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CONCEITOS BÁSICOS DE

INSTRUMENTAÇÃO INDUSTRIAL
CONCEITOS BÁSICOS DE INSTRUMENTAÇÃO PARA
CONTROLE DE PROCESSOS

Os processos industriais são variados, englobam diversos tipos de produtos e


exigem controle preciso dos produtos gerados. Usualmente, os maiores usuários de
instrumentação são as indústrias.
Em todos esses processos, é indispensável controlar e manter constantes as principais
variáveis, tais como pressão, nível, vazão, temperatura, pH, condutividade, velocidade,
umidade etc. Os instrumentos de medição e controle permitem manter e controlar essas
variáveis em condições mais adequadas/precisas do que se elas fossem controladas
manualmente por um operador.
Os sistemas de controle mantêm a variável controlada no valor específico, comparando o
valor da variável medida, ou a condição a controlar, com o valor desejado (ponto de ajuste
ou set point), e fazendo as correções em função do desvio existente entre esses dois
valores (erro ou offset), sem a necessidade de intervenção do operador.
Os diversos aspectos de instrumentação e de controle automático de processos podem
ser mostrados mais apropriadamente através de um exemplo prático.
Para ilustrar os diversos aspectos, como processo típico, tem-se o trocador de calor
mostrado na figura a seguir, que é utilizado para aquecer um fluido com vapor. No caso da
figura em questão, o termo processo significa a operação de adição de energia calórica ao
fluido frio (fluido a ser aquecido).
No exemplo mostrado na figura a seguir, a temperatura do fluido na saída do trocador
é influenciada por vários fatores, sendo os principais: vazão e temperatura de entrada
do fluido a ser aquecido; vazão e característica do vapor utilizado no aquecimento;
capacidade calorífica dos fluidos; perda térmica do trocador para o ambiente; entre
outros.

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Fluido aquecido

Vapor
Fluido a ser aquecido

Condensado

Figura 1 - Processo típico de troca de calor


Fonte: Adaptado de BEGA (2011)

SISTEMA DE MALHA ABERTA


Sistema de malha aberta é aquele em que a informação sobre a variável controlada (o caso
da figura anterior, i.e., temperatura do fluido aquecido na saída do trocador) não é utilizada
para ajustar quaisquer das variáveis de entrada, visando a compensar as variações que
ocorrem nas variáveis do processo e que influenciam na variável controlada.

variável manipulada: Fluido aquecido variável controlada:


vazão do vapor temperatura da água

Vapor meio controlado:


água de saída

Fluido a ser aquecido

agente de controle:
vapor Condensado

Figura 2 - Processo típico de troca de calor em malha aberta – Instrumentação Industrial


Fonte: Adaptado de BEGA (2011)

O conceito de malha aberta é frequentemente utilizado nas discussões dos sistemas de


controle para indicar que se está investigando a dinâmica do processo em uma condição
não controlada, ou seja, investiga-se apenas a dinâmica do processo.

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SISTEMA DE MALHA FECHADA
No processo típico de troca de calor em análise, bem como nos demais casos de controle
de processos, a função fundamental do sistema de controle em malha fechada, ou
sistema de controle com realimentação, é manipular a relação entrada/saída de energia
ou material, de maneira que a variável controlada do processo seja mantida dentro dos
limites estabelecidos, ou seja, o sistema de controle em malha fechada regula a variável
controlada (temperatura do fluido aquecido na saída do trocador), fazendo correções em
outra variável do processo (vazão do vapor adicionada ao trocador), que é chamada de
variável manipulada.
O controle em malha fechada pode ser realizado por um operador humano (controle
manual) ou mediante a utilização de instrumentação (controle automático).
Conforme mostrado na figura a seguir, num processo utilizando controle manual, o
operador terá como função medir a temperatura do fluido aquecido (variável controlada) e
corrigir a vazão do vapor adicionado ao trocador (variável manipulada), de forma a manter
a temperatura da variável controlada no valor desejado (ponto de ajuste ou set point). Em
outras palavras, o operador irá medir a temperatura do fluido aquecido através do tato, e
este sinal será comparado mentalmente com a temperatura desejada (ponto de ajuste ou
set point), que está armazenada em seu cérebro. Com base na diferença entre esses dois
valores (erro ou offset), o operador fará a computação (definirá como e quando irá atuar) e,
em seguida, atuará na válvula de admissão de vapor, fazendo a correção.

Fluido aquecido

Vapor

Fluido a ser aquecido

Operador Condensado

Figura 3 - Medição de temperatura utilizando o controle manual


Fonte: Adaptado de BEGA (2011)

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Caso o processo típico de troca de calor seja controlado utilizando-se controle
automático, as ações executadas pelo sistema de controle automático serão as mesmas
que as executadas pelo operador quando fazendo controle manual (medir, comparar,
computar e corrigir).
Na figura a seguir, a medição é feita pelo transmissor de temperatura (TT); a comparação
do valor medido pelo transmissor (TT) com o ponto de ajuste dado pelo operador (set
point) para obtenção do valor do erro (valor do erro = valor do ponto de ajuste – valor
medido da variável controlada) e a computação (que irá considerar os ajustes e tipos de
ações de controle utilizadas) são executadas pelo controlador de temperatura (TRC),
enquanto a correção será efetivada pela válvula de controle (TV), com base no sinal
recebido do TRC.

Ponto de TRC TT
Ajuste

I P
TY

Fluido aquecido

Vapor

Fluido a ser aquecido

Condensado

Figura 4 - Medição realizada pelo transmissor de temperatura (TT)


Fonte: Adaptado de BEGA (2011)

CARACTERÍSTICAS GERAIS DE INSTRUMENTOS


Nas instalações industriais de processo contínuo, como refinarias de petróleo, empresas
petroquímicas e indústrias de celulose e papel, são utilizados diferentes tipos de
instrumentos para monitorar, indicar e controlar as funções que cada equipamento
(bombas, tanques, vasos, permutadores) executa em cada uma das etapas dos processos.
Para controlar a produção das empresas, as informações sobre as variáveis principais do
processo (temperatura, nível, vazão) precisam ser transmitidas para uma sala de controle,
mas algumas delas também podem ser utilizadas pelos trabalhadores que ficam na área
junto dos equipamentos.

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Indicador Integrador Controlador

Conversor

Sensor Transmissor Sensor


Atuador

Detector Válvula

Figura 5 - Esquema do processo de produção


Fonte: SENAI/DN (2021)

Dentro das instalações industriais, existe uma variedade muito grande de instrumentos e
elementos que são utilizados na medição, controle e correção dos processos produtivos.
Para compreender a função que cada um deles executa no sistema de controle, os
instrumentos e elementos são classificados e agrupados em categorias específicas, sendo
elas: indicadores, instrumentos cegos, registradores, elementos primários (sensores),
transdutores, transmissores, controladores, conversores e elementos finais de controle.
Veja, a seguir, como poderão ser definidos esses instrumentos.

a) Indicador: instrumento que dispõe de um ponteiro e de uma escala graduada que nos
permitem ler o valor da variável. Existem também indicadores digitais que indicam a
variável em forma numérica com dígitos ou barras gráficas.
Analógicos – Os instrumentos analógicos usualmente dispõem de um ponteiro e de uma
escala graduada que nos permitem ler o valor da variável, como nos exemplos a seguir:

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Nível Temperatura Pressão Vazão

Figura 6 - Instrumentos analógicos


Fonte: Do Autor (2022)

Digitais – Instrumentos digitais que indicam a variável em forma numérica com dígitos ou
barras gráficas, como nos exemplos a seguir:

Nível Temperatura Pressão Vazão

Figura 7 - Instrumentos digitais


Fonte: Do Autor (2022)

b) Instrumentos cegos

São instrumentos que não têm indicação visível do valor da variável medida. Os
instrumentos de alarme, tais como pressostatos e termostatos (chaves de pressão e
temperatura), que só possuem uma escala exterior com um índice de seleção para ajuste
do ponto de atuação, são instrumentos cegos. Os transmissores de vazão, pressão, nível e
temperatura sem indicação local também são instrumentos cegos.

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Figura 8 - Instrumentos cegos
Fonte: Mérito Comercial (2022)

c) Registrador: instrumento que registra a(s) variável(is) através de um traço contínuo ou


pontos em um gráfico. Os registradores podem ser divididos em analógicos e digitais.
Na imagem, está sendo apresentado um registrador analógico de temperatura que utiliza
papel. Os registradores analógicos são instrumentos cuja função é registrar o valor das
variáveis de processo em função do tempo, só que esses instrumentos registram em
cartas de papel graduadas com escalas iguais às utilizadas pelos indicadores, porém, com
uma coordenada adicional, que é o tempo.

Figura 9 - Registrador analógico


Fonte: Directindustry (2022)

Os registradores também sofreram muitas transformações em seus projetos construtivos


e, qual o estágio atual de desenvolvimento dos microprocessadores, migraram para
registradores digitais, apresentando uma capacidade muito maior de registro de dados
sobre o processo do que os registradores convencionais.

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Figura 10 - Registrador digital
Fonte: Directindustry (2022)

São equipados, normalmente, com visor (display) de cristal líquido, que permite uma
alta resolução sobre vários ângulos de visualização, sendo possíveis várias formas de
apresentação dos dados, tais como registros de tendências, visualização de gráfico
de barras, visualização numérica dos dados e geração de telas de vista geral, todas as
características próprias de sistemas digitais.

d) Elemento primário/Sensor: são dispositivos que mudam seu comportamento sob a


ação de uma grandeza física, podendo fornecer diretamente ou indiretamente um sinal
que indica essa grandeza. Sua aplicação abrange medição de: temperatura, pressão,
umidade, aceleração, direção, ângulos, fluxo, nível, deslocamento, presença, posição,
força, torque etc.
O termopar é um elemento sensor que gera um sinal eletrônico de tensão proporcional à
variação de temperatura sofrida pelo produto em que ele está instalado. O sinal eletrônico
gerado pelo termopar pode ser transmitido para outros instrumentos, tais como
transmissores, controladores e registradores, que compõem o sistema de controle.

Figura 11 - Termopar
Fonte: SENAI/DN (2021)

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Outro exemplo de elemento primário é a placa de orifício, que está representada na figura
que segue. A placa de orifício é apenas um disco metálico com um furo. 

Figura 12 - Placa de orifício


Fonte: SENAI/DN (2021)

e) Transdutor: instrumento que recebe informações na forma de uma ou mais quantidades


físicas, modifica, caso necessário, às informações e fornece um sinal de saída resultante.
Dependendo da aplicação, o transdutor pode ser um elemento primário, um transmissor
ou outro dispositivo.

Pressão Vazão Nível Temperatura

Figura 13 - Transdutor
Fonte: Do Autor (2022)

Em certos casos, na instrumentação industrial, é muito comum o uso dos termos sensor e
transdutor como tendo o mesmo significado.
Muitas vezes, os transdutores e os sensores são tratados como se tivessem a mesma
função, mas, na verdade, eles têm papéis diferentes. O sensor detecta uma variável física
e o transdutor converte essa informação (sentida pelo sensor) em um sinal mensurável
(normalizado).

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Em resumo, o transdutor é o dispositivo completo, englobando o sensor e o circuito
condicionador (amplificador, filtro, linearizador etc.).

f ) Transmissor: instrumento que tem a função de converter e amplificar o sinal produzido


por um transdutor em um sinal apropriado para transmissão, capaz de ser enviado a longas
distâncias, com nenhuma ou o mínimo de perda da informação para um instrumento
receptor.
Os transmissores podem ser cegos (sem indicação local) ou dotados de indicação local
analógica ou digital. Os três tipos, respectivamente, são vistos na figura.

Figura 14 - transmissor cego, analógica e digital


Fonte: Do Autor (2022)

 
g) Conversor: instrumento utilizado para receber um tipo de sinal e convertê-lo em outro.
É um tipo de transdutor que trabalha apenas com sinais de entrada e saída padronizados.
A maior aplicação desses conversores está associada ao acionamento de válvulas de
controle, seja na entrada de posicionadores pneumáticos ou diretamente nos atuadores
das válvulas.

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Figura 15 - Conversor
Fonte: SMAR (2022)

h) Controlador: instrumento que compara a variável controlada com um valor desejado e


fornece um sinal de saída, a fim de manter a variável controlada em um valor específico ou
entre valores determinados. A variável pode ser medida diretamente pelo controlador ou
indiretamente através do sinal de um transmissor ou transdutor.

Figura 16 - Controlador
Fonte: SENAI/DN (2021)

i) Elemento final de controle: instrumento que modifica diretamente o valor da variável


manipulada de uma malha de controle.
A figura que segue mostra uma válvula de controle, um tipo de elemento final de controle
que permite realizar as correções necessárias no processo.

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Atuador

Castelo

Corpo

Figura 17 - Válvula de controle


Fonte: IMD (2016)

Em muitos sistemas, a válvula de controle está sujeita a severas condições de pressão,


temperatura, corrosão e contaminação. Ainda assim, deve trabalhar satisfatoriamente.
Uma válvula de controle funciona como uma resistência variável na tubulação e é definida
por alguns autores como um orifício de dimensões variáveis.
A válvula de controle compõe-se basicamente dos três conjuntos principais: o atuador, o
corpo e o castelo.
O atuador é o responsável pelo movimento da parte móvel de uma válvula para abri-la
ou fechá-la, de forma total ou parcial, tendo a finalidade de localizar com precisão o seu
obturador (parte móvel) em uma posição estabelecida pelo sinal de controle recebido. O
controlador, por sua vez, processa esse sinal e envia uma ação (sinal) de controle para o
atuador da válvula, «dizendo» para ela fechar um pouco – ficar, por exemplo, com 10% de
sua abertura. Então, o atuador interpreta esse comando e desloca a parte móvel para que
a abertura desejada seja alcançada.
O corpo é a parte da válvula conectada à tubulação e que possui o orifício (variável) por
onde o fluido passa. No corpo, estão incluídas a sede, o obturador, a haste, a guia da haste,
o engaxetamento e a selagem de vedação. 
O castelo é a parte que liga o atuador da válvula ao corpo. Pode-se afirmar que o castelo
serve como base para a montagem do atuador. Além disso, em alguns casos, o castelo
serve como uma “tampa” para fechar a abertura do corpo da válvula, ou seja, o castelo
pode fornecer a principal abertura para que se tenha acesso às partes internas do corpo.
Assim, em casos de manutenção dessas válvulas, é necessário remover o castelo para ter
acesso à sede e ao obturador da válvula.

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REFERÊNCIAS

BEGA, E. A. (Org.). Instrumentação industrial. 3. ed. Rio de Janeiro (RJ): Interciência,


2011. xxv, 668 p.
Direct Industry. Disponível: https://www.directindustry.es/prod/yokogawa-europe/
product-19033-1158015.html. Acesso em: 13 set. 2022.
FIALHO, A. B. Instrumentação industrial: conceitos, aplicações e análises. 6. ed. São Paulo
(SP): Érica, 2007. 278 p.
IMD – Instituto Metrópole Digital. Automação Industrial. Material Didático – Cursos/
Disciplina. Natal (RN), s.d. Disponível em: https://materialpublic.imd.ufrn.br/curso/
disciplina/1/52. Acesso em: 23 ago. 2022.
ISA - International Society of Automation. ISA S5.1, Instrumentation Symbols and
Identification (Símbolos de instrumentação e identificação). ISA Standards, Research
Triangle, NC/USA, 2009.
ISA – International Society of Automation. ISA S5.3, Graphic Symbols for Distributed
Control/Shared Display Instrumentation, Logic and Computer Systems (Símbolos gráficos
para controle distribuído/instrumentação de exibição compartilhada, lógica e sistemas de
computador). ISA Standards, Research Triangle, NC/USA, 1983.
Merito comercial. Disponível: https://www.meritocomercial.com.br/pressostato-danfoss-
0-a-8-bar-kpi-35-4001001008821-p1032597 Acesso em: 13 set. 2022.
OLIVEIRA, M. T. Glossário de Instrumentação industrial. Rio de Janeiro (RJ): SENAI/DN,
2005. 49 p.
SAMAR Technology Company. Disponível: https://www.smar.com/pt/produto/fy302-
posicionador-de-valvula-fieldbus-foundation. Acesso em: 13 set. 2022.
SENAI. Departamento Nacional. Fundamentos da Instrumentação. Brasília (DF): SENAI/
DN, 2021. 470 p.
SENAI. Departamento Nacional. Instrumentação e controle. Brasília (DF): SENAI/DN,
2012. 235 p.

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