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DIREITO DO
TRABALHO
PRÁTICA
DÉBORA SÁ - COM COLABORAÇÃO DE DIANA
NEVES, EDÉRIA LOPES E FRANCISCA SÁ
FACULDADE DE DIREITO DA UNIVERSIDADE DO PORTO
2022/2023
Faculdade de Direito da Universidade do Porto 2022/23
Nota Introdutória
Esta sebenta tem como base a compilação das aulas práticas lecionadas pelas docentes
Maria Regina Gomes Redinha e Inês Camarinha Lopes.
Relembra-se ainda que esta sebenta constitui apenas um complemento de estudo, não
dispensando, por isso, a presença nas aulas teóricas e práticas, assim como a leitura da
bibliografia obrigatória.
Bom estudo!
Débora Sá 1
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Índice
Introdução ......................................................................................................................... 3
Regras gerais do contrato de trabalho que são comuns à teoria geral do negócio jurídico
........................................................................................................................................ 13
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Introdução
Metodologia essencial para a resolução de casos práticos, pensada para a complexidade
das matérias laborais:
1º passo - Escrutinar os factos envolvidos: reconhecer o modo como a realidade se
nos apresenta + o decurso do tempo é um fator muito importante neste ramo do
Direito (em relação a prazos de caducidade e prazos de prescrição é recorrente
existirem algumas diferenças, são específicas do DT - daí a atenção à sequência
temporal dos factos, sendo que nos é dado no conhecimento da situação concreta);
2º passo - Reconhecimento do problema jurídico que os factos suscitam,
nomeadamente através do confronto das fontes. Neste âmbito equacionamos ainda
a suficiência dos dados apresentados, deveremos levantar várias hipóteses relevantes
e analisá-las;
3º passo - Aplicação do Direito - deve ser fundamentada e devemos ainda justificar
o enquadramento jurídico, ou seja, explicar o porquê de seguirmos determinado
caminho e termos eliminado outro. É ainda de extrema relevância o recurso à
jurisprudência e doutrina como reforços argumentativos possíveis;
4º passo - Revisão dos passos anteriores de forma a evitar erros materiais ou
formais.
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Igualdade de género
A igualdade de tratamento e de oportunidades entre mulheres e homens deve ser
assegurada e promovida em todos os domínios, nomeadamente no que diz respeito à
participação no mercado de trabalho, às condições de trabalho e à progressão na carreira.
Mulheres e homens têm direito a uma remuneração igual por um trabalho de igual valor
-> afirmando-se um princípio de igualdade remuneratória;
Igualdade de oportunidades
Independentemente do género, raça ou origem étnica, religião ou crença, deficiência,
idade ou orientação sexual, todas as pessoas têm direito à igualdade de tratamento e de
oportunidades em matéria de emprego, proteção social, educação e acesso a bens e
serviços disponíveis ao público.
A igualdade de oportunidades dos grupos sub-representados deve ser promovida,
prevendo-se medidas de ação positiva, ou seja, medidas que possam prever a sub-
representação de grupos (ex: mulheres em cargos de chefia) e medidas de apoio ativo ao
emprego;
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vida digno em todas as fases da vida, bem como ao acesso eficaz a bens e serviços de
apoio. Para as pessoas aptas para o trabalho, as prestações de rendimento mínimo
devem ser conjugadas com incentivos para (re)integrar o mercado de trabalho.
Prestações e pensões de velhice - os trabalhadores por conta de outrem e por conta
própria reformados têm direito a uma pensão, proporcional às suas contribuições, que
lhes garanta um rendimento adequado. Mulheres e homens devem ter oportunidades
iguais em matéria de aquisição de direitos à pensão. Todas as pessoas na velhice têm
direito a recursos que lhes garantam uma vida digna.
Cuidados de saúde - todas as pessoas têm direito a aceder, em tempo útil, a cuidados
de saúde de qualidade, preventivos e curativos a preços comportáveis.
Inclusão das pessoas com deficiência - as pessoas com deficiência têm direito a um
apoio ao rendimento que lhes garanta uma vida digna, a serviços que lhes permitam
participar no mercado de trabalho e na sociedade e a um ambiente de trabalho
adaptado às suas necessidades.
Cuidados de longa duração - todas as pessoas têm direito a cuidados de longa
duração de qualidade e a preços comportáveis, em especial serviços de cuidados ao
domicílio e serviços de proximidade.
Habitação e assistência para os sem-abrigo - deve ser garantido às pessoas
necessitadas o acesso a habitação social ou a uma ajuda à habitação de qualidade. As
pessoas vulneráveis têm direito a assistência e a proteção adequadas em caso de
despejo. Devem ser disponibilizados aos sem-abrigo alojamento e serviços adequados
para promover a sua inclusão social.
Acesso aos serviços essenciais - todas as pessoas têm o direito a aceder a serviços
essenciais de qualidade, designadamente água, saneamento, energia, transportes,
serviços financeiros e comunicações digitais. As pessoas necessitadas devem
beneficiar de apoios ao acesso a estes serviços.
Nas fontes privilegiamos as fontes normativas stricto sensu, mas o corpo normativo é
cada vez mais flexível, adaptando e definindo as vias de atuação das instituições laborais.
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Do ponto de vista de relação entre as fontes de Direito do Trabalho – artigo 3.º CT:
Relação entre a lei e os IRC;
Artigo 3.º/4: a relação entre a lei e o contrato individual de trabalho (também
estabelece o princípio do tratamento mais favorável).
Assim, no artigo 3º temos todas as relações entre as fontes, à exceção da que esta no artigo
476.º CT.
1. Negociais
Convenção coletiva (maior expressão na prática) - distinguem-se em função da entidade
empregadora signatária (artigo 2.º CT).
1. Acordo de adesão
→ Contrato coletivo
→ Acordo coletivo
→ Acordo de empresa
2. Acordo de adesão
3. Decisão arbitral (no caso de arbitragem voluntaria) – meio de resolução
alternativa de litígios, ou seja, as partes em litígio, em vez de recorrer a um
tribunal estadual, decidem recorrer a um tribunal arbitral => a decisão
arbitral neste caso é um IRC negocial
Do lado dos IRC temos sempre um sindicato, nos vários níveis: temos sempre de um lado
o sindicato - sendo que se tivermos:
a. uma associação de empregadores: temos um contrato coletivo;
b. uma pluralidade de empregadores, não reunidos em associação: temos um acordo
coletivo;
c. um empregador isolado: temos um acordo de empresa.
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Nota: os IRC são publicados nos termos do artigo 519.º CT (é publicado no Boletim do
Trabalho e Emprego e só entra em vigor após a publicação).
Neste caso, e para podermos sobrepor o contrato individual ao contrato coletivo, temos
de estar no âmbito da disponibilidade contratual: temos de analisar o instituto em causa,
que neste caso está plasmado no artigo 366.º CT, que contém os princípios da restituição
por despedimento.
Temos aqui um patamar não tão favorável quanto aquele que o contrato individual e o
coletivo dispõem e o regime admite no 339.º/2 CT que os critérios de definição de
indemnizações e os prazos de procedimento e de aviso prévio consagrados neste capítulo
podem ser regulados por IRC:
Artigo 3.º/5 CT: quando a lei admite a possibilidade de uma norma legal poder ser
afastada por IRC (Instrumento de Regulamentação Coletiva de Trabalho), entende-se
que não o pode ser por contrato de trabalho – exclui-se a matéria da disponibilidade
da normatividade convencional laboral. Esta é uma área em que há imperatividade
do regime legal, exceto para a fixação de indemnizações pela via de IRC, que é o
caso.
Não temos disposições legais relativas a bónus, pelo que agora sim prevalece o
contrato individual, já que, não constante a mesma quantidade de dias, se acrescenta um
Débora Sá 9
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voucher (é mais favorável) -> artigo 3.º/3 e 476.º CT: princípio do tratamento mais
favorável.
Já se o contrato coletivo tivesse 12 dias seria uma questão mais complicada: teríamos de
ponderar se o trabalhador considera o voucher como mais valioso. Hoje fala-se muito
sobre a importância das componentes emocionais do salário, não se valorizando apenas
a liquidez da remuneração.
Suponhamos que o contrato prevê que o limite máximo do período de trabalho será de
46 horas - será lícito?
Seria contrária a uma norma legal imperativa (203.º/1 CT,) sendo assim nula -> artigo
478.º CT.
Mas essa nulidade comunica-se a todo o clausulado contratual? Não, trata-se de uma
invalidade parcial (121.º CT).
Do ponto de vista de relação entre as fontes de Direito do Trabalho – artigo 3.º CT:
Relação entre a lei e os IRC;
Artigo 3.º/4: a relação entre a lei e o contrato individual de trabalho (também
estabelece o princípio do tratamento mais favorável).
Assim no artigo 3º temos todas as relações entre as fontes, à exceção da que esta no artigo
476.º CT.
Débora Sá 10
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Sim, tem razão. Está aqui em causa uma questão relativa à retribuição (identificar sempre
a matéria em 1º lugar) → artigos 258.º e seguintes CT.
Podíamos confrontar:
A lei com o contrato individual;
A lei com o contrato coletivo (IRC): artigo 3.º/ 1 e 3 CT: a lei pode ser afastada por
um IRC, salvo se na lei se diz o contrário:
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○ Em caso de afastamento da lei por IRC, terá de ser em sentido mais favorável ao
trabalhador e terá de respeitar as matérias que estão no nº 3 do artigo 3º -> alínea
j) garantias da retribuição. Aqui não se preenche essa condição, seria de aplicar a
previsão legal e B teria direito a um mês de retribuição ou o equivalente a um
mês de retribuição de subsídio de Natal.
O contrato coletivo (IRC) com o contrato individual - não relevava para o caso,
porque a mais favorável é a lei laboral, a que resulta do artigo 263.º CT.
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1- A primeira matéria que o contrato de trabalho trata e que encontra paralelo na teoria
geral do negócio jurídico respeita à responsabilidade civil pré-contratual. O nosso
artigo 102.º CT diz a mesma coisa do artigo 227.º CC: quem negoceia com outrem
para a conclusão de um CT deve, tanto nos preliminares como na formação dele,
proceder segundo as regras da boa-fé, sob pena de responder pelos danos
culposamente causados;
Débora Sá 13
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4- No que respeita à forma: no artigo 110.º CT, prevê-se que a regra geral seja a
liberdade de forma, tal como menciona o artigo 219.º CC (princípio da
consensualidade). No entanto, há várias exceções:
o Quando o trabalhador seja estrangeiro ou apátrida: exige-se forma escrita
(artigo 5.º CT);
o Contrato de trabalho celebrado a termo: exige-se a forma escrita (141.º CT);
o Contrato a tempo parcial: exige-se a forma escrita (153.º CT). Contrapõe-se ao
contrato a tempo integral – será trabalho a tempo parcial quando celebrado por
um período inferior ao período normal de trabalho. No que respeita ao tempo de
o trabalho, ver os artigos 197.º e seguintes do CT;
o Contrato de trabalho intermitente é outro exemplo (158.º CT).
Débora Sá 14
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Débora Sá 15
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Quanto aos contratos de trabalho, excluímos regimes especiais do nosso estudo, como o:
o Regime de trabalho em funções públicas;
o Contrato de serviço doméstico (DL 235/92 de 24 de out, que estabelece o regime
jurídico das relações de trabalho emergentes do contrato de serviço doméstico);
o Contrato de trabalho de praticante desportivo (Lei 54/2017 de 14 de julho);
o Contrato de formação desportiva (Lei 54/2017 de 14 de julho);
o Contrato de representação ou intermediação (Lei 54/2017 de 14 de julho);
o Contrato de trabalho a bordo, disciplinado pela lei 146/2015;
o Contrato de trabalho para a marinha do comércio (DL 74/77).
Estes são alguns dos regimes especiais que afastam o regime geral, não obstante seja o
mesmo aplicável na medida em que com eles seja compatível - artigo 9.º CT (se houver
regra especial que afaste a regra geral, então não se aplica a regra geral).
Débora Sá 16
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Débora Sá 17
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Na prática, pode ser discutível quando é que nos encontramos dentro dos quadros da
autonomia técnica e quando é que atuamos fora deste âmbito, inexistindo assim
autoridade e direção do empregador. Tomemos como exemplo o caso dos advogados
estagiários ou advogados associados: a jurisprudência considera que não há subordinação
jurídica porque, nestes casos, os advogados trabalham emitindo recibos à sociedade que
lhes paga um vencimento certo e periódico. No entanto, ainda que isto possa ser
discutível, a jurisprudência maioritária defende que não estamos na presença de um
contrato de trabalho.
Retribuição:
No âmbito do artigo 11.º CT que remete para o artigo 115.º CT, vimos que cabe às partes
determinar o que se considera como a atividade que o trabalhador presta.
Pela negativa, temos o artigo 260.º CT: prestações incluídas ou excluídas da retribuição.
Exemplo:
A celebra com B, Lda. um contrato mediante o qual se compromete a divulgar a marca
de B, Lda. e a celebrar contratos de venda dos seus perfumes e maquilhagem. Por cada
venda A recebe 30% do valor, devendo entregar os restantes 70% a B.
Trata-se de um contrato de comissão, este contrato não está no CC. Não é um contrato
de trabalho porque:
Não há subordinação jurídica (A não atua sob a autoridade de B, e B não tem poder
de direção da atividade de A);
Nem há lugar a retribuição periódica.
Débora Sá 18
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Trata-se de um contrato de empreitada (contrato pelo qual uma das partes se obriga
perante outra a realizar uma obra mediante um preço), não é um contrato de trabalho:
De facto, o contrato de prestação de serviços é um tipo mais amplo, que tem diversas
modalidades (mandato, deposito e empreitada são contratos de prestação de serviços,
nos termos do artigo 1155.º CC). Assim, não é um contrato de trabalho;
O valor de 5000 euros é o preço da empreitada, e não o salário, é um pagamento
faseado;
B está incumbido de um resultado, não está sob a autoridade de A, dado que não
constrói as escadas sobre a autoridade de A;
Não é propriamente uma atividade contínua, mas uma obra.
Débora Sá 19
Faculdade de Direito da Universidade do Porto 2022/23
A e B celebram com C um contrato pelo qual este se obriga a decorar o espaço do seu
casamento pelo valor de 300 euros. As flores e velas serão escolhidas por A e B, mas
adquiridas por C junto dos seus fornecedores. Os castiçais, propriedade de C, serão
colocados na decoração das mesas no dia do casamento e recolhidos no dia seguinte,
pelo valor de 15 euros cada.
A obriga-se a gerir a loja de roupa pertencente a B nos meses de verão para fazer face
ao acréscimo de vendas esperado para esses meses. B obriga-se a pagar 800 euros
mensais a A e A é responsável pela abertura da loja às 10 da manhã, e fecho às 7 da
tarde. No que respeita ao horário de almoço, B disse a A que podia fazer “como
quisesse” desde que estivesse fechado apenas uma hora. A apresenta-se com uma t-
shirt com o logotipo da marca e com calças pretas conforme indicação de B. A que
sabe melhor as peças com maior procura indica a B quais os artigos a adquirir para a
nova coleção, sendo B quem as adquire junto dos fornecedores.
É um contrato a termo porque A apenas presta o trabalho nos meses de verão (esta matéria
será desenvolvida mais à frente).
Débora Sá 20
Faculdade de Direito da Universidade do Porto 2022/23
Esta presunção data de 2009. Antes de 2009 tínhamos uma presunção, mas que não era
verdadeiramente uma presunção pois estavam lá todos os elementos de CT (dar-se-ia
como provado, e não presumido).
Com a correção em 2009 levanta-se a questão na jurisprudência relativa à aplicação da
lei no tempo: a norma, sendo de 2009, e se o CT é anterior a 2009, então a presunção é
de aplicar? Se se aplicasse a 2009 era uma aplicação retrospetiva da lei, porque é relativa
a factos passados que ainda se prolongam no tempo.
Débora Sá 21
Faculdade de Direito da Universidade do Porto 2022/23
este artigo 7.º prevê a aplicação da lei no tempo, interpretando-se que não se deve
aplicar a presunção de laboralidade de forma retrospetiva.
Nota: O artigo 12.º CT tem de ser interpretada de forma atualizada – este artigo existe
desde 2009 e nunca foi alterado, então estas questões, atualmente, com novas formas de
trabalho, requerem uma interpretação atual:
o A alínea e) é uma delas: o que está subjacente à alínea e)? É que este tipo de funções
de direção ou chefia do trabalhador não seriam incompatíveis com qualquer outro
contrato além do CT (por exemplo, com a prestação de serviços). Mas isto tem de ser
entendido à luz das características do CT: é característico do CT a subordinação
jurídica. Portanto, este trabalhador que exerce funções de direção e chefia tem de
estar sujeito aos poderes de autoridade e direção do seu empregador, caso
contrário não é um trabalhador dependente).
Débora Sá 22
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Como é que qualificamos este contrato? Quais os elementos importantes para a sua
qualificação? Estaremos perante um CT?
Temos uma situação que tem alguma ambiguidade, o que temos de fazer é recolher
os indícios dessa situação e confrontar com as características-tipo do CT. Temos essa
tarefa à partida facilitada pela existência da presunção de laboralidade (artigo 12º
CT) - pegamos neste conjunto de factos e aferimos se conseguimos identificar
elementos suficientes para retirar a presunção de contrato de trabalho
De acordo com o artigo 12º (que resultou da Lei 7/2009, 12/02) – exige-se a verificação
de pelo menos 2 destes requisitos:
Ele utilizava os escritórios e era autorizado, a alínea l) poderia ajudar a preencher o
1º requisito. Local de trabalho → especialidades recentes por causa do teletrabalho,
artigo 165.º e 166.º CT, o local onde o trabalhador desempenha o teletrabalho é
considerado local de trabalho:
Débora Sá 23
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2º requisito → não se diz que a viatura utlizada e outros equipamentos para realizar
as vendas pertencem a X, mas diz-se que ele prestou contas a X. Não parece estar
cumprido;
3º requisito → nada provado quanto a este aspecto;
4º requisito → não se verifica, recebia em função das vendas uma percentagem e não
era uma remuneração fixa;
5º requisito → aqui o empregador A é que dispunha de vendedores e fazia isto por si
e não por ordem da sociedade X, portanto contribui para afastar a presunção.
Portanto, concluímos que não estão verificados os indícios que conduzem à presunção.
Se estivessem preenchidos pelo menos 2, inverter-se-ia o ónus da prova (afasta-se a regra
geral), pelo que caberia ao empregador (sociedade X) ilidir a presunção.
Nesta situação, terá o prestador A o ónus da prova, tem a carga acrescida da prova
dos elementos constitutivos do seu direito - para ter ganho de causa tem que provar
mais elementos característicos do tipo de contrato de trabalho, como a existência
de ordens, instruções que inequivocamente pudessem demonstrar a
heterodeterminação da prestação.
Débora Sá 24
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A professora concluía que não se tratava de um CT, mas podia haver fundamentação
em sentido contrário. Por outras palavras, a existência de um contrato de trabalho não vai
ter nenhuma resposta fechada, em princípio, pelo que se for uma questão ténue deverá ser
discutida num sentido ou noutro e ser argumentada.
Nota: Ao resolvermos este tipo de casos, não podemos tomar a decisão com base apenas
na verificação aritmética dos índices - os indícios são aferidos em função da situação
concreta (ex. um vendedor: o local de trabalho pode não ser relevante, andando na rua,
não tendo uma sedição do local de trabalho; mas por ex. alguém que preste a sua atividade
como rececionista já tem que ter um local de trabalho bem definido - índice com peso
muito maior neste caso) -> devemos fazer sempre uma ponderação relativa.
Débora Sá 25
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…
Em 28 de outubro de 2013, A, na qualidade de “primeiro contraente”, e B, na qualidade de
"segundo contraente”, subscreveram o escrito particular denominado “contrato de prestação
de serviços”.
Do referido contrato constava que o “segundo contraente é enfermeiro e pretende prestar
serviço na Linha Y sem sujeição à autoridade e à especifica organização do primeiro
contraente, mas tendo exclusivamente, em conta o fim essencial da proteção dos valores da
saúde e da vida dos utentes da Linha Y, o direito de saúde e as regras técnicas, científicas e
deontológicas da enfermagem.
A atividade de B era prestada no contro de atendimento telefónico da Linha Y, pertencente
a A, utilizando o equipamento desta, nomeadamente, computador, software específico e
sistema de auriculares e microfone.
B, bem como os outros enfermeiros comunicadores, não se encontravam obrigados a
justificar as suas ausências relativamente aos turnos que lhe estavam atribuídos e que não
realizavam, nem a apresentar documento comprovativo do motivo das mesmas.
B recebia o valor de 7euros por cada hora de serviço efetivamente prestado. Ao valor hora
era acrescido de 25% relativamente a horas de serviço prestadas entre as 20 e 24 horas e
50% entre as 24 e 8 horas, sendo denominada “horas de qualidade”.
O sistema informático (CAS) registava as entradas e saídas do serviço do enfermeiro
comunicador, e todas as pausas por ele realizadas, sendo a partir dest5e registo que A
apurava o número de horas de serviço prestadas por cada enfermeiro comunicador para
efeitos de determinação do valor devido ao mesmo.
A nunca inscreveu B na Segurança Social.
Ac, STJ, 12710/2017, relator Gonçalves Rocha)
Débora Sá 26
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Podemos neste caso recorrer à presunção do artigo 12.º CT? Vamos verificar se estão
preenchidos os requisitos:
o Quanto à retribuição:
Existiu uma retribuição certa e periódica até janeiro de 2012, data a partir da qual
passa a ser pago em razão dos programas; aparentemente o trabalho que A teria era
Débora Sá 27
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o Quanto ao local:
Também se preenche a alínea a) do art.º 12;
o Quanto ao serviço:
Este era elaborado pelos responsáveis dos programas a que se destinava, preenchendo
outra alínea.
Partimos do princípio de que estamos perante um contrato de trabalho sem termo, i.e.,
por tempo indeterminado. Porquê?
Contrato a termo:
o Exige a forma escrita e existem outros elementos exigidos (artigo 141.º CT);
o Quanto à duração: a regra é que o mínimo são 6 meses. No entanto, há exceções.
No caso de ser celebrado por um período inferir a 6 meses, sem que seja possível,
a regra é que se considera celebrado pelo prazo de 6 meses;
o No nosso caso, dizia-se que o contrato tinha sido celebrado de forma mensal e
sucessivamente renovado. Quanto às renovações: também não podem ser
sucessivamente renovadas, porque também há limites quanto à possibilidade de
renovação (artigos 148.º e 149.º CT).
Débora Sá 28
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Violando-se estas regras todas (forma, duração e renovação), não podia ter se sido aqui
celebrado um contrato a termo, logo celebrou-se um contrato sem termo, i.e., por tempo
indeterminado.
A-X
- Horário definido;
- Remuneração fixa e periódica;
- Existência de um subsídio de férias.
A existência de subordinação jurídica não afasta a autonomia técnica (artigo 116.º CT) -
> No caso, tratando-se de um advogado a questão da autonomia técnica é
determinante (implica um conhecimento técnico que só essa pessoa tem): o advogado
tem autonomia técnica no exercício da sua atividade, mas está inserido na organização
alheia. A sua prestação é heterodeterminada. Prefigura o que se denomina advogado de
empresa, integrado numa organização empresarial e faz parte dela
o Tínhamos em benefício de A a presunção de contrato de trabalho, uma vez que estão
verificados elementos suficientes (alínea a, c, d). Assim, seria possível dizer que
estávamos perante um CT por termo indeterminado (não se diz nada quanto ao fim) e
parcial (tem uma duração inferior à do tempo completo – artigo 150.º CT, e em
concreto o 150.º/3 CT).
A-Y
A independência de A está muito mais nitidamente presente.
- Não temos um horário (conveniência da agenda do advogado);
- Retribuição também não era fixa e periódica;
- Quanto aos equipamentos: não temos informação
Débora Sá 29
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Nota:
A existência de um CT não pressupõe a dependência económica do empregador: pode
haver um CT e até não haver dependência económica no sentido de haver uma fonte de
rendimento exclusiva daquele trabalhador face àquele CT.
Portanto, o facto de ter vários meios de subsistência (2, neste caso), não serve para afastar
a existência de CT.
o A existência de dependência económica tem relevância para se considerar uma
situação que não é CT como uma situação equiparada (dependência económica e
inexistência de subordinação jurídica), servindo para se aplicar o regime legal de
determinadas matérias, que vigora para o CT: as do artigo 10, por foça do artigo
4.º/1/c) lei 7/2009.
Esta ação tem lugar quando, no decurso de uma atividade inspetiva, se verifica a
existência de características do Contrato de Trabalho tal como elas constam da
presunção.
Débora Sá 30
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Assim, percebemos que a qualificação é uma questão de interesse público, geral – a ação
pode ser desencadeada mesmo sem a participação do principal beneficiário da
decisão (o trabalhador).
O trabalhador está impedido de tomar iniciativa em sede judicial? Não, ele pode por
sua iniciativa exigir a requalificação contratual, exigir que seja revista a sua situação
contratual por uma ação comum. A ação para reconhecimento da existência de
contrato de trabalho é um processo especial, adicional.
Contexto:
Empregador - trabalhador (fisioterapeuta):
- 2011-2013: reconheceram a existência de um contrato de prestação de serviços
- A partir de 2014: trabalho subordinado –> esta transação foi aceite
Débora Sá 31
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Débora Sá 32
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A partir de março, 2001 ele passa a prestar atividade nas 2 sociedade: poderá o trabalhador
prestar a sua atividade para 2 entidades distintas?
CC
- Contratou primeiramente, empregador
BB
- Passou a ser também empregador, independentemente da relação entre B-C: ambos
serão responsáveis por essa posição jurídica (responsabilização a partir da
personalidade jurídica - teorias de levantar o véu).
Várias posições desconsideram a personalidade jurídica sempre que esta é usada
como um ecrã que evita a verdadeira qualificação contratual.
Contratação a termo
1.Requisitos materiais:
Nos termos do artigo 140.º/1 CT:
O contrato de trabalho a termo só pode ser celebrado por necessidade temporária,
tendo esta de estar objetivamente definida:
o No artigo 140.º/2 do CT temos várias hipóteses de necessidades que o CT
considera passíveis de um contrato a termo: substituição direta ou indireta de
trabalhador ausente que por qualquer motivo não possa trabalhar, substituição em
situação de licença sem retribuição, substituição de trabalhador a tempo completo
que passa a prestar a tempo parcial por tempo determinado, acréscimo excecional
de atividade de empresa, etc. (a alínea f) é a necessidade mais invocada).
Além disso, o trabalhador só pode ser contratado pelo período estritamente necessário
à satisfação dessa necessidade;
Nota: Esse contrato a termo poderá ser renovável, mas isso é excecional, porque se
tudo correr bem, à partida, contratamos apenas para aquele momento de necessidade.
Se não soubéssemos quando é que essa situação de necessidade ia terminar
deveríamos ter celebrado um contrato a termo incerto;
Causa justificativa do contrato → consequência da não observância da mesma:
considera-se esse contrato de trabalho como contato sem termo (artigo 147.º/1/b) do
CT: o CT tem de densificar os factos que justificam a contratação a termo, porque
temos de demonstrar que realmente existe esta necessidade temporária e que ele tenha
sido contratado ao período estritamente necessário para aquela necessidade.
Débora Sá 33
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2.Requisitos formais:
O contrato a termo tem de ter a forma escrita e conter a assinatura das partes, o termo
estipulado, etc. (artigo 141.º do CT);
o No caso de o contrato não ter sido celebrado por escrito → Consequência: p
contrato considera-se sem termo (artigo 147.º/1/c) do CT);
o Pode acontecer que do ponto de vista formal esteja de acordo com a lei, mas o
comportamento das partes visou contornar estas regras legais. A consequência
será a mesma, mas aqui vão caber no artigo 147.º/1/a) do CT;
Artigo 148.º/1 CT: o CT a termo não pode ser superior a 2 anos;
Duração mínima: o n.º 2 diz-nos que só pode ser celebrado num prazo inferior a 2
meses nos casos a) a g) do artigo 140.º/2. Sendo inferior a 6 meses nunca poderá ser
inferior à duração da tarefa ou do serviço:
o Se não se respeitar a duração mínima nos casos previstos temos de ir ao art.º
148/3;
Renovação automática: a contratação a termo conhece ainda o limite do artigo 149.º
do CT, porque este diz que o contrato a termo é renovável se o trabalhador no fim
do termo continuar ao serviço. Esta renovação é por igual período. No entanto, as
partes podem acordar que o contrato não está sujeito a renovação. Quando o contrato
se renova, a renovação está sujeita aos mesmos requisitos de admissibilidade.
Caso contrário, a consequência está no artigo 147.º/2/a) do CT:
o Limites das renovações: artigo 149.º/4 CT - as renovações só podem ocorrer
até 3 vezes e a duração total das renovações não pode exceder o período inicial
do contrato (requisitos cumulativos). Por exemplo: sempre que a renovação é
por período igual ao inicial, só se pode renovar uma vez.
Débora Sá 34
Faculdade de Direito da Universidade do Porto 2022/23
Este contrato é a exceção, na medida em que a regra é o contrato de trabalho por tempo
indeterminado (como decorre do artigo 53.º da CRP – princípio da segurança no
emprego).
Débora Sá 35
Faculdade de Direito da Universidade do Porto 2022/23
que ele tenha sido contratado ao período estritamente necessário para aquela
necessidade.
2.Requisitos formais:
O contrato a termo tem de ter a forma escrita e conter a assinatura das partes, o termo
estipulado, etc. (artigo 141.º do CT);
o No nosso caso não sabemos. No caso de o contrato não ter sido celebrado por
escrito → Consequência: O contrato considera-se sem termo (artigo 147.º/1/c)
do CT).
Pode acontecer que do ponto de vista formal esteja de acordo com a lei, mas o
comportamento das partes visou contornar estas regras legais. A consequência será a
mesma, mas aqui vão caber no artigo 147.º/1/a) do CT;
Artigo 148.º/1 CT: o CT a termo não pode ser superior a 2 anos;
o No nosso caso ele tinha sido contratado por um ano.
Duração mínima: o n.º 2 diz-nos que só pode ser celebrado num prazo inferior a 2
meses nos casos a) a g) do art.º 140/2. Sendo inferior a 6 meses nunca poderá ser
inferior à duração da tarefa ou do serviço. Se não se respeitar a duração mínima nos
casos previstos temos de ir ao art.º 148/3;
Renovação automática: a contratação a termo conhece ainda o limite do artigo 149.º
do CT, porque este diz que o contrato a termo é renovável se o trabalhador no fim
do termo continuar ao serviço. Esta renovação é por igual período. No entanto, as
partes podem acordar que o contrato não está sujeito a renovação. Quando o contrato
se renova, a renovação está sujeita aos mesmos requisitos de admissibilidade. Caso
contrário, a consequência está no artigo 147.º/2/a) do CT:
o Limites das renovações: o artigo 149.º/4 CT diz que as renovações só podem
ocorrer até 3 vezes e a duração total das renovações não pode exceder o período
inicial do contrato (requisitos cumulativos!!). Por exemplo: sempre que a
renovação é por período igual ao inicial, só se pode renovar uma vez.
No caso prático:
Conclusão: A estava contratado por tempo indeterminado, pelo que a tal
comunicação a 1/12/2017 constituiria um despedimento ilícito/sem justa causa →
Consequências: art.º 389 do CT.
Se a forma escrita tivesse sido respeitada, o problema seria a justificação (neste caso não
havia necessidade temporária) → Consequência: Art.º 147/1/b).
Considera-se sem termo, pelo que este termino a dia 1/12 seria um despedimento ilícito.
Débora Sá 36
Faculdade de Direito da Universidade do Porto 2022/23
Mas recapitulando:
Vamos supor que se teria respeitado os artigos 140.º e 141.º CT:
o Se A foi contratado pelo período de um ano: até 14/4/2015 esteve no período inicial
do contrato;
o Se o contrato se renovou por igual período, ele poderia continuar até 14/4/2016;
o Nesta data (1/12/2017): já se cumpriam os limites máximos dos artigos 148.º e 149.º,
na medida em que ele já estava há 2 anos a termo e já se tinha renovado uma vez, mas
essa renovação já tinha alcançado o período de um ano. Logo, mesmo se houvesse
necessidade temporária, nunca se poderia renovar o contrato:
o Consequência deste caso: seria a conversão do contrato em contrato de trabalho
sem termo (artigo 147.º/2/a) CT).
Débora Sá 37
Faculdade de Direito da Universidade do Porto 2022/23
Quanto ao motivo: monitor de natação num hotel durante 2 meses –> artigo 140º
CT: incluindo-se esta situação na hipótese de uma necessidade temporária da
empresa (devido à maior afluência de turistas naquela dada época), a contratação
justificava-se pela sazonalidade. Contudo, é necessária uma indicação concreta da
factualidade que motiva a contratação a termo e que essa necessidade corresponda
efetivamente à realidade.
(Quanto à justificação, a Sra. Professora Regina considerou a causa justificada, enquanto
a Sra. Professora Inês Lopes foi de opinião contrária).
Quantas vezes poderia ser renovado? 149º/4 CT: até 3 vezes e a duração total das
renovações não pode exceder a do período inicial do contrato. Os efeitos da não
renovação seria fazer acionar a caducidade do CDT. Logo, à indemnização que já
tinha lugar pela caducidade, teria de haver ainda um pagamento pelo aviso em falta.
Nota: Se o contrato não fosse renovado: teria direto à restituição correspondente às férias
e ao proporcional subsídio de Natal - artigo 239.º/4 do CT.
Débora Sá 38
Faculdade de Direito da Universidade do Porto 2022/23
No nosso caso diz que é por maior afluência de turistas, logo nos termos do artigo 147º,
nº 1, c) parte final CT, ele seria considerado um contrato sem termo. Esta alínea trata a
insuficiência ou omissão quanto à referência do termo justificativo, quando a necessidade
é real, mas não se densificou cabalmente no contrato. Se nem houver a necessidade →
Alínea a) ou b).
Acórdão do relator Gonçalves Rocha do STJ (22 de fevereiro de 2017) → Exemplo desta
interpretação do artigo 140.º CT → 3 pontos do sumário.
Poderá suceder-se o seguinte → Este contrato juridicamente é um contrato sem termo,
não foi respeitado o regime da contração a termo, por isso considera-se sem termo e
assim sendo, ele não tem duração definida, é isso que o carateriza, é por tempo
indeterminado.
Se o contrato de trabalho for sem termo, o empregador tem sempre a via do período
experimental, porque a cessação no período experimental não depende de justa causa.
Todos os contratos estão sujeitos a um período experimental e durante esse período, as
partes vão avaliar como é que se desenvolve a relação de trabalho, isto reciprocamente,
por parte do empregador e do trabalhador.
Há apenas lugar a aviso prévio também (artigos 111.º, 112.º e 114.º CT):
- No caso de o período durar menos de 60 dias → 7 dias de aviso prévio;
- Mais de 120 dias → 15 dias de aviso prévio.
Nota: é importante chamar à atenção para o facto do artigo 112º, nº 1, b), nº 3 CT, que
prevê que o período é de 180 dias (período especialmente longo nestes casos).
O TC no acórdão 318/2021 de 1 de julho de 2021 considerou inconstitucional a
interpretação segundo a qual se aplicava esta norma para trabalhadores que já tenham
sido contratados a termo por um período igual ou superior a 90 dias, não se considera que
sejam trabalhadores à procura de 1º emprego. Não estará sujeito aos 180 dias de período
experimental. Esta 1ª parte da norma será inconstitucional na primeira parte, não na
segunda. Podemos fazer referência a este acórdão no artigo.
Débora Sá 39
Faculdade de Direito da Universidade do Porto 2022/23
Quid iuris?
Débora Sá 40
Faculdade de Direito da Universidade do Porto 2022/23
utilizada porque é a mais vaga. Para de alguma forma combater esta abrangência
da alínea f), a jurisprudência é exigente na densificação.
O autor é o trabalhador, o pedido traduz-se na declaração da ilicitude do
despedimento. A 1ª instância considerou a ação improcedente, que o trabalhador não
tinha razão e que tinha havido caducidade. A Relação entendeu que não. Se fossemos o
Supremo, o que diríamos?
O Supremo entende à semelhança da relação que o despedimento tinha sido de facto
ilícito, porque o contrato não tinha sido validamente celebrado. Não temos os factos
completos: estão no acórdão no sigarra, mas é dito que o posto de trabalho que o
trabalhador ocupava já existia antes de o trabalhador ter sido contratado e manteve-
se depois do seu contrato ter cessado - isto levou o STJ a concluir que o contrato tinha
sido celebrado fora dos requisitos do artigo 140º, nº 1 e 2 CT. O STJ entendeu que houve
uma fraude à lei, que conduziu ao artigo 147º, nº 1, a) CT.
Ficou provado que efetivamente houve um aumento da atividade nesse período, mas
a jurisprudência entende que não basta um acréscimo da atividade, é preciso um
pico excecional que justifique a contratação de um novo trabalhador a termo. Na
altura do Natal é normal que agora se venda mais alguns tipos de produtos, assim
como no verão os hotéis faturam mais. Mas não basta um acréscimo, esse acréscimo
tem de justificar a contratação a termo.
Neste caso, entendeu-se que a necessidade não era temporária, não era um aumento
acentuado nem por um período determinado, pelo que o posto de trabalho que o
trabalhador ocupava era permanente, ora estava ele ora outra pessoa.
O STJ entendeu que não existiu um nexo de causalidade entre a necessidade temporária
e o aumento da atividade. Além disso, diz-se ainda no acórdão que não basta a alegação
genérica de um aumento de encomendas, é preciso factualmente demonstrar a
necessidade. Isto pode ser muito difícil para o empregador fundamentar, mas o que é
certo é que a jurisprudência o exige.
Por força do artigo 147º, nº 1 CT, o contrato considera-se sem termo. Assim sendo,
quais são as consequências destes factos num contrato considerado sem termo?
Sendo um contrato sem termo, a comunicação ocorrida a 8 de novembro traduz-se num
despedimento ilícito. Da perspetiva das partes, traduziu-se na caducidade, mas, como é
um contrato sem termo, não pode cessar desta forma. Esta comunicação da cessação de
contrato desta forma traduziu-se num despedimento ilícito, sem justa causa, nos termos
do artigo 338º e 339º CT. O mesmo diz o artigo 53º CRP.
Débora Sá 41
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Débora Sá 42
Faculdade de Direito da Universidade do Porto 2022/23
nessa medida será um termo incerto (certo quanto à verificação do facto, mas incerto
quanto ao momento).
Ainda não vimos nenhum caso que caiba no nº 4, mas as razões não se confundem com
as do nº 2: não tem a ver com uma necessidade temporária, mas com questões económicas
(desemprego de muito longa duração, considera-se desempregado de muito longa duração
aquele que esteja nessa condição há 25 meses ou mais, 12 meses ou mais é um
desemprego de longa duração).
Então aqui não era possível a contratação a termo incerto. Como é que
contrataríamos o trabalhador?
o A lei não permite a celebração de 2 contratos, um a termo certo e outro a termo
incerto, porque a lei impõe os limites de 2 e 4 anos e isto seria forma de contornar
a lei (artigo 148º, nº 6 CT);
o Também não poderia ser uma contratação a termo certo porque essa tem como
limite os 2 anos.
o Portanto, não podendo ser uma contração nem a termo certo nem a termo incerto,
teríamos de contratar o trabalhador por tempo indeterminado.
Supondo que ele foi contratado a tempo incerto por 50 meses e que, depois dos quatros
anos, ele continua ao serviço, o contrato torna-se num contrato sem termo, nos termos do
artigo 147.º, nº 2 alínea b) CT.
Débora Sá 43
Faculdade de Direito da Universidade do Porto 2022/23
Uma coisa é não caducar porque o facto não se verifica (alínea b)), o contrato caducou,
porque se verificou o facto, mas continuou ao serviço (alínea c)) → Verificar se houve
caducidade porque se verificou o facto ou não. Numa e noutra situação, a contração
converte-se em contrato sem termo.
1ª Cláusula
Débora Sá 44
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2ª Cláusula
Débora Sá 45
Faculdade de Direito da Universidade do Porto 2022/23
1º Caso
Qualificação do contrato: contrato de trabalho a termo resolutivo certo, pelo período
de 1 ano (01/01/19 - 31/12/19).
O facto de no dia 1 de fevereiro de 2022 ainda estar ao serviço, revela que houve uma
renovação:
Até dia 31 de dezembro de 2019: estávamos no 1º ano (último dia do primeiro ano).
Nesse dia renova-se o contrato, cujo período começa a conta a partir de dia 1 de
janeiro de 2020 e termina no dia 31 de dezembro de 2020 – e o contrato terminaria
aqui (31.12.2020) porque a partir desta data atingem-se os 2 anos (artigo 148.º nº 1
CT) e atinge-se o número máximo de renovações (Artigo 149.º nº 4 CT);
Logo, a partir do dia 31 de dezembro de 2020, o contrato converte-se em contrato
sem termo (Artigo 147.º, nº 2, a) e b) CT);
Não temos indicação de 1 aspeto: requisitos da manutenção da necessidade
temporária (artigo 149.º nº 3 CT): se ao fim de 1 ano houvesse renovação, o contrato
converte-se em contrato sem termo, mas agora nos termos do artigo 147º, nº 1, a) CT.
No dia 31 de dezembro de 2019 teríamos de ver se podia haver renovação, se se
mantinha a necessidade temporária. A renovação está sempre sujeita à verificação
da subsistência da causa, ao carater temporário do motivo justificativo. Ora, se
era uma substituição e o trabalhador impedido voltou, não se mantém a causa
Assim, um possível término do contrato a 1/2/2022 constitui um despedimento ilícito,
visto que a partir de 31/12 já não tem contrato a termo - tem de haver justa causa ou
outras causas objetivas. A ação a ser proposta pelo trabalhador é uma ação de
reconhecimento da ilicitude do despedimento. Para esta ação ser válida, estava sujeita
aos requisitos da admissibilidade da celebração do contrato a termo.
Débora Sá 46
Faculdade de Direito da Universidade do Porto 2022/23
2º Caso
Necessidade temporária alegada – substituição de Z.
O período de baixa terminou em 15/01/22 -> terminou a necessidade temporária
Em 02/02/22, A ainda se encontrava em serviço.
3º Caso
Qualificação do contrato: contrato de trabalho a termo resolutivo certo, por 9 meses:
de 1 de março de 2020 até 1 de dezembro de 2020. No entanto, nesta data (no dia 1
de dezembro) já seria o primeiro dia da renovação, portanto o contrato de trabalho
seria até dia 30 de novembro.
o A partir desta data, o contrato renovava-se. Sendo a renovação por igual período,
que é a regra, nos termos do artigo 149º, nº 2 CT, seria por mais 9 meses - que se
contariam até dia 31 de agosto de 2021.
▪ A partir desta data, o contrato converte-se em CT sem termo: já não é possível
nova renovação, a duração total das renovações, se se renovasse novamente,
excederia a duração do período inicial do contrato (artigo 149.º/4 CT). Logo,
quando a partir de 31/8/2021 se mantém ao serviço, a partir dessa data o contrato
de trabalho converteu-se num contrato de trabalho sem termo. Isto supondo que
a necessidade temporária se manteve.
Débora Sá 47
Faculdade de Direito da Universidade do Porto 2022/23
Caso Prático nº 16
A foi contratado para substituir B. O contrato teve a duração de 8 meses. Findo esse
período, B regressou e A cessou funções. Um mês mais tarde B tornou a ausentar-se e
A foi de novo contratado para o substituir. Quid juris?
Nos termos do artigo 144.º, a cessação tem de ser comunicada no prazo de 5 dias. Esta
norma visa a proteção do trabalhador.
Vamos agora supor que A decide contratar alguém sem termo para funções
semelhantes: o trabalhador que esteve a termo vai ter preferência na admissão, nos
termos do artigo 145.º CT. A violação desta disposição obriga a uma
indemnização. Esta norma não é imperativa, podendo ser afastada por IRC, nos
termos do artigo 149.º do CT.
Débora Sá 48
Faculdade de Direito da Universidade do Porto 2022/23
Quid iuris?
Na primeira cláusula:
Diz-se que o contrato se extingue se não atingir aqueles resultados. Do ponto de vista
jurídico, esta cláusula é uma condição resolutiva porque faz depender a vigência do
contrato de um facto futuro e incerto. É uma condição potestativa porque depende da
vontade das partes, neste caso do trabalhador.
Esta condição não seria admitida num contrato de trabalho porque é uma condição
resolutiva (artigos 139.º e 339.º CT). Só nos casos previstos na nossa lei é que o
contrato pode cessar e a nossa lei não prevê a existência de uma condição
resolutiva, apenas um termo resolutivo que pode ser certo ou incerto. Esta
cláusula não seria válida
A extinção do contrato por mútuo acordo designa-se por revogação (ou distrato) – o
contrato celebra-se por acordo e resolve-se também por acordo, artigo 206.º CC.
A revogação vem prevista no artigo 349.º CT: é uma forma de extinção bilateral
e é necessário que conste em documento assinado por ambas as partes. Se não
constar nesta forma escrita, será nulo nos termos gerais do art.220º CC;
Débora Sá 49
Faculdade de Direito da Universidade do Porto 2022/23
No nosso caso prático, esta cláusula não é uma verdadeira extinção, mas sim uma
condição resolutiva. Por isso, a cláusula seria inválida porque prevê uma forma de
cessação de contrato que não está previsto na nossa lei temporal, este regime é imperativo
(artigo 339.º CT).
Não podendo o contrato ser celebrado a termo, foi celebrado fora das condições do artigo
140.º CT: o contrato considera-se sem termo, à luz do artigo 147.º/1 CT.
Teletrabalho
Caso Prático n.º 19
A trabalha para B desde 2007. No mês de Fevereiro último foi-lhe proposto que
passasse a trabalhar em regime de teletrabalho. Para tanto, as partes acordaram que A
passaria a estar isento do horário de trabalho. Acordaram ainda que A manteria
exatamente a mesma retribuição e B suportaria 25% dos custos da fatura da
eletricidade do trabalhador, até ao limite de 955€ /mês. Comente a situação de A.
Débora Sá 50
Faculdade de Direito da Universidade do Porto 2022/23
Débora Sá 51
Faculdade de Direito da Universidade do Porto 2022/23
O outro argumento tinha a ver com o artigo 200.º pois tínhamos de conjugar a noção de
horário flexível com a noção de horário de trabalho, já que a primeira tinha procedente a
segunda. A noção de horário de trabalho também compreende os dias de descanso
semanais.
Nota: Ficou provado que ela não tinha como deixar os filhos menores naqueles dias.
Caso Prático nº 7
Há dias, um jornal diário publicou uma notícia com o seguinte destaque:
“Um diferendo laboral na empresa de cafés ***, de Guimarães, está a gerar a revolta
nas redes sociais com a situação de um funcionário obrigado a ficar à porta. O patrão
garante que deixa o empregado entrar, mas sem o telemóvel pessoal, que, acusa, usa
para tratar de assuntos paralelos à empresa.”
Comente esta factualidade à luz do direito positivo.
Temos um funcionário de uma empesa de cafés que está impedido de entrar nas respetivas
instalações porque o empregador não o deixa entrar com o telemóvel na sua posse -
proibição de utilização de um equipamento pessoal, não da empresa.
Será que o empregador detém deste poder?
A proibição do lock-out resulta da nossa constituição (artigo 57.º/4 CRP).
Débora Sá 52
Faculdade de Direito da Universidade do Porto 2022/23
Além desta alínea h), existe um dever de obediência do 128.º/2 CT, dentro dos poderes
que por aquele lhe forem atribuídos.
Portanto o trabalhador violava o dever de produtividade e de obediência.
Débora Sá 53
Faculdade de Direito da Universidade do Porto 2022/23
Quanto aos testes e exames > artigo 19.º/1 CT: requisitos materiais de licitude +
requisito formal da fundamentação escrita
“1 - Para além das situações previstas em legislação relativa a segurança e saúde no
trabalho, o empregador não pode, para efeitos de admissão ou permanência no emprego,
exigir a candidato a emprego ou a trabalhador a realização ou apresentação de testes ou
Débora Sá 54
Faculdade de Direito da Universidade do Porto 2022/23
No caso: temos um contabilista – profissão que não requer grande capacidade física nem
tem particulares riscos associados à mesma.
- Prova tuberculina: justificar-se-ia por motivos de contágio, até já foi exigida no acesso
à função pública, mas não seria proporcional;
- Prova de esforço: também não seria adequado, uma vez que não é necessária a prova
de aptidão física para desempenhar funções de contabilista;
- Análise para verificação de diabetes: poderia ter alguma pertinência, mas unicamente
para a despistagem individual, para reavaliar-se as condições de trabalho para a pessoa
em questão, mas teria de ser justificado;
- Antecedentes clínicos: não seria justificável;
- Testes psicotécnicos: não sendo um teste clínico nem usado para terapêutica (é apenas
um teste de habilitação), poderiam ser realizados - já que se destinam a perceber a
capacidade da pessoa para desempenhar determinadas tarefas, até para seleção de
candidatos.
Quase todas as perguntas referidas no caso estão previstas no número 2 do mesmo artigo.
Contudo, será que o trabalhador poderia assinar um papel a dizer que abdicava do
seu direito/reserva da intimidade da vida privada, aceitando responder a estas
questões? É a reserva da intimidade da vida privada um direito disponível? Sim,
existe uma disponibilidade relativa deste direito, desde que a mesma não atinja o
núcleo essencial do direito.
Débora Sá 55
Faculdade de Direito da Universidade do Porto 2022/23
Caso Prático nº 40
A, única trabalhadora do estabelecimento de cafetaria de B, envolveu-se numa relação
extra-conjugal com C, marido de B.
Ao ter conhecimento desta relação B despediu A, com invocação de justa causa.,
alegando violação do dever de lealdade.
Aprecie a existência de justa causa e o seu fundamento.
Existem contratos de trabalho com 30 páginas a definir códigos de vestuário, cada vez há
mais cláusulas contratuais que contendem com esta questão.
Por exemplo, em lojas como a Stradivadrius ou Levis, a exigência de vestir um certo tipo
de roupa não contende com a dignidade da pessoa, é uma questão de marketing, para
promover as roupas da respetiva loja em exibição. Contudo, se tomarmos como exemplo
os bares, o mesmo já não acontece. Muitas vezes exigem que as rececionistas se vistam
de uma forma muito específica – com saltos altos, saias curtas, etc.
Débora Sá 56
Faculdade de Direito da Universidade do Porto 2022/23
Débora Sá 57
Faculdade de Direito da Universidade do Porto 2022/23
preocupou com essa situação – o facto de não haver uma amamentação natural não
quer dizer que a criança não tenha de ser alimentada – art 47.º CT (aleitação).
Débora Sá 58
Faculdade de Direito da Universidade do Porto 2022/23
3.Relativamente ao salário:
Se faltar algum dos elementos essenciais no anúncio não temos uma proposta contratual,
mas sim um mero convite a contratar. No caso, não se menciona o salário e esse é um dos
elementos essenciais do contrato de trabalho (pagamento da retribuição). Logo,
poderíamos afastar esta qualificação como proposta contratual e classificar como apenas
um mero convite a contratar.
Débora Sá 59
Faculdade de Direito da Universidade do Porto 2022/23
Temos um princípio de proibição, mas também temos desvios (proibição relativa) ->
podendo sempre considerar-se a utilização de vigilância remota quando esteja em causa
ordens de necessidade:
a. proteção e segurança de pessoas e bens;
b. exigências inerentes à natureza da atividade;
No caso prático: G afirma que divulgou estes dados com intuito de dar conhecimento
aos colegas.
O tratamento de dados pessoais foi lícito?
No nosso caso, a medida adotada (a divulgação de todo o processo aos colegas) foi
desproporcional para aquele fim.
Débora Sá 60
Faculdade de Direito da Universidade do Porto 2022/23
No que respeita aos dados de saúde: estes têm uma especial tutela no artigo 17.º,
pois a única pessoa que tem conhecimento dos dados de saúde é o médico, não
podendo o empregador ter conhecimento desses dados de saúde.
No que respeita à reserva da vida privada: veja-se o artigo 16.º/2 (“quer quanto ao
acesso, quer quanto à divulgação de vários aspetos respeitantes à saúde do
trabalhador”).
Do ponto de vista do RGPD tínhamos de enquadrar a questão no âmbito do artigo 9.º/1
nos dados sensíveis e não há aqui qualquer fundamento de licitude, uma vez que não há
consentimento, não é necessário para o cumprimento de obrigações laborais, etc. (não se
enquadra em nenhuma destas alíneas).
A lei 58/2019 (lei que executa o RGPD), em matéria laboral, disciplina no seu artigo 28.º.
Este artigo 28.º existe por indicação expressa do artigo 88.º do RGPD. Este artigo 88.º
prevê que o empregador pode tratar dados pessoais dentro dos limites definidos no
código e para os fins definidos também no Código do Trabalho (uma dessas situações
é para efeitos de registo do tempo de trabalho durante 5 anos).
O art.º 28/2 prevê que a licitude deste tratamento de dados também está incluída na
atividade de tratamento de subcontratantes ou contabilistas. Só impõe a lei que estes
terceiros à relação laboral estejam sujeitos a garantias de sigilo;
O art.º 28/3 prevê que o consentimento do titular resolve o problema porque torna
lícito o tratamento de dados pessoais. No entanto, o consentimento no RGPD traduz-
se numa manifestação de vontade que tem de ser livre, informada, esclarecida e
especifica.
Prevê-se ainda que no caso das relações laborais o consentimento não será livre
porque há um desequilíbrio manifesta entre as partes. No entanto, teríamos de
apreciar o caso concreto, porque não quer dizer que seja sempre ilícito, porque até poderia
ser lícito se o desequilíbrio entre as partes não fosse manifesto, resultando uma vantagem
para o trabalhador, por exemplo.
o Logo, a contrário a nossa lei admite que o consentimento seja fundamento de
ilicitude se dai resulta uma desvantagem. Esta norma não faz muito sentido, por
isso é que a Comissão Nacional de Proteção de Dados emitiu uma deliberação dizendo
que a comissão iria desaplicar um conjunto de normas da lei 58/2019 por considerar
que violam o RPDG, sendo uma dessas normas precisamente o art.º 28. Claro que esta
deliberação não pode revogar normas nem as considera inconstitucionais por violação
do Direito Europeu, por isso esta deliberação tem uma legitimidade um pouco
duvidosa.
Débora Sá 61
Faculdade de Direito da Universidade do Porto 2022/23
Poderá ficar resolvido este problema logo no início? Poderá fazer-se isto?
Meios de vigilância à distância – 20º e 21º CT, como abordado acima.
Aquela cláusula inicial não era válida, mas, neste tema, A não tem de dar
consentimento, tem é de ser informado.
Nota: o artigo 21.º CT está hoje parcialmente ab-rogado pela entrada em vigor do RGPD.
Débora Sá 62
Faculdade de Direito da Universidade do Porto 2022/23
Atividade do trabalhador
Os artigos 115.º e seguintes regulam a matéria da atividade que o trabalhador presta.
A atividade desempenhada pelo trabalhador tem de estar definida no contrato:
artigo 115.º do CT e regras gerais do Direito das Obrigações (artigo 398.º do CC). A
obrigação do trabalhador traduz-se na prestação de uma atividade. A definição da
categoria é importante como definição de estatuto e como garantia do trabalhador.
o Quanto às garantias do trabalhador: constitui uma garantia do trabalhador não
exercer funções ou não ser mudado para categoria inferior (artigo 129.º/1/e) CT),
como também constitui garantia a não diminuição da sua retribuição (artigo
129.º/1/d) CT). Estas garantais podem ter de ser acomodadas com outros direitos
e deveres (artigo 118.º/1 CT);
o As funções desempenhadas pelo trabalhador são as que correspondem à
atividade para a qual está contratado (artigo 118.º/1 CT). O empregador deve
dar-lhe as funções mais adequadas à sua qualificação profissional. O trabalhador
deve, em princípio, exercer funções que se devem conter nos limites da categoria,
ou, no máximo, funções afins ou funcionalmente ligadas às que se compreendem
na categoria – nº2 e 3.
▪ Do ponto de vista da retribuição - o artigo 267.º CT: tem direito à retribuição
mais elevada que corresponda às funções que exerça a título acessório.
Mobilidade funcional
Regime previsto no artigo 120.º CT em que, mediante certos requisitos, constitui-se o
direito do empregador exigir que o trabalhador desempenhe temporariamente funções
diferentes.
Débora Sá 63
Faculdade de Direito da Universidade do Porto 2022/23
Caso Prático nº 17
No nosso caso: ele estava a desempenhar funções com uma categoria superior (com
retribuição também superior) àquela pela qual foi contratado, sendo pago pelo escalão
mais baixo. Os exercícios destas funções não foram temporários. O que parece estar a
acontecer é que ele foi contratado com uma categoria inferior àquela que efetivamente
exercia, que não é permitido, nos termos do referido acima.
Débora Sá 64
Faculdade de Direito da Universidade do Porto 2022/23
Caso Prático nº 24
Podemos enquadrar esta situação na figura da mobilidade funcional (ou ius variandi)?
Este regime está previsto no artigo 120.º do CT, em que, mediante estes requisitos,
constitui-se o direito do empregador exigir que o trabalhador desempenhe
temporariamente funções diferentes.
No nosso caso, trata-se de uma pessoa que tem uma determinada categoria remunerada
em 850 euros e que passa a exercer funções de chefia com valor de 1200 euros. No
entanto, não é feita nenhuma alteração à categoria, apesar de o conteúdo funcional ter
sido alterado na prática – modificação no conteúdo funcional:
o Ter mais atribuições modifica a situação (mobilidade funcional). Havendo um
enriquecimento funcional das atribuições do trabalhador, não pode haver
diminuição da retribuição (artigo 120.º/4 CT). O trabalhador tem direito a ter as
condições associadas às funções que desempenha, entre elas a retribuição.
o Não significa que deva adquirir a categoria de chefe de setor! Mas, enquanto presta
essa função, tem direito à retribuição inerente, a não ser que haja disposição
diversa em IRC. Este regime da mobilidade funcional é um regime supletivo.
Débora Sá 65
Faculdade de Direito da Universidade do Porto 2022/23
Não teremos uma simples hipótese de transferência –temos uma alteração funcional.
Saímos do quadro da transferência para a determinação do âmbito do objeto do
contrato. Foi contratado inicialmente como gerente bancário, no entanto, devido a uma
reorganização interna, é transferido para outra agência e passa a ser assistente de vendas.
Ou seja, passa a exercer funções que estão numa escala hierárquica abaixo do que
constituía a sua posição inicial, mantendo a retribuição anterior.
Tem de se resignar a esta situação? Já vimos que a regra é a da coincidência do contrato
e da realidade quotidiana – art118.º CT.
Art119.º CT- A mudança do trabalhador para categoria inferior àquela para que se
encontra contratado pode ter lugar mediante acordo, com fundamento em necessidade
premente da empresa ou do trabalhador, devendo ser autorizada pelo serviço com
competência inspetiva do ministério responsável pela área laboral no caso de
determinar diminuição da retribuição.
Não tendo conhecimento de qualquer acordo, resta-nos a hipótese da mobilidade
funcional – se havia uma necessidade de reorganizar, à partida, o empregador poderia
perspetivar esta hipótese. No entanto, para que essa situação acontecesse, era preciso que
não houvesse modificação substancial da posição. Não é só a questão da retribuição que
está em causa, mas sim do conteúdo funcional associado à atividade do trabalhador.
De todo o modo, esta questão da mobilidade funcional tem de ter sempre um caráter
temporário, não abrindo direito à aquisição da categoria desempenhada.
Débora Sá 66
Faculdade de Direito da Universidade do Porto 2022/23
Caso de um trabalhador que foi contratado para exercer funções de caixa em Braga. De entre
as cláusulas do contrato de trabalho constavam que:
a. A trabalhadora exerce a atividade em Braga tendo o empregador a faculdade de a
transferir para Guimarães ou Barcelos.
b. Fica isenta de horário de trabalho sem prejuízo do gozo de descanso semanal ao
sábado e domingo.
O 2º parâmetro passa pelo prejuízo que vai ter na sua vida familiar (mesmo que o
empregador cubra todos os custos monetários adicionais) - podemos considerar que o
prejuízo se verifica.
Débora Sá 67
Faculdade de Direito da Universidade do Porto 2022/23
Artigo 194.º/2 CT: As partes podem alargar ou restringir o disposto no número anterior,
mediante acordo que caduca ao fim de dois anos se não tiver sido aplicado.
O que é que acontece se houver uma transferência definitiva e o trabalhador tem a
sua vida sediada naquela cidade? O empregador não vai ficar com o seu direito de
liberdade de empresa restringido, o que nos leva à solução da resolução do contrato pelo
trabalhador, com direto a compensação – artigo 194.º/5 CT.
Além disso, trabalhou mais uma hora no dia 2 e mais 2 horas no dia 17.
No caso:
O período normal de trabalho de A é de 40 horas por semana;
Os dias 8 e 25 de dezembro: são feriados obrigatórios (artigo 234.º CT);
Dia 24: é sábado, não é um feirado obrigatório.
Supondo que o dia de descaso semanal de A era ao sábado e ao domingo (não tem de
ser – artigo 232.º CT): os dias 2 e 17 seriam dias normais de trabalho, mas ele prestou
uma hora além das oito, portanto conta como trabalho suplementar.
Débora Sá 68
Faculdade de Direito da Universidade do Porto 2022/23
No total ele vai ganhar 1000 euros + 7.21 (dia 2) + 7.21 (dia 17, primeira hora) + 7,93
(dia 17, segunda hora) + (8.66 x 8 horas x três dias = 207,84 euros) = 1230,19 euros.
Caso Prático nº 25
A foi contratado no dia 01/03/22 para prestar a sua atividade como segurança numa
discoteca. Trabalha diariamente das 22h às 4h da manhã e aufere 750 € mensais. A sua
assiduidade é excelente e até hoje nunca faltou ao trabalho.
Quando poderá́ gozar as suas primeiras férias e qual a duração mínima destas?
A pretende ser-lhe devido um acréscimo à retribuição pelo facto de trabalhar de noite.
Será́ assim?
Débora Sá 69
Faculdade de Direito da Universidade do Porto 2022/23
o Estes 20 dias completam o teto máximo, porque é referido no artigo 239.º que
estes 2 dias úteis só podem ir ao máximo de 20 dias;
o O gozo destas férias vai ter lugar após 6 meses de prestação completa do
trabalho, ao fim de 6 meses terá 12 dias de férias - pelo que ele vai gozar férias
em agosto. Até ao final do ano terá os restantes 8 dias. Estes dias do ano da
admissão podem ser cumulados com os 22 dias do ano seguinte. Mas, no máximo,
ele só poderá gozar 30 dias de férias (ele não pode cumular férias num valor que
exceda os 30 dias).
Qual é a razão material para o trabalho noturno ser mais bem pago? É o facto de, no
mundo ocidental, a regra de descanso é durante a noite. Tem a ver com os ritmos
circadianos, é uma razão biológica. O ser humano é biologicamente mais capaz de exercer
sua atividade durante o dia, que é quando há luz.
Débora Sá 70
Faculdade de Direito da Universidade do Porto 2022/23
a)
Foi celebrado um contrato de mútuo oneroso entre o trabalhador e o empregador. O
trabalhador deve o montante da restituição do mútuo e B deve a A o salário. Estas
obrigações são compensações, dado que são ambos simultaneamente devedores e
credores um do outro.
A compensação é uma forma de extinção de obrigações, que é quando as partes são
simultaneamente devedores e credores um do outro.
B decidiu unilateralmente compensar o valor em dívida com o salário. Porém, em
regra não pode fazê-lo (artigo 279.º do CT), apesar de existirem algumas exceções
previstas no n.º 2 deste artigo.
Neste caso, atendendo ao montante, é possível haver essa dedução, não se aplica o n.º 1 -
> 279.º/2/d) CT. No entanto, não é possível haver essa compensação neste montante,
porque nos termos do n.º 3 do artigo 279.º o montante não pode exceder um sexto da
retribuição (tinha como limite máximo os 141,67 euros).
A jurisprudência, assim como a doutrina, afirmam que a regra prevista no número 1
apenas se aplica quando o empregador faz a compensação unilateralmente, porque,
se houver acordo entres as partes, pode haver compensação.
b)
Terminado o contrato, já não se aplica esta regra do artigo 279.º. Aplica-se as regras do
Direito Civil, nomeadamente as do Direito Executivo. Os créditos emergentes do contrato
de trabalho, quer do trabalhador, quer do empregador, prescrevem no prazo de um ano
após a cessação do contrato.
Não haverá problema do ponto de vista da prescrição de prazo, enquanto o contrato não
cessar - artigo 337.º do CT. Atenção, esta regra apenas se aplica a créditos emergentes do
contrato de trabalho. No nosso caso, o crédito em causa nada tinha a ver com o
contrato de trabalho.
Débora Sá 71
Faculdade de Direito da Universidade do Porto 2022/23
Caso Prático nº 23
No dia 30/04/20, A concluiu ainda que lhe eram devidas quantias correspondentes à
falta de gozo de férias em 2012 e pretende ainda reclamar estes créditos.
Artigo 348.º CT: o contrato do trabalhador converte-se num contrato a termo nas
situações em que o trabalhador se encontra na sua idade de reforma e se mantém ao
serviço da empresa. O contrato a termo é de 6 meses e é renovável por igual período, não
estando sujeito aos limites.
O art.348º CT é discutido na doutrina - se um trabalhador atinge os 70 anos e não
se reformou ainda acontece a mesma conversão do contrato em contrato a termo. A
doutrina discute: se, por exemplo, o empregador contratar alguém já com mais de 70
anos, se o contrato é obrigatoriamente a termo ou não, tendo em conta o princípio da
proibição da discriminação em razão da idade. Discute-se ainda quais as
possibilidades que cabem na caducidade.
No nosso caso não se aplica o artigo 348.º porque o contrato caducou a 30 de abril de
2020. O prazo de prescrição era de 1 ano após a cessação do contrato, nos termos do
artigo 337.º CT.
A nossa lei tem uma formação um pouco complicada, mas é um ano a partir do dia
seguinte em que o contrato cessou. Se o contrato cessou a 30 de abril, o prazo será
de dia 1 de maio de 2020 até 30 de abril de 2021. Se terminasse a 1 de maio (feriado)
o prazo estender-se-ia até ao dia seguinte. O prazo conta-se nos termos do art.279º
CT.
Débora Sá 72
Faculdade de Direito da Universidade do Porto 2022/23
+
Tendo estes valores mais de 5 anos, é necessária a sua prova por documento (artigo
337.º/2 CT;
No mínimo, terá direito a 22 dias úteis de férias (artigo 238.º CT);
O pagamento do subsídio de Natal é retribuído nos termos do artigo 263.º CT;
Quando se refere que ele teria direito às férias de 2012, terá direito às férias vencidas
e não gozadas (artigo 245.º/1/a CT) e as férias vencem-se no dia 1 de janeiro, ou seja,
as férias de 2015 vence-se a 1 de janeiro de 2016;
Quanto ao trabalho suplementar (artigo 268.º/a) CT): 5,77 x 1,25 = 7,21 x 15 dias
o que faz 108,15 euros. Estes créditos salariais prescrevem a partir de 30 de abril de
2021 (art.337º CT) – um ano após a cessação do contrato.
Débora Sá 73
Faculdade de Direito da Universidade do Porto 2022/23
São despedidas? O contrato caduca? Vão para casa e recebem o ordenado inteiro?
Vão para cassa e não recebem nada?
As repercussões que possam acontecer acontecem por alteração na esfera jurídica do
empregador – estamos perante uma vicissitude do contrato, na órbita do empregador.
O que pode acontecer na órbitra do trabalhador:
Redução temporária do período normal do trabalho ou suspensão do contrato de
trabalho por facto que lhe seja respeitante – artigo 298.º CT (cobre situações
emergências e de crise).
Cabe esta situação nos casos do artigo 298.º CT?
Temos uma situação em que as instalações não estão disponíveis para o funcionamento
da atividade, tendo como objetivo a manutenção da atividade.
O empregador pode reduzir temporariamente os períodos normais de trabalho ou
suspender os contratos de trabalho, por motivos de mercado, estruturais ou
tecnológicos, catástrofes ou outras ocorrências que tenham afetado gravemente a
atividade normal da empresa, desde que tal medida seja indispensável para assegurar
a viabilidade da empresa e a manutenção dos postos de trabalho – não se enquadra
em nenhuma destas situações.
Então a trabalhadora tem direito a quê?
Tem direito a retribuição? Artigo 311.º CT - sim, o nº2 concretiza o que é um
encerramento temporário da empresa, ou por facto imputável e a tramitação que deve
seguir + artigo 309.º CT - em caso de encerramento temporário ou diminuição temporária
de atividade de empresa ou estabelecimento que não respeite a situação de crise
empresarial, o trabalhador tem direito a, sendo devido a facto imputável ao empregador
ou por motivo de interesse deste, à totalidade da retribuição.
Débora Sá 74
Faculdade de Direito da Universidade do Porto 2022/23
O trabalhador comunica em março que não quer renovar o CT - pode fazê-lo? Pode,
temos de averiguar se o fez de uma foram regular:
O regime da caducidade do CT a termo está desenhado no artigo 344º: devem
comunicar a vontade de fazer cessar por escrito, 15 a 8 dias antes do prazo expirar.
Portanto, o trabalhador tem um prazo de aviso prévio mais curto, mais consentâneo
Débora Sá 75
Faculdade de Direito da Universidade do Porto 2022/23
Não obstante, a ser verdade o que A invoca, o seu contrato de trabalho seria, na
verdade, um contrato sem termo, dado não haver verdadeiramente necessidades
da entidade empregadora a serem satisfeitas (artigo 147.º CT).
o No caso de nunca ter havido necessidade, aplica-se o artigo 147.º/1 do CT;
Débora Sá 76
Faculdade de Direito da Universidade do Porto 2022/23
Sendo um contrato a termo, havia outra hipótese por parte de A: ele podia terminar o
contrato por declaração da caducidade, tal como previsto no artigo 344.º/1 do CT (8 dias
antes). Se for o trabalhador a fazer caducar o contrato, não há lugar a nenhuma
indemnização (artigo 344.º/2 do CT).
Débora Sá 77
Faculdade de Direito da Universidade do Porto 2022/23
O trabalhador pode:
Desvincular-se por resolução por justa causa;
Denunciar o contrato (denúncia),
Além disso, a nossa lei fala ainda de outra forma de término do contrato que é o simples
abandono do trabalho, que é uma cessação do contrato que se resume numa ausência. Não
há nenhuma formalidade, é algo mais factual.
No nosso caso prático, tínhamos um despedimento com justa causa por iniciativa do
empregador – artigo 351.º CT. O despedimento por justa causa é um direito potestativo.
Será que foi lícito? Para haver um despedimento por justa causa têm de se verificar os
pressupostos do artigo 351.º CT:
Tem de ser um comportamento culposo;
Tem de se tratar de um comportamento que, pela gravidade e consequências, torne
imediata e praticamente impossível a subsistência da relação laboral;
O número 2 do artigo 351.º tem um conjunto de exemplos onde se podem estar
preenchidos estes pressupostos:
o No entanto, não basta o preenchimento de alguma destas alíneas, sendo
necessário que estejam reunidos os pressupostos da cláusula geral do número
1.
Temos ainda de conjugar com o número 3, que prevê o que é que se deve atender no
despedimento por justa causa - grau de lesão dos interesses do trabalhador, ao
caráter da relação entre as partes e de mais circunstâncias relevantes.
Débora Sá 78
Faculdade de Direito da Universidade do Porto 2022/23
Prazo para o exercício do poder disciplinar: 1 ano após a prática da infração, mas,
se a conduta constitui crime, o prazo de prescrição é o do processo penal (artigo 329.º
do CT). Além deste prazo geral de um ano, temos outro prazo que é de 60 dias após
o conhecimento da infração por parte do empregador ou do superior hierárquico
(artigo 329.º/2).
o Se não forem cumpridos estes prazos: o despedimento será ilícito, nos
termos do artigo 382.º/1 (remissão do 329.º para o 382.º/1, que é a
consequência da inobservância dos prazos). Temos ainda o 381.º, que tem
fundamentos gerais de ilicitude que são aplicáveis a qualquer forma de
cessação do contrato.
Nos termos do artigo 329.º/6 a sanção não pode ser aplicada sem audiência prévia do
trabalhador;
Enquanto decorre o processo disciplinar, como é que A pode reagir? Pode, na
resposta à nota de culpa, defender-se contra o despedimento. Ele aí ainda não foi
despedido;
Mas, se mesmo assim culminar com a decisão de despedimento, pode impugnar
a decisão em tribunal. A impugnação da decisão segue uma forma especial de
processo (artigo 98.º/b) e seguintes do Código de Processo de Trabalho);
Suspensão do despedimento 33-A e seguintes do Código processo do trabalho. Ele
podia começar por esta providência cautelar. Mas esta está dependente de ser
intentada a ação principal. Só serve para ter uma resposta mais rápida ao problema.
Nota: se se tratar de uma microempresa, no caso do art.º 358, dispensam-se algumas
formalidades. Definição de microempresa (art.º 100 -> remissão do 358.º para o 100.º):
empresa com menos de 10 trabalhadores.
Débora Sá 79
Faculdade de Direito da Universidade do Porto 2022/23
A foi contratada por B para exercer as funções de cozinheira num restaurante que este
último explora. Sucede que B só́ pagou os salários de Janeiro a Março de 2022 em
meados de Fevereiro a Abril, respetivamente.
O salário de Abril não foi pago até hoje e B também não pagou à Segurança Social os
mesmos meses, apesar de ter efetuado os descontos nos vencimentos de A.
Neste caso estamos perante uma resolução do contrato com justa causa (pelo
trabalhador) – artigos 394.º e seguintes CT.
O artigo 394.º, ao contrário do 351.º (sobre o despedimento por justa causa), apenas prevê
nos números 2 e 3 algumas causas que permitem a resolução do contrato pelo trabalhador.
No nº2 temos causas que seriam motivações subjetivas (p.e., não pagamento culposo
de uma retribuição, etc.);
No nº3 temos motivos objetivos que não tem a ver com a culpa do empregador. Uma
delas é a falta não culposa de pagamento da retribuição;
No nº4 remete-se para o 351.º/3 CT, que é também aqui aplicável. Ou seja, é
necessário que, no caso concreto, se verifiquem motivos graves que não sejam
compatíveis desde logo com um aviso prévio, ou seja, dão direito ao trabalhador
a cessar de imediato o contrato - em função dessas circunstâncias, é inexigível que
o trabalhador continue;
Neste caso, tínhamos o não pagamento de uma retribuição e o pagamento atrasado. Temos
de ver se esta falta de pagamento é ou não culposa:
Se for culposa: cabe no nº2. Considera-se culposa a falta de pagamento se:
o For superior a 60 dias;
o Quando o empregador declara por escrito a previsão de não pagamento da
retribuição;
Se não for culposa: cabe no nº3.
Débora Sá 80
Faculdade de Direito da Universidade do Porto 2022/23
+ O trabalhador pode arrepender-se de ter resolvido o contrato e pode voltar atrás nos
termos do artigo 397.º CT: pode fazê-lo no prazo de 7 dias após ter entregado a vontade
de resolução do contrato.
No caso do não pagamento culposo da restituição, serão devidos juros de mora (artigo
323.º/2 CT).
No caso prático:
Só tinha passado um mês, não tínhamos mais de 60 dias.
A falta de pagamento atempado deve-se a dificuldades de tesouraria da empresa -
poderíamos concluir que é uma falta de pagamento não culposa (artigo 394.º/3/c)
do CT). Há incumprimento, mas isto não chega pois tem de ser grave. Sendo não
culposa as consequências da indemnização são diferentes, não havendo lugar a
indemnização. Relativamente ao prazo, este será de 30 dias nos termos do artigo
395.º/1 CT.
Débora Sá 81