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Violência de Gênero e Ódio Ao Feminino
Violência de Gênero e Ódio Ao Feminino
VIOLÊNCIA DE GÊNERO E
ÓDIO AO FEMININO
Editora CRV
Curitiba – Brasil
2021
Copyright © da Editora CRV Ltda.
Editor-chefe: Railson Moura
Diagramação e Capa: Designers da Editora CRV
Imagem de Capa: Tinnakorn jorruang / Shutterstock.com (modificado)
Revisão: Os Autores
V795
Violência de gênero e ódio ao feminino / Leonardo José Barreira Danziato, Leônia Cavalcante
Teixeira, Jean-Luc Gaspard (organizadores) – Curitiba : CRV, 2021.
518 p.
Bibliografia
ISBN Digital 978-65-251-1435-4
ISBN Físico 978-65-251-1438-5
DOI 10.24824/978652511438.5
2021
Foi feito o depósito legal conf. Lei 10.994 de 14/12/2004
Proibida a reprodução parcial ou total desta obra sem autorização da Editora CRV
Todos os direitos desta edição reservados pela: Editora CRV
Tel.: (41) 3039-6418 – E-mail: sac@editoracrv.com.br
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Conselho Editorial: Comitê Científico:
Aldira Guimarães Duarte Domínguez (UNB) Andrea Vieira Zanella (UFSC)
Andréia da Silva Quintanilha Sousa (UNIR/UFRN) Christiane Carrijo Eckhardt Mouammar (UNESP)
Anselmo Alencar Colares (UFOPA) Edna Lúcia Tinoco Ponciano (UERJ)
Antônio Pereira Gaio Júnior (UFRRJ) Edson Olivari de Castro (UNESP)
Carlos Alberto Vilar Estêvão (UMINHO – PT) Érico Bruno Viana Campos (UNESP)
Carlos Federico Dominguez Avila (Unieuro) Fauston Negreiros (UFPI)
Carmen Tereza Velanga (UNIR) Francisco Nilton Gomes Oliveira (UFSM)
Celso Conti (UFSCar) Ilana Mountian (Manchester Metropolitan
Cesar Gerónimo Tello (Univer Nacional University, MMU, Grã-Bretanha)
Editora CRV - Proibida a impressão e/ou comercialização
Este livro passou por avaliação e aprovação às cegas de dois ou mais pareceristas ad hoc.
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AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem a Universidade de Fortaleza (Unifor) que com seu
financiamento e investimento no campo da pesquisa, e muito especialmente
na pesquisa Violência de gênero no contexto da pandemia do COVID-19:
uma proposta de intervenção em urgência subjetiva com mulheres em situa-
ção de vulnerabilidade e risco que deu origem a esta obra, possibilitando a
presente publicação.
Editora CRV - Proibida a impressão e/ou comercialização
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SUMÁRIO
AGRADECIMENTOS ..................................................................................... 7
APRESENTAÇÃO
GÊNERO E FEMININO:
violência, escuta e intervenções.................................................................... 15
Leonardo Danziato
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PRÉSENTATION
GENRE ET FÉMININ:
violence, écoute et interventions ................................................................... 23
Leonardo Danziato
Leônia Cavalcante Teixeira
Jean-Luc Gaspard
O FEMININO:
ódio, violência e rejeição
L’OBJECTIVATION DE
LA CATÉGORIE FEMME DANS
LES CONSTRUCTIONS PSYCHANALYTIQUES :
un type de violence de genre ...................................................................... 173
Anderson Santos
Aline Souza Martins
Bárbara Cristina Souza Barbosa
Cândida Cristine de Oliveira Lucas
Estanislau Alves da Silva Filho
Priscilla Santos de Souza
Tahamy Louise Duarte Pereira
VIOLÊNCIA DE GÊNERO
E ÓDIO AO FEMININO:
alteridade e desvelamento no tratamento discursivo do feminino .............. 193
Leonardo Danziato
Gabriela Ferreira
Luciana Lira
VIOLENCE DE GENRE ET HAINE DU FÉMININ :
altérité et dévoilement dans le traitement discursif du féminin .................... 215
Leonardo Danziato
Gabriela Ferreira
Luciana Lira
A ESCUTA DA VIOLÊNCIA
ERRÂNCIA E ENIGMA:
a indeterminação feminina e seus destinos ................................................ 345
Aparecida Rosângela Silveira
Carolina Saggioro Sobrinho
Cristina Andrade Sampaio
Flávia da Silva Tereza
Lêda Antunes Rocha
Márcia Cristina Maesso
Maria Clerismar Pereira dos Santos
Nayara Teixeira Gomes
Samuel Rocha Freitas
ERRANCE ET ÉNIGME :
l’indétermination féminine et ses destinations ............................................. 355
Aparecida Rosângela Silveira
Carolina Saggioro Sobrinho
Cristina Andrade Sampaio
Flávia da Silva Tereza
Lêda Antunes Rocha
Márcia Cristina Maesso
Maria Clerismar Pereira dos Santos
Nayara Teixeira Gomes
Samuel Rocha Freitas
“QUASE DA FAMÍLIA”:
violências às trabalhadoras domésticas
(in)visibilizadas por nossas branquitudes .................................................... 481
Jaquelina Maria Imbrizi
Adriana Rodrigues Domingues
Ana Lucia Gondim Bastos
« PRESQUE DE LA FAMILLE »: les violences à l’égard des
travailleuses domestiques rendues (in)visibles par nos blanchités ............. 493
Jaquelina Maria Imbrizi
Adriana Rodrigues Domingues
Ana Lucia Gondim Bastos
INDEX ..........................................................................................................511
Jean-Luc Gaspard
Jean-Luc Gaspard
lequel les lieux sociaux autorisent l’ambivalence des affects. Il a été choisi
des œuvres qui visent à déconstruire le destin social naturalisé et prédéter-
miné de la catégorie et, ainsi, à proposer des scripts qui les placent comme
protagonistes de leurs propres histoires. Cette analyse filmique est menée à
travers une approche psychanalytique en interface avec les discussions inter-
sectionnelles du féminisme noir, en soulignant les questions d’ethnicité, de
genre et de classe sociale.
Tous ces travaux qui constituent le présent travail, mais fondamentale-
ment la discussion politique et académique sur la violence de genre et la haine
O FEMININO:
ódio, violência e rejeição
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AMÁLGAMAS DO NÃO
Ana Carolina B. Leão Martins
Marília Albuquerque de Sousa
1 Idem.
VIOLÊNCIA DE GÊNERO E ÓDIO AO FEMININO 35
tudo o que é bom e expelir tudo o que é mau. Inicialmente, para o Eu-prazer
não há diferença entre o mal, o que é estranho ao Eu e tudo aquilo que se
situa fora do Eu” (p. 148). Nessa perspectiva, a referência egóica se torna
o único crivo de leitura do mundo, a partir da qual será rejeitado/destruído
tudo o mais que destoar de sua própria unidade. Não seria exatamente esse o
mesmo princípio do racismo, em que uma dada normativa torna-se um crivo
totalitário de interpretação, sob o custo de ejetar o que lhe é dessemelhante? G.
Kilomba (2019), em seu livro Memórias da Plantação, dá-nos uma indicação
do quanto o ‘não da igualdade’ participa ativamente na produção do negro
como figura da alteridade, submetida à centralidade normativa do Eu-branco:
2 Idem.
36
bordas corporais, esse grande feito de Eros; e, a ela, sucede a operação respon-
sável por rechaçar/destruir o que escapa aos limites do corpo, de tal maneira a
negativa engendra o não-Eu, reduzindo-o a puro objeto-dejeto. Nessa dialética
entre o ‘sim’ e o ‘não’, a síntese final será sempre o fortalecimento do idêntico,
estabilizando continuamente uma normativa egóica.
É importante lembrar que a lógica de produção da norma, tão bem expli-
citada por Freud na gênese do psíquico, apresenta-se indistinta às estabili-
zações normativas no eixo social: o Eu continua a se apresentar sob a forma
de uma unidade autoreferente, seja no caso de um único Eu, sob o ponto de
3 Idem.
38
A racialização do não
realidade, não imperativa o suficiente para ser dita nem tampouco para
ser ouvida. Tal impossibilidade ilustra como o falar e o silenciar emergem
como um projeto análogo. O ato de falar é como uma negociação entre
quem fala e quem escuta, isto é, entre falantes e suas/seus interlocutoras/
es (Castro Varela e Dhawan, 2003). Ouvir é, nesse sentido, um ato de
autorização em direção à/ao falante (Kilomba, 2020, p. 42).
Assim, tendo em vista que o ato de falar – e neste caso, o ato de recusar a
partir da palavra – é uma negociação, poderia uma mercadoria negociar a sua
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REFERÊNCIAS
Butler, J. (2014). Regulações de gênero. Cadernos pagu, 42, 249-274.
Velasco, C., Grandin, F., Caesar, G. & Reis, T. (2020, 16 out.) Mulheres
negras são as principais vítimas de homicídios; já as brancas compõem
quase metade dos casos de lesão corporal e estupro. G1, Brasil. https://
g1.globo.com/monitor-da-violencia/noticia/2020/09/16/mulheres-negras-
sao-as-principais-vitimas-de-homicidios-ja-as-brancas-compoem-quase-
metade-dos-casos-de-lesao-corporal-e-estupro.ghtml.
AMALGAMES DU NON
Ana Carolina B. Leão Martins
Marília Albuquerque de Sousa
4 Idem.
VIOLÊNCIA DE GÊNERO E ÓDIO AO FEMININO 45
5 Idem.
46
La racialisation du non
est un point de départ, rendant ce qui semble simple, c’est-à-dire la, com-
plexe parole. Ainsi, il est possible de valoriser le lieu de l’énonciation, tout
en impliquant les marques historiques, sociales, raciales et culturelles qui
produisent les silences.
RÉFÉRENCES
Butler, J. (2014). Regulações de gênero. Cadernos pagu, 42, 249-274.
Velasco, C., Grandin, F., Caesar, G. & Reis, T. (2020, 16 outubro) Mulheres
negras são as principais vítimas de homicídios; já as brancas compõem
quase metade dos casos de lesão corporal e estupro. G1, Brasil. https://
g1.globo.com/monitor-da-violencia/noticia/2020/09/16/mulheres-negras-
sao-as-principais-vitimas-de-homicidios-ja-as-brancas-compoem-quase-
metade-dos-casos-de-lesao-corporal-e-estupro.ghtml.
RECUSA DO FEMININO /
RECUSA AO FEMININO:
do impasse freudiano ao enigma lacaniano
Jean-Luc Gaspard
Mélinda Marx
Gabriella Dupim
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Introdução
Em 1937, no texto “Análise terminável e interminável”, Freud torna
a recusa do feminino, para ambos os sexos, um rochedo não analisável, se
opondo à posição de Fliess sobre a determinação do recalque pela biologia
sexual. Além disso, faz desta biologia uma contingência: nascer uma menina
ou um menino. O rochedo do biológico é assim uma tensão entre o corpo
vivo e o sexual, na medida em que uma disjunção radical aparece de um para
o outro. As diferenças psíquicas entre homens e mulheres dependem das
diferenças anatômicas que orientam sua evolução de maneira diferente; o que
Freud resume na aporia: “a anatomia é destino” (tradução nossa)6.
O inconsciente, portanto, não conhece nem o masculino nem o feminino;
um e outro só têm valor em relação a uma falta. Falta esta, visível em pri-
meiro lugar no encontro com o corpo do outro. Assim, o menino, portador do
pênis, vai apreender a falta deste a partir do corpo feminino. Por outro lado,
a menina imaginará essa falta em seu próprio corpo, ao constatar o pênis no
corpo masculino. Esta falta no corpo, Freud a chamará de “falo”. Por tudo
isso, a questão do feminino não está resolvida. Em 1905, Freud observa:
6 Citação original: «l’anatomie, c’est le destin». In: Freud S. (1937). “L’analyse avec fin et l’analyse sans fin”,
in Résultats, idées, problèmes II, Paris, PUF, 1985, p. 268.
7 Citação original: « Il est indispensable de se rendre compte que les concepts de « masculin » et de « féminin »,
dont le contenu paraît si peu équivoque à l’opinion commune, font partie des notions les plus confuses du
domaine scientifique et comportent au moins trois orientations différentes. On emploie les mots masculin
et féminin tantôt au sens d’activité et de passivité, tantôt au sens biologique, tantôt au sens sociologique».
In: Freud S. (1905). Three Essays on Sexual Theory, Paris, Gallimard, 1987 p. 161.
54
8 Citação original: « ce qui fait la masculinité ou la féminité est un caractère inconnu, que l’anatomie ne peut
saisir ». In: Freud S., (1932). “XXXIII palestra: Femininidade”, em Nouvelles conférences d’introduction à la
psychanalyse, Paris, Gallimard, 1984, p. 153.
9 Citação original: « On estime que les femmes ont apporté peu de contributions aux découvertes et aux
inventions de l’histoire de la culture, mais peut-être ont-elles quand même inventé une technique, celle du
tressage et du tissage. S’il en est ainsi, on serait tenté de deviner le motif inconscient de cette réalisation.
C’est la nature elle-même qui aurait fourni le modèle de cette imitation en faisant pousser, au moment de la
puberté, la toison pubienne qui cache les organes génitaux ». Ibid, p. 177.
10 Citação original: « Ce faisant, il nous faut prendre garde de ne pas sous-estimer l’influence des organisations
sociales qui acculent également la femme à des situations passives. Tout cela est encore loin d’être tiré
au clair. […] La répression de son agressivité, constitutionnellement prescrite et socialement imposée à la
VIOLÊNCIA DE GÊNERO E ÓDIO AO FEMININO 55
femme, favorise le développement de fortes motions masochistes qui parviennent à lier érotiquement les
tendances destructrices tournées vers le dedans […]». Ibid, p. 178.
11 Citação original: « l’énigme de la femme ». Ibid, p. 176.
12 Citação original: « le continent noir ». In: Freud, S. (1926). La question de l analyse profane, Paris, Gallimard,
1985, p. 75. Em referência à África através do trabalho do explorador Stanley Through The dark continent.
13 Citação original: « Mais on pourrait dire aussi qu’en témoignant de la façon dont il a rencontré la féminité
comme un continent noir, il a déjà mis Lacan sur la voie de cette dimension de la féminité qui échappe au
symbolique. ». In: Leguil, C., “On the gender of women according to Lacan, Female sexuality beyond the
norms”, in Lacanian subversion of gender theories, Michèle editions, Paris, 2015. p. 67.
14 Citação original: « Il racontait qu’une dame était venue lui demander une analyse ayant interrompu son analyse
précédente dont elle n’était pas satisfaite et lors des entretiens préliminaires elle lui avait dit : ‘’Je viens vous voir
parce qu’au moins vous... vous êtes un homme. » In: Observações relatadas por M.-H. Brousse, Conferência
O que é uma Mulher? 18 de fevereiro de 2000, Côte-des-neiges, Le pont freudien (on-line).
56
É através da recusa que tentaremos lançar luz sobre este “algo”, não para
reduzi-lo ou restringi-lo a uma definição que lhe dê todo o seu significado,
mas para compreender sua lógica no que diz respeito aos modos de gozo.
Para tal, dois casos nos servirão de apoio: o caso do pintor Haizmann, que
Freud desdobra em 1923 enquanto questiona o outro Édipo, e o de Sygne de
Coûfontaine, um personagem trágico de P. Claudel que Lacan lerá em seu
seminário ‘A Transferência’.
A recusa do feminino marca uma diferença da recusa ao feminino.
Enquanto a recusa do feminino é inscrita a partir de uma problemática edi-
A “Querela do phallus”
“Há apenas uma libido que é colocada a serviço tanto da função sexual
masculina quanto da feminina”15 (tradução nossa). O falicismo de Freud não
seria uma crença em um único órgão, mas o reconhecimento de um único traço,
o falo, símbolo de castração para ambos os sexos. Uma primazia fálica que
exclui qualquer ideia de “essência feminina” e indica uma universalidade da
fase fálica. Entretanto, esta posição de Freud, torna-se problemática, levando
a um debate dentro da comunidade analítica sobre a questão da sexualidade
feminina até o final dos anos 30. Sem encontrar uma resolução, culmina no
rompimento da escola freudiana e no surgimento de correntes pós-freudianas.
Surgem assim duas tendências: por um lado, aqueles que, na perspectiva de
Freud, reconhecem que a organização genital infantil se articula em torno do
falo (Escola Vienense); por outro, aqueles para os quais existem dois tipos de
organização libidinal, masculina e feminina (Escola Inglesa).
Entre 1927 e 1935, Ernest Jones retoma a questão da sexualidade femi-
nina, a respeito da existência de uma fase fálica e reduz a controvérsia com
Freud a uma fórmula16: “No final, trata-se de saber se uma mulher nasce mulher,
ou se ela se torna uma17”. Em 1935, em sua conferência: “Sexualidade Femi-
nina Primitiva”, Jones coloca em evidência as diferenças doutrinárias entre a
Escola Vienense e a Escola Inglesa de Psicanálise, dando assim continuidade
ao debate iniciado nos anos 1920. Para E. Jones haveria uma feminilidade
15 Citação original: « Il n’y a qu’une seule libido qui est mise aussi bien au service de la fonction sexuelle
masculine aussi bien que féminine ». In: Freud S., (1932). “XXXIIIª Palestra: Feminilidade”, em Nouvelles
conférences d’introduction à la psychanalyse, Paris, Gallimard, 1984, p. 176.
16 Uma fórmula que Jacques Lacan retomará em “Propostifs pour un Congrès sur la sexualité féminine”, em
Écrits, Paris, Seuil, 1966, p. 725-736.
17 Citação original: « En fin de compte, il s’agit de savoir si une femme naît femme, ou si elle le devient ». In:
Jones E. e Stronck A. (1935). “Primitive female sexuality”, in Théorie et pratique de la psychanalyse, Paris,
Payot, 1969, p. 452.
VIOLÊNCIA DE GÊNERO E ÓDIO AO FEMININO 57
ela acreditaria estar situado no corpo da mãe. A fase fálica aparece a partir daí
como uma defesa contra sua agressividade oral para com a mãe e a angústia
que isso provoca. A fase fálica é uma reação protetora secundária e não uma
verdadeira fase de desenvolvimento.
Para Jones, a mãe não pode satisfazer completamente a menina. E é esta
frustração oral que provoca o primeiro desejo pelo pênis. A fase fálica da
menina é assim reduzida à agressão oral. O autor reconhece na menina uma
posição fálica que procede de uma “atitude afetiva” (tradução nossa)18. Intro-
duzindo o termo “aphanisis” para ambos os sexos, Jones procura identificar
um universal que tornaria possível superar o conceito de castração. Em nome
de uma ordem natural, Jones rejeita a ideia de que a distinção entre os sexos é
uma questão de identificação. Esta abordagem está muito mais preocupada em
fazer da identificação um modo de conservação de objetos. Ao reduzir o falo
ao órgão, E. Jones perde a dimensão simbólica na qual Lacan se baseará nos
anos 50 em sua releitura de Freud. Além disso, ele tem um entendimento equi-
vocado sobre função estruturante da falta de objeto que a castração introduz.
Na primeira fase de seu ensino, Lacan critica a concepção do objeto que
prevalece na época dentro da IPA, replicando que não há relação possível
de objeto sem a mediação do falo. Esta nova orientação baseada na teoria
do significante herdada da linguística estruturalista permite que Lacan se
liberte das doutrinas “obcecado pela relação com o objeto” (tradução nossa)19.
Adverte ainda que “é a questão do pai que centraliza todas as pesquisas de
Freud, todas as perspectivas que ele introduziu na experiência subjetiva”
(tradução nossa)20. No entanto, neste primeiro movimento teórico, Lacan não
está tão interessado em definir especificamente o feminino, mas em inscrever
logicamente o complexo de Édipo a partir da escrita da metáfora paterna.
O objeto fálico, central no problema edipiano e da castração, seria assim
retomado por Lacan em sua dimensão simbólica, na relação do sujeito com a
18 Citação original: « attitude affective ». Ibid, p. 449.
19 Citação original: « obnubilées par la relation d’objet ». In: Lacan J., Les psychoses, Le Séminaire, livre III,
Paris, Seuil, 1981, p. 361.
20 Citação original: « c’est la question du père, qui centre toute la recherche de Freud, toutes les perspectives
qu’il a introduites dans l’expérience subjective ». Ibid, p. 360.
58
linguagem. A partir daí, o circuito do desejo marca o trajeto pelo qual o falo
passa do posto de objeto imaginário que falta à mãe para o de significante
da falta, símbolo do desejo. O significante fálico torna-se o significante
privilegiado do desejo.
Entre 1958 e 1960, vários dos escritos de Lacan abordam a questão do
falo e a diferença dos sexos21. Em seu Seminário livro V, Lacan lembra a “fun-
ção normativa” do complexo de Édipo para todo sujeito, “não simplesmente
na estrutura moral do sujeito, nem em suas relações (com a realidade), mas na
assunção de seu próprio sexo” (tradução nossa)22. Acrescenta ainda que esta
Tornar-se mulher
26 Citação original: « [...] voix du corps, comme si justement ce n’était pas de l’inconscient que le corps prenait
voix ». In: Lacan J., (1972). “L’étourdit”, em Autres écrits, Paris, Seuil, 2001. p. 463.
27 Citação original: « Je me suis pris à me demander récemment s’il n’y aurait pas déjà, au moment de la
prime enfance, une première éclosion vaginale de la libido féminine, qui serait destinée au refoulement, et
à laquelle succéderait ensuite la prédominance du clitoris comme expression de la phase phallique », In:
Abraham K., “Carta a Freud de 3/12/1924”, em ÜVres Complètes, T.II, Payot, 1966.
60
28 Freud conta aqui com os estudos de Jeanne Lampl-de Groot em Souffrance et jouissance, Paris, Aubier, 1983.
29 Citação original: « activité phallique si difficile à croire de la fille à l’égard de sa mère ». In: Freud S., (1932). “XXXIII
palestra: La Féminité”, em Nouvelles conférences d’introduction à la psychanalyse, Paris, Gallimard, 1984, p. 175
30 Citação original: « une ombre à peine capable de revivre, comme s’il avait été soumis à un refoulement
particulièrement inexorable ». Ibid, p. 158.
VIOLÊNCIA DE GÊNERO E ÓDIO AO FEMININO 61
31 Citação original: « gravement lésée, déclare souvent qu’elle voudrait ‘’aussi avoir quelque chose comme ça’’
et succombe à l’envie du pénis qui laisse des traces indélébiles dans son développement et la formation
de son caractère et qui, même dans le cas le plus favorable, n’est pas surmontée sans une lourde dépense
psychique ». Ibid, p. 167.
32 Citação original: « facteur spécifique ». Ibid, p. 166.
33 Citação original: « sous le signe de l’hostilité »É sobre este ponto que Freud observa uma insuficiência no
estudo de Jeanne Lampl de Groot, em La vie sexuelle, Paris, PUF, 1969, p. 153.
62
34 Citação original: « C’est dans la mesure où une femme fait une identification à son père, qu’elle fait à son
mari tous les griefs qu’elle avait fait à sa mère ». In: Lacan J., (1957-1958), Les formations de l’inconscient,
Le Séminaire, livre V, Paris, Seuil, 1998. p. 304.
35 Citação original: « ravage ». In: Lacan J., (1972). “L’étourdit”, em Autres écrits, Paris, Seuil, 2001.
36 Freud S., (1923c) “Une névrose diabolique au XVIIème siècle”, in L’inquiétante étrangeté et autres essais,
Paris, Gallimard, 1985. pp. 267-315.
VIOLÊNCIA DE GÊNERO E ÓDIO AO FEMININO 63
ou seja, que o pai é apenas uma mulher travestida” (tradução nossa)37. O caso
Haizmann está articulado como “o outro Édipo”, um Édipo invertido marcado
pela feminização do filho em sua relação com o pai. Freud distingue a histeria
masculina por uma intensidade sobredeterminada de ódio ao pai, ao mesmo
tempo em que se comporta “como uma menina manifestando a terna posição
feminina em relação ao pai” (tradução nossa)38. Assim, para o menino, dois
modos possíveis do complexo de Édipo emergem: confrontar o pai ou tomá-lo
como objeto de amor; ambos levando inelutavelmente à castração.
Reexaminando a “função do Édipo invertido” em seu seminário “O
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Desejo e sua Interpretação”, Lacan enfatiza: “Se ele quiser tomar o lugar do
pai, ele será castrado”. Se ele quiser tomar o lugar da mãe, ele também será
castrado [...]. Assim, em relação ao falo, o sujeito fica preso em uma alternativa
fechada que não lhe deixa saída” (tradução nossa)39, entre o impossível e o nada.
Recordemos alguns elementos deste caso: em 1678, o pintor Christoph
Haizmann, atormentado pela melancolia desde a morte de seu pai, foi tomado
por um violento ataque de convulsões durante uma missa dominical. Diante
do juiz, ele confessa ter assinado dois pactos com o diabo nove anos antes –
um com tinta e o outro com seu próprio sangue. Foi somente quando o pacto
expirou (cerca de um mês antes) que o sintoma apareceu, levando Haizmann
a solicitar seu primeiro exorcismo. “Eu, Christoph Haizmann, constituo-me
por este escrito a este Senhor, seu filho, um servidor corpóreo durante nove
anos” (tradução nossa)40.
Enfatizemos a forma estranha que este pacto assume. De fato, a castração
está inscrita em uma estrutura de troca no qual o que se ganha é uma perda
adicional, enquanto o sujeito se torna um objeto de troca, inscrito na rede
simbólica. No caso de Haizmann, pelo contrário, o sujeito se compromete
com o pacto sem nenhuma contrapartida, inscrevendo-se sobretudo como
um objeto entregue ao gozo do pai. Em outras palavras, onde Fausto acusa o
que o diabo poderia lhe oferecer com desdém, Haizmann não pede nada. Isto
porque aqui o diabo é apenas um homem de palha, o tolo do rei.
O exorcismo seria um confronto com o pai, no qual Haizmann sai vito-
rioso, enquanto a melancolia cede lugar a um período de exaltação. No entanto,
isto é apenas por um curto período. Logo as convulsões e visões, às vezes
37 Citação original: « le plus radical du névrosé, à savoir que le père ne soit que femme travestie ». In: André
S., (1984). “Christophe Haizmann, ou a dramaturgia de um Nom-du-Père”, Quarto, 17. p. 23.
38 Citação original: « comme une fille en manifestant la position féminine tendre envers le père ». In: Freud S.,
(1923b). “The ego and the id”, em Essays on Psychoanalysis, Paris, Payot, 1981.
39 Citação original: « s’il veut prendre la place du père, il sera châtré. S’il veut prendre la place de la mère, il
le sera aussi [...]. Ainsi, par rapport au phallus, le sujet est pris dans une alternative close qui ne lui laisse
aucune issue ». In: Lacan, J., (1959). Ornicar ? 1983, N. 26-27. p. 36
40 Citação original: « Moi, Christoph Haizmann, me constitue par cet écrit à ce Seigneur son fils inféodé de
corps pour neuf ans. En l’an 1669 ». In: Freud S., (1923c). “ Une névrose diabolique au XVIIème siècle”, in
L’inquiétante étrangeté et autres essais, Paris, Gallimard, 1985. p. 282.
64
Freud nunca fala de frustração. Ele fala da Versagung, que está muito mais
adequadamente inscrita na noção de denúncia, no sentido de que dizemos
denunciar um tratado, no qual se fala da retirada de um compromisso. Isto
46 Citação original: « conséquence de la rébellion face à la castration ». In: Freud S., (1923c) “Une névrose
diabolique au XVIIème siècle”, in L’inquiétante étrangeté et autres essais, Paris, Gallimard, 1985. p. 295.
47 Citação original: « son expression la plus forte dans le fantasme opposé qui consiste à castrer le père lui-
même ». Ibid, p. 295.
48 Citação original: « une projection de la féminité propre sur le substitut du père ». Ibid, p. 293.
49 Freud, S. (1912). “On the types of entry into neurosis”, em Neurosis, psychosis and perversion, Paris, PUF, 1973.
66
50 Citação original: « Freud ne parle-t-il jamais de la frustration. Il parle de la Versagung, qui s’inscrit beaucoup
plus adéquatement dans la notion de dénonciation, au sens où on dit dénoncer un traité, où on parle du
retrait d’un engagement. Cela est si vrai que l’on peut même à l’occasion mettre la Versagung sur le versant
opposé car le mot peut vouloir dire à la fois promesse et rupture de la promesse ». In: Lacan, J. (1956-1957),
The Object Relationship, The Seminar, Livro IV, Paris, Seuil, 1994. 27/02/1957.
51 Claudel, p. (1911). “L’otage”, em L’otage seguido por Le pain dur e Le père humilié, Paris, Folio,
Gallimard, n. 170.
52 Citação original: « ils se donnent l’un à l’autre leur foi pour perpétuer et le nom et la race et la terre de
Coûfontaine ». In: Julien, P. (1995), L’étrange jouissance du prochain. Éthique et psychanalyse, Paris, Le
Seuil. p. 131.
VIOLÊNCIA DE GÊNERO E ÓDIO AO FEMININO 67
uma reconciliação final com seu marido por um tique nervoso, uma espécie
de tremor convulsivo que distorce seu belo rosto” (tradução nossa).53
Sygne morre, mas desta vez o padre não recebe nada. Ela recusa “a paz,
o abandono, a oferta de si mesma a Deus [...] Sygne não encontra, de forma
alguma, nada que a reconcilie com uma fatalidade [...] O sacrifício de Sygne
de Coûfontaine a leva apenas ao escárnio absoluto de seus fins” (tradução
nossa)54. Assim, onde na antiga tragédia, o herói estava assujeitado ao Deus
do destino, a Éris, na tragédia moderna se encontra presa ao fato de que “o
Deus do destino está morto” (tradução nossa)55.
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53 Citação original: « Sygne, mourante, ne prononce pas un mot: elle signale simplement son rejet d’une ultime
réconciliation avec son mari par un tic nerveux, une sorte de saccade convulsive qui déforme son beau visage ».
In: Zizek, S. (1996). Ensaio sobre Esquemas. Le reste qui n’éclôt jamais, Paris, L’Harmattan. p. 157.
54 Citação original: « la paix, l’abandon, l’offrande de soi-même à Dieu […] Sygne ne peut trouver, par aucun
biais, quoi que ce soit qui la réconcilie avec une fatalité […] Le sacrifice de Sygne de Coûfontaine n’aboutit
qu’à la dérision absolue de ses fins ». In: Lacan, J. (1960-1961), Le transfert, Le Séminaire, Livre VIII, Paris,
Le Seuil, 1991. p. 325.
55 Citação original: « le Dieu du destin est mort ». Ibid, p. 355.
68
Conclusão
56 Citação original: « réponse en défaut » à « la profonde Verwerfung de la femme, son profond rejet en tant qu’être ».
In: Lacan J., (1957-1958), Les formations de l’inconscient, Le Séminaire, livre V, Paris, Seuil, 1998. p. 350.
57 Citação original: « le caractère radicalement mauvais que l’homme entretient avec l’homme, et ce qui est
au cœur de son destin, cette Ding ». In: Lacan, J. (1959-1960). The Ethics of Psychoanalysis, The Seminar,
livro VII, Paris, Seuil, 1986. p. 116.
58 Citação original: « ce qui, dans la vie, peut préférer la mort ». In: Lacan J., (1957-1958), Les formations de
l’inconscient, Le Séminaire, livre V, Paris, Seuil, 1998. p. 124
VIOLÊNCIA DE GÊNERO E ÓDIO AO FEMININO 69
que isso, foi o que pôde fazer enigma, além de seus corpos, que provocou a
ira dos Inquisidores.
Como sublinha A. Lebovits-Quenehen: “Aqueles que se sentem atordoa-
dos, esmagados, angustiados pelas mulheres, posto que sua relação com esta
Alteridade que os habita é às vezes palpável e os faz lembrar delas, aqueles
que se recusam a cair sob seu charme, muitas vezes as maltratam, começando
por difamá-las, por lhes dit-femme”, observa Lacan, brincando muito apropria-
damente com o equívoco59”. O corpo da mulher porta este ponto de absoluta
diferença que a torna ao mesmo tempo Outra para si mesma, e pode despertar
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59 Citação original: « Ceux que les femmes stupéfient, dépassent, angoissent, tant leur rapport à cette Altérité
qui les habite est parfois palpable et leur rappelle alors la leur, ceux donc qui se refusent à tomber sous leur
charme, les maltraitent souvent, en commençant par les diffamer, par les dit-femmer, note Lacan en jouant
très à propos sur l’équivoque». In: Lebovits-Quenehen A., (2020). “Actualité de la haine, une perspective
psychanalytique”, Paris, Navarin Éditeur. p. 121.
60 Citação original: « refus de la féminité ». In: Freud S., (1937) “L’analyse avec fin et l’analyse sans fin”, in
Résultats, idées, problèmes II, Paris, PUF, 1985. p. 266.
61 Citação original: « Pour Freud comme pour Lacan, le genre femme est plutôt un cheminement pour le sujet,
cheminement hors programme, ne devant rien à la nature, assez peu aussi, finalement, à la culture au sens
des normes de genre, mais relevant plutôt d’une rencontre avec un inassimilable ». In: C. Leguil, (2015).
Sobre o gênero das mulheres segundo Lacan, La sexualité féminine par-delà les normes, in Subversion
lacanienne des théories du genre, éditions Michèle, Paris. p. 65.
70
REFERÊNCIAS
Abraham K. (1966). Carta a Freud de 3/12/1924, In Oeuvres Complètes, T.II,
Payot, 1966.
Freud S., (1922). La tête de Méduse, In Résultats, idées, problèmes II, Paris,
PUF, 1985, pp. 49-50.
Lacan, J. (1955-1956). Les psychoses, Le Séminaire, livre III. Paris, Seuil, 1981.
Lacan, J. (1956-1957). The Object Relationship, The Seminar, livre IV. Paris,
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Seuil, 1994.
Introduction
En 1937, dans le texte Analyse avec fin et analyse sans fin, Freud fait du
refus du féminin, pour les deux sexes, un roc inanalysable. Il s’oppose aussi
à la position de Fliess sur la détermination du refoulement par la biologie
sexuelle. Bien plus, il fait de ce biologique une contingence : naître fille ou
naître garçon. Le roc du biologique est donc une mise en tension du corps
vivant et du sexuel, en tant que de l’un à l’autre apparaît une disjonction radi-
cale. Les différences psychiques entre les hommes et les femmes dépendent
des différences anatomiques qui orientent différemment leur évolution ; ce
qu’il résume dans l’aporie : « l’anatomie, c’est le destin »58.
L’inconscient ne connaîtrait donc ni le masculin, ni le féminin ; l’un et
l’autre ne prenant valeur que par rapport à un manque. Ce manque est, en
premier lieu, visible sur le corps dans la rencontre de l’autre. Ainsi, l’enfant
garçon, porteur du pénis, appréhendera le manque (de pénis) sur le corps
féminin. À l’inverse, l’enfant fille envisagera ce manque sur son propre corps,
de voir le pénis sur le corps masculin. Ce manque sur le corps, Freud le
nommera « phallus ». Pour autant, la question du féminin ne s’en trouve pas
réglée. En 1905, Freud note : « Il est indispensable de se rendre compte que
les concepts de « masculin » et de « féminin », dont le contenu paraît si peu
équivoque à l’opinion commune, font partie des notions les plus confuses du
domaine scientifique et comportent au moins trois orientations différentes. On
emploie les mots masculin et féminin tantôt au sens d’activité et de passivité,
tantôt au sens biologique, tantôt au sens sociologique. »62 Dans ce premier
temps d’élaboration, Freud va avant tout s’attacher à définir le masculin et
le féminin d’un point de vue libidinal. Au masculin, il attribuera l’activité
pulsionnelle, au féminin la passivité. Une conception sur laquelle il reviendra
dans son texte sur La Féminité de 1932, préférant parler d’activité à but passif.
Toutefois, là encore, il rappelle : « ce qui fait la masculinité ou la féminité
62 Freud S. (1905). Trois essais sur la théorie sexuelle, Paris, Gallimard, 1987 p. 161.
74
a déjà mis Lacan sur la voie de cette dimension de la féminité qui échappe
au symbolique. »68
Avec Lacan, le féminin sera élevé au rang d’énigme propre à toute struc-
ture. Qu’est-ce qu’une énigme ? Une énonciation, un mi-dire de la vérité, telle
la question que pose la Sphynge à quiconque veut entrer dans la cité de Thèbes,
et à laquelle Œdipe répondra pour son plus grand malheur. Rappelons que la
Sphynge, la chimère n’est ni homme, ni femme, ni humain, ni animal. Bien au
contraire, le monstre ailé opacifie, rend flou ce qui assure (« normalement »)
au sujet de savoir à quoi ou à qui il a affaire. Comment ne pas rappeler cette
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68 Leguil, C., « Sur le genre des femmes selon Lacan, La sexualité féminine par-delà les normes », in Subversion
lacanienne des théories du genre, éditions Michèle, Paris, 2015. p. 67.
69 Propos rapporté par M.-H. Brousse, Conférence Qu’est-ce qu’une femme ?, 18 février 2000, Côte-des-neiges,
Le pont freudien (en ligne).
76
La « Querelle du phallus »
« Il n’y a qu’une seule libido qui est mise aussi bien au service de la
fonction sexuelle masculine aussi bien que féminine »70. Tel est le phallicisme
de Freud : non pas comme croyance en un seul organe mais comme recon-
naissance d’un trait unique, le phallus, symbole de la castration pour les deux
sexes. Un primat phallique qui exclut toute idée d’une « essence féminine »
et qui indique une universalité de la phase phallique. Or, cette position qui
s’affirme chez Freud s’avérera problématique, animant un débat au sein de
73 Ibid., p. 449
74 Lacan J., Les psychoses, Le Séminaire, livre III, Paris, Seuil, 1981, p. 361.
75 Ibid., p. 360
76 Les séminaires IV sur La relation d’objet, V sur Les formations de l’inconscient et VI sur Le désir et son
interprétation, entre lesquels s’intercalent deux textes : La signification du phallus et Propos directifs pour
un congrès sur la sexualité féminine. Ce dernier texte écrit en 1958 sera présenté à l’occasion d’un colloque
sur le thème de la sexualité féminine à Amsterdam en 1960.
78
la réalité), mais dans l’assomption de son propre sexe »77. Il ajoute que cette
assomption du sujet à son sexe « est le fait qu’un homme assume son type
viril, que la femme s’identifie à ses fonctions de femme. La virilisation et la
féminisation, voilà les deux termes qui sont essentiellement la fonction de l’
Œdipe »78. La résolution, au troisième temps, en passe par une identification
au père, en tant que celui qui a. Le sujet réalise alors un pacte symbolique,
un renoncement au phallus pour que le désir se pérennise ; destin d’un sujet
qui a consenti à la castration, sacrifiant une part de jouissance au nom du
père mort. Toutefois, la normalisation de l’Œdipe ne résorbe pas totalement
77 Lacan J., (1957-1958), Les formations de l’inconscient, Le Séminaire, livre V, Paris, Seuil, 1998. p. 141.
78 Ibid., p. 141.
79 Ibid., p. 141.
80 Lacan déplie tout particulièrement la question de la sexualité féminine au travers de trois séminaires « D’un
discours qui ne serait pas du semblant », « Encore », « Ou pire ».
81 Lacan J., (1972). « L’étourdit », in Autres écrits, Paris, Seuil, 2001. p. 463.
VIOLÊNCIA DE GÊNERO E ÓDIO AO FEMININO 79
devient avant tout coupure entre les sexes, car relevant avant tout d’un statut
particulier de la jouissance pour le sujet. Avec ses formules de la sexuation,
Lacan extrait deux jouissances consubstantielles : la jouissance phallique en
tant que jouissance sexuelle se référant dans sa substance à une jouissance
Autre, qui en est le supplément. Ce supplément n’est pas complément, mais
vient comme un « en plus » de la jouissance phallique. Et si la jouissance
féminine est posée comme le supplément de la jouissance phallique, elle en
est, en même temps, son point de référence. Le complexe d’ Œdipe apparaît
dès lors articulé à une limite que le sujet peut rencontrer dans l’expérience
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du langage. La jouissance Autre est une jouissance qui passe par la parole et
sa logique, mais qui ne peut pas se dire, ni s’élaborer en un savoir. Ainsi, il
n’y a pas de transmission possible de la féminité. Chaque femme aura donc
à inventer sa propre solution pour y suppléer.
Devenir femme
82 Abraham K., « Lettre à Freud du 3/12/1924 », in Œuvres Complètes, T.II, Payot, 1966.
83 Freud s’appuie ici des études de Jeanne Lampl-de Groot in Souffrance et jouissance, Paris, Aubier, 1983.
84 Freud S., (1932). « XXXIIIe conférence: La Féminité », in Nouvelles conférences d’introduction à la
psychanalyse, Paris, Gallimard, 1984, p. 175.
80
85 Ibid., p. 158
86 Ibid., p. 158
VIOLÊNCIA DE GÊNERO E ÓDIO AO FEMININO 81
87 Ibid., p. 167
88 Ibid., p. 166
89 C’est sur ce point que Freud note une insuffisance de l’étude de Jeanne Lampl de Groot, in La vie sexuelle,
Paris, PUF, 1969, p. 153.
90 Lacan J., (1957-1958), Les formations de l’inconscient, Le Séminaire, livre V, Paris, Seuil, 1998. p. 304
91 Lacan J., (1972). « L’étourdit », in Autres écrits, Paris, Seuil, 2001.
82
92 Freud S., (1923c)) « Une névrose diabolique au XVIIème siècle », in L’inquiétante étrangeté et autres essais,
Paris, Gallimard, 1985. pp. 267–315.
93 André S., (1984). « Christophe Haizmann, ou la dramaturgie d’un Nom-du-Père », Quarto, 17. p. 23
94 Freud S., (1923b). « Le moi et le ça », in Essais de psychanalyse, Paris, Payot, 1981.
95 Lacan, J., (1959). Ornicar ?, 1983, N°26-27. p. 36
VIOLÊNCIA DE GÊNERO E ÓDIO AO FEMININO 83
forme étrange que prend ce pacte. En effet, la castration s’inscrit dans une
structure d’échange où ce qui est gagné est une perte supplémentaire, tandis
que le sujet devient objet d’échange, inscrit dans le réseau symbolique. Au
contraire, dans le cas d’Haizmann, le sujet s’engage dans le pacte sans aucune
contre-partie, s’y inscrivant avant tout comme objet livré à la jouissance du
père. Autrement dit, là où Faust accuse d’un dédain ce que le diable pourrait
lui offrir, Haizmann ne demande rien. C’est bien qu’ici le diable n’est qu’un
homme de paille, le fou du roi.
L’exorcisme est affrontement contre le père, dont Haizmann sort victorieux
en même temps que la mélancolie laisse sa place à une période d’exaltation.
Toutefois, ce ne sera que pour une courte durée. Bientôt, les convulsions et les
visions tantôt diaboliques, tantôt mystiques, reviendront conduisant Haizmann
à demander un second exorcisme. A la suite de quoi, Haizmann deviendra
ermite de Notre-Dame avant d’entrer dans l’ordre des Frères de la charité. Si,
à la sortie de son exorcisme, les fantasmes de tentations sont transformés en
fantasme d’ascèse, ce ne sera toutefois qu’au prix d’une intense culpabilité.
Pour Freud, Haizmann souffre d’un « deuil pathologique »97 qui le conduit
à une impasse, une impuissance à dialectiser l’ambivalence de sa relation
au père. Une ambivalence qui apparaît dans la forme même qu’emprunte le
diable pour lui apparaître : comme bourgeois pour le séduire ou animal cornu
et fourchu pour en marquer la férocité. Le diable est un « substitut direct
du père »98, traduction de la haine refoulée du père, fixant Haizmann à une
position d’« éternel nourrisson »99. L’affrontement du père dans l’exorcisme
apparaît ainsi comme un jeu de pur semblant, tandis que l’enjeu du piège que
met en place Haizmann vise à le préserver de la castration. L’affrontement du
père dans l’exorcisme n’est toutefois qu’une face de la logique à l’œuvre, celle
de l’identification au père mort. Un affrontement qui ne conduit toutefois pas
96 Freud S., (1923c). « Une névrose diabolique au XVIIème siècle », in L’inquiétante étrangeté et autres essais,
Paris, Gallimard, 1985. p. 282
97 Ibid., p. 303
98 Ibid., p. 286
99 Ibid., p. 314
84
à la castration, mais participe bien plus de son élision. Ainsi, l’entrée dans les
ordres d’Haizmann semble avant tout comme une restauration du Père, sous
la robe ; autre face, celle de l’identification au rien.
Le fantasme de grossesse que Freud induit à partir de la temporalité des
pactes (9 ans) et du nombre de tentations subies (9), est la mise en scène du
souhait d’avoir un enfant du père ; un fantasme refoulé, réactivé à la mort du
père. Dans ses tableaux peints lors de son séjour chez sa sœur entre les deux
exorcismes, le diable est représenté pourvu de seins ou « avec un grand pénis
qui se termine en serpent »100. Le phallus, n’est-ce pas là une invention de
105 Freud, S. (1912). « Sur les types d’entrée dans la névrose », in Névrose, psychose et perversion, Paris,
PUF, 1973.
106 Lacan, J. (1956-1957), La relation d’objet, Le Séminaire, livre IV, Paris, Seuil, 1994. 27/02/1957
107 Claudel, P. (1911). « L’otage », in L’otage suivi de Le pain dur et Le père humilié, Paris, Folio, Gallimard,
n. 170.
108 Julien, P. (1995), L’étrange jouissance du prochain. Éthique et psychanalyse, Paris, Le Seuil. p. 131.
86
naît, il lui fait une seconde proposition : si son cousin accepte d’abandonner
tous ses droits en sa faveur, et si elle accepte que le nom de Coûfontaine passe
à cette descendance mésalliée, il signera, quant à lui, la reddition de Paris aux
mains des royalistes. Le marché est conclu et est rendu au roi son royaume.
L’histoire de Sygne s’achève sur un combat entre Georges et Turelure dont
elle prendra la balle qui lui était destiné. Et tandis qu’elle est étendue sur son
lit de mort, son confesseur Badilon lui demande de pardonner à son mari.
« Sygne, mourante, ne prononce pas un mot : elle signale simplement son
rejet d’une ultime réconciliation avec son mari par un tic nerveux, une sorte
109 Zizek, S. (1996). Essai sur Schelling. Le reste qui n’éclôt jamais, Paris, L’Harmattan. p. 157
110 Lacan, J. (1960-1961), Le transfert, Le Séminaire, Livre VIII, Paris, Le Seuil, 1991. p. 325
111 Ibid., p. 355
VIOLÊNCIA DE GÊNERO E ÓDIO AO FEMININO 87
que parce que l’Autre est incomplet. La grimace devient masque de l’horreur,
« réponse en défaut » à « la profonde Verwerfung de la femme, son profond
rejet en tant qu’être »112 ; moment de vacillement du fantasme dans le trou béant
de la nomination. Un vacillement du fantasme au point de franchissement de
la barrière du beau ; là où le beau fait horreur.
Avec Sygne, la Versagung devient « perdition », trahison de l’Autre.
Sygne illustrera dès lors la position d’un sujet qui, par son refus, porte la tra-
hison de l’amour jusqu’à l’anéantissement du père. Sygne rencontre la limite
du phallique, en même temps que s’accomplit un désastre subjectif. Le monde
à jamais déchiré, est marqué définitivement par la possibilité du mal. Or, « le
caractère radicalement mauvais que l’homme entretient avec l’homme, et ce
qui est au cœur de son destin, cette ding »113 comme passion humaine la plus
fondamentale. Das Ding, terme hérité de Freud, est repris pas Lacan pour
marquer la béance au cœur du symbolique, lui permettant de rendre compte
de la position conflictuelle de l’homme quant à sa satisfaction ; opposition
qui, chez Freud, s’inscrit dans la différence entre une libido du moi et une
libido d’objet. Avec Lacan, das Ding devient cet Autre, objet préhistorique,
hostile, étranger autant qu’étrange. Il ouvre par là à une dimension qui n’est
plus celle du désir de la mère conçu comme ce qui peut se dire dans le cadre
de la castration, mais à celle qui renvoie à un « ne peut pas se dire » irréduc-
tible. Ainsi, dans la détresse où l’homme (dans son rapport à sa propre mort)
n’a à attendre d’aide de personne s‘approche de ce champ de Das Ding, lieu
d’abandon où « ce qui, dans la vie, peut préférer la mort »114.
Conclusion
112 Lacan J., (1957-1958), Les formations de l’inconscient, Le Séminaire, livre V, Paris, Seuil, 1998. p. 350
113 Lacan, J. (1959-1960). L’éthique de la psychanalyse, Le Séminaire, livre VII, Paris, Seuil, 1986. p. 116
114 Lacan J., (1957-1958), Les formations de l’inconscient, Le Séminaire, livre V, Paris, Seuil, 1998. p. 124
88
toutes les femmes seront conduites au bûcher. Bien plus, c’est ce qui a pu
faire énigme, au-delà de leur corps, qui déchaîna l’Inquisiteur.
Comme le souligne A. Lebovits-Quenehen :
Ceux que les femmes stupéfient, dépassent, angoissent, tant leur rapport
à cette Altérité qui les habite est parfois palpable et leur rappelle alors la
leur, ceux donc qui se refusent à tomber sous leur charme, les maltraitent
souvent, en commençant par les diffamer, par les dit-femmer, note Lacan
en jouant très à propos sur l’équivoque.115
115 Lebovits-Quenehen A., (2020). « Actualité de la haine, une perspective psychanalytique », Paris, Navarin
Éditeur. p. 121
116 Freud S., (1937) « L’analyse avec fin et l’analyse sans fin », in Résultats, idées, problèmes II, Paris, PUF,
1985. p. 266
117 C. Leguil, (2015). Sur le genre des femmes selon Lacan, La sexualité féminine par-delà les normes, in
Subversion lacanienne des théories du genre, éditions Michèle, Paris. p. 65
VIOLÊNCIA DE GÊNERO E ÓDIO AO FEMININO 89
RÉFÉRENCES
Abraham, K. (1924). « Lettre à Freud du 3/12/1924 », In Oeuvres Complètes,
T.II, Payot, 1966.
Gorog, J.-J. (2016). Dire que non, quelques remarques sur le transfert,
Paris, Hermann.
Lacan, J. (1955-1956). Les psychoses, Le Séminaire, livre III, Paris, Seuil, 1981.
Leguil, C. (2015). « Sur le genre des femmes selon Lacan, La sexualité fémi-
nine par-delà les normes », In Subversion lacanienne des théories du genre,
Éditions Michèle, Paris.
Zizek, S. (1996). Essai sur Schelling. Le reste qui n’éclôt jamais, Paris,
L’Harmattan.
SOBRE A FANTASIA
“NÓS MATAMOS UMA MULHER”
Marie-José Grihom
118 Grihom Marie-José, “Por que o silêncio? Violence sexuelle et lien de couple”, Dialogue, 208, 2015, pp. 71-84;
Grihom Marie-José, “Être à soi-même sa propre fin ou être un maillon : femme victime en déroute subjective
dans ses liens”, Dialogue, 204, 2014, pp. 49-61.
119 Chauvaud Frédéric, O caso Pranzini: aventureiro, Don Juan... e assassino de mulheres? Paris, Georg Editeur,
2018, 232 pp.
120 Lacan Jacques, “Motifs du crime paranoïaque – Le crime des soeurs Papin”, in De la psychose paranoïaque
dans ses rapports avec la réalité suivi de Premiers écrits sur la paranoïa, Paris, Seuil, 1975, p. 25-37.
92
O gênero é um nó?
Algumas teses antropológicas nos permitem concordar com a idéia de
assassinato com base no gênero. Assim, na perspectiva antropológica de Fran-
121 Co-diretor científico do projeto de pesquisa “Corpos da mulher e violência conjugal”. Abordagens psicológi-
cas, históricas, jurídicas e sociológicas”, financiado pela Maison Interuniversitaire des Sciences de l’Homme
Alsace, dirigida por Claire Metz. As mulheres vítimas de violência foram encontradas através de uma rede
associativa sobre violência de gênero. Foi-lhes oferecida uma entrevista semi-diretiva com um psicólogo
clínico. As entrevistas foram submetidas a uma análise textual e clínica.
122 Héritier Françoise, Masculin-Fémininin, tomo II : Dissoudre la hiérarchie, Paris, Odile Jacob, 2012, 443 p.
123 Héritier Françoise, op. cit., p. 26.
124 Metz Claire, Chevalerias Marie-Pierre e Thevenot Anne, “Les violences dans le couple au risque d’en
mourir, paroles de femmes”, Annales Médico-psychologiques, 2017, pp. 692-697; Atani Torasso Louise, “’’As
mulheres nascem para sofrer’’ no contexto da circuncisão feminina: um legado de humilhação e vergonha
a ser elaborado”, Dialogue, 208, 2, 2015/2, pp. 45-56.
125 Romito Palmira, “Les violences conjugales post-séparation et le devenir des femmes et des enfants”, La revue
internationale de l’éducation familiale, 2011, 1, n. 29, 87 a 105; Hamel Christelle, “Violences et rapports de
genre. Contexto e consequências da violência sofrida por mulheres e homens”, pesquisa VIRAGE, Documento
de trabalho 212, INED, 2014.
VIOLÊNCIA DE GÊNERO E ÓDIO AO FEMININO 93
está em jogo tanto para homens quanto para mulheres nestes casos126, que são
representativos da normalização sócio-religioso-política do assunto em um
contexto de fortes diferenças de gênero. Alguns dos testemunhos recolhidos no
estudo citado das mulheres de cultura europeia também são impressionantes:
“A violência doméstica e os conflitos conjugais são a mesma coisa” ou “No
início, achei normal porque era meu marido” ou, finalmente, em resposta à
pergunta da psicóloga: “Ah perigo? Ele não tinha uma faca, então não!”.
Além do conflito de gênero que temos delineado, estamos lidando com
questões sexuais. Devemos considerar que o “sexual”, como uma realidade
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126 Metz Claire e Razon Laure, “Les violences conjugales”. Bilan des dispositifs et propositions d’amélioration”,
Relatório para a Missão de Recherche Droit et Justice, 2016. Disponível no site da Missão.
127 Ver a este respeito Freud Sigmund, Three Essays on Sexual Theory, Paris, PUF, 2012, 3. ed; “L’organisation
génitale infantile”, 1923, La vie sexuelle, Paris, PUF, pp. 113-116; Pulsions et destins des impulsions, 1915,
em OCFP, vol. XIV, Paris, PUF, 2000; “Les théories sexuelles infantiles”, La vie sexuelle, 1908, Paris, PUF,
ed. 1977, p. 14-27; “La disparition du complexe d’eudipe”, 1923, La vie sexuelle, Paris, PUF, 1977, p. 117-122;
“Quelques conséquences psychiques de la différence anatomique entre les sexes” (Algumas consequências
psíquicas da diferença anatômica entre os sexos), 1925, La vie sexuelle, Paris, PUF, 1977, p. 123-132.
94
128 Houzel Didier, “ Les dimensions de la parentalité “, Journal de la Psychanalyse de l’enfant, 21, 1997, p.
164-190.
129 Guyotat Jean, Filiation et puerpéralité. Logiques du lien, Paris, Masson, 1993, 159 p.
130 Aulagnier Piera, La violence de l’interprétation, Paris, PUF, 1975, ed. 1991, 363 p. ; Aulagnier Piera, L’apprenti
historien et le maître sorcier, Paris, PUF, 1984, 276 p.
131 Observemos que este sentimento se baseia em parte na repressão das identificações do Édipo negativo e,
portanto, em uma má compreensão da bissexualidade psíquica e da divisão psíquica.
132 O exercício no nível simbólico, a experiência no nível psíquico e inconsciente, a prática do gênero no nível
consciente-preconsciente.
VIOLÊNCIA DE GÊNERO E ÓDIO AO FEMININO 95
O autor então insiste no trio infernal do complexo de Édipo antes que ele
se desfaça (um verdadeiro fim do mundo) sob a ameaça de castração e a neces-
sidade de repressão e leve à triangulação. De uma ausência de diferenças (dos
sexos e das gerações), o sujeito passará à obrigação de lidar com a diferença.
133 André Jacques, “La fin du monde”, Revue française de psychanalyse, 76, 5 2012, pp. 1523-1528.
96
O “fim do mundo” dos impulsos que ele experimentará “está além do que
precede, a tirania do superego traz o traço dele, tanto que a intransigência de
suas injunções vai muito além do que a possível severidade dos pais foi134”.
A partir de então, a violência dos desejos assassinos, visando o pai para o
menino, e a mãe para a menina, adotará o caminho da fantasia para retornar.
A fantasia evoca imediatamente uma visão interna, uma apresentação
pictórica e uma cena (falamos de um cenário imaginário) que permite a passa-
gem entre dois sistemas psíquicos (consciente, pré-consciente e inconsciente).
“A fantasia pode de fato ser vivida e verbalizada ao ar livre e em plena luz do
139 Assoun Paul-Laurent, Leçons psychanalytiques sur Masculin et Fémininin, Paris, Poche Psychanalyse,
coleção Anthropos, 2010, p. 63.
140 Assoun Paul-Laurent, op. cit.
141 Grihom Marie-José, Grollier Michel, “Introduction” Femmes victimes de violences conjugales. Une approche
clinique, Rennes, PUR, 2013, p. 7-11.
142 Freud Sigmund, Uma Criança é Derrotada, 1919. Contribution à la connaissance de la genèse des perversions
sexuelles, in OCFP, vol. XV, Paris, PUF, 1995.
143 Assoun Paul-Laurent, op. cit., p. 59. Donard Véronique, “Sacrificando a Mãe”, Topique, 117(4) 2011, p.
131-142.
98
seja, a forma como o pai recebe a pulsação de seu filho147, a interpretação que
ele dá do feminino e a que o sujeito produz a partir da resposta inconsciente
de seu pai. A vinheta clínica esclarecerá o peso da dimensão intersubjetiva na
relação com o feminino.
A recusa do feminino
Foi por ter visto um deles que Pentheus, bisavô de Jocasta, foi devorado
por suas tias (Ino e Autonoia), sua mãe (Agave) e seu pai (Athamas)
levados à loucura por Hera. Polydoros, bisavô de Édipo, também deveria
ter morrido da mesma forma e pela mesma causa. A linhagem de Tebas
de ambos os lados é atingida por esta morte devido a um conhecimento
do prazer feminino, um ver-isso149.
147 Penot Bernard, La passion du sujet freudien, Toulouse, Érès, 2001, 184 p.
148 Assoun Paul-Laurent, Leçons psychanalytiques sur Masculin et Fémininin, Paris, Poche Psychanalyse,
coleção Anthropos, 2010, p. 91.
149 Lesourd Serge, “Le genre serait une névrose”, Cliniques méditerranéennes, 92, 2, 2015, p. 149-160.
100
vários filhos, todos os quais, segundo ela, foram colocados sob os cuidados
de seu pai após a violência. Ela mesma fala com pouco entusiasmo das “coi-
sas” que experimentou na época. Ela então estabeleceu um relacionamento
com outro homem, o pai de seu filho, a quem ela eventualmente deixou por
causa dos golpes e ferimentos que ele recebeu. Quando criança, ela mesma
foi exposta à violência doméstica de seus pais: “Eu também vi a violência
de meu pai para com minha mãe”. Tendo sido privada de seu pai de 7 a 14
anos, aparentemente por causa dos obstáculos colocados pela mãe, ela não
quer que seus filhos passem pela mesma história...
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156 De Mijolla-Mellor Sophie, La mort donnée. Essai de psychanalyse sur le meurtre et la guerre, Paris, PUF,
2011, 336 p.
102
assim que ela tenta dizer ou afirmar sua autonomia a violência redobra como
se ele estivesse em perigo de ser severamente passivo, o que dizer dela? Como
podemos entender esta submissão a tal violência?
mas eu sempre fui rejeitada porque eu, minha mãe e meu pai... eu não era
desejada, o aborto não funcionava comigo, era tarde demais”. A submissão
ao outro, o rejeitador e violento, parece ter sua origem ali.
Minha mãe me disse quando eu tinha seis anos: “Se ao menos o aborto
tivesse funcionado para você!” Isso sempre me marcou, sempre senti
que minha mãe era muito, muito, muito severa comigo, mas eu ainda a
amava apesar de tudo, ainda cuidava dela, fazia meu papel de filha mais
velha apesar de tudo e ela era muito, muito má. Minha mãe ela também
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costumava me bater.
Conclusão
157 Bastien Danièle, “Fais de moi ce que tu veux à condition que j’existe pour toi, par toi”, in De Neuter P. et
Frogneux N. Violences et agressivités au sein du couple, vol. 2, Louvain-La-Neuve, Académia Bruylant,
2009, p. 43-49.
158 Grihom Marie-José e Reible Sylvain, “Un possible parcours de subjectivation chez les femmes sous emprise”,
em Grihom M.-J. e Grollier M. (dir.), Femmes victimes de violences conjugales. Une approche clinique,
Rennes, PUR, 2013, p. 109-121.
104
REFERÊNCIAS
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nalyse, 76, 5, pp. 1523-1528.
Atani, Torasso Louise (2015). “As mulheres nascem para sofrer’’ no contexto
da circuncisão feminina: um legado de humilhação e vergonha a ser elabo-
rado”, Dialogue, 208, 2, pp. 45-56.
Bastien, Danièle (2009). “Fais de moi ce que tu veux à condition que j’existe
pour toi, par toi”, in De Neuter P. et Frogneux N. Violences et agressivités
au sein du couple, vol. 2, Louvain-La-Neuve, Académia Bruylant, p. 43-49.
Lesourd, Serge (2015). “Le genre serait une névrose”, Cliniques méditer-
ranéennes, 92, 2, p. 149-160.
Metz, Claire, Chevalerias, Marie-Pierre, & Thevenot, Anne (2017). “Les vio-
lences dans le couple au risque d’en mourir, paroles de femmes”, Annales
Médico-psychologiques, pp. 692-697.
Metz, Claire, & Razon, Laure (2016). “Les violences conjugales”. Bilan des
dispositifs et propositions d’amélioration”, Relatório para a Missão de Recher-
che Droit et Justice.
L’on peut, sans être taxé d’idéologie, considérer qu’il a fallu des siècles
pour faire entendre qu’une violence spécifiquement genrée est exercée partout
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dans le monde et que les sociétés occidentales ne sont pas à l’abri des formes
de domination et de pouvoir d’un genre sur l’autre. Les mentalités ont été
ébranlées par les révélations des études internationales et plus particulièrement
par les données de l’enquête nationale Enveff en 2000, pourtant les résistances
sont nombreuses pour intégrer cette réalité, au niveau social comme individuel,
notamment chez les femmes victimes elles-mêmes159.
Au-delà de l’actualité patente de ces violences et de leur fréquence, il nous
est fait un devoir éthique de comprendre pourquoi elles s’exercent plutôt sur les
femmes. Le meurtre de femmes – qu’il soit organisé et planifié sous la forme
d’un génocide comme au Mexique – ou qu’il ait pour cadre les relations de
couple lève des interrogations spécifiques que le terme de féminicide condense
en partie. S’agit-il de considérer également l’ensemble de ces atteintes à la vie
pour des crimes genrés, en prenant appui sur les théories du genre notamment,
ou doit-on distinguer les conditions de cette criminalité selon le contexte poli-
tique, culturel, religieux, social, psychologique ? Sans doute qu’une articulation
des différents registres impliqués permettrait de rendre compte d’une réalité
qui, bien que sordide, n’en reste pas moins humaine et d’éviter d’adopter une
lecture par trop passionnelle du genre et de ses incidences sur les sujets. En
effet, dans nos contrées européennes nous avons affaire à des phénomènes
de groupes ou individuels. Une des perspectives de compréhension possible
alors de certains assassinats commis en dehors du périmètre familial qui ont
défrayé la chronique depuis le XIXe siècle comme l’affaire Pranzini160 ou le
crime des sœurs Papin161, serait d’articuler les dimensions sociales attachées
au genre aux dimensions psychiques et donc pulsionnelles qui conduisent au
crime. Cela vaut a fortiori à l’échelle du groupe familial lieu de la plus impor-
tante criminalité. Alors crime genré ou crapuleux, crime d’amour machiste
159 Grihom Marie-José, « Pourquoi le silence ? Violence sexuelle et lien de couple », Dialogue, 208, 2015, p.
71-84 ; Grihom Marie-José, « Être à soi-même sa propre fin ou être un maillon : femme victime en déroute
subjective dans ses liens », Dialogue, 204, 2014, p. 49-61.
160 Chauvaud Frédéric, L’affaire Pranzini : aventurier, Don Juan... et tueur de femmes ? Paris, Georg Editeur,
2018, 232 p.
161 Lacan Jacques, « Motifs du crime paranoïaque – Le crime des soeurs Papin », in De la psychose paranoïaque
dans ses rapports avec la réalité suivi de Premiers écrits sur la paranoïa, Paris, Seuil, 1975, p. 25-37.
110
Le genre un nouage ?
167 Metz Claire et Razon Laure, « Les violences conjugales. Bilan des dispositifs et propositions d’amélioration »,
Rapport pour la Mission de Recherche Droit et Justice, 2016. Consultable sur le site de la Mission.
168 Voir à cet égard Freud Sigmund, Trois essais sur la théorie sexuelle, Paris, PUF, 2012, 3e éd ; « L’organisation
génitale infantile », 1923, La vie sexuelle, Paris, PUF, p. 113-116 ; Pulsions et destins des pulsions, 1915, in
OCFP, vol. XIV, Paris, PUF, 2000 ; « Les théories sexuelles infantiles », La vie sexuelle, 1908, Paris, PUF,
éd. 1977, p. 14-27 ; « La disparition du complexe d’Œdipe », 1923, La vie sexuelle, Paris, PUF, 1977, p.
117-122 ; « Quelques conséquences psychiques de la différence anatomique entre les sexes », 1925, La
vie sexuelle, Paris, PUF, 1977, p. 123-132.
112
169 Houzel Didier, « Les dimensions de la parentalité », Journal de la Psychanalyse de l’enfant, 21, 1997, p.
164-190.
170 Guyotat Jean, Filiation et puerpéralité. Logiques du lien, Paris, Masson, 1993, 159 p.
171 Aulagnier Piera, La violence de l’interprétation, Paris, PUF, 1975, éd. 1991, 363 p. ; Aulagnier Piera, L’apprenti
historien et le maître sorcier, Paris, PUF, 1984, 276 p.
172 Remarquons que ce sentiment repose en partie sur le refoulement des identifications de l’Œdipe négatif et
donc sur une méconnaissance de la bisexualité psychique et de la division psychique.
VIOLÊNCIA DE GÊNERO E ÓDIO AO FEMININO 113
formé par les logiques évoquées173 sous le double effet de ces processus de
normation et de subjectivation. Si le fantasme de meurtre est notre lot com-
mun, nous allons y venir, certains de ces nouages et de leurs ratés du fait des
conditions d’exercice ou de l’expérience psychique du sexuel en prise avec
l’histoire du sujet seraient susceptibles d’entraîner la mort de l’un ou l’autre
des personnages de la tragédie ou du drame que le couple soit hétérosexuel
ou homosexuel.
173 L’exercice au niveau symbolique, l’expérience au niveau psychique et inconscient, la pratique du genre au
niveau conscient-préconscient.
114
174 André Jacques, « La fin du monde », Revue française de psychanalyse, 76, 5 2012, p. 1523 à 1528.
175 André Jacques, op. cit.
176 Assoun Paul-Laurent, « Le corps inconscient du fantasme. La scénographie corporelle », Revue française
de psychosomatique, 50, 2 2016, p. 133-150.
177 Grihom Marie-José, « Clinique de l’acte », in Senon J.-L. et al., Psychiatrie légale et criminologie clinique,
Paris, Masson, 2013, p. 229-237 ; Grihom Marie-José, Guillaud Aurélie, « Subjectivation et actualisation
pulsionnelle : clinique de l’acte », in Trichet Y. et Hamon R. (dir.), Psychanalyse et criminologie aujourd’hui.
Repères conceptuels, éthiques et cliniques, Rennes, PUR, p. 283-292.
178 « Le sexuel n’est pas seulement le contenu du fantasme, mais le ressort de l’activité fantasmatique. Cette
polarisation est liée au fait que le sexuel est le lieu même d’attraction et d’inavouable, par lequel le sujet met
VIOLÊNCIA DE GÊNERO E ÓDIO AO FEMININO 115
Un des fantasmes les plus audibles et régulier dans la clinique des femmes
victimes de violences conjugales182 est celui d’être battue (par le père). En
outre, les violences vécues dans l’enfance ainsi que la confrontation à la vio-
lence du couple parental sont retrouvées fréquemment dans les enquêtes sur la
question comme dans notre pratique clinique. Être battue ou voir quelqu’un(e)
se faire battre a été une réalité... La formulation « Une femme est tuée/on
tue une femme » à laquelle nous songeons est-elle seulement analogue à la
formulation freudienne de la voix du fantasme : « Un enfant est battu / on bat
un enfant » ? Rappelons l’enjeu de ce dernier au plan psychique. « L’aveu de
ce fantasme survient seulement en hésitant avec une résistance émanant de la
en scène et en acte sa division par rapport au contenu du refoulé. », Assoun Paul-Laurent, op. cit.
179 Assoun Paul-Laurent, op. cit.
180 Assoun Paul-Laurent, Leçons psychanalytiques sur Masculin et Féminin, Paris, Poche Psychanalyse, collection
Anthropos, 2010, p. 63.
181 Assoun Paul-Laurent, op. cit.
182 Grihom Marie-José, Grollier Michel, « Introduction » Femmes victimes de violences conjugales. Une approche
clinique, Rennes, PUR, 2013, p. 7-11.
116
183 Freud Sigmund, Un enfant est battu, 1919. Contribution à la connaissance de la genèse des perversions
sexuelles, in OCFP, vol. XV, Paris, PUF, 1995.
184 Assoun Paul-Laurent, op. cit. p. 59. Donard Véronique, « Sacrifier la mère », Topique, 117, 4 2011, p.
131-142.
185 De Mijolla-Mellor Sophie, « Le fantasme de la mère cruelle », Cliniques méditerranéennes, 88, 2013, p.
123-129.
186 Donard Véronique, « Sacrifier la mère », Topique, 117, 4, 2011, p. 131-142.
VIOLÊNCIA DE GÊNERO E ÓDIO AO FEMININO 117
Le refus du féminin
Que les hommes aient peur du féminin, l’œuvre de Freud l’atteste. Deux
des terreurs qui engendrent le refus du féminin sont magnifiquement figurées
par Charybde et Scylla dans l’Odyssée. Deux êtres terrifiants : l’une est un
monstre féminin dont la bouche est si énorme et si vorace qu’elle engloutit tout
ce qui se trouve dans les parages, provoquant en permanence un gigantesque
tourbillon. L’on peut y voir la figuration d’un vagin géant qui engloutit. L’autre
est celle sur laquelle on tombe si on arrive à éviter Charybde. Cette ancienne
nymphe a été transformée en un monstre hideux dont le corps est surmonté
de six effroyables têtes de chien qui dévorent leur proie. Le refus du féminin
ou de la féminité n’est pas quant à lui une formation imaginaire, il vaut mieux
parler en ce qui le concerne de position subjective devant le risque de la castra-
tion que le sexe féminin et ses représentations engendrent. Cette exclusion,
ce rejet du féminin produit chez la fille l’envie de pénis et chez le garçon un
cabrement contre la passivité assimilée à une castration. De l’avis de Paul-
Laurent Assoun : « On aurait tort d’entendre que ni les hommes ni les femmes
n’aiment la féminité, mais bien plus exactement que ce que l’on désigne
comme « féminité » est l’intime exclu qui désigne l’inconscient comme cette
dialectique ou navette incessante entre « masculin » et « féminin189 ».
187 Faimberg Haydée, « Le mythe d’Œdipe revisité », in Kaës R. (dir.), Transmission de la vie psychique entre
les générations, Paris, Dunod, 1993, p. 150-169.
188 Penot Bernard, La passion du sujet freudien, Toulouse, Érès, 2001, 184 p.
189 Assoun Paul-Laurent, Leçons psychanalytiques sur Masculin et Féminin, Paris, Poche Psychanalyse, collection
Anthropos, 2010, p. 91.
118
« C’est d’ailleurs pour avoir vu l’une d’entre elles que Penthée, arrière-
grand-père de Jocaste, fut dévoré par ses tantes (Ino et Autonoé), sa mère
(Agavé) et son père (Athamas) rendus fous par Héra. Polydoros, arrière-
grand-père d’Œdipe, est aussi supposé être mort de la même façon et pour
la même cause. La lignée de Thèbes des deux côtés est frappée de cette
Il est donc question d’un inceste réalisé et du fait de voir une jouissance
de la femme dans la mère – ce dont la culture doit se défendre en rejetant ce
mélange et en campant des symboles (telle la Vierge Marie) censés refouler
ou cliver la jouissance féminine et la mère.
196 Grihom Marie-José, « Masculin et féminin dans le couple, approche psychanalytique », in Bodiou L., Cacouault-
Bitaud M. et Gaussot L. (dir.), Le Genre entre transmission et transgression, Rennes, PUR, 2013, p. 37-47.
197 De Mijolla-Mellor Sophie, La mort donnée. Essai de psychanalyse sur le meurtre et la guerre, Paris, PUF,
2011, 336 p.
120
point de vue intéressant lorsqu’elle mesure que la relation égalitaire entre les
genres et au plan narcissique a disparu dans ce couple : « au début on était sur
le même piédestal, on était au même niveau et sans me rendre compte je me
suis retrouvée tout à fait derrière lui, c’est-à-dire comme s’il me tirait avec
une chaîne «. Ce moment de subjectivation s’accompagne de la reprise d’un
projet identificatoire (autonomie, travail, vie seule) mais aussi de la prise en
compte de sa propre difficulté à se protéger : « je ne suis jamais vraiment allée
jusqu’au bout ». Cette place d’objet qu’elle occupe activement est comme déjà
préfigurée en famille, où Christelle est une enfant non voulue qui a survécu à
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une tentative pour avorter, et qui est ensuite rejetée : « ma maman elle ne m’a
jamais vraiment protégée moi ; ma sœur oui, mes frères oui, mais moi j’étais
toujours rejetée parce que moi, ma mère et mon père… j’étais pas voulue,
l’avortement n’a pas marché avec moi, c’était trop tard ». La soumission à
l’autre rejetant et violent semble trouver là son origine.
Conclusion
La situation de Christelle n’est pas rare : la mère a été peu disponible à
l’égard de sa fille, abandonnante voire rejetante comme si sa propre identifi-
cation au féminin de son enfant était problématique199. Nous pensons qu’un
198 Bastien Danièle, « Fais de moi ce que tu veux à condition que j’existe pour toi, par toi », in De Neuter P. et Frogneux
N., Violences et agressivités au sein du couple, vol. 2, Louvain-La-Neuve, Académia Bruylant, 2009, p. 43-49.
199 Grihom Marie-José et Reible Sylvain, « Un possible parcours de subjectivation chez les femmes sous
emprise », in Grihom M.-J. et Grollier M. (dir.), Femmes victimes de violences conjugales. Une approche
clinique, Rennes, PUR, 2013, p. 109-121.
122
RÉFÉRENCES
André, Jacques (2012). “La fin du monde”, Revue française de psycha-
nalyse, 76, 5, pp. 1523-1528.
Atani, Torasso Louise (2015). “As mulheres nascem para sofrer’’ no contexto
da circuncisão feminina: um legado de humilhação e vergonha a ser elabo-
rado”, Dialogue, 208, 2, pp. 45-56.
Bastien, Danièle (2009). “Fais de moi ce que tu veux à condition que j’existe
pour toi, par toi”, in De Neuter P. et Frogneux N. Violences et agressivités
au sein du couple, vol. 2, Louvain-La-Neuve, Académia Bruylant, p. 43-49.
Lesourd, Serge (2015). “Le genre serait une névrose”, Cliniques méditer-
ranéennes, 92, 2, p. 149-160.
Metz, Claire, Chevalerias, Marie-Pierre, & Thevenot, Anne (2017). “Les vio-
lences dans le couple au risque d’en mourir, paroles de femmes”, Annales
Médico-psychologiques, pp. 692-697.
Metz, Claire, & Razon, Laure (2016). “Les violences conjugales”. Bilan des
dispositifs et propositions d’amélioration”, Relatório para a Missão de Recher-
che Droit et Justice.
Introdução
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em dia, bradam “meu corpo, minhas regras” como modo de combate às inú-
meras formas de abuso sexual. Muitos feminicídios resultam da dificuldade
de homens em aceitar que suas parceiras os abandonem e que seus corpos não
sejam propriedade sexual deles. Tomados pela continência dos fatos, muitos
passam ao ato, violentam e matam suas parceiras.
É em casos como esses que melhor se evidencia o neologismo que Lacan
(1972-1973/1985) propõe – amódio – para se referir ao amor e ódio amalga-
mados que podem ser exagerados pela paixão, em especial, quando prevalece
uma demanda imperativa por um objeto fixamente idealizado. O lugar con-
cedido à pessoa amada torna-se, assim, apenas um lugar de objeto; não há
lugar para que uma mulher amada dessa forma seja também sujeito, às voltas
com as questões do seu próprio corpo. Nas parcerias de excessivo amódio,
portanto, o corpo da mulher não pertence a ela, mas ao amante, cujo amor se
revira rapidamente em ódio quando este percebe que o corpo dela lhe escapa.
Mas será que o corpo da mulher pertence completamente a ela? Se o gozo
feminino divide a mulher, é possível que esse corpo algumas vezes também
não lhe pertença, lhe escape, levando-a a situações que a empuxam a um mais
além dos limites do simbólico. Lacan (1972-1973/1985) nos ensina que, se a
mulher pode ser Outra para ela mesma, é possível que essa alteridade radical
também tome formas de um ódio a outra mulher, mas também a ela mesma,
essa Outra que a habita, deixando-a mais vulnerável a situações de violência.
200 Em outra oportunidade isso foi discutido no artigo “Féminin et feminicides dans le Brésil actuel”
(Caldas, H. [2020] Mental Revue international de psychanalyse, n. 41. Paris : EFP EuroFédération
de Psychanalyse, 47-51).
130
e, atesta também, por parte dos homens, a dificuldade de se lidar com o gozo
feminino, tomando-o como ameaçador e produzindo reações brutais.
Hoje em dia, essas considerações freudianas também se reapresentam no
que tem sido chamado de masculinidade tóxica. A expressão é utilizada para
qualificar homens que se colocam em posição de superioridade, de ataque e
mesmo de desprezo diante do que as mulheres pensam, dizem ou fazem. Foi a
essa desqualificação recorrente que Lacan (1972-1973/1985) aludiu, pela equi-
vocidade em francês, o “falar de mulher” (dit femme) e “difamar” (diffame).
Há tantas formas sutis de difamar, como Laurent (2019) destaca, que
movimentos já se manifestam contra “as microagressões, [ações qualificadas
como] feridas sutis que afetam os indivíduos expostos a formas de desvalori-
zação por mediação da linguagem, reenviando as minorias à sua alteridade”
(p. 5, tradução nossa).201
Dentre as contribuições freudianas à psicologia do amor, O tabu da
virgindade (1918/1980c) é um trabalho considerado complexo. Nele, Freud
toma a hostilidade pelo lado da mulher ao mesmo tempo em que aponta que
sua divisão subjetiva difere da dos homens. Temos aí um plano mais radical
de divisão subjetiva – ceder ou recusar a ter o corpo tomado como objeto torna
a divisão para a mulher resultando entre a que ama ou a que odeia o que se
passa em seu corpo quando tomada pelo Outro como objeto de amor/ódio.
Sua questão divide-a, portanto, entre sujeito e Outra para si mesma.
Como Miller (1989-1990/2010) ressalta, o tabu diz respeito a um gozo e
a Mulher comparece aí como figura privilegiada de hétero. Contudo, isso não
é exclusividade das mulheres, uma vez que o gozo Outro sempre comparece
mais ou menos velado em qualquer parceria. A ilusão é julgar que se apresenta
apenas no corpo alheio. Ao contrário, o gozo Outro é o que há de mais alheio
no corpo próprio. Sua presença remonta à posição estrutural de advento do
sujeito a partir de uma posição de objeto de gozo.
201 La microagression qualifie les blessures subtiles qui affectent les individus exposés à une forme de
dévalorisation par l’intermédiaire du langage. Ces phénomènes atteignent particulièrement les minorités
en les renvoyant à leur altérité.
132
designar a mulher na partilha sexual. Ou seja, não se trata mais da pura lógica
significante que é marcada pela presença ou ausência de determinado traço.
Trata-se de que, de um lado, o fálico possua Um traço, mas, do Outro lado,
não há traço a verificar, há gozo.
A não-relação sexual pressupõe que há, portanto, um desencontro entre
os sexos. Não é possível dizer o feminino, uma vez que se trata de um furo
na linguagem, impossível de ser escrita em termos simbólicos, e o biológico,
a natureza sexual, não é suficiente e não serve para dizer o que é uma mulher.
Isso faz com que na partilha sexual, a posição adotada na escolha de um objeto
pequenos detalhes ou por mera contingência. Como pode ser verificado, por
exemplo, na preferência de certas mulheres por homens degradados, bandidos
ou, até mesmo, assassinos.
Dados da clínica nos indicam que a contingência do encontro com um
homem pode levar à devastação para certas mulheres. Uma mulher, ao se
enlaçar com um parceiro-devastador, faz retornar para si uma demanda de
amor infinita na qual a iminência da perda do amor conduz a estragos arreba-
tadores. Em uma análise cada mulher tem a possibilidade de se responsabilizar
por essa modalidade de gozo e, em alguns casos, adotar outra posição frente
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202 Sologamia (ou autocasamento) é um termo empregado para designar o casamento de uma pessoa com
ela mesma. Defensores da prática acreditam que ela reafirma o amor próprio da pessoa e leva a uma vida
mais feliz, enquanto críticos afirmam que a prática é narcisista e sugere que a pessoa tem baixa autoestima.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Sologamia. Conferir Serrano, M. (2018). Me caso conmigo misma. Recetario
para quererse siempre, Córdoba, Ed. Almuzara.
136
REFERÊNCIAS
Bessa, G., & Besset, V. L. (2009). Encontros e Desencontros. Ensaio sobre o
“não há”. Lat. Am. Journal. of Fund. Psychopa. On-line, 6(2), 97-114.
Lacan, J. (1985). O seminário, livro 20: mais, ainda. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar Editor. (Originalmente publicado em 1972-1973)
publicado em 1973)
Lacan, J. (2009). O seminário, livro 17: de um discurso que não fosse sem-
blante. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor. (Originalmente publicado em 1971)
Miller, J.-A. (2003). Uma Partilha sexual. In Clique, (2). Revista dos Institutos
Brasileiros de Psicanálise do Campo Freudiano.
Introduction
Nous voulons parler à propos du Cas Doca Street en tant que symbole
du machisme dans la société brésilienne. Dans l’affaire Doca Street nous
assistons à un procès non seulement d’Angela de Diniz, mais de toutes les
femmes qui échappent, d’une manière ou d’une autre, au comportement
prescrit pour le sexe féminin. Le jugement de Doca exprime la manière
par laquelle la société brésilienne résolut les questions de pouvoir entre
les sexes. Le sexe masculin, représenté ici par le M. Raul Fernando de
Amaral Street, a pu impunément punir une femme qui ne correspondait
pas à son rôle traditionnel. Nous voulons exprimer clairement notre révolte
et notre indignation. (Vianna, 2020)203
203 Nós queremos falar a respeito do Caso Doca Street como símbolo do machismo na sociedade brasileira.
Vemos no caso Doca Street um julgamento não só de Ângela de Diniz, mas de todas as mulheres que de
VIOLÊNCIA DE GÊNERO E ÓDIO AO FEMININO 141
par la logique du machisme patriarcal car, au-delà du fait que les victimes
n’étaient pas correctement protégées par la justice, des aspects privés de
leurs relations amoureuses étaient également exposés, leur causant honte et
humiliation. De plus, sans classification spécifique, ces crimes ont été dissous
dans le large spectre des autres formes d’homicide, ou bien ils étaient souvent
justifiés comme une légitime défense de l’honneur du criminel, blessé dans
sa virilité par la trahison de sa femme204.
Tous ces aspects attestent comment, dans le système patriarcal, le corps
de la femme ne lui appartient pas, mais appartient à l’Autre. Malgré de nom-
breux changements, la possession du corps lui-même doit être affirmée par
les féministes qui, aujourd’hui, crient « mon corps, mes règles », comme une
façon de combattre les innombrables formes d’abus sexuels. De nombreux
fémicides résultent de la difficulté des hommes à accepter que leurs partenaires
les quittent et que leurs corps ne soient pas leurs propriétés sexuelles. Pris
par la continence des faits, plusieurs hommes passent au acting out, violent
et tuent leurs partenaires.
C’est dans des cas comme ceux-ci que le néologisme proposé par Lacan
(1972-1973/1985) est mieux démontré – hainamoration – pour faire réfé-
rence à l’amour et à la haine amalgamés, et qui peuvent être exagérés par la
passion, surtout lorsqu’une demande impérative d’un objet fixement idéalisé
prévaut. La place accordée à l’être aimé devient alors une place d’objet ; il
n’y a pas de place pour qu’une femme aimée de cette façon devienne aussi
sujet, aux prises avec les questions qui tournent autour de son propre corps.
Dans les partenariats d’excessifs hainamorations, donc, le corps de la femme
algum modo fogem ao comportamento prescrito para o sexo feminino. O julgamento de Doca, expressa a
maneira pela qual a sociedade brasileira resolve as relações de poder entre os sexos. O sexo masculino,
aqui representado pelo Sr. Raul Fernando de Amaral Street, pôde impunimente punir uma mulher que não
corresponde ao seu papel tradicional. Queremos deixar claro nossa revolta e indignação. (Vianna, 2020)
204 Dans une autre opportunité, ce sujet a été discuté dans l’article “Féminin et feminicides dans le Brésil
actuel” (Caldas, H. [2020] Mental Revue international de psychanalyse, n. 41. Paris : EFP EuroFédération
de Psychanalyse, 47-51
142
C’est avec Freud que nous comprenons que l’anatomie est le destin, mais
aussi son principe, indiquant que la différence n’est pas quelque chose possible
d’effacer. Cette altérité radicale peut s’exprimer de différentes manières dans
la sagesse populaire. Il est même possible de rimer entre l’astronomie et la
mythologie, une fois que Mars symbolise la guerre, le féminin et les choses
de l’amour peuvent venir de Vénus, une planète Unheimliche (Freud, 2019).
Nous comprenons avec Lacan que l’être homme et l’être femme ne sont
que des semblants. Ainsi, nous pouvons prendre Mars et Vénus comme des
représentations du non-rapport sexuel, une fois qu’ils fonctionnent à partir des
logiques distinctes et non complémentaires de l’inscription du phallus, toute
et pas-toute. Le féminin serait régi par une logique Autre, pas-toute phallique,
liée à l’impossible représentation symbolique de l’expérience du sujet avec
son corps – qui, parce que c’est la plus intime et la plus étrange, ne peut être
partagée, quelle que soit son anatomie sexuelle, en tant qu’homme ou femme.
Pour la psychanalyse, le mot féminin, présent dans le terme féminicide,
sert de clé de lecture, car ce n’est pas un simple adjectif applicable uniquement
aux femmes. Le féminin indique plus de ce qu’il dit, il renvoie à quelque chose
de substantiel, mais d’intangible par le langage. C’est d’ailleurs le reste de
l’opération signifiante par laquelle se définit le savoir-faire avec la jouissance,
refusant et prenant pour altérité menaçante tout ce qui diffère de ce savoir.
À rigueur, le féminin est présent dans la ségrégation en général : sexisme,
racisme, homophobie, origine sociale et / ou culturelle, etc. Jacques-Alain
Miller (2016) souligne même que le sexisme et le racisme sont du même
ordre, puisque « l’homme et la femme sont deux races », non pas au sens
physique, mais comme un effet de discours qui changent selon le temps et qui
établissent des différences rigides quant à l’accès social et l’accès aux droits
humains de ceux qui sont victimes de discrimination.
VIOLÊNCIA DE GÊNERO E ÓDIO AO FEMININO 143
Il n’est donc pas surprenant que les données désignent les femmes
noires comme les principales victimes de la violence intrafamiliale au Brésil
(IPEA, 2019). Il n’est pas surprenant non plus le fait que les assassinats de
travestis et de transsexuels se soient explosés, plaçant le Brésil à la première
place du classement mondial (TGEu, 2016). Selon les informations de Atlas da
Violência (IPEA, 2019), le fémicide impliquant des victimes noires a presque
doublé au cours de la dernière décennie, tandis que le même crime commis
contre les femmes blanches n’a que légèrement augmenté.
Selon une perspective psychanalytique, ces données corroborent l’attaque
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205 N.T. : La référence utilisée originalement a été la version brésilienne, comme il est possible de voir dans les
références bibliographiques. Néanmoins, nous mettons dans le corpus du travail la traduction disponible
en français.
144
Pour Lacan (1962-1963 / 2005), aimer c’est donner ce qu’on n’a pas.
Les femmes nous enseignent sur cette question quand elles demandent rhé-
toriquement que ses partenaires disent son amour en mots. La littérature et la
clinique nous remplissent d’exemples de la façon de l’aimer féminin. Pour
aimer il faut parler, et c’est par le moyen de la parole qu’il devient possible :
le manque-à-être (Miller, 1998a). C’est en parlant d’amour, ce qui n’est abso-
lument pas nécessaire, qu’une femme peut aimer même dans l’absence de
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l’homme aimé, soutenue par lettres ou vœux d’amour éternel, par exemple.
Pour fournir ce qui manque, le symptôme est imprimé pour un sujet. Pour
Miller (1998b) « le symptôme s’inscrit à la place de ce qui apparaît comme
un manque, un manque de partenaire sexuel naturel. Le sexe ne désigne
pas un partenaire sexuel naturel, il est insuffisant pour s’équiper » (p. 30).
C’est en ce sens qu’il y a quelque chose dans les partenariats amoureux qui
indique la satisfaction dans la souffrance. Miller (2002) crée le syntagme parte-
naire-symptôme afin de clarifier que le véritable partenaire du sujet est sa façon
de jouir. Cela implique qu’il y a un adressage du symptôme qui fait lien avec
l’Autre. Ainsi, tout partenariat serait donc symptomatique. Brodsky (2008)
affirme que le symptôme est un partenaire du sujet, peut-être le plus fidèle,
car il porte une jouissance qui fournit l’inexistence des rapports sexuels. Cette
forme de souplesse présente des solutions différentes pour les hommes et les
femmes et concerne la particularité de chacun dans la logique de la sexuation.
Le partenaire rend le symptôme supportable pour le sujet, atténuant l’im-
possible à supporter. Pour cette raison, dit Lecoeur (1998), il est indispensable
que la clinique du symptôme n’ignore pas le plus-de-jouir qui introduit le
partenaire entre le symptôme et le sujet. Le terme partenaire-symptôme, conçu
par Miller (1998a), est en accord avec la notion de parlêtre qui comprend un
corps vivant, qui parle et qui jouit en parlant, alors que le sujet est toujours
mortifié, défini comme le manque-à-être. L’auteur définit le parlêtre en tant
que « le sujet plus le corps, c’est le sujet et la substance jouissante » (Mil-
ler, 1998a, p. 101). Ainsi, Miller (1998a) éclaircit qu’il a introduit le terme
partenaire-symptôme pour mettre en évidence le concept de grande Autre
pour le sujet barré $ en tant qu’asymétrique au partenaire pour le parlêtre.
Cet Autre duquel il s’agit le partenaire-symptôme est un corps vivant, sexué,
perméable par la jouissance.
Dans le partenaire-symptôme, « la relation du partenaire suppose que
l’Autre devienne le symptôme du parlêtre, c’est-à-dire, cela devient un
moyen de jouir » (Miller, 1998a, p. 104). Cela veut dire que c’est un moyen
de jouir, inconscient, du corps de l’Autre. L’auteur propose encore que le
146
une femme. Cela fait que le partage sexuel, la position adoptée dans le choix
d’un objet d’investissement libidinal soit différent pour chaqu’un des sexes.
Mais si pour Lacan (1972 – 1973 / 1985) la jouissance de la femme est
pas-toute, illimitée, non totalement référée à la logique phallique, la jouissance
de l’homme est phallique, limitée et circonscrite, pouvant même être contée.
Au même temps, cela indique « que si la position du sexe diffère quant à
l’objet, c’est pour toute la distance qui sépare la forme fétichiste de la forme
érotomane de l’amour » (p. 742). L’érotomanie, selon Lacan (1972 – 1973 /
1985), approche la femme pas-toute de la folie. Les femmes sont, alors, folles
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RÉFÉRENCES
Bessa, G., Besset,V. L. (2009). Encontros e Desencontros. Ensaio sobre o “não
há”. Lat. Am. Journal. of Fund. Psychopa. On-line, 6(2), 97-114.
http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/relatorio_institucio-
nal/190605_atlas_da_violencia_2019.pdf
Lacan, J. (2009). O seminário, livro 17: de um discurso que não fosse sem-
blante. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor. (Originalmente publicado em 1971)
Miller, J.-A. (2003). Uma Partilha sexual. In Clique (2). Revista dos Institutos
Brasileiros de Psicanálise do Campo Freudiano.
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Miller, J.-A. (2010). Los divinos detalles. Los cursos psicoanalíticos de J.-A.
Miller. Buenos-Aires: Paidós. (Originalmente publicado em 1989-1990)
[...] Escrevo porque a vida não aplaca meus apetites e minha fome. Escrevo
para registrar o que os outros apagam quando falo, para reescrever as
histórias mal escritas sobre mim, sobre você. Para me tornar mais íntima
comigo mesma e consigo. Para me descobrir, preservar-me, construir-me,
alcançar autonomia. Para desfazer os mitos de que sou uma profetisa louca
ou uma pobre alma sofredora. Para me convencer de que tenho valor e
que o que tenho para dizer não é um monte de merda. Para mostrar que
154
isto é o que chamamos de valores sexuais. Que haja desde o início o homem
e a mulher é, para começar, uma questão de linguagem” (Lacan, 2012, p. 38).
Assinalando sua perspectiva de que se tratam de fatos discursivos, de
realidades pura e exclusivamente discursivas – “É o princípio do funcio-
namento do gênero, feminino ou masculino”, complementando: “Dito isto,
o homem e a mulher, não sabemos do que se trata. Durante algum tempo,
essa bipolaridade de valores foi tomada como algo que sustentava, suturava
suficientemente o que concerne ao sexo”, sendo “justamente daí que resultou
uma metáfora surda que durante séculos esteve subjacente à teoria do conhe-
Ou, enfim, como já o disse Barbara Cassin: “O pão cotidiano não é mais
feito de ‘algumas consequências psíquicas da diferença anatômica entre os
sexos’, mas de alguns efeitos da diferença dos discursos. Não mais: a anatomia é
o destino, mas: diga-me como você fala” (e te direi qual é teu sexo), sendo que,
enfim, em aparência sintomática, “o homem é menos bobo, o filósofo é menos
mestre, quando é moderado pela análise ou pela sofística” (Cassin, 2017, p. 210).
Se alguém “é” uma mulher, isso certamente não é tudo o que esse alguém
é; o termo não logra ser exaustivo, não porque os traços predefinidos de
gênero da “pessoa” transcendam a parafernália específica de seu gênero,
mas porque o gênero nem sempre se constituiu de maneira coerente ou
consistente nos diferentes contextos históricos, e porque o gênero esta-
belece interseções com modalidades raciais, classistas, étnicas, sexuais
e regionais de identidades discursivamente constituídas. Resulta que se
tornou impossível separar a noção de “gênero” das interseções políticas
e culturais em que invariavelmente ela é produzida e mantida (p. 20).
[...] o gênero não está para a cultura como o sexo para a natureza; ele
também é o meio discursivo/cultural pelo qual “a natureza sexuada” ou
“um sexo natural” é produzido e estabelecido como “pré-discursivo”,
anterior à cultura, uma superfície politicamente neutra sobre a qual age
a cultura” (p. 25).
guém nasce mulher, torna-se mulher”, Butler (1990/2003) aponta para o fato
de que esse “tornar-se” é atravessado por uma compulsão cultural que não
advém do “sexo”, a filósofa aposta neste “tornar-se” como um termo “em
processo, um devir, um construir de que não se pode dizer com acerto que
tenha uma origem ou um fim. Como uma prática discursiva contínua, o termo
está aberto a intervenções e ressignificações” (p. 58). Deste modo a filósofa
introduz as seguintes questões ao debate da categoria “mulher”:
indica, comos se acredita, uma falta de resistência ou interesse, mas sim a falta
de acesso à representação, sofrida pela comunidade negra.” (Kilomba, 2019,
p. 51), e acrescenta “não é que nós não tenhamos falado, o fato é que nossas
vozes, graças a um sistema racista, têm sido sistematicamente desqualifica-
das, consideradas conhecimento inválido; ou então representadas por pessoas
brancas que, ironicamente, tornam-se especialistas em nossa cultura, em nós
mesmos” (Kilomba, 2019, p. 51).
Assim, a objetificação das mulheres é responsável pela patologização,
silenciamento, perpetuação de preconceitos, acusação das vítimas e diminuição
não branco, ser ou não influente – leia-se, rico. Qual o ‘destino’ nomeado para
as mulheres expressado no pensamento da sociedade psicanalítica do período?
Gonzalez (1984) não se dá por vencida e problematiza esse ponto de
forma transformadora pela passagem da lógica social da linguagem para a
“lógica da dominação”. Na relação entre consciência e inconsciente, que
envolve a dinâmica entre ocultar e revelar, a defesa pela denegação aparece nos
processos inseridos na cultura, que por sua vez são atravessados por questões
relacionadas à dominação e ao poder, herança da colonização. Questões que
necessariamente vão aparecer nos restos, nos não-ditos, nos fragmentos insis-
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Conclusão
213 No trabalho “Diretrizes para um Congresso sobre sexualidade feminina” (1953/1998), Lacan irá criticar a
hipótese de um masoquismo fundamentalmente da mulher e afirmar que os analistas tem seus preconceitos,
mas que é importante diferenciar o que é da ordem do preconceito e o que seria uma formação inconsciente
(Ribeiro, 2017), o autor questiona: “Será que podemos nos fiar no que a perversão deve à invenção mascu-
lina, para concluir que o masoquismo da mulher é uma fantasia do desejo do homem?” (Lacan, 1958/1998,
p. 740). Aqui Lacan tá se referindo ao modo de amar do homem que é pela via fetichista, sendo o objeto
rodeado de condições para assim ser amado, debate aqui se estende ao trabalho de Hélène Deutsch que
defendia que o feminino possui uma característica masoquista, ao qual Lacan discordaria.
214 Alguns títulos, que sugerimos a leitura para a observação desse fato: “Devastação, o que há de novo”
(Rangel, 2016); Sobre o gozo psicanalítico na clínica psicanalítica com mulheres devastadas (Segal, 2013)
e também “Devastação feminina: o que pode uma análise?” (Faria & Starling, 2019).
168
215 Pergunta contida por exemplo no livro de Serge André (O que quer uma mulher?) e em vários artigos publicados.
216 Essa crítica já foi primorosamente realizada por Paul B. Preciado na 49ª Jornada da Escola da Causa Freu-
diana, crítica essa rebatida por vários psicanalistas e veiculadas na rede social, precisaríamos, que talvez
o que menos importa na intervenção de Preciado seja o “entendimento ou não da construção lacaniana” a
respeito da sexuação por parte dele, mas sim o questionamento dos efeitos políticos que a clínica lacaniana
e a teoria em questão produzem nas direções de tratamento e na cultura. A intervenção em questão se
encontra no link: http://lacanempdf.blogspot.com/2019/12/paul-b-preciado-intervencao-na-49.html
VIOLÊNCIA DE GÊNERO E ÓDIO AO FEMININO 169
REFERÊNCIAS
Associação Mundial de Psicanálise. (1995). Como terminam as análises. Zahar.
Faria, E. V., & Starling, D. R. (2019). Devastação feminina: que pode uma
análise? Stylus Revista de Psicanálise, 38, 155-164.
Lacan, J. (1985). O seminário, livro 20: mais, ainda. Jorge Zahar Editor.
(Trabalho original publicado em 1972).
Lacan, J. (2009). Seminário, livro 18: de um discurso que não fosse sem-
blante. Zahar.
Anderson Santos
Aline Souza Martins
Bárbara Cristina Souza Barbosa
Cândida Cristine de Oliveira Lucas
Estanislau Alves da Silva Filho
Priscilla Santos de Souza
Tahamy Louise Duarte Pereira
Introduction
[...] J’écris parce que la vie n’apaise pas mes appétits et ma faim. J’écris
pour enregistrer ce que les autres effacent quand je parle, pour réécrire
les histoires mal écrites sur moi, sur vous. Pour devenir plus intime avec
174
petit garçon. Nous n’avons pas à avoir honte de cette différence, car la vie
sexuelle de la femme adulte est aussi un continent sombre pour la psychologie”
(Freud 1926/2019, p. 240)217. En appelant la femme un continent noir, Freud
laisse la place à la compréhension que la femme est placée dans une place à
dire par l’autre, dans une sorte d’”énigme” qui aspire à être déchiffrée.
Cette position a été la cible de critiques sévères également décrites dans
“Quelques conséquences psychiques de la distinction anatomique entre les
sexes” (1925/2019), où Freud affirme que “l’anatomie est le destin” et diffé-
rencie le complexe d’Œdipe chez les filles et les garçons. Ainsi, la jeune fille
serait face à un carrefour phallique, car en découvrant la castration maternelle,
elle trouverait trois voies : le complexe de masculinité, le refus de la satis-
faction phallique ou la féminité. Ainsi, même en précisant que les connais-
sances sur la sexualité féminine sont encore obscures et insuffisantes, Freud
(1924/2011) défend que la perception de la jeune fille est qu’elle a “avait
perdu “ (Freud, 1924/2011, p. 211) (dans une traduction de l’allemand qui
pourrait aussi être “est sorti trop court “). Cette sensation serait alors vécue
comme “ désavantage et motif d’infériorité “ (Freud, 1924/2011, p. 211)
puisque, après cette phase, la fille accepterait plus facilement la castration,
mais pas avant une tentative de compensation remplaçant le pénis en recevant
un fils du père. Il est d’ailleurs intéressant de noter que, pour parler de cette
hypothèse, Freud paraphrase Napoléon en disant que “ l’anatomie est le destin
“ (Freud, 1924/2011, p. 211). Cette phrase met l’anatomie à la place de ce
que l’ancien empereur désignait comme essentiel au destin, qui, comme par
hasard, était la politique : “Le destin, c’est la politique”. Bien que cette phrase
ne soit qu’illustrative, elle démontre ce qui était réprimé dans l’explication
freudienne sur la sexualité féminine.
Autant Freud récupère à plusieurs reprises le caractère exploratoire de
ses recherches, les hystériques, les femmes et les autochtones sont des des-
criptions objectivantes, qui marquent les théories futures et fixent une série
d’hypothèses imaginaires sur l’autre qui a pour fonction d’exercer le pouvoir.
Ces théorisations, ne sont pas sans conséquences politiques sur les directions
de traitement lancées.
L’important est le suivant : l’identité de genre n’est rien d’autre que ce que je
viens d’exprimer avec ces termes, “homme” et “femme”. [...] L’identification
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Homme et femme sont, pour Lacan, des noms de symptômes. S’ils sont
utilisés comme salut, sinthomas, dans certaines dérivations. Mais, quoi qu’il
en soit, on répète inlassablement que l’un ou l’autre ne concerne pas la pos-
session d’un pénis ou d’un vagin, ni même le choix de l’objet érotique, mais
le reste, le surplus, la façon dont il rend quelque chose en surplus, le fait de le
perdre. C’est-à-dire, de la façon dont il parle. Comment il utilise le langage. Si
un porteur de pénis fera “ sinthome “ ou sera “ dévasté “, cela dépendra de la
façon dont il perd et souffre, précisément, de la façon dont il “ fictionnalise “
quelque chose qui par excellence défixe. Féminin et femme ne seront pas des
L’important est que nous mettons en jeu, dans ce cas, une paire dite colo-
rée, et que la couleur n’a aucune signification. L’apparition de la couleur
est-elle liée à la vision, dans le sens où je la distingue, ou au regard ?
Qu’est-ce qui distingue la couleur, le look ou la vision ? C’est une question
que je laisserai en suspens aujourd’hui. La notion de paire de couleur est
là pour suggérer que, dans le sexe, il n’y a rien de plus que, disons, l’être
de couleur, ce qui en soi suggère qu’il peut y avoir femme homme de
couleur, ou homme femme de couleur (Lacan, 2007, p. 112).
Ou, enfin, comme l’a déjà dit Barbara Cassin : “Le pain quotidien n’est
plus fait de “quelques conséquences psychiques de la différence anatomique
entre les sexes”, mais de quelques effets de la différence des discours. Non
plus : l’anatomie est le destin, mais : dis-moi comment tu parles “ (et je te
dirai quel est ton sexe), étant que, finalement, en apparence symptomatique,
“ l’homme est moins fou, le philosophe est moins maître, quand il est modéré
par l’analyse ou par le sophisme “ (Cassin, 2017, p. 210).
VIOLÊNCIA DE GÊNERO E ÓDIO AO FEMININO 179
218 Haraway (1995) “Avec le sang de qui mes yeux ont-ils été faits ?” (p. 23).
180
[...] le genre n’est pas à la culture ce que le sexe est à la nature ; il est
aussi le moyen discursif/culturel par lequel la ‘nature sexuée’ ou ‘un sexe
naturel’ est produit et établi comme ‘pré-discursif’, avant la culture, une
surface politiquement neutre sur laquelle la culture agit” (p. 25).
VIOLÊNCIA DE GÊNERO E ÓDIO AO FEMININO 183
noter que, en tant que tâche politique, cette déconstruction ne signifie pas
destruction, mais vise à problématiser constamment la catégorie d’identité
“ sous toutes ses formes “ (p. 184). Par conséquent, elle considère que “la
déconstruction de l’identité n’est pas la déconstruction de la politique ; plu-
tôt, elle établit comme politiques les termes mêmes par lesquels l’identité est
articulée” (Butler, 1990/2003, p. 213). Selon Butler, il n’y a pas d’identité
de genre derrière les expressions de genre, et cette identité est constituée
de manière performative, tout comme le genre est également pensé par elle
comme un geste performatif.
Dans un autre moment, reprenant la phrase de Simone de Beauvoir “Per-
sonne ne naît femme, on le devient”, Butler (1990/2003) souligne que ce
“devenir” est traversé par une contrainte culturelle qui ne vient pas du “sexe”,
la philosophe parie sur ce “devenir” comme un terme “en cours, un devenir,
une construction dont on ne peut dire avec certitude qu’elle a une origine
ou une fin. En tant que pratique discursive continue, le terme est ouvert aux
interventions et aux re-significations” (p. 58). De cette manière, le philosophe
introduit les questions suivantes dans le débat sur la catégorie “femme”:
[...] comment devenir une femme si on ne l’est pas dès le départ ? Et qui
devient une femme ? Existe-t-il un être humain qui devient de son sexe
à un moment donné ? Est-il juste de supposer que cet être humain n’était
pas de son genre avant de “devenir” de son genre ? Comment “devient-on”
d’un seul sexe ? Quel est le moment ou le mécanisme de la construction
du genre ? Et peut-être plus pertinemment, à quel moment ce mécanisme
entre-t-il dans le paysage culturel et transforme-t-il le sujet humain en un
sujet présentant des caractéristiques sexuées ? Existe-t-il des humains qui
n’ont pas toujours eu un sexe ? La marque de genre semble “qualifier” les
corps en tant que corps humains ; le bébé devient humanisé au moment
où l’on répond à la question “garçon ou fille ?”. Les images corporelles
qui ne correspondent à aucun de ces genres restent en dehors de l’humain,
elles constituent à proprement parler le domaine du déshumanisé et de
l’abject, en opposition avec lequel l’humain lui-même s’établit. Si le genre
est toujours présent, délimitant préalablement ce qui est qualifié d’humain,
184
d’être ou non proposé par un homme, d’être ou non blanc, d’être ou non
influent – lu, riche. Quel est le “ destin “ nommé pour les femmes exprimé
dans la pensée de la société psychanalytique de l’époque?
Gonzalez (1984) ne renonce pas et problématise ce point de manière
transformatrice par le passage de la logique sociale du langage à la “logique de
la domination”. Dans la relation entre conscience et inconscient, qui implique
la dynamique entre cacher et révéler, la défense par le déni apparaît dans
les processus insérés dans la culture, qui à leur tour sont traversés par des
questions liées à la domination et au pouvoir, héritage de la colonisation. Des
questions qui apparaîtront nécessairement dans les restes, dans les non-dits,
dans les fragments insistants du discours. Le sexisme et le racisme impliquent
de ne pas vouloir savoir, ce qui implique de supposer que les relations de
pouvoir affectent des processus inconscients, des processus qui construisent
donc des chaînes de pensées qui n’obéissent pas aux règles du langage formel.
Pour la psychanalyse, lorsqu’un sujet pense au sens conventionnel – au
sens qui implique l’usage ordinaire du langage –, il le fait dans un mou-
vement qui implique de se cacher quelque chose d’autre. Et ceci peut être
indiqué comme le noyau du concept de l’inconscient. Ce qui apparaît, ce qui
est perçu par une conscience, répondra déjà à une dynamique pulsionnelle
de dissimulation, comme le dit Gonzalez (1984), des états oublieux. Dans le
sillage de la psychanalyse, elle soutient que l’opposition entre, d’une part,
la conscience et la connaissance et, en tant que lieu de l’inconnu, de l’alié-
nation où se trouve le discours idéologique et, d’autre part, la mémoire, le
non-savoir et la connaissance, de l’histoire écrite qui est structurée comme une
vérité fictive. La conscience exclut ce que la mémoire inclut. Ainsi, dans la
mesure où elle est le lieu du rejet, la conscience s’exprime comme le discours
dominant (ou les effets de ce discours) dans une culture donnée, en cachant
la mémoire, par l’imposition de ce qu’elle, la conscience, affirme comme la
vérité (Gonzalez, 1984, p. 226).
Les observations de Gonzalez (1984) sur la conscience, la mémoire et
l’historicité situent le racisme et le sexisme au Brésil comme un symptôme de
186
Conclusion
aussi le pouvoir dans tout, d’une autre manière, parce qu’il voyait aussi des
trous dans le pouvoir, utilisant même cela pour penser des thèmes comme
le transfert et la relation analytique. Nous utilisons ce fragment, comme une
métaphore, pour situer le débat autour des femmes et du féminin, un débat
qui se déroule souvent de manière hyperbolique, dans lequel on parle et on
parle des femmes, mais on parle dans quel but ? Et comment en parle-t-on ?
Il existe deux directions classiques autour du fantasme masculin par
rapport à la femme. La première consiste à élever la femme au rang d’une
immense idéalisation, à la déifier dans son caractère “excentrique” et incom-
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224 Dans l’ouvrage “ Directives pour un congrès sur la sexualité féminine “ (1953/1998), Lacan critiquera
l’hypothèse d’un masochisme fondamentalement féminin et affirmera que les analystes ont leurs préjugés,
mais qu’il est important de différencier ce qui est de l’ordre du préjugé et ce qui serait une formation incons-
ciente (Ribeiro, 2017), l’auteur s’interroge : “ Peut-on s’appuyer sur ce que la perversion doit à l’invention
masculine, pour conclure que le masochisme des femmes est un fantasme du désir de l’homme ? “ (Lacan,
1958/1998, p. 740). Lacan se réfère ici à la manière d’aimer de l’homme qui passe par le fétichisme, être
l’objet entouré de conditions pour être aimé, le débat s’étend ici aux travaux d’Hélène Deutsch qui défendait
que le féminin a une caractéristique masochiste, ce à quoi Lacan ne serait pas d’accord.
225 Quelques titres, dont nous proposons la lecture pour le constat de ce fait : “ Dévastation, quoi de neuf ? “
(Rangel, 2016) ; Sur la jouissance psychanalytique dans la clinique psychanalytique avec des femmes dévas-
tées (Segal, 2013) et aussi “ Dévastation féminine : que peut faire une analyse ? “. (Faria & Starling, 2019).
188
226 Question contenue par exemple dans le livre de Serge André (Que veut une femme ?) et dans plusieurs
articles publiés.
227 Cette critique a déjà été faite de manière exquise par Paul B. Preciado à la 49ème Conférence de l’Ecole
de la Cause Freudienne, une critique qui a été réfutée par plusieurs psychanalystes et postée sur le réseau
social, nous aurions besoin, que peut-être ce qui importe moins dans l’intervention de Preciado est la
“compréhension ou non de la construction lacanienne” concernant la sexuation par lui, mais plutôt le ques-
tionnement des effets politiques que la clinique lacanienne et la théorie en question produisent dans les
directions du traitement et de la culture. L’intervention en question se trouve sur le lien: http://lacanempdf.
blogspot.com/2019/12/paul-b-preciado-intervencao-na-49.html
VIOLÊNCIA DE GÊNERO E ÓDIO AO FEMININO 189
REFERÊNCIAS
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Faria, E. V., & Starling, D. R. (2019). Devastação feminina: que pode uma
análise? Stylus Revista de Psicanálise, 38, 155-164.
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(Trabalho original publicado em 1972).
Lacan, J. (2009). Seminário, livro 18: de um discurso que não fosse sem-
blante. Zahar.
Gabriela Ferreira
Luciana Lira
Introdução
para interrogar até que ponto a posição discursiva de vítima permite que essas
mulheres possam perlaborar os efeitos devastadores do que com elas se passa,
ou se é possível deslocar-se de forma a tentar operar com o traumático da
violência de outra posição. Isto porque entendemos que a polarização vítima/
algoz não nos serve clinicamente para suportar uma intervenção.
Levantamos essas questões porque em nossa pesquisa constatamos
que algumas mulheres ficam presas num circuito da violência e da repetição
(Freud, 1920/2006; Lacan,1964/1988) desses padrões em seus relacionamentos,
e em determinados casos “retornam pros seus maridos como mulheres de Ate-
Ódio ao feminino
mais propício ao totalitarismo. O que não quer dizer que todos os homens
sejam totalitários, já que vamos argumentar em favor da impossibilidade
dessa totalização. De todo modo, não custa considerar a posição e a susten-
tação fálico-masculina como sendo importante para a condição subjetiva dos
homens que cometem atos de violência contra mulheres, senão determinante.
Isso porque veremos, que o feminino é o campo que está sempre denunciado
a impossibilidade dessa totalidade e, por isso mesmo, torna-se alvo da cólera
reativa do campo fálico-masculino.
Sabemos que Freud se deparou com a insuficiência desse campo
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Feminilizar o buraco
A virtude que designo como gaio issaber é o exemplo disso, por manifestar
no que ela consiste: não em compreender, fisgar [piquer] no sentido, mas
em roça-lo tão de perto quanto se possa, sem que ele sirva de cola para
essa virtude, para isso gozar com o deciframento, o que implica que o gaio
issaber, no final faça dele apenas a queda, o retorno ao pecado” (p. 525).
Fazer-se belo parece ser a forma que o Parlêtre poderia dar ao corpo
uma dignidade da coisa. É através do sintoma como um “evento corporal”
(p 565), que o Parlêtre constrói um escabelo. Trata-se de um momento da
obra de Lacan, onde o corpo não pode ser escamoteado, já que vai ocupar a
posição de um Ouro real na estrutura: um corpo que goza, o corpo do LOM
(homofônico de l’homme) que precisa se humanizar, fazer do obsceno do
corpo, um escabelo.
Para retornar à nossa proposta, poderíamos dizer que feminilizar o buraco
implica em convocar o sujeito a bem-dizer o feminino, ornando o corpo
REFERÊNCIAS
Amigo, S.(2007) Clínica dos fracassos da fantasia. Prólogo de Héctor Yan-
kelevich. Rio de Janeiro: Companhia de Freud. (Trabalho original publicado
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mia-do-covid-19
Bodiou. L., Chauvaud, F., & Grihom, M-J. (2019). Violences genrées dans
le lien de couple, en famille: tolérable et intolérable, visible et invisible dans
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outros textos. Trad. Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras.
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publicado em 1921).
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contribuição à história do movimento psicanalítico e outros textos. Trad.
Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras. (Trabalho original
publicado em 1912-13).
Supremo Tribunal Federal. (2021). STF proíbe uso da tese de legítima defesa
da honra em crimes de feminicídio. http://stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDe-
talhe.asp?idConteudo=462336.
Gabriela Ferreira
Luciana Lira
Introduction
époques et cultures, dans lesquels on observe les tentatives les plus diverses de
discipliner, contrôler, éduquer et violer ce qui est propre au féminin. Que ce soit
par le biais de la religion, de l’école, de la famille et même du savoir médical,
les institutions sociales, évidemment commandées par les hommes, ancrés
dans le patriarcat, dictent comment doit être le comportement de la femme.
Une série d’interrogations et d’articulations s’ouvrent dans des domaines
variés et corrélés, qui composent un tableau à la fois plus effrayant et terri-
blement commun, lorsqu’il s’agit de la violence dirigée contre les femmes,
en tant qu’incarnation du féminin, qui semble être enracinée dans l’histoire
un espace d’écoute à travers les soins en urgence subjective et, par un autre
biais méthodologique, nous enquêtons sur les récits qui tournent autour du
phénomène de la violence de genre et de ses effets pendant la période de la
pandémie de COVID-19.
Dans le présent texte, nous découpons certaines des questions que nous
avons rencontrées dans le développement de la recherche mentionnée ci-des-
sus, afin de pouvoir ensuite avancer une discussion et quelques propositions
théoriques et cliniques qui permettent une progression dans les pratiques et
les connaissances qui opèrent avec ce phénomène.
Le premier et certainement le plus complexe est le caractère systémique
de la violence de genre. Nous savons que la tradition patriarcale et la dévalori-
sation des femmes qui en découle produisent une tolérance et une invisibilité
des aspects les plus néfastes de cette violence (Bodiou et al., 2019). L’invi-
sibilité et la tolérance à l’égard de ces pratiques de violence se manifestent
non seulement par l’impunité de leurs auteurs, mais aussi de manière discur-
sive dans divers domaines, par exemple dans le domaine juridique. À titre
d’illustration, ce n’est que le 15 mars 2021 que le Supremo Tribunal Federal
(STF) [Tribunal Suprême Fédéral] a interdit l’utilisation de l’argument de la
défense de l’honneur dans les crimes de féminicide au Brésil (STF, 2021).
La question que l’on peut se poser est la suivante : qu’est-ce qui sou-
tient cette invisibilité et cette tolérance de la violence à l’égard des femmes
? Évidemment, plusieurs réponses sont possibles, de l’anthropologie et de la
sociologie à la psychanalyse. Mais dans tous les cas, la « culture d’infério-
rité » à laquelle les femmes sont soumises, opérant depuis des siècles dans
les processus de subjectivation, est certainement l’un des aspects à prendre
en considération.
La psychanalyse, à partir de son éthique et de sa pratique, peut et doit dire
quelque chose sur la violence et la haine dirigées vers le féminin et à l’égard
des femmes. Nous sommes constamment confrontés – soit dans la pratique
clinique ou dans le domine de la recherche en extension – à des manifesta-
tions de violence et de destruction dirigées contre l’autre ou contre soi-même.
Cependant, nous orientons la direction du traitement et de la recherche par
218
une position éthique et politique qui met l’accent sur la singularité du sujet et
non sur son annihilation, en cherchant à dire quelque chose qui élargisse les
possibilités d’aborder la violence de genre, que ce soit dans le domaine des
politiques publiques ou dans le domaine clinique, car il s’agit d’un phénomène
qui traverse les deux domaines.
À la recherche de cet élargissement, nous considérons dans cet article la
violence de genre comme n’étant pas exclusivement dirigée contre les femmes,
mais fondamentalement ancrée dans une haine du féminin, ce féminin étant
conçu ici comme un champ autre, une jouissance autre, impliquant une altérité,
229 Terme inventé par Lacan (1972-73/2010) pour dire à propos d’un mélange entre la haine et l’énamoration.
VIOLÊNCIA DE GÊNERO E ÓDIO AO FEMININO 219
Nous arrivons ainsi à un paradoxe, car nous savons que cette position
délicate diffère d’une autre qui est offerte au sujet dans un processus d’écoute
fondé sur la logique clinique psychanalytique. Comme le dirait Lacan (1965-
66/2018), le sujet est toujours responsable de sa condition. Il est évident que
cette position exclusivement clinique et radicale sur le transfert ne doit pas
être transposée au lien social sans risque d’apparaître comme néfaste et erro-
née. Il ne s’agit pas, bien sûr, de suggérer que les femmes qui sont violées,
abusées et assassinées par leur partenaire doivent être tenues pour respon-
sables ou blâmées pour cela. Juridiquement, socialement et historiquement,
La haine du féminin
logique universel des hommes, avec la prétention d’une totalité, telle que
« l’humanité » est conçue. Nous avons un ensemble universel soutenu par
l’identification avec le père « Un ». Le premier père, défini par Freud comme
le « père de la horde primitive » (Freud, 1912-13/2012), ouvre la série de
l’ensemble des hommes/humanité.
La position du père comme référence mythique indique également la
généalogie de la tradition patriarcale et masculine dans l’histoire de l’huma-
nité. La prétention à l’universalité suppose une totalité qui peut se transformer
en totalitarisme. La place du père, équivalente à celle du chef dans la masse,
suggère ainsi le risque d’un discours totalitaire, comme nous l’avons observé
dans la « psychologie des masses et analyse du moi » (Freud, 1921/2011b).
En tirant quelques conséquences politiques pour notre travail, nous pou-
vons observer la prétention d’une totalité de l’universel, ajoutée au maintien
d’une identification primaire avec le père, rendant le champ phallique-mascu-
lin plus propice au totalitarisme. Ce qui ne veut pas dire que tous les hommes
sont totalitaires, puisque nous allons argumenter sur l’impossibilité de cette
totalisation. Quoi qu’il en soit, il n’y a pas de mal à considérer la position et
le soutien phallique-masculin comme importants pour la condition subjective
des hommes qui commettent des actes de violence contre les femmes, voire
déterminants. Car nous verrons que le féminin est le champ qui dénonce tou-
jours l’impossibilité de cette totalité et qui, pour cette raison même, devient
la cible de la colère réactive du champ phallique-masculin.
Nous savons que Freud s’est heurté à l’insuffisance de ce champ
de sexuation phallique-masculin pour parler du féminin et de la femme
(Freud, 1924/2011, 1925/2011, 1931/1980, 1932-33/1996b). L’identifica-
tion primaire avec le père, ainsi que l’identification phallique, produisent un
sujet dont l’incorporation du vide du père le place dans une position phal-
lique-active. Mais tout ce processus œdipien n’explique pas « ce qu’est une
femme » (Freud, 1932-33/1996b). Cette question est restée ouverte dans
l’œuvre de Freud, et Lacan a suivi cette voie, non pas pour définir défini-
tivement ce que serait une femme, mais pour reformuler la question, en la
sortant du cadre phallo-signifiant pour la placer dans le champ de la jouissance
224
Féminiser le trou
n’émerge qu’après une seconde coupure de la structure, qui fait tomber l’objet
a. C’est-à-dire: le sujet vient après la deuxième coupure, ou après « l’acte X »
qui opère une forclusion originale dans la structure, comme proposé dans le
séminaire RSI (Lacan, 1974-75/2003).
Dans une certaine tradition du domaine de la psychanalyse, il a été établi
qu’une position passive-objectale serait caractéristique du féminin et qu’une
autre position phallique-active correspondrait au masculin. Bien que Freud
(1931/1980) ait réfuté cette première approche qui infère cette corrélation
entre passif/féminin et actif/masculin, cette tendance est restée quelque peu
implicite, quelque peu non déclarée. Pour ce qui nous intéresse, nous enten-
dons partir de ce constat, qu’une position et une jouissance objectale n’est
pas exclusive du féminin, ni de la femme, mais une position originale du sujet
dans la structure.
Cette position originale n’est pas exactement homosexuelle comme le
propose Butler (2014 ; 2017), mais mobilise une jouissance objectale, que nous
ne pouvons pas considérer, encore, comme féminine. C’est une jouissance du
corps, qui marque une position du sujet dans le fantasme ($<>a), qui se situe
comme attaquée par la jouissance de l’Autre (A), c’est-à-dire cette attaque qui
vient du corps du réel (Lacan, 1976-77). C’est une jouissance objectalisante
devant laquelle le sujet se voit convoqué pour faire quelque chose, que ce
soit de l’ordre d’un bord, ou en prenant une position phallique quelconque.
Nous savons qu’une première réponse du sujet, déjà bien développée par
la psychanalyse, est la réponse phallique, face à cette menace de passivation.
Mais ce que le fantasme nous apprend, c’est qu’il y a au moins deux pôles de
jouissance dans la structure: un relatif à la jouissance phallique, où le sujet
se situe dans sa position active; et un autre de jouissance objectale, propre au
masochisme originel, qui n’est pas seulement un problème pour le féminin,
mais pour tout sujet. Ce pôle est marqué dans le corps comme source de
jouissance et se présente comme une des positions du fantasme: $<>a.
Ce qui nous intéresse, c’est justement de problématiser comment ce pôle
de la jouissance objectale est traité, comment le sujet répondrait devant ce
228
RÉFÉRENCES
Amigo, S. (2007) Clínica dos fracassos da fantasia. Prólogo de Héctor Yan-
kelevich. Rio de Janeiro: Companhia de Freud. (Trabalho original publicado
em 1998)
Bodiou. L., Chauvaud, F., & Grihom, M-J. (2019). Violences genrées dans
le lien de couple, en famille: tolérable et intolérable, visible et invisible dans
narrations et figurations privées, sociales et culturelles. Projet de Recherche
réalisé à la Fondation Maison des Sciences de l’Homme. Mimeo.
outros textos. Trad. Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras.
(Trabalho original publicado em 1925).
Freud, S. (2012). Totem e tabu. In Obras Completas, volume 11: totem e tabu,
contribuição à história do movimento psicanalítico e outros textos. Trad.
Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras. (Trabalho original
publicado em 1912-13).
Supremo Tribunal Federal. (2021). STF proíbe uso da tese de legítima defesa
da honra em crimes de feminicídio. http://stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDe-
talhe.asp?idConteudo=462336.
1 No mundo, 1 em cada 3 mulheres já sofreu algum tipo de violência física ou sexual (OPAS, 2020) e o número
de crimes contra as mulheres teve em 2019 um aumento de 43% em relação aos últimos 4 anos (FSPB,
2020). No Brasil, esses dados são atribuídos ao maior número de denúncias, após a promulgação das leis
11.340, de 2006 (Lei Maria da Penha) e a Lei 13.104, de 2015, que qualificou como feminicídio o crime
contra mulheres.
238
2 Assim como na Fábula erroneamente atribuída a Esopo e reescrita por diversos autores, o lobo, para ter
comida fácil, se veste com a pele de um cordeiro e se junta ao rebanho, enganando o pastor.
VIOLÊNCIA DE GÊNERO E ÓDIO AO FEMININO 239
O Enigma da Diferença
Do Feminino e da Feminilidade
3 Cis ou cisgênero é o adjetivo que caracteriza a pessoa cuja identidade de gênero corresponde ao gênero
de nascimento.
VIOLÊNCIA DE GÊNERO E ÓDIO AO FEMININO 241
Da Recusa à Feminilidade...
REFERÊNCIAS
Arán, M. (2006). O avesso do avesso – feminilidade e novas formas de sub-
jetivação. (1ª ed.). Garamond.
Beauvoir, S. (1980). O segundo sexo. – fatos e mitos. (4ª ed). Difusão Européia
do Livro. (Trabalho original publicado em 1949).
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Lacan, J. (2005). O seminário, livro 10: a angústia. Jorge Zahar Ed. (Trabalho
original publicado em 1962-1963).
être la toile de fond qui soutient la haine au féminin, qui est la refuse à la
féminilité et ce qu’elle suscite en l’autre du partage des sexes. Nous deman-
dons, aussi, se l’angoise du rencontre avec l’Autre sexe ne serait-il pas de la
fonction d’un mode de plaisir suprême, énigmatique et inapréhénsible, nomé
comme suplementaire, par Lacan (1972-1973/2010)?
Bien que nous reconnaissons que, quelque analyse qui aie l’intention
d’établir les causes de la violence contre la femme, ne puisse pas échaper à
la dimesion éthique-politique et socio-culturele, notre discussion se pendra à
l’aspect de cette question, directement en relation avec l’objectif de cet article:
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L’enigme de la différence
Du féminin et de la féminilité
qu’ il n’y a pas de libido, sauf la masculine, c’est à dire, dans l’inconscient,
il y a Un sexe. En cette conception, quelle place reste-il au féminin, qui ne
soit pas ce du tortuex champs de l’Autre, de l’alterité ou l’object qu’il a
besoin de chercher dans l’expérience à soi même, une à une, ses références
identifiables? Peut-être, justement pour cela, il soit impossible de fournir
une définition univoque de féminin en psychanalyse, en mantiant, ainsi, son
caractère énigmatique.
Mais, rappelons-nous que le féminin, en Freud, correspoderait à la posi-
tion de la femme, champs d’éxces du pulsion et de la passivité. C’est juste-
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ment cela le chemin de la jeune fille à la féminilité, que peut être élucidé par
le lien maternel, comme proposé en L’Analyse finite et l’infinite, sur laquelle.
Freud (1937/2017) insère l’idée d’un nouveau inregistrement pour
au-delà du phallique-édipien, celui de la féminilité originaire, en définiant
la proximité entre féminilité et pulsion. Ainsi, la féminilité laisse d’être seu-
lement un des destins possibles pour la jeune fille, ou son recontre avec
la sexualité féminine, pour être la position originaire de tout parleur. Mais
l’homme ne veut pas savoir de cette possibilité, nous dirions même que,
pour quelques uns, la refuse est radicale et peut nourrir une haine au féminin,
capable d’ exploser en violence. Examinons-nous ce qu’implique la refuse
à la féminilité, pour analyser ses conséquences sur la lecture possible de la
haine au fémimin.
et sa refuse. Selon Arán (2006, p. 12), Freud aurait montré au même temps
“… un limite de la technique psychanalytique comme aussi des subjectivités
soutenues sur une logique phallique”.
Si l’envie du pênis et le protêt masculin se lévent de manière défensive
como refuse à la féminilité, cela pourait être dans un champs originaire. Mal-
gré employer le terme féminilité, nous pouvons concevoir un éloignement de
la feminlité, pareil à une sortie édipique de la jeune fille, en se rapprochant au
plus d’une refuse du féminin, ce champs d’éxces de pulsion et passivité que
nous voyons décrits aux premiers écrits. Avec le masculin s’en lévant comme
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C’est porquoi l’objet a est du côté féminin et, par la position fémi-
nine être caracterérisé par un plaisir supplementaire, non-tout phallique, que
nous pouvons penser à la rélation entre celle-là et l’angoisse, Lacan (1962-
1963/2005) défine le surgissement de l’angoisse quand la manque manque,
quand un autre objet surge au lieu destiné à la castration, au lieu de l’objet a,
qui devrait manquer. En ses mots: “… ce que nous enseigne ici l’expérience
sur l’angoisse par rapport á l’objet du désir, sinon que les objets ne manquent
pas” (Lacan, 1962-1963/2005, p. 64).
Alors, l’angoisse n’est pas signe du danger de la perte de l’objet, car
l’objet a est dès toujours perdu, mais la présence du trou, signe du non savoir
du sujet face à la manque de l’Autre. L’objet a, le plaisir et le réel attestent,
alors, l’impossible de l’identité, l’inassimilable, mais aussi, le contingent
du sujet qui ne permet pas penser une ontologisation du même. Ces trois
séries montrent, justement, ce qu’on fait de plus étranger pour le sujet, car
le sujet méconnaît.
On peut penser, alors, que quelque recontre advenu de la présence de
celui qu’évoque l’objet a, ménace la constiuition du Moi, en étant l’angoisse
un effet de ce dépouillement du Moi face à l’objet. Par une voie ou une
autre, un objet qui se présente dans cette série d’objet a, qui aie un éclat, un
attribut qu’évoque la présence de cet objet que devrait manquer, révient à
la scène, surge en désorganisant la grammaire phallique, bien établiée, de la
position masculine.
Les phenomènes d’ étrangement et d’angoisse sont constament entrourés
avec les manifestations de l’inconscient, qui produisent une imense ouver-
ture à l’autonomie imaginaire du Moi, en défiant les souhaits totalitaires de
l’individu et en imposant une expérience de questionament de soi-même,
plusières fois, insuportable au sujet (Lima & Vorcaro, 2017).
258
Nous parions ici que le féminin, avec son plaisir énigmatique et ina-
préhénsible, attesterait la présence de cet objet, le réel de l’Autre, qui pousse
la vision de la complète absence de structure, imaginaire ou symbolique, qui
recouvre tout le sujet. L’angoisse surgirait comme fruit de ce point paradoxal
de l’inconsistance qui atteste le non complet du symbolique et l’absence d’
autonomie du sujet.
Le féminin incarne quelque chose d’inassimilable dans notre corps à
nous, et montre un horreur que ne peut pas être, simplesment, éffacé, comme
un fantôme. L’altérité en soit même. Penser le momen possible de ce contact
RÉFÉRENCES
Arán, M. (2006). O avesso do avesso – feminilidade e novas formas de
subjetivação. (1ª ed.). Garamond.
Lacan, J. (2005). O seminário, livro 10: a angústia. Jorge Zahar Ed. (Tra-
balho original publicado em 1962-1963).
A ESCUTA DA VIOLÊNCIA
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DO LUGAR DE ASSISTIDA AO DE
SUJEITO DO DESEJO: escuta clínica
com mulheres em situação de violência
doméstica em tempos de COVID-19
Leônia Cavalcante Teixeira
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Introdução
escolha de sua neurose, o que exige que saia de uma posição de vítima, assu-
mindo uma posição de agente ativo naquilo que se queixa.
Barros (2012) situa a urgência subjetiva entre dois aspectos: a) a imi-
nência da passagem ao ato, onde se identifica o paradigma do suicídio como
exemplo; b) o afeto nas situações de angústia insuportável ou crise. Lacan
(1962-1963/2005), por sua vez, define a angústia como uma irrupção do Real
no Simbólico: “A angústia, dentre todos os sinais, é aquele que não engana”
(p. 178). Conforme afirma Berta (2015),
que a ele cabia “cuidar das crianças”. Deve-se mencionar que, mesmo com
as mudanças de residência, o agressor continuou a exercer, por muito tempo,
o papel de “cuidador” dos parentes menores de idade.
A relação que culturalmente se estabelece entre o papel masculino e o
papel feminino e que pode adquirir múltiplas facetas como a polarização entre
passivo/ativo, razão/sentimento, força/fragilidade, superioridade/inferioridade,
virilidade/impotência, revela-se particularmente potente neste relato clínico.
Não por acaso, Pérola conseguiu se desvencilhar do agressor após conhe-
cer, aos quinze anos de idade, “um jovem forte, decidido, macho o suficiente”,
Pérola, que chega marcada pelo lugar de assistida a ela garantido pelo
discurso dos dispositivos jurídicos, produz uma retificação subjetiva a partir
do encontro com a escuta psicanalítica e seus efeitos singularizantes, o que
ratifica a potência da urgência subjetiva.
Considerações Finais
Na escuta de mulheres vítimas de violência doméstica, expostas à situa-
ção de vulnerabilidade e risco, como já foi dito, percebe-se a íntima relação
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REFERÊNCIAS
Andrade R. J., & Dassoler, V. A., & Quadros Cherer, E. (2012). A apli-
cabilidade do dispositivo clínico-institucional urgência no tratamento
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Bastos, G., Carbonari, F. & Tavares, P. (2020, agosto 24). [Web Page] O
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brazil-addressing-violence-against-women-under-covid-19.
Campos, B., Tchalekian, B., & Paiva, V (2020). Violência contra a mulher:
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VIOLÊNCIA DE GÊNERO E ÓDIO AO FEMININO 273
Souza, H. G & Pimenta, P. R. (2014). Por que elas não (re)tornam? Consi-
derações sobre a não adesão ao tratamento por parte da mulher em situação
VIOLÊNCIA DE GÊNERO E ÓDIO AO FEMININO 275
Val, A. C., & Lima, M. A. C. (2014). A construção do caso clínico como forma
de pesquisa em psicanálise. Ágora: Estudos em Teoria Psicanalítica, 17(1),
Editora CRV - Proibida a impressão e/ou comercialização
99-115. https://doi.org/10.1590/S1516-14982014000100007
Introduction
Tout ceci montre que le contexte de la pandémie n’a fait que corrobo-
rer le problème de la violence à laquelle les femmes sont quotidiennement
confrontées dans différentes parties du monde, ce qui met en évidence les
modes opératoires, les profils des agresseurs et aussi les graves répercussions
sur la subjectivité des femmes battues. Instituto de Pesquisa Econômica Apli-
cada – IPEA (Institut de recherche économique appliquée), dans son Atlas
de la violence 2020 (IPEA, 2020), souligne qu’en 2018, 4 519 femmes ont
été assassinées au Brésil. Ce taux correspond à 4,3 homicides pour 100 000
habitants féminins, l’équivalent à dire qu’une femme est assassinée au Brésil
234 Sanctionnée le 7 août 2006, la loi Maria da Penha (BRÉSIL, 2006) compte 46 articles répartis en sept titres,
contenant des mécanismes pour prévenir et restreindre la violence domestique et familiale contre les femmes,
en conformité avec la Constitution.
235 La Casa da Mulher Brasileira est un équipement du Gouvernement Fédéral, issu de l’initiative du Ministério dos
Direitos Humanos – MDH (Ministère des Droits de l’Homme), qui fonctionne avec un réseau de protection et
d’assistance humanisée aux femmes victimes de violence. Au Ceará, l’entité existe depuis décembre 2018 avec
la direction du gouvernement de l’État, par l’intermédiaire du secrétaire de la protection sociale, de la justice,
de la citoyenneté, des femmes et des droits de l’homme. La Maison abrite le Commissariat de Défense de la
Femme, le Juge de la Violence Domestique et Familiale contre la Femme, le Ministère Public et la Défense
Publique, rendant ainsi possible l’accueil de la femme par des femmes collaboratrices et la transmission de la
dénonciation sous une forme rapide et spécialisée, visant à éviter la victimisation, puisque les services cités sont
situés dans le même établissement qui, aussi, architecturalement a l’objectif de rendre possible la circulation
de la femme assistée et la transmission du cas de violence entre les services qui y existent.
236 Ce chapitre est le produit du projet de service en ligne pour les femmes en situation de violence domestique,
dont le premier objectif est de servir des femmes à partir du dispositif de l’urgence subjective, ce qui met
en évidence son caractère clinico-institutionnel. Le service en ligne au Brésil a été autorisé par le Conseil
Fédéral de Psychologie par la résolution n° 4 du 26 mars 2020, qui régit les services psychologiques fournis
au moyen des technologies de l’information et de la communication pendant la période de la pandémie
COVID-19, sous la forme de l’inscription du professionnel au Registre national des professionnels de la
psychologie pour la consultation en ligne (e-Psi). À partir des consultations, approuvées par COÉTICA n.
4 306 052, les participants ont été interrogés sur l’autorisation de l’utilisation des données pour la recherche
« Violence de genre dans l’isolement social de la pandémie COVID-19 » et 57,9 % ont consenti, étant le
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – TCLE (Formulaire de consentement éclairé) présentée en
audio ou vidéo. La confidentialité et l’anonymat sont préservés, étant les noms fictifs.
280
237 Selon les données sociodémographiques des participants au projet de soins, obtenues à partir d’un
questionnaire appliqué aux professionnels, 52,6% des personnes aidées avaient entre 31 et 40 ans et
avaient terminé leurs études secondaires. Parmi les types de violence signalés par les femmes, celui qui
est apparu le plus fréquemment fait référence à la violence psychologique. De ce fait, 78,9 % des personnes
aidées ont bénéficié de mesures de protection juridique pour les protéger de l’agresseur. Dans 89,5% des
cas, la violence dirigée vers les personnes assistées s’est produite avant la période de pandémie causée
par la diffusion de Covid-19 et dans 57,9% d’entre eux, l’épisode de violence, présent avant la période de
pandémie, a été intensifié pendant la quarantaine, quand il a été exigé la permanence dans la maison,
étant permis, seulement, l’accomplissement des activités essentielles, comme aller au supermarché, à la
pharmacie et aux institutions de santé.
VIOLÊNCIA DE GÊNERO E ÓDIO AO FEMININO 281
C’est dans cette rencontre avec le Réel que le sujet fait face au trauma-
tique, faisant émerger une urgence qui nécessite une réponse rapide. Bien que
ces interventions soient brèves dans le temps, elles ne se confondent pas avec
les traitements adaptatifs, ni avec les thérapies focales, car elles sont guidées
par l’éthique et la politique de la psychanalyse, ce qui exige un travail rigou-
reux avec la clinique. Ansermet et Borie (2007) soulignent que ce n’est pas la
cela. Je veux que justice soit faite, qu’il signe le divorce, trouver un emploi,
aller à l’université, commencer une vie avec quelqu’un d’autre ». L’écoute de
Caciana fait réfléchir qu’il y a eu un revirement de la position subjective face
à la souffrance associée à la situation de violence dont elle se sentait victime,
rompant avec la place historiquement légitimée et offerte aux femmes dans
le domaine des politiques publiques brésiliennes. Bien que la conquête des
droits soit cruciale pour la garantie de la citoyenneté de la femme, il convient
de souligner la pertinence d’assurer ce qui marque singulièrement l’histoire
de chaque sujet et son pathos.
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d’être entendu, de parler à quelqu’un, ce que personne n’a jamais voulu entendre
sans crainte de jugement, c’est-à-dire le récit intime de son histoire/tragédie
personnelle, fait place aux questions inhabituelles. Il est peut-être possible de
« s’améliorer en tant que personne », de rompre l’isolement affectif et de sur-
monter la peur d’approcher des étrangers, car la figure masculine, qui porte la
marque de l’ambiguïté, ne doit pas être la figure centrale et déterminante de la
vie d’une femme. « Peut-être y a-t-il dans le monde des gens bien, capables de
ne pas maltraiter l’autre ». Qui sait, peut-être il n’est pas nécessaire de déléguer
à un homme, actuellement policier et petit ami jaloux, la sécurité de sa vie.
Dans un pari sur la possibilité d’affronter les fantômes du passé, par le
biais de l’élaboration psychique, Pérola croit qu’un jour elle pourra garantir sa
propre sécurité et élargir son horizon affectif. Elle déclare, lors de la dernière
séance du programme, le désir de poursuivre le processus thérapeutique, en
un autre temps et dans un autre lieu.
Pérola, qui arrive marqué par la place d’assistée garantie par le discours
des dispositifs juridiques, produit une rectification subjective de la rencontre
avec l’écoute psychanalytique et ses effets singularisant, qui ratifie la puissance
de l’urgence subjective.
Considérations finales
RÉFÉRENCES
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288
Souza, H. G & Pimenta, P. R. (2014). Por que elas não (re)tornam? Consi-
derações sobre a não adesão ao tratamento por parte da mulher em situação
290
238 Agradecemos a todos que contribuiram para que essa escuta acontecesse, especialmente as jovens e
adolescentes do PRB; a nossa coordenadora especialista de genero pela Johns Hopkins Universitiy.CCP/
MZ, Maria Dirce Pinho; as nossas colegas psicologas provinciais, Carolina Cumbane (Nampula) e Chantel
Kanji (Zambezia) e as psicologas assistentes Atília Rajabo, Consolata Vamos Ver, Dulce Diamante, Fazila
Rebelo, Helena Mateus, Joceline Peru, Lenira Mahoque, Mariam Firoz, Marla Cabral, Nelsia Cumbane,
Rukeia Calu, Suraia Azinheira e Vanessa Cossa.
292
Psicanálise e violência
Nacional de Estatística [INE], 2012), o país tem uma das taxas mais elevadas
de casamento prematuro do mundo, e a segunda maior taxa na sub-região da
África Oriental e Austral. Assim, em 28 de março de 2010, entrou em vigor,
no país, a Lei sobre a violência doméstica praticada contra a mulher (WLSAa,
n.d.), que tem como objecto “a violência praticada contra a mulher, no âmbito
das relações domésticas e familiares e de que não resulte a sua morte.” (Art.1
da Lei 29/2009 de 29 de Setembro).
Investigações do fórum psicológico têm procurado lançar luz sobre a
aparente passividade das mulheres perante a violência sofrida no âmbito
diagnóstica que inclui a cena social. A autora (Rosa, 2002) analisa também, as
dificuldades de escuta em territórios das cidades marcados pela desigualdade
e sublinha a situação transferencial quando quem escuta e quem é escutado
ocupam lugares opostos na estrutura social. De um lado, estão os porta-vozes
dos emblemas que possibilitam posições fálicas, os que sabem e dominam as
ferramentas de pertinência social; do outro, as pessoas que frequentemente
possuem o peso imaginário de estar fora, excluídas da estrutura social.
Uma análise semelhante pode ser encontrada nas posições sociológicas
de Souza (2009), quando sinaliza que a produção de desigualdade social
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problemática que cada uma traz. O suporte das mentoras no PRB é propor-
cionado em encontros de supervisão com jovens mulheres – as pontos focais
e monitoras – também da mesma realidade que já foram mentoras e têm
experiência no programa.
Sustentadas na metodologia de escuta territorial em situações sociais
críticas (Broide & Broide, 2015), na proposta de escuta grupal de Figueiredo
(1997) e no modelo de testemunho e resgate de memórias de Rosa (2002)
desenhou-se para o Apoio Psicossocial do PRB uma metodologia de trabalho
participativa baseadas em três pilares: 1) escuta activa; 2) sessões de grupo
um diálogo, sobre aspectos mais simples de sua vida até chegar a assuntos
mais sensíveis, respeitando-se a abertura que a pessoa demonstrasse para
falar. Foram abordados os mesmos temas das sessões de grupo, ou seja, a sua
história, o contexto familiar em que vivia, o trabalho de mentoria que exercia
e as maiores dificuldades que vivenciou nas suas comunidades. Procurou-se
ressaltar as figuras de suporte que encontrou e a importância de se buscar
apoio junto às pessoas quando estão enfrentando dificuldades.
No segundo trimestre de 2020, o atendimento psicológico individual foi
adaptado para ser implementado à distância – ao telefone – considerando-se a
pandemia da COVID-19, em que Moçambique declarou estado de emergência.
Foi contratada uma equipa de 15 psicólogas que, depois de receberem uma
capacitação para realizar a modalidade de atendimento à distância, atendeu,
de maio a julho, mais de 1000 mentoras do PRB. Os atendimentos ao telefone
com cada pessoa aconteceram uma, duas ou três vezes ao todo, consoante o
que se fizesse necessário para cada uma das adolescentes ou jovens.
A fala de uma das participantes foi escolhida para apresentar o caso que
foi escutado na intervenção presencial em grupo. Maria (nome fictício), 22
anos, está há dois anos no PRB. Ela foi bastante participativa nos encontros.
Durante a dinâmica do espelho, ao ver o seu rosto, Maria se jogou em prantos
no chão e narrou sua história:
Aos 5 anos a sua mãe não tinha condições para ficar com ela e deixou-a
aos cuidados do seu pai e da madrasta com quem viveu até aquele ano. Aos 12
anos, enquanto o pai estava a trabalhar em outra cidade, Maria começou a
sofrer assédio sexual por parte do tio (irmão da madrasta). Após várias ten-
tativas o tio a violou sexualmente de forma violenta:
Eu fiquei quase uma semana sem falar e nem tinha para quem contar nem
para minha madrasta porque ela não era minha amiga, e eu tinha vergonha
de dizer para as pessoas. [...] Depois de uma semana minha madrasta
me manda comprar pão quando eram 19 horas. Encontrei 2 jovens pela
estrada e estes me levaram para uma casa abandonada. Eu estava sozinha
naquele sítio, não tinha ninguém para me ajudar, eles fizeram aquilo tudo
de novo. Foi a segunda vez. Quando eu fiquei grávida eu não sabia de
quem era a criança, era muito nova, não sabia se estava grávida ou não.
Maria relata que quando o enfermeiro que estava a cuidá-la lhe disse
que estava grávida e sugeriu que abortasse, ela pediu para não abortar pois
VIOLÊNCIA DE GÊNERO E ÓDIO AO FEMININO 299
desejava ter o bebé, uma vez que não sabia se teria filhos ou não depois de
tudo que passou. “Eles deixaram uma lesão dentro de mim, uma coisa quase
incurável, eu ainda sinto dor dentro de mim.” Maria teve que deixar a escola
para poder cuidar do seu filho, que hoje tem 10 anos, e que por causa dele
encontrou forças para trabalhar, voltar a estudar e terminar a escola.
Enquanto Maria contava sobre o que havia lhe sucedido, as outras meni-
nas choravam junto com ela. Todas as participantes se identificaram com o
que Maria sofreu. Muitas delas já haviam experienciado alguma forma de
assédio ou abuso sexual em algum momento da sua vida e guardavam esse
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Melanie
A vontade de gritar, ficar com raiva surgiu quando descobriu que estava
grávida. A família a culpa por tudo o que acontece de “errado”. Ela afirma
pensar muitas vezes em tirar a vida quando as pessoas gritam com ela, mas
não tem coragem. Sente-se como se estivesse sempre cansada. Os pensamen-
tos de suicídio só aparecem quando ela está desocupada. Recentemente, sua
outra irmã acusou-a de usar saia curta para chamar a atenção do marido dela.
Ambas irmãs começaram a falar da vida sexual da Melanie, apontando que
com aqueles comportamentos ela iria acabar grávida de novo.
de si e do outro.
Para os psicanalistas mais habituados com uma inscrição relativa da
Psicanálise no discurso cultural e social, a abertura de um espaço de fala e
acolhimento e a consequente produção de uma demanda pode parecer uma
intervenção singela. No entanto, trata-se de situações que em todas as culturas
são marcadas pelo trauma e a impossibilidade de transformar o sofrimento
silenciado em palavras. Isso amplia-se quando se inscreve em políticas que
promovem o silenciamento da mulher em aspectos mais gerais. Assim, como
aprendeu-se com Freud, aquilo que aparentemente é singelo, o detalhe no qual
ninguém repara, tem para a Psicanálise um valor precioso.
Esta intervenção, mesmo que pontual, se apresenta como uma importante
via de transformação na vida das mulheres e como uma alternativa eficaz de
enfrentamento à dor provocada pela violência. Promoveu-se uma ruptura com
o pacto do silêncio, seja em relação à violência sofrida ou à cultura da jovem
não falar sobre si mesma. Ruptura que, apostamos, tenha reverberação nas
políticas para e com as mulheres no país.
302
REFERÊNCIAS
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Meija, M., Osorio, C., & Arthur, M. (2004). Não sofrer caladas. Violência
Contra Mulheres e Crianças: denúncia e gestão de conflitos. Maputo:
WLSA Moçambique, p.242.
L’une des voies pour lutter contre la violence de genre est celle de l’in-
tervention collective. Celle-ci implique la réalisation de travaux interdiscipli-
naires et de partenariats interinstitutionnels. Dans cet article, nous présenterons
le résultat d’un partenariat international autour d’un projet mené au Mozam-
bique, en dialogue avec le Brésil240.
Le Mozambique est un pays où le nombre de mariages précoces est très
élevé. Une jeune fille sur deux est forcée de se marier avant l’âge de 18 ans
(UNFPA, 2020), 42,6% des femmes entre 15 et 19 ans sont tombées enceintes
au moins une fois dans leur vie (IMASIDA, 2015) et ont subi une forme de
violence (IDS, 2011), ce qui se traduit par un niveau élevé d’inégalité entre
les sexes et des vulnérabilités psychosociales critiques pour ces filles. Afin de
mitiger ce problème, le gouvernement mozambicain, en partenariat avec les
Nations Unies (ONU), a lancé le programme Rapariga Biz241 (PRB). Le PRB
vise à promouvoir la santé sexuelle et reproductive, les droits humains et l’au-
tonomisation psychosociale et économique des jeunes filles dans les provinces
de Nampula et de Zambezia. Ce Programme, mis en œuvre depuis 2016, s’ap-
puie sur une stratégie de mentorat, dans laquelle des jeunes femmes, formées
sur ces thèmes, interviennent comme modèle de soutien et d’orientation pour
les jeunes filles de leurs quartiers.
Cet article a pour but de présenter les résultats de ce programme à la
lumière de la compréhension psychanalytique. Dans ce chapitre, nous soute-
nons cette possibilité non sans rappeler, comme l’affirme Danto (2005), que
239 Merci à tous ceux et celles qui ont contribué à rendre possible cette écoute, notamment les jeunes filles et
les adolescentes du PRB, notre coordinatrice, spécialiste de genres à la Johns Hopkins University, CCP/
MZ, Maria Dirce Pinho, nos collègues psychologues dans les provinces.
240 Note de traduction : Dans le texte original, afin de mettre en valeur ce partenariat qui implique des différences
culturelles et linguistiques – des accents et des couleurs variés – et à la recherche d’une composition dans la
diversité, nous avons choisi de garder les différences d’orthographe et les expressions idiomatiques propres
à chacun de deux pays.
241 Rapariga Biz est une extension du programme Geração Biz. Le nom signifie « la génération en mouvement »,
ayant été défini et adopté par les jeunes eux-mêmes, pour désigner une génération activement impliquée dans la
recherche de réponses à leurs propres problèmes et besoins dans le domaine de la santé sexuelle et reproductive.
308
la psychanalyse s’est intéressée depuis ses débuts aux causes sociales, ayant
même créé des cliniques et des instituts à cet effet.
Nous soulignons également que la psychologie au Mozambique est
récente, née d’une demande liée à la Guerre civile qui a cessé en 1992
(Yusuf, 2018). Le cours de psychologie clinique a débuté en 1996, et c’est
en 2001 que les premiers professionnels mozambicains ont obtenu leurs
diplômes en psychologie clinique et conseil (Paim Vassoa, 2006).
Par ailleurs, dans la culture mozambicaine, la médecine traditionnelle
coexiste avec d’autres thérapeutiques qui, selon l’Organisation mondiale de
Psychanalyse et violence
souffrance. La cruauté renvoie alors à faire du mal, à torturer, à tuer pour jouir
du mal radical, une jouissance psychique du mal dans tous les cas.
Le désir de faire du mal à autrui est associé, selon Costa (1986), au carac-
tère propre à la violence. Contrairement à l’agressivité, il y a une intention de
détruire dans la violence. L’acte violent porte la marque d’un désir, l’usage
délibéré de l’agressivité.
Pour Hartmann (2005), l’acte violent échappe à la représentation, mais
il n’en produit pas moins des représentations différentes. Ainsi, ce que l’on
sait de la violence, ce sont des manifestations qui relèvent de discours dans
lesquels la violence elle-même n’est pas saisie. Quand la parole est absente,
la violence saute aux yeux.
Selon l’UNICEF (2020), une femme sur trois dans le monde a subi des
violences physiques ou sexuelles à un moment de sa vie. Au Mozambique, on
estime qu’une femme sur quatre subit ce type de violence, et qu’une fille sur
deux se marie avant l’âge de 18 ans. La population mozambicaine est majo-
ritairement jeune, et la hiérarchie y est basée sur l’âge, ce qui rend les jeunes
filles sexuellement plus vulnérables (Cruz e Silva et al., 2007). Elles sont
considérées comme des reproductrices, responsables du foyer, de toutes les
tâches ménagères, et il leur revient de procurer du plaisir à l’homme (Arthur
et Mejia, 2006 ; Cruz e Silva et al., 2007). Bien que le Mozambique soit signa-
taire de traités et d’instruments de droit international tels que la Convention
de 1979 sur tous les actes de discrimination à l’égard des femmes, ratifiée
en 1993, et le Protocole à la Charte de Banjul de 2004 relatif aux droits des
femmes en Afrique, ratifié en 2006 (WLSA, s/d), selon les données obtenues
dans l’enquête démographique et sanitaire en 2011 (INE, 2012), ce pays a
l’un des taux de mariage précoce les plus élevés au monde et le deuxième
taux le plus élevé de l’Afrique orientale et australe. Ainsi, le 28 mars 2010,
la loi sur la violence domestique à l’égard des femmes (WLSAa, s/d) est
entrée en vigueur, visant à lutter contre la violence faite aux femmes dans
310
le sujet en font partie. Tout cela, selon Rosa (2002), risque d’engendrer une
résistance à l’écoute de la part des professionnels lorsque cette écoute devient
insupportable. Cela se produit non seulement à cause de la situation elle-même
mais parce que concevoir cet autre, dans son altérité, comme sujet du désir,
traversé par l’inconscient et confronté à des situations d’extrême détresse,
porte la marque de l’inégalité engendrée par l’ordre social dans lequel s’inscrit
le psychanalyste. Dans ces situations, écouter reviendrait à rompre le pacte
du silence du groupe social auquel chacun appartient et dont il jouit.
Les positions de Rosa peuvent être complétées par des réflexions dans la
perspective de la clinique du témoignage, créée pour des situations de répara-
tion psychique liée à la violence de l’État. Nunes et Ribeiro (2018) rapprochent
le témoignage de groupe des objectifs de la clinique psychanalytique ; ils sou-
lignent que chaque mot et chaque signifiant ouvrent à la possibilité d’élaborer
et de construire une expérience subjective. Ce rapprochement marque une
position éthique dans l’articulation des enjeux de l’individu et ceux du collectif.
Les propos de l’une des participantes ont été choisis pour présenter le
cas rapporté lors de l’intervention de groupe en présentiel. Maria (prénom
fictif), 22 ans, participe au PRB depuis deux ans. Elle a eu une participation
très active aux séances. Pendant la dynamique du miroir, elle a fondu en
larmes en racontant son histoire.
À l’âge de 5 ans, Maria, dont la mère n’avait pas les moyens de la gar-
der, est laissée aux soins de son père et de sa belle-mère avec qui elle a vécu
jusqu’à cette année. À 12 ans, alors que son père travaillait dans une autre
ville, Maria a commencé à se faire harceler sexuellement par son oncle (le frère
de sa belle-mère). Après plusieurs tentatives, celui-ci l’a violemment violée :
« J’ai passé presque une semaine sans parler et il n’y avait personne à qui
je puisse le raconter, surtout pas à ma belle-mère car elle n’était pas mon
amie, et j’avais honte de le dire aux gens. [...] Au bout d’une semaine, ma
belle-mère m’envoie acheter du pain à 19 heures. J’ai croisé deux jeunes
hommes sur la route qui m’ont emmenée dans une maison abandonnée.
J’étais seule à cet endroit, il n’y avait personne pour m’aider, ils ont
recommencé. C’était la deuxième fois. Quand je suis tombée enceinte,
je ne savais pas à qui était l’enfant, j’étais très jeune, je ne savais pas si
j’étais enceinte ou non. »
qu’elle avait vécu, elle aurait encore des enfants. « Ils ont laissé une blessure
en moi, une chose presque inguérissable, ça me fait encore très mal. » Maria
a dû quitter l’école pour pouvoir s’occuper de son fils, qui a maintenant 10
ans. Et grâce à lui, elle a trouvé la force de travailler, de retourner à l’école
et de finir ses études.
Pendant que Maria racontait ce qui lui était arrivé, les autres filles pleu-
raient avec elle. Toutes les participantes s’identifiaient à Maria dans ce qu’elle
avait souffert. Beaucoup d’entre elles avaient déjà subi une forme de harcèle-
ment ou d’abus sexuels à un moment de leur vie et gardé le secret d’une telle
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Mélanie
qui se produit même dans les pays où il existe une législation qui permet le
signalement. Au Mozambique, comme mentionné précédemment, l’écoute
clinique et la psychanalyse sont très récentes, et la culture dans ce pays ne
permet pas de parler de souffrance psychique. Il y a une marque culturelle
qui favorise le silence à ce sujet.
Selon le rapport du ministère de l’Éducation de 2008, cité par Osório
(2011), des situations sont décrites dans lesquelles la victime ne dénonce pas
le viol de peur d’être stigmatisée par la famille et la communauté. En outre,
le viol et les traumatismes qui en découlent sont aggravés par l’obligation
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RÉFÉRENCES
Arthur, M., & Mejia, M. (2006). Coragem e impunidade: Denúncia e trata-
mento da violência doméstica contra as mulheres em Moçambique. Maputo:
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que. Maputo: WLSA Moçambique.
Danto (2005). Freud’s Free Clinics: Psychoanalysis & Social Justice, 1918-
1938: Psychoanalysis and Social Justice, pp. 1918-1938. New York: Columbia
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de Janeiro: Núcleo de Atenção à Violência.
Meija, M., Osorio, C., & Arthur, M. (2004). Não sofrer caladas. Violência
Contra Mulheres e Crianças: denúncia e gestão de conflitos. Maputo:
WLSA Moçambique, p.242.
Introdução
que precisássemos entrar em contato com nossos afetos. Contudo, uma boa
maneira para que possamos acessá-los é abrindo-nos à possibilidade do ques-
tionamento. Quem sou “eu”? Será que sei de mim? O que é isso que me
queixo? Esse pode ser um ponto de partida.
A temática da culpa aparece com frequência em diferentes situações na
escuta clínica psicanalítica, entretanto, podemos facilmente observar o quanto
o ser humano, de um modo geral, atribui ao outro e ao acaso a culpa por suas
faltas, frequentemente nomeadas como problemas ou defeitos. Questionar-se,
definitivamente não é uma atividade comum entre a maioria das pessoas que che-
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gam à nossa clínica, tampouco das pessoas que convivemos no nosso dia-a-dia.
Percebemos que em algum momento, a partir da manobra do psicana-
lista, os pacientes começam a questionar-se, não mais atribuindo necessa-
riamente a culpa ao outro, mas muitas vezes sentindo-se culpados. Inicia-se
aí a abertura para uma possível implicação em relação a queixa trazida e ao
sofrimento apresentado.
Notamos que essa lógica aparece insistentemente na escuta clínica com
mulheres que apresentam episódios de violência doméstica. Esse significante
“culpa” com significados diversos para diferentes pessoas, algo que diz da
sua subjetividade, de seus afetos.
Acreditamos não ser questão de culpa. Culpa e responsabilização pos-
suem características bastante distintas – enquanto a responsabilização nos
mobiliza, a culpa nos paralisa. A culpa nos remete ao moralismo, a ideia de
que algo foi errado e por isso há de se pagar pelo erro, sofrer punição.
Temos notado que a ética da psicanálise, que preza pela implicação de
cada sujeito em sua queixa e em seu sintoma, muitas vezes acaba por ser
equivocadamente confundida com a ideia da culpabilização da vítima.
A psicanálise, ao sustentar a importância da responsabilização do sujeito
pelo seu sintoma, não o culpabiliza, mas afirma que fazemos a todo tempo as
nossas escolhas, mesmo que escolhas inconscientes. Sendo assim, deveríamos
nos implicar em nossas escolhas e, consequentemente, no acontecimentos
decorrentes dessas, responsabilizando-nos.
Freud nos faz a importante pergunta já no início de seu ensino, ao
questionar: Qual a sua responsabilidade na desordem em que se queixa?
Ao nos inferirmos essa questão, nos questionamos em relação a nossa
responsabilidade nisso do qual nos queixamos e temos a chance de nos
apropriarmos de nossa vida e nossas escolhas.
A culpa é a “responsabilidade por algo, condenável ou danoso, causado
a outrem; transgressão à lei, crime, delito”, nos ratificando de imediato, sua
íntima relação com a moral e a díade certo/errado. A responsabilização diz de
outra coisa e pode ser definida como a “qualidade de quem é responsável e a
330
Considerações finais
REFERÊNCIAS
Brasil. (2006). Norma Técnica de Uniformização: Centros de Referência
de atendimento à mulher em situação de violência. Secretaria Especial de
Políticas para Mulheres. Brasília: 2006.
Introduction
En plus de travailler avec des femmes qui ont été victimes de violence
à un moment de leur vie, nous menons des recherches sur leur subjectivité.
Que ce soient dans notre cabinet, dans les services de santé publics et dans
les services d’assistance aux femmes victimes de violence, nous constatons
combien il est difficile pour elles de demander de l’aide. La plupart font état
d’un long silence avant de faire la démarche, et ce, en dépit d’une violence
très fréquente au sein du foyer.
Les recherches universitaires sur la violence et les politiques publiques bré-
siliennes mettent toutes en évidence ledit cycle de la violence, qui montre que les
victimes restent souvent avec leur partenaire même en cas de violence répétée.
Le cycle de la violence se compose de trois temps : premièrement, l’ins-
tallation d’un climat de tension dans la relation. En réponse, la femme tente de
calmer son partenaire, elle croit qu’elle peut faire quelque chose pour empê-
cher une future agression plus importante ; en plus, elle pense généralement
que c’est de sa faute. Deuxièmement, l’explosion de la violence : perte de
contrôle et destruction. À cette étape intense et de courte durée, la violence
augmente. Troisièmement, la lune de miel : les regrets de l’agresseur. Il s’agit
d’une période sans manifestation de violence, caractérisée par le regret, les
excuses, les promesses de changements, les cadeaux et les comportements
affectueux, un peu comme au début de la relation amoureuse. Après ce troi-
sième temps de réconciliation réapparaît le climat de tension, et de là s’instaure
le cycle répétitif de la violence (Brasil, 2011).
Malgré le problème du cycle de la violence et la difficulté pour ces femmes
de modifier leur comportement et sortir de cette situation violente, les politiques
publiques pour les droits des femmes proposent la plupart du temps un ache-
minement vers les services d’ordre juridique, les commissariats de police et les
commissariats de police réservés aux femmes (Waiselfisz, 2015). Quand elles
sont adressées à des services spécialisés avec prise en charge psychologique,
l’accent est mis sur l’importance de la prise de conscience et de l’autonomisation ;
336
La psychanalyse nous enseigne que nous sommes des êtres d’affect – pas
au sens d’affection et affectivité, mais de ce qui nous affecte, positivement ou
négativement. De ce qui nous fait avancer ou qui peut nous paralyser. Nous
faisons ici référence à la subjectivité, quelque chose de l’ordre du singulier.
Étant donné que chacun se voit affecté d’une manière très particulière, seul
le sujet lui-même peut connaître et parler de ses affects.
Envisagée très tôt par Freud comme un mécanisme de défense, la pro-
jection sert à attribuer à l’autre des caractéristiques qui nous sont propres et,
par conséquent, à éviter d’entrer en contact avec nos affects. Y accéder n’est
possible qu’en s’ouvrant à la possibilité du questionnement. Qui « je » suis ?
Est-ce que je me connais ? De quoi est-ce que je me plains ? Autant d’inter-
rogations qui peuvent constituer un point de départ.
Dans le cadre de l’écoute clinique psychanalytique, la thématique de la
culpabilité apparaît fréquemment. D’une manière générale, il est facile d’ob-
server combien l’être humain culpabilise l’autre et le hasard pour ses fautes,
souvent qualifiées de problèmes ou de défauts. Se remettre en question est
loin d’être une activité commune pour la plupart des personnes qui consultent,
pas plus que pour les personnes qui partagent notre quotidien.
VIOLÊNCIA DE GÊNERO E ÓDIO AO FEMININO 341
manière saine peut nous donner la chance de prendre une décision sur une
situation donnée. Et reconnaître sa responsabilité vis-à-vis des choix, c’est
être en mesure de changer sa destinée. Si le sujet a fait dans le passé des choix
à l’origine des difficultés dont il se plaint aujourd’hui, rien ne l’empêche de
faire de nouveaux choix pour un nouveau destin, de nouvelles expériences.
Un sujet responsable a la possibilité de comprendre un problème en assumant
la plainte pour décider d’un nouveau choix. Autrement dit, se responsabili-
ser pour le changement. Cette responsabilisation fonctionne aussi pour son
inconscient, pour les choix inconscients. C’est cela dont nous parle l’éthique
ments de sa vie, de s’impliquer dans ce cycle de violence qui, pour une raison
ou pour une autre, demeure.
Considérations finales
RÉFÉRENCES
Brasil. (2006). Norma Técnica de Uniformização: Centros de Referência
de atendimento à mulher em situação de violência. Secretaria Especial de
Políticas para Mulheres. Brasília: 2006.
Aos familiares mencionados resta acrescentar sua mãe adotiva e seus quatro
irmãos, também adotivos. E num momento posterior, são apresentados os
seus filhos, sem ser possível localizar um número determinado.
Em sua narrativa os elementos se misturam, imiscuem-se, dificultando
a tarefa de discernir em seu próprio enredo informações que podem ser con-
sideradas caras para compreender sua história. Assim, servimo-nos da psica-
nálise para situar esse movimento como próprio da forma como esse sujeito
toma a palavra para si e dela faz uso: se não é linearmente que sua história se
encadeia, também não gira em círculos; há encadeamento e alguns pontos se
destacam, como se verá, em acontecimentos marcantes que irão moldar de
uma vez por todas seu destino.
É por um desses acontecimentos que é possível inscrever na sua narrativa
uma trajetória de vida. Na família adotiva de Madalena ela era a única filha
mulher, tendo por outro lado quatro irmãos homens. Seu pai e sua mãe ado-
tivos não podiam ter filhos – o que não foi para eles um impedimento, pois,
o desejo de constituir família foi realizado com a adoção de cinco filhos. Em
que se pese a rivalidade edípica entre mãe e filha, amplamente comentada
por Madalena, um elemento importante deve ser destacado: as joias de sua
avó paterna, herança das mulheres da família paterna, vieram para ela, ainda
que seu pai adotivo tivesse duas irmãs: “A mãe dele já tinha morrido. Então
todas as joias vieram pra mim, todo carinho”. Aqui é colocada como herdeira
única do tesouro das mulheres de sua família, indicando um lugar de desejo
prontamente ocupado por ela.
Segue-se ao relato anterior a seguinte fala de Madalena: “[...] Então eu
não tinha um bom relacionamento, uma boa convivência com a minha mãe
adotiva, porque ela me maltratava muito, me tratava com indiferença, desi-
gualdade”. Logo em seguida, ela conta do momento em que se fez para ela
necessário escolher sobre sua vida profissional: queria cursar artes dramáticas,
química ou bioquímica, mas “Aí minha mãe adotiva falou assim, não, você
tem que fazer magistério, aí eu fui obrigada a fazer magistério, entendeu? Para
satisfazer a vontade dela”. Nessas passagens destaca-se a rivalidade presente
na ligação entre mãe e filha. Freud (1931/1996, p. 247), ao comentar sobre
um dos caminhos possíveis para a sexualidade feminina, extrai daí algumas
348
destino dos filhos não foram suficientes para romper o contato, por via do amor,
que estabelece um certo distanciamento, pela via da errância.
Assim, o pertencimento e a vivência do afeto parecem se mostrar por vias
singulares: seja pela permanência distante dos filhos, seja, paradoxalmente,
no encontro com o cuidado no hospital quando da ocorrência de uma doença
ou no amparo recebido na prisão quando gestante. Enquanto mulher de rua,
estabeleceu laços sociais em lugares poucos comuns ao nosso imaginário.
Tem-se aqui pistas de um feminino que, frente ao impossível de simbo-
lizar e de um gozo não-todo fálico, constrói suas diversas soluções, modos de
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existir. Na rua Madalena tenta tecer seu corpo e na errância revela sua dificul-
dade de instituir um lugar no feminino que enlaça e desenlaça na tentativa de
poder ser mulher e que estabelece um modo de gozo errático – exílio – que
marca sua vida na precariedade do laço social.
REFERÊNCIAS
Alberti, C. (2020). O exílio e a identificação. Latusa. Escola Brasileira de
Psicanálise Seção Rio de Janeiro. 25.
Traiter de la haine adressée aux femmes semble être une question d’ur-
gence dans l’actualité, bien qu’elle ne soit pas une exclusivité de nos jours,
elle est marquée par l’escalade d’intolérance envers les formes de domination
et de ségrégation présentes dans l’histoire de l’humanité. Dans ce contexte, le
féminin incarné dans la figure de la femme semble révéler ce qui met en cause
les limites de la logique phallique, de l’universalité de la violence contre la
femme et ce qui du réel de la contingence «ne cesse pas de ne pas s’écrire »
(Lacan, 1985/1995, p. 27).
Ce chapitre présente des fragments du récit d’un sujet féminin dont l’his-
toire peut révéler le possible et l’impossible du (in)sensé, mais aussi dénonce
les différentes types de violence légitimées par une logique de ségrégation
banalisée dans des contextes culturels où l’ordre féminin est inauguré par le
déclin du père et des idéaux. Pour cela, le discours d’une femme habitant dans
la rue a été utilisé avec la méthodologie de recherche du récit mémorialiste
pour élucider les (dé)chemins de sujets soumis à l’errance. On rassemble
également des études en cours dans des groupes de recherche associés à des
programmes d’études supérieures, de recherche et de cours libres à l’Univer-
sité de Brasilia et à l’Université d’État de Montes Claros, au Brésil.
L’utilisation de l’entretien mémoire permet de tisser quelque chose de
l’écriture de l’histoire du sujet, et devient un outil de travail capable de
rapprocher l’expérience du langage présent au récit et la méthode psycha-
nalytique d’investigation. Une fois que, pour la psychanalyse, il s’agit de
considérer plutôt la façon dont le sujet articule les faits et que sa probabilité
et de dévoiler la vérité à partir de l’expérience du langage, laquelle « se révèle
dans une structure de fiction » (Lacan 1958/1998, 0.752). De cette manière,
356
considérer la vérité dans sa structure de fiction n’est pas mettre de côté les
faits historiques, mais repérer dans l’expérience de langage d’un sujet les
phénomènes inconscients qui soutiennent les faits historiques, bien qu’elle
soit hors d’une linéarité rationnelle et obsédante. C’est sur le domaine de
l’impossible à dire que la dimension inconsciente se fait présente : les lacunes
du discours, les réarrangements de la mémoire produisent de nouvelles his-
toires (Guerra et al, 2017).
Cette enquête s’intéresse à démêler les voies de sortie de la souffrance
en tenant compte des impasses du féminin, d’une femme exilée d’elle-même
sa volonté ». Ces passages font ressortir la rivalité présente dans le lien entre
mère et fille. En parlant d’une des voies possibles pour la sexualité féminine,
Sigmund Freud (1931/1996, p. 247), extrait des conséquences psychiques,
parmi lesquelles la « catastrophe » ou la dévastation en termes lacaniens, qui
place la mère comme la responsable du manque de la fille. Drummond (2011),
affirme que la dévastation peut se produire « sur le point où la fille espère une
identification féminine qui se révèle toujours impossible » (p. 12).
Ainsi, si d’un côté la mère adoptive est prise par Madalena comme la
responsable de sa « dévastation », d’autre part, c’est sur-le-champ de l’identi-
donc toute pelée. Elle ajoute : « tous les enfants font de bêtise », la phrase est
répétée plusieurs fois dans son récit.
Cet épisode est raconté tel un moment de cruauté exquise, selon le
narrateur il a été suivi de menaces concrètes de punitions physiques dans le
cas où elle racontait au père. Cependant, lorsque le sujet est soumis à cette
violence, agression et menace, il se tait diligemment. Et cela peut avoir
servi de déclencheur à une réponse d’un sujet qui peut être lue, juste après,
comme un acting-out.
Pour la psychanalyse le acting-out se situe dans l’intersection entre la
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encore que le père n’assume pas l’enfant, tout enfant a besoin d’affection,
de protection et de soin ». La maternité se présente pour ce sujet comme un
non-lieu de plus pour faire des liens, faisant l’expérience de la maternité une
répétition de sa propre histoire d’errance et de déconnexion.
Parmi une trajectoire de dégradation subjective et des dégâts sociaux
impossibles à dire, c’est à la perte de la tutelle de ses enfants que Madalena
rencontre sa plus grande souffrance, car elle rompe – ou risque de rompre –
avec le lien social qui l’ancrait dans le monde. Son récit nous montre que la
distance et la méconnaissance du destin de ses enfants n’ont pas suffi pour
rompre avec le contacte, voie l’amour, lequel établit une sorte d’éloignement,
voie de l’errance.
Ainsi, l’appartenance et l’expérience de l’affection semble se montrer
par des voies singulières : soit par la distance permanente des enfants, soit,
paradoxalement, dans la rencontre avec le soin à l’hôpital à l’occurrence
d’une maladie ou dans le soutien reçu à la prison pendant sa grossesse. Tandis
femme de rue, elle a établi des liens sociaux dans des lieux qui ne sont pas
communs à notre imagination.
Il y a ici des indices d’un féminin qui, face à l’impossible de symboliser
et d’une jouissance pas-tout phallique, construit ses plusieurs solutions, façons
d’exister. Dans la rue Madalena essaye de tisser son corps et dans l’errance
elle révèle sa difficulté en établir un lieu dans le féminin qui entrelace et délace
dans la tentative de pouvoir être femme et qui établit un mode de jouissance
erratique – l’exile – qui marque sa vie dans la précarité du lien social.
de jouissance qui l’a exilée dans la rue, position qui défie les paradigmes de
ce qui est la femme et qui jette la lumière en dehors du sens féminin.
De la vie hippie à la maternité, de la quête pour les liens sociaux aux
plongées au monde des drogues, le récit de Madalena subvertit l’idée du
foyer comme le seul lieu possible pour être femme. Pourtant, la confron-
tation à la logique de l’espace féminin n’empêche pas l’inscription de la
maternité sur le corps de la femme habitant dans la rue, un corps exprimant
la douleur d’exister.
L’histoire de Madalena nous invite à penser la place d’inscription de la
rue au singulier de chaque sujet féminin et les sorties construites pour faire
face à l’insupportable des insignes d’une jouissance qui marque l’exile sur
plusieurs Madalenas.
364
RÉFÉRENCES
Alberti, C. (2020). O exílio e a identificação. Latusa. Escola Brasileira de
Psicanálise Seção Rio de Janeiro. 25.
E INTERVENÇÕES
POLÍTICAS DE GÊNERO
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MULHER SUBMISSA, MUNDO EM
ORDEM: leituras psicanalíticas sobre a
submissão da mulher e de seu corpo na
discursividade evangélica e na política
Gabriel Inticher Binkowski
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Gisele Laranjeira
cujo assassinado que estaria na fundação do pacto fraterno que limita em gozo
em prol do bem comum, gerando assim a sociedade. O mito é focado na figura
de um líder masculino, que, rodeado por seus filhos, também homens, oscila
entre uma personalização de uma potência divina e o narcisismo humano. Esse
mito, para a psicanálise, se equipara a um mito fundante da compreensão do
estabelecimento das massas e, por conseguinte, dá suporte à análise psicoló-
gica da relação entre líder-grupo, Estado-sociedade, Igreja-fiel.
É intrigante notar que, neste mito fundador da organização das massas,
a presença da mulher se dá como objeto de suporte a um status social: o Pai
O pai primordial da horda não era ainda imortal, como veio a se tornar
pela divinização. Ao morrer, tinha que ser substituído; seu lugar era pro-
vavelmente ocupado por um filho jovem, que até então fora indivíduo da
massa como os outros. [...] Podemos imaginar apenas o seguinte. O pai
primordial havia impedido os seus filhos de satisfazerem seus impulsos
sexuais diretos; obrigou-os à abstinência e, por conseguinte, ao estabe-
lecimento de laços afetivos com ele e entre si, que podiam resultar dos
impulsos de meta sexual inibida. Ele os compeliu, por assim dizer, à
psicologia da massa. Seus ciúmes sexuais e sua intolerância vieram a ser,
em última análise, as causas da psicologia da massa.
Para o seu sucessor também se abriu a possibilidade da satisfação sexual,
e desse modo a saída das condições da psicologia da massa. A fixação da
libido na mulher, a possibilidade da satisfação sem adiamento e acumu-
lação, pôs fim à importância dos impulsos sexuais de meta inibida e fez
o narcisismo crescer em igual medida. (Freud, 1921/2011, pp. 67-68).
um pregador homem nos cultos. Já nas filas para pedir bênção e entregar
o dízimo são as mulheres que prevalecem, neste que é o segundo maior
bloco religioso do Brasil, com 31% da população. (Balloussier, 2020).
Esposas, cada uma de vós respeitai ao vosso marido, porquanto sois sub-
missas ao Senhor; porque o marido é o cabeça da esposa, assim como
Cristo é o cabeça da Igreja, que é o seu Corpo, do qual Ele é o Salvador.
Assim como a igreja está sujeita a Cristo, de igual modo as esposas este-
jam em tudo sujeitas a seus próprios maridos. (Bíblia, Efésios 5: 22-24).
REFERÊNCIAS
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feminina e negra, aponta Datafolha. Folha de S. Paulo. https://www1.folha.
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-e-negra-aponta-datafolha.shtml.
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e baixa entre pobres, diz Datafolha. Folha de São Paulo. https://www1.folha.
uol.com.br/poder/2019/12/moro-e-guedes-tem-alta-aprovacao-entre-ricos-e-
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do impeachment. G1. http://g1.globo.com/politica/processo-de-impeachmen-
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Spyer, J. (2020). Povo de Deus. Quem são os evangélicos e por que eles
importam. São Paulo: Geração.
Gisele Laranjeira
du sujet et la fixité de certains signifiants (La Tessa, 2019) qui sont calqués sur
une configuration symbolique-imaginaire, c’est-à-dire sur un univers social,
culturel et politique. Il s’agit là d’une conclusion et d’un vecteur éthique
fondamental pour la psychanalyse, qui implique la possibilité, à l’aide de ses
outils conceptuels et méthodologiques, d’interroger le discours de l’Autre,
c’est-à-dire les formations sociales, culturelles et politiques où la femme
apparaît comme un signifiant qui marque des êtres dont le corps se caractérise
par une certaine anatomie. Ce risque, cette rigidité c’est ce qui fait qu’une
femme soit prise comme un produit déformé de son opposé, l’homme.
est dit, les figures et d’autres phénomènes qui accompagnent ou qui sont en
relation d’opposition à ces signifiants, ou partout l’arrangement discursif qui
les met en opposition à une certaine figuration de l’homme, du masculin et
d’un imaginaire qui pointe vers les figures du Père et des fils qui tissent des
dispositifs. Tels dispositifs peuvent être de nature juridiques et légaux, car
soutiennent des modalités de configuration familiale, de gestion des corps,
des vies, des plaisir et rapports. Suivant Rosa (2016), les dimensions synchro-
niques et diachroniques du discours sont impliquées dans les tensions entre
le désir et les fictions discursives qui le modulent.
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La place que la femme occupe dans ce mythe est celle d’une sujétion
totale au pouvoir exercé par le Père primordial et son éventuel successeur.
Le mythe patriarcal suggéré par Freud comme étant l’édificateur de la pensée
primitive présente une formation sociale établie dans la hiérarchie promue par
un homme-leader, les hommes-fils (qui désirent le pouvoir) et les femmes,
celles-ci étant l’objet qui donne du sens à ce pouvoir. La soumission de la
femme en tant qu’objet de statuts de pouvoir et la qualité de la relation de
l’homme avec cette figure féminine soumise confère au sujet masculin un
certain rang social qui lui procure pouvoir et prestige dans le groupe, que ce
soit le groupe social, le groupe familial ou le groupe institutionnel, comme
VIOLÊNCIA DE GÊNERO E ÓDIO AO FEMININO 389
dans le cas des religions. Par conséquent, cette image de la femme s’enracine
dans le moule que la foule va s’approprier du rôle et de la place de l’homme
et de la femme.
Dans ce chapitre nous mettons en relief un groupe social en particulier,
celui des évangéliques brésiliens, en vue d’analyser l’extension du rôle de la
femme et donc la violence naturalisée par ce lieu social. Le choix de ce groupe
n’est pas aléatoire : au-delà d’une grande expansion du nombre de fidèles, les
évangéliques occupent des espaces toujours plus importants dans les médias,
dans la culture et principalement dans la politique brésilienne. Ceci dit, bien
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que 58% des pentecôtistes soient des femmes (surtout des femmes noires), il
est très rare de les retrouver parmi les leaders.
« De Edir Macedo à Silas Malafaia, les visages les plus connus du mou-
vement évangélique sont masculins, et le plus courant est de rencontrer
des prêcheurs hommes. Cependant, dans les files pour demander le salut
et pour rendre la dîme les femmes sont la majorité, dans ce qui est le
deuxième groupe religieux du Brésil, représentant 31% de la population »
(Balloussier, 2020, traduction nôtre).
Cet extrait est souvent utilisé par les groupes évangéliques pour expliquer
la soumission de l’épouse au mari, de la femme à l’homme, ainsi que la divi-
sion des rôles selon le genre. Cette division est la condition essentielle pour la
conversion du fidèle, qui apprend dans l’église les déterminations du Dieu à
l’égard de ses enfants, à partir de la construction d’un foyer familial chrétien.
La chercheuse brésilienne Jacqueline Moraes Teixeira s’est penchée
sur les programmes visant précisément l’alignement d’une portée comporte-
mentale avec la prémisse religieuse des rôles de genre, tel qu’elle a lieu dans
l’Église Universelle du Royaume de Dieu (IURD). Ces programmes ont pour
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Les deux mythes présentent un discours qui peut être considéré comme
machiste, où le pouvoir de l’homme est en correspondance avec la faiblesse
de la femme, comme dans le cas d’Athéna ; de la même façon, les femmes
cherchant à acquérir un statut représentatif à partir du pouvoir du Père portent
dans leurs paroles, gestes et actions le statut de pouvoir patriarcal et la position
d’exception accordée au Père primordial. Toutefois, lorsque ce rôle n’est pas
exécuté convenablement, c’est-à-dire quand la Fille du Père n’exerce pas sa
fonction en vue d’un protagonisme patriarcal, elle finit par se faire destituer
de sa place dans le jeu du pouvoir.
Bolsonaro, jeune femme, dont la beauté est celle des standards sociaux, reli-
gieuse et activiste pour le droit des malentendants et des malvoyants.
Dans le gouvernement Bolsonaro, Athéna retrouve sa place comme la
fille qui ne s’attache pas émotionnellement au père humain, mais plutôt au
pouvoir représenté par le Père Primordial. Ministre d’État dans le minis-
tère de la Femme, de la Famille et des Droits de l’Homme récemment créé,
Damares Alves est avocate et prêcheuse évangélique. Selon Datafolha, institut
de sondages renommé, l’évaluation de son mandat comme excellent ou bon
est de 39% pour ceux qui gagnent plus de dix fois le salaire minimum, 43%
pour les rentes de deux à dix fois le salaire minimum et 42% pour ceux qui
reçoivent moins de deux fois le salaire minimum, ce qui fait d’elle la ministre
la mieux évaluée par la population plus pauvre (Caram, 2019). Son discours
priorise les combats d’un agenda conservateur, et bien qu’ayant suscité des
polémiques suite à sa déclaration « Les garçon s’habillent en bleu, les filles
en rose » à la révélation du souvenir d’avoir eu une vision de Jésus monté sur
un goyavier [lorsqu’elle était enfant et victime d’abus sexuels], la ministre
s’est montrée un excellent stratège dans le but de conserver son poste et son
statut, ainsi que sa popularité. Il faut aussi considérer que cette popularité
« blindée » se construit grâce à la stabilité et à la férocité de son discours qui
touche des points centraux de ce qui a été soutenu lors de la destitution de
Dilma, les valeurs conservatrices :
Nous savons que la politique n’est pas faite que d’’unité, étant donné que
les contradictions font partie de tout phénomène humain. Quoique le socius tel
qu’il est conçu par le mainstream évangélique pentecôtiste pointe encore vers
le paradigme patriarcal, machiste et misogyne que l’on a décrit, il est néan-
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RÉFÉRENCES
Balloussier, A. V. (2020, 13 janeiro). Cara típica do evangélico brasileiro é
feminina e negra, aponta Datafolha. Folha de S. Paulo. https://www1.folha.
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Spyer, J. (2020). Povo de Deus. Quem são os evangélicos e por que eles
importam. São Paulo: Geração.
fadadas a terem uma vida invisível. Martha Batalha cita Olavo Bilac poeta
que publicou seus poemas enquanto Maria Rita, “poeta incompreendida se
matou com formicida” quando seu filho Antenor tinha 6 anos. Martha Bathalha
diz que somente após sua morte a poetiza vem a público com a nota fúnebre
de sua morte num Jornal. Antes, Martha Batalha traz uma fala de Maria Rita
numa discussão com o marido: “Você não entende, eu sou uma poeta, uma
artista! Um espírito livre que algemaram a esta vida!”244
Em contrapartida, o Olavo Bilac (7/2/1888) foi poeta com muitas publi-
cações e que reproduziu o discurso machista e patriarcal, isto fica patente, por
Exatos cem anos após a carta de Olavo Bilac à sua noiva Amélia de Oli-
veira245, a igualdade de direitos entre homens e mulheres foi alçada a garantia
constitucional, fundamental, no Brasil (art. 5º, I, da Constituição Federal: “ I
– homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta
Constituição” 1988). Uma igualdade formal, de aplicação imediata, mas cuja
efetividade e construção material ainda é pleito necessário de ser defendido
e desafia séculos de cultura patriarcal.
No ano passado tivemos oportunidade de discutir dois filmes “Colette”
(sobre a vida da escritora francesa e que fez sucesso com o livro Claudine) e
o “Mary Shelley” (que também se tornou escritora, mas somente muitos anos
depois teve o direito de assinar o seu livro de maior sucesso Frankenstein.
Em ambos os casos os maridos assinaram os livros por elas.
Sobre as mulheres e a literatura, Virgínia Woolf declarou, no periódico
The Forum (1929/ 2012), que “o excepcional surto literário no começo do
século XIX na Inglaterra foi procedido por inúmeras pequenas mudanças na
lei e nos costumes”. Além disso, as mulheres oitocentistas tinham alguma
instrução e dispunham de algum tempo livre. Já não era exceção que as mulhe-
res de classe média e alta escolhessem seus maridos.
A interlocução entre Freud com a literatura se desdobra sobre, em certa
medida, no tema das mulheres e a literatura. Do romance “A mulher de trinta
anos” (1834) de Balzac é possível extrair “uma mensagem de progresso, que
antecipa à evolução da condição feminina” (Soler, 2005). A personagem prin-
cipal, Julie, é descrita como aos 30 anos tendo a vida diante de si. Blazac faz
“uma precoce análise das mazelas do matrimônio enquanto cerceamento da
mulher” (Wolf, 1929, p. 106). “Casada, ela deixa de se pertencer, é a rainha
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sublimação passa a ser definida “como uma produção que evidencia o vazio,
cerne de toda criação” (Metzger, 2017, p. 33).
Ao relacionar o conceito de sublimação com “os destinos pulsionais”
(Freud, 1915/1974) podemos examinar o processo criativo como qualquer
formação relativa ao campo pulsional. Na escrita literária, podemos encon-
trar dois polos: o polo da vida e o polo da obra; o polo do transbordamento
pulsional e o polo da simbolização, o polo do excesso e o da contenção, o
funcional e o disfuncional (Carvalho, 2006).
Ao depararmos com esse conceito, o da sublimação, podemos analisar a
questão partindo da condição de Eurídice. A ideia de uma via de transformação
ou apaziguamento do sofrimento, não é possível na personagem. No filme, o
processo que transforma o mundo daquele que cria, que permite de alguma
forma uma inscrição subjetiva, um ponto de amarração parece impedido, uma
vez que Eurídice não pode tocar piano ou desejar outras coisas que não “ser
mãe”, esposa’, “obediente”. Ela enlouquece e atira fogo ao próprio piano,
para logo depois ser diagnosticada com psicose maníaco-depressiva por um
médico que também declara a sua gravidez.
Por outro lado, Guida sucumbe aos desejos sexuais, e em consequência
disso, perde o direito de ser “alguém”. O pai e a mãe fazem desaparecer essa
filha que não seguiu as normas sociais da época.
Assim como o filme A Vida Invisível (2019), de Karim Aïnouz, trata da
condição das mulheres e do feminino a partir das limitações impostas social-
mente, diversas leituras a partir da psicanálise se prestam para poder revelar
a “luta pela libertação dessas limitações”. Se por um lado a escrita tende a
servir como uma produção que demonstra o vazio, por outro lado, a literatura
aponta a desvendar a lógica construtiva das categorias sociais.
O conteúdo, a obra literária, neste caso, não trata tão somente da esté-
tica, mas também da construção fantasmática do sofrimento atrelado ao “ser
mulher” nos anos 50. Uma textualidade a partir da qual podemos dizer algo
sobre o real, algo do qual sem o texto, não poderia se expressar. É isso que
fica invisível, mas faz sofrer. Ao menos, invisível nos anos que se situa a
406
trama das duas irmãs, Guida e Eurídice, perdidas uma da outra e sufocadas
pela opressão do Rio de Janeiro dos anos 1950.
Dizer aquilo que não era possível, ou ainda não é, trazer à tona o sofri-
mento das mulheres, a partir do filme. Cenas de sexo que borra os limites
entre o que é consensual ou não, parecendo uma espécie de abuso “normal e
aceitável”. A obrigação da maternidade, sem poder de escolha e a impossibi-
lidade da paixão de Eurídice pelo piano.
Aqui entra a psicanálise, para posicionar o sujeito, enquanto leitor e
espectador, para o conhecimento daquilo que se fala nas entrelinhas. Busca-
REFERÊNCIAS
Batalha, M. (2016). A vida invisível de Eurídice Gusmão. Editora Companhia
das Letras.
Soler, C. (2005). O que Lacan dizia das mulheres. Rio de Janeiro: Zahar, p. 127.
«Mon Amélia. Je n’ai pas aimé voir ton sonnet [...] Je n’ai pas aimé sa
publication. “Le premier devoir d’une femme honnête est de ne pas être
connue” – N’est-ce pas une grande vérité? [...] Au Portugal et au Brésil,
il y a une centaine de femmes ou plus qui écrivent. Il n’y en a aucun qui
ne parle pas mal, avec ou sans raison. [...] Cela ne veut pas dire que tu
n’écris pas de vers, bien au contraire. Je veux que tu les fais, beaucoup,
pour tes frères, pour tes amis, et surtout pour moi, – mais jamais pour le
public [...] ».
«Un homme, à trente ans, nous semble être un adolescent, un individu non
formé, qui, nous l’espérons, utilisera pleinement ses possibilités de déve-
loppement que l’analyse lui ouvre. Une femme du même âge, cependant,
nous fait souvent peur pour sa rigidité psychique et son immuabilité. Sa
libido a pris des positions définitives et semble incapable de les abandonner
pour les autres » (Freud, 1932/ 1972, p. 165).
révéler la «lutte pour la libération de ces limitations». Si, d’une part, l’écriture
tend à servir de production qui démontre le vide, d’autre part, la littérature
entend dévoiler la logique constructive des catégories sociales.
Le contenu, l’œuvre littéraire, dans cette étude, ne concerne pas seule-
ment l’esthétique, mais aussi la construction fantasmatique de la souffrance
liée à «être une femme» dans les années 50. Une textualité à partir de laquelle
on peut dire quelque chose sur le réel, quelque chose qui, sans le texte, ne
pouvait pas s’exprimer. C’est cela qui est invisible, mais cela que les fait
souffrir. Du moins, l’invisible dans les années de l’intrigue des deux sœurs,
RÉFÉRENCES
Batalha, M. (2016). A vida invisível de Eurídice Gusmão. Editora Companhia
das Letras.
Soler, C. (2005). O que Lacan dizia das mulheres. Rio de Janeiro: Zahar, p. 127.
Débora Passos
Maria Celina Peixoto Lima
Ana Catarina Nogueira Farias
Juliane dos Santos Moraes
Francisca Renata de Araújo Pessoa
Introdução
248 A Lei Imperial n. 3.353 de 13 de maio de 1888 ficou conhecida no Brasil como Lei Áurea e extinguiu de
maneira imediata a escravidão no país. Foi promulgada pela Princesa regente Isabel em uma breve frase,
aproveitando-se de uma ausência do Imperador D. Pedro II. Entretanto, a abolição tornou-se mera figura
jurídica, uma vez que não previa inserção social ou reconhecimento de direitos da população de escravos
recém-libertos, deixando-os à própria sorte. (Monteiro, 2012.)
249 No pensamento ocidental a identidade do “outro” é entendida como algo a se conquistar, para isso é preciso
moldar o diferente de acordo com o que é conhecido para evitar que expresse suas características, suas
qualidades particulares e sua forma genuína de existência. Nesse movimento, espera-se que o “outro” se
encaixe naquilo que já é aceito, condicionando sua singularidade ao apagamento. Ser colocado no lugar de
“outridade” é estar na posição de apagamento por não ser reconhecido como semelhante em uma sociedade
onde o problema está na justaposição ou no nivelamento das identidades, que suprime as diferenças dos
sujeitos que se relacionam e dá prioridade ao que se considera norma. (Treanor, 2006.)
VIOLÊNCIA DE GÊNERO E ÓDIO AO FEMININO 423
250 O retrato de Anastácia foi feito por um francês de 27 anos chamado Jacques Arago entre dezembro de 1817
e 1818. No século XX a figura de Anastácia se tornou símbolo da brutalidade da escravidão e seu contínuo
legado do racismo. Sem história oficial, alguns dizem que Anastácia era filha de uma família real Kimbundo,
nascida em Angola, sequestrada e levada para a Bahia e escravizada por uma família portuguesa. Outros
alegam que ela teria sido uma princesa Nagô/Yorubá antes de ter sido capturada por traficantes europeus.
Outros contam, ainda, que a Bahia foi seu local de nascimento. Segundo todos os relatos, ela foi forçada a
usar um colar de ferro muito pesado, além da máscara facial que a impedia de falar. As razões do castigo
variam de ativismo político e ajuda na fuga de outros escravizados a resistência às investidas sexuais do
“senhor” branco. Após um longo período de castigo vem a falecer de tétano causado pelo colar de ferro. Sua
figura está relacionada a poderes de cura e milagres. É comumente vista como Santa dos Pretos Velhos,
diretamente relacionada ao Orixá Oxalá ou Obatalá – Orixá da paz, serenidade e sabedoria – e é objeto de
devoção no Candomblé e na Umbanda. (Handler e Hayes, 2009 apud Kilomba,2019, pág.35/36)
426
Deste modo, o psiquismo branco está dividido dentro de si, entre uma parte
benevolente e outra má, onde a parte boa é reconhecida como estruturante do
“eu” e a parte má é projetada no Outro. Então, todos os estereótipos negativos,
como, por exemplo, “ladrão” e “violento” são características direcionadas a
pessoas que estão à margem da sociedade. De forma conclusiva, o sujeito
negro, não apenas é visto como o Outro, mas também, é “associado a aspectos
repressores do ‘eu’ do sujeito branco”’ (Kilomba, 2019, p. 38).
Nessa relação de poder onde se impõe o silêncio e se projeta todos os
aspectos negativos nos escravizados, se constrói uma identidade pautada na
entre cor negra e posição social inferior. Portanto, a única saída encontrada
pelo negro para fugir de uma definição inferiorizante foi tomar o branco como
modelo de identidade.
Para Souza (1983), a ideia de raça constitui-se como “noção ideológica,
engendrada como critério social para distribuição de posição na estrutura de
classes” (Souza, 1983, p. 20). Apesar da raça ser baseada em aspectos bioló-
gicos, ela sempre foi definida no Brasil em termos de aptidão para fazer parte
de um determinado grupo social, no qual seus integrantes têm em comum o
mesmo nível escolar/acadêmico e aparato cultural.
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mulheres negras que afirmam não precisarem de terapia, já que, segundo elas,
isso seria para mulheres brancas que não possuem maiores responsabilidades.
Além disso, o retrato da mulher negra forte tem sido usado pelas pessoas
brancas para reafirmar velhos estereótipos. Kilomba (2019) argumenta que as
mulheres negras apresentam uma ausência dupla, uma Outridade duplicada,
já que representam a antítese do ser branco e da masculinidade.
Finalmente, hooks (1994/2000) traz a ideia de que a forma mais efetiva
de vencer a repressão de emoções, seria através do amor. Refletindo sobre
essa questão, é possível perceber a ideia de que o amor simboliza a construção
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REFERÊNCIAS
Carneiro, S. (2005). A construção do outro como não ser como fundamento
do ser. São Paulo: Feusp.
hooks, b. (2000). Vivendo de amor. In Werneck, J., Mendonça, M., & White,
E. (Orgs.). O livro da saúde das mulheres negras: Nossos passos vêm de
longe. Rio de Janeiro: Pallas: Criola.
VIOLÊNCIA DE GÊNERO E ÓDIO AO FEMININO 433
tum. 7(2).
Débora Passos
Maria Celina Peixoto Lima
Ana Catarina Nogueira Farias
Juliane dos Santos Moraes
Francisca Renata de Araújo Pessoa
Introduction
251 La loi impériale n° 3353 du 13 mai 1888 est connue au Brésil sous le nom de Lei Áurea et a immédiatement
aboli l’esclavage dans le pays. Elle a été promulguée par la princesse régente Isabelle en une courte phrase,
profitant de l’absence de l’empereur Pedro II. Cependant, l’abolition est devenue une simple figure juridique,
car elle ne prévoyait pas l’insertion sociale ni la reconnaissance des droits de la population des esclaves
récemment libérée, la laissant à son sort. (Monteiro, 2012).
252 Dans la pensée occidentale, l’identité de ‘l’autre’ est comprise comme quelque chose qui doit être modelé
en fonction de ce qui est connu, empêchant ainsi l’expression de caractéristiques particulières et leur forme
d’existence authentique. Dans ce mouvement, ‘l’autre’ est supposé de s’insérer dans ce qui est déjà accepté,
conditionnant sa singularité à l’effacement. Être placé à la place de ‘l’Outridade’, c’est être en position
d’effacement pour ne pas être reconnu comme semblable dans une société où le problème réside dans la
juxtaposition ou le nivellement des identités, qui supprime les différences des sujets qui se rapportent et
donne la priorité à ce qui est considéré comme la norme.
VIOLÊNCIA DE GÊNERO E ÓDIO AO FEMININO 437
faire face à deux systèmes de référence. Leur métaphysique ou, moins préten-
tieusement, leurs coutumes et leurs instances de référence ont été abolies parce
qu’elles étaient en contradiction avec une civilisation qu’ils ne connaissaient
pas et qui leur a été imposée » (Fanon, 2008, p. 104, traduction libre).
Sur cette base, il est nécessaire de penser que le colonialisme vole sym-
boliquement l’identité culturelle de ceux qui sont opprimés par sa logique. De
cette façon, il est possible d’élargir la notion de violence pratiquée par le colo-
nialisme, puisque ce système a violé les colonisés non seulement physiquement,
mais aussi psychologiquement et émotionnellement. Il est donc fondamental
253 Le portrait d’Anastasia a été peint par un Français de 27 ans nommé Jacques Arago entre décembre
1817 et 1818. Au XXe siècle, la figure d’Anastasia est devenue un symbole de la brutalité de l’esclavage
et de son héritage permanent de racisme. Sans histoire officielle, certains disent qu’Anastasia était la fille
VIOLÊNCIA DE GÊNERO E ÓDIO AO FEMININO 439
silence comme le principal mécanisme d’oppression des Noirs par les colons.
Le ‘masque’ était l’un des principaux instruments utilisés par les Européens
pour punir les esclaves pendant la période coloniale. Il s’agissait d’un morceau
de métal placé dans la bouche de l’esclave, utilisé par les seigneurs blancs pour
empêcher les esclaves de manger les plantations et pour leur imposer le silence
et la peur. En ce sens, le masque représenterait le colonialisme d’une manière
générale, symbolisant « les politiques sadiques de conquête et de domination
et leurs régimes brutaux de réduction au silence des soi-disant(es) ‘Autres’ »
(Kilomba, 2019, p. 33, traduction libre). Ainsi, il est possible de voir que
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d’une famille royale du Kimbundo, née en Angola, enlevée et emmenée à Bahia et asservie par une famille
portugaise. D’autres prétendent qu’elle était une princesse Nagô/Yoruba avant d’être capturée par des
trafiquants européens. D’autres disent que Bahia était son lieu de naissance. Selon tous les rapports, elle a
été forcée de porter un collier de fer très lourd en plus du masque facial qui l’empêchait de parler. Les raisons
de la punition varient de l’activisme politique et aident à la fuite d’autres personnes asservies pour résister
aux attaques sexuelles du ‘seigneur’ blanc. Après une longue période de punition, elle meurt du tétanos
causé par le collier de fer. Sa figure est liée aux pouvoirs de guérison et aux miracles. Il est communément
considéré comme le Santa dos Pretos Velhos (Saint du Vieux-Noir), directement lié à l’Orixá Oxalá ou
Obatalá – Orixá de la paix, de la sérénité et de la sagesse – et fait l’objet de dévotion dans le Candomblé et
l’Umbanda. (Handler et Hayes, 2009 apud Kilomba,2019, p. 35/36, traduction libre)
440
et ‘violent’ sont des caractéristiques dirigées vers ceux qui sont à la marge de
la société. En conclusion, le sujet noir n’est pas seulement considéré comme
l’Autre, mais il est aussi « associé aux aspects répressifs du ‘je’ du sujet blanc »
(Kilomba, 2019, p. 38, traduction libre).
Dans cette relation de pouvoir où le silence s’impose et où tous les
aspects négatifs sont projetés sur l’esclave, une identité se construit sur la
base de la ‘dissimilarité’ où la blanchitude se caractérise par une exploration
de l’Autre sur une idée égoïque de possession de soi, basée sur une absence
de ressemblance avec l’Autre (Morrison, 1992 apud Kilomba, 2019, p. 38).
Pour Souza (1983), l’idée de race est constituée comme « une notion
idéologique, engendrée comme un critère social pour la distribution de la
position dans la structure de classe » (p. 20, traduction libre). Bien que la
race soit basée sur des aspects biologiques, elle a toujours été définie au
Brésil en termes de capacité à faire partie d’un groupe social donné, dont les
membres ont en commun le même niveau scolaire/académique et le même
appareil culturel.
Cependant, on perçoit une logique cruelle, qui consiste en une adaptation
forcée de la population noire à un ordre social différent de ses expériences et,
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(Telles, 2018, p. 101). Ainsi, la maternité des femmes noires était liée à la
servitude et à un lieu de passivité.
L’existence d’une nourrice, une mère noire, aurait été, pour Freyre (1993),
une figure presque bénéfique au sein de cette structure. Même dans son travail,
Freyre trace un dicton populaire, extrêmement raciste, qui se reflète encore
aujourd’hui dans l’image créée pour les femmes noires : « blanche pour se
marier, mulâtresse pour f..., noire pour travailler » (p. 84, traduction libre).
Cependant, González (1979 apud Pacheco, 2013, p. 58, traduction libre)
s’oppose à cette notion selon laquelle la structure du système esclavagiste et
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est sortie du lieu de servitude avec son travail, pour être placée dans un lieu
de servitude de son propre corps.
Sur la domination même du mot Mulâtresse, l’auteure déclare que le
terme désigne les femmes comme un « ‘produit d’exportation’, c’est-à-dire
un objet destiné à être consommé par les touristes nationaux et les ressortis-
sants bourgeois » (González, 1979a, p. 21, traduction libre). La mulâtresse se
distinguerait donc par son importance, dans le contexte du carnaval brésilien,
dans l’actualisation du mythe. Pendant le carnaval, la femme noire, aupara-
vant anonyme, devient le centre d’attention de tous les regards. Et c’est à ce
RÉFÉRENCES
Carneiro, S. (2005). A construção do outro como não ser como fundamento
do ser. São Paulo: Feusp.
hooks, b. (2000). Vivendo de amor. In Werneck, J., Mendonça, M., & White,
E. (Orgs.). O livro da saúde das mulheres negras: Nossos passos vêm de
longe. Rio de Janeiro: Pallas: Criola.
VIOLÊNCIA DE GÊNERO E ÓDIO AO FEMININO 447
tum. 7(2).
e até do saber. É por aí que o discurso ideológico se faz presente” (p. 194). A
memória seria “o lugar do não-saber que conhece, esse lugar de inscrições que
restituem uma história que não foi escrita, o lugar da emergência da verdade,
dessa verdade que se estrutura como ficção” (2018d, p. 194).
A antropóloga ainda explica que:
Racismo? No Brasil? Quem foi que disse? Isso é coisa de americano. Aqui
não tem diferença porque todo mundo é brasileiro acima de tudo, graças a
Deus. Preto aqui é bem tratado, tem o mesmo direito que a gente tem. Tanto
é que, quando se esforça, ele sobe na vida como qualquer um. Conheço
452
254 Léa Silveira, Jéssica Rodrigues, Pedro Ambra, Flávia Rios, Raquel Barreto, dentre outras(os).
VIOLÊNCIA DE GÊNERO E ÓDIO AO FEMININO 453
ção aos outros grupos étnicos submetidos à lógica colonizadora. Assim, para
além de evidenciar o racismo, a autora criou um conceito – amefricanidade –,
salientando o caráter multi e pluricultural da América Latina.
Com a criação desse termo, Gonzalez (2018d) abre novas perspectivas
para pensar essa parte do mundo, para além do caráter geográfico, reposicio-
nando os processos históricos de intensa dinâmica sociocultural de resistência
e reinterpretação, que não permite o apagamento pela alienação identificada da
pretensa universalidade do homem branco europeu. Trata-se de uma posição
importante e de efeitos profundos que merece maior atenção, e esse pequeno
texto é um convite para pensarmos em uma universalidade estratégica, como
ato insurgente e não abstrato, aplicada mecanicamente, mas que possibilite
a radicalidade da alteridade, uma “universalidade que diz que ninguém será
escravizado” (Haider, 2019, p. 148).
Ainda, com o conceito de amefricanidade Gonzalez situa uma América
Africana cuja latinidade é negada, assim como a experiência de mulheres
e homens negros na diáspora e a de mulheres e homens indígenas contra a
dominação colonial. O racismo se volta justamente contra aqueles que, do
ponto de vista étnico, são o testemunho vivo da história, tentando tirá-los de
cena e apagá-los do mapa. No contraponto, a autora ressalta a importância
do conhecimento das raízes africanas e do papel da mulher preta no processo
de formação cultural do país, integrando a religiosidade, especialmente o
candomblé, no mundo da cultura e da política.
realçando que “os brasileiros precisam reconhecer mais a sua própria pensa-
dora, uma das pioneiras nas discussões sobre a relação entre gênero, classe e
raça no mundo (Mercier, 2020).
As contribuições de Gonzalez (1984) destacam que o racismo e o sexismo
compõem um ‘duplo fenômeno’ e situam que a mulher negra comparece no
discurso da democracia racial pela denegação do desejo pela mulher preta, o
que torna as figuras da mulata, da doméstica e da mãe preta alvos preferen-
ciais de violências, ancorados na manutenção do patriarcado e autoritarismo
na cultura brasileira.
E continua:
O racismo inclui essa forma de segregar, de rejeitar esse gozo que apa-
rece como absoluto – o gozo do Outro – e escapar dele (Musatti-Braga &
Souza, 2018). A violência que recai sobre a mulher preta está ancorada justa-
mente nessa representação – a violência seria justificada como uma dominação
necessária para cercear tal gozo completamente sem amarras e sem limites,
atribuído à mulher – dominação impossível, dado que se trata da projeção do
racista de seu próprio desejo.
Nessa esteira seguem contribuições originais de Musatti-Braga (2016)
autora a respeito do racismo, amparada nos conceitos de estranho e de extimo,
VIOLÊNCIA DE GÊNERO E ÓDIO AO FEMININO 455
vindos da psicanálise. Diz ela que “o insuportável para o branco e para o negro
estava articulado e implicado como duas faces de uma mesma questão, da
mesma forma que as articulações entre o negro como não eu do branco e o
branco como não eu do negro” (p. 262). Desta feita, a análise acrescenta à
hipótese de um suposto ideal de beleza e de valor na figura da mulher branca
o seu avesso, ou seja, de que o que é insuportável ao branco/a é ver no corpo
da menina e da mulher negra o seu próprio gozo, desconhecido e desmedido
– ela encarna o assustador do Outro sexo.
Gonzalez (2018e) tem fortes críticas a movimentos sociais em que o
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tem dado para sacar, por exemplo, que pelo fato de não ser educada para se
casar com um “príncipe encantado”, mas para o trabalho, a mulher negra
não faz o gênero da submissa. Sua prática cotidiana faz dela alguém que
tem consciência de que lhe cabe batalhar pelo “leite das crianças” (como
ouvimos de uma mulata Sargentelli), sem contar muito com o companheiro
(desemprego, violência policial e outros efeitos do racismo e também do
sexismo) (p. 36).
ressantes sobre o tema da escravidão” (p. 199). Destaca esse trecho do autor:
um fragmento de relatos não ditos das relações raciais para, como psicanalista,
descortinar um novo aspecto. O fragmento diz de:
REFERÊNCIAS
Davis, A. (2019). Palestra. Seminário Internacional Democracia em
colapso?, 15-19 de outubro, Editora Boitempo / Sesc São Paulo. https://www.
youtube.com/watch?v=1xjgckTGE4s&t=3102s
Davis, A. (2016). Mulher, raça e classe. Trad. Heci Regina Candiani. São
Paulo: Boitempo, 2016.
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les violations des droits et la violence qui s’ensuivent pour les sujets des
classes sociales en situation d’invisibilité, en particulier la population noire,
majoritaire au Brésil. « La souffrance, ainsi que ses effets, est administrée
politiquement avec une incidence sur le narcissisme, les identifications, le
deuil et les affects tels que l’amour, la haine, l’ignorance et la culpabilité »
(Rosa, 2015, p. 16, traduction libre). Gonzalez a ainsi commencé la « Carta
Convocatória ao ato de Fundação do Movimento Negro Unificado (MNU)
[Lettre d’appel à l’acte de fondation du Mouvement Noir Unifié] contre la
discrimination raciale », du 7 juillet 1978, articulée par les organisations noires
Racisme? Au Brésil? Qui l’a dit? C’est un truc américain. Ici, il n’y a pas
de différence car tout le monde est brésilien avant tout, Dieu soit loué. Les
Noirs ici sont bien traités, ils ont les mêmes droits que nous. À tel point
que, lorsqu’il travaille dur, il monte dans la vie comme tout le monde.
J’en connais un qui est médecin. Très instruit, cultivé, élégant et avec
des traits si fins... on ne dirait même pas qu’il est noir (Gonzalez, 2018b,
255 Léa Silveira, Jéssica Rodrigues, Pedro Ambra, Flávia Rios, Raquel Barreto, entre autres.
VIOLÊNCIA DE GÊNERO E ÓDIO AO FEMININO 469
Et poursuis:
VIOLÊNCIA DE GÊNERO E ÓDIO AO FEMININO 471
il a été possible de remarquer, par exemple, que parce qu’elle n’a pas
été éduquée pour épouser un ‘prince charmant’, mais pour travailler, la
femme noire n’est pas du type soumis. Sa pratique quotidienne fait d’elle
quelqu’un qui est conscient que c’est à elle de se battre pour ‘le lait des
enfants’ (comme nous l’a dit une belle Sargenteli), sans trop compter sur
son compagnon (chômage, violences policières et autres effets du racisme
et aussi du sexisme) (p. 36, traduction libre).
commet des actes sexuels », expression d’un « corné de besoin » (p. 200). Le
nœud symptomatique est révélé par la plume de Gonzalez qui souligne qu’en
affirmant et en niant ce qu’il a dit en une seule manœuvre – nier le désir pour
la femme esclave noire et l’affirmer comme un besoin d’un « instrument de
satisfaction sexuelle » – Caio Prado Junior, en la niant, « révèle comme une
ignorance de lui-même ». Il ignore et expose sa brutalité dans des mots qui
rejettent le statut de sujet humain à la femme noire, à son homme, à ses frères
et à ses enfants. Ces sujets deviennent des objets entre ses mains, voire des
objets de savoir. Insister sur la priorité de la lutte des classes, en renonçant
[...] une histoire très révélatrice, qui complète ce que nous savons déjà sur la
vie sexuelle des gars blancs jusqu’à il n’y a pas longtemps : l’initiation et la
pratique avec les femmes créoles. C’est là qu’intervient l’histoire qui nous a
été racontée (merci, Ione). Quand il s’agissait d’épouser la vierge blanche,
pure, fragile et innocente, lors de la nuit de noces, les garçons n’arrivaient
pas à faire bander leurs copains. Vous imaginez l’embarras? Et où était le
remède providentiel qui a permis la consommation du mariage? Il suffisait
aux mariés de sentir les vêtements d’une créole qui avait été utilisé, pour
‘ensuite présenter les documents’ (Gonzalez, 1988, p. 203, traduction libre).
grâce à cette simple chose qu’est le désir. Si simple que Freud a passé
toute sa vie à écrire à ce sujet (peut-être parce qu’il n’avait rien d’autre à
faire, n’est-ce pas Lacan?). Définitivement, Caio Prado Júnior ‘déteste’
notre peuple. (p. 235, traduction libre).
Et plus loin, elle continue à construire cette intrigue qui dévoile la logique
rationnelle du racisme au Brésil : « Le texte de Caio Jr va au-delà de ce qu’il
entend analyser. Dès qu’il parle de quelque chose, en la niant, il se révèle comme
méconnaissance de lui-même. » (Gonzalez, 1988, p. 204, traduction libre).
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RÉFÉRENCES
Davis, A. (2019). Palestra. Seminário Internacional Democracia em
colapso?, 15-19 de outubro, Editora Boitempo / Sesc São Paulo. https://www.
youtube.com/watch?v=1xjgckTGE4s&t=3102s
Davis, A. (2016). Mulher, raça e classe. Trad. Heci Regina Candiani. São
Paulo: Boitempo, 2016.
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Introdução
a população negra. Era uma máscara que obstava a fala, ao mesmo tempo em
que impedia que os/as escravizados/as se apropriassem e se alimentassem do
que era produzido e colhido pelas suas próprias mãos, nos grandes latifúndios.
No Brasil, o espectro da máscara da Escrava Anastácia pode estar vincu-
lado ao uniforme da empregada; ao lugar reservado no espaço da família para
a trabalhadora doméstica. Entre as mulheres, encontramos feministas negras
que quebraram a máscara do silenciamento (Ribeiro, 2018) e se libertaram do
destino social reservado às gerações que insistem que o emprego doméstico
é a única opção de sobrevivência, são elas: Lélia Gonzales, Sueli Carneiro,
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Conceição Evaristo, Djamila Ribeiro e Preta Rara. Elas são mulheres negras
que quebraram com a transmissão intergeracional do trabalho precário como
única forma de sobrevivência e utilizam seus lugares de fala para desnatu-
ralizar a opressão e a violência direcionada às mulheres. Portanto, estamos
localizando aqui o lugar de fala, não aquele que define quem pode falar ou
quem representa determinado tipo de sofrimento, mas, sim, aquele marcado
pelo lugar social e que impõe modos de enxergar o mundo e de construir
juízos de valor. Outrossim, são intelectuais negras que lutam para abalar
naturalizações e estruturas, pois: “Quando a mulher negra se movimenta, toda
a estrutura da sociedade se movimenta com ela”, como afirma Angela Davis
(como citado em Alves, 2017).
Preta Rara (2019), em seu livro, testemunha situações vivenciadas por
aquelas que são “quase da família”: o desigual acesso ao alimento quando
se compara o patrão e as empregadas, os cuidados com os filhos dos patrões
enquanto seus próprios filhos ficam em creches, o desrespeito às horas pré-
-estabelecidas para uma jornada de trabalho e a indistinção entre os espaços
público e privado. Cabe assinalar o que nos alerta Sueli Carneiro (como citado
em Ribeiro, 2019) ao defender um feminismo negro: se uma das pautas da
luta feminista é o direito de trabalhar e de ocupar o espaço público, para a
mulher negra, a imposição do trabalho esteve presente desde a sua infância e
adolescência, como é o caso de muitas empregadas domésticas que têm, muitas
vezes, que adentrar o mundo do trabalho em troca apenas de pouso e comida.
como os outros alunos, porque ela tinha que trabalhar lá em casa, cuidar das
crianças”. Frases que chegam a chocar o espectador. O amor dedicado às
crianças que cuidam desde muito pequenas, e para as quais acabam virando
uma referência de proteção e afeto de grande importância, também aparece
na fala de Aurea, que, aos 64 anos e já aposentada, mostra fotos e relata com
tristeza a saudade dos adultos que ajudou a criar desde bebês, dizendo: “rom-
peu o vínculo de trabalho, rompeu o de família, também”.
Outro filme brasileiro que trata com delicadeza a relação da empregada
doméstica, herdeiras do posto de “mães pretas” do Brasil colonial, no cuidado
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de seus próprios filhos, mas, também, dos filhos da patroa, é o Que Horas
ela Volta?, de Anna Muylaert (2015). O roteiro, desta vez retratando a alta
burguesia paulistana, gira em torno do momento em que a filha da empregada
Val chega à cidade para fazer vestibular. Criada por parentes em sua cidade
natal, longe da mãe que precisou sair de casa para encontrar emprego que
favorecesse melhores condições de vida à filha, Jéssica chega questionando o
lugar atribuído aos serviçais. Tece críticas ao sistema e à estratificação social,
tem consciência da segregação que vive e que sua mãe não consegue enxergar.
“De bico calado” é a advertência feita à forma como a filha tinha que aceitar
essa condição. Ao ser questionada sobre quando aprendeu que, em casa de
patrão, não se pode sentar aqui e nem comer aquilo, Val responde: “A gente
não aprende, a gente nasce sabendo”. O filho da patroa, quase da idade de
Jessica, recebeu de Val o amor materno e os cuidados cotidianos que ela não
pôde oferecer à sua própria filha. Diante das provocações da filha, Val rompe
com seu destino social predeterminado e escolhe a possibilidade de sair da
posição subserviente, protagonizar sua vida, ter sua casa, morar com a filha
e ver o neto crescer. Jessica não migrou para ocupar subempregos ou repetir
a história da mãe, mas, para ocupar o quarto de hóspedes e fazer faculdade
de arquitetura na USP. São histórias da vida e da ficção que trazem narrativas
“escovando” a história a contra-pêlo, usando a expressão do filósofo Walter
Benjamin (1994) quando se refere à narrativa, em primeira pessoa do plural,
das vencidas da história oficial.
Já a película argentina Crimes de Família (Schindel, 2020), baseada
numa história real, traz em seu roteiro encobrimentos em relação a diversas
violências infligidas às mulheres. O filme apresenta muitas mulheres: a mulher
branca de classe média que sofre violência doméstica e denuncia o marido
branco, mais rico que ela; a mulher que é mãe desse marido, branca, de classe
social mais alta; e, finalmente, a mulher que é empregada doméstica, branca,
que cria seu filho no quartinho junto à cozinha da casa da patroa, e sobre a qual
recai a suspeita de um infanticídio. Assim, para além dessas questões espinho-
sas que relacionam dominação violenta com possíveis narrativas de materni-
dade, o filme também engloba outras relações de opressão que dizem respeito
486
a nossa protagonista cujo roteiro não indica a quebra do seu destino social,
mas a câmera é posta tão próxima ao seu rosto que somos capazes de sentir
sua respiração e seu sofrimento.
A cena na praia, que é também a da foto de divulgação do filme, é emble-
mática dos afetos ambivalentes direcionados às empregadas. Nela, há um
abraço coletivo após duas crianças escaparem de afogamentos. Cleo evita uma
tragédia com os filhos da patroa, mas perde sua própria filha em parto prema-
turo. Trata-se de outra situação emblemática, pois, assim como as escravizadas
do Brasil Colônia que não tinham tempo para cuidar dos seus próprios filhos,
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ela tinha que dispor de toda a energia para cuidar e educar os filhos dos patrões.
O filme de Cuarón apresenta outro elemento que se refere ao fato de Cléo
ter ascendência indígena e não negra, e representar uma população pobre do
México que luta pelo direito à terra. Há referências à saudade que ela sente da
mãe que mora em um vilarejo distante e tinha perdido a posse de um pedaço de
terra. A questão racial pungente aqui é a dos povos originários frequentemente
sendo expulsos de sua terra e tendo que exercer uma resistência estrutural. A
resistência política está no roteiro da película que coloca como protagonista
a empregada doméstica e suas agruras. O que resta aos telespectadores é vas-
culhar um pouco de sensibilidade e não repetir em sua vida real as violências
vivenciadas na tela grande. Só assim a vida não imitará a arte.
Considerações finais
REFERÊNCIAS
Alves, A. (2017, 27 de julho). Angela Davis: “Quando a mulher negra se
movimenta, toda a estrutura da sociedade se movimenta com ela”. El País.
https://brasil.elpais.com/brasil/2017/07/27/politica/1501114503_610956.html.
Muylaert, A. (Diretora). (2015). Que Horas ela Volta [Filme]. África Filmes.
Globo Filmes.
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Introduction
Aussi, pour accomplir leur recherche, elles font appels à des travailleuses
domestiques pour nettoyer et organiser leur maison. Il s’agit alors de ques-
tionner les privilèges de la blanchité qui irriguent la trajectoire de chaque
auteure de ce chapitre en s’interrogeant sur les violences dont sont victimes
les travailleuses domestiques majoritairement noires. Il s’agit également de
remettre en lumière la question posée par Grada Kilomba : « Comment puis-je
déconstruire mon propre racisme ? » (2019, p. 46) [Notre traduction]. L’artiste
considère le racisme non comme une question morale mais comme un proces-
sus psychologique qui demande un travail psychique et social, et est lié à la
une esclave travaillait dans les plantations, et les silences imposés et auto-im-
posés par le mouvement de socialisation de la population noire. Anastasia
portait un masque qui l’empêchait à la fois de parler et de se nourrir.
Au Brésil, la chambre de bonne, seul endroit réservé aux domestiques
et l’obligation de porter un uniforme sont le spectre du masque d’Anasta-
sia. Cependant, l’on trouve des féministes noires qui brisèrent le masque du
silence (Ribeiro, 2018) et se libérèrent du destin social réservé aux généra-
tions qui voient dans le travail domestique leur seul moyen de survie : Lélia
Gonzales, Sueli Carneiro, Conceição Evaristo, Djamila Ribeiro et Preta Rara.
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aux réunions de son Lycée pour expliquer qu’elle ne disposait pas du même
temps que les autres élèves pour faire ses devoirs, car elle devait s’occuper de
la maison et des enfants ». Des phrases qui choquent le spectateur. Aurea, 64
ans, parle de l’amour qu’elle portait aux enfants de son employeur depuis leur
plus jeune âge. Aujourd’hui à la retraite, elle montre des photos de cette époque
et exprime la nostalgie des enfants qui ont grandi : « Le lien professionnel étant
rompu, il en fut de même pour le lien familial ».
Le film brésilien Une seconde mère réalisé par Anna Muylaert (2015),
retrace avec délicatesse la relation des domestiques, héritières de la place de la
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« Mère Noire » du Brésil colonial, avec ses propres enfants et avec les enfants de
la maitresse de maison. L’histoire se passe, cette fois-ci, dans la haute bourgeoisie
de São Paulo et tourne autour du moment où Jessica, la fille de la domestique,
arrive à São Paulo pour continuer ses études. Jessica fut élevée par sa famille dans
sa ville natale, loin de sa mère, qui dut quitter la maison pour trouver un travail et
lui offrir des meilleures conditions de vie. Dès son arrivé Jéssica met en question
la place attribuée aux domestiques. Elle critique le système et la stratification
sociale, est consciente de la ségrégation qu’elle subit, dont sa mère ne peut pas
s’en rendre compte. « Pas de vague », c’est l’injonction de Val à sa fille pour lui
dire d’accepter la situation tel qu’elle est. Et lorsque Jéssica lui demande quand
avait-elle appris que dans la maison du patron on ne peut pas s’assoir ici ou
manger ça, Val répond : « On n’apprend pas, on naît en sachant ». Le fils de la
patronne, qui a presque le même âge que Jéssica, reçut de Val l’amour maternel
et les soins quotidiens qu’elle ne put pas offrir à sa fille. Face aux provocations
de Jéssica, Val rompt avec son destin social prédéterminé et choisit de quitter la
position d’assujettissement. Elle devient la protagoniste de sa vie. Elle décide
d’avoir son foyer, de vivre avec sa fille et de voir grandir son petit-fils. Jéssica
n’émigra point pour occuper un sous-emploi ou répéter l’histoire de sa mère,
mais pour occuper la chambre d’amis et suivre des cours d’architecture à l’uni-
versité. Ce sont des histoires de vie et de fiction qui présentent des narrations qui
« brossent à rebrousse-poil » l’histoire, en analogie à l’aphorisme du philosophe
Walter Benjamin (1994) lorsqu’il se réfère au récit, à la première personne du
pluriel, des perdants de l’histoire officielle.
Le film argentin Les crimes qui nous lient (Schindel, 2020), basé sur
une histoire vraie, apporte dans son scénario des dissimulations par rapport
à diverses violences infligées aux femmes. Le film montre trois femmes : la
femme blanche de classe moyenne qui subit des violences domestiques et
dénonce son mari blanc plus riche qu’elle ; la femme qui est la mère de ce mari,
blanche, de classe sociale supérieur, et enfin, la domestique, blanche, qui habite
avec son fils dans la chambre de bonne, et qui est soupçonnée d’infanticide.
Ainsi, en plus de ces questions épineuses qui relient la domination violente à
des récits de maternité possible, le film aborde également d’autres situations
498
d’oppression qui ont trait aux inégalités sociales reflétées dans le microcosme
de l’employeur et l’employée et aux violences sexuelles envers les domestiques.
La question de la blanchité se pose ici de manière particulière, puisqu’elle
place la question de la race par rapport à l’origine. « Être blanc et occuper la
place symbolique de la blanchité, ce n’est pas quelque chose établie seule-
ment par des questions génétiques, mais surtout par les positions et les places
sociales qu’occupe le sujet » (Shucman, 2012, p. 23) ; c’est aussi être béné-
ficiaire d’un système de privilèges qui a à voir avec les rapports de pouvoir
local. Ainsi, la domestique à la peau claire, venant des endroits pauvres du
propre fille mort-née. Il s’agit d’une autre situation emblématique, car, tout
comme les femmes esclaves du Brésil colonial qui n’avaient pas le temps de
s’occuper de leurs propres enfants, Cléo devait disposer de toute son énergie
pour garder et éduquer les enfants de ses maîtres.
Le film de Cuarón présente un autre élément : Cléo n’est pas d’origine
noire mais indigène. Elle représente une population pauvre du Mexique qui se
bat pour le droit à la terre. Quelques scènes nous font voir la nostalgie qu’elle
ressent pour sa mère qui vit dans un village éloigné et qui a perdu la posses-
sion d’un morceau de terre. Le problème racial poignant est celui des peuples
autochtones, souvent expulsés de leurs terres, obligés d’exercer une résistance
structurale. Le film, qui a comme protagoniste une femme de ménage et ses
tourments, parle de résistance politique. Il reste aux spectateurs de chercher
un peu de sensibilité et de ne pas reproduire dans la vie réelle les violences
exposées sur grand écran. Ce n’est qu’alors que la vie n’imitera pas l’art.
Les scènes de la vie quotidienne décrites dans les films ci-dessus repré-
sentent le véritable drame et la vraie tragédie de nombreuses travailleuses
domestique. Au Brésil, le travail domestique est aussi vieux que l’esclavage
et continue à être perpétué par l’inégalité sociale. Il s’actualise dans l’énorme
contingent de femmes qui travaillent dans les foyers brésiliens. Aujourd’hui,
on compte environ trois travailleuses domestiques pour chaque groupe de
cent habitants (Rara, 2019).
Selon les données de l’enquête annuelle auprès des ménages, la PDNA
(Pesquisa Nacional por Amostra de Domicilios), au Brésil, près de 70% d’entre
elles sont noires, dont 80% n’ont pas signé un contrat de travail, ce que les
prive de la protection sociale liée à l’exercice d’une activité professionnelle,
et du respect par l’employer du droit du travail. Un grand nombre de jeunes
filles de moins de 18 ans quittent leur foyer pour travailler et vivre dans
d’autres maisons. Cela constitue l’une des pires formes de travail des mineurs :
en 2015, 88,7% des employées de maison âgées de 10 à 17 ans étaient des filles,
500
dont 71% noires (IBGE 2019). Dans les grandes villes comme São Paulo et
Rio de Janeiro, celles-ci migrent des régions Nord et Nord-Est, où une grande
partie de la population ex-esclave arriva lors de la sortie de l’esclavage et de
l’acquisition de la liberté, dans la période post-abolition, pour réaliser les tâches
de travail les plus dégradantes. Cela constitue la dynamique sociale qui marque,
jusqu’à aujourd’hui, les relations de travail des domestique (Ariza, 2012).
Une situation emblématique se produisit en cette période de confinement
en tant que mesure sanitaire de lutte contre la Covid 19 au Brésil. Des nom-
breux travailleurs furent libérés de leur obligation de se rendre sur leur lieu de
Elle dépeint la période coloniale, lorsque les sinhas utilisaient les mucamas
pour s’occuper de leurs caprices, comme se peigner, préparer les vêtements,
servir le repas, faire les ongles et promener le chien. La servilité devient
naturelle, empêchant ainsi de reconnaitre la similitude entre avoir quelqu’un
socialement moins favorisé à son service et les relations de pouvoir entre
maitres et esclaves, présentes depuis l’esclavage et encore en œuvre sous la
forme du travail domestique et d’autres emplois mal rémunérés.
Après le drame, Mirtes s’engagea dans un mouvement de résistances struc-
turelles en opposition au racisme structurel. Dans un interview pour la presse
écrite, elle raconte son choix d’entamer des études en droit : « Je finis par choisir
le droit car j’éprouvai les injustices et la lenteur du système » (Meireles, 2020).
Considérations finales
RÉFÉRENCES
Alves, A. (2017, 27 juillet). « Angela Davis: Quando a mulher negra se movi-
menta, toda a estrutura da sociedade se movimenta com ela ». El País. https://
brasil.elpais.com/brasil/2017/07/27/politica/1501114503_610956.html
Schindel, S. (Réalisateur). (2020). Les crimes qui nous lient [Film]. Netflix.
A
Abuso sexual 130, 246, 276, 277, 280, 281, 282, 296, 297, 298, 356, 433, 458
Alteridade 10, 16, 17, 21, 35, 36, 69, 103, 130, 131, 132, 159, 167, 172, 193,
194, 196, 197, 198, 203, 209, 272, 303, 346, 408, 430
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C
Caso clínico 18, 245, 250, 252, 265, 267, 275, 279, 295
Ciclo da violência 19, 300, 301, 302, 305, 308, 309, 501
Complexo de Édipo 57, 58, 59, 60, 61, 62, 63, 95, 156, 346
Consciência 97, 166, 399, 405, 428, 432, 433, 437, 459, 462, 465
Corpos 16, 34, 36, 37, 38, 39, 40, 41, 68, 69, 92, 98, 130, 132, 164, 167, 205,
348, 356, 378, 399, 400, 404
COVID-19 7, 11, 15, 18, 23, 26, 195, 196, 210, 217, 218, 233, 240, 241,
242, 249, 254, 255, 256, 257, 264, 274, 290, 378, 388, 465, 487
Crianças 95, 129, 157, 246, 247, 280, 281, 296, 297, 432, 461, 462, 463,
464, 495, 503, 515
Cultura 15, 16, 20, 33, 34, 40, 54, 69, 93, 94, 100, 139, 152, 160, 163, 165,
166, 167, 168, 169, 170, 171, 191, 192, 196, 199, 200, 207, 242, 247, 256,
269, 271, 277, 278, 346, 348, 350, 351, 379, 404, 406, 409, 423, 426, 427,
428, 429, 430, 431, 433, 436, 438, 439, 454, 455, 467, 468, 479, 493, 494,
495, 496, 497, 498, 499, 500, 501, 503, 504, 505, 509, 510, 511, 512, 513,
515, 516
D
Denegação 13, 16, 20, 166, 426, 427, 428, 429, 431, 433, 434, 435, 436
Devastação 62, 133, 135, 136, 158, 168, 170, 172, 191, 193, 325, 330, 341, 381
Domésticas 13, 20, 101, 271, 352, 431, 458, 459, 460, 463, 464, 465, 466
Dominação 20, 91, 92, 93, 160, 165, 166, 198, 199, 200, 210, 233, 248, 322,
384, 398, 400, 401, 402, 404, 405, 407, 427, 429, 430, 431, 432, 437, 462
E
Empregada 166, 405, 433, 460, 461, 462, 463, 464, 468, 480
506
Enfrentamento 16, 19, 128, 198, 220, 241, 242, 248, 250, 252, 255, 265,
267, 268, 278, 301, 302, 303, 310, 321, 426, 500
Escravidão 20, 398, 399, 402, 407, 410, 424, 426, 427, 429, 433, 434, 464
F
Fantasia 9, 16, 17, 61, 62, 64, 65, 68, 91, 94, 95, 96, 97, 98, 100, 102, 103,
104, 105, 124, 154, 167, 168, 172, 193, 210, 233, 248, 269, 381, 429
Feminilidade 54, 55, 56, 59, 61, 62, 65, 69, 99, 156, 168, 170, 171, 191, 192,
G
Gênero 3, 4, 7, 9, 10, 12, 15, 16, 17, 18, 19, 21, 41, 42, 52, 55, 69, 71, 91, 92,
93, 94, 95, 97, 101, 104, 154, 157, 161, 162, 163, 164, 168, 169, 170, 191,
194, 195, 196, 198, 200, 202, 204, 205, 208, 210, 214, 218, 233, 237, 240,
242, 243, 246, 248, 249, 250, 264, 265, 268, 310, 321, 327, 344, 347, 351,
352, 358, 359, 360, 375, 376, 377, 383, 385, 386, 396, 400, 404, 405, 409,
423, 426, 431, 432, 434, 436, 437, 458, 461, 466, 499, 500, 502
Gozo 17, 18, 19, 56, 58, 59, 62, 63, 65, 68, 98, 100, 128, 130, 131, 132, 133,
134, 135, 136, 157, 168, 169, 172, 193, 196, 197, 198, 200, 201, 202, 203,
205, 206, 207, 208, 209, 210, 233, 244, 326, 327, 328, 329, 348, 349, 380,
386, 396, 429, 431, 432, 433
I
Identidade 37, 58, 93, 94, 156, 157, 162, 163, 164, 170, 191, 210, 233, 271,
325, 360, 377, 381, 382, 386, 396, 399, 401, 403, 404, 410, 424, 436, 439,
440, 455, 456
Inconsciente 34, 38, 42, 52, 53, 54, 58, 59, 94, 95, 96, 98, 99, 104, 105, 118,
124, 166, 168, 188, 200, 211, 234, 272, 307, 323, 329, 333, 339, 381, 383,
403, 426, 428, 429, 445
VIOLÊNCIA DE GÊNERO E ÓDIO AO FEMININO 507
L
Linguagem 40, 42, 52, 58, 59, 131, 132, 133, 135, 155, 157, 158, 165, 166,
168, 171, 192, 248, 250, 265, 322, 323, 330, 341, 352, 383, 428, 440, 456
M
Masoquismo 18, 154, 155, 161, 168, 172, 193, 199, 200, 201, 206, 212, 235
Mulata 20, 166, 187, 405, 406, 407, 420, 431, 432, 433, 436
Mulher 9, 10, 12, 13, 16, 17, 18, 19, 20, 33, 37, 38, 39, 42, 52, 54, 55, 56,
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58, 59, 60, 62, 63, 65, 68, 69, 91, 92, 93, 94, 95, 97, 98, 100, 101, 102, 103,
104, 128, 129, 130, 131, 132, 133, 134, 135, 136, 142, 154, 155, 156, 157,
158, 159, 160, 161, 162, 163, 164, 166, 167, 168, 169, 172, 193, 194, 195,
196, 197, 198, 199, 200, 201, 202, 203, 205, 206, 207, 209, 210, 220, 233,
240, 241, 242, 243, 245, 246, 247, 248, 249, 250, 251, 252, 255, 256, 257,
260, 264, 265, 266, 267, 270, 271, 272, 278, 282, 298, 300, 301, 302, 303,
304, 305, 307, 308, 310, 314, 321, 322, 323, 324, 325, 326, 327, 328, 329,
346, 347, 348, 349, 351, 352, 353, 354, 355, 356, 357, 358, 375, 378, 379,
380, 381, 382, 383, 384, 385, 386, 396, 398, 402, 404, 405, 406, 407, 408,
409, 410, 419, 421, 423, 424, 426, 427, 429, 430, 431, 432, 433, 434, 435,
436, 438, 454, 460, 461, 462, 467, 468, 479, 497, 499, 512
Mulheres negras 20, 38, 39, 40, 42, 52, 131, 162, 164, 166, 240, 400, 404,
405, 406, 407, 408, 409, 423, 431, 433, 435, 439, 447, 455, 459, 460
O
Ódio ao feminino 3, 4, 10, 15, 17, 18, 21, 128, 194, 196, 197, 201, 203, 205,
210, 233, 327
P
Pandemia 7, 15, 41, 132, 139, 152, 195, 196, 210, 214, 218, 233, 237, 240,
241, 242, 274, 378, 465
Patriarcado 19, 20, 36, 160, 195, 197, 203, 204, 241, 384, 385, 386, 396,
400, 427, 431, 432
Política 11, 12, 15, 16, 17, 19, 20, 21, 33, 34, 41, 93, 156, 161, 163, 164,
169, 172, 193, 196, 199, 210, 212, 214, 233, 235, 237, 242, 244, 268, 271,
278, 300, 302, 303, 305, 331, 342, 346, 347, 350, 352, 357, 359, 376, 378,
383, 384, 385, 407, 426, 430, 436, 439, 455, 464, 467, 479, 494, 495, 496,
497, 498, 500, 501, 502, 503, 504, 515
População 20, 40, 167, 197, 198, 204, 208, 268, 270, 350, 352, 353, 355,
357, 399, 401, 404, 406, 407, 426, 436, 460, 464, 495
508
Psicanálise 4, 11, 15, 16, 17, 18, 19, 20, 21, 42, 52, 54, 56, 65, 69, 94, 95,
96, 106, 125, 128, 131, 133, 138, 139, 151, 152, 155, 158, 159, 160, 161,
162, 165, 166, 170, 171, 172, 191, 192, 193, 196, 201, 205, 206, 208, 210,
211, 212, 213, 214, 233, 234, 235, 236, 237, 242, 244, 246, 247, 248, 249,
250, 251, 252, 256, 264, 265, 266, 267, 268, 269, 270, 271, 277, 278, 279,
282, 295, 298, 301, 305, 306, 307, 308, 309, 310, 321, 322, 323, 324, 326,
330, 331, 341, 342, 346, 347, 349, 357, 359, 360, 376, 377, 382, 383, 384,
385, 386, 396, 426, 429, 431, 432, 436, 437, 439, 447, 455, 458, 468, 480,
494, 495, 496, 497, 498, 499, 500, 501, 502, 503, 504, 505, 509, 510, 511,
R
Racismo 13, 16, 20, 34, 35, 38, 39, 40, 42, 52, 131, 133, 138, 139, 151, 152,
164, 166, 170, 171, 172, 191, 192, 193, 208, 241, 347, 398, 399, 400, 401,
402, 404, 406, 407, 410, 415, 424, 426, 427, 428, 429, 430, 431, 432, 433,
434, 435, 436, 437, 438, 439, 454, 455, 459, 461, 465, 466, 467, 479, 500
Reconhecimento 41, 56, 60, 61, 103, 104, 162, 204, 208, 245, 307, 328, 351,
399, 407, 439, 455
Recusa ao feminino 9, 16, 53, 56, 65
Representação 33, 36, 37, 65, 96, 98, 99, 131, 162, 165, 270, 355, 356, 383,
384, 402, 404, 405, 431, 433
Respeito 19, 20, 56, 93, 94, 104, 129, 132, 133, 134, 135, 141, 159, 167,
169, 248, 301, 302, 326, 328, 329, 356, 357, 383, 399, 431, 462, 465
S
Saúde 18, 241, 242, 248, 250, 251, 252, 265, 266, 267, 268, 269, 270, 272,
279, 281, 295, 297, 300, 302, 303, 310, 321, 323, 350, 357, 409, 423, 427,
439, 455, 494, 495, 496, 497, 498, 499, 500, 501, 503, 504, 505, 510
Sexismo 13, 20, 131, 166, 171, 192, 404, 406, 426, 427, 429, 431, 432, 433,
437, 438, 439, 454, 455
Sexualidade 56, 58, 59, 60, 61, 64, 71, 93, 95, 100, 134, 138, 151, 155, 156,
160, 161, 162, 168, 170, 171, 191, 192, 211, 234, 270, 279, 295, 324, 330,
341, 346, 347, 358, 359, 375, 376, 383, 384, 386, 396, 405
VIOLÊNCIA DE GÊNERO E ÓDIO AO FEMININO 509
Silenciamento 17, 18, 38, 39, 154, 165, 245, 277, 278, 328, 357, 402, 404,
459, 460
Sociopolítica 271, 282, 298, 360, 377, 440, 456
Sofrimento 18, 133, 155, 161, 243, 244, 245, 269, 271, 275, 276, 277, 278,
282, 298, 304, 305, 306, 308, 323, 327, 360, 377, 382, 383, 407, 426, 427,
436, 440, 456, 460, 464, 503, 515
Subjetividade 15, 19, 104, 162, 241, 242, 256, 300, 304, 305, 306, 308, 310,
321, 329, 347, 348, 404, 494, 497, 499, 500, 501, 503, 504, 509, 510, 511,
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V
Violência contra a mulher 18, 19, 128, 129, 194, 195, 196, 198, 210, 220, 233,
241, 249, 255, 264, 271, 300, 301, 303, 305, 310, 321, 322, 354, 357, 497
Violência de gênero 3, 4, 7, 10, 15, 16, 17, 21, 92, 104, 154, 194, 195, 196,
198, 200, 204, 205, 208, 214, 218, 237, 242, 248, 250, 265, 268, 310, 321,
458, 499, 500
Violência doméstica 11, 18, 19, 93, 97, 101, 195, 199, 214, 237, 240, 241,
242, 243, 246, 247, 248, 250, 252, 265, 267, 271, 279, 295, 300, 306, 308,
354, 378, 462, 502
Violências 13, 15, 18, 20, 39, 166, 243, 272, 280, 296, 406, 426, 427, 431,
458, 459, 462, 464, 508
Vítima 17, 98, 101, 103, 104, 128, 129, 198, 199, 244, 245, 247, 248, 271,
278, 280, 296, 301, 306, 310, 321, 402
Vulnerabilidade 7, 15, 18, 19, 196, 198, 218, 243, 246, 248, 249, 264, 269,
270, 271, 435, 505
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INDEX
A
Abus sexuel 260
Affrontement 83, 441
Altérité 10, 24, 26, 29, 45, 46, 69, 88, 121, 131, 142, 144, 179, 184, 186,
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215, 218, 219, 224, 225, 231, 287, 314, 361, 421, 445
C
Cas clinique 26, 258, 259, 290
Complexe d’Œdipe 77, 80, 81, 111, 113, 114, 175, 361
Conscience 113, 116, 185, 229, 311, 312, 313, 315, 412, 417, 443, 448, 452, 470
Corps 12, 24, 25, 26, 28, 44, 46, 47, 48, 49, 50, 51, 59, 63, 73, 76, 78, 83,
86, 87, 88, 110, 114, 115, 116, 117, 120, 139, 141, 142, 143, 144, 145, 146,
147, 174, 180, 182, 183, 184, 186, 187, 189, 215, 219, 222, 225, 226, 227,
228, 229, 230, 231, 337, 338, 339, 361, 362, 363, 366, 367, 368, 372, 387,
412, 413, 417, 420, 446, 447, 449, 470, 501, 507, 513
COVID-19 7, 11, 15, 18, 23, 26, 194, 195, 209, 216, 217, 232, 239, 240,
241, 248, 253, 254, 255, 256, 263, 273, 289, 377, 387, 464, 481
Culture 23, 24, 29, 43, 44, 50, 54, 69, 74, 88, 111, 112, 118, 179, 180, 182,
184, 185, 186, 188, 217, 220, 222, 229, 255, 261, 284, 286, 292, 293, 361,
363, 365, 366, 388, 417, 419, 441, 442, 443, 444, 446, 448, 451, 478, 505,
506, 507, 508, 509, 510, 511, 512, 514, 515, 516
Cycle de la violence 27, 311, 312, 313, 316, 318, 319, 512
D
Dénégation 13, 24, 28, 29, 441, 442, 443, 444, 446, 448, 449, 451
Dévastation 177, 187, 334, 390
Domestique 11, 26, 29, 186, 216, 221, 253, 254, 255, 256, 260, 261, 262,
285, 286, 370, 387, 418, 446, 448, 449, 470, 471, 473, 474, 475, 476, 477,
479, 513
Domestiques 13, 29, 259, 367, 418, 419, 447, 449, 469, 470, 471, 472, 473,
474, 475, 477
Domination 29, 109, 110, 111, 119, 179, 184, 185, 186, 220, 222, 261, 331,
368, 393, 394, 411, 413, 414, 415, 417, 418, 420, 442, 443, 444, 445, 446,
447, 452, 473
512
E
Enfants 49, 92, 107, 110, 113, 118, 119, 125, 140, 176, 177, 259, 260, 291,
333, 335, 337, 338, 366, 367, 370, 388, 390, 394, 418, 419, 448, 450, 471,
472, 473, 474, 475, 476, 477, 506, 514
Esclavage 28, 50, 411, 412, 414, 419, 420, 441, 442, 444, 448, 449, 452,
475, 476, 477
G
Genre 9, 10, 23, 24, 25, 26, 27, 29, 44, 48, 51, 69, 75, 88, 90, 92, 99, 100,
106, 107, 109, 110, 111, 112, 113, 115, 118, 119, 122, 124, 125, 173, 176,
177, 180, 182, 183, 184, 188, 189, 209, 211, 215, 216, 217, 218, 219, 224,
226, 232, 234, 253, 255, 256, 259, 262, 283, 287, 288, 337, 362, 367, 392,
413, 417, 418, 441, 446, 447, 450, 452, 469, 472, 477, 510, 511, 513
VIOLÊNCIA DE GÊNERO E ÓDIO AO FEMININO 513
H
Haine du féminin 10, 26, 29, 215, 218, 222, 225, 226
I
Identité 47, 78, 112, 176, 177, 182, 183, 286, 334, 391, 412, 414, 416, 417, 451
Inconscient 44, 48, 54, 58, 59, 62, 68, 71, 73, 74, 77, 78, 81, 87, 90, 113, 114,
116, 117, 122, 145, 185, 187, 221, 287, 318, 332, 390, 392, 416, 441, 443
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J
Jouissance 25, 26, 27, 60, 66, 71, 75, 78, 79, 82, 83, 84, 85, 87, 90, 115, 117,
118, 120, 139, 142, 143, 144, 145, 146, 147, 148, 177, 187, 188, 218, 219,
222, 223, 224, 225, 227, 228, 229, 230, 231, 257, 285, 336, 337, 339, 363,
364, 389, 444, 446, 447, 449
L
Langage 50, 77, 79, 131, 142, 144, 146, 174, 176, 177, 178, 184, 185, 186,
187, 188, 262, 331, 332, 368, 393, 443
M
Masochisme 26, 173, 174, 180, 181, 187, 221, 222, 227
Mulâtresse 28, 29, 418, 419, 420, 446
P
Pandémie 23, 51, 143, 216, 217, 253, 254, 255, 256, 289, 387, 476, 477
Patriarcat 28, 46, 48, 180, 216, 218, 225, 226, 254, 368, 387, 394, 413, 442,
446, 448
Politique 11, 12, 23, 24, 26, 27, 28, 29, 43, 44, 46, 48, 49, 51, 109, 111, 155,
175, 180, 181, 182, 183, 189, 215, 218, 220, 255, 258, 283, 286, 293, 311,
313, 314, 316, 361, 362, 365, 366, 368, 372, 373, 387, 393, 394, 415, 420,
441, 443, 446, 451, 452, 475, 478, 505, 506, 508, 509, 511, 512, 513, 514,
515, 516
Population 29, 50, 186, 219, 226, 230, 285, 365, 368, 370, 371, 373, 412,
414, 417, 419, 420, 441, 442, 451, 471, 475, 476, 506
Psychanalyse 11, 23, 24, 25, 26, 27, 28, 29, 54, 56, 60, 66, 70, 71, 74, 76,
79, 82, 85, 87, 88, 89, 90, 94, 95, 97, 99, 101, 105, 107, 112, 113, 114, 115,
117, 119, 123, 125, 129, 136, 139, 141, 142, 144, 149, 174, 179, 180, 181,
184, 185, 186, 217, 221, 222, 223, 227, 228, 230, 255, 258, 260, 262, 283,
514
284, 285, 286, 293, 312, 316, 317, 318, 319, 331, 332, 333, 335, 361, 362,
364, 373, 391, 392, 393, 394, 441, 444, 446, 447, 452, 469, 479, 501, 505,
506, 507, 508, 509, 510, 511, 512, 513, 514, 515, 516
Psychologie 23, 27, 46, 143, 144, 175, 187, 223, 255, 284, 289, 312, 315,
316, 363, 364, 373, 496, 505, 506, 507, 508, 509, 510, 511, 512, 513, 514,
515, 516
Psychologie des masses 223
S
Santé 27, 254, 255, 256, 262, 283, 284, 287, 311, 313, 314, 316, 332, 365,
373, 442, 505, 506, 507, 508, 509, 510, 511, 512, 514, 515, 516
Sexisme 13, 28, 29, 142, 185, 417, 419, 441, 442, 444, 446, 447, 448, 452
Sexualité 56, 69, 71, 75, 76, 77, 78, 79, 80, 81, 84, 88, 90, 111, 118, 146,
174, 175, 180, 182, 187, 334, 361, 362, 392, 394, 418
Silence 25, 26, 44, 48, 49, 50, 84, 109, 141, 173, 184, 259, 261, 287, 292,
293, 311, 338, 373, 415, 416, 417, 470, 471
Sociopolitique 286
Souffrance 26, 60, 79, 145, 174, 181, 255, 257, 259, 285, 286, 290, 291,
292, 293, 314, 315, 316, 317, 318, 319, 332, 337, 391, 392, 441, 442, 451,
471, 475, 514, 515
Soumission 12, 28, 49, 50, 120, 121, 229, 318, 361, 364, 367, 369, 372, 394,
419, 472
Subjectivité 23, 27, 122, 182, 254, 255, 311, 316, 317, 318, 319, 339, 362,
363, 417, 505, 508, 510, 511, 512, 514, 515
Sujet 11, 24, 26, 27, 29, 43, 44, 45, 46, 48, 49, 50, 51, 58, 63, 69, 75, 77, 78,
79, 82, 83, 84, 86, 87, 88, 99, 107, 111, 112, 113, 114, 115, 116, 117, 118,
VIOLÊNCIA DE GÊNERO E ÓDIO AO FEMININO 515
125, 141, 142, 144, 145, 147, 176, 181, 182, 183, 184, 185, 186, 188, 189,
215, 218, 219, 220, 221, 223, 226, 227, 228, 229, 230, 231, 253, 256, 257,
258, 259, 260, 262, 286, 287, 289, 291, 293, 312, 313, 314, 315, 316, 317,
318, 319, 331, 332, 333, 334, 335, 336, 337, 338, 339, 361, 362, 363, 364,
392, 393, 414, 415, 416, 448, 449, 450, 451, 474
V
Victime 25, 91, 106, 109, 116, 119, 122, 124, 139, 140, 219, 220, 257, 259,
260, 262, 293, 312, 313, 315, 316, 317, 318, 319, 371, 415, 472
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Violence à l’égard des femmes 141, 216, 217, 219, 254, 286, 314, 471
Violence de genre 10, 23, 24, 25, 26, 29, 173, 215, 216, 217, 218, 219, 226,
255, 256, 262, 283, 469, 477, 511
Violence domestique 11, 26, 216, 221, 253, 254, 255, 256, 260, 261, 262,
285, 370, 387, 513
Violences 13, 15, 23, 29, 92, 93, 97, 103, 105, 106, 107, 109, 110, 111, 115,
116, 117, 119, 120, 121, 122, 123, 124, 125, 139, 209, 232, 254, 259, 285,
286, 293, 312, 337, 394, 448, 469, 470, 473, 474, 475, 501, 510, 513
Vulnérabilité 23, 26, 27, 217, 219, 256, 260, 261, 284, 286, 451, 516
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SOBRE OS AUTORES
E-mail: adriana.domingues@unifesp.br
Anderson Santos
Psicanalista, Psicólogo e Especialista em “Saúde Mental, Imigração e Intercul-
turalidade” pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Membro do
coletivo de Psicanálise na Praça Roosevelt. Atuou em instituições de serviço
de saúde mental, em acolhimento de crianças e adolescentes e com a popu-
lação em situação de rua. Foi organizador do livro “Guattari/Kogawa. Rádio
livre. Autonomia. Japão” (ed. sobinfluencia, 2020). Realiza atendimentos
em consultório particular e na Praça Roosevelt, espaço público localizado
no município de São Paulo.
Débora Passos
Doutora em Educação pela Universidade Federal do Ceará. Psicanalista e
professora do curso de psicologia da Universidade de Fortaleza (Unifor).
Possui mestrado em psicologia (com abordagem em teoria psicanalítica) pela
Universidade de Fortaleza (Unifor). Atualmente desenvolve atividades de
pesquisa relacionadas à constituição psíquica e à prevenção de psicopatologias
na infância.E-mail: deborapassosoliveira@gmail.com
Gabriela Ferreira
Mestre em História e Cultura pela Universidade Estadual do Ceará (2015).
Graduada em História pela Universidade Estadual do Ceará (2010). Graduanda
em Psicologia pela Universidade de Fortaleza. Membro do Laboratório de
Estudos sobre Psicanálise, Cultura e Subjetividade – LAEpCUS da Univer-
sidade de Fortaleza. E-mail: gabidbc@gmail.com
VIOLÊNCIA DE GÊNERO E ÓDIO AO FEMININO 521
Gabriella Dupim
Psicanalista. Pós-doutoranda em Psychopathologie - Université Rennes 2. Profa.
Programa de Pós-graduação em Psicologia Práticas e Inovação em Saúde Men-
tal - Universidade de Pernambuco (Garanhuns). Profa. Adjunta Psicologia da
Universidade Federal de Campina Grande. Coordenadora do Laboratório de
Psicanálise de Orientação Lacaniana – LAPSO (UFCG/CNPq). Doutora em
Psychologie Université Rennes 2. Doutora em Psicologia UFRJ. Mestre em
Psicologia UFRJ. E-mail: gabidupim@gmail.com
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Gisele Laranjeira
Psicóloga, especialista em Psicoterapia Junguiana (UNIP) e Mestra em Ciência
da Religião (PUCSP); Membro do grupo de pesquisas GEPP (PUCSP) e do
grupo RELAPSO (IP-USP). E-mail: gicrila@gmail.com
Heloisa Caldas
Psicanalista. AME da Escola Brasileira de Psicanálise (EBP) e da Associação
Mundial de Psicanálise (AMP). Professora Associada da Universidade do
Estado do Rio de Janeiro (UERJ); Docente do Programa de Pós-Graduação
em Psicanálise (PGPSA/IP/UERJ). Doutora em Psicologia (UFRJ). E-mail:
helocaldasr@gmail.com
Jean-Luc Gaspard
Psicanalista, Professor Universitário de Psicopatologia, Laboratório EA4050,
Université Rennes 2, França. E-mail: jean-luc.gaspard@univ-rennes2.fr
522
Leonardo Danziato
Professor Titular do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Uni-
versidade de Fortaleza (UNIFOR); Doutor e Mestre em Sociologia pelo
Programa de Pós-graduação em Sociologia de Universidade Federal do
Ceará; graduado e licenciado em Psicologia pela Universidade Federal do
Ceará. Trabalha com pesquisas relacionadas a “Clínica Psicanalítica”, assim
como com uma leitura política dos conceitos psicanalíticos, estabelecendo
uma abordagem das condições culturais, políticas, discursivas e subjeti-
vantes do mundo contemporâneo, atreladas a uma leitura foucaultiana e
a pesquisa arqueogenealógica. Coordenador do LAEpCUS – Laboratório
de Estudos sobre Psicanálise, Cultura e Subjetividade da Universidade de
Fortaleza. VicePsicanalista com uma prática clínica desde 1987.
E-mail: leonardodanziato@unifor.br
Luciana Lira
Advogada formada pela Universidade de Fortaleza – UNIFOR em 2008.2.
Acadêmica do do curso de Psicologia da Universidade de Fortaleza – UNI-
FOR. Membro do Laboratório de Estudos sobre Psicanálise, Cultura e Subjeti-
vidade (LAEpCUS) da Universidade de Fortaleza. E-mail: lucianaribeirolira@
gmail.com
Marie-José Grihom
Professora de psicologia clínica e patológica na Universidade de Poitiers,
psicóloga clínica, psicanalista, é membro do URM RPpsy 4050 e colíder do
campo temático “Violência, famílias e radicalidades”. Suas pesquisas se con-
centram na subjetivação, nos laços familiares e no ato. Ela está particularmente
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Mélinda Marx
Psicólogo, Psicanalista, Doutor em Psicopatologia, Laboratório EA4050,
Université de Rennes 2, França. E-mail: m.marx1277@gmail.com
Anderson Santos
Psychanalyste, psychologue et spécialiste en “Santé mentale, immigration
et interculturalisme” par l’Université fédérale de São Paulo (UNIFESP).
Membre du collectif de psychanalyse de Place Roosevelt. Il a travaillé dans
des institutions de services de santé mentale, dans des foyers pour enfants et
adolescents et avec la population des sans-abri. Il a été l’organisateur du livre
“Guattari/Kogawa. Radio libre. L’autonomie. Japon” (ed. sobinfluencia, 2020).
Il travaille en cabinet privé et au Roosevelt Square, un espace public situé
dans la ville de São Paulo.
Débora Passos
Doctorat en Éducation de l’Université Fédérale du Ceará. Psychanalyste et
professeur du cours de Psychologie à l’Université de Fortaleza (Unifor). Il est
titulaire d’une maîtrise en Psychologie (avec une approche théorique psych-
analytique) de l’Université de Fortaleza (Unifor). Développe actuellement des
activités de recherche liées à la constitution psychique et à la prévention des
psychopathologies de l’enfance. Courriel : deborapassosoliveira@gmail.com
532
Gabriela Ferreira
Maître en Histoire et Culture par l’Université d’État du Ceará (2015).
Diplômée en Histoire par l’Université d’État du Ceará (2010). Étudiant en
psychologie à l’Université de Fortaleza - UNIFOR. Membre du LAEpCUS
VIOLÊNCIA DE GÊNERO E ÓDIO AO FEMININO 533
Gabriella Dupim
Pós-doutorant en Psychopathologie. Laboratório EA4050, Laboratoire
EA4050, Université Rennes 2, France. Professèure du Programa de Pós-gra-
duação em Psicologia Práticas e Inovação em Saúde Mental – Universidade de
Pernambuco (Garanhuns) et Professèure Psicologia da Universidade Federal
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Gisele Laranjeira
Psychologue, spécialiste en Psychothérapie Junguienne (UNIP) et Master en
Sciences de la Religion (PUC-SP) ; Membre des groupes de recherche GEPP
(PUC-SP) et du groupe Relapso (IP-USP). Contact : gicrila@gmail.com
Heloisa Caldas
Psychanalyste. AME de l’École Brésilienne de Psychanalyse (EBP) et de
l’Association Mondiale de Psychanalyse (AMP). Professeure Associée de
l’Université de l’État de Rio de Janeiro (UERJ) ; Enseignante au Programme
d’Études Supérieures en Psychanalyse (PGPSA / IP / UERJ). Docteure en
Psychologie (UFRJ). Courriel : helocaldasr@gmail.com
Jean-Luc Gaspard
Psychanalyste, Professeur des Universités en Psychopathologie, Laboratoire
RPpsy « Recherches en psychopathologie, nouveaux symptômes et lien social »
Président du réseau interdisciplinaire et international de recherches MILO
« Violences et trauma ». Adresse internet : reseaumilo.wordpress.com Uni-
versité Rennes 2, France. Courriel: jean-luc.gaspard@univ-rennes2.fr
Leonardo Danziato
Psychologue et Psychanalyste; Professeur Titulaire du programme d’Études
Supérieures en Psychologie à l’Université de Fortaleza (Brésil); Coordinateur
du Laboratoire d’Études sur la Culture, la Psychanalyse et la Subjectivité
(LAEpCUS); Docteur en sociologie à l’Université Fédérale du Ceará (UFC);
Vice-coordinateur du Groupe de Travail (GT) « Psychanalyse, politique et
culture » de l’ANPPEP. Courriel: leonardodanziato@unifor.br
Courriel: liviamoretto@usp.br
Marie-José Grihom
Marie-José Grihom, professeur de psychologie clinique et pathologique à
l’Université de Poitiers, psychologue clinicienne, psychanalyste, est membre
de l’URM RPpsy 4050 et co-responsable avec Romuald Hamon du champ
thématique « Violence, familles et radicalités ». Ses recherches portent sur la
subjectivation, les liens familiaux et l’acte. Elle s’intéresse particulièrement à
la violence domestique et familiale du point de vue des victimes et des auteurs
de violence, aux liens entre les couples et les groupes familiaux. Elle intègre
une perspective de genre dans son travail. Récemment, en collaboration avec
Lydie Bodiou et Frédéric Chauvaud, elle a dirigé plusieurs ouvrages : Le
corps en lambeaux, violences sexuelles faites aux femmes, Rennes, Presses
universitaires de Rennes, Collection « Histoire », 2016 ; Les corps défail-
lants, Du corps malade, usé, déformé au corps honteux, Paris, Imago, 2018 ;
On tue une femme. Le féminicide, histoire et actualité, Paris, Hermann,
« Psychanalyse », 2019 ; Les violences en famille. Histoire et actualités, Paris,
Hermann, 2020 ; Les liens saccagés, Rennes, PUR. 2021 (à paraître). Elle
codirige avec Claire Metz une nouvelle collection aux Presses Universitaires
de Strasbourg : Corps, Psyché, Sociétés. Courriel : grihom@me.com
Mélinda Marx
Psychologue, Psychanalyste, Docteure en Psychopathologie, Laboratoire
EA4050, Université Rennes 2, France. Courriel : m.marx1277@gmail.com
Yanisa Yusuf
Psychologue clinicienne et psychologue en formation. Diplômé en psychologie
clinique de l’Université polytechnique de Maputo/Mozambique (2013). Spé-
cialisé dans les soins cliniques avec un accent sur la psychanalyse (2016). Mas-
ter en psychanalyse: clinique et culture de l’UFRGS (Université fédérale
du Rio Grande do Sul) à Porto Alegre / Brésil (2018). Psychothérapeute à
emphase psychanalytique (2013-2021). Chercheur dans le domaine de la santé
mentale mozambicaine, de la violence sexiste, du VIH et de la vulnérabilité
sociale. Consultante et coordinatrice à Nampula du soutien psychanalyse
(2016) pour le programme Rapariga Biz des Nations Unies (2018-2021). Psy-
chologue à l’ICAP Mozambique (Université Columbia) pour une recherche
sur le VIH chez les adolescents (2021).
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SOBRE O LIVRO
Tiragem: Não comercializada
Formato: 16 x 23 cm
Mancha: 12,3 X 19,3 cm
Tipologia: Times New Roman 11,5/12/16/18
Arial 7,5/8/9
Papel: Pólen 80 g (miolo)
Royal Supremo 250 g (capa)