 0,05% b x s (válido para casos em que há necessidade de estribos).

f) Área e diâmetros de armaduras máximas.

 As armaduras alojadas em áreas preenchidas com graute não devem ter área
da seção transversal superior a 8% da área da seção do graute envolvente:
As ≤ 8% Ag

Bloco 14 x 29 ⇒ Ag = 70 cm²; Bloco 14 x 39 ⇒ Ag = 105 cm²; Bloco 19 x 39 ⇒ Ag = 180 cm²

 Demais casos: Asmáx = Ø 25,00 mm.

 Armadura na junta de assentamento para reduzir efeitos nocivos de variações


volumétricas, fendilhamento ou garantir dutilidade: Asmáx = Ø 6,3 mm;

 O espaçamento entre barras é limitado a:

diâmetro do agregado mais 5 mm;


s ≤ 1,5 vezes o diâmetro da armadura;
20 mm.

 Estribos de pilares armados: Asw = 0,05% b x s; Asw,mín Ø 5 mm.

a menor dimensão do pilar;


s≤ 50 x o diâmetro do estribo;
20 x o diâmetro das barras longitudinais
(PARSEKIAN, 2014).

OBSERVAÇÃO 2: A norma ainda especifica que, para edificações com mais de


2 pavimentos, não é admitida parede estrutural cuja espessura efetiva seja
inferior a 14 cm.

OBSERVAÇÃO 3: Leia-se as variáveis como sendo: b = largura da viga ou


parede; d = altura útil da viga ou parede; t = espessura da parede; H = altura da
parede; s = espaçamento entre estribos.

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Exercício 5: A partir das informações do exercício 4, calcular e detalhar a
armadura longitudinal e transversal do pilar de blocos.

Exercício 6: Considerando a utilização de blocos de concreto com 14 cm de


espessura e a parede apoiada em cima e em baixo com h ef = 280 cm, determine a
resistência do bloco, considerando:

i. o espalhamento da argamassa em toda a face superior dos blocos;


ii. o espalhamento da argamassa em dois cordões laterais apenas.

Adotar: fpk/fbk = 0,80

Exercício 7: Uma parede de alvenaria estrutural de blocos cerâmicos de 14 cm


de largura deve ser projetada, seguindo as características de carregamento
fornecidas em projeto. Considerar o pé-direito da parede igual a 2,60 m mais a
altura do compensador do bloco J de 0,09 m, portanto, o pé-direito total é de
2,69 m. O comprimento da parede é de 2,50 m. Adotar os seguintes fatores de
segurança para a alvenaria: ym = 2; para ações permanentes (Gk) yg = 1,40 e para
as ações acidentais (Qk) yq = 1,40. Calcular a resistência característica (f k) da
alvenaria.

Dados: W1 = cargas verticais dos pavimentos superiores - Gk = 60 kN/m


Qk = 28 kN/m.
W2 = reação da laje do primeiro pavimento - Gk = 10 kN/m
Qk = 4 kN/m.

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Exercício 8: Uma parede de alvenaria estrutural de blocos cerâmicos de 14 cm
de largura deve ser projetada, seguindo as características de carregamento
fornecidas em projeto. Considerar o pé-direito da parede igual a 2,60 m mais a
altura do compensador do bloco J de 0,09 m, portanto, o pé-direito total é de
2,69 m e o comprimento da parede é de 2,50 m. Adotar os seguintes fatores de
segurança para os materiais: ym = 2; para ações permanentes (Gk) yg = 1,40;
para as ações acidentais (Qk) yq = 1,40. Calcular a resistência característica da
alvenaria (fk).

Dados:
W1 = cargas dos pavimentos superiores: Gk = 60 kN/m
Qk = 28 kN/m.

W2 = reação da laje esquerda sobre a parede: Gk = 15 kN/m


Qk = 8 kN/m.

W3 = reação da laje direita sobre a parede: Gk = 3 kN/m


Qk = 2 kN/m.

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Exercício 9: Um edifício residencial de sete pavimentos está sendo projetado
em alvenaria de blocos de concreto com 14 cm de espessura e pé-direito de 2.69
m. A figura mostra as dimensões em planta da construção e o número de
pavimentos. A altura total da edificação é de 19,74 m, sendo o peso específico
considerado para a alvenaria de bloco de concreto revestida é igual a 1900
kgf/m³ ou 19 kN/m³.
Para fins de dimensionamento, o peso próprio do piso cerâmico mais a camada
de regularização considerada foi de 1 kN/m² e, para a cobertura foi utilizado o
peso do telhado de fibrocimento de 0,5 kN/m². A tabela mostra as cargas totais
atuantes.

Pavimento Carga
Cobertura Gk = 1,9 kN/m² + 0,5 kN/m² = 2,4 kN/m²
Qk = 1,5 kN/m²
Tipo Gk = 1,9 kN/m² + 1,0 kN/m² = 2,9 kN/m²
Qk = 2,0 kN/m²
Peso próprio da Gk = 19 kN/m³ x 0,16 = 3,04 kN/m²
alvenaria revestida

Determinar:
i) a carga permanente característica (Gk), o peso da parede (W1) e a carga
acidental característica (Qk) acumuladas para cada pavimento da edificação;
ii) o dimensionamento à compressão axial (fk);
iii) a resistência à compressão do prisma (fpk) e a resistência à compressão do
bloco (fbk).
Dados: Dimensões da parede de cálculo (parede 1) = 14 cm x 5.76 m e vão da
laje entre as paredes 1 e 3 de 3,45 m + 0,14 m de espessura do bloco.
Adotar: fk/fpk = 0,70
fpk/fbk = 0,50

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Pavimento Gk W1 Qk
Cobertura
6º. andar
5º. andar
4º. andar
3º. andar
2º. andar
1º. andar
Térreo

Exercício 10: Um pilar de 6,0 m de altura feito com blocos de concreto de 19cm
deve resistir uma força axial centrada permanente de 100 kN e outra variável
também de 100 kN. Verificar as ações e dimensionar as armaduras longitudinal
e transversal.
Dados: fbk = 12 MPa; fpk/fbk = 0,70; fk/fpk = 0,70

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REFERÊNCIAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6120: cargas para o cálculo de


estruturas de edificações. Rio de Janeiro, 1980. 5 p.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6123: forças devido ao vento em


edificações. Rio de Janeiro, 1988. 66 p.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 13279: argamassa para


assentamento e revestimento de paredes e tetos - determinação da resistência à tração na flexão e à
compressão. Rio de Janeiro, 2005. 9 p.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 13281: argamassa para


assentamento e revestimento de paredes e tetos - requisitos. Rio de Janeiro, 2005. 7 p.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15812-1: alvenaria estrutural -


blocos cerâmicos parte 1: projetos. Rio de Janeiro, 2005. 41 p.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15961-1: alvenaria estrutural -


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BOTELHO, Manoel H. Campos; MARCHETI, Osvaldemar. Concreto armado eu te amo I. 7. ed.


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SÁNCHEZ, Emil. Nova normalização brasileira para a alvenaria estrutural. Rio de Janeiro:
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19
ANEXO

1. Tabela métrica

Fonte: Botelho e Marchetti (2013).

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