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GERAÇÃO

DISTRIBUÍDA
CONCEITOS E
CAMINHOS PARA O
DESENVOLVIMENTO
SUSTENTÁVEL
O QUE É GD GD NO MUNDO HISTÓRIA QUEM PODE OPTAR COMO FUNCIONA QUEM FAZ O QUÊ FATORES CRÍTICOS AS REGRAS

SUMÁRIO 18
COMO
FUNCIONA

O QUE É GERAÇÃO
DISTRIBUÍDA
3

20
QUEM
HISTÓRIA FAZ
8 DA GD NO O QUÊ
BRASIL
A GD NO
MUNDO
13 21 FATORES CRÍTICOS
PARA ADOÇÃO DE GD

16 QUEM PODE
OPTAR PELA GD
AS REGRAS
PARA O FUTURO
23

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O QUE É GD GD NO MUNDO HISTÓRIA QUEM PODE OPTAR COMO FUNCIONA QUEM FAZ O QUÊ FATORES CRÍTICOS AS REGRAS

O QUE É GERAÇÃO
DISTRIBUÍDA

Muitas pessoas já pensaram em colocar painéis solares no telhado para gerar a ener-
CENTRALIZADA
gia elétrica que utilizam em suas casas, ou já ouviram falar da possibilidade de usar
A informação passa por um único ponto, de onde é redi-
resíduos – restos de alimentos, refugo de produtos agrícolas e até mesmo o lixão da
recionada aos consumidores. Do centro para as pontas, o
cidade – para gerar energia. Essas são algumas alternativas para a geração de energia
sistema é unidirecional. Esse modelo é considerado extre-
de forma distribuída.
mamente vulnerável, pois, se houver qualquer problema
com o ponto ou com sua fonte de alimentação, a conexão
O termo “geração distribuída”, ou GD, é um contraponto à ideia de que a energia
de todos os pontos é interrompida.
elétrica deve ser produzida somente em grandes usinas, que ficam distantes dos
centros urbanos, e levadas até as residências e os estabelecimentos comerciais e
industriais, por meio de longas linhas de transmissão e de distribuição – o modelo DESCENTRALIZADA
conhecido como geração centralizada. A lógica é simples: quando várias pessoas
A informação é transferida de um centro a outro, por vias
instalam milhares de pequenas usinas em todo o território, a rede fica mais estável,
preferenciais, para então ser enviada unidirecionalmente
mais confiável, mais resiliente.
aos consumidores. Nesse caso, um problema nas cone-
xões preferenciais pode deixar toda uma região ou um
Uma rede elétrica distribuída é considerada uma revolução na forma de produzir e
subsistema desconectado.
de consumir energia – da mesma forma que a internet foi uma revolução no setor
de comunicação e em toda a sociedade. A arquitetura da rede mundial de com-
putadores é inspirada nos estudos de Paul Baran (1926-2011), um pesquisador da DISTRIBUÍDA
Califórnia que, em 1964, realizou estudos comparativos sobre sistemas em rede.
A informação é enviada e recebida em diversos pontos da
Ele sugeriu três modelos possíveis de arquitetura de redes: centralizada, descen-
rede, em trocas bidirecionais, formando uma malha. Se
tralizada e distribuída.
houver falha em uma das linhas, a informação pode circular
por rotas alternativas, reduzindo drasticamente o risco de
interrupção das conexões locais ou regionais. O resultado
é que a rede se torna mais estável, maleável e resiliente.

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Os estudos de Paul Baran fornecem pistas para uma melhor compreensão do Sis- Evolução da composição da capacidade instalada total por fonte
tema Interligado Nacional (SIN) – nome dado à rede elétrica existente no Brasil,
que conecta as usinas geradoras às linhas de transmissão. Essas se conectam às 2% 8%
11%
redes de distribuição, que levam a energia até os estabelecimentos industriais, 42%
10%
comerciais e residências.
9%
Houve muito esforço, ao longo de anos, para que chegássemos a um sistema ra-
2019 2029
zoavelmente descentralizado e, portanto, mais confiável. Por interligar as diferentes 16%
regiões do Brasil, o SIN permite que a energia gerada no Norte ajude a abastecer as
9%
176 GW 251 GW
grandes metrópoles do Sudeste. Mas, se houver um problema em um linhão, como
7%
são chamadas as linhas de transmissão no jargão do setor, uma região inteira pode 6%
ficar desabastecida. 4%
4%
58% 14%
Nesse momento, a geração distribuída de energia pode fazer a diferença. Se um
Eólica Biomassa Solar Hidráulica PCH Gás natural Outros
grande número de consumidores optar pela instalação de painéis solares no telha-
do de suas casas, ou por sistemas eólicos no topo de seus edifícios, aproveitando a Nota: Não inclui parcela da UHE
força dos ventos, a energia gerada localmente poderia suprir a demanda, evitando Itaipu pertencente ao Paraguai Fonte: Empresa de Pesquisa Energética – EPE
um apagão. Mas essa é uma situação hipotética, pois estamos muito distantes des-
sa realidade.
Ao mesmo tempo em que precisamos garantir a energia necessária para o país cres-
A geração distribuída ainda representa uma parcela ínfima da matriz elétrica brasilei- cer, também é fundamental repensarmos os impactos ambientais das fontes e dos
ra, de menos de 1%. Mas esse exercício criativo nos permite compreender a impor- processos que utilizamos para produzi-la. No Brasil, o setor de energia como um
tância desse tipo de geração para a modernização do setor elétrico. todo – que inclui tanto a geração de eletricidade como a produção e o consumo
de combustíveis fósseis – representa mais de 20% das emissões de gases de efeito
A energia elétrica é um insumo essencial, seja em atividades econômicas ligadas à estufa (GEEs).
produção, seja nos setores da indústria, do comércio e de serviços, seja na rotina do-
méstica. A evolução tecnológica e o processo de transformação digital aumentaram Trata-se da terceira maior fonte de emissões, atrás apenas de mudanças no uso da
consideravelmente a necessidade de energia. Assim, o consumo pode crescer ainda terra (principalmente por desmatamento) e da atividade agropecuária. Em 2018, a
mais nos próximos anos. geração de energia elétrica foi responsável por 12% desse índice, com a emissão de
48,7 milhões de toneladas de CO2 ou gases equivalentes.
As projeções da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), entidade ligada ao governo
federal, indicam que a capacidade instalada atual, de 176 GW, terá expansão de Ainda assim, precisamos reconhecer que a matriz elétrica brasileira é exemplo para o
67,9 GW, atingindo 221 GW em 2029. A EPE estima em 2,5% ao ano a taxa média mundo. A capacidade instalada atual é 80% renovável, e deve chegar a 84% na pró-
de crescimento no consumo. xima década, atendendo o compromisso assumido pelo Brasil no âmbito do Acordo
de Paris. Aprovado por 195 países em dezembro de 2015, esse acordo internacional
prevê esforços globais para a redução de gases de efeito estufa com o objetivo de
manter o aumento da temperatura média global abaixo dos 2° C, em comparação aos
níveis pré-industriais, limitando-o preferencialmente a 1,5° C acima daqueles níveis.

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Mas as características dessa matriz, com as grandes hidrelétricas ocupando lugar de A GD é uma alternativa para a produção de energia mais limpa e mais barata. A
destaque, nos levaram a um impasse. As questões ambientais não nos permitem definição de geração distribuída, para fins legais, foi estabelecida pelo 14º artigo do
mais construir obras monumentais, com grandes reservatórios, que impactam a flora Decreto-Lei nº 5.163, de 30 de julho de 2004, e atualizada pelo Decreto-Lei nº 9.143,
e a fauna de uma região e muitas vezes exigem medidas de desocupação, deixando de 22 de agosto de 2017 .
centenas ou milhares de pessoas em situação desfavorável. Além disso, os regimes de
chuvas também sofrem o impacto do aquecimento global e a aposta em uma única Considera-se geração distribuída toda produção de energia elétrica
fonte torna-se cada vez mais perigosa. proveniente de agentes concessionários, permissionários ou autorizados
[...] conectados diretamente no sistema elétrico de distribuição do
A diversificação da matriz, com a introdução de fontes renováveis não hídricas ou comprador, exceto aquela proveniente de hidrelétricas com capacidade
com o aproveitamento de cursos-d’água em sistemas locais, de pequeno porte, é um instalada superior a 30 MW e termelétricas, inclusive de cogeração, com
caminho sem volta. As grandes economias mundiais estão buscando essa alternativa eficiência energética inferior a 75%1.
e nós não poderíamos ficar de fora.

Projeções da EPE apontam para uma grande expansão da participação das fontes De forma sucinta, GD é o nome que se dá para a produção de energia elétrica a
solar e eólica nos próximos dez anos. Parte desse crescimento vai acontecer por meio partir de pequenos sistemas geradores instalados e custeados pelo próprio consu-
de sistemas de microgeração e de minigeração distribuída, a GD, que pode ser ins- midor, localizados próximos ou mesmo no próprio local em que ela é consumida.
talada pelos próprios consumidores em seus imóveis ou em locais próximos a eles. E esse local pode ser uma indústria, uma empresa, um condomínio, uma casa ou
propriedade rural.

Qualquer pessoa pode produzir energia elétrica para seu consumo pessoal ou para
Capacidade instalada em 2019 e 2029 (em GW) seu negócio e ainda injetar o excedente na rede elétrica, desde que cumpra os requi-
Variação entre a capacidade instalada inicial e com a expansão sitos das normas definidas pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). E muita
do PDE 2029 por tecnologia gente vem fazendo isso: no início de 2020, o número de unidades consumidoras
(casas, estabelecimentos comerciais, propriedades rurais, edifícios públicos, entre ou-
tros) beneficiadas pela GD era de mais de 270 mil.
104,0
97,6
1. Dados de maio de 2019.
O consumidor brasileiro pode gerar sua própria energia elétrica a partir de fontes
2. Gás natural inclui gás de processo.
3. Para fins de exibição, as barras que representam a UHE renováveis (solar, eólica, hídrica e biomassa). Ou seja, é possível gerar energia
tiveram sua escala ajustada, entretanto os valores mostrados
correspondem aos dados de capacidade instalada.
aproveitando a incidência de raios solares, o vento, as quedas-d’água e os resí-
4. UHE não inclui parcela da UHE Itaipu pertencente ao Paraguai. duos orgânicos.

39,5
36,2

15,0 15,8
12,9 13,8 12,0
10,6 9,0
4,7 6,3
2,0 3,4 2,7 2,1
0,4 2,1 1,0

UHE Gás Nuclear Carvão Diesel Eólica Biomassa Solar GD PCH


natural e óleo
Fonte: Empresa de Pesquisa Energética – EPE
1
Disponível em: <www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2004/Decreto/D5163.htm>. Acesso em: 20 abr. 2020.

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Fontes de geração de energia na GD

Energia solar fotovoltaica Energia hídrica


é produzida a partir do calor e da utiliza a água em movimento para
luz do sol, que são convertidos gerar energia elétrica. A pressão da
diretamente em eletricidade por água que flui sobre as lâminas de
meio de materiais semicondutores, uma turbina roda um eixo e aciona
chamados de células fotovoltaicas. um gerador elétrico, convertendo
Sistemas fotovoltaicos podem ser o movimento em energia elétrica.
instalados em telhados, em terrenos As Centrais Geradoras Hidrelétricas
desocupados, em estacionamentos (CGHs) são usinas pequenas, que
e em muitos outros locais. aproveitam cursos-d’água e têm baixo
impacto ambiental.

Energia eólica Energia da biomassa


é gerada por meio da conversão de a geração de energia é obtida por
correntes de vento em outras formas meio da decomposição de materiais
de energia, usando turbinas eólicas. orgânicos, como o bagaço da cana-
As turbinas eólicas convertem a -de-açúcar, ou de outros resíduos
força do vento em torque (força de agrícolas e florestais, além dos aterros
rotação), que é então usado para sanitários e dos resíduos industriais.
propulsionar um gerador elétrico e
gerar eletricidade. Em edifícios altos,
pode ser uma excelente alternativa.

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Benefícios e desafios da GD

PARA O PARA O
SISTEMA ELÉTRICO CONSUMIDOR
BENEFÍCIOS BENEFÍCIOS
menor impacto ambiental uso de fontes
renováveis
diversificação da
matriz energética qualidade da energia
Na GD, parte da energia é gerada e utilizada simultaneamente, outra parte, que é
gerada, mas não é utilizada, vai para a rede elétrica e será aproveitada por outros redução das perdas menos falhas
de energia na transmissão no fornecimento
consumidores da região. Quando injeta energia na rede, o consumidor recebe um
e distribuição
crédito em energia que pode ser usado para abater o consumo na fatura dos me- redução de custos
melhora no nível de no longo prazo
ses subsequentes.
tensão da rede no
garantia de
período de carga pesada
A geração distribuída traz uma série de vantagens. É uma alternativa de baixo impac- fornecimento em
postergação de investimentos locais remotos
to de carbono, com reduzido impacto ambiental, porque utiliza fontes renováveis.
em expansão nos sistemas
Além disso, promove: de distribuição e de transmissão

a diversificação matriz energética; DESAFIOS DESAFIOS


a proximidade entre a geração e o consumo contribui para a redução das perdas
maior complexidade alto investimento
que ocorrem nas linhas de transmissão e nas redes de distribuição e na operação da rede inicial
oferece menor custo para o consumidor no longo prazo.
necessidade de adequação burocracia no
da forma de cobrança processo para acesso
A GD é realizada localmente e, por isso, também apresenta benefícios específicos: pelo uso do sistema elétrico à rede
ela aproveita o potencial energético próprio de cada região e emprega mão de racionalização dos tributos equipamentos
obra local. importados, com
alteração dos procedimentos
custos sujeitos a
das distribuidoras para
variações cambiais
operar, controlar e proteger
suas redes

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A GD NO MUNDO

A utilização de energia elétrica em estabelecimentos industriais, comerciais e resi- Nas primeiras décadas do século XX, as centrais se tornaram maiores e mais eficien-
dências é um fenômeno relativamente recente, em termos históricos. Os primeiros tes. A utilização de corrente alternada permitiu o transporte de energia por longas
transformadores – equipamentos capazes de transformar energia magnética, cinética distâncias, reduzindo custos. O avanço tecnológico, os transformadores e as linhas
ou térmica em eletricidade – foram criados somente no século XIX. O cientista inglês de transmissão foram aprimorados e o uso de tensões elétricas mais altas permitiu
Michael Faraday (1791-1867) é considerado pioneiro, pois lançou, em 1831, um anel aumentar a potência e a capacidade de produção de energia.
de indução magnética formado por duas bobinas, que é considerado o primeiro sis-
tema gerador de energia elétrica viável. Nos anos 1930, as turbinas hidráulicas já contavam com maior capacidade de ge-
ração – justamente na época em que a demanda começava a crescer por conta da
Novas invenções somaram-se a essa, como as lâmpadas incandescentes de Thomas industrialização. Nas décadas seguintes, o custo de operar e de manter hidrelétricas
Edison (1847-1931) e a corrente alternada, desenvolvida por Nikola Tesla (1856- com potência inferior a 15 MW, muitas delas com tecnologias consideradas antigas,
-1943). Aos poucos, surgiram os primeiros sistemas elétricos baseados na transmis- se tornou maior do que a renda que elas produziam.
são de energia por cabos e por fios.
Assim, prevaleceu a produção de energia elétrica centralizada em grandes plantas
Um dos primeiros registros de uso da eletricidade na iluminação pública foi na esta- geradoras e instaladas longe dos centros urbanos. Conforme a demanda por eletrici-
ção de trem Gare du Nord, em Paris, em 1875, ainda com lâmpadas de arco voltaico. dade crescia e a tecnologia avançava, as usinas térmicas se tornaram a opção prepon-
Em 1882, Thomas Edison e sua equipe instalaram caldeiras e dínamos em um edifício derante em países industrializados. As fontes fósseis como carvão, óleo e gás natural
de Nova York, com cabos elétricos que permitiram a distribuição de energia para a ganharam espaço na matriz mundial – ainda hoje o carvão é a principal fonte de
região de Wall Street. energia elétrica no mundo, representando 38% da matriz, seguido pelo gás natural
(23%) e pela energia hidrelétrica (16%), segundo a International Energy Agency (IEA).
Embora a geração de energia fosse realizada localmente e distribuída por curtas dis-
tâncias, devido às dificuldades técnicas da época, o modelo adotado era sempre uni- Esse modelo perdurou por quase um século, até a primeira crise do petróleo, na dé-
direcional – do local de geração para as unidades de consumo. Eram, portanto, redes cada de 1970, que fez a sociedade despertar para a necessidade de alternativas para
centralizadas de pequeno porte. o sistema elétrico em todo o mundo.

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Desde então, diversos países, em especial na Europa, começaram a estudar e a Na Alemanha, as mudanças provocadas pelas políticas de liberalização somaram-se a
avaliar o uso de novas fontes de energia e de novos modelos para o funcionamento outras, ligadas à busca de uma matriz energética mais limpa. O país contava, até o final
do setor. Para garantir o fornecimento de energia para as cidades cada vez mais po- do último milênio, com uma matriz elétrica sustentada por fontes fósseis altamente
pulosas, com setores industriais, comerciais e de serviços dinâmicos e globalizados, poluentes, como o carvão, o óleo e o gás, além de usinas nucleares – que não emitem
muitos países investiram na interligação de suas grandes usinas, criando sistemas gases de efeito estufa, mas geram lixo atômico, cuja destinação é um grande desafio.
descentralizados. A vantagem é o maior aproveitamento do potencial hidrelétrico Nos anos 1990, a participação de fontes renováveis na matriz elétrica era inferior a 4%.
e das fontes renováveis, que são suplementadas com a geração térmica apenas
quando necessário. Em 1991, o governo instituiu uma lei obrigando as concessionárias a comprar a ener-
gia gerada a partir de fontes renováveis, pelos próprios consumidores, pagando pela
As redes interligadas também trouxeram maior segurança à rede elétrica, porque energia uma tarifa pré-estabelecida, que é superior ao custo da energia – um meca-
as falhas de fornecimento de uma usina podem ser supridas por outras. Assim, se nismo de remuneração denominado feed-in tariff (FIT), cujo objetivo é remunerar o
a turbina de uma hidrelétrica em São Paulo deixa de funcionar, ou se a demanda gerador também pelo investimento inicial, funcionando como uma política de incen-
é maior do que a capacidade de geração local, esse estado pode receber a energia tivo à geração distribuída.
proveniente de Minas Gerais, do Paraná ou até mesmo de regiões mais distantes,
como dos estados da região Norte. Ainda assim, essas redes foram planejadas para Em 1990, o governo alemão criou o chamado 1000-Dächer-Programm2 (programa
entregar energia de forma unidirecional, na qual se espera do consumidor um com- dos mil telhados voltaicos, em português), no qual oferecia uma subvenção de 70%
portamento passivo. do custo de aquisição e de instalação do sistema de geração de energia solar. A ini-
ciativa obteve sucesso, mas ainda havia muito a ser feito.

Em linha com os compromissos assumidos no Protocolo de Kyoto, em 1997, a Ale-


Desregulamentação e sustentabilidade manha ampliou sua política de incentivos à energia renovável nos anos seguintes.
Em 1999, lançou o 100.000 Dächer-Solarstrom-Programm3 (programa dos cem mil
Desde o início dos anos 1980, muitos países, sobretudo os desenvolvidos, come- telhados solares), com financiamento sem juros e prazo de dez anos para pagamento
çaram a tomar medidas de liberalização dos setores de infraestrutura. As refor- dos custos de instalação.
mas foram pautadas principalmente pela desverticalização das empresas, pela
abertura ao setor privado, pela redução da participação estatal e pelo estímulo A política de transição energética daquele país, chamada Energiewende, se intensifi-
à concorrência. cou a partir de 2010. O objetivo assumido pelo governo alemão foi ambicioso: trans-
formar-se em uma das economias mais eficientes e ambientalmente sustentáveis do
As primeiras e mais significativas reformas ocorreram nos países da União Europeia. planeta. A Alemanha estabeleceu como meta a redução de 80% a 95% das emissões
Os pioneiros nas medidas de desregulamentação e de abertura de mercado foram o de gases que causam o efeito estufa até 2050, tendo como base o ano de 1990.
Reino Unido e a Alemanha, considerados como referências na reforma do setor elé-
trico brasileiro. Hoje, na maioria dos países europeus, assim como em alguns estados Além disso, 80% da matriz elétrica será composta de fontes renováveis de energia até
norte-americanos, na Austrália e na Nova Zelândia, os consumidores são livres para essa data. No início de 2020, a energia solar já representava quase 10% da matriz. As
escolher de qual fornecedor comprar a energia que consomem ou podem optar pela fontes renováveis somadas (solar, eólica, hídrica, biomassa e biogás) respondem por
geração do próprio insumo. cerca de 40% da energia gerada no país.

2
Disponível em: <www.eigensonne.de/1000-daecher-programm>. Acesso em: 20 abr. 2020.
3
Disponível em: <www.100000daecher.de>. Acesso em: 20 abr. 2020.

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Mecanismos de remuneração A geração distribuída de energia ocupa lugar central na política energética alemã. A
instalação de medidores inteligentes permitiu às distribuidoras maior controle sobre
as trocas energéticas. A rede elétrica funciona de forma bidirecional, com muitas co-
Tarifa feed-in nexões capazes de receber e de enviar energia ao sistema, conforme sua necessidade.
O consumidor tem um papel ativo nesse modelo de geração e pode contribuir para
O preço pago pela energia excedente que é injetada na rede é superior ao da
o desenvolvimento sustentável do país.
tarifa de energia elétrica da concessionária, a fim de cobrir também os custos da
implantação dos equipamentos necessários.
Com a evolução do mercado de geração distribuída, os mecanismos de remuneração
dos consumidores foram se modernizando. Esses mecanismos são estabelecidos pela
Energia gerada é Energia é comprada
injetada na rede pelas distribuidoras Erneuerbare-Energien-Gesetz (EEG), ou lei das fontes renováveis de energia, em por-
tuguês, promulgadas em 2014.

Em linhas gerais, o Estado alemão firma contratos com os consumidores e com ge-
radores que utilizam fontes renováveis de energia para garantir uma remuneração
Unidade com sistema de Distribuidora fixa, a FIT, ajustada anualmente, por cada kWh de energia despachada na rede. A
geração distribuída de energia duração desses contratos varia entre 15 e 20 anos e a FIT é calculada para cobrir os
investimentos e prover lucro ao investidor. Ela diminui ao longo do tempo e varia
conforme a tecnologia empregada, a capacidade instalada e a região onde o sistema
Tarifa feed-in está conectado à rede.

Quem usa: Alemanha, Austrália, Bélgica, Espanha, França, Inglaterra, Itália e Japão.
A Alemanha tornou-se um caso emblemático de como o estímulo à geração distribuí-
da pode transformar a matriz elétrica de um país, mas não foi a única a lançar mão de
programas de incentivo e de mecanismos de financiamento generosos.

Tarifa net metering As fontes renováveis vão responder por 30% da


demanda global de energia em 2024, de acordo com a
A energia excedente é injetada na rede da distribuidora, gerando um crédito que
International Energy Agency (IEA).
pode ser usado, dentro de um prazo determinado, para abater o consumo quando a
unidade não estiver gerando energia ou de outras unidades do mesmo proprietário
e na área da mesma concessionária de energia. Diversos países, entre eles, Japão e Estados Unidos, fomentam a instalação de sis-
temas fotovoltaicos e a geração de energia pelos próprios consumidores, em geral
com a oferta de subsídio de parte dos custos de instalação, isenção fiscal ou linhas de
financiamento com juros reduzidos e prazos alongados – iniciativas fundamentais no
esforço de modernização do sistema elétrico e de diversificação da matriz energética.

Ao longo das últimas três décadas, o Japão promoveu diversas ações de estímulo à
Unidade com sistema Energia injetada na Distribuidoras geração distribuída. Mas o grande salto ocorreu depois do acidente na usina nuclear
de geração distribuída rede é compensada de energia de Fukushima, em 2011. Um tsunami, provocado por um maremoto, atingiu a usina,
na mesma medida
causando o derretimento de três dos seis reatores e a liberação de quantidades sig-
nificativas de material radioativo.
Quem usa: Brasil e Estados Unidos.

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As reações em cadeia causaram um shutdown (desligamento) de cerca de 10 GW de No ano seguinte, o projeto foi ampliado para sistemas não residenciais e passou a
geração de energia nuclear logo após o evento. Além do rastro de destruição, dos incluir as outras fontes renováveis de geração distribuída – os consumidores optantes
problemas de segurança e da falta de medidas de contingência, o desastre tornou pela GD passaram a estabelecer contratos FIT de 20 anos.
evidente o risco de concentrar a produção em redes centralizadas, afetando todo o
país no caso de uma falha no sistema. Em 2020, o Japão já tem a capacidade instalada de 42 GW de energia solar, a segunda
maior do mundo, atrás apenas da China. Por ser um país com pequena extensão terri-
Antes de 2011, as usinas nucleares eram responsáveis por 27% da energia gerada torial, o Japão precisou inovar na instalação de painéis fotovoltaicos, usando arrozais
no Japão. Essa fonte foi imediatamente substituída por um aumento da geração e campos de golfe, entre outros lugares incomuns.
térmica, à base de carvão, gás natural liquefeito (GNL) ou gás natural – o que acen-
deu um alerta para autoridades governamentais e para entidades ligadas à conser- Nos Estados Unidos, a autonomia dos entes federados na definição das políticas le-
vação ambiental. vou o país a apresentar diferentes estágios na adoção de fontes renováveis de ener-
gia. Há um incentivo federal, o Business Energy Investment Tax Credit (ITC), uma for-
A transição energética era necessária. Assim, nos anos seguintes, o Japão assumiu ma de crédito fiscal concedido a sistemas de geração solar, eólicas de pequeno porte,
o compromisso de elevar a participação de fontes renováveis para patamares entre energia geotérmica, entre outras fontes para geração distribuída, mas as iniciativas
22% e 24% da matriz até 2030. A energia solar ocupa papel central na modernização locais têm maior peso na consolidação dos mercados.
do sistema japonês, e deverá representar 7% do montante. Outras fontes, como a
eólica onshore e offshore, hidrelétricas de pequeno e de médio portes, energia das A geração distribuída, especialmente aquela realizada a partir de painéis solares, é es-
marés, biomassa e biogás também ganharão espaço. timulada por mecanismos de net metering na maioria dos estados norte-americanos
– o mesmo modelo adotado no Brasil, que permite ao consumidor optante pela GD
Desde os anos 1990, havia programas de incentivo à instalação de painéis fotovol- fazer uma espécie de banco de energia, ajustando a quantidade gerada e consumida
taicos no país, mas eram tímidos e descontinuados. A partir de 2011, houve uma ao longo de um prazo determinado. Na prática, é um sistema de compensação no
redefinição do programa de compra de excedentes de sistemas residenciais, com qual a energia injetada na rede será “devolvida” como créditos na conta de luz.
base em tarifas feed-in.

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Em geral, a compensação da energia injetada na rede é feita pela tarifa cheia, ou seja, Alguns países, por exemplo, criaram variações como a tarifa feed-in premium, em que
pelo valor total do kWh pago pelo consumidor na conta de luz. Além disso, quase to- parte da remuneração do gerador é obtida com a venda do excedente no mercado
dos os estados norte-americanos adotam outras políticas de incentivo, que incluem de- livre de energia, acrescida de um prêmio. Os estados da Califórnia e do Havaí permi-
duções de impostos e taxas de financiamentos mais baixas para sistemas fotovoltaicos. tem ao gerador vender o excedente no mercado, a um vizinho, por exemplo. Outros
estados norte-americanos estudam a adoção de tarifas atreladas ao desempenho.
Em junho de 1997, o governo criou o Million Solar Roofs Initiative4 (ou programa Além disso, as linhas de financiamento facilitadas e a isenção de tributos são duas
um milhão de tetos solares, em português), que previa a instalação de sistemas fo- opções bastante difundidas de estímulos à energia renovável e distribuída.
tovoltaicos em residências, estabelecimentos comerciais e inclusive nos edifícios da
administração pública, até 2010. A marca de um milhão só foi atingida em 2015, mas
a do segundo milhão foi muito mais rápida: três anos depois.
Energia solar – Capacidade de produção
A Califórnia é um dos estados pioneiros a investir em geração distribuída. Ainda no fim
da década de 1970, já dispunha de uma lei obrigando as concessionárias locais a com-
prar energia de produtores independentes. Com o decorrer dos anos, os mecanismos
Capacidade de Participação na
de incentivo foram sendo ampliados ou modificados. Desde 2002, a Califórnia exige
produção (MW) produção global (%)
que as concessionárias atendam a percentuais mínimos de seu mercado com energia CHINA
gerada a partir de fontes renováveis. Até 2030, essa participação chegará a 50%.
78.100 MW 25,8
Além disso, foram estabelecidas metas para a geração distribuída de energia e para
a geração centralizada a partir de fontes renováveis – em especial a fonte solar. Em JAPÃO
2018, o governo estadual também estabeleceu a obrigatoriedade da instalação de
painéis solares em novas edificações residenciais construídas a partir de 2020. 42.800 MW 14,1

A experiência internacional mostra a evolução dos modelos regulatórios de incentivo ALEMANHA


à geração distribuída em diversos países e regiões, como Alemanha, Austrália, Bélgi-
ca, Espanha, França, Inglaterra, Itália e Japão, bem como nos estados norte-america- 41.200 MW 13,6
nos do Havaí, Nevada e Nova York.
ESTADOS UNIDOS
Em um primeiro momento, as políticas são formuladas para incentivar a geração
distribuída, sobretudo com a adoção de sistemas de net metering, que permitem a 40.300 MW 13,3
compensação de energia pelo valor integral da tarifa ou a adoção de tarifas feed-in,
nas quais o preço pago pela energia excedente que é injetada na rede é superior ao ITÁLIA
da tarifa de energia elétrica da concessionária, a fim de cobrir também os custos da
implantação dos equipamentos necessários. 19.330 MW 6,4

Quando a geração distribuída se torna representativa na matriz, são feitos aprimora-


mentos, adequando a remuneração ao estágio de desenvolvimento dos sistemas e
ao tempo de retorno do investimento – já que os custos de aquisição e de instalação A geração de energia a partir de fontes renováveis vai aumentar 50% até 2024, se-
de equipamentos vêm caindo com o avanço tecnológico. gundo o relatório Renewables 2019, da IEA. Isso representa um adicional de 1.200
GW, equivalente à atual capacidade total de geração de energia dos Estados Unidos.

4
Disponível em: <www.nrel.gov/docs/fy01osti/28951.pdf>. Acesso em: 20 abr. 2020.

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HISTÓRIA DA GD NO BRASIL

A reestruturação do setor elétrico brasileiro, iniciada na metade da década de 1990, Os equipamentos ou centrais geradoras com potência até 75 kW são considerados mi-
redefiniu o papel do Estado no setor, introduzindo a concorrência na oferta de ser- crogeração distribuída. Já na minigeração, a potência deve estar entre 75 kW e 5 MW.
viço de energia. A reforma incluiu a desverticalização das atividades, separando os
segmentos de geração, transmissão, distribuição e comercialização, e estimulou a
entrada da iniciativa privada no setor. Em 1995, o governo federal lançou o Projeto
de Reestruturação do Setor Elétrico Brasileiro (RE-SEB), em que traçava os princípios
básicos para o novo modelo setorial.
Microgeração Fontes renováveis e
potência instalada menor ou
igual a 75 quilowatts (kW)
A definição de geração distribuída foi oficialmente instituída com o Decreto-Lei nº 5.163, Residências, pequenos condomínios,
de 30 de julho de 2004. Mas a possibilidade de gerar a própria energia se concretizou estabelecimentos comerciais e indus-
de fato em 2012, com a Resolução Normativa nº 482, de 17 de abril de 2012, da Aneel. triais de pequeno porte

Tal resolução autorizou a geração a partir de fontes renováveis e estabeleceu as con-


dições para a microgeração e a minigeração distribuída. A norma também criou o
sistema de compensação, possibilitando o repasse do excedente à rede pública de
distribuição de energia em troca de desconto na conta de luz.
Minigeração Fonte hídrica, solar, eólica, biomassa
ou cogeração qualificada* e potência
instalada entre 75 kW até 5 MW
A produção de energia é classificada como geração distribuída quando é realizada a
partir de fontes renováveis, com equipamentos ou sistemas instalados na própria uni- Indústrias, agronegócio, shoppings, galpões,
dade consumidora (casa, edifício, fazenda, estabelecimento comercial ou industrial) centros comerciais e hotéis
ou em local próximo a ela, desde que esteja na mesma área de concessão.
*Processo de geração em que a energia térmica dissipada pelo gerador também é aproveitada,
reduzindo a perda e permitindo obter até 90% de eficiência energética.
O consumidor deve estar ligado à rede – tanto para enviar os excedentes de energia ge-
rada como para utilizar energia da rede quando seu sistema próprio não estiver gerando.

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Projeção da capacidade instalada da


Quantidade de sistemas e potência
microgeração e da minigeração distribuída
11 GW
instalada por fonte de energia
12.000

10.000

8.000
Fotovoltaica
Sistemas

6.000 242.641
Potência instalada (kW)
4.000
2.828.381,42
2.000

0
2019 2020 2021 2022 2023 2024 2025 2026 2027 2028 2029 Termelétrica
Sistemas

234
fotovoltaica eólica termelétrica CGH total PDE 2027

Potência instalada (kW)

72.282,74
Fonte: Plano Decenal de Expansão de Energia 2019 (EPE)

Em 15 de dezembro 2015, o Ministério de Minas e Energia, por meio da portaria


nº 538, criou o Programa de Desenvolvimento da Geração Distribuída de Energia
Elétrica (ProGD) com uma série de ações de incentivo para estimular a geração distri- Hidrelétrica
buída, especialmente a partir de fonte solar fotovoltaica. A regulamentação também Sistemas
foi aprimorada conforme as necessidades identificadas na prática.
107
A Resolução Normativa nº 685, de 5 de novembro de 2015, publicada pela Aneel, am- Potência instalada (kW)
pliava o escopo das normas ao permitir a geração de energia para consumo coletivo,
como condomínios, e a possibilidade de uso da energia em outra unidade pertencen-
102.805,71
te ao mesmo proprietário, desde que na área de concessão da mesma distribuidora.

O Brasil atingiu a capacidade instalada de 1 GW em geração distribuída em junho Eólica


de 2019, saltou para 2 GW, em dezembro do mesmo ano, e chegou a 3 GW de Sistemas
potência em maio de 2020. Em dez anos, serão 11,4 GW, com 1,3 milhão de consu-
midores gerando energia em sistemas de minigeração ou microgeração, de acordo 63
com a projeção do Plano Decenal de Expansão de Energia 2029 (PDE), da Empresa Potência instalada (kW)
de Pesquisa Energética (EPE). A maior expansão deve ser na geração fotovoltaica.
10.407,86
Fonte: Aneel/Maio de 2020

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Sistema de compensação net metering

O sistema de compensação de energia elétrica usado no Brasil é conhecido como A quantidade de quilowatts (kW) de energia injetada na rede será registrada pela dis-
net metering. Podemos tomar como exemplo uma casa com painéis solares que, tribuidora e abatida do consumo dessa família no período da noite. Se a quantidade
durante a tarde, gera muita energia, mas consome pouco, porque os moradores de energia enviada para a rede ao longo do mês for superior ao consumo, a unidade
estão no trabalho ou na escola. Essa energia, que é gerada, mas não é consumida, consumidora passa a ter um crédito em quantidade de energia para descontar na
vai para a rede de transmissão e será utilizada por outras residências ou estabele- conta de luz dos próximos meses.
cimentos da vizinhança.

Modelo de geração distribuída


com fonte solar fotovoltaica

Conta de luz
-50 kWh

3 2
50 kWh 5

1 2 3 4 5
Os módulos captam A corrente passa A energia elétrica em A eletricidade produzida No Sistema de Compensação
a luz do sol e a por um inversor, corrente alternada será e não utilizada é enviada de Energia Elétrica, a energia
transformam em transformando-se utilizada para abastecer à rede de distribuição e disponibilizada na rede é transformada
energia elétrica em em corrente a edificação (casa, será utilizada por outros em créditos a serem abatidos nas
corrente contínua. alternada. comércio, indústria). consumidores. próximas faturas da conta de luz.

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QUEM PODE OPTAR PELA GD


Geração compartilhada
A energia é gerada em um local diferente dos imóveis ou das propriedades onde
Praticamente qualquer brasileiro ou brasileira pode optar pela geração distribuída será consumida e os proprietários desses sistemas devem estar reunidos por meio

de energia. É preciso que o cidadão seja proprietário, locatário ou arrendatário de de consórcio ou de cooperativa (pessoa física ou jurídica).

imóvel cadastrado como unidade consumidora, ou seja, conectado à rede de uma As unidades consumidoras devem estar na área da mesma concessionária de ener-
gia. Por exemplo: um grupo de pessoas interessadas em investir em energia renová-
distribuidora de energia. Pode ser pessoa física ou jurídica. No caso de locatário ou
vel para consumo próprio cria um consórcio, compra um terreno e instala um siste-
de arrendatário, o valor do aluguel do imóvel não pode estar atrelado à geração de
ma de minigeração. Os custos do investimento (ou do financiamento) são divididos,
energia elétrica.
bem como os créditos para compensação na conta de luz de cada participante.

Originalmente, a Resolução Normativa nº 482/2012, que instituiu o sistema de com-
pensação de energia e viabilizou a GD, previa essa possibilidade apenas para unida-
des consumidoras que gerassem energia para consumo no próprio local. Como já
vimos, as posteriores alterações da resolução ampliaram a potência instalada permi- Autoconsumo remoto
tida, os usuários e os locais em que a energia gerada pode ser consumida. A energia é gerada em um local diferente de onde será consumida, desde que os
imóveis ou as propriedades pertençam ao mesmo titular (pessoa física ou jurídica)
A GD precisou ser adequada à realidade nacional. Nos grandes centros urbanos, mui- e estejam na área da mesma concessionária de energia. Assim, uma pessoa pode
tas pessoas moram em condomínios, conjuntos residenciais, ou em imóveis que não gerar energia para sua casa e para seu comércio utilizando o mesmo sistema.
permitem a instalação de painéis solares ou de outros sistemas de geração de energia
renovável. Além disso, algumas fontes exigem que a instalação dos sistemas seja em
local diferente do consumo, como a hídrica.

Havia ainda o interesse de empresários em projetos de minigeração para alimentar


Múltiplas unidades (condomínio)
O uso da energia elétrica é feito em unidades consumidoras independentes, locali-
diferentes lojas de uma mesma rede com energia limpa e renovável. Para atender
zadas na mesma propriedade ou em propriedades contíguas – condomínios verti-
às demandas desses consumidores, as modalidades de GD foram se diversificando.
cais ou horizontais. Nessa configuração, a energia gerada pode ser repartida entre
os consumidores em porcentagens definidas pelos próprios condôminos.

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O QUE É GD GD NO MUNDO HISTÓRIA QUEM PODE OPTAR COMO FUNCIONA QUEM FAZ O QUÊ FATORES CRÍTICOS AS REGRAS

Mas existem algumas diferenças entre a geração de energia distribuída por consu- Os consumidores atendidos em alta tensão (tensão igual ou superior a 2,3 kV), como as
midores de dois grandes grupos: os consumidores atendidos em alta tensão (que indústrias, pertencem ao grupo A, caracterizado pela tarifa binômia, na qual o consumo
chamaremos de grupo A) e os em baixa tensão (que chamaremos de grupo B). de energia e a demanda (disponibilidade de infraestrutura necessária) são faturados.

Uma pessoa que decide colocar painéis solares em sua casa geralmente é um con- Nesse caso, se o consumidor gerar toda a energia de que necessita durante o mês,
sumidor do grupo B (baixa tensão), atendido por linhas de distribuição com tensão precisará pagar para a concessionária o valor referente à demanda contratada. Se a
inferior a 2,3 kV. Nesse caso, ele paga uma tarifa chamada monômia, na qual estão geração de energia própria for inferior ao consumo, o faturamento deverá considerar
unificados os custos da energia, da infraestrutura de redes e de fios de luz, além de o consumo de energia (ativo e reativo) nos horários de ponta e fora de ponta, depois
encargos e de impostos. de subtraídos os créditos energéticos do sistema de compensação no mesmo horário
em que foi gerado.
Nesse caso, o consumidor deverá avaliar a potência do sistema a ser instalado consi-
derando que, se ele gerar mais energia do que consome e, portanto, “zerar” sua conta Além disso, quando esse consumidor obtiver créditos a serem compensados em horá-
de luz (tecnicamente, quando não houver consumo ativo faturado), precisará pagar rio no qual o posto tarifário é diferente daquele em que o crédito foi gerado, deve ser
uma taxa referente ao custo de disponibilidade de acesso à rede. Resumindo, mesmo observada a proporção entre os valores das tarifas de energia – afinal, 1 kWh gerado no
que um consumidor gere 100% da energia elétrica de que necessita durante o mês, período fora de ponta apresenta um valor inferior a 1 kWh gerado no período de ponta.
ele continuará pagando o “piso” da fatura.

Todavia, quando ele consome mais energia do que gerou naquele mês, mesmo de- Tarifa de energia
pois de descontado o montante de energia injetada na rede, essa taxa é substituída Essa tarifa inclui o custo da geração de energia, do transporte (transmissão e distribuição)
pela conta de consumo ativo, já subtraídos os créditos energéticos previstos no sis- e dos encargos setoriais. Além disso, na conta de luz há cobrança de taxas e de impostos
tema de compensação. dos governos federal, estadual e municipal. É por isso que o consumidor, mesmo geran-
do sua própria energia, continua pagando o custo de disponibilidade, se for do grupo B,
ou a demanda contratada, se for do grupo A.

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COMO FUNCIONA

Um consumidor que decide gerar sua própria energia por meio da instalação de A etapa seguinte é o projeto propriamente dito, que deve ser feito por um responsá-
geradores, que podem ser painéis solares ou pequenas turbinas eólicas, em sua casa, vel técnico cadastrado no Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea). Com
estabelecimento industrial ou comercial ou condomínio, deve fazer uma avaliação o projeto em mãos, é hora de procurar a concessionária de energia do local em que
prévia dos custos de aquisição e de instalação dos equipamentos de geração, das será feita a instalação, para providenciar a solicitação e o parecer de acesso. Todas
condições de financiamento e dos benefícios de gerar a própria energia. Para isso, essas etapas estão formalizadas na seção 3.7 do Módulo 3 do documento Procedi-
vale a pena considerar diversas variáveis, como: mentos de Distribuição de Energia Elétrica – Prodist5, da Aneel.

fonte de energia (painéis solares, turbinas eólicas, geradores a biomassa etc.); Ainda que não seja obrigatória nem conste no manual Prodist, a consulta de acesso é
modalidades de GD disponíveis (local, remota, compartilhada etc.); uma etapa que vale ser feita. Nela, o consumidor oferece informações sobre a central
tecnologia dos equipamentos; geradora, que serão usadas pela distribuidora para definir a melhor alternativa de
porte da unidade consumidora e da central geradora; conexão ao sistema elétrico e os procedimentos que devem ser seguidos.
localização (rural ou urbana);
valor da tarifa à qual a unidade consumidora está submetida e
condições de pagamento e de financiamento do projeto e existência de outras Procedimentos de Distribuição (Prodist)
unidades consumidoras que possam usufruir dos créditos do sistema de com- Tratam-se de normas elaboradas pela Aneel que disciplinam o relacionamento entre
pensação de energia elétrica. as distribuidoras de energia elétrica e os demais agentes (unidades consumidoras e
centrais geradoras) conectados aos sistemas de distribuição. O Prodist trata de con-
dições, de responsabilidades e de penalidades relativas à conexão, ao planejamento
É importante contar com suporte de especialistas, pois os projetos de geração distribuí-
da expansão, à operação e à medição da energia elétrica, além de estabelecer a forma
da têm diferentes níveis de complexidade. Tais níveis dependem não apenas dos equi- como deve ser feito o intercâmbio de informações e quais os critérios e indicadores
pamentos e da estrutura necessários, mas também do local onde será instalado, das de qualidade.
medidas de segurança necessárias e das especificidades daquela área de distribuição.

5
Disponível em: <www.aneel.gov.br/modulo-3>. Acesso em: 20 abr. 2020.

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A distribuidora verifica também se é necessário parecer técnico do Operador Nacio-


nal do Sistema Elétrico (ONS) ou de outras distribuidoras. Para isso, o interessado tem
Procedimento e etapas de acesso
um prazo máximo de 60 dias. Emitir parecer
de acesso
O passo seguinte é fazer a solicitação de acesso, por meio de um formulário que deve Fazer Comprar
ser protocolado na distribuidora, juntamente com os documentos solicitados. Com solicitação e/ou instalar
ele, a distribuidora emite o parecer de acesso, no qual informa as condições de aces- de acesso a geração

so e os requisitos técnicos para a conexão das instalações com os respectivos prazos.


O prazo máximo para a emissão do documento é de 15 dias para microgeração e de
30 dias para minigeração. Esses prazos são dobrados, caso haja necessidade de obras Prazo: 15 dias
de melhorias ou de reforços no sistema de distribuição.

Após a emissão do parecer de acesso, o consumidor tem prazo de 120 dias para Prazo: 120 dias
instalar a conexão e fazer eventuais ajustes necessários recomendados pela distribui-
dora, para então requerer a vistoria. A partir daí, a distribuidora tem até sete dias para
Aprovar o ponto,
realizar a vistoria e entregar o relatório com eventuais pendências ou a aprovação do trocar a medição e Solicitar
ponto de medição, realizar a adequação do sistema de medição e liberar o início do iniciar o sistema de vistoria
Sistema de Compensação de Energia Elétrica (SCEE). Consumidores livres ou especiais compensação

não podem aderir ao sistema.


Prazo: 7 dias
Prazo: 7 dias
O consumidor deve firmar três contratos com a distribuidora:

Contrato de Uso do Sistema de Distribuição (CUSD); Prazo: 5 dias


Contrato de Compra de Energia Regulada (CCER) e
Acordo Operativo ou Relacionamento Operacional.

Regularizar Realizar
aspectos vistoria
técnicos
Entregar
relatório com
pendências Fonte: Aneel

Fluxograma do processo

Consumidor Distribuidora Consumidor Distribuidora Distribuidora Consumidor Consumidor Consumidor

Fazer a Emitir o Solicitar a Fazer a Entregar o Regularizar Solicitar Aprovar o


solicitação parecer de vistoria vistoria relatório de eventuais aprovação ponto de
de acesso acesso vistoria aspectos de ponto conexão e
técnicos de conexão efetivar
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QUEM FAZ O QUÊ

A instalação de um sistema de geração de energia envolve uma série de procedimen- EPCistas


tos, definições e cumprimento de requisitos legais, que vão desde a análise da viabi- São empresas que podem ser contratadas para fazer o projeto do começo ao fim.
lidade e dos benefícios até o financiamento, as aprovações de órgãos regulatórios e O termo epcista deriva da sigla em inglês EPC, que quer dizer engineering, procure-
a assinatura de contratos. ment and construction. Ou seja, elas se responsabilizam pelo projeto com respecti-
vas autorizações e aprovações, pela contratação de fornecedores de equipamentos
Tal processo passa pelas seguintes etapas: elaboração do projeto, obras de instalação, e de serviços e pela construção da usina ou da instalação dos equipamentos.
aprovação de órgãos regulatórios, seguro e manutenção.
Provedores de soluções
São empresas que concentram as atividades de distribuição de equipamentos
Para cumprir todas elas, há diferentes alternativas e muitas opções de prestadores de
e de desenvolvimento de projetos, oferecendo soluções completas, de maneira
serviço e de fornecedores de equipamentos qualificados e certificados.
semelhante aos EPCistas.

Integradores
Fabricantes de equipamentos
No setor fotovoltaico, os integradores fazem a conexão entre as distribuidoras
São as indústrias que fabricam todos os equipamentos necessários aos sis-
de equipamentos fotovoltaicos e os clientes interessados na tecnologia. Eles
temas. Na fonte solar, por exemplo, há fabricantes de painéis fotovoltaicos e
fornecem o projeto, os materiais, as ferramentas, a instalação e a conexão do
também os de inversores, as string boxes (equipamento de proteção), os cabos
sistema à rede.
e os conectores e as estruturas de fixação. No caso da energia eólica, são os fa-
bricantes de pás, de rotores, entre outros. Para cada fonte, há diversas indústrias Instaladores
envolvidas na cadeia de GD. São prestadores de serviços, que fazem a vistoria do local de instalação, o dimen-
sionamento do sistema e realizam as obras necessárias de instalação do projeto.
Distribuidores
São empresas que comercializam os equipamentos necessários para a instala-
ção de sistemas de microgeração e de minigeração. Muitos desses equipamen- Existe a possibilidade de contratar todo o projeto com a mesma empresa ou é possí-
tos são importados, portanto, os distribuidores desempenham papel funda- vel contratar separadamente cada etapa – de avaliações, de projeto e de aprovações
mental na articulação entre os agentes do mercado. e um construtor para a obra ou para a instalação – ou até a contratação de todos os
serviços e produtos necessários individualmente.

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FATORES CRÍTICOS
PARA ADOÇÃO DE GD

O alto custo da energia no Brasil é o maior fator de incentivo para os consumidores âmbito do Acordo de Paris – o tratado internacional que prevê metas para combater
que optam pela geração distribuída. Mas há muitas outras vantagens atreladas à o aquecimento global.
geração distribuída de energia elétrica, que servem de estímulo à sua adoção – em
especial os benefícios ambientais. A Noruega estabeleceu o ano de 2025 como marco inicial. Na Holanda e na Índia será
a partir de 2030, e na França e no Reino Unido, a partir de 2040. No Brasil, o Congres-
Um dos maiores entraves para GD é o custo dos equipamentos e da instalação, mas, so Nacional discute a aprovação de um projeto no mesmo sentido.
aos poucos, tem sido superado. No caso dos equipamentos para geração solar fo-
tovoltaica, o avanço tecnológico ajudou na redução do preço dos equipamentos em Com um custo por quilômetro rodado três vezes menor do que um carro movido a
cerca de 80% na última década. gasolina e sem emissões de gases de efeito estufa, os modelos elétricos são uma das
opções mais promissoras.
Como parâmetro de comparação, no Brasil, o reajuste médio no preço da energia
nos últimos anos vem superando a inflação. Além disso, o custo inicial se justifica A substituição da frota de veículos com motores a combustão por carros elétricos vai au-
em longo prazo. Um sistema que usa energia solar pode gerar uma economia de até mentar a demanda por energia – que precisa vir de fontes renováveis para que os ganhos
95% na conta de luz. ambientais se justifiquem.

O uso de energia elétrica gerada a partir de fontes renováveis cresce de forma exponen- Como consequência, os carros elétricos também vão encarecer a conta de luz das famílias
cial. É a principal alternativa para substituição dos combustíveis fósseis no esforço para brasileiras, sobretudo se considerarmos a tendência de que as pessoas cheguem em casa
reduzir as emissões de gases de efeito estufa e para combater o aquecimento global. à noite e coloquem-no para carregar. Gerar energia em casa para atender a essa deman-
da será uma alternativa cada vez mais atraente.
Os veículos movidos a combustíveis fósseis, por exemplo, estão entre os principais cau-
sadores da poluição atmosférica. Eles respondem por 20% de toda a emissão mundial Outro fator crítico para o setor de energias renováveis é a possibilidade de armaze-
de dióxido de carbono (CO2), um dos principais gases que causam o efeito estufa. nar a energia gerada. No Brasil, o uso de baterias ainda é pouco frequente devido
ao alto custo e às questões ambientais relacionadas à sua utilização, como seu
Alguns países anunciaram a proibição da comercialização de veículos movidos a descarte e sua reciclagem.
combustíveis fósseis nos próximos anos, em linha com o compromisso assumido no

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O modelo de compensação integral da energia injetada é uma forma de contornar incidentes. E já há quem vá além e veja nos carros elétricos também uma alternativa
a necessidade de baterias, pois a energia passa a ser utilizada de maneira comparti- para armazenar energia e devolvê-la para as casas, funcionando como uma espécie
lhada – o insumo que teria de ser armazenado é lançado na rede para uso de outros de gerador no caso de falha na rede elétrica.
consumidores e se transforma em créditos de energia, como já vimos.
Nesse cenário, os veículos elétricos também funcionariam como bateria de armaze-
Em países como Alemanha e Austrália, as baterias vêm sendo usadas em conjunto namento de energia – um conceito chamado V2G (vehicle to grid). Com essa tecnolo-
com a geração distribuída para reduzir a injeção e o excesso de energia na rede em gia, em países que adotam a feed-in tariff, os proprietários de veículos elétricos po-
alguns horários, incentivando o armazenamento para o autoconsumo. O armazena- deriam recarregar as baterias durante períodos de baixa demanda e, posteriormente,
mento possibilita ainda ter uma fonte adicional que pode suprir o sistema em caso de revender a energia para a rede elétrica em períodos de pico de demanda.

Vantagens da GD para o meio ambiente Vantagens da GD para o país

Evita a construção de novos empreendimentos de grande A GD diminui o impacto ambiental da geração de energia,
porte que afetam a fauna, a flora e o clima da região. uma vez que utiliza fontes renováveis.

Contribui para a diminuição da emissão dos gases de efeito A geração próxima ou junto ao consumo evita a perda de
estufa, produzindo energia limpa. energia no processo de transmissão e distribuição.

Gera energia exclusivamente com fontes renováveis, Com geração descentralizada, a necessidade de
poupando os recursos do planeta. investimentos em linhas de transmissão é menor.

Vantagens da GD para o consumidor Vantagens da GD para o sistema elétrico brasileiro

Com a GD, o consumidor gera sua própria energia junto ou


Redução de perdas nas linhas de transmissão e de
próximo à carga e economiza na conta de luz.
distribuição.

Há alta confiabilidade no fornecimento, com menor risco de Maior estabilidade no nível de tensão da rede durante o
queda de luz e maior qualidade da energia. horário de pico.

A GD amplia a liberdade de escolha e permite a utilização de Diversificação da matriz energética, com inserção de mais
energia gerada exclusivamente com fonte renovável. fontes renováveis.

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AS REGRAS PARA O FUTURO

A microgeração e a minigeração distribuídas vêm crescendo exponencialmente no A geração distribuída tem um enorme potencial de expansão, podendo beneficiar
país, mas sua participação no sistema elétrico brasileiro ainda é pequena. As mais de um número muito maior de pessoas e oferecer maior resiliência ao sistema elétrico.
200 mil usinas geradoras* respondem por menos de 1% da matriz energética nacional. Com a adoção de políticas públicas de incentivo, ela pode levar energia para cerca de
dois milhões de brasileiros que não têm acesso à energia elétrica, seja por estarem
As regras estabelecidas em 2012 para o sistema de compensação da energia exce- em locais de difícil acesso ou por não terem renda suficiente. Além disso, o mercado
dente vêm passando por uma revisão impositiva, que pode causar retrocessos ao de geração distribuída é extremamente dinâmico, potencializa a economia regional e
mercado e comprometer a viabilidade da GD em algumas modalidades, como o au- gerou mais de 70 mil empregos qualificados no Brasil até 2020.
toconsumo remoto.
Mas há muitas questões em aberto – de caráter econômico, social e ambiental – no
De acordo com a proposta em análise, pessoas ou empresas que investem em ge- que diz respeito às regras para o futuro da geração distribuída de energia elétrica no
ração distribuída podem ter uma redução dos créditos a receber causados pela in- Brasil. O empoderamento dos consumidores é disruptivo, rompe com os modelos es-
serção, no cálculo da compensação de energia, de diversos componentes da tarifa, tabelecidos, o que causa certa resistência. Cabe à sociedade se mobilizar e participar
inclusive aqueles ligados às infraestruturas que a GD não utiliza e aos problemas desse debate, para que, juntos, possamos construir uma sociedade mais consciente e
que ela ajuda a mitigar, como as perdas elétricas. Assim, uma taxa de quase 65% da garantir um futuro sustentável.
energia injetada na rede seria destinada para a remuneração das distribuidoras, a
chamada tarifa fio.

A cobrança põe em risco a possibilidade de que cada vez mais pessoas possam gerar
sua própria energia, a partir de fontes renováveis, uma alternativa que beneficia mi-
lhões de consumidores e contribui para a sustentabilidade do País.

*Dados de maio de 2020.

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EXPEDIENTE

© 2020 ABGD - Associação Brasileira de Geração Distribuída – ABGD


Título original: Geração Distribuída: conceitos e caminhos para o de-
senvolvimento sustentável

Associação Brasileira de Geração Distribuída – ABGD


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