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MONIQUE MARTELLI

JORNADA DE TRABALHO NA ZONA RURAL


Seu trabalho será avaliado pelo CopySpider no decorrer do desenvolvimento do
trabalho, assim caso seja detectado, poderá ser invalidado em qualquer uma das
atividades. Leia antes de começar o trabalho o Manual do Aluno e Manual do plágio
para compreender todos itens obrigatórios e os critérios utilizados na correção
2

MONIQUE MARTELLI

JORNADA DE TRABALHO NA ZONA RURAL

Cidade
Ano

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à


UNIC – Universidade de Cuiabá, como requisito
parcial para a obtenção do título de graduado
em Direito.

Orientador: João Rafael Soares


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MONIQUE MARTELLI

JORNADA DE TRABALHO NA ZONA RURAL

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à


UNIC – Universidade de Cuiabá, como requisito
parcial para a obtenção do título de graduado
em Direito.

BANCA EXAMINADORA

Prof(ª). Titulação Nome do Professor(a)

Prof(ª). Titulação Nome do Professor(a)

Prof(ª). Titulação Nome do Professor(a)

Cuiabá, dia de Junho de 2018

Cuiabá
2018
4

Dedico este trabalho principalmente ao


meu pai, Sérgio Augusto Martelli, o qual
sempre apresentou inúmeras reclamações
sobre a legislação que regulamenta seu
meio de trabalho, dando a ideia ao
presente trabalho de conclusão de curso.
Dedico também a toda minha família, mãe,
irmãos, primos e tios que de alguma forma
somaram e ajudaram a concluir esta etapa.
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MARTELLI, Monique. Jornada de Trabalho na Zona Rural. 2017. X folhas. Trabalho


de Conclusão de Curso (Graduação em Direito) – Unic, Cuiabá, 2017.

RESUMO

O presente trabalho aborda o tema da jornada de trabalho na zona rural, apresentando


os principais problemas enfrentados pelos produtores e seus empregados, problemas
principalmente decorrentes do tempo. Analisando a rotina de trabalho e conversando
com pessoas que vivem neste meio, tornou-se possível identificar as maiores falhas
legislativas e buscar possíveis soluções, além de apresentar os motivos pelos quais
outras não podem ser aplicadas.

Palavras-chave: Jornada; Rural; Tempo; Problemas; Soluções.


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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CLT Consolidação das Leis do Trabalho


CF Constituição Federal
DSR Descanso Semanal Remunerado
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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.................................................................................................08
1. JORNADA DE TRABALHO DE ACORDO COM A CLT E LEI 5.889/73.....10
1.1 JORNADA DE TRABALHO...................................................................10
1.1.1 Bases a serem seguidas.......................................................................13
2. REALIDADE DO TRABALHO NO CAMPO ...............................................15
3. POSSIBILIDADES DA LEI APLICADAS AO CASO PRÁTICO..................20
3.1 DUPLA JORNADA ...............................................................................20
3.2 JORNADA DE COMPENSAÇÃO E BANCO DE HORAS ....................20
3.3 ACORDO DE PRORROGAÇÃO DE HORAS ........................................21
3.4 TRABAHO INTERMITENTE .................................................................22
3.5 LEI Nº 13.103, DE 2 DE MARÇO DE 2015...........................................22
3.6 SERVIÇOS INADIAVEIS OU NECESSIDADE IMPERIOSA..................23
CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................25
REFERÊNCIAS...............................................................................................26
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INTRODUÇÃO

O presente trabalho de conclusão de curso pretende analisar a jornada de


trabalho na zona rural, pois abrange um grande número de trabalhadores e
empregadores, tendo em vista que o agronegócio é uma das principais formas de
movimentar a economia do nosso país e também, do mundo.
Tendo em vista a importância do agronegócio para o mundo e as dificuldades
encontradas em seu desenvolvimento, busca-se entender as Leis Trabalhistas e
encontrar uma solução para jornada de trabalho dos empregados do referido setor,
vez que a mesma é influenciada por inúmeros fatores, principalmente, naturais.
Como é sabido, as atividades na zona rural, na maior parte das vezes, são
desenvolvidas no campo, dependendo de condições climáticas, estágio de
desenvolvimento de cada cultura, momento propicio para a prática de determinada
atividade e assim, torna-se demasiadamente dificultoso estabelecer uma jornada de
trabalho regular, com intervalos pré-estabelecidos ou até mesmo, início e término dos
afazeres. Busca-se uma forma de flexibilizar a jornada de trabalho de maneira que
não prejudique o empregador e que também, não fira os direitos já adquiridos pelos
trabalhadores.
Para obter uma solução para o referido problema, tem-se como objetivo geral
analisar a jornada de trabalho permitida pela Consolidação das Leis Trabalhistas
considerando os inúmeros fatores que influenciam o desenvolvimento das atividades
no campo, buscando assim, estabelecer uma relação que seja vantajosa tanto para
empregados quanto para empregadores, e como objetivos específicos:
Analisar como a lei estabelece a jornada de trabalho e os motivos pelos quais
ela deve ser respeitada, reconhecendo e evidenciando os problemas decorrentes do
tempo, vez que as atividades laborais geralmente são desenvolvidas a céu aberto, e
assim, encontrar possíveis soluções para os empregadores que necessitam de horas
extraordinárias além das permitidas por lei, de forma que os empregados não tenham
seus direitos prejudicados.
Analisando a realidade vivida por empregadores do campo, visitando seu local
de trabalho, realizando entrevistas, respondendo questionários, conversando com os
mesmos e percebendo suas maiores dificuldades e como os mesmos encontram-se
desamparados pela lei, antagonicamente os empregados são amplamente protegidos
pela CLT, e assim, torna-se excessivamente dificultoso o desenvolvimento do labor
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necessário de forma rápida, eficiente e de acordo com as condições exigidas pelo


ramo. Com base na pesquisa empírica para apresentação de dados e fundamentação
legislativa na busca de uma resolução.
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1 JORNADA DE TRABALHO DE ACORDO COM A CLT E LEI 5.889/73

1.1 JORNADA DE TRABALHO

A jornada de trabalho é o período estabelecido no contrato de trabalho entre a


empresa e o empregado, a qual deve ser cumprida pelo mesmo. De acordo com a
CLT, no art. 58, “A duração normal do trabalho, para os empregados em qualquer
atividade privada, não excederá de 8 (oito) horas diárias”, ou, 44 horas semanais,
contando com 4 horas laborais aos sábados. Ou seja, a jornada de trabalho
basicamente é o tempo pelo qual o empregado prestará serviços ao seu empregador.
Jornada de trabalho é a quantidade de labor diário do empregado. O conceito
de jornada de trabalho deve ser analisado sob três prismas: do tempo efetivamente
trabalhado, do tempo à disposição do empregador e do tempo in itinere. (MARTINS,
2011, 512 p.).
É considerado para a jornada de trabalho, o tempo em que o empregado
efetivamente prestar serviços ao empregador, o tempo que permanecer a disposição,
o intervalo intrajornada e a jorna in itinere, em casos específicos previstos em Lei.
Quando for necessário que o empregado trabalhe por mais de 8 horas, é
permitido pela Consolidação das Leis Trabalhistas o adicional de horas extras, horas
extraordinárias ou horas suplementares, sinônimos utilizados pelas Doutrinas para
denominar “as prestadas além do horário contratual, legal ou normativo, que devem
ser remuneradas com o adicional respectivo”, (MARTINS, 2011. 525 p.).
São permitidas apenas 2 horas extraordinárias por dia, conforme art. 59 da
referida lei. Porém, as mesmas devem ser pagas com adicional mínimo de 50% sobre
o valor da hora normal, como prevê o art. 7º, XVI, da Constituição Federal, derrogando
assim os preceitos da CLT ou da legislação ordinária que assegurava adicional de 20
ou 25%. Nada impede, entretanto, que o adicional seja superior aos 50% assegurados
pela CF. Ainda, é permitido em casos excepcionais e para conclusão de serviços
inadiáveis que o empregado labore por 12 horas, ou seja, realizando 4 horas
suplementares, conforme prevê o art. 61 também da CLT e art. 8º do decreto nº
73.626/74.
Não há necessidade de previsão contratual ou de acordo ou convenção coletiva
para a citada prorrogação, e com a vigência da lei 13.467/2017 também deixou de ser
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necessária a informação à Delegacia Regional do Trabalho no prazo de 10 dias, como


previa o art. 61, § 1º da CLT, agora com nova redação.
Vale destacar que quando o funcionário labora na jornada de 8 horas, tem
garantido por lei um intervalo de no mínimo 1 hora para almoço, conhecido como
intervalo intrajornada, ou seja, é feito dentro da própria jornada de trabalho. Com a
reforma trabalhista, este intervalo pode ser reduzido para o tempop mínimo de 30
minutos, desde que presente autorização do Ministério do Trabalho ou do sindicato,
tendo em vista o principio do negociado sobre o legislado, como prevê o art. 611-A, III
da CLT.

Art. 611-A. A convenção coletiva e o acordo coletivo de trabalho, observados


os incisos III e VI do caput do art. 8º da Constituição, têm prevalência sobre
a lei quando, entre outros, dispuserem sobre:
III - intervalo intrajornada, respeitado o limite mínimo de trinta minutos para
jornadas superiores a seis horas;
(BRASIL, 1943)

Se a jornada for de 6 horas, o intervalo deve ser de pelo menos 15 minutos, e


se a jornada for de 4 horas, não é necessária a concessão de intervalo.

Art. 71 - Em qualquer trabalho contínuo, cuja duração exceda de 6 (seis)


horas, é obrigatória a concessão de um intervalo para repouso ou
alimentação, o qual será, no mínimo, de 1 (uma) hora e, salvo acordo escrito
ou contrato coletivo em contrário, não poderá exceder de 2 (duas) horas.
§ 1º - Não excedendo de 6 (seis) horas o trabalho, será, entretanto,
obrigatório um intervalo de 15 (quinze) minutos quando a duração ultrapassar
4 (quatro) horas.
(BRASIL, 1943)

Ainda, é previsto em lei o intervalo de minimamente 11 horas entre uma jornada


e outra, além do descanso semanal remunerado, que deve preferencialmente ser
concedido aos domingos, contando com 24 horas continuas nem qualquer labor.
Quando o empregado labora por mais de 8 horas diárias, em domingos ou
feriados, período noturno ou em ambiente perigoso ou insalubre, deve
obrigatoriamente ser remunerado por tal, de acordo com cada adicional previsto em
lei. Assim, o adicional de hora extra é de minimamente 50%, se o labor for em
domingos ou feriados o adicional será de 100% do valor sobre a hora normal, trabalho
noturno com adicional de 25%, variando o período em decorrência do local da
prestação do serviço, urbano ou rural, ou adicional de insalubridade ou periculosidade
que varia de acordo com a atividade desenvolvida.
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As horas extras nem sempre devem ser remuneradas, como no caso de


empregados ocupantes de cargos de confiança, exceto em casos onde a
remuneração for inferior ao salário, sendo acrescido de 40%, ou quando a horas
extraordinárias são compensadas com dia de folga, por exemplo.
Ainda faz parte da jornada de trabalho, um DSR, ou seja, descanso semanal
remunerado, que teve origem nos costumes religiosos, quando Deus abençoou e
santificou o sétimo dia da semana, destinando-o para o descanso. Assim, com a
evolução e constante adaptação da Legislação aos costumes da sociedade, hoje, é
permitido que trabalhador labore aos domingos, porém, referido labor deve ser
remunerado com um adicional.

O repouso semanal remunerado é o período em que o empregado deixa de


prestar serviços uma vez por semana ao empregador, de preferência aos
domingos, e nos feriados, mas percebendo remuneração. Esse período é de
24 horas consecutivas (art. 1º, Lei 605/49).
(MARTINS, 2011. 571 p.)

Os feriados civis e religiosos, assim como os domingos, é vedado o trabalho,


porém, o trabalhador perceberá a remuneração respectiva. Em casos onde a
execução do trabalho é necessária, existe a possibilidade do labor nos referidos dias,
devendo ser pago com o adicional de hora suplementar. Ainda, o repouso semanal
deverá coincidir, pelo menos uma vez no período máximo de três semanas, com o
domingo.
A fixação de uma jornada de trabalho tem o intuito de evitar abusos por parte
do empregador, garantindo ao empregado o recebimento de adicional sobre as horas
extraordinárias laboradas. Tal direito é também assegurado pela Constituição Federal
em seu art. 7º, XIII, sendo possível o acordo para labor de jornada inferior a 8 horas
diárias, porém, não para além dos limites expressos em lei.

Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que
visem à melhoria de sua condição social:
XIII - duração do trabalho normal não superior a oito horas diárias e quarenta
e quatro semanais, facultada a compensação de horários e a redução da
jornada, mediante acordo ou convenção coletiva de trabalho;
(BRASIL, 1988)

Deve-se destacar ainda, que o fato de o labor ocorrer na zona rural não
“desobriga” o empregador de realizar o controle de ponto quando possuir mais de 10
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empregados. Mesmo que o labor ocorra em área externa, na zona rural é obrigatório
o registro da jornada de trabalho nos casos previstos em lei.

1.2 BASES A SEREM SEGUIDAS

Como em qualquer área, o direito do trabalho possui princípios. Princípio é


onde algo começa, sua origem, um ponto de partida. Para o direito, o princípio é
portando, o começo, o alicerce, a base. Podem ser considerados regras morais que
orientam o legislador e dão sustentação.
Um dos princípios mais importantes das relações de trabalho, é o princípio da
proteção, que tem a intenção de compensar a superioridade econômica do
empregador em relação ao empregado, dando a este, superioridade jurídica. O
princípio da proteção busca a aplicação na norma mais favorável ao empregado, além
de ter o julgamentos a seu favor quando houver dúvida, conhecido como in dubio pró
operário e também, obter a aplicação da condição mais benéfica.
Primeiramente, deve-se destacar um dos princípios basilares de todo
ordenamento jurídico brasileiro, o qual deve ser seguido em todos os campos
profissionais, sociais e familiares. Trata-se do princípio da “dignidade da pessoa
humana”, previsto pelo art. 1º, III da CF/88.
Em caso algum, qualquer sujeito de direito pode ser submetido a situação que
fira ou coloque em risco tal princípio, que deve ser amplamente respeitado e
vivenciado. Qualquer ato que implique o desrespeito a dignidade da pessoa humana
deve ser abolido, vez que o mesmo é direito fundamental.
Um dos princípios mais importantes das relações de trabalho, é o princípio da
proteção, que tem a intenção de compensar a superioridade econômica do
empregador em relação ao empregado, dando a este, superioridade jurídica. O
princípio da proteção busca a aplicação na norma mais favorável ao empregado, além
de ter o julgamentos a seu favor quando houver dúvida, conhecido como in dubio pró
operário e também, obter a aplicação da condição mais benéfica.
Destaca-se também que os direitos trabalhistas são irrenunciáveis, isto é, o
empregado não pode abrir mão de direitos já adquiridos previstos em lei, somente se
estiver em juízo, diante de um juiz do trabalho, pois assim, fica evidente que não existe
qualquer forma de coação do empregador. Tal situação é amplamente compreensível,
vez que se a lei permitisse que empregados abrissem mão de seus direitos, os
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empregadores optariam pela contratação de quem aceitasse receber menos e ter o


mínimo de direitos possíveis, ou, direito algum.
Assim, conclui-se que a irrenunciabilidade dos direitos trabalhistas juntamente
com a dignidade da pessoa humana é um princípio basilar, também visando proteger
o empregado, que é o sujeito de menor poder da relação de trabalho. Caso não fosse
assim, o sujeito que não concordasse em laborar mais horas do que a lei autoriza, ou
que exigisse seu intervalo de almoço, não abrisse mão de suas férias ou não
concordasse com qualquer outra exigência ilegal do empregador, não seria
contratado, e assim, a escravidão voltaria a fazer parte do presente, onde quem exige
menos é escolhido e cada vez menos direitos seriam atribuídos ou cumpridos pelos
empregadores.
É evidente a necessidade do cumprimentos dos referidos princípios, e assim,
pode-se entender por que empregadores devem obedecer regras e por que
empregados são amplamente protegidos pela lei. A parte mais “fraca” necessita de
mais proteção para assim, evitar eventuais abusos da parte mais “forte”.
Ocorre que em determinadas situações, como no caso do presente trabalho de
conclusão de curso, uma das partes da relação de trabalho acaba sendo amplamente
prejudicada e a outra, resta impedida de desenvolver seu labor por motivos que
independem da vontade de qualquer das partes, sendo assim, necessária uma análise
do caso concreto para eventualmente, chegar a uma negociação que não viole os
direitos já adquiridos pelos empregados, mas que permita uma certa flexibilidade a
jornada de trabalho, permitindo que o empregador possa desenvolver suas atividade
de maneira justa.
É o que será analisado no capítulo seguinte, reconhecendo alguns dos
impedimentos habituais do labor no campo, além de suas consequências tanto para
empregados quanto para empregadores.
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2 REALIDADE DO TRABALHO NO CAMPO

Alice Monteiro de Barros utiliza uma interessante abordagem inicial sobre o


trabalho na zona rural.

“O desenvolvimento da agricultura e do pastoreio não despertou o mesmo


interesse legislativo que aquele manifestado em relação ao trabalho
desenvolvido no meio urbano, embora nosso país seja de organização
tradicionalmente agropecuária.”
(BARROS, 2016, p. 266)

Como consequência, tem-se Leis que não refletem a realidade do trabalho aqui
em questão, vez que as mesmas não condizem com a pratica da atividade
desenvolvida no campo.
Ainda tratando da mesma doutrinadora, com relação ao trabalho a céu aberto,
explana:
“Exigem-se abrigos, ainda que rústicos, capazes de proteger os trabalhadores
contra intempéries e a adoção de medidas especiais contra insolação excessiva, o
calor, o frio, a umidade e os ventos inconvenientes.”
(BARROS, 2016, p. 281.)
Resta claro a ampla proteção ao empregado. Porém, a legislação não leva em
conta a ausência de normas para proteção ao empregador, que em meio a um dia de
trabalho, diante de eventuais alterações no tempo, fica à mercê, sem trabalhadores
para exercerem as tarefas necessárias, mesmo que posterior, vez que sua jornada
diária possivelmente tenha acabado.
Ainda, é extremamente dificultoso realizar a compensação, vez que
normalmente o labor diário abrange as 8 horas da jornada permitida, acrescida de
duas horas extraordinárias.
Como já citado anteriormente, o foco do presente trabalho de conclusão de
curso é a jornada laboral na zona rural, voltada exclusivamente para momentos
específicos da rotina de produção alimentícia no campo, e o principal deles, a colheita
da cultura semeada.
O trabalho rural que aqui é tratado diz respeito as safras, momento de planta,
cuidado e colheita de determinadas culturas. O principal problema aqui, evidencia-se
mais precisamente na colheita da soja, realizada no primeiro trimestre do ano,
marcada pela variação do tempo e presença de inúmeras chuvas.
16

Tais atividades possuem grandes variações de produção, derivadas das


condições climáticas, umidade do solo e temperatura

Especialmente nas regiões onde a primavera é precedida por períodos secos,


a semeadura só deve ser iniciada após as chuvas terem reposto a
necessidade de água do solo. Na maioria das situações, é mais seguro
semear em solo úmido que fazê-lo em solo seco na esperança de chuvas
previstas para os dias seguintes. Para que haja garantia de absorção de
umidade pela semente, além da adequada umidade no solo, a semeadura
deve propiciar o melhor contato possível entre solo e semente.
A temperatura do solo adequada para germinação e emergência da soja, vai
de 20oC a 30oC, sendo 25oC a ideal para uma emergência rápida e uniforme.
Semeadura em solo com temperatura média inferior a 18oC pode resultar em
drástica redução nos índices de germinação e de emergência, além de tornar
mais lento esse processo.
(GARCIA. Acesso em: 24/04/2018, p. 1)

O período optado para realização da semeadura é de extrema importância, pois


define as características predominantes da planta, resultando na sua produção e
qualidade das sementes.

A época de semeadura determina a exposição da soja à variação dos fatores


climáticos. Assim, semeaduras em épocas fora do período mais indicado
podem afetar o porte, o ciclo e o rendimento das plantas e podem contribuir
para aumentar as perdas na colheita.
(GARCIA. Acesso em: 24/04/2018, p. 1)

Insuficiente umidade do solo é considerada uma das causas mais comuns de


baixa emergência de sementes de soja no Brasil, já que condições de seca
são frequentes na época de semeadura, levando os agricultores a semearem
em antecipação à chuva. Se a chuva não ocorrer num período de cinco a dez
dias após a semeadura, a semente geralmente se deteriorará no solo a um
nível tal que será incapaz de germinar e emergir, mesmo quando as
condições de baixa umidade não mais existirem. A disponibilidade e o
movimento de água para as sementes é crucial para germinação e
emergência.
(PESKE. S. T. & DELOUCHE. J.C, 1985, p. 69/70)

Semeadura em solo com insuficiência hídrica, ou “no pó”, prejudica o


processo de germinação, podendo torná-lo mais lento, expondo as sementes
às pragas e aos microorganismos do solo, reduzindo a chance de obtenção
da população de plantas desejada, em número e uniformidade.
[...]
Durante o ciclo da soja, as condições de umidade do solo, aliadas à
capacidade do solo em fornecer nutrientes, são as principais responsáveis
pelo pleno crescimento das plantas e produção de grãos.
[...]
Na maioria dos anos, e para a quase totalidade das regiões produtoras, o
volume de chuvas é crescente a partir do início da primavera e começa a
diminuir a partir de março, com algumas oscilações entre os anos na sua
distribuição durante esse período (Figura 2), o que causa as maiores
variações nos rendimentos entre anos e entre épocas de semeadura. Para
se beneficiar dessa condição, a duração do ciclo das cultivares e a época de
semeadura devem permitir que a germinação, o crescimento e a reprodução
17

das plantas, com plena formação dos grãos, ocorram durante o período de
maior probabilidade de ocorrência de temperatura e umidade favoráveis, na
maioria dos anos. Essa condição é mais provável dentro de um período mais
ou menos comum, para a maioria das regiões brasileiras produtoras de soja,
estendendo-se de meados de outubro a meados de dezembro.
(CIRCULAR TÉCNICA 51, 2007, p. 01)

Diante da instabilidade do tempo, característica marcante do período anual em


questão, torna-se evidente a impotência do empregador em determinar horários de
início e termino do labor diário, impede até mesmo que o mesmo opte por um
momento particular para realização de determinada atividade, já que nestes termos,
quem estabelece a jornada de trabalho é o tempo.
Vale ressaltar que as atividades de que trata este trabalho de conclusão de
curso são as desenvolvidas a céu aberto, as quais precisam respeitar o as condições
climáticas do dia, ou seja, além de ser prejudicial pro empregado laborar em condições
climáticas desfavoráveis, torna inviável ou até mesmo impossível o desenvolvimento
de determinadas atividades, como por exemplo a colheita, onde é necessário que a
cultura esteja em condições propicias de ser retirada do campo e posteriormente
armazenada e processada. No caso da soja, a mesma precisa estar seca, e até
mesmo uma pequena chuva impossibilita sua colheita.
Como já mencionado, diante da instabilidade do tempo no período do ano em
que a colheita da soja é realizada, os produtores/empregadores se deparam com
semanas de chuva. Dias consecutivos onde a olhar para o céu, apenas veem-se
nuvens e agua a cair. E dependendo da frequência e intensidade da mesma, é comum
ver o labor de meses, realizado por inúmeros empregados, se perder, apodrecer no
campo.
Assim como visto na época da semeadura, volta-se a frisar a importância de
realizar a atividade da colheita no período mais propicio, objetivando melhor
aproveitamento dos grãos e consequentemente, do tempo de labor já dedicado.
Nesse estádio, a soja perderá umidade rapidamente e, em um período de
cinco a dez dias de clima seco, os grãos atingem o teor desejável de 13% -
15% de umidade; quando colhida nesse intervalo, os danos mecânicos e as
perdas são minimizados. Grãos colhidos com teores de umidade superiores
a 15% estão sujeitos a danos mecânicos latentes, ao passo que valores
inferiores a 13% proporcionam aumento dos danos mecânicos imediatos,
comumente identificados pela presença de grãos quebrados ou “bandinhas”
(metades).
[...]
É importante destacar que, quanto mais tempo a planta permanecer em ponto
de colheita no campo, maior será a probabilidade da ocorrência de abertura
das vagens, seja por fatores genéticos de cada cultivar ou induzida (chuva de
18

granizo ou torrencial, ventos fortes entre outros), o que acarreta a deiscência


parcial ou total dos grãos.
(EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA, 2013, p. 4/7)

Mesmo após dias consecutivos de chuva, onde os empregados mantem-se a


maior parte da jornada desocupados, visto que muitos são contratados
exclusivamente para realizar/auxiliar na colheita, quando o sol resolve aparecer e
possibilitar novamente que a mesma seja realizada, os empregadores se deparam
com os direitos trabalhistas amplamente protegidos e assegurados pela CLT, podendo
solicitar que o empregado labore apenas por 8 horas diárias, com acréscimo de duas
horas extras.
Nem é preciso destacar a frustração de quem trabalha para alimentar o mundo.
Depois de meses mantendo uma preocupação constante, esperando que o
tempo contribua para possibilitar o plantio, a germinação das sementes, o
desenvolvimento saudável das plantas e consequentemente de seus grãos, no
momento da colheita, além de preocupar-se com a abundância das chuvas, torna-se
necessária a preocupação com a busca de uma alternativa que possibilite o máximo
aproveitamento dos dias ensolarados, visando evitar a perda do que custosamente já
foi produzido.
É de suma importância destacar que os produtores entrevistados e que
possivelmente representam a esmagadora maioria, não se contrapõe a devida
remuneração das horas extraordinárias solicitadas, necessitam exclusivamente da
autorização do Poder Público para que o empregados laborem algumas horas além
das já permitidas por Lei, assegurando os direitos remuneratórios, como horas extras
e adicional noturno, além dos intervalos e devida assistência alimentícia, higiênica, e
tudo que já foi estipulado pela CLT e pela CF.
Tendo em vista o alto valor econômico e importância da soja no movimento da
economia do Brasil e do mundo, além de ser base para alimentação, horas de serviço
não prestado geram incalculáveis prejuízos, podendo/devendo a legislação considerar
a possibilidade de aplicar ao presente caso, a necessidade imperiosa de conclusão
de serviços inadiáveis.
Analisando a realidade dos trabalhadores em questão, verifica-se que o labor
realizado não é desgastante, incomodo, exaustivo ou maçante. Operar maquinas
agrícolas não é um serviço que exige força física ou grande esforço mental,
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concluindo, laborar 12 horas na prática desta atividade, não vai além das capacidades
do empregado.
Ainda existe a impossibilidade de fixação do horário da jornada diária, já que o
início da colheita novamente depende do tempo, necessitando que o dia amanheça
ensolarado e que não seja antecedido por chuvas ou até mesmo garoas, para que
sim, possa ser possível o início do labor ainda no período matutino.
Como o empregador não possui autonomia para variar o horário de início e
termino da jornada, muitas vezes, a mesma se inicia com empregados somente à
disposição, já que o labor é inviável.
Conforme informação dos produtores entrevistados, um excelente dia de
colheita tem em torno de 13 horas de trabalho, ressalta-se, um excelente dia de
colheita, o que não ocorre com frequência. Normalmente, é viável realizar o referido
labor por cerca de 10 horas.
Com a proposta de alteração legislativa apresentada no próximo capítulo, seria
possível que mesmo sem a flexibilização do início da jornada, mesmo que o
empregado iniciasse sua jornada diária somente a disposição e sem labor a
desenvolver, podendo laborar algumas horas a mais durante o dia e sendo
remunerado inclusive pelo período não trabalhado, o empregador também obtivesse
vantagens, já que teria o empregado disponível por mais tempo.
Tal situação evidentemente é vantajosa para ambas as partes, considerando
que o trabalhador laboraria por um período maior de tempo em serviço que não exige
além de suas capacidades, percebendo uma remuneração evidentemente maior, e o
empregador, teria a sua disposição seus empregados pelo período de tempo que
necessita, podendo aproveitar os dias favoráveis ao desenvolvimento de suas
atividades ao máximo.
20

3 POSSIBILIDADES DA LEI APLICADAS AO CASO PRATICO

No presente capítulo, serão analisadas as opções de jornadas de trabalho,


levando em consideração os pontos positivos e negativos de cada uma delas,
buscando assim, a que melhor se encaixa nas necessidades da pratica no campo.

3.1 Dupla Jornada

Como já citado anteriormente, a jornada diária habitual é formada por 8 horas


de labor, devidamente intervaladas para descanso, alimentação e higiene. Diante dos
fatos apresentados, a primeira opção a considerar, seria a dupla jornada, ou seja,
funcionários contratados para laborar um determinado período, e outra equipe para o
período seguinte, tendo assim, mão de obra disponível por 16 horas.
Seria considerada uma solução perfeita ao caso prático, porém, em casos de
longos dias chuvosos como já citado, o empregador teria o dobro de funcionários
parados e assim, também o dobro de despesas, logo, a presente proposta se torna
inviável pelo excesso de onerosidade.

3.2 Jornada de Compensação e banco de horas

A jornada de compensação ocorre quando o empregado prorroga sua jornada


em alguns dias, e consequentemente, reduz em outros, de forma a haver a
compensação de horário sem o adicional de horas extras, conforme art. 59 da CLT.
Sua aplicação se dá em períodos semanais, mensais ou anuais.

Art. 59. A duração diária do trabalho poderá ser acrescida de horas extras,
em número não excedente de duas, por acordo individual, convenção coletiva
ou acordo coletivo de trabalho.
§ 1o A remuneração da hora extra será, pelo menos, 50% (cinquenta por
cento) superior à da hora normal.
§ 2o Poderá ser dispensado o acréscimo de salário se, por força de acordo
ou convenção coletiva de trabalho, o excesso de horas em um dia for
compensado pela correspondente diminuição em outro dia, de maneira que
não exceda, no período máximo de um ano, à soma das jornadas semanais
de trabalho previstas, nem seja ultrapassado o limite máximo de dez horas
diárias.
§ 3º Na hipótese de rescisão do contrato de trabalho sem que tenha havido
a compensação integral da jornada extraordinária, na forma dos §§ 2 o e
5o deste artigo, o trabalhador terá direito ao pagamento das horas extras não
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compensadas, calculadas sobre o valor da remuneração na data da


rescisão.
§ 5º O banco de horas de que trata o § 2o deste artigo poderá ser pactuado
por acordo individual escrito, desde que a compensação ocorra no período
máximo de seis meses
§ 6o É lícito o regime de compensação de jornada estabelecido por acordo
individual, tácito ou escrito, para a compensação no mesmo mês.
(BRASIL, 1943)

A Súmula 85 doTST também regulamenta a compensação de jornada:

Súmula nº 85 do TST
COMPENSAÇÃO DE JORNADA (inserido o item VI) - Res. 209/2016,
DEJT divulgado em 01, 02 e 03.06.2016
I. A compensação de jornada de trabalho deve ser ajustada por acordo
individual escrito, acordo coletivo ou convenção coletiva. (ex-Súmula nº 85 -
primeira parte - alterada pela Res. 121/2003, DJ 21.11.2003)
II. O acordo individual para compensação de horas é válido, salvo se houver
norma coletiva em sentido contrário. (ex-OJ nº 182 da SBDI-1 - inserida em
08.11.2000)
III. O mero não atendimento das exigências legais para a compensação de
jornada, inclusive quando encetada mediante acordo tácito, não implica a
repetição do pagamento das horas excedentes à jornada normal diária, se
não dilatada a jornada máxima semanal, sendo devido apenas o respectivo
adicional. (ex-Súmula nº 85 - segunda parte - alterada pela Res. 121/2003,
DJ 21.11.2003)
IV. A prestação de horas extras habituais descaracteriza o acordo de
compensação de jornada. Nesta hipótese, as horas que ultrapassarem a
jornada semanal normal deverão ser pagas como horas extraordinárias e,
quanto àquelas destinadas à compensação, deverá ser pago a mais apenas
o adicional por trabalho extraordinário. (ex-OJ nº 220 da SBDI-1 - inserida em
20.06.2001)
V. As disposições contidas nesta súmula não se aplicam ao regime
compensatório na modalidade “banco de horas”, que somente pode ser
instituído por negociação coletiva.
VI - Não é válido acordo de compensação de jornada em atividade insalubre,
ainda que estipulado em norma coletiva, sem a necessária inspeção prévia e
permissão da autoridade competente, na forma do art. 60 da CLT.
(BRASIL, STF, 2016)

Como a situação apresentada no item 3.1, seria de perfeito encaixe a situação


pratica, porém, a legislação permite que o empregado labore apenas 2 horas extras
por dia, e assim, não atende à necessidade dos empregadores, que por diversas
vezes, principalmente em período de colheita abordado, precisa de horas além das
permitidas para aproveitar o tempo favorável.

3.3 Acordo de Prorrogação de Horas

O acordo de prorrogação de horas é um ajuste de vontade entre as partes para


que a jornada de trabalho possa ser ajustada e o empregado labore além do limite
legal, sendo pago o acional de horas extras.
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Este acordo deve ser necessariamente escrito, podendo ser um contrato


próprio ou sendo previsto no próprio contrato de trabalho, ou ainda, por meio de
acordo ou convenção coletiva.
O limite da prorrogação de horas é de mais duas por dia, totalizando 10 horas
(art. 59, CLT).
MARTINS, (2011. p.525) “Assim sendo, mais uma vez, esta limitação não
satisfaz a necessidade do empregador, não sendo viável sua aplicação ao presente
objeto de estudo”.

3.4 Trabalhador Intermitente

Essa nova modalidade de contrato de trabalho trazida pela reforma trabalhista,


Lei 13.467/2017 e Medida Provisória 808 de 14 de novembro de 2017 é caracterizada
pela alternância entre os períodos de prestação de serviço e também pelas pausas.
“Art. 443. O contrato individual de trabalho poderá ser acordado tácita ou
expressamente, verbalmente ou por escrito, por prazo determinado ou indeterminado,
ou para prestação de trabalho intermitente”, (BRASIL, 1943).
O contrato pode ser celebrado tendo a prestação de serviço baseada em horas,
dias ou meses, flexibilizando e dinamizando o mercado de trabalho, tendo como
principal exemplo caracteristico do presente contrato o serviço prestado por garçons,
parecendo uma boa opção ao empregador. Porém, novamente deve-se observar o
limite diário de labor, de 8 horas cumuladas com 2 horas extraordinárias. E assim, não
atende as necessidades do caso em questão.
Outro ponto que deve ser observado no presente contexto, trata da
disponibilidade de mão de obra, tendo em vista não ser tão simples encontrar
empregados qualificados para o desenvolvimento de determinada tarefa, ainda mais
no período em questão, tratando-se de época de safra, onde inúmeros empregadores
necessitam de tal mão de obra e inúmeros empregados se deslocam de suas cidades
de origem para passar alguns meses nesses labor, sendo inviável para ambos os
lados os contratos intermitentes.

3.5 Lei Nº 13.103, de 2 de março de 2015


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A presente lei regulamente a profissão dos motoristas, abrangendo os


transportadores de passageiros e de cargas, e tendo aplicação análoga aos
operadores de máquinas agrícolas.
Em seu art. 235-C, prevê a jornada de 8 horas diárias, podendo ser acrescida
de 4 horas extraordinárias, mediante convenção ou acordo coletivo, totalizando assim,
uma possível jornada de 12 horas.

Art. 235-C. A jornada diária de trabalho do motorista profissional será de 8


(oito) horas, admitindo-se a sua prorrogação por até 2 (duas) horas
extraordinárias ou, mediante previsão em convenção ou acordo coletivo, por
até 4 (quatro) horas extraordinárias.
(BRASIL, 1943)

A presente proposta atende as necessidades do empregador rural, tendo em


vista o período de um “excelente” dia de colheita, exigindo apenas acordo ou
convenção coletiva.

3.6 Serviços Inadiaveis ou Necessidade imperiosa

O art. 60 da CLT prevê que quando ocorrer necessidade imperiosa a duração


da jornada poderá exceder o limite legal, seja por motivos de força maior ou para
atender à realização ou conclusão de serviços inadiáveis ou cuja inexecução possa
acarretar prejuízo manifesto.
Antes do advento da Lei 13.467/2017, era necessário comunicar a autoridade
competente em matéria de trabalho no prazo de 10 dias ou de comunicação justificada
em eventual fiscalização. Ocorre que o art. 60, § 1º da CLT foi alterado, e atualmente,
o excesso laboral pode ser realizado independentemente de acordo ou convenção
coletiva e sem a necessidade de comunicação a referida autoridade.
O § 2º do referido artigo estabelece o limite de 12 horas de labor, finalmente,
atendendo as necessidades do empregador.

Art. 61 - Ocorrendo necessidade imperiosa, poderá a duração do trabalho


exceder do limite legal ou convencionado, seja para fazer face a motivo de
força maior, seja para atender à realização ou conclusão de serviços
inadiáveis ou cuja inexecução possa acarretar prejuízo manifesto.
§ 1º O excesso, nos casos deste artigo, pode ser exigido independentemente
de convenção coletiva ou acordo coletivo de trabalho.
§ 2º - Nos casos de excesso de horário por motivo de força maior, a
remuneração da hora excedente não será inferior à da hora normal. Nos
demais casos de excesso previstos neste artigo, a remuneração será, pelo
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menos, 25% (vinte e cinco por cento) superior à da hora normal, e o trabalho
não poderá exceder de 12 (doze) horas, desde que a lei não fixe
expressamente outro limite.
(BRASIL, 1943)

Insta salientar que a necessidade imperiosa deve ser provada pelo empregador
em eventual fiscalização, sendo recomendado que estes mantenham documentos
probatórios a fim de sanar qualquer dúvida por parte da fiscalização, para evitar que
empregadores fixem uma jornada de 12 horas diárias sem manifesta necessidade.
Ainda, com o advento da reforma trabalhista, foi flexibilizado o intervalo
intrajornada, ou seja, no decorrer do dia. Anteriormente, para empregados com
jornada de 8 horas, o intervalo para refeição e descanso deveria ser de 1 ou 2 horas,
e atualmente pode ser reduzido ao intervalo mínimo de 30 minutos, desde que tenha
autorização do Ministério Público do Trabalho ou do sindicato da categoria, de acordo
com o art. 611 – A, III da CLT.

Art. 611-A. A convenção coletiva e o acordo coletivo de trabalho, observados


os incisos III e VI do caput do art. 8º da Constituição, têm prevalência sobre
a lei quando, entre outros, dispuserem sobre:
III - intervalo intrajornada, respeitado o limite mínimo de trinta minutos para
jornadas superiores a seis horas;
(BRASIL, 1943)

Caso o intervalo mínimo seja desrespeitado pelo empregador, este deverá


pagar ao empregado as verbas de acordo com o art. 71, § 4º da CLT.

Art. 71 - Em qualquer trabalho contínuo, cuja duração exceda de 6 (seis)


horas, é obrigatória a concessão de um intervalo para repouso ou
alimentação, o qual será, no mínimo, de 1 (uma) hora e, salvo acordo escrito
ou contrato coletivo em contrário, não poderá exceder de 2 (duas) horas.
§ 4o A não concessão ou a concessão parcial do intervalo intrajornada
mínimo, para repouso e alimentação, a empregados urbanos e rurais, implica
o pagamento, de natureza indenizatória, apenas do período suprimido, com
acréscimo de 50% (cinquenta por cento) sobre o valor da remuneração da
hora normal de trabalho.
(BRASIL, 1943)

O empregador pagará somente o horário suprimido de seu intervalo como


extra, tendo esta verba natureza indenizatória, como prevê o citado artigo.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS

No Brasil, a jornada habitual de labor é de 8 horas diárias ou 44 horas


semanais, sendo permitida pela Lei o acréscimo de 2 horas extraordinárias por dia,
desde que as mesmas sejam devidamente remuneradas com adicional de pelo menos
50% do valor da hora habitual e também, intervaladas de acordo com o previsto na
CLT e na CF, respeitando os limites mínimos de intervalos interjornada e intrajornada.
Ocorre que, a jornada habitual prevista em Lei não se adequa as necessidades
do empregador rural, tendo em vista que o desempenho e sucesso de seu trabalho
dependem amplamente de condições climáticas, que de acordo com as
características do dia, o tornam plenamente produtivo, ou em contrapartida,
completamente inproveitoso.
Diante do caso narrado no presente trabalho de conclusão de curso, onde o
labor é desenvolvido a céu aberto, ficando a mercê do tempo para o progresso de
qualquer atividade simples, mais precisamente em época de colheita, que
normalmente ocorre nos meses de janeiro a março, frisa-se a grande incidência de
chuvas, os empregadores e empregados passam dias sem poder desenvolver suas
ocupações, seja pela proteção a más condições de trabalho, seja pela inviabilidade
do avanço do labor.
Sendo assim, buscava-se uma forma de permitir aos empregadores ter seus
empregados desepenhando suas devidas funções por mais tempo do que a jornada
habitual permitia. Analisadas as formas de jornada e de contratação, conclui-se pela
possibilidade de uma jornada de 12 horas, baseada na Lei Nº 13.103/2015 mediante
acordo ou convenção coletiva, ou baseada na necessidade imperiosa de execução ou
conclusão de labor, tendo em vista o prejuízo que pode ser causado pela paralisação
da atividade.
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REFERÊNCIAS
Barros, Alice Monteiro. Curso de Direito do Trabalho. Editora LTR. São Paulo – SP,
2016.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, 5 de


outubro de 1988. Art. 1º, III, Art. 7º, XIII, XVI.

BRASIL. Decreto-lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943. Rio de Janeiro, 1 de maio de


1943, 122º da Independência e 55º da República, art. 58, art. 59, art. 60, art. 61, §1º
e §2º, art. 71, § 1º e § 4º, art. 443, art. 611-A, III.

BRASIL. Decreto-lei nº 73.626, de 12 de fevreiro de 1974. Brasília, 12 de fevereiro


de 1974; 153º da Independência e 86º da República.

BRASIL. Lei Nº 605 de 05 de Janeiro de 1949. Rio de Janeiro, 5 de janeiro de 1949;


128º da Independência e 61º da República.

BRASIL. Lei Nº 13.103, de 2 de março de 2015. Brasília, 2 de março de 2015, 194o da


Independência e 127o da República.

BRASIL. Lei 13.467 de 13 de Julho de 2017. Brasilia, 13 de julho de 2017, 196º da


Independência e 129º da República.

Circular Técnica 51. Instalação da lavoura de soja: época, cultivares, espaçamento e


população de plantas. P. 01. Londrina – PR, Setembro, 2007.

Curso simplificado sobre Reforma Trabalhista e Terceirização. 7ª jornada de


atualização legal. Instituto Algodão Social. 24 de Outubro de 2017.

Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. Embrapa Soja. Ministério da


Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Determinação de perdas na colheita de
soja: copo medidor da Embrapa. p. 4/7. Londrina – PR, 2013.)

GARCIA. A. Umidade e Temperatura do Solo. Agência Embrapa de Informação


Tecnológica.
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MARTINS, Sergio Pinto. Direito do Trabalho. Editora Atlas. São Paulo – SP. 2011.

Medida Provisória Nº 808 de 14 de novembro de 2017. Brasilia, 14 de novembro de


2017, 196º da Independência e 129º da República.

PESKE. Silmar t. & DELOUCHE. James c. Semeadura do Soja em Condição de


Baixa Umidade do Solo. Brasília, 20 (1), p. 69/70, jan. 1985.

Súmula 85 do Tribunal Superior do Trabalho. Res. 209/2016, DEJT divulgado em


01, 02 e 03.06.2016.

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