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PPGECM – UFU

TÓPICOS HFCM
2022/2

MARLÚCIA PERERIA SANTANA

ENSAIO – QUÍMICA

Ao longo da história, vários estudiosos tentam explicar a composição da matéria por


meio de modelos que representam suas conjecturas e está diretamente ligada à história
da ciência e com a evolução do pensamento científico. Sendo assim, o átomo é uma
representação construída por uma sucessão de teorias que vão aumentando sua
complexidade conforme a ciência avança. Hoje o modelo mais aceito na comunidade
científica que explica o comportamento da matéria é o dos orbitais, contudo, há lacunas
que precisam ser preenchidas.
Frente a isso, tem-se a seguinte pergunta: O modelo atômico atual constituiu uma
revolução científica na perspectiva Kuhniana?

Para poder responder a esse questionamento, antes é preciso refletir sobre alguns
pontos:

1) A compreensão da partícula formadora da matéria (o átomo) e seu


comportamento é estudada desde o início do pensamento científico e não se parou
até o momento.

Thales de Mileto acreditava que a água era a base de tudo enquanto outros filósofos
acreditava ser um dos outros três elementos; Aristóteles, alguns anos depois tentou
explicar que a formação da matéria dependia de “qualidades” como quente, úmido, frio,
seco dando origem a alquimia. Mas uma grande ruptura aconteceu quando Leucipo e
Demócrito, 400 a.C., criaram uma teoria de que a matéria era formada por uma partícula
indivisível e vácuo, o que não foi bem aceito. Anos mais tarde, Lavoisier e Proust com
seus trabalhos sobre a conservação de massas e proporções definidas, deram base para
as hipóteses de Dalton juntando as conjecturas de Demócrito que eram perfeitamente
justificadas pelos experimentos de Lavoisier e Proust. Ele afirmava que o átomo era
uma esfera maciça e indivisível e que se distinguiam por grupos com propriedades e
características semelhantes formando um elemento químico. Porém, ele foi rapidamente
refutado porque não conseguia explicar certos comportamentos da matéria, como a
natureza elétrica e foi quando Thomson, estudando os gases observou um fenômeno que
lhe chamou a atenção. Com o auxílio de Crookes para aperfeiçoar seu aparato científico
e com a colaboração de Rutherford concluíram que o átomo não era uma esfera maciça,
mas composta por partículas, sendo em maior proporção positivas, uma porção neutra
encrustado de cargas negativas. Mas algumas questões ainda continuavam sem resposta
como a instabilidade de alguns elementos químicos como o rádio e o polônio estudados
por Marie Currie. Em busca de respostas, Rutherford realizou experimentos e constatou,
com a colaboração de outros cientistas como Geiger e Marsden que o átomo possuía
espaços vazios entre seu núcleo e os elétrons que estavam girando ao seu redor. Com
isso ele propôs um novo modelo atômico que Chadwick completou com a proposição
do neutro, constituindo o modelo planetário onde o átomo era composto por um núcleo
com cargas positivas e neutras e ao seu redor estava girando os elétrons. Esse modelo
não foi suficiente para explicar questões como a atração das partículas de cargas opostas
ao percorrerem um trajeto deveria perder energia o que não acontecia. Foi quando
Planck contribuiu com seus estudos sobre os fótons, e Rutherford e Bohr elaboraram o
modelo atômico dos orbitais. Contudo, esse modelo também não satisfaz por completo
o entendimento do átomo, explica bem para o átomo de hidrogênio enquanto para os
demais há dúvidas em relação a energia constante do elétron e sua trajetória. Para
encontrar explicações, outros estudiosos com de Broglie e Heisenberg contribuíram com
a dualidade do elétron com seu comportamento corpuscular e ondulatório constituindo o
princípio da incerteza. Schrödinger, utilizou equações matemáticas na tentativa de
descrever a probabilidade de encontrar um elétron numa região específica e concluiu
que não é possível, mas que existe uma “nuvem” ao redor do núcleo onde a chance é
maior. Vejamos então que há muito a se conhecer sobre o átomo.

2) De onde surgiu a Revolução Científica?

Mais uma vez a história da ciência entra em campo e mostra a importância do resgate
das produções da Antiguidade, a contribuição da ciência islâmica medieval e o
surgimento da imprensa foram imprescindíveis para a popularização do pensamento
científico. A burguesia foi importante para a dissolução aristocrática e enfraquecimento
do domínio da igreja sobre a cultura. Porém, por muito tempo muitos pensadores
sofreram perseguições e a influência aristotélica era muito forte. Porém, Ptolomeu
conseguiu romper o geocentrismo para o heliocentrismo, abrindo a mente para outros
espaços no tempo.
Copérnico deu início a esse movimento quando explicou o movimento das estrelas.
Foram surgindo novas ideias no campo da física, da biologia, da química, resultado da
mudança de paradigma filosófico, rompendo com o modelo de pensamento medieval
que se tinha sobre a natureza e a vida que eram influenciados pela fé e religião,
alicerçando as bases da ciência moderna.

3) Como Kunh interpreta esse fenômeno?

Kunh critica que a ciência não cumula conhecimento de forma linear e se opõe ao
modelo indutivista-emprirista. Ele acredita que as observações são precedidas de
teorias, não neutras, mas que são construtivistas, inventivas e conhecimento não é
definitivo.

Para esse pensador, a ciência é tida como uma sequência de períodos que são
interrompidos por revoluções, crises, anomalias, culminando em sua ruptura e que
podem ser incomensuráveis – aspectos conflitantes entre os paradigmas e pensam em
adotar um novo ou relutar sendo esses persuadidos por cientistas a mudar para um novo
paradigma.

Os paradigmas são compostos por suposições teóricas gerais e leis e técnicas que se
aplicam a uma matriz disciplinar (grupos de especificidades): generalizações simbólicas
que se assemelham as leis da natureza, modelos particulares, antológicos. Os valores
são compartilhados, o que gera um sentimento de pertencimento entre os participantes
dos paradigmas, as predições são valores que os cientistas aderem. Esses valores servem
para julgar as teorias e devem ser compatíveis com outras teorias existentes aceitas.
Dessa forma, a existência do paradigma e a ciência normal é o que distingue ciência e
da não ciência.

Kuhn retrata a ciência normal como uma atividade de resolução de problemas regidas
pelas regras de um paradigma e as anomalias geram problemas sérios até desenvolver
uma crise e assim uma revolução gerando um novo paradigma.

Resposta:
Diante do exposto, é possível argumentar que para que ocorresse as primeiras hipóteses
sobre átomo, foi preciso acontecer uma incomensurabilidade, uma mudança de
paradigma pois chegou a um ponto onde os pensamentos se divergiam e um precisava
se sobrepor ao outro e assim, o pensamento medieval deu lugar ao pensamento
científico. Porém, ao olharmos para o caminho percorrido da primeira hipótese sobre a
constituição da matéria para o modelo atômico dos orbitais, observamos que há
evidências da ciência normal, baseado em um paradigma, conseguem evoluir e
preencher lacunas deixadas pelo modelo anterior. Ou seja, os paradigmas não surgem do
nada, mas se modificam a partir de um outro, podendo por exemplo, passar de uma
hipótese em um para uma contestação no outro.

É preciso considerar que cada pensador trabalhou com o que tinha disponível de
tecnologia para o seu tempo, dando espaço para o surgimento de uma diversidade de
teorias contemporâneas que formam um grande repertório de embasamento para as
próximas. A criação de novos paradigmas, pode se assim dizer que não se dão por meio
de critérios pré-concebidos, mas que são criados instrumentos para resolver os
problemas.

Porém, é preciso pensar que uma nova mudança de paradigma, uma revolução científica
está prestes a acontecer: o mundo quântico é uma realidade e não dialoga bem com o
universo newtoniano, ou seja, as teorias estão a interferir uma na outra, o que pode dar
origem a um vocabulário totalmente diferente do que temos hoje e assim
explicar/aceitar o modelo de átomo mecânico quântico.

Em suma, a incomensurabilidade é impedimento temporário ao entendimento e que


pode ser superando se tornando uma comensurabilidade ou o contrário, pois os critérios
que regem os paradigmas são contextuais e provisórios.

Referências Bibliográficas:

HENRY, J. A revolução científica e a origem das ciências modernas. Tradução: Maria


Luiza X. de A. Borges - Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1998.

KUHN, T. A Estrutura das Revoluções Científicas. 5ª ed. São Paulo: Perspectivas,


1998.
LOPES, C. V. M. Modelos atômicos no início do século XX: da física clássica à
introdução da teoria quântica. Tese de doutorado – PUC-SP, São Paulo, 2009.

WITTGENSTEIN, Ludwig. Investigações filosóficas. Lisboa: Fundação Calouste


Gulbenkian, 2002

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