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RESUMO
O que hoje, definitivamente, pode ser visto como um lugar comum na história
cultural e na genealogia reconstruída de culturas europeias e não europeias, isto é, que
algo foi roubado e precisa ser dignificado em seu papel esmaecido, talvez pudesse
tornar o presente artigo numa investigação repetitiva, cuja operação meramente
reproduziria bibliografias e traria à luz sínteses argumentativas de outros estudiosos. No
levantamento bibliográfico para a construção de um tema, a problemática também se
deu na exigência de fazer convergir três grandes figuras imbuídas de mentalidades
diferentes — mas que tocam todos, sintomaticamente, na questão da representação e da
civilização, ao estipularem quem as possui e porque as possui; o antropólogo Jack
Goody, na sua obra O roubo da história, discorda veementemente dessas arbitrárias
atribuições, no que ele rastreia até Montesquieu e outros estudiosos iluministas (mas
não só). Para ele, algumas regiões são tipificadas, marcadas e vistas como ignorantes e
bárbaras pelo simples fato, mas não único, de estarem separadas no espaço (GOODY,
2015, p. 117). Nesse sentido, a despótica Turquia surge como o epitome de histórias
evolucionistas, reivindicadas como una.
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Aqui a referência se dá em razão dos sentimentos ambíguos que se possam brotar ao ler o Espelho de
Príncipe de Maquiavel e seus dilemas principescos — que tocam, atualmente, de forma íntima e polêmica
no imaginário popular, tendo em vista o que se pensa hoje sobre tirania e liberdade.
Alguns recortes e observações são necessários. Em primeiro lugar, para fins
metodológicos e práticos, conforme as divisões e terminologias de todos os materiais
abordados, o capítulo “Sociedades e déspotas asiáticos: na Turquia ou noutro lugar?”,
de Jack Goody, norteará a análise de fonte aqui pretendida, articulada ao verbete
Representantes do Barão de Holbach e aos três primeiros livros de O espírito das leis.2
Para não correr o risco de uma dissertação demasiado ampla, estão justificadas as
escolhas. Seja como for, estes dois últimos, de forma sintomática, buscam uma forma de
dar legitimidade e força política ao que é mais próximo, ou seja, a Monarquia moderada
e a República, em desfavor do despótico. Goody nada contra essa corrente, e realiza em
alguma medida o mesmo, só que inversamente.
II.
A partir de uma chave anacrônica, Goody faz uma referência crítica do Ocidente
como democrático, diametralmente oposto ao objeto que ele tenta fazer justiça, isso
porque sua tese baseia-se na ideia de uma espécie de história construída e dividida —
aqui, semelhanças podem ser identificadas com Said — por pares europeus para exaltar
uma Europa fundada na sua singularidade, onde teria tido uma Idade Média e a
liberdade característica dos senhores feudais, ambos vistos como as sementes principais
e únicas do surgimento do Capitalismo e da Democracia. Já a sociedade turca além de
estática, é constituída por escravos do sultão, sem falar da distinção feita entre cristãos e
muçulmanos. Esta divisão é vista como natural, quase que intransponível, e espelha um
dos aspectos notados por Said sobre orientalistas sempre se referirem de forma
categórica ao outro, ele é oriental, é muçulmano, é impostor. O próprio Goody introduz
como estratégia argumentativa a demarcação cristã feita aos não europeus
semelhantemente: “marcados pela crueldade e pelo barbarismo: eram muçulmanos”
(GOODY, 2015, p. 117). Porém, acrescenta-se: mais forte e evidente soaria “são
muçulmanos”.
Vale citar em linhas gerais uma discussão ensaiada por Goody num outro
capítulo, não apenas pelo gancho crítico estimulado, mas de maneira a esclarecer a
flexibilização adotada pelo artigo em relação ao antropólogo e seu livro.
É primordial a justiça que este faz quando revela a ebulição científica e cultural
presente no Império Otomano e na China, porém, nem mesmo ele deixa de cair na
armadilha de apagar demasiadamente uma região. Aliás, um dos seus argumentos
centrais é a constante troca presente na Eurásia, crítica para o fomento do
desenvolvimento em múltiplas regiões e a difusão de ideias e invenções, como a
pólvora proveniente da China (apud. Ágoston; GOODY, 2015, p. 122). Cria-se um
esquema de dois lados em que a balança passa a pesar para o mais vilipendiado ao
decorrer dos séculos, com o tempo, facilmente naturalizado (Montesquieu e Holbach
demonstram bem tal atitude). Há nessa configuração avanços e retrocessos, retrocessos
para um bloco político hoje que ainda dita em maior ou menor medida os rumos do
“mundo civilizado” e avanços para uma área geográfica que quiçá é vista politicamente,
pois não é democrática e permite a insistência de dogmas repressivos e atrasados
(declínio só pode levar à Idade das Trevas). Não poderia dizer o mesmo da bibliografia
utilizada, com passos adiante e passos para trás?
Visto acima, sua tese se pauta, na verdade, num colapso europeu e na dominação
asiática, numa troca de protagonismo entre sistemas, preponderância essa que nunca
deixou de dar frutos, o que ele demonstra longamente. É curioso notar o fato de que
Goody, Montesquieu e Holbach parecem não abrir mão de marcadores ideológicos em
relação a si e ao outro. Para ser mais exato, o feudalismo, por um lado, permitiria a
proliferação de processos desenvolvimentistas, estimulantes de certa dose de liberdade;
por outro, é problemático porque disputa com um Oriente Médio atrasado, e incapaz de
fornecer as condições necessárias para o crescimento do capitalismo (GOODY, 2015, p.
83-116). Em Holbach, esse postulado é bem claro. Goody rebate e questiona essa
teleologia. É preciso deixar alguns para trás para dar lugar a outros na frente. É um jogo
de contra-pesos, em que as intenções argumentativas por mais críticas que possam ser
não resistem, a menos que algo seja posto no sustentáculo correspondente. Montesquieu
encarna essa estratégias como ninguém, pois, embora reconheça a degeneração de todos
os seus tipos de governo, o despótico não pode degenerar, simplesmente porque sua
natureza é, naturalmente, degenerada e está sempre na esfera da tirania (cf.
MONTESQUIEU, 2000, p. 28-29). Aparentemente, a discussão está presa a um
argumento secundário sempre generalizante. Outra questão é mobilizada, a qual
acompanhava esse início do período moderno e suposto “nascimento” do mundo
civilizado: as potências do Atlântico começavam a dar resultados. Esse fator merece
atenção: um dos fortes argumentos do antropólogo inglês é a constante troca
empreendida na Eurásia, com menções à Itália e à estratégica cidade que fora Bizâncio,
além daquelas na sua esfera de influência político-religiosa — neste caso, as novas rotas
atlânticas emplacariam um duro golpe num comércio, na verdade, vibrante. Novamente,
o uso de sistemas, agora relacionados pela passagem de um a outro, como já
demonstrado na condição que norteia a disposição dos atores no palco da civilização.
Alguém, necessariamente, precisa estar à frente enquanto o outro se resigna ao papel
coadjuvante.
Todo o exposto tem coerência com uma visão denunciada por Goody sobre o
Império Otomano como não receptivo à mudança, aos inventos e aos incrementos
tecnológicos, dificilmente limitados à Europa. Eles seriam escravos, afinal, de cristãos
tornaram-se infiéis e a mão de ferro do sultão. Esta tendência identifica-se como uma
forma de se subordinar à ideologia e não ao sentido prático da questão. A pólvora, feita
na China, foi bem utilizada e as armas logo foram adotadas pelos turcos (GOODY,
2015, p. 123). A insistência de certos historiadores em insistir numa dependência da
Turquia aos avanços de terceiros (europeus) e ao número de estrangeiros na força de
trabalho procuram se desviar de alguns fatos intragáveis. Visa desqualificar
aprendizados mútuos e verdadeiras trocas por toda a Eurásia. Como estaria o “mundo
europeu civilizado” sem a pólvora descoberta pelos chineses? A perspectiva precisa
mudar, e nela as ideias de inferioridade e superioridade, unicamente fortuitas no mito
evolucionista e fundador da Europa. Se os janízaros são escravos, a leitura é fácil e o
correspondente civilizatório ganha maior forma e cada vez mais autoridade, senso de
que está no lado certo. Mas se não são, o que se segue é incompreensível, desmontam
alguns sistemas, incomoda com algumas perguntas: são capazes de se atualizar? Quem
está sob a autoridade turca não é escrava? Eles têm alguma margem de negociação e
representação?
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Ele se refere a nação como povo, ao qual teve espaço aberto na representação pela nobreza e pelo clero.
libertação, em que acusa, dicotomiza, diminui e simplifica o outro, para sempre estar ali
como a promessa da liberdade.
De volta aos sub-representados e a fonte em si, algumas questões são postas por
Goody referentes à situação dos turcos, se poderiam ser comprados e vendidos feito
escravos, ou se tinham direitos de parentesco (GOODY,2015, p. 125). “Escravo” pode
ser uma armadilha conceitual nessa análise iniciada, uma vez que muitos dos ideólogos4
aqui contemplados não resumem a condição escravizada do oriental a simples
materialidade. O próprio Holbach fala de representação enquanto instância política,
apesar desta estar condicionada à posse terrena. Ou seja, a posse é física e ideológica,
ser escravo não é apenas estar alheio às práticas comerciais, de agricultura ou de
“trabalho livre”, é também não poder ser representado. Nesse esquema, demonstrou-se
já ser impossível. Para Goody, a posse da terra pelo Estado (e o arrendamento dela aos
camponeses) consistia num mecanismo de proteção contra a divisão, invasão ou a
exploração desmedida, além da unidade fiscal básica que a propriedade representava.
Logo, os camponeses eram dependentes e livres ao mesmo tempo, como em muitos dos
espaços europeus — o Estado usufruir desses serviços por razões bélicas e para
sustentar a própria desigualdade dificilmente estaria em desacordo da situação de
qualquer camponês pobre na França, por exemplo. Goody traz um referencial teórico
que transcende essa limitação pautada na escravidão, ele não descarta a possibilidade do
camponês de transferir terras, nega a ignorância ao comércio, e diz que havia quem
armazenasse nessas terras transferidas e doadas trigo para exportação, inclusive, para a
Europa (GOODY, 2015, p. 126-127). Nesse cenário, é questionável qualquer posição
retórica (descolada da realidade) de que comércio e mercado não envolviam o Império
Otomano. A própria Istambul representava importante entreposto comercial, e sua
envergadura demográfica não sustentava um povo escravizado que somente produz o
que come, sem qualquer oportunidade para escoar um excedente. Obviamente, não
significa tomar camponeses como exageradamente livres e, de forma generalizada,
comerciantes. Não o eram, tampouco os europeus.
Mas limites podem ser fortuitos, em especial quando sua fonte, mais bem
equipada teórica e metodologicamente, também os praticam. A régua que Goody
utilizou para a Idade Média é um exemplo limítrofe e análogo à denúncia feita por
Holbach acerca de países que se arrogam de praticar a liberdade, entretanto, neles os
encarregados de representar os povos costumam frequentemente trair seus interesses e
abandonar os constituintes à ambição dos que pretendem saqueá-los (DIDEROT;
D'ALAMBERT, 2006, p. 243). Tal hipocrisia e dissimulação não poderia ser, de forma
alguma, dos Estados moderados que figuram na história processual-evolucionista
empreitada pelo Barão, porém descrevem muito bem uma atitude demasiadamente
confiante e fundamentada no mito fundador europeu (a tese de Goody). Aqui, se vê uma
pequena brecha, uma saída, um “quase”, referentes ao puxão de gravidade projetado
pelo esquema representativo de Holbach. Paradoxalmente, transcende e suporta limites,
pois reconhece contradições na realidade representativa, porém as ignora no seu
esquema, o que Goody reproduz quando rivaliza Ásia e Europa medieval. É uma
contradição implícita, um operar que vem sendo chamado de “necessário” no esquema,
e um excelente acréscimo a atitude comparativa e crítica de Goody.
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No mesmo parágrafo, Holbach fala de modo contraditório que o povo cai na inércia ou se manifesta em
revoltas. Este pouco cuidado é o que alimenta a sua visão ideológica de boa parte do mundo. Essa
generalização sustenta a condição deles de “ideólogos”.
Introduzindo a dinâmica do comércio da seda, Goody já sintetiza um argumento
que desenvolve melhor em outro capítulo, ao tratar de Braudel e suas análises sobre
civilização e capitalismo. No conglomerado mediterrânico, o Império Islâmico era parte
intrínseca desse mundo e compartilhava com a Europa um intenso capitalismo de
mercado (GOODY,2015, p. 129). As superações europeias, com seus avanços
industriais e científicos (tributários do Oriente), só se deram posteriormente e se não foi
possível para a Ásia atingir tal pico, não no século XVIII, pelo menos, não significa que
não tenha compartilhado de um status comercial e politico muito semelhante da Europa.
Ignorar esse processo, nunca evolutivo, é anacrônico e busca no passado a confirmação
do presente. Como tudo isso conecta-se a grande obra de Montesquieu, é necessário
retornar ao argumento do caráter pragmático no desenvolvimento bélico turco. Ele pode
funcionar num sentido de necessidade frente ao inimigo e a ameaça que representa.
Assim que europeus aparecerem com armas de fogo, rapidamente o exército do sultão
passa a adotar a mesma tática. Contudo, o estritamente necessário explica parte do
processo tecnológico, não o todo. Na verdade, engessar o espírito humano no
meramente prático reproduz a visão estática de mundo imposta pelo eurocentrismo;
incapazes de inventar e produzir, se reduzem a reprodução. Não é muito diferente
daqueles que acusam o Oriente de utilizar largamente de “empréstimos tecnológicos” e,
por isso, sem ousadia ou criatividade na sua história. Jack Goody escorrega timidamente
nessa direção. Ele critica essa visão por todo o livro, as identifica e as reformula, mas,
nesse capítulo especificamente, comete o mesmo.
Num governo tirânico e europeu, temor e honra, estão, cada um na sua medida,
presentes. E as leis, como no regime do déspota, não são nada quando deveriam ser
tudo. A tese de Goody veria como proveitosa tal relativização. No entanto, ela não
acompanha o conceito de despotismo. O antropólogo argumenta que tal palavra deve ser
abandonada, pois o abandono apenas revela um enclausuramento tão inviolável que, por
mais que as contradições eruditas sejam desfeitas e os fatos ampliados, o “despótico”
sempre será “despótico” (cf. GOODY, 2015, p. 142).. Está de acordo não só com a
proposição temática e metodológica do artigo, como dos esquemas apresentados.
Para concluir o capítulo, Goody aborda o que ele define como um dos principais
alvos da crítica pós-iluminista, a China. É um espaço geográfico, social, cultural e
histórico que foge do delimitado anteriormente, mas está em conformidade com os
paralelos entre o Oriente e o Ocidente traçados.
A intenção de Goody é denominar esses vários Estados de outra maneira que não
a dicotomia largamente discutida. O que ele chama de “Estado tributário” — o
crescimento euroasiático — define sinteticamente “o desenvolvimento de civilizações
urbanas paralelas, a crescente troca de bens e ideias no tempo e o aparecimento de um
capitalismo mercantil euroasiático, com mercados, atividade financeira e manufaturas”
(GOODY, 2015, p. 142). Há concordância na descrição ligada a esse novo olhar. Cada
cultura e cada cidade opera em algum nível com desenvolvimentos próprios, e seria um
erro negar isso, mas um erro ainda maior é entendê-los como isolados dessa complexa
movimentação de informação, bens e gentes num mundo extremamente diferente mas
vivo.
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A tradução para o português é “culinária gourmet”, o que, à época, seria a dieta da alta burguesia e
nobreza.
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De longe, ele é o mais idealista de todos. E, depois de Goody, o que melhor traçou exceções às suas
regras; Holbach o faz timidamente.
despotismo de fato. Afinal, o princípio de Montesquieu é o dever, diferentemente
daquilo que viu-se como necessário, não significa ser ele algo intrínseco à natureza do
governo ou mesmo que outras qualidades ou infortúnios não estejam presentes. Goody
traz um exército próprio turco, uma prática de manutenção das leis locais e muitas
outras características comuns à Europa (de agricultura, comércio e cultura), plenamente
presentes num governo, em tese, escravizador — na realidade, relativamente livre. O
Barão de Holbach, assim como seu contemporâneo supracitado, vê como escrava a
condição daqueles sob a tirania do Império Otomano. Porém, o papel dessa gente é vista
com certa diversidade: o barão, no verbete Representantes, afirma a inércia dos súditos
do sultão, alienados da situação que se encontram, e se este cai ou está sob ameaça, para
eles pouco importa; Montesquieu os concebe como paralisados pelo medo, aterrorizados
pelo déspota.
Essas ligações são mais complexas, e é esta a máxima de Goody. Por um lado,
se há um comércio vibrante, uma constante evolução tecnológica e vários extratos
sociais dentro do Império Turco, é porque o domínio não é absoluto, então a população
tem participação (a hierarquia pode ser vertical, mas não exclui negociações). Por outro,
se os que deveriam ser representados não o são, pouco se importam, ou estão
completamente alienados, presos num esquema sem fim, a representação é nula e o
sultão eterno. Outra dicotomia. Portanto, a fonte, distante no tempo e na teoria (de uma
tradição bem mais diversa), opera como uma torre de xadrez, a qual revisita
temporalidades ao avançar a seu bel prazer, em linha reta para trás, para frente, ou para
os lados; este artigo, feito uma rainha, desliza em todas as direções possíveis no trato
historiográfico e das limitações e potencialidades ideológicas, identificando
similaridades e contradições comuns e subjacentes à camada dura da teoria, a qual
Goody confronta, contesta, desmitifica, repete, e o artigo conjuga. Como uma panela de
pressão, o esquema ele precisa aliviar sua própria disposição, ele precisa de uma
“válvula de escape”: de um lado, o Oriente é um mar de escravos; do outro, a Europa
está em queda e o Oriente vibrante; no fim, as histórias estão sendo simultaneamente
roubadas.
III.
Viu-se até aqui que até mesmo um antropólogo do presente século também se
beneficia dos usos de sistemas explicativos e esquemas antitéticos. É plenamente
possível a não-representação? Nem no esquema tipológico e nem no representativo de
Montesquieu e Holbach, respectivamente, a ausência de representação, da liberdade
relativa e da negociação marginalizada são possíveis. Os resultados de suas construções
sociais e historiográficas na verdade pressupõem um jogo de paradoxos, no que a
escravidão é a autoridade do déspota, mas o medo ou a ignorância do povo não são a
sua natureza, e sim ou princípio teórico, ou a traição daqueles que deveriam representar.
Sempre haverá nesses discursos um apelo pelo “dever” com o uso de recursos
linguísticos responsáveis por intercalar opções (os “ou”), mas, no fim, são cuidados sem
sentido, sem materialidade.
REFERÊNCIAS