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188º CONCURSO DE PROVAS E TÍTULOS PARA INGRESSO NA MAGISTRATURA

PROVAS ESCRITAS DE SENTENÇA CIVEL E CRIMINAL

SENTENÇA CÍVEL
(23.02.2019)

João X move ação reivindicatória contra Antônio Y, cujo objeto é um prédio rústico de 30 ha, que se acha na posse do
réu, e do qual fora proprietário Pedro K, já falecido, pedindo, também, indenização pelos frutos naturais e civis percebidos,
desde a invasão, e dos que o forem no curso do processo. Juntou procuração, certidão de óbito de Pedro K, seu testamento
público, cujo cumprimento foi devidamente ordenado, certidão de objeto e pé dos autos do inventário e matrícula do imóvel
reivindicado, em que Pedro K figura no registro como dele proprietário.
Afirma o autor que é herdeiro testamentário de Pedro K, sendo a sua deixa correspondente a 25% da herança, dentro,
portanto, do disponível do testador, que deixou três filhos, os quais divergem entre si, motivo pelo qual foi nomeado
inventariante dativo, mas o inventário não terminou. Prossegue dizendo que o réu se encontra na posse de referido imóvel
há cerca de quatro anos, sem exibir qualquer título que o legitime, explorando-o economicamente e recusando-se a
desocupá-lo.
Citado em 16.4.2018 (segunda-feira), e o mandado cumprido juntado no dia seguinte, o réu contestou em 09.5.2018
(quarta-feira), arguindo em preliminar que o autor, sendo casado, conforme se qualificou na procuração, necessitava de
autorização de seu cônjuge para mover essa ação, esclarecendo, igualmente, que ele, réu, é divorciado; além disso, já fora
demandado pelo espólio de Pedro K, representado por Roberto K, à época inventariante, em ação de reintegração de
posse, julgada improcedente, porque não configurado esbulho, pois o imóvel se encontrava abandonado quando nele
adentrou e, sendo idêntica a finalidade de ambas as ações, a pretensão deduzida encontra óbice na coisa julgada, ou, ao
menos, o autor sofre os efeitos da eficácia natural daquela sentença; também, atualmente, no inventário, há inventariante
dativo a quem toca a representação do espólio, cabendo-lhe promover a intimação dos herdeiros, acerca de ação ajuizada,
conforme os artigos 618, I, e 75, § 1o, do CPC, ou seja, a legitimidade é do espólio e não de eventual herdeiro
testamentário. Argui, também, falta de interesse processual, porque, não tendo sido concluído o inventário, ao autor ainda
não foi atribuído o imóvel na partilha, devendo, pelo menos, ocorrer a suspensão do processo na forma do artigo 313, V,
“a”, do CPC, quando, então, se poderia confirmar a atribuição total ou parcial do imóvel ao autor.
No mérito, o réu suscitou que é possuidor de boa-fé, porque desconhecia obstáculo que o impede de adquirir aquele
imóvel encontrado em estado de abandono (art. 1201 do CC), dele não podendo ser desalojado, eis que não cumpria sua
função social, tendo, também, o titular perdido a propriedade por abandono, porque naquele estado se encontrava o imóvel
havia três anos, entendendo, por isso, não ser injusta a sua posse, e que a procedência da ação reivindicatória exige que o
possuidor injustamente detenha a coisa, invocando os artigos 1228 e § 1o, e 1275, III, do CC. Comprovou documentalmente
que explora o imóvel com fins econômicos, onde existem árvores frutíferas em parte dele, e a outra parte arrenda,
recebendo R$ 500,00 mensalmente, pagos no último dia de cada mês, e que, após a citação, colheu os frutos pendentes,
tencionando também colher os que sobrevierem, tanto os naturais como os civis.
Intimado a se manifestar sobre a contestação, o autor juntou certidão de casamento, tendo o matrimônio se realizado
seis meses após a esposa viuvar de suas primeiras núpcias, alegou que o primeiro marido tinha vida modesta, não
deixando bens, e que a esposa era inexperiente em negócios e não se dispunha a participar de um litígio do qual nenhum
proveito lhe adviria, em razão do regime de bens do seu atual casamento. Não se manifestou sobre as consequências
legais ou a qualificação jurídica dos demais fatos alegados pelo réu, reconhecendo serem verdadeiros, exceto o abandono
do imóvel, porque consta dos bens a serem partilhados, confiando na máxima iura novit curia.
Intimado o réu dos novos documentos juntados, nada alegou.
As partes desistiram expressamente da produção de outras provas.
É o relatório.
Elabore sentença, enfrentando todos os argumentos das partes, expondo os fundamentos que alicerçarem sua conclusão.
Fica dispensado o relatório.

SENTENÇA CRIMINAL
(24.02.2019)

MÁRIO e PAULO, brasileiros e solteiros, nascidos respectivamente em São Paulo, capital, em 12 de outubro de 1995 e
no município de Osasco, também nesse estado da federação, em 15 de novembro de 1997, conforme a qualificação tirada
dos documentos juntados aos autos, tornaram-se amigos quando cumpriram medida socioeducativa de liberdade assistida
pela prática de um ato infracional análogo a furto qualificado pelo concurso de pessoas.
Recentemente conheceram o adolescente Artur, com quem firmaram amizade, e pouco depois o convidaram para
juntos praticarem tráfico ilícito de drogas, visando auferir dinheiro para frequentar “baladas” no litoral de São Paulo durante
as férias de verão.
Cotizados, previamente ajustados e irmanados em propósitos, adquiriram em um conhecido ponto de venda de drogas,
15 (quinze) porções de Cannabis Sativa Lineus, popularmente conhecida por “maconha”, substância entorpecente que
causa dependência física e psíquica, ao peso líquido de 24,80 (vinte e quatro gramas e oitenta decigramas), substância
entorpecente para aquele fim.
Na manhã do dia 1o de dezembro de 2016, por volta das 10 (dez) horas, durante o período letivo de aulas, que ocorria
normalmente, dirigiram-se às imediações da escola pública de ensino médio do bairro em que moravam, onde
permaneceram.
Na divisão de trabalho, o adolescente Artur abordava aleatoriamente pessoas que passavam pelo local, oferecendo o
entorpecente adquirido, que causa dependência física e psíquica, o fazendo sem autorização e em desacordo com
determinação legal ou regulamentar; MÁRIO permanecia do outro lado da rua com uma mochila, na qual guardava os
papelotes com a droga, enquanto PAULO zelava pelo dinheiro proveniente daquele comércio espúrio.
Transcorridas duas horas, após algumas vendas, quatro policiais civis que faziam campana nas proximidades, i-
nvestigando denúncias anônimas de constante tráfico de drogas nas imediações daquela escola pública de ensino médio,
suspeitaram do trio e postaram-se discretamente em observação, quando viram o adolescente Artur abordar um rapaz, de
aproximadamente 25 (vinte e cinco) anos, oferecendo droga para venda. Perceberam que enquanto o rapaz aguardava, o
adolescente atravessou a rua em direção a MÁRIO, que lhe entregou um pequeno embrulho, posteriormente identificado
como uma porção de “maconha” que tirou da mochila. Em seguida, Artur entregou a droga ao comprador. Concretizada a
venda, deu o dinheiro a PAULO, que o guardou no bolso da calça.
Imediatamente, os policias abordaram o trio e o comprador que tentaram se evadir, sem êxito, exceto quanto ao último,
que na fuga dispensou a droga que havia adquirido, jogando-a no chão, imediatamente recolhida por um dos policiais civis,
tomando rumo ignorado. Prenderam MÁRIO e PAULO e apreenderam o adolescente Artur, bem como a mochila em que
estavam os entorpecentes e o dinheiro guardado no bolso da calça de PAULO, conduzindo-os à Delegacia de Polícia para
a lavratura do auto de prisão (e apreensão) em flagrante.
Ratificada a prisão (e a apreensão) em flagrante pela Autoridade Policial, foi instaurado inquérito. Interrogados, os
indiciados optaram por permanecer em silêncio. Ouvido, o adolescente Artur disse que passava pelo local quando foi
abordado e apreendido pelos policiais, provavelmente por engano. Negou a traficância, bem como conhecer MÁRIO e
PAULO. Os policiais, por sua vez, em depoimentos semelhantes, disseram que investigavam denúncias anônimas de tráfico
nas imediações da escola pública de ensino médio, localizada cerca de 50 (cinquenta) metros do local dos fatos, quando
perceberam três rapazes em operação típica de venda de droga, repetindo a dinâmica acima exposta, culminando com as
prisões e apreensões (do adolescente, mochila, droga e dinheiro).
A droga foi encaminhada para perícia, confirmando o laudo preliminar que se trata de “maconha”. A mochila e o dinheiro
foram formalmente apreendidos.
Oportunamente, o adolescente Artur foi encaminhado à Vara da Infância e Juventude, enquanto MÁRIO e PAULO
apresentados para audiência de custódia. Não obstante o requerimento do Promotor de Justiça para a conversão da prisão
em flagrante delito em preventiva, o Juiz de Direito concedeu-lhes a liberdade provisória, independentemente de prestação
de fiança, sendo postos imediatamente em liberdade.
Realizadas as diligências necessárias e as requeridas pelo Promotor de Justiça e deferidas pelo Juiz de Direito,
concluído, o inquérito policial foi relatado, inclusive com a juntada do laudo químico toxicológico atestando que a droga
periciada positivou para “maconha”, substância entorpecente que causa dependência física e psíquica, os autos foram
encaminhados ao Ministério Público que ofereceu denúncia contra MÁRIO e PAULO, individualizando perfeitamente as
condutas, descrevendo ainda a ação do adolescente Artur e a abordagem dos policiais civis, como já descrito, dando os
dois por incursos nos artigos 33, caput, c.c o 40, inciso III, 35, caput, todos da Lei no 11.343/2006 e 244-B, da Lei no
8.069/1990, tudo na forma do artigo 69, caput, do Código Penal; requereu a juntada de certidão de antecedentes criminais e
renovou o pedido de prisão preventiva.
Publicada a decisão que recebeu a denúncia em 08 de fevereiro de 2017, foi deferida a requisição das certidões e
indeferido o pedido de prisão preventiva, os réus foram citados pessoalmente para responder à acusação. A defesa preliminar
dos dois, em peça única, subscrita pelo mesmo advogado constituído e juntada aos autos, foi rejeitada, seguindo-se
designação de audiência para instrução, debates e julgamento, para a qual foram notificados o Ministério Público, os acusados,
o defensor constituído, e as testemunhas arroladas pelas partes, a saber, pela acusação, o adolescente Artur e os quatro
policiais civis que participaram da diligência que originou os fatos tratados nos autos, e pela defesa, quatro testemunhas.
Foram juntadas certidões de antecedentes, constando na de MÁRIO condenação por crime de receptação (CP, artigo
180, caput), praticado em 20 de setembro de 2015, a 1 (um) ano de reclusão em regime aberto, substituída por uma
restritiva de direitos de prestação de serviços à comunidade ou entidades públicas, e no pagamento de 10 (dez) dias-multa
fixados no valor mínimo unitário, transitada em julgado para o Ministério Público em 23 de outubro de 2017 e para a defesa
em 29 do mesmo mês e ano; na de PAULO não consta antecedentes criminais. Acostaram-se aos autos ainda certidões
dos dois referentes à representação por ato infracional equivalente a furto qualificado pelo concurso de pessoas, também
com medida socioeducativa de liberdade assistida extinta pelo integral cumprimento.
Não foi realizado exame pericial para demonstrar a existência, localização e distância da citada escola estadual de
ensino médio, do local onde os acusados e o adolescente comercializavam droga quando surpreendidos pelos policiais.
Iniciada a audiência, dos quatro policiais civis arrolados pela acusação, houve a desistência e homologação em relação
a um que não foi apresentado, outro não se recordou dos fatos, justificando o lapso de memória pelo excesso de
ocorrências semelhantes, embora se lembrasse da fisionomia dos réus, confirmando que a assinatura lançada no
depoimento policial é de sua lavra, os outros dois repetiram em linhas gerais seus depoimentos prestados na fase
inquisitiva, inclusive reconheceram os acusados como as pessoas que prenderam em flagrante naquele dia
comercializando entorpecente nas imediações, cerca de 50 metros, da escola pública de ensino médio do bairro. As
testemunhas de defesa não presenciaram os fatos, apenas deram conta dos bons predicativos morais dos acusados,
inclusive conduta reta no âmbito familiar e social.
O adolescente Artur retificou seu depoimento policial para confirmar a dinâmica dos fatos como narrados pelos policiais
civis, justificando sua nova posição em detrimento da assumida na fase policial, quando tentou se esquivar da
responsabilidade, receoso de ser internado na Fundação Casa, porque já havia cumprido medida socioeducativa de
liberdade assistida por ato infracional semelhante a lesão corporal de natureza grave. Confirmou que é amigo de MÁRIO e
PAULO; que adquiriram droga para revender visando auferir dinheiro para frequentar “baladas” no litoral de São Paulo
durante as férias de verão; que permaneceram nas imediações, cerca de 50 (cinquenta) metros, da escola estadual de
ensino médio do bairro, que estava em período normal de aulas; que efetivamente fizeram algumas vendas de porções de
“maconha” a transeuntes eventuais e; acabaram sendo surpreendidos pelos policiais civis.
Interrogados, MÁRIO confessou os fatos narrados na denúncia tal qual dito naquela audiência pelo adolescente Artur,
justificando o silêncio na fase policial em cumprimento à orientação dada pelo advogado que o assistia naquele ato, que
não é o ora constituído. PAULO manteve-se novamente silente.
Em alegações finais, o Ministério Público pediu a condenação de ambos pelos três crimes tipificados na denúncia em
concurso material (artigos 33, caput, c.c o 40, inciso III, 35, caput, todos da Lei no 11.343/2006 e 244-B, da Lei no
8.069/1990, tudo na forma do artigo 69, caput, do Código Penal); a fixação da pena acima do mínimo legal; a imposição do
regime inicial fechado e; a decretação da prisão preventiva em decorrência da sentença.
A defesa, por sua vez, sustentou para os dois acusados a absolvição por todos os crimes constantes da denúncia, por
insuficiência probatória e, subsidiariamente, o reconhecimento da figura do tráfico privilegiado com a consequente aplicação
da causa de diminuição de pena, o afastamento da majorante do artigo 40, inciso III, Lei no 11.343/2006, a fixação do
regime aberto, a substituição da pena privativa de liberdade por restritivas de direitos e, em qualquer hipótese de
condenação, o direito de aguardarem o trânsito em julgado em liberdade.
Dispensado o relatório, sentencie o feito na data de hoje, sem acrescentar provas não mencionadas na questão.

(DJE, em 27/02/2019, fls. 81/83).

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