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Universidade do Sul de Santa Catarina

Tópicos de
Física Moderna

UnisulVirtual
Palhoça, 2016
Créditos

Universidade do Sul de Santa Catarina – Unisul


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Kelser de Souza Kock

Tópicos de
Física Moderna

Livro didático

Designer instrucional
Rafael da Cunha Lara

UnisulVirtual
Palhoça, 2016
Copyright © Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida por
UnisulVirtual 2016 qualquer meio sem a prévia autorização desta instituição.

Livro Didático

Professor conteudista Revisor(a)


Kelser de Souza Kock B2B

Designer instrucional ISBN


Rafael da Cunha Lara 978-85-506-0072-7

Projeto gráfico e capa e-ISBN


Equipe UnisulVirtual 978-85-506-0071-0

Diagramador(a)
Fernanda Fernandes

K81
Kock, Kelser de Souza
Tópicos de física moderna : livro didático / Kelser de Souza Kock ;
design instrucional Rafael da Cunha Lara. – Palhoça : UnisulVirtual, 2016.
164 p. : il. ; 28 cm.

Inclui bibliografia.
ISBN 978-85-506-0072-7
e-ISBN 978-85-506-0071-0

1. Física moderna. I. Lara, Rafael da Cunha. II. Título.

CDD (21. ed.) 539

Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Universitária da Unisul


Sumário

Introdução | 7

Capítulo 1
Surgimento de uma nova Física | 9

Capítulo 2
Relatividade | 39

Capítulo 3
A era quântica | 73

Capítulo 4
Modelos atômicos e o átomo de Bohr | 93

Capítulo 5
O mundo ondulatório e a incerteza | 125

Considerações Finais | 157

Referências | 159

Sobre o Professor Conteudista | 163


Introdução

Prezado estudante,

Neste livro, estão elencados os conteúdos que inauguraram o surgimento


da Física moderna. Em essência, os tópicos discutidos contemplam a
relatividade restrita e a tradicional teoria atômica. No entanto, a consolidação
destes conceitos foi resultante de uma enorme atividade científica envolta por
controvérsias ocorridas no final do século XIX e início do século XX.

Para essa jornada, o conteúdo do livro foi organizado de modo que o estudante
perceba e compreenda as principais dificuldades encontradas pelos físicos em
não conseguir obter respostas a alguns problemas por meio da Física clássica.

Dessa forma, no Capítulo 1, apresentamos as inconsistências teórico-


experimentais entre a transição da abordagem clássica para a visão quântica-
relativísitica, atentando para as questões cronológicas das descobertas. No
Capítulo 2, discutimos a mudança de conceitos de tempo e espaço, massa e
energia, por meio da introdução da relatividade restrita proposta por Einstein.
No Capítulo 3, destacamos as concepções iniciais da natureza quântica da
matéria, inaugurada por Planck e complementada por vários outros físicos. No
Capítulo 4, fazemos uma retrospectiva nos modelos atômicos, com especial
atenção às propostas de Thomson, Rutherford e Bohr. E, por fim, no Capítulo 5,
descrevemos a natureza ondulatória da matéria proposta por De Broglie e seus
desdobramentos, especificamente a consequência da indeterminação quântica
de Heisenberg. Está fora do escopo deste livro a formulação mais refinada da
teoria quântica, desenvolvida posteriormente à função de onda de Schrödinger
(denominada simplesmente por equação de Schrödinger) e a mecânica matricial
de Heisenberg.

Além disso, é importante comentar que os capítulos apresentam exemplos dos


conteúdos abordados, possibilitando uma melhor compreensão e aplicação dos
conceitos discutidos.

Boa leitura e bons estudos!

Prof. Kelser Kock


Capítulo 1

Surgimento de uma nova Física

Neste capítulo, o estudante terá contato com as ideias preliminares que


provocaram a ruptura com os conceitos clássicos da Física. Por meio de uma
abordagem histórica, procurou-se levantar os principais pontos de inconsistência
teórico-experimental do final do século XIX e início do século XX. Ao final
do capítulo, espera-se que o estudante tenha conhecimento dos principais
problemas que não podiam ser modelados pelos pressupostos da Física clássica.

Seção 1
O otimismo com a Física no século XIX
No final do século XIX, os físicos vivenciavam um otimismo nunca antes imaginado.
O formalismo matemático da mecânica, da termodinâmica e do eletromagnetismo
permitiram uma compreensão mais profunda da natureza, culminando com
importantes aplicações tecnológicas na sociedade. Esse notável sucesso levou os
cientistas a acreditarem que a descrição do universo estivesse completa.

Durante uma palestra, o físico A. A. Michelson declarou que os grandes princípios


físicos já estavam firmemente estabelecidos e as futuras verdades deveriam ser
procuradas na sexta casa decimal. Ainda, nessa mesma perspectiva, há uma
história quase anedótica sobre uma conferência realizada por Lorde Kelvin, em que
ele comentaria que no céu azul da Física clássica existiriam apenas duas nuvens a
serem dirimidas. A parte anedótica é que essas nuvens (ou “nuvenzinhas”, como
o aforismo é repassado) são literalmente os problemas que desencadearam as
grandes áreas da Física moderna: relatividade e física quântica.

9
Capítulo 1

Essa história foi extraída de um trecho do discurso proferido por Kelvin em 1900
e publicada em 1901 no artigo: “Nuvens do século dezenove sobre a teoria
dinâmica do calor e da luz”. A parte que descreve as nuvens é transcrita abaixo:

A beleza e claridade da teoria dinâmica, que coloca calor e luz


como modos de movimento, está presentemente obscurecida por
duas nuvens. I. A primeira apareceu com a teoria ondulatória da
luz, desenvolvida por Fresnel e o Dr. Thomas Young; envolvendo
a questão de como pode a Terra mover-se através de um
sólido elástico, como o é essencialmente o éter luminífero? II. A
segunda é a doutrina de Maxwell-Boltzmann sobre a equipartição
de energia. (SCHULZ, 2007, p. 1).

Na verdade, em nenhum momento, Lorde Kelvin refere-se como “nuvenzinhas”


ou “apenas” em seu artigo. Muito pelo contrário, no restante das 39 páginas
desse trabalho, ele discorre e reconhece as limitações da Física clássica. Então,
essa história não passa de uma versão incorreta do que realmente aconteceu.

No entanto, deixando de lado a conotação anedótica da história, Lorde Kelvin


parece ter antevisto as rachaduras nos alicerces da Física clássica, no que
se refere aos resultados inexplicáveis do experimento de Michelson-Morley e
na incapacidade de descrever o espectro de radiação emitido por um corpo
negro. Além desses dois aspectos que contrariavam a mecânica newtoniana e
as previsões da termodinâmica, outras rupturas com a Física clássica estavam
acontecendo, tais como os fenômenos do raio-X e radioatividade, a quantização
da carga elétrica, o efeito fotoelétrico e os espectros atômicos. Inevitavelmente,
essas descobertas estariam subsidiando uma revisão em todo o conceito de
modelo atômico e, consequentemente, da matéria e radiação.

1.1 Experimento de Michelson-Morley e a ausência do éter


Todas as ondas conhecidas pelos cientistas do século XIX necessitavam de um
meio para se propagarem. As ondas do mar, as vibrações da corda de um violão,
as ondulações da superfície de um tambor e até as oscilações que atravessam
a Terra durante um terremoto são exemplos de ondas que atravessam materiais
quando submetidos a forças variáveis. A velocidade dessas ondas depende das
propriedades do meio, especificamente da densidade e da elasticidade. No caso
de movimento relativo entre a fonte sonora e o observador, utiliza-se a Física do
efeito Doppler para determinação da velocidade da onda.

Nesse contexto, era natural que os cientistas postulassem a existência de


um meio como o éter para permitir a propagação da luz e outras ondas
eletromagnéticas, esperando que o movimento absoluto da Terra em relação ao
éter pudesse ser medido, a despeito do fato de jamais ter sido observado.

10
Tópicos de Física Moderna

Segundo Feynman (2008), Michelson foi o primeiro a perceber que, embora o


efeito da velocidade orbital da Terra , em relação ao “éter”, fosse pequeno
demais quando comparado à velocidade da luz , seria possível mensurá-los
por um processo indireto, usando a interferência de ondas luminosas. Então,
utilizando um interferômetro, Michelson e Morley fizeram várias tentativas para
determinar a velocidade absoluta da Terra por intermédio do “éter” hipotético,
que se supunha permear todo o espaço.

Em 1887, eles realizaram o experimento com maior grau de sofisticação e, para


grande decepção de todos os cientistas, o resultado previsto não ocorreu. O
padrão de interferência demonstrou que a velocidade da Terra em relação ao
“éter” era muito pequeno ou não existia. Ainda se passariam mais 15 anos para
Einstein explicar os resultados negativos deste experimento.

O experimento de Michelson-Morley foi realizado em um aparelho como


demonstrado esquematicamente na Figura 1.1.

Figura 1.1 – Diagrama esquemático do experimento de Michelson-Morley

C C’

L
u

L
Fonte λ B
B’
A E E’

Ondas
Ondas fora
de fase
de fase
Δx

D F D’ F’
Fonte: Feynman (2008, p. 15).

11
Capítulo 1

Esse aparelho contém, essencialmente, uma fonte de luz A, uma lâmina de vidro
parcialmente coberta de prata B e dois espelhos C e E, tudo montado sobre uma
base rígida. Os espelhos são colocados a distâncias iguais em relação a B. A
lâmina de vidro B divide um feixe recebido de luz, e os dois feixes resultantes
continuam em direções mutuamente perpendiculares até os espelhos, nos
quais são refletidos de volta a B. Ao chegarem de volta a B, os dois feixes são
recombinados como dois feixes superpostos, D e F. Se o tempo decorrido
para a luz ir de B a E e voltar a B for o mesmo que de B a C e de volta, os feixes
emergentes D e F estarão em fase e reforçarão um ao outro. Contudo, se os dois
tempos diferirem ligeiramente, os feixes estarão ligeiramente fora de fase. Se o
aparelho estiver “em repouso” no éter, os tempos deveriam ser exatamente iguais,
mas se estiver movendo-se para a direita com uma velocidade , deveria haver
uma diferença nos tempos. Vejamos o porquê.

Primeiro, calcularemos o tempo necessário para a luz ir de B a E e voltar. Digamos


que o tempo para a luz ir da lâmina B até o espelho E seja , e o tempo de
retorno seja . Agora, enquanto a luz está a caminho de B até o espelho, o
aparelho desloca-se uma distância , então, a luz precisa percorrer uma
distância , à velocidade . Podemos, também, expressar essa distância
como , de modo que temos:

(1.1)

(1.1a)

Esse resultado também é óbvio do ponto de vista que a velocidade da luz em


relação ao aparelho é , então o tempo é o comprimento dividido por .

De forma análoga, o tempo pode ser calculado. Durante esse tempo, a lâmina
B avança uma distância , de modo que a distância de retorno da luz é .
Então temos:

(1.2)

. (1.2a)

Então, o tempo total é:

. (1.3)

Por conveniência, em comparações posteriores de tempos, escreveremos isso


como:

. (1.4)

12
Tópicos de Física Moderna

Nosso segundo cálculo, será o tempo , para a luz ir de B até o espelho C. Como
antes, durante o tempo , o espelho move-se para a direita de uma distância
até a posição C’. Ao mesmo tempo, a luz percorre uma distância ao longo da
hipotenusa de um triângulo, que é BC’. Para esse triângulo retângulo, temos:

(1.5)

(1.5a)

. (1.5b)

Para a viagem de volta C’, a distância é a mesma, como pode ser visto pela
simetria da figura. Portanto, o tempo de retorno também é igual, e o tempo total é
. Com uma pequena reorganização da Equação 1.5b, podemos escrever:

. (1.6)

Podemos, agora, comparar os tempos gastos pelos dois feixes de luz. Nas
Expressões 1.4 e 1.6, os numeradores são idênticos e representam o tempo
que decorreria se o aparelho estivesse em repouso. Nos denominadores, o
termo será pequeno, a não ser que seja comparável com o tamanho de
. Os denominadores representam as modificações nos tempos causados pelo
movimento do aparelho. Observe que essas modificações não são iguais: o
tempo para ir até C e voltar é um pouco menor do que o tempo para ir até E e
voltar, embora os espelhos estejam equidistantes de B.

Ao realizarem o experimento, Michelson e Morley orientaram o aparelho de modo


que a linha BE estivesse quase paralela ao movimento da Terra em sua órbita.
Essa velocidade orbital é de aproximadamente e qualquer “corrente
do éter” deveria ter essa velocidade, com pequenas variações durante o ano.
O aparelho era muito sensível para observar um efeito dessa magnitude, mas
nenhuma diferença no deslocamento das franjas de interferência foi detectada.
A velocidade da Terra através do éter não pôde ser mensurada. O resultado do
experimento foi nulo.

Exemplo 1.1: calcule o desvio esperado das franjas de interferência para a luz
de sódio , considerando que o braço do interferômetro possui .
Sugestão: utilize a diferença de tempo para o feixe de luz ir e voltar entre B e C e entre
BeE . Então, obtenha e aplique na expressão .

13
Capítulo 1

Solução:

Fazendo a aproximação , temos:

Logo, .

Como a distância é de ida e volta do feixe de luz, utilizamos o comprimento total .

Esse valor é muito pequeno, correspondendo a um deslocamento de da


largura de uma franja.

O resultado do experimento de Michelson-Morley foi muito intrigante e


perturbador para a maioria. A primeira ideia frutífera para achar uma saída para
o impasse veio de Lorentz. Ele sugeriu que os corpos materiais contraem-se
quando se movem, e que essa redução é apenas na direção do movimento.
Tomando como o comprimento do corpo em repouso, então se ele mover-se a
uma velocidade paralela ao comprimento, o novo comprimento será:

. (1.7)

Quando essa modificação é aplicada ao interferômetro de Michelson-Morley, a


distância de B para C não se altera, mas a distância de B para E encurta-se em
. Portanto, a Equação 1.6 não se altera, mas o da Equação 1.4 deve
ser modificado de acordo com a Equação 1.7. Quando isso é feito, obtemos:

(1.8)
.

Comparando este resultado com a Equação 1.6, vemos que . Então, se


o aparelho encolhe da maneira descrita, temos uma forma de entender por que o
experimento de Michelson-Morley não mostra nenhum efeito. Embora a hipótese
de contração explicasse com sucesso o resultado negativo do experimento,
estava sujeita à objeção de que foi inventada com o propósito de explicar a
dificuldade e que era artificial demais.

14
Tópicos de Física Moderna

A Equação 1.7 advém das transformadas de Lorentz, que serão discutidas com
mais detalhes no Capítulo 2. De qualquer forma, quando são realizadas estas
transformações de coordenadas, a mecânica e o eletromagnetismo harmonizam-se.

Foi somente em 1905 que Einstein, por intermédio de seu artigo “A


eletrodinâmica dos corpos em movimento”, demonstrou uma base teórica
profunda para a compreensão desse fenômeno. É importante ressaltar que a
teoria da relatividade espacial proposta neste trabalho, não foi uma resposta ao
resultado nulo obtido no experimento de Michelson-Morley, mas, sim, fruto de
anos de reflexão sobre a luz e o movimento. Nesse contexto, Einstein percebeu
que as equações de Maxwell acerca do eletromagnetismo estavam corretas, no
entanto, as concepções de tempo de espaço da mecânica newtoniana é que
necessitavam de uma mudança radical. Veremos esses assuntos com mais
profundidade no Capítulo 2.

1.2 Espectro de radiação do corpo negro


Outro dos grandes problemas do final do século XIX era a compreensão dos
fundamentos da emissão de luz de um corpo aquecido. Em baixas temperaturas,
os corpos emitem apenas radiação infravermelha ou térmica, invisível aos nossos
olhos. No entanto, quando a temperatura aumenta, o objeto passa a emitir luz
vermelha, passando por laranja, branca e, até mesmo, azul.

Do ponto de vista clássico, a radiação térmica origina-se de partículas carregadas


aceleradas que estão próximas da superfície do corpo. As cargas agitadas
termicamente podem ter uma distribuição de acelerações, o que explicaria o
espetro contínuo da radiação emitida pelo corpo. Entretanto, nessa época, era
evidente que essa explicação não era adequada. O problema básico consistia
na distribuição de comprimentos de onda observada na radiação emitida por
um corpo ideal, chamado corpo negro. Um corpo negro é um sistema ideal que
absorve toda a radiação incidente sobre ele. Uma boa aproximação para um
corpo negro é um pequeno furo que leva ao interior de um corpo oco. A natureza
da radiação emitida pelo buraco depende apenas da temperatura das paredes da
cavidade, conforme mostra a Figura 1.2.

15
Capítulo 1

Figura 1.2 – Corpo negro ideal

Fonte: Adaptado de Johnson (2012).

A distribuição dos comprimentos de onda da radiação e a potência irradiada de


um corpo negro foram extensivamente estudadas na parte final do século XIX.

Em 1879, Josef Stefan descobriu uma relação empírica entre a potência por
unidade de área irradiada por um corpo negro e a temperatura. Após cinco anos,
Ludwig Boltzmann chegou ao mesmo resultado a partir das leis da termodinâmica
clássica e, por isso, essa relação ficou conhecida como lei de Stefan-Boltzmann.

Em 1893, Wilhelm Wien descobriu uma propriedade interessante nas curvas


obtidas plotando a potência por unidade de área irradiada e o comprimento de
onda. Esse resultado, conhecido como lei do deslocamento de Wien, demonstrou
que o comprimento de onda para o qual a radiação é máxima varia inversamente
com a temperatura.

Essas duas características são explicitadas a seguir.

Característica 1: lei de Stefan-Boltzmann


A potência total da radiação emitida aumenta com a temperatura. Graficamente,
esta pode ser ilustrada pela área sob a curva que relaciona emitância espectral
pelo comprimento de onda, como pode ser visto na Figura 1.3. Algebricamente, é
descrita pela Equação 1.9:

. (1.9)
Aqui, é a potência irradiada por unidade de área, é a constante de Stefan-
Boltzmann e vale e é a temperatura absoluta.

16
Tópicos de Física Moderna

Característica 2: lei do deslocamento de Wien


O pico da distribuição dos comprimentos de onda desloca-se para os
comprimentos de onda menores à medida que a temperatura eleva-se. A Figura 1.3
apresenta esse comportamento. Algebricamente, é equacionado da seguinte forma:

. (1.10)
Neste caso, é a o comprimento de onda de pico e é a temperatura absoluta.

Figura 1.3 – Função da distribuição espectral para várias temperaturas

Fonte: Elaboração do autor (2016).

Exemplo 1.2: a temperatura na superfície do sol é de, aproximadamente, e


as medidas da distribuição espectral da luz solar mostram que o astro comporta-
se como um corpo negro, a não ser para comprimentos de onda muito pequenos.
Supondo que o sol seja um corpo negro ideal, calcule o comprimento de onda
para a intensidade máxima de radiação.

Solução:

Observe que esse comprimento de onda está quase no centro do espectro visível.

A potência de radiação solar por unidade de área que chega à superfície da Terra.

17
Capítulo 1

Dados: raio do sol e distância sol-Terra .

Calculando a potência absoluta do sol, temos:

Agora, podemos obter a radiação que chega à Terra:

No entanto, as tentativas de utilizar as ideias clássicas para explicar as formas


das curvas da Figura 1.3 falharam. As mais famosas são as equações de Wien e a
equação de Raylegh-Jeans. A primeira, descrevia o comportamento experimental
somente para pequenos comprimentos de onda, enquanto aquela, conhecida
como “catástrofe do ultravioleta”, concordava apenas nos grandes comprimentos
de onda e, no limite dos pequenos comprimentos de onda, a emitância
espectral tenderia ao infinito. Experimentalmente, seria o mesmo dizer que um
corpo quando aquecido a altas temperaturas seria invisível aos nossos olhos.
Obviamente, esse resultado não conciliava teoria e experimentação.

Em 1900, o físico Max Planck anunciou que, depois de elaborar algumas


hipóteses pouco comuns, havia conseguido obter uma função que estava de
acordo com os resultados experimentais. Classicamente, sabia-se que as ondas
eletromagnéticas são produzidas por osciladores harmônicos na superfície
do corpo negro, relacionados às cargas dentro das moléculas. Planck, então,
depois de realizar a interpolação dos dados e obter a curva experimental, partiu
para a derivação teórica. Sua grande suposição para conciliar teoria e realidade
foi introduzir a ideia da energia do oscilador quantizada, ou seja, podendo ter
somente certos valores de energia.

A importância desse fato na história da Física será comentada posteriormente na


seção 2. Neste momento, podemos adiantar que o trabalho de Planck deu origem
à constante universal que leva o seu nome, cujo valor é .O
aprofundamento matemático será retomado no Capítulo 3.

18
Tópicos de Física Moderna

1.3 Raios X e radioatividade


O físico alemão Wilhelm K. Roentgen descobriu os raios-X em 1895 quando
trabalhava com um tubo de raios catódicos, que pode ser visto na Figura 1.4. O
cientista observou que os “raios” produzidos no ponto em que os raios catódicos
(elétrons) atingiam o tubo de vidro, ou um alvo instalado no interior do mesmo,
podiam atravessar objetos opacos e excitar uma tela fluorescente ou um filme
fotográfico. Roentgen investigou exaustivamente o fenômeno e descobriu que
todos os materiais, em maior ou menor grau, eram transparentes a esses raios
e que a transparência era inversamente proporcional à densidade do material.
Essa observação fez com que os raios X começassem a ser usados na medicina
alguns meses após a publicação do primeiro artigo de Roentgen.

Figura 1.4 – Esquema do dispositivo para produção de raios X

Cátodo
quente Ânodo
Fonte de + -
tensão para
aquecimento
-
Feixe de
raios X

Tensão de aceleração V
Fonte: Sears (2008, p. 199).

Roentgen observou que os raios recém-descobertos não eram afetados pela


presença de um campo magnético e não conseguiu observar os fenômenos
de refração e interferência normalmente associados a ondas. Por essa razão,
batizou-os com o nome enigmático de raios X. Como a teoria eletromagnética
clássica prevê que toda carga elétrica produz ondas eletromagnéticas ao
ser acelerada ou freada, era natural supor que os raios X fossem ondas
eletromagnéticas produzidas por elétrons ao chocarem-se com o alvo. Este tipo
de radiação é chamado de bremsstrahlung, uma palavra que significa radiação de
frenagem em alemão.

No entanto, antes da descoberta fortuita de Roentgen, muitos físicos estavam


realizando experimentos com tubo de raios catódicos, mas não perceberam
o aparecimento dos raios X. Parece que a perspicácia, sutileza e intuição de
Roentgen levaram-no a essa descoberta.

19
Capítulo 1

Em 1838, Faraday realizou vários experimentos com descargas elétricas em


gases rarefeitos, iniciando o estudo dos raios catódicos. Devido a dificuldades
técnicas, esse tema foi retomado somente vinte anos depois, em 1858, por
Julius Plücker. A curiosidade e o interesse fenomenológico desses raios fizeram
com que vários cientistas passassem a estudá-lo. O alemão Eugen Goldstein,
em 1876, cunhou o termo “raios catódicos”, e interpretou que esses raios eram
ondas no éter. Já o inglês, William Crookes, na mesma época, acreditava que
eles eram moléculas carregadas, as quais constituíam o quarto estado da matéria.
Essa denominação é usada até hoje quando nos referimos ao plasma, que é
exatamente o que se tem quando é produzida uma descarga elétrica em um gás
rarefeito. Somente em 1897, o enigma dos raios catódicos foi descoberto por
Thomson. Esse tema será abordado mais adiante.

Durante essa época, muitos cientistas “tropeçaram” nos raios X, mas não o
encontraram. Goldstein e Thomson perceberam o fenômeno de fluorescência
próximo ao dispositivo de raios catódicos. Todavia, Philipp Lenard, em 1894, foi
o cientista que mais próximo chegou dos raios X. Este observou que os raios
sensibilizavam chapas fotográficas, descarregavam discos metálicos carregados
e apenas uma porção dos raios defletiam no campo magnético. Provavelmente,
estava identificando propriedades dos raios catódicos (elétrons) e raios X.

No final do século XIX, a confusão entre raios catódicos e raios X era comum,
mesmo entre os cientistas. A grande questão referia-se à natureza da radiação.
Como será apresentado posteriormente, a descoberta do elétron por Thomson foi
realizada somente dois anos depois dos raios X. Por esse motivo, na escola inglesa,
acreditava-se que os raios X eram vibrações transversais no éter, da mesma forma
que a luz. Já a escola alemã, ponderava que eles eram vibrações longitudinais do
éter. No entanto, uma das unanimidades era o tamanho do comprimento de onda
que parecia ser da ordem de , devido ao alargamento do feixe de raios X ao
passar por uma fenda de milésimos de milímetros.

De fato, em 1905, quando Einstein propôs a ideia do fóton, um conceito que admitia
um caráter corpuscular para a luz para explicar o efeito fotoelétrico, foi possível
calcular o menor comprimento de onda associado aos raios X. Equacionando
a energia cinética do elétron acelerado, como o módulo da carga do elétron
multiplicado pela diferença de potencial , obtém-se a energia do fóton emitido,
explicitado pelo produto da constante de Planck e velocidade da luz , dividido
pelo menor comprimento de onda , conforme demonstrado na Equação 1.11.

. (1.11)

Para mensuração experimental, somente em 1912, W. L. Bragg propôs um


método simples e conveniente para analisar a difração dos raios X pelos cristais e
verificar seu comprimento de onda e o padrão de estruturas cristalinas.

20
Tópicos de Física Moderna

Exemplo 1.3: qual a diferença de potencial necessária para produzir raios X com
comprimento de onda mínimo de ? Dados: carga do elétron ,
constante de Planck , velocidade da luz .

Solução:

A descoberta da radioatividade natural por Antoine Henri Becquerel, em 1896, foi


influenciada, de certa forma, por Roentgen e pela efervescência científica gerada
pela descoberta dos raios X. Becquerel verificou que sais de urânio ficavam
fluorescentes quando expostos ao sol ou quando expostos à luz ultravioleta.
Então, imaginou que esses sais poderiam conter os famosos raios X. Para
verificar sua hipótese, envolveu uma chapa fotográfica com papel preto e, sobre o
papel, os sais de urânio. Após exposição ao sol, percebeu que o filme fotográfico
estava velado. Aparentemente, concluiu que o sal de urânio emitia raios X quando
se apresentava ao sol.

Em seguida, vieram alguns dias nublados e Becquerel não pôde continuar as


experiências. Suas chapas fotográficas e seus cristais permaneciam na gaveta.
Resolveu, então, revelar os filmes. Talvez persistisse um pouco da fluorescência
original, ou ainda, houvesse um ligeiro velamento, embora os cristais não
estivessem expostos à luz do sol há vários dias.

Para seu espanto, ele verificou que os filmes estavam mais enegrecidos do que
nunca. Percebeu que não havia necessidade de expor os cristais à luz do sol,
pois os sais de urânio emitiam radiação constantemente, e esta parecia ser mais
penetrante do que a dos raios X.

Para mostrar que a radiação provinha do próprio urânio, Becquerel trabalhou


com muitos sais deste elemento. Tudo demonstrava que as radiações
eram proporcionais à concentração de urânio. Verificou, ainda, que essa
proporcionalidade permanecia inalterada por meio de variações de temperatura,
campos elétricos e campos magnéticos, pressão e até do estado químico.

Entre os cientistas que mais interessaram-se por essa descoberta, destacou-se o


casal Curie: Pierre e Marie. Estes preocuparam-se em verificar se outros elementos
emitiam esses raios, cuja denominação “radioatividade” foi dada pela própria Marie
Curie. O casal investigou dois minérios: Calcolita e Pechblenda da Bohemia.

21
Capítulo 1

Verificou-se que a Pechblenda (composta de urânio, bismuto, bário e chumbo)


emitia muito mais radiação do que o urânio puro. A única hipótese possível era
que na Pechblenda houvesse outro elemento, desconhecido até então, com o
poder de emissão de raios superior ao do urânio.

O casal Curie dedicou-se à separação dessa misteriosa substância radioativa


e, para tanto, trabalhou em condições precárias durante mais de dois anos,
tendo analisado algumas toneladas desse minério. Finalmente, em junho de
1898, obtiveram uma pequena quantidade de um composto radioativo que foi
denominado polônio. Além do polônio, descobriram e separaram, em dezembro
de 1898, outra substância ainda mais radioativa, a qual levou o nome de radium.

Entre os anos 1900 e 1903, Ernest Rutherford descobriu radiações de


duas espécies diferentes, denominadas , . A primeira, positivamente
carregada, produzia muita ionização, mas era facilmente absorvida. A segunda,
negativamente carregada, produzia menor ionização e tinha maior poder de
penetração. Um terceiro tipo de radiação, denominada , foi descoberta em 1900,
por Paul Urich Villard, e tinha um alto poder de penetração. Rutherford, ainda,
desenvolveu a teoria da desintegração atômica dos elementos, demonstrando
que a emissão de radiação por uma substância radioativa não era constante,
mas diminuía exponencialmente com o tempo. Essa variação exponencial com
o tempo é característica dos fenômenos que envolvem radioatividade e indica
que se trata de um processo estatístico. Nesse caso, o número de núcleos que

decaem em um intervalo de tempo é proporcional ao número de núcleos

presente. A constante de proporcionalidade é denominada de constante de


decaimento, conforme demonstra a Equação 1.12):

. (1.12)

É importante ressaltar que os fenômenos dos raios X e da radioatividade não


podiam ser explicados pelo modelo de Dalton, que era o modelo atômico vigente.

Exemplo 1.4: a partir da Expressão 1.12, obtenha uma solução que relaciona o
número de núcleos com o tempo de meia-vida , que é definido como o tempo
necessário para que o número de núcleos radioativos reduza-se à metade do
valor inicial.

Solução:

22
Tópicos de Física Moderna

Em , o número de núcleos é . Assim:

No tempo de , , logo:

Substituindo , obtemos:

1.4 Quantização da carga elétrica


As primeiras estimativas da ordem de grandeza das cargas elétricas associadas
aos átomos foram feitas a partir da lei de Faraday para a eletrólise. Um dos seus
campos de estudos foi a condução da eletricidade em soluções fracamente
condutoras. A descoberta de que a mesma quantidade de eletricidade , hoje
denominada faraday, é igual a, aproximadamente, e sempre decompõe 1
peso iônico-grama (ou seja, um número de Avogrado de íons monovalentes),
o que levou à conclusão de que todos os íons monovalentes possuem a mesma
carga elétrica , portanto:

. (1.13)

No entanto, apesar da facilidade da mensuração da constante , o valor de


e o valor de não podiam ser avaliados com os recursos disponíveis no início do
século XIX. Mesmo assim, parecia lógico que a carga elétrica, como a matéria,
não fosse contínua e, sim, formada por partículas com certa carga mínima. Em
1874, George Johnstone Stoney utilizou uma estimativa de , obtida a partir
da teoria cinética dos gases, para estimar o valor de em , isso usando
a Equação 1.3. Stoney foi o primeiro cientista a utilizar o termo elétron para a
quantidade de carga fundamental.

Em 1896, Pieter Zeeman obteve as primeiras provas da existência de partículas


atômicas com uma relação definida entre a carga e a massa, observando as
linhas espectrais emitidas por átomos na presença de um campo magnético. A
temática das linhas espectrais será discutida com mais detalhes no próximo
tópico. De qualquer forma, Zeeman descobriu que as linhas espectrais
desdobravam-se em três linhas muito próximas, de frequências ligeiramente
diferentes, quando os átomos eram submetidos a campos magnéticos. Em

23
Capítulo 1

homenagem ao pesquisador, esse efeito é denominado efeito Zeeman. De acordo


com a teoria eletromagnética clássica, essas diferenças de frequência entre as
linhas espectrais estão relacionadas à razão entre carga e massa das cargas
oscilantes responsáveis pelas emissões.

A partir da medida do desdobramento das linhas espectrais, Zeeman encontrou


um valor de para , razoavelmente próximo do valor atualmente
adotado, . Além disso, estudando a polarização das linhas
espectrais, Zeeman chegou à conclusão de que as partículas responsáveis pela
emissão de luz possuíam carga negativa.

No ano seguinte ao trabalho de Zeeman, J. J. Thomson mediu o valor de


para os chamados raios catódicos e observou que, se a carga das partículas
contidas nesses raios fosse igual à carga mínima estimada por Stoney, a massa
seria apenas uma fração da massa do hidrogênio. Dois anos antes, J. Perrin havia
recolhido raios catódicos em um eletrômetro e observado que eram compostos
por partículas de carga elétrica negativa. Assim, ao medir o valor de das
partículas responsáveis pelos raios catódicos, Thomson havia, na verdade,
descoberto o elétron. Este momento foi o início do desvelamento de um novo
modelo de estrutura atômica.

Thomson realizou dois experimentos para mensuração da relação do elétron.


O primeiro, mais simples, utilizando um tubo de raios catódicos acelerou elétrons
por uma diferença de potencial nos polos CA, passando pelos colimadores AB, os
quais excitam um ponto do vidro na outra extremidade do tubo. O feixe eletrônico é
defletido por um campo magnético DE, conforme representa a figura a seguir.

Figura 1.5 – Tubo usado por J.J. Thomson para medir e / m

D
– C
A B E

Fonte: Tipler e Llewellyn (2010, p. 74).

24
Tópicos de Física Moderna

Nessas condições, a trajetória das partículas é circular e seu raio pode ser
obtido igualando a força centrípeta à força magnética:

. (1.14)

Na qual é a velocidade da partícula.

Além do raio da trajetória, Thomson mediu, com um eletrômetro, a carga total


das partículas e, com um calorímetro, a sua energia cinética total . Então, se
for o número de partículas, temos:

(1.15)
e

(1.16)
.

Manipulando as Equações 1.14, 1.15 e 1.16, pode-se chegar facilmente a:

. (1.17)

No segundo experimento, um pouco mais confiável, conhecido como


experimento de J. J. Thomson, o cientista adicionou um campo elétrico
perpendicular ao campo magnético demonstrado na Figura 1.5. Dessa forma, os
valores dos campos poderiam ser ajustados de tal maneira que a força elétrica
fosse equilibrada pela força magnética para determinação da velocidade do feixe.

(1.18)

(1.18a)

Em seguida, Thomson desligou o campo magnético e mediu a deflexão


a partir de equações da cinemática explicadas na Figura 1.6. Pode-
se perceber que , pois no trajeto , o movimento é uniformemente
acelerado e no trajeto , o movimento é uniforme, logo . A partir
dessas deduções, Thomson obteve a relação ou melhor .

25
Capítulo 1

Figura 1.6 – Deflexão dos elétrons no tubo de raios catódicos

Δy D

+ +
– Δy L

+ –

L D
Fonte: Betz (s./d., p. 1).

É importante salientar que o experimento foi realizado utilizando gases diferentes


no interior do tubo e catodos feitos de diferentes metais, sendo obtido o mesmo
valor (dentro do limite dos erros experimentais). Esse fato levou Thomson a
concluir que as mesmas partículas estavam presentes em todas as substâncias.
A concordância dos resultados com os obtidos por Zeeman o permitiu conjecturar
que essas partículas tinham uma unidade de carga negativa, uma massa,
aproximadamente, 2000 vezes menor do que a do átomo mais leve, e eram parte
integrante de todos os átomos.

Exemplo 1.5: demonstre a relação obtida por Thomson. Conforme o aparato

experimental, a velocidade horizontal é . Logo, os tempos nos trajetos e

são, respectivamente e .

Para o deslocamento vertical , calculamos separadamente as componentes


e , pois no trecho o movimento é uniformemente acelerado pelo campo
elétrico e no trecho o movimento é uniforme.

Para o trajeto , o elétron está sujeito a uma força elétrica , assim a

aceleração é . Logo, o desvio é .

No trajeto , o elétron saindo do trecho possui velocidade vertical de

. Logo, o deslocamento vertical é .

26
Tópicos de Física Moderna

Dessa forma, o deslocamento vertical total é .

Assumindo os valores de e para equilibrar o feixe de


elétrons e as distâncias e produzindo um deslocamento vertical
de , o valor de obtido por Thomson foi:

Entretanto, foi somente em 1909 que foi conseguido determinar de forma


experimental a carga e a massa do elétron separadamente. Para isso, seria
necessário utilizar outras forças, além da força eletromagnética. A força peso e
a força de arraste, aplicadas em objetos maiores do que as partículas dos raios
catódicos, seriam necessárias para realização da medida.

A partir da ideia de Thomson, desenvolvida por seu aluno J. S. E. Towsend,


observava-se uma nuvem pequena (mas visível) de gotas de água de tamanhos
semelhantes, cada uma com uma carga elétrica , enquanto caíam por ação da
força da gravidade. A carga total da nuvem era medida de acordo com a Equação
1.15, bem como a massa da nuvem e o raio de uma gota isolada. Uma vez
conhecido o raio das gotas, poder-se-ia determinar o número total de gotas na
nuvem e, portanto, o valor de .

Todavia, devido a problemas técnicos relacionados à velocidade de evaporação


e à quantidade de carga elétrica de cada gota, o experimento não foi bem
sucedido. Coube, então, a Robert Andrews Millikan aprimorar o equipamento e o
método proposto por Thomson. Aplicando um campo elétrico mais intenso, que
se alternava por alguns segundos, e utilizando gotas de óleo, Millikan observou
que era possível gotas isoladas ficarem suspensas em um campo elétrico vertical,
deslocando-se subitamente para cima ou para baixo, por haverem adquirido uma
carga elétrica positiva ou negativa pelo atrito ao serem borrifadas no ar seco,
conforme representa a Figura 1.7.

27
Capítulo 1

Figura 1.7 – Dispositivo utilizado por Milikan em seus experimentos

Fonte: Tipler e Llewellyn (2010, p. 75).

Por meio de uma série de experimentos com esse dispositivo, Millikan


demonstrou que as cargas sempre ocorriam em múltiplos inteiros de uma
unidade elementar com uma precisão de 1 parte em 1000. O valor estimado foi
de , muito próximo ao atualmente aceito de .

1.5 Linhas espectrais e o modelo atômico de Bohr


Dentre os inúmeros experimentos realizados por Newton, merece destaque o
pioneirismo na dispersão da luz por meio da espectroscopia, entre os anos de
1670 e 1672. Na ilustração clássica demonstrada na Figura 1.8, Isaac Newton
incide um feixe de luz sob o prisma que refrata e decompõe a luz solar em uma
série de faixas coloridas.

Figura 1.8 – Dispersão da luz por Isaac Newton

Fonte: Rede do Saber Físico (2011, p. 1).

28
Tópicos de Física Moderna

Após 150 anos, Joseph Von Fraunhofer transformou a espectroscopia de


uma arte qualitativa em uma ciência quantitativa. Aprimorando prismas
e desenvolvendo redes de difração, descobriu que o espectro solar era
interrompido por mais de 600 linhas escuras e diferia dos espectros de Sirius e
outras estrelas, fundando a espectroscopia estelar.

Outros cientistas observaram linhas claras no espectro da luz emitida por chamas,
arcos e centelhas. Estava ficando claro que os espectros de emissão dos
elementos podiam ser divididos em três categorias.

•• Espectros contínuos: emitidos principalmente por sólidos


incandescentes, não apresentam linhas, nem claras ou escuras, tal
qual o radiação emitida pelo corpo negro, descrita acima.
•• Espectros de bandas: grupos de linhas muito próximas umas das
outras. São emitidos quando pedaços de substâncias sólidas são
colocados em uma chama ou submetidos a descargas elétricas.
•• Espectros de linhas: são característicos de átomos isolados. Tanto
os espectros de bandas como os de linhas variam de substância
para substância.

No início do século XIX, a existência de espectros de bandas e linhas constituía um


enorme problema teórico para a Física clássica, que era incapaz de explicar sua
origem. No final desse século e início do século XX, o estudo das linhas espectrais
permitiu associá-las a um novo modelo atômico. Vejamos como isso aconteceu.

Nessa época, sabia-se que as linhas espectrais estavam relacionadas às


substâncias analisadas. Após os trabalhos de Fraunhofer, em 1856, o químico
alemão Robert Wilhelm Bunsen inventou o bico de gás que leva o seu nome, cuja
vantagem era a de ter chama incolor. Quando um elemento químico era colocado
sobre a chama, as cores emitidas eram as da substância, e não a da chama.

Trabalhando no laboratório com Bunsen, o físico Gustav Robert Kirchhoff


formulou as leis da espectroscopia, em 1860. De acordo com o cientista, temos
as seguintes definições:

•• Espectro contínuo: corpos quentes e opacos, sólido, líquido ou gasoso.


•• Espectro de emissão: gás transparente que produz um espectro de
linhas brilhantes. O número e a posição das linhas dependem dos
elementos químicos presentes no gás.
•• Espectro de absorção: passagem do espectro contínuo por um gás
à temperatura mais baixa. O gás frio causa a presença de linhas
escuras. O número e a posição das linhas dependem dos elementos
químicos presentes no gás.

29
Capítulo 1

A figura a seguir demonstra as leis de Kirchhoff para a espectroscopia.

Figura 1.9 – Leis de Kirchhoff para a espectroscopia

Fonte: Oliveira Filho e Saraiva (2015, p. 1).

Um passo muito importante para a compreensão das linhas espectrais e do átomo


foi dado por Johann Balmer, em 1885. Professor de matemática do ensino médio
na Suíça, Balmer descobriu que as linhas do espectro hidrogênio nas regiões da luz
visível e do ultravioleta próximo podiam ser calculadas pela fórmula empírica:

(1.18)
.

Na qual é um número inteiro que pode assumir os valores 3,4,5,...

Esse conjunto de linhas do espectro do hidrogênio ficou conhecido como série


de Balmer. O espectro visível do hidrogênio e de alguns elementos químicos pode
ser observado na Figura 1.10.

Figura 1.10 – Linhas espectrais do hidrogênio e outros elementos

Fonte: Observatório Nacional (2013, p. 1).

30
Tópicos de Física Moderna

Esse padrão encontrado por Balmer sugeriu sua fórmula de uma expressão mais
geral, que poderia ser usada para prever os espectros de outros elementos. Uma
expressão como essa foi descoberta independentemente por J. R. Rydberg e W.
Ritz, e é, por isso, chamada de fórmula de Rydberg-Ritz. O comprimento de onda
é dado por:

para . (1.19)

Na qual e são números inteiros e , a constante de Rydberg para o


hidrogênio vale .

Essas expressões empíricas foram usadas para prever linhas que ainda não
tinham sido observadas, tais como as linhas do hidrogênio fora do espectro
visível. Entretanto, foi somente em 1913 que o físico dinamarquês Niels H. D.
Bohr propôs um modelo para o átomo de hidrogênio combinando os trabalhos
de Planck, Einstein e Rutherford. Por meio de alguns postulados inovadores,
seu modelo permitia prever, com notável precisão, as linhas do espectro do
hidrogênio. Este tema será retomado no Capítulo 4.

Exemplo 1.6: calcule o maior e menor comprimento da série de Balmer.

Para a série de Balmer, . Então, o maior comprimento de onda pode ser


obtido fazendo .

Solução:

Para obter o menor comprimento de onda, fazemos .

31
Capítulo 1

1.6 Efeito fotoelétrico


Uma das grandes ironias da história da ciência foi realizada por Heinrich
Hertz, em 1887. No famoso experimento que Hertz produziu e detectou ondas
eletromagnéticas, confirmando, assim, a teoria ondulatória da luz de Maxwell, no
qual foi observado também, pela primeira vez, o efeito fotoelétrico, que levou
diretamente à descrição da luz em termos de partículas.

Utilizando um circuito sintonizado com um centelhador para gerar ondas e


um circuito semelhante para detectá-las, Hertz observou, acidentalmente, que
quando a luz proveniente do centelhador do transmissor deixava de incidir no
centelhador do receptor, era necessário reduzir a distância entre os eletrodos
do segundo centelhador para continuar recebendo os sinais. A luz, portanto,
facilitava a produção de centelhas.

Um pouco antes, em 1883, Thomas Edison descobriu a emissão termoiônica, na


qual a energia, para superar a barreira potencial, é fornecida pelo aquecimento
do material até uma temperatura elevada, liberando, dessa maneira, elétrons de
modo análogo à ebulição de um líquido.

No entanto, a investigação em detalhes do efeito fotoelétrico foi realizada pelos


físicos alemães Wilhelm Hallwachs e Philipp Lenard. Em 1900, estes descobriram
que as partículas emitidas apresentavam a mesma razão carga-massa da mesma
ordem que a observada nos raios catódicos estudados por Thomson. Em outras
palavras, as partículas eram elétrons.

Descreveremos esse efeito com base em um dispositivo mais moderno, chamado


fototubo ou válvula fotoelétrica, representado pela Figura 1.11. Os eletrodos
condutores – a anodo e o catodo – encontram-se no interior de um tubo de
vidro, no qual existe o vácuo. A bateria ou qualquer outra fonte de diferença de
potencial cria um campo elétrico orientado do anodo para o catodo. O feixe de
luz incidente sobre a superfície do catodo e produz uma corrente no circuito
externo. Esta é medida pelo galvanômetro (G). Hallwachs e Lenard estudaram
de que modo essa fotocorrente varia com a voltagem, com a frequência e com a
intensidade da luz.

32
Tópicos de Física Moderna

Figura 1.11 – Demonstração do efeito fotoelétrico

Fonte: Sears e Zemansky (2008, p. 182).

Entretanto, os resultados obtidos pelos cientistas foram bastante inesperados e


não podiam ser explicados pela Física clássica. A seguir, enumeramos algumas
características da previsão teórica e o comportamento experimental do efeito
fotoelétrico.

Característica 1 – A dependência da energia cinética dos fotoelétrons para a


intensidade luminosa.
Previsão clássica: os elétrons devem absorver energia continuamente das ondas
eletromagnéticas. Uma luz mais intensa deve transferir energia mais rapidamente
para o metal e os elétrons devem ser ejetados com mais energia cinética.

Resultado experimental: a energia cinética máxima dos fotoelétrons é


independente da intensidade da luz.

Característica 2 – O tempo entre a incidência da luz e a ejeção dos fotoelétrons.


Previsão clássica: para uma luz muito fraca, deve ocorrer um intervalo de tempo
mensurável entre a incidência da luz e a ejeção de um elétron. Esse tempo é
necessário para o elétron absorver a radiação incidente antes de adquirir energia
suficiente para escapar do material.

33
Capítulo 1

Resultado experimental: elétrons são emitidos a partir da superfície quase


instantaneamente (menos de após a superfície ser iluminada), mesmo a
intensidades luminosas muito baixas.

Característica 3 – A dependência da ejeção dos elétrons para a frequência da luz.


Previsão clássica: elétrons devem ser ejetados a qualquer frequência da luz
incidente, desde que a intensidade seja alta o suficiente, pois a energia está
sendo transferida ao metal independentemente da frequência.

Resultado experimental: não há elétrons emitidos se a frequência da luz


incidente está abaixo de certa frequência de corte, que é característica do
material que está sendo iluminado. Não há elétrons ejetados abaixo dessa
frequência de corte, independentemente da intensidade da luz.

Característica 4 – A dependência da energia cinética dos fotoelétrons para a


frequência da luz.
Previsão clássica: nenhuma relação deve existir entre a frequência da luz e
a energia cinética do elétron. A energia cinética deve estar relacionada com a
intensidade da luz.

Resultado experimental: a energia cinética máxima dos fotoelétrons aumenta


com o aumento da frequência da luz.

A análise correta do efeito fotoelétrico foi feita por Albert Einstein em 1905.
Desenvolvendo uma hipótese apresentada cinco anos antes por Max Planck,
Einstein postulou que um feixe de luz era constituído por pequenos pacotes de
energia, chamados fótons ou quanta. A energia de um fóton é igual à constante
de Planck vezes a frequência . De acordo com a relação para ondas
eletromagnéticas no vácuo, temos a energia de um fóton:

. (1.20)

Com esta hipótese, Einstein admitia que o fóton transferiria energia para o elétron
em um processo do tipo tudo ou nada. E quando essa energia é maior do que
a função do trabalho , característica do metal, o elétron poderia escapar do
material. Essa ideia será melhor desenvolvida no Capítulo 3.

34
Tópicos de Física Moderna

Exemplo 1.7: de acordo com a teoria clássica, qual deveria ser o tempo de
retardo para a emissão de elétrons em um catodo de potássio sob
a incidência de uma luz de intensidade e de comprimento de
onda de . Considere a área de um átomo com raio .

Solução:

A energia que incide no átomo é:

Fazendo essa energia igual à função trabalho do potássio, em que


, temos:

Seção 2
Marco inicial da Física moderna
Apesar do aspecto revolucionário da relatividade propondo a mudança da
concepção de tempo e espaço, massa e energia, os historiadores atribuem a
origem da física moderna ao ano de 1900, relacionada ao descobrimento da
constante universal associada ao mundo atômico, a constante de Planck .

Como discutido anteriormente, o corpo teórico das descobertas experimentais


do final do século XIX estava defasado e não podia explicar satisfatoriamente
os acontecimentos ocorridos na Física dessa época. A visão do mundo clássico
precisava de mudanças para compreender a nova Física que emergia. Mesmo,
Planck, o fundador desse movimento, descreve em uma carta a R. W. Wood,
31 anos após sua descoberta, que seu postulado foi “um ato de desespero”,
dizendo ainda:

Há mais de seis anos (desde 1894) que vinha lutando com o


problema do equilíbrio da matéria e da radiação sem sucesso.
Sabia que se tratava de um problema de significado fundamental
para a Física; conhecia a fórmula que reproduz a distribuição

35
Capítulo 1

de energia no espectro normal; impunha-se encontrar, custasse


o que custasse, e não importa a que preço, uma interpretação
teórica para a mesma. Para tanto, estava disposto a sacrificar
qualquer das minhas convicções científicas, exceto os dois
Princípios Fundamentais da Termodinâmica. Ao ver que a
hipótese dos quanta de energia satisfazia a interpretação que
buscava, dei-lhe o tratamento que precisava, considerando-a,
todavia, como uma hipótese puramente formal, sem lhe dar outra
importância que não fosse a de ser a chave dessa interpretação.
(COSTA, 2000, p. 187).

Inicialmente, Planck obteve a equação por meio da interpolação de resultados


experimentais. Em sua opinião, tratava-se de uma equação que não só explicava
satisfatoriamente os dados então conhecidos, mas decorria de um tratamento
estatístico aplicado ao cálculo do aumento da entropia em um sistema formado
por osciladores em um campo estacionário de radiação, e tinha, ainda, a seu
favor o fato de ser a equação mais simples possível. A expressão que Planck
desenvolveu, relacionando a emitância espectral em função do comprimento de
onda é apresentada assim:

(1.21)

na qual e são constantes e é a temperatura absoluta.

Planck, então, justificando sua abordagem prática, considerou uma onda


eletromagnética de frequência irradiada da superfície de um sólido por um
grupo de átomos oscilando com a mesma frequência, supondo que cada um
deles, na sua oscilação, não poderia ter qualquer energia arbitrária, mas somente
uma energia , em que fosse um número inteiro positivo, , a frequência
do oscilador e , uma constante a ser determinada. Esta é a hipótese dos quanta
de Planck. Utilizando valores experimentais de estudos do espectro energético de
alguns sistemas radiativos, o próprio Planck calculou o valor da constante que
ficaria na história com o seu nome, a constante de Planck.

No entanto, uma explicação mais conceitual sobre a hipótese de Planck foi dada
por Einstein em 1905. Conforme Einstein, ao postular o caráter corpuscular da luz,
propôs que a hipótese dos quanta estendia-se à partícula de luz e não apenas
aos osciladores, como havia demonstrado Planck, em seu ato de desespero.

36
Tópicos de Física Moderna

Seção 3
Limites da Física clássica e abrangência da
Física moderna
Como foi demonstrado ao decorrer deste capítulo, a Física moderna inicia-se
no século XX e abrange a relatividade e a mecânica quântica. No entanto, é
importante ressaltar que a física clássica não está defasada ou ultrapassada.
Apenas os limites de abrangência da Física clássica tiveram que ser reformulados,
pois não explicavam alguns fenômenos naturais que estavam sendo descobertos.

Esse momento histórico é descrito por Thomas Kuhn como um período de


ruptura ou anomalia da ciência normal. Assim, como o fracasso do paradigma
ptolomaico (modelo geocêntrico) e emergência do paradigma copernicano
(modelo heliocêntrico) no fim do século XVI, ou na substituição do paradigma
flogístico (Teoria do Flogisto) pelo paradigma de Lavoisier (teoria sobre a
combustão do oxigênio), no final do século XVIII.

Thomas Kuhn, físico e historiador, descreve que a ciência segue um modelo


de desenvolvimento: uma sequência de períodos de ciência normal, nos quais
a comunidade de pesquisadores adere a um paradigma, interrompido por
revoluções científicas (ciência extraordinária). Os episódios extraordinários são
marcados por anomalias ou crises no paradigma dominante, culminando com sua
ruptura (OSTERMAN, 1996).

A revolução científica da Física moderna refere-se à mudança de paradigma


nos conceitos de tempo e espaço, massa e energia, apresentados na
relatividade. Especificamente, houve uma mudança na concepção newtoniana
do espaço absoluto tridimensional e tempo contínuo. Agora, tempo e espaço
estão entrelaçados e nada pode movimentar-se mais rápido do que a luz. Na
proximidade da velocidade da luz, há uma distorção do tempo e espaço. Assim,
em altas velocidades, é necessário utilizar a mecânica relativística, mas, no
limite de baixas velocidades, ela é equivalente à Física newtoniana. Essa é a
relatividade restrita. Uma ampliação da dinâmica einsteiniana para referencias
não-inerciais é a relatividade geral. Segundo esta concepção, objetivos massivos
também alteram o espaço-tempo, distorcendo-o. Além disso, os princípios da
conservação da massa e energia que eram separados, agora estão unificados.

No que se refere à revolução gerada pela Física quântica, destacamos a


compreensão e o desvelamento do mundo atômico. A realidade na esfera
microscópica não é contínua, mas, sim, quantizada. Dessa forma, no limite
do muito pequeno, a Física clássica não pode ser aplicada, sendo necessária
a discretização inerente aos átomos e níveis de energia. Outros aspectos
interessantes da Física quântica são a sua natureza probabilística, apresentada

37
Capítulo 1

por seu caráter de indeterminação, e a dualidade onda-partícula, destacada


pelo conceito complementar de matéria e radiação. No mundo quântico, o
determinismo da Física clássica não pode ser aplicado, não pela incapacidade
experimental, mas porque a natureza nesse nível comporta-se dessa maneira.

38
Capítulo 2

Relatividade

Neste capítulo, o estudante será introduzido aos postulados da relatividade


restrita de Einstein, bem como seus desdobramentos. Serão abordadas as
implicações desses conceitos na cinemática e dinâmica relativística que, apesar
de não serem intuitivos, formalizaram a compatibilidade entre a mecânica e o
eletromagnetismo. Ao final, espera-se que o aluno possua habilidades básicas na
compreensão e dedução dos fenômenos relativísticos.

Para tanto, inicialmente, voltaremos ao ano de 1905, que foi designado o annus
mirabilis – em latim, ano miraculoso, admirável – de Einstein. Entre março e
setembro daquele ano, Einstein produziu cinco trabalhos extraordinários, que
mudariam a face da Ciência moderna e que o tornariam o cientista mais famoso
do século passado. Abaixo, descrevemos brevemente a temática de cada um
destes 5 artigos.

1. “Sobre um ponto de vista heurístico concernente à geração e


transformação da luz”: formulação da lei do efeito fotoelétrico,
fazendo uso da constante de Planck para definir o quantum de
energia do fóton, uma partícula associada à luz.
2. “Sobre uma nova determinação das dimensões moleculares”:
tratava da determinação do tamanho exato de átomos a partir da
difusão e da viscosidade em soluções diluídas de substâncias neutras.
3. “Sobre o movimento de partículas suspensas em fluidos em
repouso, como postulado pela teoria molecular do calor”:
apresentava o movimento Browniano, descrito pela primeira vez em
1828, pelo botânico Robert Brown ao observar que o movimento
aleatório do pólen na água.
4. “Sobre a eletrodinâmica dos corpos em movimento”: conforme
Einstein, este “esboço” contém o primeiro trabalho sobre a teoria
da relatividade restrita, usando uma modificação da teoria do
espaço e tempo.

39
Capítulo 2

5. “A inércia de um corpo depende da sua energia?”: proposta da


famosa equação . De acordo com Einstein, o princípio da
relatividade em conjunção com as equações de Maxwell, requer que
a massa seja uma medida direta da energia contida em um corpo.

Neste capítulo, desenvolveremos os principais conceitos dos dois últimos artigos,


relacionados à relatividade.

Seção 1
Teoria da relatividade restrita
A teoria da relatividade é composta por duas teorias com escopos de
abrangência diferentes, a teoria restrita e a geral. A teoria da relatividade restrita
trata da comparação entre os movimentos observados em diferentes referenciais
inerciais, ou seja, que se deslocam com velocidade constante uns em relação
aos outros. A teoria da relatividade geral, formulada posteriormente ao ano
miraculoso de Einstein, em 1916, como um desdobramento da teoria restrita,
trata de referenciais acelerados ou não-inerciais e dos efeitos da gravidade. Este
livro discutirá apenas a teoria da relatividade restrita ou especial. Noções da
relatividade geral serão apresentadas superficialmente no final deste capítulo.

Iniciaremos nossa discussão sobre o conceito de referenciais inerciais e a


invariância das leis físicas neste referencial.

1.1 Invariâncias das leis físicas


Por definição, um referencial é inercial se nele vale a lei da inércia, ou seja,
quando um objeto não sujeito a forças permanece em repouso ou em movimento
retilíneo uniforme. Além disso, apresenta a propriedade de ser invariante,
conservando a mesma forma em qualquer referencial que esteja movendo-se
com velocidade constante em relação a esse referencial, desde que inercial. Em
um referencial não inercial, existe um força externa atuando, consequentemente
surgem forças fictícias ou pseudoforças dentro deste referencial. A Figura 2.1
ilustra o contraste entre esses dois referenciais, demonstrando que em (a) e (b),
o referencial é inercial, pois em (a) S’ está em repouso em relação à S, e em (b) S’
está em movimento uniforme em relação à S. Contudo, em (c), o referencial é não
inercial, pois S’ está acelerado em relação a S. Assim, para S, existe uma tensão
na corda na componente horizontal porque o referencial está acelerado, mas,
para S’ a bola está em repouso e existe uma pseudoforça no sentido de –x.

40
Tópicos de Física Moderna

Figura 2.1 – Referencial inercial e não inercial

Fonte: Tipler e Llewellyn (2010, p. 4).

Dessa forma, todo referencial que se move com velocidade constante em relação
a um referencial inercial é um referencial inercial. As leis de Newton têm a mesma
forma com qualquer referencial inercial, o que significa que são invariantes em
relação à transformação de Galileu.

A transformação das coordenadas de posição e das componentes de velocidade


do referencial S para o referencial S’ é chamada de transformada de Galileu. A
Figura 2.2 apresenta o sistema S’, que se desloca com velocidade ao longo
do eixo em relação ao sistema S. As origens O e O’ coincidem no instante
.

Figura 2.2 – Posição de uma partícula P em S e S’

y y’
S x’ S’
x
P

y y’
O x O’ x’
vt
Fonte: Sears e Zemansky (2008, p. 144).

De acordo com a Figura 2.2, extrapolando a descrição do movimento da partícula


P em S’ para S em três dimensões, temos a transformação galileana:

(2.1)

41
Capítulo 2

Tomando a derivada temporal das Expressões 2.1, temos:

(2.2)

em que é a velocidade da partícula no referencial S’ e é a velocidade da


partícula no referencial S.

Observe que as velocidades na direção e são iguais em ambos os referenciais,


pois, neste caso, o movimento de S’ acontece somente em . Essa é a
transformação galileana para as velocidades.

É importante salientar que nesse tipo de referencial, as leis básicas da dinâmica


não se alteram, confirmando a invariância. Fazendo novamente a derivada

temporal, nas Equações 2.2, observe que , obtemos:

(2.3)

em que é a aceleração da partícula no referencial S’ e é a velocidade da


partícula no referencial S. Como e , então . Assim, decorre
o princípio da relatividade da mecânica, devido a Galileu: é impossível detectar
um movimento retilíneo uniforme de um referencial em relação a outro por
qualquer efeito sobre as leis da dinâmica.

1.2 Velocidade da luz


Em 1860, James Clerk Maxwell descobriu que as leis empíricas da eletricidade
e do magnetismo podiam ser resumidas em um sistema de quatro equações
matemáticas, que mais tarde vieram a ser conhecidas como equações de Maxwell.

No entanto, ao contrário das leis de Newton as equações e Maxwell não


são invariantes em relação à transformação de Galileu entre referenciais
inerciais. Uma das consequências das equações de Maxwell é a existência
de ondas eletromagnéticas cuja velocidade possui um valor bem definido,
, onde é a permeabilidade magnética no vácuo e
é a permissividade elétrica no vácuo. Ainda, os resultados experimentais
demonstravam que a luz propagava-se com a velocidade . Todavia, de acordo
com a relatividade galileana, se imaginarmos uma nave com velocidade em
relação à Terra, a qual dispara um laser com velocidade , a velocidade do
laser em relação à Terra seria , o que contraria a previsão da velocidade
da luz prevista pelas equações de Maxwell.

42
Tópicos de Física Moderna

Outro ponto importante nessa história foi o experimento de Michelson-Morley,


cuja intenção era provar a hipótese de que a luz necessitava de um meio material
para se propagar, o éter. Como apresentado no Capítulo 1, a presença do
éter não foi confirmada. Assim, em um contexto mais amplo, com base nesse
e em outros experimentos, devemos concluir que as equações de Maxwell
estão corretas e que a velocidade das ondas eletromagnéticas é a mesma em
todos os referenciais inerciais, independentemente do movimento da fonte em
relação ao observador. Essa invariância da velocidade da luz para os referenciais
inerciais significa que deve haver algum princípio de relatividade que se aplique
tanto à mecânica quanto ao eletromagnetismo. Como vimos anteriormente, a
transformação galileana não está correta neste caso. A dedução teórica dessa
nova transformação foi um dos aspectos fundamentais da teoria da relatividade
restrita ou especial de Einstein.

1.3 Postulados de Einstein


Uma das consequências do princípio da relatividade é que não existe nenhum
experimento capaz de detectar o movimento absoluto. Assim, o resultado nulo
da experiência de Michelson-Morley está de acordo com a teoria de Einstein.
Entretanto, é preciso ressaltar que o princípio da relatividade não foi desenvolvido
para explicar esse experimento, mas, sim, por considerações a respeito da teoria
da eletricidade e do magnetismo.

Conta a história que uma das primeiras vezes que Einstein fez seus experimentos
mentais foi com a idade de 16 anos. Naquela ocasião, ele imaginou como seria
viajar tão rápido a ponto de atingir a velocidade da luz. Se viajasse ao lado dela
observaria esse raio de luz como um campo eletromagnético imóvel. Em outras
palavras, a onda pareceria estacionária. Porém, isso não era possível de acordo
com as equações de Maxwell, que descrevem a luz como o movimento e a
oscilação dos campos eletromagnéticos.

De forma que, as hipóteses teóricas de Einstein a respeito da compatibilidade


entre eletromagnetismo e mecânica culminariam com seus princípios da
relatividade restrita, publicado em 1905.

Postulados de Einstein:

1. as leis da física são as mesmas em todos os referenciais inerciais;


2. a velocidade da luz no vácuo tem o mesmo valor qualquer que
seja o movimento da fonte.

43
Capítulo 2

Embora os dois postulados, separadamente, pareçam bastante razoáveis,


muitos dos resultados obtidos quando são aplicados simultaneamente parecem
contrariar o senso comum. Veremos esses resultados nos tópicos a seguir,
apresentando alguns desdobramentos dessa teoria, tais como os conceitos de
simultaneidade, dilatação dos tempos e contração das distâncias.

1.4 Simultaneidade
A medida do tempo e de um intervalo de tempo envolve o conceito de
simultaneidade. Em um dado sistema de referência, um evento é uma ocorrência
caracterizada por valores definidos da posição e do tempo. No entanto, o
problema fundamental na medida de intervalos de tempo é que, quando dois
eventos ocorrem simultaneamente em um sistema de referência, eles não
ocorrem simultaneamente em um segundo sistema de referência que se move em
relação ao primeiro, mesmo quando ambos são sistemas de referência inerciais.

A definição da simultaneidade segundo Einstein é a seguinte:

Se um evento 1 ocorre em A no instante t1 , sendo marcado pela emissão de


um sinal luminoso que parte de A nesse instante, e o mesmo vale para B em t2
(evento 2), dizemos que esses dois eventos são simultâneos (t1 = t2) quando o ponto
de encontro dos dois sinais luminosos é o ponto médio do segmento AB.

Essa definição implica, imediatamente, que a simultaneidade de eventos


distantes não tem caráter absoluto: dois eventos simultâneos em um referencial
inercial S podem não ser simultâneos em outro referencial S’ que se move em
relação à S, com movimento retilíneo uniforme.
Isso parece contrário ao senso comum. Para ilustrar esse ponto, vamos fazer
uma das experiências mentais de Einstein, tirando conclusões lógicas a partir
dos pressupostos teóricos. Suponhamos que os dois eventos sejam a queda de
relâmpagos em A e B no referencial S, e que cada um desses pontos coincida
com uma extremidade de um trem A’ e B’ no referencial S’, que se desloca
com velocidade constante em relação ao referencial S dos trilhos, suposto
inercial. Cada relâmpago gera seu próprio sinal luminoso. Se os dois eventos são
simultâneos em S, os dois sinais encontram-se no ponto médio C de AB. Contudo,
esse não é o ponto médio C’ do trem, porque C’, devido ao movimento do trem,
recebe o sinal vindo de A antes de receber aquele originário de B, conforme
mostra a Figura 2.3.

44
Tópicos de Física Moderna

Figura 2.3 – Exemplo da relatividade da simultaneidade

Fonte: Tipler e Llewellyn (2010, p. 11).

Na mecânica newtoniana, a posição de um evento já era um conceito relativo,


dependente do referencial: dois eventos que ocorrem no mesmo ponto do trem S’
em instantes diferentes não ocorrem no mesmo ponto no referencial S dos trilhos.

Entretanto, o instante de ocorrência de um evento era considerado como


caráter absoluto, o mesmo em qualquer referencial, o que também se aplicaria
a simultaneidade de eventos distantes: daí a relação , na transformação de
Galileu. De acordo com Newton em seus Princípios Matemáticos da Filosofia
Natural: “O tempo absoluto, verdadeiro e matemático, por sua própria natureza,
sem relação a nada externo, permanece sempre semelhante e imutável”.

Esse caráter absoluto do tempo na mecânica newtoniana seria justificável se


existissem sinais de velocidade muito grande, ou melhor, instantâneos. Na
prática, é tão grande comparado com velocidades macroscópicas típicas, que a
mecânica newtoniana é, para fins práticos, uma excelente aproximação.

1.5 Dilatação dos tempos


Vamos, agora, explorar as consequências da relatividade do tempo para um
referencial S’ que se move com velocidade , menor do que , em relação ao um
referencial S. Nesta experiência imaginária, Maria, que se desloca com o sistema
S’, mede o intervalo de tempo entre dois eventos que ocorrem em um mesmo
ponto do espaço em relação a ela. O evento 1 é a emissão do pulso de luz no

45
Capítulo 2

ponto O’. O evento 2 é o retorno ao ponto O’, depois que ele é refletido de um
espelho situado a uma distância desse ponto, como indicado na Figura 2.4.

Figura 2.4 – Exemplo da relatividade do tempo

Fonte: Sears e Zemansky (2008, p. 146).

O pulso de luz desloca-se uma distância total de , de modo que esse intervalo
de tempo é:

. (2.4)

João mede um intervalo de tempo diferente para o percurso de ida e volta do


pulso. Em seu sistema de referência S, os dois eventos ocorrem em dois pontos
diferentes do espaço. Durante o intervalo de tempo , a fonte deslocou-se uma
distância em relação a S. No sistema S’, o percurso de ida e volta do pulso
é uma distância perpendicular à velocidade relativa, porém, no sistema S, o
percurso de ida e volta do pulso é uma distância mais longa dada por:

(2.5)
.

Observe que foi considerada a mesma distância para os dois observadores.


Essa hipótese é válida, pois é perpendicular ao movimento e não sofre
influência da relatividade do comprimento. Como a velocidade da luz é a mesma
para os dois observadores, o intervalo de tempo medido em S para o percurso de
ida e volta do pulso é:

(2.6)
.

Para obter uma relação entre e , isolamos (da equação 2.4) e substituímos
como na equação 2.6. Ficando:

(2.7)
.

46
Tópicos de Física Moderna

Após alguma álgebra, chegamos ao resultado:

(2.8)
.

A expressão é menor do que 1, . Assim, João mede um tempo


de ida e volta mais longos para o pulso de luz do que Maria.

Exemplo 2.1: Múons são partículas subatômicas formadas pela interação dos
raios cósmicos com átomos presentes na atmosfera. A maior parte deles são
criados a uma altitude de aproximadamente 15 km possuindo uma velocidade
da ordem de 0,998c. Essa alta velocidade faz com que o seu tempo de vida
no sistema de referência do laboratório seja dilatado, permitindo que a maioria
alcance a superfície da Terra. Calcule o tempo de vida de um múon no referencial
da Terra, sabendo que em seu referencial o tempo de vida é .

Solução:

1.6 Contração das distâncias


Para deduzir uma relação entre as distâncias medidas paralelamente à direção
do movimento em diversos sistemas de referência, vamos considerar outra
experiência imaginária, representada pela Figura 2.5.

Figura 2.5 – Exemplo da relatividade da distância

Fonte: Sears e Zemansky (2008, p. 152).

47
Capítulo 2

Em uma das extremidades de uma régua, colocamos um espelho. A régua está


em repouso no sistema de referência S’, no qual seu comprimento é igual a .
Portanto, o intervalo de tempo , que um pulso de luz leva para ir da fonte até o
espelho e voltar ao ponto inicial é:

. (2.9)

No sistema de referência S, a régua desloca-se da esquerda para a direita com


velocidade durante a propagação do pulso de luz. O comprimento da régua no
sistema de referência S é igual a e o intervalo de tempo que a luz leva para ir da fonte
até o espelho, conforme medido no sistema de referência S, é igual a . Durante esse
intervalo de tempo, a régua, juntamente com a fonte e o espelho, já percorreu .
Portanto, a distância total entre a fonte e o espelho não é , mas sim:

. (2.10)
Como o pulso de luz desloca-se com velocidade , a distância também pode
ser descrita como:

. (2.11)

Substituindo a Equação 2.11 em 2.10, obtemos:

. (2.12)

. (2.12a)

Analogamente, podemos mostrar que o intervalo de tempo , que a luz leva


para voltar do espelho até o ponto de partida é:

. (2.13)

Logo, o intervalo de tempo total , que o pulso de luz leva para ir da


fonte até o espelho e voltar ao ponto inicial é:

(2.14)
.
Combinando a Equação 2.8 com a 2.9 e isolando , obtemos:

(2.15)
.

48
Tópicos de Física Moderna

Finalmente, substituindo , da Equação 2.14, em 2.15, temos:

(2.16)
.

Portanto, o comprimento medido em S, o sistema em que a régua move-se, é


menor do que o comprimento medido no sistema de repouso S’.

Exemplo 2.2: uma espaçonave passa pela Terra em uma velocidade de 0,8c. Um
membro da tripulação da espaçonave verifica que o comprimento da espaçonave
é igual a 400m. Qual é o comprimento da espaçonave medido por um observador
na Terra?

Solução:

1.7 Transformação de Lorentz


Formalizando os conceitos apresentados anteriormente, por meio de experiências
mentais, vamos introduzir as equações que demonstram a relação entre as
coordenadas do espaço-tempo e de um evento em um referencial S e as
coordenadas do espaço-tempo e do mesmo evento em um referencial S’,
que esteja movendo-se com uma velocidade uniforme em relação a S.

É importante destacar que essa transformação foi advinda do resultado negativo


do experimento de Michelson-Morley, descrito no Capítulo 1. Lorentz propôs
em 1892, a partir de uma ideia inicial de Fitzgerald em 1890, a contração do
comprimento por meio de uma modificação nas coordenadas. No entanto, não
havia uma abordagem teórica mais profunda. Somente em 1905, Einstein fez
a conciliação teórica-experimental dessas informações, a partir de conceitos
preliminares de simultaneidade na mecânica clássica por Poincaré.

Inicialmente, vamos mostrar que o termo é igual a um fator ,

necessário para adequar a transformação de Galileu. Assim, introduzindo na


Equação 2.1, temos:

49
Capítulo 2

(2.17)

(2.17a)

Considere, agora, que a partícula P da Figura 2.2 está movimentando-se na


velocidade da luz . Então:

. (2.18)
. (2.18a)

Fazendo (2.18) e (2.18a) em (2.17) e (2.17a), obtemos:

. (2.19)

. (2.19a)

Isolando da Equação 2.19 e substituindo em 2.19a, chegamos em:

. (2.20)

Observe que possui algumas propriedades interessantes. Se ou se a


velocidade da luz for instantânea ( ), a transformação de Lorentz reduz-
se à transformação de Galileu, valendo a mecânica newtoniana. Entretanto, nas
velocidades relativísticas, quando torna-se próximo de , deve ser utilizada a
mecânica einsteiniana. A Figura 2.6 ilustra a relação de em função de .

Figura 2.6 – Gráfico de γ em função de v

5
γ
4

0
0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1

c
Fonte: Elaboração do autor (2016).

50
Tópicos de Física Moderna

Para observar o efeito de e em baixas velocidades, podemos fazer uma


aproximação com a série binomial. Assim:

(2.21)
.

(2.21a)
.

Exemplo 2.3: um avião a jato voa de São Paulo até Dubai (aproximadamente
12.230km) com velocidade constante de 300 m/s. Qual a diferença de tempo
da viagem para um observador no solo e para um observador dentro do avião?
Quantas viagens seriam necessárias para que a diferença seja de 1 segundo?

Solução:

No solo:

Dentro do avião:

Como o termo , fazemos a expansão binomial. Logo:

Assim, fazendo .

Para que , seriam necessárias viagens, ou


melhor, 49 milhões de viagens.

51
Capítulo 2

Continuando a dedução da transformação de Lorentz, além das coordenadas


espaciais, também há uma transformação na coordenada temporal. Substituindo
a Equação 2.17 em 2.17a e 2.17a em 2.17, obtemos:

. (2.22)

. (2.22a)

Isolando , em 2.22, e , como mostra a Equação 2.22a, chegamos em:

. (2.23)

. (2.23a)

Exemplo 2.4: um trem com 900m de comprimento desloca-se em relação à


estação com velocidade de 180 km/h (50 m/s). Dois sinalizadores colocados em
seus extremos emitem feixes luminosos um contra o outro que, segundo um
observador na estação, foram emitidos simultaneamente. Determine o intervalo
de tempo entre dois sinais para um observador no trem.

Solução:

Observe que , pois os feixes luminosos foram simultâneos para


o referencial da estação e , que é o comprimento do trem para o
observador externo. Assim:

Lembrando que e , então,

1.7.1 Transformação relativística das velocidades


Neste momento, fica evidente que não há possibilidade de realizar a
transformação galileana para a velocidade, pois, de acordo com Einstein, a
velocidade da luz é constante e vale para qualquer referencial inercial. Dessa

52
Tópicos de Física Moderna

forma, a mudança de coordenadas em distintos referenciais inerciais na mecânica


relativística exige que o tempo e o espaço sejam modificados.

Por meio da transformação de Lorentz, vamos supor uma partícula movendo-se


em S, com velocidade , com componentes , , . Um
observador em S’ medirá as componentes , , .A
partir das Equações 2.17 e 2.23, temos:

(2.24)

Manipulando as Equações 2.24, obtemos:

(2.25)

A transformação inversa fica da seguinte forma:

(2.26)

53
Capítulo 2

Exemplo 2.5: suponha que as naves X-wing Starfighter e Imperial Lambda-class


Shuttle aproximem-se da nave Imperial Star Destroyer, vindo de sentidos opostos.

As velocidades das naves, medidas no referencial da nave Imperial Star Destroyer,


são e . Qual é a velocidade entre as naves X-wing Starfighter e
Imperial Lambda-class Shuttle? Suponha que a nave X-wing Starfighter dispare
um laser no mesmo sentido de seu movimento, qual é a velocidade do laser em
relação à nave Imperial Lambda-class Shuttle?

Figura 2.7 – Naves espaciais da franquia Star Wars

Fonte: Adaptado pelo autor a partir do banco de imagens Google (2016).

Solução:

Nave Imperial Lambda-class Shuttle em relação à X-wing Starfighter. Nesse caso,


o referencial é e . Logo:

Nave X-wing Starfighter em relação à Imperial Lambda-class Shuttle. Nesse caso,


o referencial é e . Logo:

Naturalmente, as velocidades entre as duas naves são compatíveis.

No caso do disparo do laser, temos e . Assim:

Esse resultado também é obvio, pois de acordo com Einstein, a velocidade da luz
deve ser a mesma em qualquer referencial.

54
Tópicos de Física Moderna

1.8 Diagrama espaço-tempo


Os diagramas espaço-tempo foram desenvolvidos por Herman Minkowski em
1908. Também denominados diagramas de Minkowski, permitem caracterizar,
simultaneamente no mesmo diagrama, um dado acontecimento segundo diferentes
referenciais inerciais. O lugar geométrico das posições ocupadas por uma partícula
no diagrama espaço-tempo é denominado linha do universo da partícula.

Cabe ressaltar que os diagramas espaço-tempo não são imprescindíveis


para o estudo da relatividade, mas constituem-se como mais uma forma de
compreender os aspectos da mecânica relativística.

Em nossa breve apresentação, desprezaremos os eixos e , e consideraremos


o eixo espacial horizontal e o eixo temporal vertical. O eixo do tempo é
multiplicado por para manter a mesma dimensão em ambos os eixos.

Para determinarmos o eixo , fazemos na Equação 2.17. Utilizando


, obtemos . Similarmente, para identificar o eixo , fazemos
na Equação 2.23, assim chegamos em . De forma que , como
demonstrado na Figura 2.8.

Para calibrarmos os eixos e , fazemos e na Equação 2.17. Assim,


obtemos . De forma semelhante, para calibração dos eixos e ,
fazemos e na Equação 2.23, assim, temos .

Figura 2.8 – Diagrama espaço-tempo

ct
ct’

θ
x’

Fonte: Elaboração do autor (2016).

55
Capítulo 2

Exemplo 2.6: paradoxo do carro na garagem. De acordo com os efeitos


relativísticos, qual seria a menor velocidade para colocar um carro de 5 metros de
comprimento em uma garagem de 2,5 metros de com comprimento?

Solução:

Observe que, no referencial da garagem S, e . Assim:

No entanto, o paradoxo surge quando avaliamos o referencial do carro S’, pois


neste caso, ele que está em repouso e a garagem que se move com .
Dessa forma, a garagem tem . Calculando , temos:

O problema desse paradoxo está na não simultaneidade do evento no referencial


S’ do carro. Enquanto que no referencial da garagem S, as extremidades anterior
e posterior do carro atingem simultaneamente as portas da frente e de trás da
garagem, respectivamente, no instante ,
no referencial do carro S’, as extremidades anterior e posterior do carro
atingem as portas da frente e de trás da garagem, respectivamente em
e , como
demonstra o diagrama abaixo.

56
Tópicos de Física Moderna

Figura 2.9 – Representação do problema do paradoxo do carro na garagem

ct ct’
a) b)

5 Extremidade 5
posterior do carro

Extremidade
posterior do carro Extremidade
anterior do carro 2,5

S Carro S’ Carro

x(m) –5 –2,5 0 2,5 x’(m)


–2,5 0 2,5 5
Extremidade
anterior do carro
a) Referencial do garagem S b) Referencial do carro S’

Fonte: Elaboração do autor (2016).

Exemplo 2.7: paradoxo dos gêmeos. O gêmeo A parte em uma nave espacial,
na qual ele viajará a uma velocidade de 0,8c, enquanto o outro, gêmeo B,
permanece em repouso na Terra. Após 10 anos do gêmeo B, que ficou na Terra, o
gêmeo A volta. Quem estará mais novo, o gêmeo A ou o B?

Solução:

Em princípio, poderíamos pensar que, para B, a nave está movendo-se, e, por


conta disso, ele pode afirmar que o tempo está correndo mais lentamente para
seu irmão A que está na nave. Logo:

Assim .

No entanto, de forma análoga, o gêmeo A vê a Terra afastar-se e, da mesma


forma, pode afirmar que o tempo corre mais lentamente para B. O paradoxo
surge dessa questão.

Na verdade, observe que o gêmeo A muda de referencial duas vezes. Inicialmente,


está em repouso, depois, viaja a uma velocidade de 0,9c e, novamente,
permanece em repouso. A simetria acontece somente quando cada gêmeo
estiver no seu referencial inercial.

57
Capítulo 2

Como há uma quebra simetria não é possível fazer essa comparação. Além do
que, para mudança de referencial, é necessária aceleração, que está fora do
escopo da relatividade restrita. Quando é utilizada a relatividade geral, é possível
deduzir corretamente essa experiência mental. De forma que, para simplificar,
pode-se comparar o tempo no referencial inercial da Terra, que foi onde B sempre
esteve e de onde A partiu e chegou, concluindo-se que B é mais velho do que A.

O diagrama espaço-tempo dessa viagem está esquematizado abaixo.

ct

volta

ida

O x

1.9 Efeito Doppler para as ondas eletromagnéticas


Uma consequência adicional importante da cinemática relativística é o efeito
Doppler para as ondas eletromagnéticas. No caso das ondas sonoras, a variação
de frequência é diferente, se é a fonte ou o observador que está movendo-se com
essa velocidade. Essa distinção é possível, porque existe um meio em relação
ao qual podemos medir os movimentos da fonte e do observador. Entretanto,
no caso das ondas eletromagnéticas, que se propagam no vácuo, não há essa
possibilidade. Então, a expressão clássica usada para calcular o efeito Doppler
não pode estar correta para a luz.

Para deduzir a equação do fenômeno, suponha uma fonte de luz que se move
com velocidade em relação a João, que está em repouso em um sistema de
referência inercial, como mostra a figura a seguir.

58
Tópicos de Física Moderna

Figura 2.10 – Efeito Doppler para a luz

Fonte em movimento emote


ondas de frequência f’. Posição da primeira crista
A primeira crista de onda Fonte emite de onda no instante em que
é emitida aqui. segunda crista a segunda crista é emitida.
de onda aqui.

Observador estacionário
detecta ondas de frequência
f > f’.

vT λ João S
cT

Fonte: Adaptado de Sears e Zemansky (2008).

No sistema de referência da fonte de luz, sua frequência é e o período é .


No entanto, no sistema de referência de João, o intervalo , entre duas cristas, não
é o mesmo que o intervalo , do referencial da fonte de luz, pois as distâncias são
diferentes para o referencial de João. Observe que o comprimento de onda é a
diferença de distância entre a primeira e a segunda crista de onda, logo:

. (2.27)

. (2.27a)

Fazendo e isolando , temos:

. (2.28)

Manipulando a Equação 2.8, que descreve o tempo relativístico, temos:

. (2.29)

Igualando as Expressões 2.28 e 2.29 e fazendo , obtemos:

. (2.30)

59
Capítulo 2

Após uma simples manipulação algébrica, chegamos nesta relação entre e :

(2.31)
.

Caso a fonte afaste-se do observador, trocamos o sinal da velocidade na

equação anterior, de modo que .

Exemplo 2.8: quando se observa o espectro da luz proveniente de uma galáxia


distante, onde é possível identificar linhas espectrais características e comparar com
as mesmas linhas em um espectro terrestre, em geral, vê-se que a frequência torna-
se menor e diz-se que houve um desvio para o vermelho. Isso é interpretado como
uma evidência da expansão do universo e foi descoberto pelo astrônomo americano
Hubble, em 1929. Sabendo que o maior comprimento de onda emitido pelo átomo
de hidrogênio na série de Balmer é , mas na luz de uma galáxia distante,
o comprimento de onda dessa mesma linha espectral é , determine a
velocidade com a qual a galáxia está afastando-se da Terra.

Solução:

Inicialmente, vamos deduzir a expressão do efeito Doppler para a velocidade em


função do comprimento de onda. Como a luz está afastando-se, temos:

60
Tópicos de Física Moderna

Fazendo e , temos:

Atribuindo valores ao problema, chegamos a:

Logo, a galáxia está afastando-se a uma velocidade de . Para um cálculo


simplificado, esse resultado está adequado. Todavia, para uma dedução rigorosa,
teríamos que considerar o efeito da gravitação, descrito pela relatividade geral.

1.10 Momento linear relativístico


Dentre os princípios mais importantes da Física clássica estão as leis de
conservação do momento e o da conservação da energia total. A simplicidade e
universalidade dessas leis de conservação levam-nos a buscar equações para a
mecânica relativística, compatíveis com a conservação do momento e da energia
ao mesmo tempo invariantes em relação à transformação de Lorentz.

Dessa forma, o princípio de conservação do momento é aceito como verdadeiro


na teoria da relatividade especial, porém não se pode manter a definição da
mecânica clássica , para o momento de uma partícula de massa e
velocidade em um dado referencial S. A expressão correta para o momento
relativístico é a seguinte:

. (2.32)

Observe que quando , a Expressão 2.32 reduz à equação do momento


linear newtoniano e quando , o momento tende ao infinito. A figura a seguir
demonstra a concordância da mecânica clássica para baixas velocidades, mas
discorda em velocidades próximas de .

61
Capítulo 2

Figura 2.11 – Comparação do momento linear relativístico e clássico

Momento linear relativístico se torna


infinito à medida que v se aproxima de c.

5mc

ACONTECE!
4mc

3mc

2mc
NÃO ACONTECE!

mc

v
O 0,2c 0,4c 0,6c 0,8c c

A mecânica newtoniana prevê erroneamente


que o momento linear se tornaria infinito apenas
se v se tornasse infinito.

Fonte: Sears e Zemansky (2008, p. 162).

1.11 Força e massa relativísticas


Para a definição de força relativística, utilizaremos a expressão clássica para a
força, mas apoiada na equação do momento relativístico. Assim, temos:

. (2.33)

Quando a força resultante e a velocidade estão no mesmo sentido, como no caso


de aceleradores lineares, a Equação 2.33 fornece:

. (2.34)

Explicitando a aceleração da Equação 2.34, obtemos:

. (2.35)

Observe que, à medida em que a velocidade da partícula aumenta, a aceleração


produzida por uma dada força diminui continuamente. Logo, quando , ,
por maior que seja a força aplicada. A figura a seguir ilustra a relação do fator
em função de .

62
Tópicos de Física Moderna

Figura 2.12 – Gráfico de γ–3 em função de v

1
0,9
0,8
0,7

γ –3 0,6
0,5
0,4
0,3
0,2
0,1

0
0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1
c
Fonte: Elaboração do autor (2016).

Portanto, é impossível acelerar uma partícula com massa de repouso diferente de


zero até que ela atinja uma velocidade igual ou superior a . A velocidade da luz
no vácuo é algumas vezes chamada de velocidade limite.

Muitas vezes, a Equação 2.32 para o momento linear relativístico é interpretada


como uma afirmação de que a partícula que se move com velocidade elevada
sofre um aumento de massa. Se a massa para velocidade zero (massa de
repouso) for designada por , então a massa relativística será dada por:

. (2.36)

No entanto, a interpretação da massa relativística não é unanimidade no meio


científico, preferindo-se adotar somente a definição de momento relativístico e
seus desdobramentos. Em uma carta escrita por Einstein a um colega em 1948,
ele comenta:

Não é aconselhável introduzir o conceito de massa relativística mr , para


qual não se pode oferecer nenhuma definição clara. É melhor não introduzir
nenhuma massa além da massa de repouso m . Em vez de introduzir mr , é
melhor mencionar as expressões para o momento e energia de um corpo
em movimento.

Voltando ao equacionamento da força relativística, em algumas situações, como


aceleradores circulares, a força resultante e a velocidade são perpendiculares,
então expressamos como mostra a Equação 2.33.

(2.37)

63
Capítulo 2

1.12 Trabalho e energia relativísticas


Na teoria da relatividade especial, o princípio trabalho-energia é o mesmo
da mecânica clássica, desde que a expressão para a força seja a mesma do
Exemplo 2.33. Logo:

(2.38)

na qual, é a energia cinética e é o trabalho.

Como , substituímos, conforme Exemplo 2.38.

(2.39)

Calculando a integral por meio de mudança de variável, obtemos:

(2.40)
.

A Equação 2.40 é a equação para a energia cinética relativística. Observe que,

quando , . Ela é diferente da expressão newtoniana , que

somente quando , . E não menos importante, quando, ,a


expressão torna-se equivalente a equação clássica para a energia cinética. Tomando
a série binomial para demonstrada em (2.21) e aplicando em (2.40), temos:

(2.41)
.

. (2.41a)

Ainda, é interessante descrever que a Equação 2.40, para a energia cinética,


inclui um termo de energia relacionado ao movimento da partícula e outro
termo que não depende do movimento. Logo, pode ser ponderado que a
energia cinética de uma partícula é a diferença entre uma energia total e uma
energia que existe sempre, mesmo quando o corpo está em repouso. Assim,
podemos reescrever a Equação 2.40 da seguinte forma:

. (2.42)

64
Tópicos de Física Moderna

Para uma partícula em repouso ( ), vemos que . A energia ,


associada à massa de repouso de uma partícula, é chamada de energia de
repouso da partícula.

Historicamente, o princípio da conservação da energia e o princípio da


conservação da massa foram desenvolvidos de forma independente. A teoria
da relatividade mostra que esses dois princípios são casos particulares de um
princípio mais geral, o princípio da conservação massa-energia. A rigor, existem
algumas exceções para a conservação da massa, mas de qualquer forma, esse
princípio pode ser identificado experimentalmente nas reações de fusão e
fissão nuclear, em que a energia é resultante da variação de massa dos núcleos
multiplicado por . Essa energia provém da energia de ligação , necessária
para a estabilidade nuclear.

Exemplo 2.9: calcule a massa de urânio-235 necessária para liberar a mesma


energia produzida pela queima de 1 tonelada de carvão . Utilize a
relação de massa atômica (u) , em que 1 elétron-volt
equivale a . Considere que apenas 1% dos átomos de urânio-235
são fissionados, logo em 1 mol de Urânio-235 são fissionados
átomos. A reação de fissão nuclear do urânio-235 é
demonstrada abaixo.

Figura 2.13 – Reação de fissão do urânio-235

Fonte: Fogaça (2016, p. 1).

65
Capítulo 2

Em que , , , .

Utilizando o princípio da conservação massa-energia, obtemos:

Assim:

Essa energia corresponde a fissão de 1 átomo. Como em , são fissionados


átomos, então em teremos átomos. Logo, a energia de
urânio liberada por kilograma é:

Assim, em comparação com 1 tonelada de carvão, temos:

Podemos, também, relacionar diretamente a energia de uma partícula com seu


momento linear . Para isso, combinamos a Equação 2.32 do momento linear
relativístico e a Equação 2.42 da energia total e eliminamos a velocidade da
partícula. Logo:

. (2.43)

Verificamos novamente que, para uma partícula em repouso ( ), obtemos


. Isso também sugere que uma partícula pode ter energia e momento
linear mesmo quando ela não possui massa de repouso. Fazendo na
Equação 2.43, temos:

. (2.44)

66
Tópicos de Física Moderna

Como exemplo de partículas com e que se deslocam com velocidade ,


podemos citar os fótons. A interpretação do fóton como partícula de luz foi dada
por Einstein na explicação do efeito fotoelétrico.

Exemplo 2.10: a energia total de um elétron produzido em uma certa reação


nuclear é . Determine a velocidade do elétron no referencial do
laboratório. Sendo: massa do elétron e energia de .

Solução:

Fazendo: .

Logo:

Portanto:

1.13 Inércia da radiação eletromagnética


Embora os fótons tenham massa nula, eles transportam inércia. Para demonstrar
esse fato, considere um cilindro oco de comprimento , inicialmente em
repouso. O cilindro emite um pulso de radiação na extremidade A e o absorve
em B, conforme a Figura 2.14. Quando o pulso é emitido em A, o cilindro recua
com velocidade , retornando ao repouso após a absorção da luz em B, tendo
percorrido uma distância . Observe que o momento linear total é conservado,
pois não há forças externas. Consequentemente, apenas o centro do cilindro
movimenta-se e o centro de massa CM do sistema mantém-se fixo.

67
Capítulo 2

Figura 2.14 – Demonstração da inércia da radiação eletromagnética

A x
(a)
CL CM

c v
(b)

B x
(c)
CM CL
d

Fonte: Vieira et al. (2004, p. 1).

Utilizando-se a conservação do momento linear, pode-se demonstrar que:

(2.45)

(2.45a)

em que é o momento do pulso de luz emitido, é a massa do sistema e ,a


massa perdida, em primeira análise, pela emissão da radiação.

Conforme a Figura 2.14, o cilindro recua uma distância igual a em um tempo

, enquanto o pulso de luz percorre uma distância no mesmo tempo , Logo:

. (2.46)

Considerando o CM em e como não há mudança em sua posição, pode-


se deduzir que CL percorre uma distância total , sendo a distância entre CM e
CL igual a . Dessa forma, temos:

(2.47)
.

Logo,

. (2.48)

68
Tópicos de Física Moderna

Isolando e fazendo (a Equação) 2.48 em 2.46, temos:

. (2.49)

Finalmente, substituindo da Equação 2.49 em 2.45a, obtemos:

. (2.50)

Essa é a mesma expressão obtida para a energia de repouso de uma partícula e,


nesse caso, esta apresenta o conteúdo de inércia de um fóton com energia .

A demonstração apresentada não é tão rigorosa porque faz uso do conceito de corpo
rígido, implicando em interações instantâneas, que não são possíveis na relatividade
especial. De qualquer forma, por meio de uma dedução mais rigorosa e não
considerando o cilindro um corpo rígido, pode-se demonstrar a mesma solução.

Retomando a questão da conservação da massa, observa-se que embora o fóton


possua , ele transporta inércia. Assim, seria mais correto utilizar o princípio
da conservação da inércia e não conservação de massa, pois quando um corpo
emite um fóton, ele perde uma energia e perde uma quantidade de massa igual

a . Logo, na relatividade especial, essa inércia deve ser levada em conta no

balanço de massa de qualquer sistema.

Seção 2
Teoria da Relatividade Geral
A generalização da teoria da relatividade para referenciais não inerciais, proposta
por Einstein em 1916, ficou conhecida como Teoria da Relatividade Geral. Sua
formulação está relacionada ao desejo de Einstein de incluir em sua teoria uma
descrição ampla dos fenômenos naturais.

O formalismo matemático da teoria geral é muito mais complexo do que o da


restrita e está fora do escopo deste livro. Vamos demonstrar apenas alguns
pressupostos básicos dessa generalização:

3. Esta teoria baseia-se no princípio da equivalência, ou também


denominado terceiro postulado de Einstein, que pode ser descrito
da seguinte forma: um campo gravitacional homogêneo é equivalente,
sob todos os aspectos, a um referencial uniformemente acelerado.

69
Capítulo 2

Segundo Einstein, essa ideia – a qual o próprio considerava como a mais


fantástica de sua vida – ocorreu-lhe logo após o ano de 1907. A ideia sugere que,
da mesma forma que o campo elétrico gerado pela indução magnética, o campo
gravitacional possui uma existência apenas relativa. Porque, para um observador
que está caindo do telhado de uma casa, não existe (pelo menos em sua
vizinhança imediata) um campo gravitacional. O observador tem, portanto, todo o
direito de imaginar que se encontra em repouso.

Para Newton, a massa inercial era coincidentemente igual à massa gravitacional.


Experimentos recentes mostram que a diferença entre elas é menor do que
uma parte em 10¹². Mas não havia explicação de por que isso acontecia. Para
Einstein, a igualdade entre as massas inercial e gravitacional é uma necessidade,
supondo que não existe nenhum experimento capaz de distinguir o movimento
uniformemente acelerado da presença de um campo gravitacional.

Para ilustrar esse ponto de vista, imagine uma cápsula isolada no espaço, longe
de qualquer concentração de matéria, submetida a uma aceleração constante
e uniforme . Agora, suponha outra cápsula sujeita a uma gravidade .
Perceba que não há possibilidade de distinção dos fenômenos dentro das duas
cápsulas, como mostra a Figura 2.15. Isso significa que é impossível determinar a
aceleração absoluta de um referencial. A aceleração, assim como a velocidade, é
uma grandeza relativa.

Figura 2.15 – Comparação entre aceleração e gravidade em dois referenciais não inerciais

Fonte: Tipler e Llewellyn (2010, p. 61).

A Teoria da Relatividade Geral foi verificada em vários testes experimentais,


inclusive três situações indicadas por Einstein. Uma delas é o problema da
rotação do eixo do planeta Mercúrio em sua órbita elíptica, conhecido como
precessão no periélio. A segunda, é o problema do desvio do raio luminoso
de uma estrela quando a luz passa nas vizinhanças do sol. A terceira, é o

70
Tópicos de Física Moderna

deslocamento para o vermelho gravitacional, o aumento do comprimento de onda


da luz emitida por uma fonte com massa muito elevada.

Para finalizar, embora as teorias da relatividade restrita e geral pareçam estranhas


e com pouca aplicação prática, podemos exemplificar uma situação cotidiana
que utiliza ambas as teorias: o sistema de posicionamento global, ou melhor,
o Global Positioning System (GPS). Para assegurar a correta cronometragem
dos sinais, é necessário incluir correções devido à teoria da relatividade restrita
(porque os satélites estão movimentando-se em relação ao receptor na Terra),
bem como à Teoria da Relatividade Geral (porque os satélites estão em uma
posição mais elevada no campo gravitacional da Terra do que o receptor).
Essas correções são pequenas, mas extremamente importantes para o correto
funcionamento do GPS.

71
Capítulo 3

A era quântica

Neste capítulo, o estudante iniciará o estudo dos fenômenos quânticos. Serão


apresentados e deduzidos os conceitos relacionados à radiação do corpo
negro, ao efeito fotoelétrico e ao espalhamento Compton dos raios X. Ao final do
capítulo, espera-se que o aluno tenha evidenciado os aspectos da quantização
aplicados a esses fenômenos, relacionados à natureza da matéria e radiação do
mundo atômico.

Seção 1
A radiação do corpo negro
Como apresentado no Capítulo 1, a solução do problema do corpo negro
foi o marco inicial para o surgimento da Física moderna. Nesta seção,
demonstraremos a dedução das principais hipóteses para a explicação da
radiação de um corpo negro: a equação de Raylegh-Jeans e a lei de Planck.
Veremos, ainda, que o sucesso da hipótese de Planck ocorreu por meio da
introdução da ideia de quantização.

1.1 Equação de Raylegh-Jeans


Durante a última década do século XIX, foram realizadas muitas tentativas de
deduzir as relações empíricas para a explicação do espectro contínuo de um
corpo negro, a partir de princípios básicos.

Os pressupostos clássicos para a compreensão da radiação térmica partiam da


ideia de que a matéria é composta por partículas carregadas e que a temperatura

73
Capítulo 3

possui relação com a agitação randômica das partículas. Assim, a emissão de


radiação eletromagnética é resultante das cargas em movimento acelerado.

Por meio desse ponto de vista, os físicos Raylegh e Jeans propuseram uma
equação que objetivava adequar os resultados experimentais para a explicação
do comportamento da curva da radiância espectral em função do comprimento
de onda e temperatura.

O cálculo da distribuição espectral de um corpo negro envolve a


determinação da densidade de energia das ondas eletromagnéticas por unidade
de volume . Pode-se demonstrar que:

(3.1)

em que é a velocidade da luz.

Logo, considerando a fração de energia por unidade de volume na faixa de


comprimento de onda entre e , a partir da Figura 3.1, temos:

. (3.2)

A função pode ser calculada classicamente, determinando o número de


modos de oscilação do campo eletromagnético no interior da cavidade do
corpo negro, cujos comprimentos de ondas estão no intervalo de e ,e
multiplicando pela energia média do modo. Assim:

. (3.3)

Para calcular o número de ondas ou a quantidade de modos de oscilação do


campo eletromagnético , é suposto que o campo elétrico anule-se na
parede da cavidade do corpo negro. Analogamente, esse fenômeno pode ser
demonstrado pelo número de harmônicos de uma onda estacionária situada em
um comprimento , conforme a Figura 3.1.

Figura 3.1 – Harmônicos em uma onda estacionária

Fonte: Guedes (2015, p. 1).

74
Tópicos de Física Moderna

De acordo com a Figura 3.1, pode-se deduzir que . Extrapolando para três

dimensões, fazemos o raio de um octante de esfera coincidir com . Assim,

podemos calcular o volume da casca esférica descrito por , como


o número de harmônicos, demonstrado na Figura 3.2.

Figura 3.2 – Casca esférica de um octante

Fonte: Guedes (2015, p. 1).

Logo, obtemos . Considerando dois estados de polarização da

onda eletromagnética, chegamos em . Finalmente, a partir dessa

expressão, dividimos pelo volume e derivamos o número de harmônicos pelo


comprimento de onda . Então:

. (3.4)

. (3.4a)

Para o cálculo da energia média por modo de oscilação, foi utilizada a função
de distribuição clássica da física estatística, a equação de Boltzmann, obtendo
o valor de . No qual é a constante de Boltzmann e é a temperatura, como
demonstrado nos Exemplos 3.5 e 3.5a:

(3.5)

75
Capítulo 3

(3.5a)

Então, fazendo as equações 3.5a e 3.4a em 3.3, obtemos:

. (3.6)

Finalmente, aplicando a Equação 3.6 em 3.2, temos a lei de Raylegh-Jeans:

. (3.7)

Essa expressão ficou conhecida como catástrofe do ultravioleta. Pois, apesar de


concordar com os resultados experimentais para grandes comprimentos de onda,
ela discordava muito na região do visível e ultravioleta. Pela Equação 3.7, pode-se
perceber que quando , . A Figura 3.3 demonstra os resultados
experimentais em comparação com a lei de Raylegh-Jeans.

Figura 3.3 – Resultados experimentais e lei de Raylegh-Jeans para radiância de um corpo negro

Fonte: Elaboração do autor (2016).

Neste momento, é importante comentar que, apesar de muitos livros didáticos


apresentarem a hipótese de Raylegh-Jeans anterior à formulação de Planck, ela
ocorreu paralelamente à publicação de seu trabalho. Como veremos a seguir, a
hipótese de um oscilador quantizado era um tanto ousada para época e, por
isso, mesmo confirmada a equação de Planck, sua justificativa teórica não era
plausível para a Física clássica, fazendo com que os físicos ainda buscassem
outras alternativas para resolver o problema.

76
Tópicos de Física Moderna

1.2 Equação de Planck


Para resolver o problema do corpo negro, Planck propôs uma solução baseada na
interpolação dos dados experimentais. No entanto, enquanto no modelo clássico
a troca de energia entre a radiação e os osciladores nas paredes dá-se de forma
contínua, isto é, qualquer quantidade de energia pode ser absorvida ou emitida,
Planck postulou que a troca seria “quantizada”, assim, um oscilador só poderia
emitir ou absorver energia em múltiplos inteiros de um “quantum de energia”.

Dessa forma, Planck utilizou a mais simples função, na qual a energia era uma
variável discreta e proporcional à frequência da radiação emitida. Assim:

sendo (3.8)

em que é a constante de Planck.

Logo, o cálculo para a energia média é diferente da teoria clássica. Em vez de


utilizar uma integral como na Equação 3.5a, deve-se calcular por meio de um
somatório. Assim, fazendo a Equação 3.8 na Equação 3.5, temos:

(3.9)

Para simplificar, usamos a notação . Logo:

(3.10)
.

Pela série de Taylor, sabemos que . Assim, .

Substituindo na equação acima, obtemos:

(3.12)
.

77
Capítulo 3

Retornando o valor de na Equação 3.12, temos a energia média do oscilador


deduzida por Planck:

(3.13)
.

No mais, a lei de Planck é similar à teoria clássica. Utilizando o mesmo raciocínio


para o número de osciladores , fazemos conforme as Equações 3.13 e 3.4a
em 3.3. Assim:

. (3.14)

Finalizando, de 3.14 em 3.2, obtemos a equação de Planck:

. (3.15)

Essa equação concordava muito bem com os resultados experimentais. Entretanto,


Planck não tinha muita certeza sobre sua hipótese de quantização. Ele imaginava
que ela fosse apenas um artifício de cálculo, e não uma hipótese fundamental.

Apesar disso, sua equação permitia chegar a vários resultados já identificados,


como a lei de Raylegh-Jeans, e as leis de Stefan-Boltzmann e do deslocamento
de Wien, apresentadas no Capítulo 1. Para dedução da lei de Raylegh-Jeans, na
qual há concordância para grandes comprimentos de onda, fazemos a expansão
. Fazendo esta substituição em 3.15, chegamos à Equação 3.7.

Para obtermos a lei de Stefan-Boltzmann, integramos a função de distribuição da


densidade de energia da Equação 3.14 para todos os comprimentos de onda. Assim:

. (3.16)

78
Tópicos de Física Moderna

Fazendo a mudança de variável e derivando, temos que .

Logo, . Substituindo na Equação 3.16:

(3.17)
.

Utilizando o valor adimensional da integral imprópria e fazendo a


Equação 3.17 em3.1, obtemos:

. (3.18)

(3.18a)
.

A Equação 3.18a é a mesma que a Equação 1.4, apresentada no Capítulo 1. E a

constante de Stefan-Boltzmann é .

Exemplo 3.1: obtenha a constante de Stefan-Boltzmann com base nas


constantes fundamentais. Dados: , , ,
.

Solução:

O valor correto é . A pequena diferença foi resultante da


redução dos algarismos significativos das constantes fundamentais.

Exemplo 3.2: emissividade é a razão entre a radiância de um corpo em uma


dada temperatura e a radiância de um corpo negro na mesma temperatura. Assim,
quando o objeto em estudo é um corpo negro ideal . Nas outras situações:
. Considere que o corpo humano possui , temperatura corporal de
e a temperatura ambiente é de . Calcule a
diferença de radiação emitida e absorvida pelo corpo humano nessas temperaturas.

79
Capítulo 3

Solução:

Para a dedução da lei do deslocamento de Wien, derivamos a Equação 3.14 e


igualamos a zero para obtermos o seu máximo. Desse modo:

(3.19)
.

. (3.19a)

. (3.19b)

Fazendo novamente a mudança de variável , obtemos a equação:

. (3.20)

A raiz da Equação 3.20, obtida pelo método das tentativas é igual a com
quatro algarismos significativos. Logo:

. (3.20)

Conforme a Expressão (1.10), apresentada no Capítulo 1, a lei do deslocamento


de Wien resume-se em:

. (3.21)

Exemplo 3.3: obtenha a constante obtida por Wien em sua lei do deslocamento a
partir da Equação 3.21. Dados: , , .

Solução:

80
Tópicos de Física Moderna

O valor correto é . Da mesma forma, a pequena diferença foi


resultante da redução dos algarismos significativos das constantes fundamentais.

Exemplo 3.4: calcule o comprimento de onda para a qual a intensidade


de radiação é máxima emitida pelo corpo humano com temperatura
.

Solução:

Esse comprimento de onda está na faixa do infravermelho.

Para finalizar esta seção, é importante comentar que o fenômeno da quantização


quase passou despercebido pelos cientistas daquela época. Foi somente em
1905 que Einstein usou as mesmas ideias para explicar o efeito fotoelétrico e
sugeriu que, em vez de ser apenas uma propriedade misteriosa dos osciladores
nas paredes das cavidades e da radiação de corpos negros, a quantização era
uma característica fundamental da energia luminosa.

Seção 2
O efeito fotoelétrico
Conforme apresentamos no Capítulo 1, o efeito fotoelétrico não podia ser
explicado pela Física clássica. Para compreender o fenômeno, vamos discutir
brevemente os aspectos experimentais.

Em uma experiência típica, a luz penetra no tubo evacuado por meio de uma
janela de quartzo (transparente à luz ultravioleta). Os elétrons emitidos pelo
catodo são acelerados pela diferença de potencial ajustável . O amperímetro
mede a corrente . A chave de inversão permite aplicar valores negativos de ,
possibilitando frenar os elétrons após a emissão, conforme mostra a Figura 3.4.

81
Capítulo 3

Figura 3.4 – Esquema do efeito fotoelétrico

Fonte: Betz (2010, p. 111).

Para um dado valor de intensidade luminosa , observa-se que a corrente


aumenta com a voltagem, alcançando um valor de saturação. Podemos
interpretar esse resultado como indicando que, se a voltagem for suficiente, até
mesmo aqueles que saem do catodo com pouquíssima energia, conseguem
chegar até o coletor.

Observa-se, também, que, para zerar a corrente, é necessário aplicar uma


voltagem negativa . Nessa situação, nem mesmo os mais energéticos dos
elétrons emitidos conseguem chegar até o coletor. Se denotarmos à energia
cinética máxima dos elétrons ao serem expelidos do material, temos a relação:

. (3.22)

Em que elétron-volt é energia de um elétron (com carga de )


submetido a um tensão de 1 . Logo 1 e1 .

Se aumentarmos a intensidade de luz, sem modificar sua frequência, observamos


que a corrente de saturação aumenta na mesma proporção. Já o valor do
potencial de corte permanece o mesmo apresentado na Figura 3.5A. Esse fato
é surpreendente do ponto de vista das ideias clássicas, pois seria de se esperar
que uma maior intensidade de luz (maior campo eletromagnético) levasse a uma
maior força aplicada a um elétron e, portanto, permitisse uma maior energia final
desse elétron. Também, diferentemente da Física clássica, foi observado que a
energia cinética máxima dos elétrons emitidos aumentava com a frequência da
radiação utilizada, demonstrando que o valor absoluto da tensão de corte
deve ser maior se a frequência for mais alta. E, ainda, deve haver uma frequência
de corte , abaixo do qual não são emitidos elétrons, como mostra a Figura 3.5B.

82
Tópicos de Física Moderna

Figura 3.5 – Fotocorrente i em função da tensão do anodo V no efeito fotoelétrico

Fonte: Tipler e Llewellyn (2010, p. 81).

Outro fato estranho é que não se observa nenhum atraso no estabelecimento da


corrente em relação ao começo da exposição do material à luz, mesmo para luz
de intensidade muito baixa.

Para explicação desse fenômeno, Einstein retoma a visão corpuscular da


radiação. Tomando a proposta de Planck, na qual a onda eletromagnética
assumia valores quantizados nas trocas de energia entre as cargas nas paredes
da cavidade, Einstein interpretou essa hipótese como indicando que a radiação
era composta de pacotes ou quanta de energia, propagando-se como partículas.
Denominadas, posteriormente, como fótons, e a energia de cada corpúsculo é
dada como , tal qual apresentado na Equação 3.8, postulado por Planck,
mas não tão abrangente como demonstrado por Einstein.

Dessa forma, as interações entre radiação e matéria passam a ser consideradas


como processos de emissão e absorção de fótons. Em especial, o efeito
fotoelétrico é interpretado como a absorção de um fóton pela matéria, levando a
ejeção de um elétron. A energia é conservada nesse processo, de maneira que,
se denotarmos por o trabalho necessário para liberar o elétron do material, a
energia cinética máxima do elétron após a ejeção é:

. (3.23)

Em geral, o trabalho não é igual para todos os elétrons. Alguns elétrons estão
mais firmemente ligados ao material do que outros, como pode ser ilustrado pela
Figura 3.6.

83
Capítulo 3

Figura 3.6 – Energia potencial dos elétrons nas proximidades da superfície de um metal

Fonte: Tipler e Llewellyn (2010, p. 81).

Observe que, se o fóton não possui energia suficiente para vencer a função
trabalho, o elétron permanece preso no material. Abaixo, a Tabela 1.1 demonstra
alguns valores típicos da função trabalho.

Tabela 1.1 – Função trabalho para alguns materiais

Elemento Função trabalho

Níquel e Ouro 5,1

Silício 4,8

Alumínio e Prata 4,3

Sódio 2,7

Fonte: Elaboração do autor (2016).

Para exemplificar o fenômeno, plotamos o gráfico, a partir da Equação 3.23,


utilizando a função trabalho dos materiais descritos acima.

84
Tópicos de Física Moderna

Figura 3.7 – Variação da energia cinética máxima dos elétrons com a frequência

Fonte: Elaboração do autor (2016).

Atente para algumas características do gráfico:

•• a inclinação da reta é a constante de Planck ;


•• a tensão de corte para cada material ocorre quando a reta
intercepta o eixo x, ou seja, o efeito fotoelétrico acontece somente a
partir dessa frequência;
•• a função trabalho pode ser identificada na intercepção da reta no
eixo y.

Exemplo 3.5: o comprimento de onda de corte do potássio é . Qual é a


função trabalho do potássio? Qual é o potencial de corte para uma luz incidente
de ? Dados: .

Solução:

Partindo da Expressão 3.23 e fazendo a energia cinética , temos


exatamente a energia necessária para vencer a barreira de potencial, logo .

Para uma luz com , o potencial de corte é:

85
Capítulo 3

Na época que Einstein fez essa previsão, não havia nenhuma comprovação
experimental de que a constante de Planck estivesse relacionada com o efeito
fotoelétrico. Também não havia provas de que o potencial de corte fosse função
da frequência. Experimentos realizados por Millikan em 1914 e 1916 mostraram
que a Equação 3.23 estava correta e o valor de , calculado a partir desses
experimentos, concordou com o valor obtido por Planck.

Ainda, com relação à evidência do efeito fotoelétrico ocorrer quase


instantaneamente, deve-se à energia de cada fóton ser suficiente para ejetar um
elétron. Dessa forma, por essas explicações, em 1921, Einstein foi agraciado com
o Prêmio Nobel “por suas contribuições à Física teórica e, especialmente, por sua
descoberta da lei do efeito fotoelétrico”.

Contudo, desde 1927, sabe-se que o efeito fotoelétrico pode ser explicado
igualmente bem sem a utilização do conceito de fóton! Por meio de leis da Física
quântica e utilizando o conceito clássico de ondas eletromagnéticas, também é
possível demonstrar o efeito. Conforme o próprio Einstein percebeu ao usar no
título de seu artigo a expressão “um ponto de vista heurístico”, a equação do
efeito fotoelétrico (Equação 3.23) não demonstra a existência de fótons, apenas
pode ser interpretada dessa forma.

De qualquer maneira, na próxima seção discutiremos como o conceito de


partícula de luz é imprescindível para explicação do espalhamento do raio X.

Seção 3
Raios X e o efeito Compton
A emissão de raios X é um fenômeno inverso à emissão que ocorre no efeito
fotoelétrico. Na emissão fotoelétrica, há transformação de energia de um fóton na
energia cinética de um elétron. Na produção dos raios X, ocorre a transformação
da energia cinética de um elétron na energia de um fóton (Figura 3.8). As relações
de energia são semelhantes. Na produção dos raios X, geralmente desprezamos
a função trabalho do alvo e a energia cinética do elétron “evaporado” do catodo,
porque essas grandezas são pequenas em comparação com as outras energias.

86
Tópicos de Física Moderna

Figura 3.8 – Diagrama esquemático de um tubo de raios X

Fonte: Tipler e Llewellyn (2010, p. 84).

No entanto, dois processos distintos estão envolvidos na emissão de raios X.


Um deles constitui o espectro contínuo, e resulta da desaceleração do elétron
durante a penetração no anodo. O outro tipo é o raio X, característico do material
do anodo. Assim, cada espectro de raios X é a superposição de um espectro
contínuo e de uma série de linhas espectrais características do anodo, como
demonstrado no espectro do raio X do molibdênio, como ilustra a figura a seguir.

Figura 3.9 – Espectro do raio X do molibdênio

Fonte: Tipler e Llewellyn (2010, p. 86).

87
Capítulo 3

No primeiro processo, a frenagem dos elétrons quando incidem no alvo provoca


uma conversão da energia cinética em um espectro contínuo de fótons X. Esse
processo é chamado de bremsstrahlung (“freio da radiação”, em alemão). É
importante comentar que, pela Física clássica, não há possibilidade de explicar
esse fenômeno. A Equação 1.11, apresentada no Capítulo 1, que é a mesma
para o efeito fotoelétrico, mostra como calcular o fóton mais energético (maior
frequência e menor comprimento de onda), pressupondo que toda a energia
cinética é usada para produzir um fóton.

O segundo processo fornece picos no espectro de raios X para frequências


características e comprimentos de onda que dependem do material do
alvo. Nesse caso, alguns elétrons possuem energia suficiente para excitar as
configurações eletrônicas internas dos átomos do anodo. Ao retornar do estado
excitado, esses átomos emitem raios X. Como o átomo de cada elemento possui
um único conjunto de níveis de energia, o espectro de raios X é característico de
cada elemento. A figura a seguir ilustra a produção de raios X em nível atômico.

Figura 3.10 – Produção de raios X em nível atômico

Fonte: Elaboração do autor (2016).

Dentre as aplicações dos raios X, podemos destacar seu uso na indústria e


na medicina. Pela sua alta capacidade de penetração, são indicados para o
diagnóstico de peças metálicas e anormalidades em tecidos biológicos. Ao
atravessarem a região de interesse, podem sensibilizar chapas fotográficas ou
dispositivos eletrônico-digitais e demonstrar informações sobre as estruturas
avaliadas, conforme uma escala de cinza. Assim, áreas claras podem
corresponder a regiões mais espessas e densas, como o osso, e áreas claras
indicam o oposto, como o pulmão. Ainda, é importante destacar que os fótons X
podem produzir danos aos tecidos biológicos, quebrando ligações moleculares,
dessa forma, alterando o DNA ou produzindo radicais livres. Por esse motivo, a
utilização dos raios X na área médica deve ser criteriosa e monitorada.

88
Tópicos de Física Moderna

Exemplo 3.6: obtenha a equação empírica , que relaciona o

menor comprimento de onda de raios X em função da tensão do tubo. Essa


equação é chamada de regra de Duane-Hunt, e pode ser explicada pelo
fenômeno inverso ao efeito fotoelétrico. Dados: , ,
.

Solução:

Observe que o comprimento de onda de corte corresponde ao fóton com a energia


máxima dos elétrons, ou seja, um fóton é emitido quando o elétron perde toda a
energia cinética em uma só colisão. E como a energia cinética em um tubo de
raios X é muito maior do que a função trabalho , podemos desprezar . Logo:

Esse resultado é idêntico à .

Exemplo 3.7: a tensão de aceleração dos elétrons no tubo de imagem de um


antigo receptor de TV é da ordem de . Qual é o menor comprimento de onda
dos raios X produzidos quando os elétrons se chocam com a tela do aparelho?

Solução:

Como esses raios X possuem um alto poder de penetração, os fabricantes


utilizavam vários tipos de blindagens para proteger os usuários dessa radiação.

Um fenômeno interessante acontece quando os raios X interagem com a matéria,


fornecendo uma confirmação adicional da natureza quântica dos fótons X. Na
colisão, dentre outros efeitos, uma parte da radiação é espalhada, do mesmo
modo que a luz visível sofre reflexão difusa ao incidir sobre uma superfície
rugosa. Entretanto, uma parte da radiação espalhada possui frequência
menor (comprimento de onda maior) do que a radiação incidente. Na escala
macroscópica, isso seria o mesmo que dizer que o reflexo da luz azul é vermelho.
Pela física clássica, a ação do campo eletromagnético incidente provocaria uma

89
Capítulo 3

oscilação nas cargas elétricas que compõem a matéria igual a do campo. Assim,
a radiação espalhada seria da mesma frequência que a incidente.

Esse fenômeno foi denominado espalhamento Compton, explicado inicialmente


por Arthur C. Compton, em 1923. Interpretando o espalhamento em um modelo
corpuscular, propondo a colisão entre os fótons X e uma partícula do material,
haveria transferência de momento do fóton para a partícula atingida. Esta, por
sua vez, ganharia cinética com a colisão e, consequentemente, uma diminuição
de energia do fóton. Em nível ondulatório, ocorreria, portanto, uma diminuição da
frequência ou, ainda, um aumento do comprimento de onda.

Para testar sua hipótese, Compton produziu raios X por um tubo com alvo de
molibdênio espalhados por um bloco de grafita R, colimados pelas fendas S1 e S2
e analisados em um difratômetro de Bragg, constituído por um cristal de calcita e
uma câmara de ionização. A Figura 3.11 demonstra o equipamento utilizado e os
resultados dos comprimentos de onda em função dos ângulos de espalhamento.

Figura 3.11 – Diagrama esquemático do equipamento usado por Compton e os resultados dos
comprimentos de onda em função dos ângulos de espalhamento

Fonte: Tipler e Llewellyn (2010, p. 87).

Para deduzir a equação do espalhamento Compton, utilizamos os princípios


da conservação da energia e do momento linear. Inicialmente, antes da colisão
entre fóton X e elétron, suas energias são e , respectivamente, conforme a
Equação 2.43, apresentada no Capítulo 2. Após a colisão, a nova energia do fóton
espalhado é e a energia do elétron é . Assim, pelo princípio da conservação
da energia, podemos equacionar:

. (3.24)

. (3.24a)

90
Tópicos de Física Moderna

Também pela Equação 2.43, a energia do elétron após a colisão é:

(3.25)

em que é o módulo do momento linear do elétron.

Igualando as Equações 3.24a e 3.25 e isolando , temos:

. (3.26)

. (3.26a)

Pela conservação do momento linear, . De acordo com a Figura 3.12,


pode-se perceber também que:

. (3.27)

Figura 3.12 – Diagrama esquemático do espalhamento Compton

(a) Antes da colisão: o elétron-alvo (b) Depois da colisão: o ângulo entre as direções (c) Diagrama de vetores
está em repouso. dos fótons espalhados e o fóton incidente é φ. mostrando a conservação
do momento linear na colisão:
p = p’ + Pe.
Elétron-alvo
Fóton incidente: Fóton espalhado:
(em repouso)
comprimento de onda λ , comprimento de onda λ’,
Pe
momento linear p. momento linear p ’ p’
φ

– p

Elétron em recuo:
momento linear Pe

Fonte: Sears e Zemansky (2008, p. 201).

Igualando as Equações 3.26a e 3.27, chegamos em:

. (3.28)

(3.28a)
.

Para finalizar a dedução, sabemos que . Logo e .


Substituindo na Equação 3.28a, obtemos:

. (3.29)

91
Capítulo 3

Exemplo 3.8: explique por que o efeito Compton é estudado apenas no caso

dos raios X e raios gama, analisando a grandeza , que tem dimensão de

comprimento e é denominada comprimento de onda Compton do elétron .

Dados: , , .

Solução:

Observe que essa dimensão depende da diferença entre comprimento de onda


espalhado e o incidente . Logo, para que se analise o fenômeno, a ordem
de grandeza do comprimento de onda incidente deve ser compatível com raios X
ou raios gama.

Exemplo 3.9: em um estudo experimental do efeito Compton, observa-se que


o comprimento de onda da radiação incidente sofre um aumento de
1%. Qual é o ângulo de espalhamento?

Solução:

92
Capítulo 4

Modelos atômicos e o átomo de


Bohr

Neste capítulo, o estudante fará uma incursão na história da estrutura da matéria


e dos primórdios de sua concepção corpuscular. Apresentaremos os modelos
atômicos de Thomson, Rutherford e Bohr, com suas respectivas deduções e
análises, bem como aspectos experimentais. Esse período é também denominado
de velha teoria atômica, pois incorpora aspectos clássicos e quânticos. Ao final
do capítulo, o aluno deverá ser capaz de diferenciar os modelos atômicos e seus
desdobramentos, percebendo as peculiaridades e limitações.

Seção 1
Breve história dos modelos atômicos
A ideia de que a matéria é constituída por átomos, isto é, por corpúsculos
indivisíveis, foi estabelecida por Leucipo de Mileto (460-370 a.C.) e desenvolvida
por Demócrito de Abdera (470-380 a.C.). O aparecimento dessa concepção é
parte integrante de uma cultura científica que, desde o século VI a.C., com Thales
de Mileto (640-562 a.C.), começa a dar os primeiros passos na tentativa de
compreender racionalmente o mundo natural.

Ao tentar explicar os fenômenos naturais, algumas das principais inquietações


dos gregos antigos eram as perguntas: de que o mundo feito? Qual é a matéria
primordial que dá forma às coisas?

As conjecturas iniciais partiram de Thales, atribuindo como matéria primitiva a água.


Anaximandro (611-545 a.C.) elegeu o Apeiron, que seria algo indeterminado capaz
de formar todos os elementos do universo. Anaxímenes (585-528 a.C.) comentava
que tudo era ar, com diferentes graus de compactação. Heráclito indicou que o fogo
seria o símbolo de todo esse dinamismo. Para Xenófanes (570-460 a.C.), a origem

93
Capítulo 4

de todas as coisas, o elemento primordial do Universo, é a terra. Empédocles


(492-432 a.C.) rompe com o monismo dos primeiros filósofos, ou seja, com a
ideia segundo a qual a realidade é reduzível a um único fundamento elementar.
Para Empédocles, a natureza é complexa demais para ser explicada pelas
transformações de uma única substância. A terra, a água, o ar e o fogo, combinados
entre si e em percentuais variados, são as raízes últimas, os constituintes
fundamentais de tudo o que existe. Essa proposição dos quatro elementos será
mais adiante retomada por Aristóteles (384-322 a.C.) para explicar a composição
dos objetos terrestres e perdurará como principal visão de mundo até o século XVII.

Diferentemente dessa visão materialista, Pitágoras (570-497 a.C.) acreditava na


existência de uma matéria primordial, mas não se ocupava em especular que
substância é essa. O mundo, para ele e seus seguidores, era governado pelos números.

Para Leucipo e Demócrito, a matéria não é contínua. Ela é constituída de “germes”


eternos, minúsculas partículas duras, indestrutíveis, inacessíveis ao olho humano.
Por concebê-las como as menores subdivisões possíveis da matéria, foram
chamadas de átomos. Demócrito os concebia como formados de uma mesma
substância. Diferem em tamanho, forma, movimentos e arranjos geométricos,
sendo a diversidade de todas as coisas explicadas por essas diferenças.

Para Platão (428-347 a.C.), as estruturas fundamentais da natureza reduziam-se


a triângulos, equiláteros e isósceles, pois a partir deles poderiam ser gerados
os poliedros regulares e, com esses sólidos, todas as coisas conhecidas.
Desenvolvendo um raciocínio puramente matemático, que elege a forma
geométrica como princípio orientador e diferenciador das coisas, Platão associa
os elementos terra, água, ar e fogo, de Empédocles, a poliedros regulares: atribui
a forma cúbica à menor partícula do elemento terra, identifica como um icosaedro
a menor partícula do elemento água, associa o octaedro ao ar e, o tetraedro ao
fogo. Não havendo um quinto elemento para estabelecer a sua correspondência
com o dodecaedro, Platão vincula esse sólido, de alguma maneira, ao Universo
(Figura 4.1). Apesar de Platão não ser um defensor das ideias de Demócrito e
Leucipo, pode-se perceber a força da escola atomista sobre suas ideias.

Figura 4.1 – Sólidos de Platão e o mundo natural (ilustrações de Kepler)

Fonte: Tavares (2006, s. p.).

94
Tópicos de Física Moderna

Segue abaixo um comentário do físico teórico alemão Werner K. Heisenberg


(1901-1976) ganhador do Prêmio Nobel de Física em 1932 pela contribuição dos
fundamentos da mecânica quântica, sobre a conjectura de Platão ao associar os
sólidos regulares aos elementos do mundo natural:

Busquei um princípio que pudesse ajudar-me a encontrar alguma


justificativa para a especulação platônica, mas, por mais que
tentasse, não consegui descobrir nenhum. Mesmo assim, fiquei
extasiado com a ideia de que as partículas mais diminutas da
matéria devessem reduzir-se a uma forma matemática. Afinal,
qualquer tentativa de desenredar a densa trama dos fenômenos
naturais dependia da descoberta de formas matemáticas;
contudo, continuou a ser incompreensível para mim por que
Platão escolhera os corpos regulares da geometria dos sólidos.
(HEISENBERG, 1996, p. 17).

A retomada do atomismo começa a aparecer novamente no século XVII,


embasada em uma nova visão de ciência, deixando de lado a concepção de
mundo aristotélica. Em 1620, Francis Bacon (1561-1626), publica seu Novum
organum, chamando atenção para o indutivismo, em que a experiência é a
fonte do conhecimento. Em 1637, René Descartes (1596-1650) apresenta o
dedutivismo em seu Discours de la Méthode, sustentando a prioridade da razão
sobre o experimento, o racionalismo ao empirismo.

É nesse contexto histórico, que antecede a revolução newtoniana, que Pierre


Gassendi (1592-1655) lança novas contestações a Aristóteles. Os experimentos
de Evangelista Torricelli (1608-1647), Blaise Pascal (1623-1662) e Otto von
Guericke (1602-1686), sobre a pressão do ar, reforçam as convicções de
Gassendi sobre a presença do vazio na natureza, que era inconcebível para a
lógica aristotélica.

Robert Boyle (1627-1691), que também mostra-se um partidário do atomismo


quando desenvolve estudos em física, traz novas evidências de que o ar tem
peso e exerce pressão. Ao procurar entender o porquê da pressão de um gás
variar na razão inversa de seu volume, Boyle examina duas distintas hipóteses
sobre a estrutura interna da matéria. Desse modo, se as partículas que compõem
um gás estão em repouso e em permanente contato umas com as outras,
então, para responder pela grande compressibilidade dos gases, elas devem
assemelhar-se a algo como diminutas molas imóveis. Se, por outro lado, os
corpúsculos que constituem o gás não estão sempre em contato, mas em um
estado de constante agitação, deslocando-se ao acaso, é a colisão dessas
partículas contra as paredes do recipiente a causa da pressão do gás.

95
Capítulo 4

Isaac Newton (1642-1727) também foi influenciado pelas concepções atomísticas,


conforme seu relato:

Parece-me provável que no princípio Deus formou a matéria


segundo partículas sólidas, maciças, duras, impenetráveis,
móveis, com tamanhos, formas e propriedades, e em proporção
em relação ao espaço, condizentes aos fins para os quais
Ele as criou; e que essas partículas primitivas, sendo sólidas,
são incomparavelmente mais duras do que quaisquer corpos
porosos que elas constituem; e tão sumamente duras que não
se consomem ou se partem em pedaços, pois nenhum poder
ordinário é capaz de dividir o que o próprio Deus fez uno no
princípio da criação... Portanto, para que a natureza possa ser
duradoura, as mudanças das coisas corpóreas somente ocorrem
através de separações e novas associações e movimentos
dessas partículas permanentes; com os corpos compostos
tendendo a romper-se não no meio dessas partículas sólidas,
mas nas partes onde elas se reúnem e apenas se tocam em uns
poucos pontos. (NEWTON, 2002, p. 290).

Daniel Bernoulli (1700-1782) é mais um cientista que explora aspectos do


atomismo. Na obra “Hidrodinâmica”, publicada em 1738, ele descreve a pressão
de um gás tal como Boyle, em seu “modelo dinâmico”.

No entanto, foi na química que o modelo atômico começou a se tornar algo


palpável e científico. A partir da alquimia, praticada desde a Idade Média na
Arábia e, posteriormente, na Europa, o estudo da matéria baseado em misticismo,
superstições, enigmas indecifráveis e obscuridades de toda a natureza foi
distanciando-se dessa prática isolada, individualista, incerta e sigilosa. A nova
química procurava expor o seu pensamento com clareza, descrevendo os seus
experimentos de forma passível de reprodução por outros estudiosos.

Apesar disso, ainda havia teorias que abrigavam conceitos vagos, como a teoria
do flogístico, interpretado por uns como um fluido sutilíssimo, que explicava a
combustão, admitindo que as substâncias possuiriam, intrinsecamente, esse
princípio ígneo. Assim, quando um corpo queima, ele perderia flogístico para o ar.
O resíduo da combustão seria uma substância desflogistificada. No entanto, em
algumas situações, ela não explicava por que os metais calcinados apresentavam
um peso maior depois de perderem o seu flogístico. Admitir que esse “fluido”
tivesse peso negativo não parecia a ninguém uma hipótese plausível.

Na corrente mais científica, o químico francês, Antoine L. de Lavoisier (1743-


1794), considerado o pai da química moderna, desmistificou o flogístico,
verificando que, quando se leva em conta todos os elementos envolvidos em uma
reação química, não há variação de peso (ou de massa, mais precisamente) no

96
Tópicos de Física Moderna

sistema considerado. Em outras palavras, a massa não é criada e nem destruída


em uma reação química. Esse resultado é conhecido como a lei da conservação
da massa, de Lavoisier.

Dessa forma, o conhecimento das leis que regem a formação dos compostos
químicos traz novas evidências sobre a descontinuidade da matéria. Estudando
em que quantidades apresentam-se os elementos em vários compostos
químicos, Joseph Louis Proust (1754-1826) generaliza, em 1799, um resultado
conhecido como a lei das proporções definidas: qualquer que seja o processo
de formação de um composto, os elementos que o constituem encontram-
se sempre presentes em proporções bem definidas. E, finalmente, a lei das
proporções múltiplas, enunciada por John Dalton (1766-1844), em 1803, a partir
de uma ampla evidência experimental, especifica que, se dois elementos A e
B combinam-se para formar mais de um composto, o peso do elemento A por
unidade de peso do elemento B em um composto é um múltiplo do peso de A por
unidade do peso de B no outro composto.

Em 1808, Dalton publica “Um novo sistema de filosofia química”, no qual


desenvolve suas convicções atomísticas. Quatro afirmações básicas compõem
o núcleo dos conhecimentos sobre a constituição da matéria e de como os
elementos combinam-se:

1. os átomos são corpúsculos materiais indivisíveis e indestrutíveis;


2. os átomos de um mesmo elemento são idênticos em todos os
aspectos;
3. os átomos de diferentes elementos possuem propriedades distintas
quanto ao peso, tamanho, afinidade etc;
4. os compostos são formados pela reunião de átomos de diferentes
elementos, segundo proporções numéricas simples, tais como 1:1,
1:2, 2:3 etc.

É importante ressaltar que o átomo grego não é um precursor do átomo de


Dalton. As ideias de Dalton também diferem de “concepções atomísticas”
vigentes nos séculos XVII e XVIII que, de modo vago, pouco preciso, expressam a
descontinuidade da matéria.

97
Capítulo 4

Após a hipótese atômica de Dalton, baseada em evidências experimentais, vários


desdobramentos que reforçaram a quantização da matéria aconteceram. Dentre
eles, podemos destacar:

•• a interpretação cinética atômico-molecular da lei dos gases ideais;


•• a proposta do mesmo número de átomos ou moléculas em qualquer
gás nas mesmas condições de temperatura, pressão e volume,
denominado número de Avogrado;
•• a mecânica estatística na explicação das leis da termodinâmica;
•• o movimento aleatório corpuscular, também chamado de movimento
Browniano.

Apesar de todos esses acontecimentos, a existência do átomo ainda era um


artifício matemático no final do século XIX, utilizado para a compreensão da
fenomenologia, mas não implicava em um ente real. A partir da descoberta dos
elétrons, raios X e radioatividade, comentados no Capítulo 1, a compreensão do
mundo atômico e subatômico começou a ser desvelada. A Figura 4.2 apresenta a
evolução dos modelos atômicos.

Figura 4.2 – Evolução dos modelos atômicos

2.200 anos 100 anos

400 a. C. – Modelo de 1808 – Modelo de Dalton. 1903 – Modelo de Thomson.


Demócrito. Bolinha maciça. Bolinha maciça baseada “Pasta” positiva incrustada em
em resultados experimentais. elétrons negativos.

8 anos 2 anos 10 anos

1911 – Modelo de Rutherford. 1913 – Modelo de 1923 – Modelo de orbitais.


Núcleo positivo, elétrons Rutherford-Bohr. Semelhante O elétron considerado como
girando em órbitas circulares. ao de Rutherford, porém com uma partícula-onda e situado
órbitas quantizadas. em orbitais.

Fonte: Adaptado do blog A graça da química (2015).

Até agora, fizemos incursão histórica, apresentando a estrutura da matéria desde


o modelo de Demócrito até Dalton. Na sequência, apresentaremos as deduções
da velha teoria atômica, ocorrida nas primeiras décadas do século XX. O modelo
de orbitais, descrito pela mecânica quântica de Schrödinger, está fora do escopo
deste material.

98
Tópicos de Física Moderna

1.1 Modelo atômico de Thomson


No final do século XIX, o modelo mais promissor para o átomo parecia ser o de
J. J. Thomson, que se mostrara capaz de explicar várias reações químicas. A
partir de sua descoberta, de uma partícula negativa, comentada no Capítulo 1,
Thomson propôs um modelo em que essas partículas negativas – os elétrons –
estavam embebidos em um fluido que continha a maior parte da massa do átomo
e possuía cargas positivas suficientes para torná-lo eletricamente neutro. Esse
modelo ficou conhecido como “pudim de passas” e pode ser visto na Figura 4.3.

Figura 4.3 – Modelo atômico de Thomson – “Pudim de passas”

Elétrons
Carga positiva


+ – + – –
– + – +

+ – + –+ – –
– + – + –
– + – –
+ –
+ – + – +
+ –
– + – + – –
– + + –
– + –
+ – +
– + + –

Fonte: Adaptado de Cherman (2004).

Thomson buscava configurações que fossem estáveis e cujos modos de vibração


correspondessem às frequências observadas nos espectros de emissão do
hidrogênio, procurando relacionar as fórmulas de Balmer e Rydberg com seu modelo.

Considerando um sistema vibratório, Thomson igualou a força elétrica

com a força de um oscilador harmônico , tal qual a força de

uma mola:

. (4.1)

em que é o raio de uma esfera e é a constante elástica do oscilador.

99
Capítulo 4

Atribuindo , como o produto do volume de uma esfera de raio e


densidade de carga positiva e como a carga de um elétron, pode-se
substituir na expressão 4.1 e encontrar constante elástica do oscilador. Logo:

. (4.2)

A frequência natural de um oscilador harmônico é dada por:

. (4.3)

Pode-se perceber que, aplicando a Equação 4.2 na Equação 4.3, será obtida
apenas uma frequência de oscilação, ou seja, apenas uma linha espectral. Dessa
forma, esse modelo não está de acordo com o espectro do hidrogênio verificado
experimentalmente. Além disso, as forças eletrostáticas não são suficientes
para manter um equilíbrio estável. Assim, as cargas atômicas teriam que estar
em movimento, e em movimento acelerado, já que se mantinham no interior do
átomo. E, de acordo com a teoria eletromagnética, as cargas aceleradas emitem
radiação e, portanto, o átomo teria que irradiar energia continuamente, o que
também não é observado.

Exemplo 4.1: de acordo com a Equação 4.3, calcule a frequência de oscilação


do elétron no modelo de Thomson. Utilize a Equação 4.2 para obter a constante

elástica , na qual a densidade de carga elétrica positiva é , com raio

. Dados: , , .

Solução:

Inicialmente, calculamos a constante elástica .

Aplicando na frequência de um oscilador harmônico, temos:

100
Tópicos de Física Moderna

1.2 Modelo nuclear de Rutherford


O modelo de Thomson começou a cair em descrédito depois de uma série de
experimentos realizados por Ernest Rutherford e seus alunos H. W. Geiger e
E. Marsden. Rutherford estava investigando a radioatividade natural e havia
descoberto duas partículas com propriedades distintas: radiação e . As
partículas eram elétrons e as partículas eram núcleos de hélio. Como as
partículas possuíam alta energia e massa relativamente elevada, poderiam ser
utilizadas como instrumento para sondar o interior de outros átomos.

Em uma série de experimentos, Rutherford utilizou um feixe fino de partículas


em uma tela de sulfeto de zinco, que emitia cintilações luminosas ao ser atingida
pelas partículas. A distribuição das cintilações na tela era observada quando
várias folhas finas de metal, em especial o ouro, eram colocadas entre ela e a
fonte. A maioria das partículas não sofria nenhuma deflexão ou era defletida de
um ângulo muito pequeno, da ordem de 1º. Inesperadamente, porém, o ângulo
de deflexão para umas poucas partículas era bem grande, chegando a mais de
90º, conforme demonstra Figura 4.4.

Figura 4.4 – Diagrama do experimento de Rutherford

polônio partículas
alfa

tela detectora
(ZnS)
3

2
bloco de chumbo

ouro 1

Fonte: Adaptado de Luz (2006).

Nas palavras de Rutherford, “foi a coisa mais incrível que aconteceu em toda a
minha vida. Era tão incrível como se você disparasse um projétil de 15 polegadas
contra um pedaço de papel e o projétil ricocheteasse de volta”. (TIPLER;
LLEWELLYN, 2010, p. 96).

101
Capítulo 4

Realmente, se o átomo fosse uma esfera positivamente carregada, com mais


de 10-10 m de raio, na qual os elétrons estavam embebidos, como no modelo de
Thomson, o choque de uma partícula com um átomo poderia resultar apenas
em uma pequena deflexão, mesmo que a partícula penetrasse profundamente
no átomo, como ilustra a Figura 4.5.

Figura 4.5 – Resultados previstos e observados no experimento de Rutherford

MODELO THOMSON MODELO RUTHERFORD

Folha de ouro Folha de ouro

Fonte de Fonte de
partículas alfa partículas alfa

RESULTADO PREVISTO RESULTADO OBSERVADO

Fonte: Adaptado de Kurzon (2014).

Podemos demonstrar que o espalhamento esperado para o modelo atômico de


Thomson era muito pequeno. O ângulo seria resultante da variação do momento
linear da partícula com o choque no átomo, conforme representa a Figura 4.6.

Figura 4.6 – Variação do momento linear da partícula no modelo de Thomson

Δp pf
Δp
θ pf

pi π–θ pi
2
Fonte: Elaboração do autor (2016).

102
Tópicos de Física Moderna

Para pequenos ângulos, pode-se demonstrar que . Ainda, sabe-se que, a


variação do momento de linear é consequente ao impulso de uma força. Logo,
podemos equacionar a força igualando a interação elétrica entre as partículas
com carga e carga do átomo do elemento investigado , sob a distância do
raio do átomo. O tempo é obtido pela razão entre o diâmetro do átomo pela
velocidade da partícula . Então:

(4.4)

(4.4a)
.

Isolando o ângulo de espalhamento e fazendo , temos:

(4.5)

em que é a energia cinética da partícula .

Exemplo 4.2: obtenha o ângulo de espalhamento esperado por Rutherford


ao testar o modelo de Thomson, por meio da incidência de partículas com
energia cinética em uma folha de platina . Dados: ,
, , .

Solução:

Dessa forma, a questão levantada por esse experimento era a seguinte: como
explicar as grandes deflexões observadas por Rutherford? O problema do átomo
de Thomson era que ele era muito “macio”: a força máxima experimentada
pela partícula era pequena demais para produzir grandes deflexões. Por outro
lado, se a carga positiva do átomo estivesse concentrada em uma pequena
região, a força seria muito maior no caso de impactos quase frontais. Rutherford
concluiu, portanto, que as grandes deflexões que tinham sido observadas
experimentalmente só podiam resultar do encontro de uma partícula com uma
carga positiva confinada a uma região muito menor do que o átomo como um todo.

103
Capítulo 4

Fazendo uma estimativa do tamanho do núcleo, podemos equacionar a energia do


sistema partícula e núcleo como apenas a energia cinética da partícula , quando
o raio do núcleo está distante e apenas a energia potencial elétrica entre
partícula e núcleo quando estão próximos , na dimensão do raio nuclear. Logo:

(4.6)

(4.6a)

. (4.6b)

Exemplo 4.3: utilizando a Expressão 4.6b, faça uma estimativa do tamanho do


núcleo do átomo do ouro . Dados: , ,
.

Solução:

Os cálculos de Rutherford para a variação de probabilidade de espalhamento


com o ângulo, a carga do núcleo e a energia cinética das partículas foram
amplamente confirmados em uma série de experimentos realizados em seu
laboratório por Geiger e Marsden.

A resolução detalhada do problema, utilizando mecânica clássica, mostra que a


trajetória da partícula é uma hipérbole e estabelece a relação entre o parâmetro
de impacto e o ângulo de espalhamento , podendo ser assim calculada:

. (4.7)

O espalhamento entre a partícula e o núcleo, demonstrando o parâmetro de


impacto , pode ser visualizado na Figura 4.7.

104
Tópicos de Física Moderna

Figura 4.7 – Espalhamento de Rutherford

trajetória da partícula α

b θ

núcleo
Fonte: Betz ([20--], p. 1).

Observe que, quanto menor o parâmetro de impacto , maior o espalhamento .


Supondo que a intensidade o feixe de partículas seja partículas por tempo por
unidade de área. O número de partículas espalhadas pelo tempo por núcleo
pode ser escrito como:

(4.8)

em que é denominada a seção de choque.

E o total de partículas espalhadas pelo tempo , considerando vários núcleos


espalhadores é:

(4.9)

em que é o número de núcleos por unidade de volume, é a área da seção reta


do feixe e é a espessura da folha do metal, como demonstrado na Figura 4.8.

Figura 4.8 – Ilustração das variáveis relacionadas a NT

Área A da seção
reta do feixe

Número de átomos da
folha na região do feixe
é nAt

Fonte: Tipler e Llewellyn (2010, p. 98).

105
Capítulo 4

Obviamente, podemos perceber que o número de partículas incidentes por


unidade de tempo é:

. (4.10)

Dividindo 4.9 por 4.10 (equações anteriores), isto é, obtendo a razão entre total
de partículas espalhadas pelo tempo e o número de partículas incidentes por
unidade de tempo , obtemos a fração de partículas espalhadas:

. (4.11)

Exemplo 4.4: calcule a fração de um feixe de partículas com energia de


, incidindo em uma folha de ouro com de espessura com
ângulo de espalhamento . Dados: , ,
.

Solução:

Inicialmente, calculamos o parâmetro de impacto:

Para obter o número de núcleos, utilizamos a densidade e a massa molar


do ouro e o número de Avogrado . Logo,

Assim, a fração de partículas espalhadas é:

Pode-se observar que poucas partículas, aproximadamente , sofrem


esse grande espalhamento. Esse resultado está de acordo com os dados
experimentais de Geiger e Marsden.

Apesar da confirmação experimental, demonstrando que o átomo era um imenso


vazio no qual supostamente elétrons giravam ao redor de um núcleo atômico
muito pequeno e denso com carga positiva, o modelo de Rutherford apresentava
problemas teóricos. Como explicar que a estabilidade dos elétrons, já que pela
atração eletrostática, eles deveriam “cair” no núcleo em forma de espiral e com
isso irradiando energia em um espectro contínuo. E, ainda, como explicar cargas
positivas confinadas no núcleo, as quais possuem uma tendência a repelir-se.

106
Tópicos de Física Moderna

1.3 Modelo de Bohr para o átomo de Hidrogênio


Em 1913, o físico dinamarquês Niels H. D. Bohr propôs um modelo para o átomo de
hidrogênio que combinava os trabalhos de Planck, Einstein e Rutherford, e que permitia
prever, com notável precisão, a posição das linhas do espectro do hidrogênio.

Para resolver o problema da estabilidade eletrônica, Bohr sugeriu algumas


hipóteses revolucionárias, que associavam características da mecânica clássica
e ideias quânticas. No entanto, a explicação para o confinamento de cargas
positivas teria que esperar até 1932, quando James Chadwick descobriria uma
outra partícula nuclear, o nêutron.

Os postulados de Bohr podem ser enunciados da seguinte maneira:

Postulado 1 – Um elétron em um átomo move-se em uma órbita circular em


torno do núcleo sob a atração da Força coulombiana entre o elétron e o núcleo,
obedecendo às leis da mecânica clássica. Assim, pode-se igualar força elétrica e
força centrípeta, conforme demonstram a Equação 4.12 e a Figura 4.9:

. (4.12)

Figura 4.9 – Modelo de Bohr para o átomo de hidrogênio

Considera-se o próton
como estacionário Elétron
m, –e O elétron gira ao
Próton F redor de um círculo de
M, +e + – raio rn com velocidade vn

rn vn

A atração eletrostática
fornece a aceleração
centrípeta necessária

Fonte: Sears e Zemansky (2008, p. 194).

Postulado 2 – Em vez da infinidade de órbitas que seriam possíveis segundo


a mecânica clássica, um elétron só pode mover-se em uma órbita na qual seu
momento angular orbital é um múltiplo inteiro de . Dessa forma:

(4.13)

em que o valor de para cada órbita é chamado do número quântico principal.

107
Capítulo 4

Postulado 3 – Apesar de estar completamente acelerado, um elétron que se move


em uma dessas órbitas não emite radiação eletromagnética. Portanto sua energia
total permanece constante.

Postulado 4 – É emitida radiação eletromagnética se um elétron, que se


move inicialmente sobre uma órbita de energia total , muda seu movimento
descontinuamente de forma a mover-se em uma órbita de energia total .A
frequência da radiação emitida é igual à quantidade dividida pela
constante de Planck . Logo:

. (4.14)

A Figura 4.10 demonstra a comparação do modelo de Rutherford (a) e o modelo


de Bohr (b).

Figura 4.10 – Comparação do modelo Rutherford (a) e do modelo de Bohr (b)

(a) (b) γ
γ

γ
Fonte: Tipler e Llewellyn (2010, p. 101).

A partir dos postulados acima, iremos deduzir o raio atômico para o átomo de
hidrogênio no nível fundamental, denominado raio de Bohr, bem como seus níveis
de energia e a constante de Rydberg, descrita no Capítulo 1, formalizando a
descoberta da série de Balmer para as linhas espectrais do hidrogênio na faixa da
luz visível. Outras séries também serão discutidas com base neste modelo.

Para obtenção do raio de Bohr, isolamos a velocidade da Equação 4.13 e


substituímos na Equação 4.12:

(4.15)
.

108
Tópicos de Física Moderna

Isolando o raio , temos:

. (4.16)

Então, para o átomo de hidrogênio e fazendo , para o estado


fundamental, obtemos o raio de Bohr:

. (4.17)

Exemplo 4.5: calcule o raio de Bohr. Dados: , ,


, .

Solução:

O nível de energia para cada órbita pode ser calculado pelo princípio da
conservação de energia, logo fazemos a adição da energia cinética e energia
potencial :

(4.18)
.

A energia potencial possui sinal negativo porque consideramos a energia


potencial igual a zero quando o elétron está a uma distância infinita do núcleo.

Isolando o raio da Equação 4.13 e substituindo na Equação 4.16, obtemos a


expressão para a velocidade:

. (4.19)

109
Capítulo 4

Exemplo 4.6: avalie se a maior velocidade do elétron no átomo de hidrogênio


pode ser considerada não relativística, isto é, . Dados: ,
, , , .

Solução:

A maior velocidade acontece na primeira órbita, logo . Então:

Comparando com a velocidade da luz:

Logo, pode-se considerar o elétron com velocidade não relativística.

Fazendo conforme 4.16 e 4.19 na Equação 4.18, chegamos na equação que


relaciona as órbitas e níveis de energia em função de constantes elementares:

, (4.20)

na qual .

Assim, para o átomo de hidrogênio e fazendo , para o estado


fundamental de energia:

. (4.21)

E, finalmente, pelo modelo de Bohr, podemos obter a constante de Rydberg


relacionada às linhas espectrais. A partir da Equação 4.14, que relaciona a
energia do “salto quântico” e utilizando a Equação 4.20, que descreve o nível de
energia do átomo em função da órbita, fazemos:

(4.22)

110
Tópicos de Física Moderna

(4.22a)

(4.22b)
,

em que é a órbita final e é a órbita inicial.

Dessa forma, pode-se demonstrar que a constante de Rydberg para o hidrogênio

é .

Exemplo 4.7: obtenha a constante de Rydberg para o átomo de hidrogênio


a partir das constantes fundamentais. Dados: , ,
, , .

Solução:

Na época em que o artigo de Bohr foi publicado, eram conhecidas duas séries no
espectro do hidrogênio: a série de Balmer, correspondente a e
e a série de Paschen, descoberta pelo cientista do mesmo nome em 1908, que
corresponde a e . De acordo com Equação 4.22b, deveriam
existir outras séries para outros valores de . Em 1916, Lyman descobriu a série
correspondente a e em 1922 e 1924, respectivamente, F. S. Brackett e A.
H. Pfund descobriram as séries correspondentes a e . A Figura 4.11
demonstra um esquema da transição eletrônica para as diferentes séries.

111
Capítulo 4

Figura 4.11 – Representações dos níveis de energia do átomo de hidrogênio e transições entre as
diferentes séries

n=7 Série de Série de Série de – 0,28 eV


Série de Balmer
(a) (b) n=6 Lyman Paschen Pfund – 0,38 eV
(luz visível e
ultravioleta) n=5 – 0,54 eV
Série de Paschen n=4 – 0,85 eV
(infravermelha) n=3 – 1, 51 eV
Série de
Brackett
n=2 – 3,4 eV
Série de Brackett Série de
Série de Lyman (infravermelha) Balmer
(ultravioleta) Série de Pfund
(infravermelha)

n=1
n=2

n=3

n=4

n=5
n=1 – 13,6 eV

n=6

Lyman Balmer Paschen


{
{
{
(c)

100 200 500 1000 2000


λ, nm

Fonte: Sears e Zemansky (2008, p. 187).

Exemplo 4.8: calcule o maior comprimento de onda da série de Lyman e a


energia desta transição eletrônica. Dados: , ,
.

Solução:

Para a série de Lyman . O maior comprimento de onda pode ser obtido


fazendo . Assim:

A energia pode ser obtida da seguinte forma:

112
Tópicos de Física Moderna

Exemplo 4.9: determine a energia de ionização para o átomo de hidrogênio


no estado fundamental . Dados: , ,
, , .

Solução:

Inicialmente, calculamos da expressão , logo:

O processo físico de ionização, para o qual o elétron é arrancado do átomo,


corresponde a uma transição, na qual . No estado fundamental , logo:

No entanto, os valores experimentais das linhas espectrais e constante de


Rydberg concordam com os dados teóricos, com um erro de 0,1%. Isso
acontece porque supõe-se que o núcleo está imóvel. Contudo, sabemos que
o próton descreve um movimento circular com o elétron em torno do centro
de massa do sistema. Assim, se o núcleo tem massa , a energia cinética do
núcleo é dada por , em que é o momento. Se o momento
total do átomo é nulo, o momento do núcleo e o momento do elétron devem ter o
mesmo módulo e sentido opostos. E energia cinética total é, portanto:

. (4.23)

Em que .

Quando a expressão para a massa reduzida é utilizada nas equações de Bohr, em


vez da massa de repouso do elétron , os valores previstos concordam muito bem
com os valores medidos. Apesar disso, a correção é muito pequena: apenas uma
parte em 2.000, no caso do hidrogênio, e ainda menor para os outros núcleos.

113
Capítulo 4

Exemplo 4.10: calcule a correção da constante de Rydberg para o hidrogênio ao


utilizar a massa reduzida. Considere que a massa do próton é 1836 vezes maior
do que a do elétron, logo: . Dados: , .

Solução:

Para a massa reduzida, temos:

Substituindo na expressão por , temos:

Outro ponto interessante da teoria de Bohr é a conexão entre o mundo atômico


e o mundo macroscópico, enunciada pelo princípio da correspondência: se os
níveis de energia estão muito próximos, a quantização não é importante e
os cálculos clássicos e quânticos devem conduzir aos mesmos resultados,
ou seja, para grandes números quânticos, os cálculos quânticos e clássicos
são equivalentes.

Para mostrar que o modelo de Bohr do átomo de hidrogênio obedece ao princípio


da correspondência, vamos comparar a frequência de uma transição entre os
níveis e , para , com a frequência clássica correspondente,
que é a frequência de revolução do elétron.

. (4.24)

Para , podemos desprezar o 1 do numerador e do denominador e escrever:

. (4.25)

114
Tópicos de Física Moderna

Sabendo que a frequência clássica de revolução do elétron é dada por .


Isolando a velocidade da Equação 4.13 e utilizando o raio da Expressão 4.16, temos:

(4.26)
.

Observe que a Equação 4.26 é a mesma que a Expressão 4.25.

1.3.1 Crítica do modelo de Bohr


O trabalho de Bohr constitui, sem dúvida, um passo importante no
desenvolvimento de uma visão quântica do átomo. Porém, ele apresenta limitações.

Primeiramente, ele descreve essencialmente átomos de um único elétron apenas.


Embora seja possível utilizá-lo para analisar alguns aspectos específicos dos
átomos de vários elétrons, não é possível generalizá-lo em uma descrição de toda
a física atômica.

O modelo reproduz com sucesso o espectro de radiação observado, mas não


fornece nenhuma explicação para as intensidades relativas das linhas espectrais.
Dito de outra maneira, ele não permite o cálculo de taxas de transição entre níveis
de energia.

Além dessas deficiências, o modelo carece evidentemente de fundamentação


em princípios gerais consistentes, pois resulta essencialmente da combinação
da hipótese quântica de Planck-Einstein com elementos retirados da mecânica
clássica de Newton. A teoria quântica completa viria a ser desenvolvida cerca de
10 anos mais tarde, principalmente por Schrödinger e Heisenberg. É importante
comentar que um refinamento do modelo de Bohr foi realizado por Sommerfeld-
Wilson-Ishiwara, estabelecendo uma condição geral de quantização. Essa extensão
incorporou ao modelo o aspecto elíptico-relativístico nas órbitas eletrônicas,
gerando um novo número quântico e permitindo explicar comportamento de
estrutura fina, que eram o aparecimento de raias espectrais bem mais finas que
as usuais. No entanto, pouco tempo depois descobriu-se que o aparecimento da
estrutura fina não se deve às órbitas eletrônicas elípticas, mas sim pelo do spin do
elétron, para o qual não existe equivalente na mecânica clássica.

Para mais informações, consulte o artigo intitulado “Schola quantorum: progresso,


racionalidade e inconsistência na antiga teoria atômica Parte I: desenvolvimento
histórico, 1913-1925”, de Valter Alnis Bezerra. Uma versão deste artigo está
disponível em: <http://goo.gl/BQebry>. Acesso em: 26 abr. 2016.

115
Capítulo 4

Entretanto, como dito anteriormente, um modelo atômico mais abrangente foi


proposto principalmente por Schrödinger e Heisenberg, inaugurando uma nova
era da teoria quântica.

Enquanto, no modelo de Bohr, o elétron descreve uma órbita com características


cinemáticas bem definidas – assim como ocorre na mecânica clássica –, a
teoria quântica permite apenas calcular a probabilidade de encontrar um elétron
em uma dada região do átomo ou o momento linear em um dado intervalo. A
expressão obtida para o raio da órbita de Bohr corresponde apenas ao valor
médio da posição radial na teoria quântica.

Na mecânica quântica, a estrutura atômica é descrita em primeira aproximação


pelos assim chamados estados estacionários, nos quais as quantidades
fisicamente observáveis (distribuição de probabilidades e valores médios) são
independentes do tempo. Em um estado estacionário, a energia possui um
valor bem definido. Para estados ligados, esse valor é quantizado. A mecânica
quântica fornece a mesma regra de quantização da energia que o modelo de Bohr.

O formalismo da mecânica quântica permite analisar detalhadamente o processo


de absorção e emissão de radiação pelo átomo. Para tanto, é preciso ir além da
aproximação referida anteriormente. Em razão do (fraco) acoplamento entre o
elétron e o campo eletromagnético, os estados do átomo não são perfeitamente
estacionários. Transições de um para o outro podem ocorrer, com probabilidades
dedutíveis da teoria. Concomitantemente, a energia de um estado excitado não é
exatamente definida.

O momento angular na mecânica quântica é quantizado em múltiplos da


constante de Planck, mas a regra de quantização não é aquela especificada pelo
modelo de Bohr. Deve-se enfatizar que a quantização de momento angular possui
origem geométrica e é, por isso, completamente geral. Ela não está relacionada
com a quantização da energia, que só ocorre em sistemas ligados, nas quais as
partículas não podem afastar-se arbitrariamente uma da outra. Deve-se pontuar,
também, que a mecânica quântica atribui momento angular nulo ao estado
fundamental do átomo, o que contradiz o modelo de Bohr e significaria, nesse
estado, ausência de movimento de orbital em torno do núcleo.

116
Tópicos de Física Moderna

Seção 2
Experimentos utilizando o modelo de Bohr
Nesta seção, descreveremos, brevemente, dois experimentos que confirmaram
a viabilidade do modelo de Bohr, com algumas aproximações. O primeiro
deles, realizado por Henry G. J. Moseley, logo após a publicação do trabalho de
Bohr, em 1913, resultou no ajuste da tabela periódica, por meio da análise das
frequências das linhas espectrais dos raios X característicos em cerca de 40
elementos. E o segundo, verificou o conceito de energia de excitação mínima de
um átomo, obtidos por James Franck e Gustav Hertz a partir de 1914.

2.1 Experimento de Moseley: Raios X e tabela periódica


Como discutimos anteriormente, os raios X são produzidos pelos impactos
de elétrons de alta energia sob um material. Além da distribuição contínua da
energia emitida, há a emissão de espectros característicos de acordo com o
material utilizado. Moseley observou que os espectros característicos variavam
de forma regular substituindo os materiais que os elétrons colidiam. Concluiu
que isso acontecia porque as linhas de raios X estavam associadas a transições
de elétrons situados nas órbitas mais próximas do núcleo. Como esses elétrons
estão separados dos elétrons mais distantes pelos elétrons situados em órbitas
intermediárias, suas energias não dependem das complexas interações dos
elétrons externos, que são responsáveis pela complexidade dos espectros
ópticos. Além disso, os elétrons internos quase não sofrem os efeitos das forças
interatômicas responsáveis pelas ligações químicas em sólidos e líquidos.

De acordo com a teoria de Bohr, a energia de um elétron na primeira órbita é


proporcional ao quadrado da carga do núcleo, conforme a Equação 4.20. Assim,
Moseley observou que a energia, portanto, a frequência de um fóton do espectro
característico de raios X, deveria variar com o quadrado do número atômico do
elemento usado como alvo. De modo que a equação empírica possui a forma:

(4.27)

em que e são parâmetros obtidos pelos pontos experimentais.

Importante destacar que, para uma família de linhas denominada série ,


e para outra família denominada série . O significado fenomenológico
desses parâmetros está relacionado à lacuna deixada nas órbitas mais internas
pela energia do elétron incidente do tubo de raios X. Assim, se a lacuna foi na
órbita , corresponde à série , na qual os fótons emitidos são provenientes
da transição das órbitas , sendo especificadas por .E, se a lacuna
foi deixada na órbita , corresponde à série , em que os fótons emitidos são
provenientes da transição das órbitas , sendo especificadas por ,
conforme a Figura 4.12.

117
Capítulo 4

Figura 4.12 – Formação dos raios X (A) e gráfico de Moseley (B)

Fonte: Tipler e Llewellyn (2010, p. 107-108).

A existência de várias linhas na série , como demonstrada na Figura 4.12, deve-


se em parte ao fato de que existem pequenas diferenças nas energias dos elétrons
em órbitas com um mesmo valor de , que não são previstas pelo modelo de Bohr.
Foi o trabalho de Moseley que forneceu a primeira indicação que essas diferenças
existem, sendo explicados posteriormente pelo avanço da teoria quântica.

O fato de que é proporcional a e não a é explicado pela blindagem


parcial da carga do núcleo pelo elétron que permanece na camada quando a
parte central do átomo é “vista” pelos elétrons na camada ( ). Usando a
mesma linha de raciocínio, Moseley concluiu que, como , para a série ,
essas linhas envolvem elétrons mais afastados do núcleo, que “veem” uma carga
nuclear blindada por um maior número de elétrons.

Com essas análises, Moseley foi capaz de determinar diretamente o número


atômico Z de muitos átomos e constatar que nem sempre ele aumenta com a
massa do átomo. Por exemplo, o argônio é mais pesado do que o potássio, mas
Moseley deduziu de seus dados Z = 18 para o primeiro e Z = 19 para o segundo.
Assim, Moseley pôde corrigir erros na tabela periódica. Reparando a ausência de
pontos experimentais sobre suas linhas, para certos valores de Z, ele também foi
capaz de prever a existência de elementos até então desconhecidos e que foram
posteriormente identificados.

118
Tópicos de Física Moderna

Exemplo 4.11: usando a relação de Bohr para o átomo de um elétron, por


meio da Expressão 4.22a, utilizando e substituindo por , obtenha a
equação para as frequências e comprimento de onda das linhas da série .

Solução:

Como , então:

Comparando esse resultado com a Expressão 4.27, observamos que o parâmetro

é dado por .

O comprimento de onda das linhas da série é:

Exemplo 4.12: calcule o comprimento de onda da linha do molibdênio


e compare o resultado com o valor , medido por Moseley. Dados:
.

Solução:

Para a linha , fazemos . Logo:

Esse resultado está muito próximo do valor medido por Moseley.

119
Capítulo 4

2.2 Experimento de Franck-Hertz


Até então, o caráter quantizado de transferências de energia tinha-se restringido
essencialmente à emissão e absorção da radiação. Os experimentos de Franck
e Hertz foram os primeiros a demonstrar o caráter quantizado de transferências
de energia em que aquela transferida era energia cinética, com a transferência
efetuada por intermédio de colisões.

O arranjo experimental mais simples que foi empregado está demonstrado na


Figura 4.13.

Figura 4.13 – Experimento de Franck e Hertz

C G
v

Vapor de Hg

Região livre
de campo

V0

Fonte: Nussenzveig (2001, p. 271).

Em um tubo contendo vapor de mercúrio com baixa pressão, elétrons emitidos


por um filamento incandescente C (catodo) são acelerados por uma diferença de
potencial variável até o anodo, que é uma grade G, cujos interstícios os elétrons
podem atravessar, penetrando depois em uma região livre de campo elétrico, no
qual a velocidade , adquirida pelos elétrons acelerados mantém-se, enquanto
eles não colidem com o átomo de Hg.

A energia cinética adquirida pelos elétrons que atravessam a grade é ,


em que considera-se a energia térmica da emissão do filamento desprezível em
relação a .

Aumentando gradualmente , verifica-se que o vapor de mercúrio permanece


escuro, até que se atinge o valor de , quando ele começa, então, e
emitir radiação com , característica do Hg.

Usando a relação da frequência de Bohr, apresentada na Equação 4.14, a


diferença de energia associada à frequência é , com ,é
. Logo, a interpretação do resultado experimental é: enquanto o
potencial acelerador é insuficiente para comunicar aos elétrons essa energia
cinética, eles não podem transferir aos átomos de Hg, com os quais colidem, a
energia de excitação mínima necessária para removê-los do estado fundamental.

120
Tópicos de Física Moderna

Assim que é atingido o limiar de excitação de , começam a ocorrer


colisões inelásticas entre os elétrons e os átomos, em que a energia cinética dos
elétrons é convertida em energia de excitação e, depois, reemitida sob a forma de
radiação de .

Também foram observados limiares associados a transições para outros níveis. Essas
experiências constituem um dos primeiros exemplos de bombeamento atômico, em
que um átomo é transferido de seu estado fundamental a algum de seus estados
excitados de forma controlada, no caso, por meio de colisões de elétrons.

Além disso, também foi determinada experimentalmente por Franck e Hertz a


energia necessária para ionizar átomos, que corresponde à transição do estado
fundamental para o espectro contínuo. O valor de correspondente é o potencial
de ionização, e concorda com aquele inferido espectroscopicamente pelo limite
de uma série de linhas espectrais.

Seção 3
Aplicação tecnológica: Laser
O laser é uma fonte de luz que produz um feixe de luz altamente coerente
e quase totalmente monocromático em virtude da emissão cooperativa de
diversos átomos. A palavra laser deriva das iniciais da expressão em inglês light
amplification by stimulated emission of radiation (amplificação da luz pela emissão
estimulada). Podemos entender os princípios da operação de um laser com base
nos conceitos de fóton e de níveis de energia. Contudo, apresentaremos alguns
conceitos introduzidos por Einstein, em 1917, sobre emissão espontânea e
emissão estimulada, baseado no estudo de Kleppner (2004).

Se um átomo possui um nível de energia acima do nível fundamental, ele


pode absorver energia sob um fóton com frequência dada por . Algum
tempo depois, esse átomo retorna do nível excitado para o estado fundamental,
emitindo um fóton com a mesma frequência . Esse processo probabilístico é
denominado emissão espontânea. Na emissão estimulada, cada fóton incidente
encontra um átomo previamente excitado. Uma espécie de efeito de ressonância
induz o átomo a emitir um segundo fóton com a mesma direção, frequência,
fase e polarização do fóton incidente, que não se altera no processo. Dessa
forma, para cada átomo existe um fóton antes do processo e dois fótons depois
do processo, daí deriva a amplificação da luz. Como os dois fótons possuem a
mesma fase, eles emergem simultaneamente como radiação coerente. Esses
processos são demonstrados na Figura 4.14.

121
Capítulo 4

Figura 4.14 – Processos de interação entre átomo e ondas eletromagnéticas

(a) (b) (c)

EMISSÃO ESPONTÂNEA EMISSÃO ESTIMULADA

ABSORÇÃO

Nível excitado
n1 n1 n1

Absorção Emissão espontânea Emissão estimulada

n0 0 n0 n0
Nível fundamental

A A* A*

Átomo no Átomo em
A A*
nível fundamental um nível excitado A*

A A*
A*

Fonte: Adaptado de Sears e Zemansky (2008).

Utilizando a distribuição de Maxwell-Boltzmann, que demonstra o estado de


átomos ou moléculas como dependente da energia e da temperatura ,
Einstein descreveu que a probabilidade de um conjunto de átomos ou moléculas
estar no estado excitado pode ser descrito como:

(4.28)

em que é uma constante de normalização, é a constante de Boltzmann e


e são o número de átomos ou moléculas no estado excitado e fundamental,
respectivamente.

Exemplo 4.13: supondo um conjunto de átomos em que a diferença de energia


no estado excitado e fundamental é , correspondendo
a um fóton da luz visível com , calcule a fração de átomos no estado
excitado na temperatura de um filamento de lâmpada incandescente .
Dados: .

Solução:

Calculando inicialmente:

122
Tópicos de Física Moderna

Aplicando na equação, temos:

Observe que a fração de átomos no estado excitado de acima do estado


fundamental é extremamente pequena, mesmo considerando essa temperatura elevada.

O ponto central é que, em qualquer temperatura razoável, não existe um número


de átomos ou moléculas nos estados excitados suficientes para que ocorra a
emissão estimulada.

De forma que, para surgir o laser, deve-se criar uma situação de não equilíbrio,
denominado de inversão da população, em que o número de átomos no estado
de energia com mais elevado seja maior do que o número de átomos no estado
de energia mais baixo.

Esse processo pode ser feito de vários modos. O exemplo mais comum é o laser
de Hélio-Neônio, que utiliza que esses gases sob baixa pressão em um recipiente
de vidro com dois eletrodos. Quando aplica-se uma voltagem suficientemente
elevada, ocorre uma descarga elétrica. As colisões entre átomos ionizados e
elétrons da corrente da descarga excitam átomos para diversos estados de
energia. Então, a luz emitida pelos elétrons, que retornam aos estados de energia
inferiores, é refletida entre dois espelhos, de modo que ela continua a estimular
a emissão de mais luz coerente. Um dos espelhos transmite parcialmente a luz e
permite que um feixe com intensidade elevada saia da cavidade do laser, como
mostra a Figura 4.15.

Figura 4.15 – Diagrama de um laser Hélio-Neônio

Fonte: Adaptado de Sears e Zemansky (2008).

123
Capítulo 4

Outras formas de produção laser são pela utilização de semicondutores, ou


reações químicas. A inversão da população também pode ser feita com raios X
ou com micro-ondas. Contudo, para todos eles, é imprescindível que a população
seja invertida, na qual os átomos permanecem em um estado metaestável
relativamente longo e só é possível a emissão estimulada e não a espontânea.

124
Capítulo 5

O mundo ondulatório e a
incerteza

Neste capítulo, o estudante será apresentado à natureza ondulatória das


partículas, embasada na hipótese de De Broglie e confirmada experimentalmente
por Davisson e Germer, por meio de difração de elétrons. Será definido o conceito
de partícula quântica a partir de um fenômeno clássico, caracterizando-a
como um ente localizado e ondulatório. Será, também, demonstrada uma das
consequências da natureza quântica: a indeterminação. E não menos importante,
uma aplicação tecnológica: o microscópio eletrônico e as várias interpretações
da mecânica quântica. Ao final do capítulo, o estudante deverá ser capaz de
reconhecer uma partícula quântica e compreender os fenômenos decorrentes de
sua natureza ondulatória e localizada.

Seção 1
Propriedade ondulatória das partículas
A natureza é rica em simetrias de todos os tipos. Se a luz pode ser, ao mesmo
tempo, onda e partícula, é possível que a matéria tenha também estes dois
aspectos?

1.1 Hipótese de De Broglie


Partindo do pressuposto de que a natureza “ama” simetrias, em 1924, o físico
francês de origem nobre, príncipe Louis De Broglie, sugeriu em sua tese de
doutoramento o dualismo onda-partícula.

Uma ideia altamente especulativa, a qual era atribuída apenas no caso das ondas
eletromagnéticas, que foi utilizada como uma propriedade geral da matéria, em

125
Capítulo 5

especial, os elétrons. Como visto no Capítulo 3, a luz pode ser considerada


onda e partícula, ou melhor, uma partícula quântica. Então, a proposta de De
Broglie foi atribuir a uma partícula um comprimento de onda e uma frequência.
Assim, postulou que uma partícula livre com massa de repouso , deslocando-
se com velocidade , deve ter um comprimento de onda associado ao seu
momento linear , do mesmo modo que um fóton, demonstrando por meio
de uma abordagem indireta, baseada na mecânica relativística, que .O
comprimento de onda de De Broglie de uma partícula é então:

. (5.0)

Essa equação é válida para baixas velocidades. No caso de um elétron


relativístico, o momento linear tem a forma , em que .
Logo:

. (5.1)

Em seguida, observou que essas equações levam a uma interpretação física da


quantização do momento angular do elétron postulada por Bohr .
Ponderou que a quantização equivale à formação de onda estacionária, da
seguinte forma:

(5.2)

. (5.2a)

A Equação 5.2a pode ser demonstrada pela Figura 5.1.

Figura 5.1 – Diagrama de ondas estacionárias em uma órbita circular

λ
λ

n=2 n=3 n=4

Fonte: Sears e Zemansky (2008, p. 219).

126
Tópicos de Física Moderna

Para compreender a enorme importância da hipótese formulada por De Broglie,


deve-se lembrar que naquela época não existia nenhuma evidência experimental
direta de que as partículas pudessem ter um caráter ondulatório. Diferentemente
de fazer uma hipótese nova baseada em observações experimentais, sua
importância foi a de propor uma mudança radical das concepções apenas com
base em conceitos teóricos.

Dessa forma, a ideia de explicar os estados discretos de energia da matéria em


termos de ondas estacionárias parecia bastante promissora. Conforme De Broglie,
o aparecimento de números inteiros na condição de quantização de Bohr para
as órbitas dos elétrons no átomo de hidrogênio foi uma pista importante:

A determinação do movimento estacionário dos elétrons no átomo


introduz números inteiros; ora, até aqui os únicos fenômenos
em que intervinham inteiros na física eram os de interferência e
modos normais de vibração. Esse fato sugeriu-me a ideia de que
também os elétrons não deveriam ser considerados somente
como corpúsculos mas de que deveriam estar associados com
periodicidade. (NUSSENZVEIG, 2001, p. 273).

A proposta de De Broglie foi ampliada e transformada em uma teoria completa


por Erwin Schrödinger, no final de 1925. A função de onda da mecânica quântica,
também denominada de equação de Schrödinger, está fora do escopo deste livro.

Durante a defesa da tese, um dos componentes da banca perguntou a De Broglie


se as suas ondas poderiam ser detectadas experimentalmente. A resposta de
De Broglie foi que isso talvez fosse possível fazendo experiências de difração de
elétrons por cristais. E, de fato, experimentos preliminares estavam acontecendo
nesse sentido. Entretanto, a resposta objetiva veio somente em 1927, quando C.
J. Davisson e L. H. Germer confirmaram sua hipótese.

É importante comentar que os motivos que dificultaram a descoberta da


propriedade ondulatória da matéria, ou mesmo da luz, estão relacionados à
necessidade de experimentos que dispusessem de fendas ou aberturas com
dimensões comparáveis aos seus comprimentos de onda.

127
Capítulo 5

Exemplo 5.1: calcule o comprimento de onda de um elétron com energia cinética


de 10 eV. Dados: , , .

Solução:

Para utilizar a expressão , precisamos encontrar o momento do elétron.


Como essa energia é não relativística, podemos deduzir a partir da expressão
clássica da energia cinética . Como e , temos:

Substituindo, obtemos:

Embora este comprimento de onda seja pequeno, é da mesma ordem de


grandeza que o tamanho de um átomo e que o espaçamento dos planos
atômicos em um cristal.

Exemplo 5.2: demonstre porque não é possível identificar o comportamento


ondulatório em objetos macroscópicos, como uma bola de pingue-pongue, de
massa e velocidade . Dados: .

Solução:

Esse valor é 17 ordens de grandeza menor do que um núcleo atômico. Além


da bola de pingue-pongue não passar por uma fenda com esse tamanho, não
existem aberturas tão pequenas.

Por esse motivo, faremos uma breve descrição dos experimentos de difração dos
raios X com sólidos cristalinos, que, por possuírem um comprimento de onda
muito pequeno, assemelham-se com o experimento de Davisson e Germer na
difração de elétrons.

1.1.1 Difração de raios X e a Lei de Bragg


Como comentado no Capítulo 1, o comprimento de onda dos raios X foi somente
confirmado experimentalmente após 1912, com as primeiras experiências
realizadas por Friederich, Knipping e Von Laue utilizando cristais, pois estes
serviam como uma rede tridimensional para os raios X. Dessa forma, o feixe

128
Tópicos de Física Moderna

poderia ser espalhado, isto é, absorvido e reemitido pelos átomos individuais


de uma cristal, e as ondas espalhadas poderiam interferir de modo análogo
ao das ondas provenientes de uma rede de difração. A Figura 5.2 demonstra a
experiência (a) e o padrão de interferência formada por um cristal de quartzo (b).

Figura 5.2 – Experiência da difração de raios X e padrão de interferência formada por um cristal de
quartzo

Fonte: Sears e Zemansky (2008, p. 124).

Entretanto, a expressão formal para descrição dos padrões de interferência e


obtenção do comprimento de onda do feixe de raios X está relacionada a certos
ângulos de incidência nas faces dos cristais, produzindo intensos picos de
radiação refletida.

A formulação deste modelo teórico foi realizada pelos físicos ingleses Sir W. H.
Bragg e seu filho Sir W. L. Bragg, entre 1912 e 1913. O resultado empírico foi
estruturado modelando o cristal como um conjunto de planos discretos, paralelos
e separados por uma distância constante , propondo que a radiação incidente
produziria um pico se as reflexões especulares de vários planos interferissem
construtivamente, ou seja, se a diferença de fase entre as frentes de onda
refletidas por planos consecutivos fosse um múltiplo inteiro do comprimento de
onda , em que .

Como pode ser observado na Figura 5.3a, quando o ângulo de incidência iguala
o ângulo de reflexão, os raios do feixe incidente estão em fase e paralelos até o
ponto no qual o feixe superior incide na camada do átomo . O segundo feixe
continua até a seguinte camada onde ele é espalhado pelo átomo . Para que
continuem adjacentes e paralelos, o segundo feixe deve viajar a distância extra
. Esta distância extra deve ser um múltiplo inteiro do comprimento de
onda para que as fases dos dois feixes sejam as mesmas.

129
Capítulo 5

Figura 5.3 – Dedução da Lei de Bragg

(a) (b)

z
θ z θ θ
d
θ
A C
d
A Β

B
Fonte: Schields ([20--?], p. 1).

Logo,

. (5.3)

De acordo com a Figura 5.3b, pode-se observar que:

. (5.4)

Fazendo a Equação 5.3 em 5.4, obtemos:

. (5.5)

Os Bragg receberam o Prêmio Nobel de Física em 1915 por seu trabalho na


determinação das estruturas cristalinas do NaCl, do ZnS e do diamante. Embora
a Lei de Bragg tenha sido utilizada para explicar o padrão de interferência de
raios X espalhados por cristais, o fenômeno de difração também desempenha
um importante papel no estudo da estrutura de todos os estados da matéria
com diversos feixes, por exemplo, íons, elétrons, nêutrons e prótons, com um
comprimento de onda da mesma ordem de grandeza da distância entre as
estruturas atômicas ou moleculares de interesse.

Exemplo 5.3: ao incidir um feixe de raios X de comprimento de onda igual


a sobre certos planos de um cristal de silício, o primeiro máximo de
interferência ocorre quando o ângulo é . Qual é a distância entre os planos?
É possível encontrar outros máximos de interferência para ondas provenientes
desses planos para ângulos mais elevados?

130
Tópicos de Física Moderna

Solução:

Isolando o espaço entre os planos e fazendo , para o primeiro máximo,


temos:

Essa é a distância entre dois planos adjacentes.

Para determinar outros ângulos, explicitamos . Logo:

Observe que se , , que é impossível, pois o seno


não pode ser maior do que 1. Portanto, não existe nenhum outro ângulo para
máximos de interferência para esse conjunto particular de planos do cristal.

1.2 Comprimento de onda da matéria


Então, para medir o comprimento da onda da matéria, inicialmente para os
elétrons, foi utilizada uma rede de difração cristalina, tal qual utilizado para os
raios X. Contudo, sem o conhecimento da hipótese de De Broglie, Davisson e
Germer estavam estudando a reflexão de elétrons em um alvo de níquel e se
depararam com resultados de máximos e mínimos relacionados à intensidade do
feixe refletido em função do ângulo de espalhamento.

1.2.1 Experimento de Davisson-Germer


A descoberta fortuita ocorreu após um acidente no laboratório de Davisson e
Germer, quando uma garrafa de ar líquido explodiu, levando o alvo de níquel a
ficar oxidado. Para eliminar o óxido, o alvo foi submetido a um tratamento térmico
que o transformou, de um agregado policristalino, em um pequeno número de
monocristais. O resultado foi uma mudança radical na distribuição angular dos
elétrons espalhados: apareceu um pico intenso correspondente a um ângulo
de desvio de , para um feixe de elétrons de 54 eV. A Figura 5.4 demonstra o
experimento (a) e os resultados obtidos (b).

131
Capítulo 5

Figura 5.4 – Experimento de Davisson e Germer (a) e resultados obtidos (b)

Canhão eletrônico
Câmara de
ionização
(a) (b)

100
ϕ

Intensidade de espalhamento
80

60

40

Cristal de Ni 20

0
0 20 40 60 80
Ângulo de detector ϕ

Fonte: Tipler e Llewellyn (2010, p. 121-122).

Reconhecendo a importância da descoberta acidental, Davisson e Germer


substituíram o alvo por um monocristal de níquel e investigaram exaustivamente
o espalhamento dos elétrons. Para dedução, considere o espalhamento por uma
família de planos de Bragg, conforme a Figura 5.5 a seguir.

Figura 5.5 – Espalhamento dos elétrons por um cristal

Feixe incidente
ϕ = 2α
Feixe refletido
α
D
α

α
d θ
θ

Fonte: Tipler e Llewellyn (2010, p. 122).

132
Tópicos de Física Moderna

A condição de Bragg para interferência construtiva, demonstrada na Figura 5.5, é


. O espaçamento entre os planos é , em que é
a distância interatômica conhecida por difração de raios X. Assim:

. (5.6)

Como , temos que:

. (5.7)

Em 1928, apenas um ano após a descoberta de Davisson e Germer, o físico


inglês G. P. Thomson fez experiências de difração de elétrons usando como
alvo uma fina folha metálica policristalina. Debye e Sherrer empregaram técnica
semelhante para estudar a difração de raios X de amostras policristalinas. Por
causa das orientações aleatórias dos cristais microscópicos no interior da folha, a
figura de difração era constituída por máximos distribuídos ao longo de um anel
em torno da direção do feixe incidente. Os resultados de Thomson confirmaram
novamente a relação proposta por De Broglie. É interessante pontuar que G. P.
Thomson era filho de J. J. Thomson, que, 31 anos antes da experiência do filho,
havia realizado uma experiência definitiva mostrando que o elétron comportava-
se como uma partícula (conforme visto no Capítulo 1).

A Figura 5.6 ilustra duas figuras de difração, uma para elétrons com 600 eV e
outra para os raios X de 71 pm, ambos passando por uma folha de alumínio. A
escala está adaptada.

Figura 5.6 – Difração de elétrons e difração de raios X

Fonte: Sears e Zemansky (2008, p. 222).

Em 1929, I. Estermann e O. Stern demonstraram a difração de partículas neutras:


os átomos de He e moléculas de H2, verificando a validade da relação de De
Broglie também neste caso. Posteriormente, foram feitas experiências de difração

133
Capítulo 5

com nêutrons, levando a técnicas valiosas de investigação da estrutura de


cristais, complementares à difração de raios X.

Exemplo 5.4: em certa experiência de difração de elétrons usando uma voltagem


de aceleração igual a 54V, ocorre um máximo quando . A energia cinética
inicial do elétron é desprezível. A difração de raios X mostrou que a distância
entre os átomos ao longo de uma linha é dada por .
Calcule o comprimento de onda do elétron.

Solução:

Utilizando a Equação 5.7 e fazendo , para o primeiro máximo, obtemos:

De forma análoga, lembrando que a energia cinética do elétron não relativístico


pode ser equacionada por . Combinando essa expressão com o
momento , temos , temos:

Seção 2
Princípio da incerteza ou indeterminação
Como visto, existem evidências de que a matéria e a luz possuem
comportamentos corpuscular e ondulatório. O reconhecimento dessa natureza
dual leva a um novo modelo de explicação, denominado de partícula quântica.
Para melhor compreender este modelo onda-partícula, é interessante recorrer a
uma analogia clássica denominada pacotes de ondas.

134
Tópicos de Física Moderna

2.1 Pacotes de ondas


Um pacote de onda pode exibir propriedade ondulatória pelo seu aspecto
periódico e de partícula, pela sua capacidade de localização. Um pacote de onda
pode ser definido por uma combinação de ondas por meio da série de Fourier.
Para simplificar nossa demonstração, apresentaremos a superposição de duas
ondas e , com frequências ligeiramente diferentes, denominada
batimento. Assim, temos:

(5.8)

em que e .

Lembrando que o número de onda é equacionado por e a velocidade


angular vale . Observe que a velocidade da onda pode ser demonstrada
por .

A Equação 5.8 pode ser resolvida pela identidade trigonométrica

, logo:

. (5.9)

Fazendo e e considerando o valor médio para


e , substituímos na Equação 5.9:

(5.10)
.

De acordo com a Expressão 5.10, o segundo fator cosseno representa uma onda
com um número de onda e frequência iguais às médias dos valores das ondas
individuais. O fator entre colchetes representa a envoltória da onda, como mostrado
na Figura 5.7. Este termo também tem a forma matemática de uma onda.

Figura 5.7 – Batimento formado pela superposição de duas ondas e

Fonte: Lago (2015, p. 1).

135
Capítulo 5

O ponto interessante é que a envoltória, também denominada grupo, pode


deslocar-se pelo espaço com uma velocidade diferente das ondas individuais,
chamadas de fase. Dessa forma, a velocidade da fase é e a velocidade
de grupo é . Entretanto, para uma superposição de um número muito
grande de ondas para formar um pacote de ondas, essa razão vira uma
derivada . Multiplicando o numerador e o denominador por , onde
, temos:

. (5.11)

Considerando que e ,
podemos substituir a Equação 5.11 por:

. (5.12)

Como estamos explorando a possibilidade de que a envoltória das ondas


combinadas represente a partícula, pondera-se que sua velocidade seja
pequena comparada com a velocidade da luz. Então, a energia cinética da
partícula é . Como o momento linear é , podemos fazer
. Substituindo na Equação 5.12, temos:

(5.13)
.

Assim, a velocidade do grupo do pacote de ondas que foi modelado para


representar a partícula é idêntica à velocidade dessa partícula. Dessa forma,
pode-se considerar uma maneira razoável de construir uma partícula utilizando
esse princípio.

Além disso, observando apenas um pacote de onda, percebemos que ,e


como , temos que . Essa expressão mostra que, quanto mais
estreito o pacote de onda (menor ), maior deve ser o número de onda para
construí-lo. E, no caso inverso, quanto menor a distribuição dos comprimentos de
onda (menor ), menos localizada estará o pacote de onda.

Analogamente, pode-se demonstrar que e, como , temos que


. Por isso, a duração do novo pacote de onda está relacionada com a
extensão das frequências angulares necessárias para construir o pacote de onda.

136
Tópicos de Física Moderna

Esses resultados podem ser generalizados para um conjunto de infinitas ondas


formando um pacote verdadeiramente concentrado. Utilizando resultados
obtidos com as desigualdades das transformadas de Fourier, é possível obter as
desigualdades:

. (5.14)

. (5.15)

Exemplo 5.5: em um cais de 20 metros de comprimento, existem 15 cristas de


onda. Determine a margem de erro para o comprimento de onda calculado com
base nessa informação.

Solução:

Inicialmente, fazemos a seguinte manipulação:

Substituindo as diferenciais por pequenos intervalos e tomando o valor absoluto


de ambos os membros, temos:

Por meio da equação , isolamos e substituímos na expressão


anterior:

Utilizando os dados do problema:

137
Capítulo 5

A extensão das ondas é , logo:

Exemplo 5.6: um transmissor de radar emite pulsos de radiação eletromagnética


de de duração e com um comprimento de onda . Qual a frequência
central que o receptor do radar deve estar sintonizado? Qual o comprimento
de onda do pacote de onda? Qual deve ser a banda de frequência do receptor?
Dados: .

Solução:

A frequência central é dada por:

O comprimento de onda do pulso é:

A banda de frequência do receptor necessária é:

Como

Logo, a largura da banda do receptor deve estar entre a .

138
Tópicos de Física Moderna

2.2 Princípio da incerteza


No tópico anterior, demonstramos que, na física clássica ondulatória, existe uma
incerteza associada a um pacote de ondas. Como analogia, interpretamos este
pacote de ondas como uma partícula quântica. No entanto, no caso das ondas
mecânicas ou eletromagnéticas, algo está ondulando, como uma corda ou um
campo elétrico e campo magnético. Na física quântica, quando tratamos radiação
e matéria, não faz sentido analisar o que está ondulando. Na verdade, os
desdobramentos da teoria quântica mostram que a ondulação está relacionada à
probabilidade de observar a partícula.

Por esse motivo, as relações de incerteza para a física quântica, enunciadas por
Werner Heisenberg em 1927, descrevem o seguinte:

1. não é possível medir, simultaneamente, a posição e a quantidade


de movimento de uma partícula com precisão ilimitada;
2. não é possível determinar, ao mesmo tempo, a energia e a
coordenada de tempo de uma partícula com precisão ilimitada.

Para obtermos os análogos quânticos, multiplicamos o numerador e o

denominador do momento da partícula por , logo . Substituindo

na Equação 5.14, temos:

. (5.16)

Exemplo 5.7: um elétron de move-se no sentido de aumento de x com uma


velocidade . Suponha que seja possível medir sua velocidade com
uma precisão de 1%. Com que precisão é possível medir simultaneamente a sua
quantidade de movimento? Dados: , .

Solução:

O momento do elétron é .

139
Capítulo 5

A incerteza no momento é 1% deste valor, logo .


Utilizando a relação de Heisenberg, temos:

O tamanho de um átomo típico é de aproximadamente , de modo que


tem aproximadamente o comprimento de 31 átomos. Pode-se observar, então,
que não há possibilidade de medir com precisão, simultaneamente, o momento e
a posição de um elétron.

Exemplo 5.8: uma bola de golfe tem uma massa de e uma velocidade de
, que pode ser medida com uma precisão de 1%. Que limites o princípio da
incerteza estabelece sobre a capacidade de medir a sua posição?
Dados: .

Solução:

O momento da bola de golfe é .

A incerteza no momento é 1% deste valor, logo . Pela


relação de Heisenberg, obtemos:

Observe que essa distância é muito pequena, cerca de vezes menor do


que a distância de um núcleo atômico típico. Quando são considerados
objetos macroscópicos, o princípio da incerteza não estabelece nenhum limite
significativo à precisão da medição.

140
Tópicos de Física Moderna

De forma similar, utilizamos a expressão e substituímos a frequência por

para obter . Fazendo na Equação 5.15, temos:

. (5.17)

Exemplo 5.9: quase todos os átomos excitados decaem, isto é, emitem um fóton,
após um tempo aproximado de . Qual é a indeterminação mínima da
energia, denominada largura da linha natural? Dados: .

Solução:

Para a indeterminação da energia, temos:

Exemplo 5.10: suponha que, no exemplo anterior, seja emitido um fóton de


comprimento de onda emitido pela transição de um estado excitado
para o estado fundamental de um átomo de sódio, de modo que .
Calcule a indeterminação no comprimento de onda.

Solução:

Inicialmente, deduzimos a expressão:

141
Capítulo 5

Como , fazemos:

Substituindo o resultado do problema anterior e os dados do problema nessa


equação, temos:

Esse intervalo corresponde à largura dessa da linha espectral. Apesar de muito


pequeno, está dentro do limite de resolução dos espectrômetros modernos.

Assim, deve-se compreender que o limite do princípio da incerteza não se deve


a uma deficiência dos equipamentos de medida, ou algo que possa ser resolvido
com o progresso da tecnologia, mas, sim, trata-se de um limite intrínseco,
associado ao dualismo onda-partícula.

2.3 Dualidade onda-partícula


As teorias da natureza da luz evoluíram de um modelo corpuscular, propostas
por Isaac Newton em 1672, capazes de explicar as leis básicas da ótica
geométrica, que influenciou a teoria ondulatória defendida por Christian Huygens
e confirmada experimentalmente por Thomas Young em 1801, aborda os efeitos
de interferência e difração da luz. Por outro lado, as teorias do efeito fotoelétrico
e do efeito Compton voltaram a apontar para características corpusculares da luz,
levando à introdução dos fótons como “partículas de luz”.

Para os elétrons, considerados como partículas desde sua descoberta, a


confirmação experimental das conjecturas de De Broglie demonstrou efeitos de
difração e interferência caracteristicamente ondulatórios.

Como conciliar conceitos tão diferentes como os de onda e partícula? Durante


o período em que isso estava sendo tentado, William Bragg chegou a descrever
a situação em que os elétrons comportam-se como partículas às segundas,

142
Tópicos de Física Moderna

quartas e sextas, e como ondas às terças, quintas e aos sábados. Aos domingos,
presumivelmente, os físicos descansariam do esforço de tentar compatibilizar os
dois comportamentos.

Então, vamos tentar definir de forma mais precisa o contraste entre


comportamento ondulatório e comportamento corpuscular analisando o famoso
experimento de dupla fenda de Young, em termos de conceitos clássicos de onda
e de partícula.

Vamos pensar em ondas clássicas como ondas macroscópicas em um meio,


por exemplo, ondas de som na atmosfera. As ondas, produzidas por uma fonte
suficientemente pequena para que possamos tratá-la como puntiforme, incidem
sobre um par de aberturas em um anteparo opaco e são detectadas sobre um
anteparo de observação por um detector móvel que varre o anteparo, como
demonstra a Figura 5.8.

Figura 5.8 – Experimento de Young com ondas clássicas

x x

Detector I1 I12

Fonte de
ondas
2 I2

Parede Absorvedor

(a) (b) (c)

Fonte: Feynman (2008, p. 3).

Se apenas a fenda 1 estivesse aberta, a intensidade do som detectado seria


e analogamente para 2, sendo:

para , (5.18)

em que é a função de onda.

O resultado da experiência de Young mostra um padrão de interferência, de modo


que, com as fendas 1 e 2 abertas, a intensidade observada é:

, (5.19)

em que é a defasagem entre as duas contribuições.

143
Capítulo 5

Logo, para o caso geral, e, em particular . A intensidade


resultante pode variar de a , com valor médio de , conforme a
interferência seja destrutiva ou construtiva.

Assim, se fecharmos uma das fendas, a intensidade em um ponto do anteparo


de observação pode diminuir, mas também pode aumentar. Se formos diminuindo
a intensidade da fonte sonora, as franjas de interferência vão diminuindo
proporcionalmente de intensidade, de forma contínua.

Para simular uma fonte puntiforme, que emite isotropicamente em todas as


direções, vamos imaginar uma metralhadora giratória que dispara balas varrendo
direções ao acaso. Para simular uma fonte estacionária, de intensidade constante,
supomos que a taxa de disparo é constante. Um detector, por exemplo, uma
caixa de areia, varre o anteparo de observação e registra a probabilidade
de encontrar uma bala e no anteparo, conforme a Figura 5.9.

Figura 5.9 – Experimento de Young com partículas clássicas

x x

Detector
móvel P1
P12
x
1

Metralhadora 2
P2

Parede Anteparo

(a) (b) (c)

Fonte: Feynman (2008, p. 2).

Sejam e as distribuições encontradas quando somente 1 ou


somente 2 está aberta. Supomos que as balas (partículas) não podem fragmentar-
se, ou seja, não podemos detectar uma fração de bala e cada bala passa ou
pela fenda 1 ou pela fenda 2, e esses eventos são independentes e mutuamente
exclusivos. Logo, a distribuição observada com ambas as fendas abertas é:

. (5.20)

Se fecharmos uma das fendas como e , a distribuição só


pode diminuir em cada ponto .

144
Tópicos de Física Moderna

Se diminuirmos a taxa de disparos, as balas continuam chegando uma a uma até


o anteparo de observação, distribuídas em pontos ao acaso, aproximando-se
da distribuição após um tempo de observação suficientemente grande.

Com relação ao experimento do tipo de Young, com partículas atômicas ou


subatômicas, os mesmos são muito difíceis de realizar, devido à escala, ao grau de
monocromaticidade dos feixes e outros requisitos necessários. Entretanto, os efeitos
que serão descritos já foram observados com elétrons e outros tipos de partículas.

A Figura 5.10 apresenta um canhão de elétrons, que pode ser um filamento


aquecido. O detector poderia ser um contador Geiger, que contém um gás em um
campo elétrico próximo ao valor disruptivo que produziria uma descarga no gás.
A passagem de um elétron, pela ionização, provoca um efeito avalanche, que
amplifica o efeito em nível macroscópico, produzindo a descarga.

Figura 5.10 – Experimento de Young com elétrons

x x

P1
Detector
P12
1

Canhão de 2
elétrons P2

Parede Anteparo
(a) (b) (c)

Fonte: Feynman (2008, p. 4).

As características observadas são as seguintes:

(1) O detector registra somente números inteiros de elétrons, nunca


uma fração de elétrons (como para partículas clássicas).
(2) Para uma fonte de elétrons suficientemente fraca, pode-se fazer com
que os elétrons cheguem um a um. Nesse caso, eles chegam em
pontos distribuídos ao acaso, como no exemplo da metralhadora
giratória, e podemos medir a distribuição de probabilidade
correspondente a ter só a fenda aberta , bem como a
distribuição com as duas fendas abertas.

145
Capítulo 5

(3) Acumulando as contagens de uma fonte muito fraca durante


um tempo longo, obtém-se franjas de interferência em . Logo,
com uma figura de interferência idêntica à de ondas
clássicas.
(4) Fechando uma das aberturas, tanto pode diminuir como
aumentar, dependendo da posição (como para ondas clássicas).

As propriedades 1 e 2 são características de partículas clássicas, enquanto que a


3 e a 4 são características de ondas clássicas. A única conclusão possível é:

Embora os elétrons e outras partículas atômicas e subatômicas apresentem


propriedades corpusculares e ondulatórias, eles não são nem partículas clássicas
nem ondas clássicas. Para esse comportamento, utilizamos a terminologia
dualidade onda-partícula ou partícula quântica.

Entretanto, o fato notável, que pode ser inferido pela analogia entre a figura de
interferência dos elétrons e a das ondas sonoras, é que existe uma função de
onda tal que, se é o seu valor quando só a fenda está aberta, então
e . Por essa razão, a probabilidade é igual à
superposição dessas duas funções de onda :

. (5.21)

Identificando com a função de Scrödinger das ondas de De Broglie, a


Equação 5.21 implica que a interpretação física de é como uma amplitude
de probabilidade, ou seja:

. (5.22)

A expressão acima apresenta a probabilidade de encontrar a partícula entre e


. Essa interpretação física foi proposta por Max Born em 1928 e valeu a ele
o prêmio Nobel em 1954.

O fato de que as amplitudes de probabilidade podem interferir e propagar-se


como ondas é extremamente peculiar. A interferência encontrada no experimento
de Young com elétrons, por exemplo, é incompatível com a ideia de que o elétron
tem que passar pela fenda 1 ou pela fenda 2, como mostra a Figura 5.10.

146
Tópicos de Física Moderna

Para verificar isso diretamente, consideremos uma variante da experiência


descrita, em que procuramos verificar por qual das fendas o elétron passa. Para
isso, iluminaremos as fendas com uma fonte de luz e procuraremos observar
a luz espalhada pelo elétron por ocasião de sua passagem. Como partícula
carregada, o elétron espalha a luz, e podemos verificar se o flash, devido à sua
passagem, provém da fenda 1 ou da fenda 2. Para tornar a identificação possível,
podemos reduzir a intensidade do feixe de elétrons a um valor tão baixo que
passa somente um elétron de cada vez. Por outro lado, é preciso que a luz seja
suficientemente intensa para que tenhamos certeza de que todos os elétrons são
observados. A Figura 5.11 ilustra essa experiência.

Figura 5.11 – Experimento de Young observando a fenda por onde passam os elétrons

x x

P’1
P’12
1 Fonte
de luz

A
Canhão de
elétrons 2
P’2

(a) (b) (c)

Fonte: Feynman (2008, p. 7).

Se fizermos a experiência nessas condições, verificaremos que os elétrons que


passam pela fenda 1 tem uma distribuição de probabilidade , e o que
passam por 2 tem . Todos os flashes de luz provêm ou de 1 ou de 2, nunca
se observarão flashes vindo ao mesmo tempo de 1 e de 2 devidos à passagem
de um elétron. E quanto vale ? Como as observações foram feitas com as
duas fendas abertas e todos os elétrons foram observados, apenas agrupando-se
conforme a fenda pela qual passam, será:

. (5.23)

Ou seja, ao observarmos por qual fenda o elétron passa, destruímos a


interferência. Por conseguinte, a maneira pela qual se faz a observação na escala
microscópica pode afetar drasticamente os resultados.

Na física clássica, o processo de observação também perturba os resultados,


mas essa perturbação pode ser levada em conta e pode ser reduzida, em
princípio, a um nível arbitrariamente pequeno.

147
Capítulo 5

No presente exemplo, a perturbação provém do espalhamento de luz pelo


elétron. Contudo, não será possível também reduzir o seu efeito? Há dois
parâmetros que podemos usar como controles para isso: a intensidade de luz e
o seu comprimento de onda. Classicamente, diminuir a intensidade equivaleria
a diminuir a interação com os elétrons. Entretanto, a dualidade onda-partícula
também aplica-se à luz: ela é formada de fótons, e reduzir a intensidade equivale
a diminuir o número de fótons incidentes por unidade de tempo e área, sem
alterar a interação de cada fóton com o elétron.

O resultado é, então, que diminui a probabilidade de que o elétron encontre um


fóton ao passar, ou seja, a probabilidade de espalhamento torna-se <1 (antes
havíamos suposto que era =1, em que a proporção era um fóton para cada elétron).

Haverá, então, dois tipos de elétrons nas observações: os do tipo A, cuja


detecção está associada à observação de um fóton espalhado (com
probabilidade para os que passam por 1 e por 2), e os do tipo B,
que foram detectados sem espalhamento de luz associado, de forma que não
podemos dizer se passaram por 1 ou 2.

Para os elétrons do tipo A, a distribuição de probabilidade continua sendo dada


pela Expressão 5.23. Entretanto, para os elétrons do tipo B, aparece o termo de
interferência, ou seja, só interferem as amplitudes de probabilidade associadas
aos elétrons para os quais não se pode determinar por qual fenda passaram.

Podemos, ainda, reduzir a perturbação devida ao espalhamento de luz, mantendo


a sua intensidade suficientemente elevada para garantir que todos os elétrons
que passam dão origem a um flash de luz espalhada. Basta, para isso, diminuir
a energia de cada fóton que, pela relação de Planck-Einstein , equivale a
diminuir a frequência , isto é, aumentar o comprimento de onda da luz.

Verifica-se, com isso, que para suficientemente grande, reaparecem os efeitos


de interferência, mesmo com a luz de intensidade elevada. Isso acontece
quando é da ordem da distância entre as duas fendas. Todavia, devido às
propriedades ondulatórias da luz, não podemos localizar uma partícula usando luz
de comprimento de onda melhor do que . Logo, nessa situação, não podemos
mais saber se a luz espalhada provém da fenda 1 ou da fenda 2.

O resultado dessa “conspiração da natureza” é que amplitudes de probabilidade


associadas a duas possibilidades diferentes (fenda 1 ou fenda 2) interferem
quando não é possível saber qual das duas foi seguida, e não interferem quando
é possível distingui-las. Caminhos indistinguíveis interferem.

Vemos assim que, na escala quântica, o processo de observação pode ter uma
influência decisiva no resultado observado. Conforme foi constatado por Dirac,
isso permite definir, pela primeira vez na Física, uma escala absoluta de tamanho,

148
Tópicos de Física Moderna

em que grande e pequeno deixam de ser apenas conceitos relativos. A escala


atômica e subatômica é pequena no sentido absoluto de que nela encontram-se
limitações absolutas às possibilidades de observação. Nesse sentido, é preciso
sempre especificar de que forma os objetos atômicos estão sendo observados.

A medida dessa escala é introduzida por meio da constante de Planck , n


qual uma ação é grande quando , condição necessária para que nos
aproximemos do nível macroscópico. Por esse motivo, é que não observamos
padrões de interferência no experimento de Young com balas de metralhadora.

2.4 Aplicação tecnológica: microscopia eletrônica


O microscópio eletrônico constitui um exemplo interessante e importante para
entender as propriedades ondulatórias e corpusculares dos elétrons. Um feixe de
elétrons pode ser usado para formar a imagem de um objeto de modo bastante
parecido com a formação da imagem por um feixe luminoso. Um raio de luz
pode ser desviado por reflexão ou refração e um feixe de elétrons pode ser
desviado usando-se um campo magnético ou um campo elétrico. Os raios que
divergem de um ponto sobre um objeto podem convergir pela ação de uma lente
convergente ou de um espelho côncavo, e um feixe de elétrons que diverge de
uma região pode convergir para outra mediante ação de um campo magnético e
ou um campo elétrico.

A analogia entre raios de luz e feixes de elétrons vai além. O modelo de raios
de óptica geométrica é uma aproximação do modelo ondulatório mais geral. A
óptica geométrica é válida quando os efeitos de interferência e de difração são
desprezíveis. Analogamente, o modelo do elétron como uma partícula puntiforme
deslocando-se ao longo de uma trajetória retilínea é uma descrição aproximada
do comportamento real do elétron.

No entanto, pela sua propriedade ondulatória e pela capacidade de produzir


elétrons com comprimentos de onda muito pequenos, pode-se gerar imagens
microscópicas com grandes efeitos na resolução e magnificação – em que
magnificação é o número de vezes que uma região da amostra é ampliada
quando a imagem é adquirida, enquanto que a resolução está relacionada com a
precisão em que os detalhes da amostra são revelados na imagem adquirida. O
quadro 5.1 apresenta essas diferenças quando comparadas aos microscópios
óptico e eletrônicos.

149
Capítulo 5

Quadro 5.1 – Comparação entre as microscopias óptica e eletrônica de acordo com os parâmetros
magnificação e resolução

Microscopia Microscopia
Microscopia Eletrônica de Eletrônica de
óptica Varredura (MEV) Transmissão (MET)

Magnificação

Resolução

Fonte: Elaboração do autor (2016).

2.4.1 Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV)


A técnica de microscopia eletrônica de varredura consiste em utilizar um feixe
de elétrons que realiza uma varredura pela superfície da amostra. Coletando-se
os elétrons secundários emitidos do material em função da região da superfície
em que foram emitidos, pode-se gerar uma imagem de toda superfície analisada
e, com isso, obter informações sobre a morfologia da amostra. A imagem de
microscopia eletrônica de varredura também pode ser gerada pela detecção dos
elétrons retroespalhados.

Um MEV é constituído, principalmente, por um canhão de elétrons, o qual gera


o feixe eletrônico; um conjunto de lentes eletromagnéticas que tem a função de
focalizar e varrer o feixe de elétrons em um ponto da superfície da amostra; um
sistema de detectores de elétrons; e um sistema de visualização de imagens.
Um esquema representativo de um MEV é mostrado na Figura 5.12. Durante
as análises, todo o sistema permanece com pressões inferiores a , para
garantir que os elétrons do feixe não venham a colidir com o gás residual no
interior da coluna de aceleração das partículas.

150
Tópicos de Física Moderna

Figura 5.12 – Representação esquemática de um microscópio eletrônico de varredura

Fonte: Silva, Pasa e Pasa (2011, p. 46).

2.4.2 Microscopia Eletrônica de Transmissão (MET)


A microscopia eletrônica de transmissão consiste em focalizar um feixe de
elétrons sobre uma amostra e analisar os elétrons transmitidos. Esse processo
resulta na projeção bidimensional da amostra em uma tela florescente, na qual
a imagem pode ser visualizada diretamente ou em uma câmara do tipo charge-
coupled device (CCD). O CCD é um dispositivo que capta os elétrons transmitidos
e transforma-os em uma imagem digital que pode ser visualizada no monitor
de um computador. É a mesma tecnologia presente nas máquinas fotográficas
digitais, que, nesse caso, capta a luz e a transforma em um sinal elétrico que
forma a imagem digital.

O Microscópio Eletrônico de Transmissão (MET) é constituído por um canhão de


elétrons e um conjunto de lentes eletromagnéticas, conforme mostra a Figura
5.13A. Para realizar uma análise com um microscópio eletrônico de transmissão,
é necessário utilizar materiais que apresentem uma região com espessura
extremante fina, para permitir a passagem do feixe eletrônico sem que ocorra
uma atenuação significativa de sua intensidade. Dessa forma, pode haver
superposições de imagens, como mostrado na Figura 5.13B.

151
Capítulo 5

Figura 5.13 – A) Representação da coluna de geração, aceleração e detecção de elétrons em um MET;


B) Esquema mostrando a formação da imagem na MET

Fonte: Silva, Pasa e Pasa (2011, p. 51-52).

Exemplo 5.11: o feixe de elétrons não relativísticos de um microscópio eletrônico


é formado por um dispositivo semelhante ao canhão eletrônico usado na
experiência de Davisson-Germer. Qual é a voltagem de aceleração necessária
para produzir um feixe de elétrons com comprimento de onda de
(aproximadamente, 50.000 vezes menor do que o comprimento de onda da luz
visível)? Despreze a energia cinética inicial do elétron. Dados: ,
.

Solução:

Utilizando a expressão e fazendo , temos:

Isolando a voltagem , obtemos:

152
Tópicos de Física Moderna

Seção 3
Interpretações da mecânica quântica
A principal dificuldade encontrada na teoria quântica consiste em conciliar,
em termos de interpretação ou entendimento, ideias antagônicas, como o
conceito de onda – fenômeno não localizado – com o conceito de partícula, ente
localizado. Não há, no mundo da física clássica, analogias que permitam fundir
o comportamento ora ondulatório, ora corpuscular. Como resultado, existem
diferentes interpretações para cada corrente ou escola de pensamento, em
que o resultado de um experimento – a detecção ou medida, embora sendo o
mesmo, apresenta diferentes epistemologias. Para se ter uma ideia das diferentes
posturas assumidas pelos cientistas frente aos resultados da teoria quântica,
apresentaremos a seguir algumas das principais linhas que, embora internamente
consistentes, podem ser, em alguns aspectos, bastante divergentes entre si, de
acordo com Osterman e Prado (2005).

3.1 Interpretação ondulatória-realista


Quando, em 1926, Schrödinger postulou a equação hoje conhecida por Equação
de Schrödinger e as condições de contorno a serem impostas nas suas
soluções, ele estabeleceu um formalismo em termos de conceitos de mecânica
ondulatória. Esse formalismo, por ter analogias com situações idênticas ou
apenas levemente modificadas em algum ramo particular da Física clássica,
como, mais especificamente para Schrödinger, a teoria clássica da eletricidade
em conjunção com a hipótese de que fenômenos ondulatórios são processos
básicos na natureza, acabou sendo amplamente adotado em livros-textos por
razões didático-pedagógicas.

A interpretação ondulatória atribui uma realidade ao estado sem postular que


exista nada além do que descreve o formalismo quântico. O estado não é uma
realidade que podemos observar diretamente, mas que, por meio do Postulado
de Born, estabelece probabilidades que evoluem no tempo como uma função de
onda. A função de onda é o ponto central dessa interpretação que não apresenta
nenhuma dificuldade para explicar fenômenos ondulatórios.

A consequência dessa visão realista é que as entidades dadas pela teoria


quântica correspondem a algo real na natureza, independentemente de
serem observadas ou não. Em poucas palavras, nesta interpretação, o fóton é
considerado um pacote de onda.

153
Capítulo 5

3.2 Interpretação da complementaridade – Escola de


Copenhague
A interpretação da complementaridade é mais conhecida como Escola de
Copenhague, por ter sido proposta primeiramente pelo físico dinamarquês Niels
Bohr e veementemente defendida por seus colaboradores, não sempre em total
consenso. O Princípio da Complementaridade de Bohr, enunciado em 1927,
estabelece que não é possível, em um mesmo experimento, fazer com que, de
forma simultânea, a luz mostre suas características corpusculares e ondulatórias.

Nessa interpretação, admite-se que o fóton ou qualquer partícula microscópica


possa comportar-se como onda ou partícula, mas nunca como ambos ao mesmo
tempo, dependendo do arranjo experimental colocado pelo experimentador.
Essa é uma interpretação também chamada de dualista-positivista, pois admite
a dualidade onda-partícula, mas considera que a teoria somente consegue
descrever aquilo que é observável. O estado é meramente um instrumento
matemático para realizar cálculos e obter previsões e, portanto, desprovido de
realidade física. A consequência direta dessa visão positivista é que nada se
pode dizer a respeito do comportamento de um fóton, por exemplo, em uma
experiência antes da detecção deste fóton. Somente após a detecção pode-se,
então, concluir se o comportamento assumido foi ondulatório ou corpuscular.

Apesar da rejeição de Schrödinger e Einstein, a Interpretação da


Complementaridade teve ampla aceitação entre físicos, principalmente por
Bonr e Dirac, nos primeiros vinte anos. As críticas desta interpretação são muito
conhecidas. A famosa frase de Einstein “Deus não joga dados com o universo”
e o experimento mental do gato vivo-morto de Schrödinger são exemplos
dos problemas epistemológicos relacionados às questões probabilísticas da
superposição de estados.

O sucesso da teoria quântica em todos os campos da microfísica levou a maioria


dos físicos a interessar-se mais por suas aplicações em problemas práticos
e em suas extensões para áreas ainda não exploradas. Geralmente, essa é a
interpretação que a maioria dos livros-textos apresenta sobre o desdobramento
das questões epistemológicas.

3.3 Interpretação dualista-realista


Desenvolvida por De Broglie em 1925 e aprofundada por David Bohm em 1952,
esta interpretação também é conhecida como teoria das variáveis ocultas. Essa
interpretação com cunho realista tenta conciliar o fenômeno ondulatório com o
fenômeno corpuscular na mesma experiência.

154
Tópicos de Física Moderna

Para os dualista-realistas, cada sistema quântico individual descrito pelo estado


é também caracterizado por estados adicionais ocultos rotulados por um
parâmetro , que seria a partícula com posição e velocidade bem determinadas.
O estado seria uma onda-piloto ou campo de probabilidades que guia a
partícula, mas sem carregar energia. A energia estaria concentrada na partícula.
Portanto, e , juntos, determinam o resultado da medida de um observável no
sistema. Simplificando, o fóton é considerado uma partícula a qual se associa
uma onda de matéria (ou onda-piloto).

3.4 Interpretação dos muitos mundos


Proposta por Hugh Everett III em 1957, esta interpretação também é
essencialmente de caráter ondulatório-realista. Apesar de sua desconcertante
estranheza, esta corrente de pensamento originou-se entre grupos da área
de teoria quântica da relatividade geral. A ideia da quantização do universo
(sistema isolado, fechado) e a ideia de uma função de onda para todo o universo
trouxeram dificuldades para as interpretações dualistas disponíveis na época.
Não poderia haver espaço para aparatos ou dispositivos de medida clássicos
e, muito menos, um observador externo. Ainda estudante de doutorado, Everett
III, orientado por John Wheeler, propôs a ideia que, em uma medida, todos
os valores possíveis da propriedade que está sendo medida são obtidos ou
“atualizados”, ao mesmo tempo. Os resultados ocorrem todos simultaneamente,
porém em mundos diferentes. Nesta interpretação, o fóton é um pacote de onda.

O problema do colapso da função de onda é um diferencial da interpretação


dos muitos mundos. Esta não precisa recorrer ao colapso da função de onda. A
Interpretação de Copenhague faz uma distinção clara entre observador e ente
observado: quando não há observador, o sistema evolui deterministicamente,
segundo a Equação de Schrödinger; mas, na presença do observador, a função
de onda sofre um colapso − o ato de observar o sistema, muda o sistema.

Na interpretação dos muitos mundos, observador e ente observado são


modelados conjuntamente, não há colapso da função de onda e a teoria
quântica continua, portanto, sendo determinística, sem recorrer às variáveis
ocultas. Isso foi uma clara tentativa de resgatar o determinismo. No entanto, a
grande dificuldade da interpretação dos muitos mundos está no fato de que
esses mundos formam um conjunto de subsistemas complexos, causalmente
conectados, que não interferem uns com os outros. Em termos dos autoestados,
um mundo é uma das componentes da superposição , uma das “notas do
sistema”, que representa um dos macroestados possíveis.

155
Considerações Finais

Prezado(a) acadêmico(a),

Ao final deste livro, você deve estar familiarizado com alguns dos novos conceitos
introduzidos pela Física moderna. Apesar de não serem intuitivos, estes conceitos
estão de acordo com os testes experimentais e confirmam que a realidade funciona
dessa maneira, no limite relativístivo e quântico. Como diria Niels Bohr, “Qualquer
um que não se choque com a Mecânica Quântica é porque não a entendeu”.

Espera-se que o estudo deste material tenha fornecido as respostas para as


inconsistências teórico-experimentais destacadas no Capítulo 1 e discutidas nos
capítulos posteriores.

Um dos pontos que emerge do conteúdo deste livro é a revolução científica


ocorrida nos domínios de validade entre a Física clássica e Física moderna.
Necessariamente, houve uma mudança de paradigma para a compreensão
desses fenômenos.

Além disso, é interessante observar a utilização do ferramental matemático na


construção desses modelos. Enquanto alguns cientistas desenvolveram suas
teorias a partir da experimentação, como a dedução da curva do corpo negro
por Planck ou a descoberta do núcleo atômico por Rutherford e colaboradores.
Outros, como Einstein, Bohr e De Broglie, mostraram sua intuição e capacidade
heurística para desvendar, teoricamente, os segredos da matéria e radiação.

Dessa forma, pode-se perceber que a atividade científica da Física está


intimamente relacionada com intuição e criatividade e, paralelamente,
compromissada com a matemática dos fenômenos naturais. A descoberta no
mundo da Física pressupõe essas características investigativas.

Por fim, assim como o cientista, o estudante também está encarando novos
conceitos e, apoiando-se nas ferramentas matemáticas, por isso, deve procurar
caminho e espaço para acomodar as novas ideias e apreendê-las. Para isso,
é necessário comprometimento e persistência nessa jornada. Assim, de forma
indireta, são desenvolvidas as competências necessárias para articulação com
outros problemas e a construção do conhecimento.

Sucesso em seus estudos!

Prof. Kelser Kock

157
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161
Sobre o Professor Conteudista

Kelser de Souza Kock


Possui licenciatura em Física pela Universidade Federal de Santa Catarina (2011).
Possui bacharelado em Fisioterapia pela Universidade do Estado de Santa
Catarina (2001), Especialização em Fisiologia do Exercício pela Universidade
do Extremo Sul Catarinense (2004) e especialização em Fisioterapia em Terapia
Intensiva pela Assobrafir (2010). Mestre em Ciências da Saúde pelo Programa de
Pós-graduação em Ciências da Saúde da Universidade do Sul de Santa Catarina
(2014). Professor dos cursos de Física, Fisioterapia e Medicina da Universidade
do Sul de Santa Catarina. Tem experiência na área de Biofísica, Biomecânica,
Física aplicada à Imaginologia, Fisioterapia em Terapia Intensiva e Reabilitação
Cardiopulmonar.

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