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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ

CENTRO DE EDUCAÇÃO
CURSO DE GRADUAÇÃO EM PEDAGOGIA

DISCIPLINA: ​PEDAGOGIA DE PAULO FREIRE


PROFESSORA: CÉLIA MARIA MACHADO DE BRITO
SEMESTRE: 2019.2
TURNO: MANHÃ

ANNA CATARINE AMARAL - Nº DA MATRÍCULA: 1475082

RESUMO: EXISTE UMA “CULTURA DO SILÊNCIO” NOS EUA? OS ALUNOS


NORTE AMERICANOS, VIVENDO NUMA DEMOCRACIA ABASTADA
PRECISAM DE “LIBERTAÇÃO”?

FORTALEZA - CEARÁ
2020
Referência Bibliográfica
FREIRE, Paulo; SHOR, Ira. Existe uma “cultura do silêncio” nos EUA? Os alunos norte
americanos, vivendo numa democracia abastada precisam de “libertação”? In: ___. ​Medo e
Ousadia​: o cotidiano do professor. Tradução: Adriana Lopes. Revisão técnica lólio Lourenço
de Oliveira. 13.ed. São Paulo: Paz e Terra, 2011. cap.5, p. 201-233. Título original: Fear and
daring: the daily life of the teacher.

No capítulo 5 do livro Medo e Ousadia, de Paulo Freire e Ira Shor (2011, p. 201-233),
Shor apresenta dúvidas referentes aos professores de seu país (EUA) que questionam se
devem ou há uma necessidade de aplicar a metodologia da educação libertadora, uma vez que
a sociedade norte-americana é bem evoluída, afortunada e não sofrem ditaduras. Esses
professores entendem ainda que como a educação dialógica visa estabelecer a democracia
dentro das escolas e na sociedade, talvez não haveria utilidade o emprego de tal Pedagogia, já
que seus alunos podem prosperar socialmente e acreditam que vivem num país democrático.
Assim, Shor explica que é importante abordar essas indagações, pois pensamentos como esses
podem atrapalhar a desenvoltura de professores que desejam aplicar o método libertador.
Dessa maneira, Shor faz um relato de suas experiências expondo os principais
aspectos que demonstram que existe uma visão distorcida da realidade dos EUA que se
declara democrático e libertador; e que a educação de uma maneira geral em seu país é muito
alienadora e opressiva. O autor começa abordando sobre a “cultura do silêncio” que é um
elemento comum nas salas de aula. Os alunos acostumados com a pedagogia tradicional não
participam dos estudos em sala de aula, normalmente apenas esperam pelas regras e narrações
dos professores. Alguns estudantes tomam anotações, outros ignoram o professor de várias
maneiras e outros tantos resistem de forma agressiva e negativa nas salas de aula, no entanto
a maioria segue dia-a-dia de forma alienada sem aprender ou utilizar o conhecimento de fato
para sua emancipação.
Contudo, Shor retrata que a “cultura do silêncio” não é algo espontâneo, essa condição
foi “alimentada” por muito tempo pela escola e pela sociedade que causam uma “violência
simbólica”, posto que oprimem, também de forma silenciosa, por meio de imposições, regras,
currículos fechados, punições, critérios, testes padronizados etc. manipulando todo o sistema
educacional e ainda declarando-se uma sociedade democrática e de igualdade, quando na
verdade constrói e reproduz as desigualdades na sociedade.
Shor pontua ainda várias situações de discriminações colocadas pelo sistema
educacional que são despercebidas pelo povo, como: o status quo que é estabelecido como
neutro, normativo e justo, porque mostra que as oportunidades são iguais, mas as diferenças
que existem são devido as aptidões de cada um; dizer que o idioma correto é o da elite, assim
como a forma de falar dos alunos é inapropriada; as autoridades que tentam ensinar às pessoas
a desistirem de suas liberdades, seus direitos e pensamentos críticos; o currículo oficial que é
constituído por expressões democráticas, mas na realidade a escola não emprega a
democracia, pelo contrário impõe e colabora com a “cultura do silêncio” etc. No entanto, Shor
aponta que os problemas de disciplina e desordem - como a aceitação passiva dos alunos sem
seguir as regras ou a sabotagem das regras pelos alunos - que existem nas escolas demonstram
que a metodologia pedagógica utilizada não funciona. Reitera que tanto a passividade como a
agressividade dos alunos são construções sociais como forma de dizer que não concordam
com esse método, ainda que não seja escolhas tão acertadas. E nomeia essas formas de
rejeição como “cultura da sabotagem”.
Ao ser questionado por Shor como é a situação no Brasil, Freire responde que a
“cultura do silêncio” ou “cultura da sabotagem” são expressões de algo maior e que é
importante saber o porquê que esses alunos agem dessa maneira, se eles entendem o que
fazem e porque fazem uma rebelião, por exemplo. Desafiar os estudantes a reflexão, a se
questionar fará com se tornem conscientes, críticos e fortalecerá a relação aluno-professor.
Depois explica que no Brasil, essas condições não são facilmente encontradas porque apesar
de existirem alunos que ainda esperam pela fala professoral, outros lutam contra a falta de
liberdade. Buscam, de forma organizada, lutar contra o sistema educacional, contra o governo
em busca de melhores condições de mensalidade, estrutura de sala de aula, de alimentação
universitária etc. Ademais, Freire observa que talvez não tenha tanta dificuldade com os
alunos dele, porque estes pagam para assistir seus cursos e seminários, ou seja, estão com ele
porque querem.
Logo em seguida, Shor concorda sobre a importância de levar o aluno a discutir sobre
sua forma de agir, que se o diálogo funcionar pode realmente ajudar na relação
professor-aluno, além de levar o aluno a entender a si mesmo e a realidade em que se
encontra. Coloca que nem sempre, alguns alunos podem ser tratados delicadamente e é por
isso que para cada tipo de estudante, é necessário um tratamento diferenciado. Portanto, há
necessidade de estabelecer regras em sala aula para que haja o bom convívio e muitas vezes
conversas francas com os mais desordeiros. E são exatamente essas situações que demandam
a necessidade urgente da Pedagogia Libertadora. Shor entende que o uso dessa não irá causar
respostas imediatas e soluções mágicas, dado que depende de mudanças mais globais, mas
acredita que pode causar bons resultados. De resto, para entender essas situações e a pedido
de Freire, Shor descreve vários problemas de resistência por quais os docentes passam dentro
das salas de aulas nas escolas e nas universidades.
Freire e Shor discutem ainda sobre a importância de compreender a relação entre
educação sistemática e a mudança social. Enfatizam que os problemas das escolas estão
totalmente ligados com as condições globais da sociedade, principalmente no que se refere às
questões de disciplina e alienação. Desse modo, a educação não pode ser alavanca
transformadora da sociedade, pois ela tem limites. Existe um sistema maior, o governo
capitalista, que também sustenta a alienação, reproduz a ideologia dominante, perpetua a
desigualdade social, oprime os mais fracos entre outros que limitam a educação formal.
Então, os autores ressaltam que os professores devem estar conscientes dos limites do poder
da educação para que não caiam no ceticismo ou no desespero. Saibam como redirecionar
suas forças, ampliar suas condições educacionais e objetivos políticos para trabalhar da
melhor forma possível e não percam seu desejo de educar para emancipar. E por fim,
compreendam que no final de suas aulas, não terão transformados a todos/as, mas poderão ter
indivíduos mais curiosos, estimulados a refletir, criticar e talvez mais conscientes das
contradições da sociedade, assim já farão alguma diferença com esses mesmos indivíduos.
Dentre outras dificuldades que existem no contexto educacional norte-americano,
Freire levanta a questão da dicotomia entre “ler as palavras e ler o mundo” (2011, p. 225).
Freire entende que nas escolas norte-americanas está aumentando a distância entre os textos
que são estudados e o que é vivido em sua realidade. As crianças e jovens são ensinados num
mundo à parte, num mundo especializado sobre coisas que não fazem parte daquilo que vivem
na prática, o que contribui para que se tornem alienados e não reflexivos. Pode-se até dizer
que é um tipo de “cultura do silêncio” que está sendo imposta aos estudantes. Pois a leitura da
escola ​silencia o mundo da experiência, e o que se vive fora da escola é silenciado na mesma,
sem que se possa fazer reflexões das condições vividas diariamente dentro da escola. O que é
diferente na Pedagogia libertadora, democrática, porquanto essa estabelece o diálogo entre o
que é lido na escola e vivido fora dela. Logo, Freire reitera a relevância de estabelecer esse elo
entre leitura de mundo e leitura das palavras porque uma pedagogia dicotomizada enfraquece
o poder do estudo intelectual como auxílio para transformar a sociedade.
Enfim, Freire conclui o capítulo colocando as diferenças que existem entre as
sociedades brasileira e norte-americana. Afirma, que há diferenças nas condições de poder,
riqueza, tecnologia etc, contudo demonstra que ambos têm algumas semelhanças, uma vez
que vivem em sociedades capitalistas. Por consequência, sofrem fortemente com a influência
da manipulação e da alienação decorrentes da ideologia empregada pela classe dominante,
que é a minoria elitizada. Em ambos países, as classes dominantes buscam enfatizar que seus
interesses e objetivos são interesses da nação. Para culminar, assevera que o processo de
dominação é similar entre aqueles, mas no EUA as condições colocadas de forma bem
obscuras, como as “cultura de silêncio” e “cultura de sabotagem”, podem confundir ainda
mais a população, tornando assim mais complicado e necessário o uso de uma reflexão mais
crítica e consciente.

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