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UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE

Resenha do filme “O enigma de Kaspar Hauser”

Acadêmica: Érica Dias Borges

Disciplina: Língua e Sociedade

O filme retrata a história de Kaspar Hauser, um jovem que até a sua adolescência
foi mantido em cativeiro – em uma cela de uma masmorra, sendo vítima do isolamento
social durante tempo significativo de sua vida. No estado de isolamento em que se
encontrava, Kaspar não tinha contato físico ou verbal com nenhuma outra pessoa, e,
sem acesso ao aprendizado de uma língua – devido ao comprometimento do seu
processo de aquisição da Língua Materna por conta do isolamento, ele também não era
capaz de elaborar pensamentos e de interpretar o que ocorria à sua volta.

A razão pela qual Kaspar Hauser não “pensava” quando estava em cativeiro
pode ser explicada quando notamos que o jovem, por não ter passado pelo processo de
socialização, não exercitou a compreensão através da prática social, não sendo capaz,
então, de atribuir significado às coisas, pois ainda que tivesse adquirido a linguagem,
não conseguia expressar claramente o que sentia. É através da linguagem que
expressamos nossos pensamentos e emoções, construímos uma cultura e trocamos
experiência. Sendo assim, Hauser não teve oportunidades de exercer a linguagem até a
sua adolescência, e quando entra em contato com o exterior daquela cela, o processo de
aprendizagem ocorre de maneira lenta até o desenvolvimento da capacidade de pensar,
elaborar frases e comunicar-se.

Ao entrar em contato com a sociedade, as pessoas da comunidade o viam com


estranheza e esperavam que Kaspar aprendesse uma linguagem que ele não tinha
domínio por não ter contato com aquele povo. Alguns religiosos o questionam quanto à
existência de Deus e tentam impor alguns dogmas, mas Kaspar não conseguia
compreender. Esperavam que Kaspar pudesse se encaixar no padrão daquele local, mas
ele, por sua vez, sentia-se deslocado por perceber a realidade de maneira diferente –
como quando não teve medo diante de um soldado, não comportou-se como o esperado.

Ao adaptar-se à vida em sociedade, Hauser foi capaz de falar, escrever e passou


a agir de forma social na medida em que recebeu estímulos adequados ao ser ensinado
por um professor. Kaspar Hauser sabia escrever seu nome, mas não sabia ler e não sabia
o que significava, pois embora tenha aprendido a falar e escrever ao se adaptar em
sociedade, não conseguiu se apropriar totalmente das significações culturais, cabe
ressaltar que o seu processo de desenvolvimento foi tardio, e ele não pôde absorver
completamente os símbolos sociais envolvidos neste processo.

Na sociedade em que vivemos, quem não domina alguma forma de se comunicar


ou tem alguma dificuldade é visto como diferente, e a diferença muitas vezes é um
problema, sendo assim, o indivíduo diferente muitas vezes é excluído da sociedade, e
sabendo-se que a exclusão e o isolamento social são prejudiciais ao desenvolvimento da
linguagem de uma pessoa, a inserção de Kaspar Hauser na sociedade teve um impacto
significativo naquela comunidade. A sociedade em que Kaspar Hauser é inserido fica
perplexa e curiosa com a sua chegada e o jovem torna-se uma atração popular, sendo
visto como uma piada e aberração em espetáculos.

Posteriormente, a comunidade organiza-se para ajudá-lo e acolhê-lo, pois notou


sua dificuldade para falar e andar. Hauser, por sua vez, demonstra grande esforço para
ser pertencente àquela sociedade e adapta-se de maneira razoável ao local, entretanto,
não se sente parte daquela sociedade.

Ao refletir sobre o filme e a questão da linguagem, leva-se em conta que a


língua, em uma determinada região, muda ao longo do tempo, e expressões outrora
utilizadas, atualmente podem tornar-se pouco mencionadas. Assim, um indivíduo
desprovido do contato com outras pessoas terá maiores dificuldades de socialização,
uma vez que, além de não conseguir comunicar-se, poderá confundir-se com expressões
que exigem contexto para serem compreendidas. Ao acolher um indivíduo neste tipo de
situação, deve-se compreender que, por estar em atraso, é necessário ter paciência e
persistência no ensino e acompanhamento individual, respeitando seu tempo de
aprendizado.

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