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A HISTÓRIA DOS MODELOS ATÔMICOS

Autor: Luigi Carvalho Ferreira1


Orientador: Karine Rita Bresolin2
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Curso (FLC3751FSA) – Projeto de Ensino (FSA111)
10/09/2023

RESUMO

Este artigo explora a rica e fascinante história dos modelos atômicos, desde as
especulações filosóficas dos antigos pensadores gregos até o advento da mecânica
quântica no século XX. Começando com os primeiros conceitos de átomos propostos por
Demócrito e Leucipo na antiguidade, traçamos a evolução do pensamento científico e as
contribuições de figuras notáveis como John Dalton, Niels Bohr e Ernest Rutherford. Ao
longo dessa jornada intelectual, discutimos como cada modelo atômico contribuiu para a
compreensão da estrutura atômica, destacando as descobertas fundamentais, como a
existência do núcleo atômico e a natureza probabilística dos elétrons, que redefiniram
nossa visão do mundo subatômico. Além disso, examinamos como a ciência continua a
evoluir, desafiando constantemente nossas concepções sobre os átomos e a matéria. Ao
compreender essa história rica e dinâmica, ganhamos uma apreciação mais profunda das
bases da química e da física modernas, bem como da incessante busca pelo
conhecimento e pela compreensão das unidades fundamentais da natureza. Este trabalho
oferece uma visão abrangente da evolução dos modelos atômicos, destacando sua
importância contínua na ciência e na tecnologia contemporâneas. Por fim, também
apresentamos um experimento de baixo custo para explicar o tema para alunos do ensino
médio.

Palavras-chave: Modelos atômicos; Modelo de Dalton; Modelo de Rutherford-Bohr

1 INTRODUÇÃO

Desde tempos imemoriais, a busca pelo entendimento da natureza da matéria tem


sido uma das buscas mais apaixonantes da humanidade. A essência fundamental desse
quebra-cabeça cósmico reside nos átomos, as unidades invisíveis que constituem todos
os elementos conhecidos e desempenham um papel central na física e na química
modernas. Imagine, por um momento, um mundo onde tudo o que vemos, tocamos e
sentimos é composto por partículas minúsculas, cada qual com suas características
únicas e propriedades intrigantes. Este é o mundo dos átomos, um universo oculto que se

1
Luigi Carvalho Ferreira; Acadêmico do Curso de Licenciatura em Física; E-mail:
3258681@uniasselvi.com.br
2
Karine Rita Bresolin; Tutor Externo do Curso de Licenciatura em Física – Polo Vila-Velha; E-mail:
100101761@tutor.uniasselvi.com.br
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revela apenas aos olhos da mente científica e que transformou nossa compreensão do
cosmos.
Átomos são os alicerces da realidade, as pedras fundamentais que sustentam o
edifício do universo. Cada elemento químico que encontramos, desde o oxigênio que
respiramos até o ouro que brilha com sua cintilante riqueza, é composto por átomos.
Essas partículas microscópicas são os tijolos da química, as peças do quebra-cabeça
que, quando montadas de diferentes maneiras, criam toda a diversidade e complexidade
que vemos ao nosso redor.
A importância dos átomos não se limita apenas à química, estendendo-se à física e
a praticamente todas as áreas da ciência. Na física moderna, os átomos desempenham
um papel crucial na compreensão das forças que governam o universo, desde a
gravidade que mantém os planetas em órbita até as interações subatômicas que ocorrem
nos confins do núcleo atômico. Nos laboratórios, cientistas desvendaram segredos
profundos sobre o comportamento dos átomos, usando-os como ferramentas para
investigar o cosmos em escalas micro e macroscópicas.
Ao longo dos séculos, o entendimento dos átomos evoluiu consideravelmente,
passando por modelos antigos baseados na filosofia dos pensadores gregos até a teoria
atômica moderna, sustentada pela física quântica e pela mecânica atômica. Nesta jornada
intelectual, os cientistas revelaram um mundo invisível de partículas em constante
movimento, uma dança complexa de elétrons, prótons e nêutrons que molda a realidade
em sua menor escala.
Neste trabalho, embarcaremos em uma jornada pela história dos modelos
atômicos, explorando como nossa compreensão dos átomos evoluiu ao longo do tempo e
como esses minúsculos constituintes da matéria têm desempenhado um papel
transformador na ciência e na tecnologia modernas. À medida que mergulhamos no
intrigante mundo dos átomos, descobriremos como essas partículas invisíveis, mas
poderosas, moldaram e continuam a moldar o nosso entendimento fundamental da
natureza.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Na busca milenar pela compreensão da matéria e de sua natureza fundamental, os


pensadores da Antiguidade deram os primeiros passos na elaboração de modelos
atômicos que lançaram as bases para a futura ciência. Entre esses visionários, dois
nomes se destacam: Demócrito e Leucipo. Assim como consta no livro ‘Democritus:
Science, The Arts, and the Care of the Soul: Proceedings of the International Colloquium
on Democritus’ (Brancacci, 2006), eles formularam uma concepção revolucionária que
sugeria a existência de partículas indivisíveis chamadas átomos, uma ideia que desafiava
as concepções dominantes da época e que, mais tarde, moldaria a nossa visão moderna
da matéria.
Demócrito, um filósofo grego do século V a.C., foi o principal proponente da teoria
atômica na Antiguidade. Ele argumentava que tudo no universo era composto por
partículas extremamente pequenas e indivisíveis, que chamou de "átomos" (do grego
"atomos", que significa "indivisível"). A visão de Demócrito era uma resposta à filosofia de
Parmênides, que afirmava que a realidade era contínua e indivisível. Demócrito, por outro
lado, argumentava que a matéria era discreta e composta por um número infinito de
átomos diferentes em forma, tamanho e movimento.
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Leucipo, contemporâneo de Demócrito, também contribuiu para o desenvolvimento


da teoria atômica. Ele introduziu a ideia de que o movimento dos átomos era a causa das
mudanças e transformações observadas na natureza. De acordo com Leucipo, a
interação e a colisão dos átomos explicavam como as substâncias poderiam ser
transformadas umas nas outras.
No entanto, vale ressaltar que as ideias de Demócrito e Leucipo não eram
baseadas em experimentos ou evidências científicas diretas, mas sim em especulações
filosóficas. Na época, a falta de métodos experimentais e tecnológicos adequados limitava
a capacidade de verificar empiricamente essas teorias.
Os modelos atômicos de Demócrito e Leucipo foram, de certa forma, esquecidos
ao longo dos séculos seguintes, à medida que outras filosofias e sistemas de pensamento
ganharam destaque. No entanto, essas ideias antigas ressurgiram e foram revigoradas
durante a Revolução Científica da Idade Moderna, quando os cientistas começaram a
desenvolver métodos mais rigorosos de investigação e a coletar evidências concretas
sobre a natureza dos átomos.
Em resumo, os modelos atômicos de Demócrito e Leucipo representaram um
marco na história da ciência, pois lançaram as sementes da ideia de que a matéria é
composta por partículas indivisíveis e forneceram um ponto de partida para futuros
estudos e teorias sobre os átomos. Embora tenham sido concebidos em uma época em
que a experimentação direta era limitada, esses modelos filosóficos contribuíram
significativamente para a evolução da nossa compreensão sobre a natureza fundamental
da matéria.
Durante a Idade Média e o Renascimento, a alquimia desempenhou um papel
significativo na história do estudo dos átomos e da matéria, influenciando a compreensão
dos elementos e fomentando a crença na possibilidade de transmutação (Lopes, 2018).
Essa tradição, que floresceu durante esses períodos, mesclava elementos de filosofia,
misticismo e química primitiva, enquanto perseguia objetivos audaciosos, como a
transformação de metais comuns em ouro e a busca da pedra filosofal, uma substância
mágica que prometia a imortalidade.
Uma das ideias-chave da alquimia era a crença de que todos os metais eram
compostos de diferentes proporções dos mesmos princípios básicos, frequentemente
referidos como os "quatro elementos" - terra, água, fogo e ar. Essa concepção foi
influenciada pela filosofia aristotélica, que datava dos tempos antigos e desempenhou um
papel importante no pensamento alquímico. Aristóteles postulou que a matéria era
composta por combinações variáveis dos quatro elementos e que a transmutação ocorria
através da alteração das proporções desses elementos.
A ideia de que os metais poderiam ser convertidos uns nos outros através da
transmutação era uma pedra angular da alquimia. Os alquimistas acreditavam que, ao
aplicar métodos secretos e misteriosos, eles poderiam transformar metais base em ouro
nobre (Asimov, 1965; Peduzzi, 2005). Além disso, a busca da pedra filosofal, uma
substância que supostamente conferia a capacidade de realizar a transmutação, era
central para a alquimia.
Embora a alquimia tenha sido frequentemente criticada por seu caráter
especulativo e místico, ela também contribuiu para o desenvolvimento da química. Os
alquimistas realizaram experimentos práticos, desenvolveram técnicas de destilação e
sublimação e acumularam conhecimentos sobre a natureza dos materiais e compostos.
Essas práticas e descobertas desempenharam um papel importante na evolução da
química, mesmo que muitos dos objetivos alquímicos tenham se revelado inatingíveis.
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Com o tempo, a alquimia evoluiu para a química moderna, à medida que os


métodos científicos e a compreensão da matéria se desenvolveram. A ideia da
transmutação dos elementos foi eventualmente substituída pela teoria atômica, que
descreve a matéria como composta por átomos indivisíveis e imutáveis. No entanto, a
alquimia e suas ideias influenciaram profundamente o pensamento científico e a busca
pelo entendimento da composição e transformação da matéria, deixando um legado
duradouro na história da ciência.
No início do século XIX, uma nova era na compreensão dos átomos começou a
tomar forma, liderada por um químico e meteorologista britânico chamado John Dalton.
Seu trabalho revolucionário estabeleceu as bases para a teoria atômica moderna, que
propôs uma visão radicalmente diferente dos átomos e das substâncias químicas em
comparação com os modelos antigos.
John Dalton, nascido em 1766, dedicou sua vida ao estudo da matéria e das
reações químicas. Em 1803, ele apresentou sua teoria atômica, um marco fundamental
na história da química. A teoria de Dalton tinha três pontos principais:
● Átomos como Partículas Indivisíveis: Dalton propôs que os átomos eram esferas
indivisíveis e indestrutíveis, como esferas de bilhar. Isso foi uma ruptura radical com os
modelos antigos que consideravam a matéria como contínua e divisível até o infinito.
Segundo Dalton, os átomos eram os blocos de construção fundamentais da matéria, e
eles mantinham suas identidades distintas em todas as reações químicas (Ferreira, 2018).
● Composição das Substâncias Químicas: Dalton afirmou que os compostos
químicos eram formados por combinações específicas de átomos em proporções
definidas. Por exemplo, a água sempre consistiria de dois átomos de hidrogênio e um
átomo de oxigênio (H2O), e essa proporção nunca mudaria em uma reação química. Essa
ideia da lei das proporções definidas foi uma contribuição significativa para a química.
Isso também pode ser percebido pelo trecho do texto:

O primeiro passo na minha investigação foi procurar as leis de combinação de


gases não só na minha própria experiência, mas na literatura química. A minha
leitura me satisfez com a existência de uma lei de combinação simples, segundo a
qual as diferentes massas dos mesmos volumes de gases simples são direta e
simplesmente proporcionais às massas específicas desses gases; ou, em outras
palavras, que as massas dos mesmos volumes de gases simples são diretamente
proporcionais aos números inteiros que representam as massas específicas dos
gases. (John Dalton,1808, p.122).

● Reações Químicas como Rearranjos de Átomos: Dalton propôs que as reações


químicas envolviam apenas o rearranjo dos átomos, em vez da criação ou destruição de
átomos. Isso significava que, mesmo que as substâncias mudassem suas propriedades
durante uma reação química, os átomos permaneceriam inalterados (Pullman, 1998).
A teoria atômica de Dalton trouxe uma abordagem mais rigorosa e científica ao
estudo da química, substituindo as especulações filosóficas por observações e
experimentos . Seu trabalho forneceu uma estrutura sólida para explicar a diversidade das
substâncias químicas e como elas se comportavam em reações químicas.
No final do século XIX, a compreensão da estrutura atômica avançou mais um
passo com a descoberta dos elétrons, partículas subatômicas carregadas negativamente.
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A figura central nesse desenvolvimento foi o físico britânico J.J. Thomson, cujo modelo
atômico inovador ficou conhecido como o "modelo do pudim de passas".
A descoberta dos elétrons começou com experimentos em tubos de raios
catódicos, que eram dispositivos de vácuo contendo elétrons em movimento. Thomson
investigou esses raios catódicos e determinou que eles eram compostos por partículas
muito pequenas e carregadas negativamente. Ele denominou essas partículas de
"elétrons", um termo que ainda é usado hoje.
Com a descoberta dos elétrons, Thomson se perguntou como eles estavam
relacionados à estrutura dos átomos (Halliday, 2008). Sua proposta, em 1897, foi um
modelo revolucionário que desafiou a visão anterior de que os átomos eram esferas
indivisíveis.
No modelo de Thomson, o átomo era comparado a um pudim de passas, em que a
esfera positivamente carregada representava a massa do átomo e os elétrons eram como
passas distribuídas uniformemente e incrustadas na esfera de carga positiva. Isso
implicava que os elétrons estavam espalhados pela estrutura atômica e não eram
indivisíveis, como se acreditava anteriormente.
Este modelo sugeria que os elétrons estavam em equilíbrio com a carga positiva,
de modo que o átomo como um todo permanecia eletricamente neutro (Thomson, 1904).
A ideia do modelo do pudim de passas também explicava algumas observações
experimentais, como a condução de eletricidade através de gases rarefeitos em tubos de
raios catódicos.
O modelo de Thomson marcou um avanço importante na compreensão da
estrutura atômica, mas estava longe de ser completo. Faltava uma explicação detalhada
sobre como os elétrons se organizavam dentro do átomo e como as interações elétricas
ocorriam entre eles. Foi nesse contexto que o físico neozelandês Ernest Rutherford
conduziu uma série de experimentos notáveis que revolucionaram nossa compreensão da
estrutura atômica e revelaram a existência do núcleo atômico.
Em 1909, Rutherford e sua equipe realizaram a famosa "experiência de
espalhamento de partículas alfa". Nesse experimento, eles bombardearam uma fina folha
de ouro com partículas alfa, que eram partículas carregadas positivamente e com alta
energia. A expectativa era que, de acordo com o modelo de Thomson, as partículas alfa
passariam facilmente através da folha de ouro, com apenas pequenos desvios em sua
trajetória devido às interações com os elétrons espalhados.
No entanto, os resultados da experiência surpreenderam Rutherford e sua equipe.
A maioria das partículas alfa passou diretamente pela folha de ouro, mas algumas delas
foram desviadas em ângulos inesperados, e algumas até voltaram na direção de onde
vieram. Esse fenômeno de dispersão foi completamente contrário ao que o modelo de
Thomson previa.
Para explicar esses resultados surpreendentes, Rutherford propôs um novo modelo
atômico (Rutherford, 1911). Ele argumentou que os desvios e retrocessos das partículas
alfa só poderiam ser explicados se a maior parte da massa do átomo estivesse
concentrada em uma região extremamente pequena e densa no centro, que ele chamou
de "núcleo". Esse núcleo deveria ser carregado positivamente para explicar a repulsão
das partículas alfa carregadas positivamente.
De acordo com o modelo de Rutherford, os elétrons continuavam a orbitar o
núcleo, mas agora em uma região mais afastada. Essa configuração tornou-se conhecida
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como o "modelo planetário" do átomo, com os elétrons orbitando o núcleo semelhante aos
planetas em órbita ao redor do Sol.
A descoberta do núcleo atômico e o modelo proposto por Rutherford foram
revolucionários, pois revelaram que a maior parte da massa de um átomo estava
concentrada em uma pequena região central, tornando o átomo principalmente espaço
vazio. Além disso, esse modelo abriu caminho para o estudo posterior da estrutura
nuclear e a compreensão das forças que mantêm os prótons e nêutrons no núcleo unidos.
No entanto, ainda haviam questões fundamentais sobre como os elétrons se
comportavam nas órbitas ao redor do núcleo e como emitiam ou absorviam energia
(Lopes, 2009). Foi nesse contexto que o físico dinamarquês Niels Bohr desenvolveu seu
modelo atômico, que introduziu a ideia de órbitas quantizadas e forneceu uma explicação
para os espectros de linha dos átomos.
Em 1913, Niels Bohr propôs seu modelo atômico, que mudou novamente a
compreensão da estrutura atômica ao introduzir órbitas quantizadas para os elétrons. Em
vez de permitir que os elétrons orbitassem o núcleo em qualquer órbita contínua, como no
modelo planetário de Rutherford, Bohr postulou que os elétrons só poderiam ocupar
órbitas específicas e quantizadas (Bohr, 1913).
Essas órbitas quantizadas tinham níveis de energia discretos, nos quais os elétrons
podiam residir. Quando um elétron estava em uma órbita de menor energia (nível
fundamental), estava em seu estado de menor energia possível. Quando absorvia
energia, poderia saltar para uma órbita de maior energia (nível excitado). Da mesma
forma, quando voltava de uma órbita mais alta para uma mais baixa, emitia energia na
forma de fótons de luz visível. Isso fica explícito no trecho:

...os elétrons em um átomo ocupam órbitas quantizadas ao redor do núcleo e


emitem ou absorvem energia apenas em valores discretos ao saltarem entre
essas órbitas. (Niels Bohr, 1913, p.21).

A explicação de Bohr para os espectros de linha de átomos, que são padrões


específicos de cores ou frequências de luz emitida ou absorvida por átomos, foi um dos
pontos fortes de seu modelo. Ele mostrou que os elétrons emitiam luz apenas em
frequências específicas quando faziam transições entre órbitas. Isso explicou por que os
espectros de linha eram tão distintos e precisos para cada elemento químico, uma vez
que os níveis de energia eram únicos para cada átomo (Lopes, 2009).
O modelo de Bohr foi um grande avanço na compreensão dos átomos, mas
também tinha suas limitações. Ele só funcionava para átomos com um único elétron,
como o hidrogênio, e não podia explicar completamente o comportamento de átomos
mais complexos. No entanto, a ideia de órbitas quantizadas e a explicação dos espectros
de linha foram fundamentais para o desenvolvimento posterior da mecânica quântica.
O trabalho de Bohr contribuiu significativamente para a transição da física clássica
para a física quântica e desempenhou um papel crucial na compreensão da estrutura
atômica. Seu modelo abriu as portas para uma compreensão mais profunda dos elétrons
como partículas quânticas e estabeleceu as bases para a teoria quântica, que
revolucionou nossa visão do mundo subatômico.
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Por fim, a mecânica quântica, desenvolvida no início do século XX, trouxe uma
nova perspectiva sobre o comportamento dos elétrons, descrevendo-os não como
partículas definidas em órbita, mas como nuvens de probabilidade.
A mecânica quântica foi desenvolvida por físicos como Werner Heisenberg, Erwin
Schrödinger, Max Planck e outros, como uma teoria fundamental para descrever o
comportamento de partículas subatômicas (Freire Jr, 2011). Uma das contribuições mais
significativas dessa teoria para a compreensão dos átomos foi a ideia de que a posição e
a velocidade de um elétron não podem ser determinadas com precisão simultaneamente.
Isso levou à formulação do Princípio da Incerteza de Heisenberg, que afirma que há
limitações fundamentais para o conhecimento simultâneo de certas propriedades de
partículas subatômicas, como a posição e a quantidade de movimento.
Com base nesse princípio, a mecânica quântica introduziu o conceito de "orbitais"
em vez de órbitas definidas para os elétrons, onde os orbitais são regiões do espaço onde
há uma alta probabilidade de encontrar um elétron. Essas regiões são geralmente
representadas como nuvens de probabilidade que envolvem o núcleo atômico. Os
elétrons não têm trajetórias bem definidas como planetas em órbita, mas existem em
estados de energia quantizados ao redor do núcleo, nos quais a densidade de
probabilidade é maior.
Essa representação probabilística dos elétrons é conhecida como "nuvem
eletrônica". Ela descreve a probabilidade de encontrar um elétron em uma determinada
região do espaço em torno do núcleo, e essa probabilidade é expressa como uma
densidade de probabilidade. Quanto maior a densidade de probabilidade em uma região,
maior é a probabilidade de encontrar um elétron ali.
Os orbitais são classificados em diferentes tipos (s, p, d, f) e formas (por exemplo,
esféricos, em forma de haltere, em forma de pêra), cada um com suas próprias
características de densidade de probabilidade. Essa complexidade nas formas dos
orbitais resulta na diversidade das estruturas atômicas e moleculares que observamos na
química.
O modelo atômico moderno baseado na mecânica quântica é altamente preciso e
capaz de descrever com grande exatidão o comportamento dos átomos e moléculas. Ele
fornece uma base sólida para a compreensão da química e da física modernas,
permitindo prever e explicar as propriedades dos materiais e as reações químicas em
uma escala atômica e subatômica. A mecânica quântica desempenhou portanto um papel
fundamental na revolução científica do século XX e continua sendo uma das teorias mais
bem-sucedidas e testadas da física moderna.

3 EXPERIMENTO

Neste trabalho, um dos objetivos que temos em mente é o de propor um


experimento de baixo custo que possa ser realizado em salas de aula de turmas do
ensino médio. Por isso, tivemos a ideia de montar o experimento da chama colorida para
o modelo de Bohr. O objetivo é demonstrar o modelo atômico de Bohr, e como ele pode
ser aplicado para explicar a emissão de cores diferentes por elementos químicos quando
são aquecidos.
Para isso, necessitamos dos seguintes materiais:
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1. Bico de Bunsen ou uma fonte de calor (uma vela, ou um barbante grosso


embebido num recipiente com um pouco de fluido de isqueiro)
2. Hastes de vidro (ou qualquer metal adequado para suportar altas temperaturas)
3. Sal de sódio (nitrato de sódio) para emitir uma cor amarela
4. Sulfato de cobre para emitir uma cor verde
5. Recipientes para conter os sais
6. Fósforo de madeira (ou palito de fósforo não fosforescente)
7. Ambiente com pouca luz ambiente (sala escura ou sem janelas)
Podemos ver os materiais na seguinte figura:

Para realizar o experimento é necessário aplicar os seguintes procedimentos:


1. Coloque as hastes de vidro nos sais individuais (sódio e cobre) para preparar
dois "espetos" de vidro.
2. Acenda o bico de Bunsen ou a fonte de calor e ajuste-o para obter uma chama
limpa e bem definida.
3. Coloque as hastes de vidro, uma de cada vez, na chama. Observe as cores que
são emitidas quando os sais são aquecidos.
4. O sal de sódio deve emitir uma cor amarela característica. Podemos ver isso
acontecendo na seguinte figura:
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5. O sal de cobre deve emitir uma cor verde brilhante. Podemos ver isso
acontecendo na seguinte figura:

6. Certifique-se de manter os materiais inflamáveis afastados da chama.


7. Repita o experimento várias vezes para verificar a consistência das cores
emitidas por cada sal.
Este experimento demonstra como os elétrons em órbita ao redor do núcleo de um
átomo, de acordo com o modelo de Bohr, podem ser excitados ao receber energia térmica
(calor). Quando os elétrons retornam de níveis de energia mais elevados para níveis mais
baixos, eles emitem energia na forma de luz visível, produzindo cores características.
O uso de diferentes sais demonstra como elementos químicos distintos emitem
cores diferentes quando excitados termicamente. Isso pode ser relacionado ao espectro
de linha do hidrogênio, que Bohr explicou em seu modelo, onde as transições de elétrons
entre órbitas quantizadas resultam em linhas espectrais específicas.
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Este experimento ajuda os alunos a entender como os conceitos do modelo de


Bohr se aplicam à emissão de luz e à identificação de elementos químicos com base nas
cores que eles emitem quando aquecidos. Além disso, enfatiza a ideia de que os elétrons
só podem existir em níveis de energia específicos, conforme proposto por Bohr em seu
modelo atômico.

4 MATERIAIS E MÉTODOS/METODOLOGIA

O desenvolvimento do presente trabalho não pôde ser realizado como pesquisa de


campo devido às restrições impostas pela pandemia de Coronavírus, esta foi realizada de
maneira bibliográfica e documental, a fundamentação teórica do trabalho foi embasada
em autores da área, com pesquisas que estudam a história dos modelos atômicos. Esta
pesquisa foi realizada de maneira qualitativa pois analisa a fundo o referencial teórico
sobre o tema disponível.
Para alcançar os objetivos desta pesquisa, adotou-se portanto uma abordagem
metodológica que combina elementos qualitativos e históricos. Esta abordagem permite
uma análise abrangente da evolução dos modelos atômicos desde os filósofos gregos até
o modelo de Bohr, enfatizando as mudanças conceituais e teóricas que ocorreram ao
longo do tempo.
No caso, toda a pesquisa foi realizada a partir de artigos que podem ser
encontrados na plataforma CAPES e no Google Acadêmico. Tais artigos estão
devidamente referenciados ao longo do texto da seção da fundamentação teórica e
podem ser vistos na seção de referências bibliográficas deste artigo. Podemos, no
entanto, resumir como sendo a base deste trabalho, as obras de A. Brancacci, B. Lopes,
L. Peduzzi e B. Pullman.
Um outro ponto importante para o nosso trabalho foi a realização de um
experimento de baixo custo que possa ser realizado em salas de aula do ensino médio.
Para isso, nós construímos o experimento da chama colorida para o modelo de Bohr. O
objetivo é demonstrar o modelo atômico de Bohr, e como ele pode ser aplicado para
explicar a emissão de cores diferentes por elementos químicos quando são aquecidos.
Nisso, conseguimos mostrar que é possível determinar a composição química de uma
substância apenas observando a cor da chama que ela produz ao ser colocada no fogo.

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Ao longo desta exploração da história dos modelos atômicos, foi possível traçar
uma linha do tempo que abrange mais de dois milênios de descobertas e avanços na
compreensão da estrutura fundamental da matéria. Os modelos atômicos evoluíram
continuamente, refletindo não apenas o progresso na ciência, mas também as mudanças
culturais, filosóficas e tecnológicas ao longo do tempo. Essa linha do tempo pode ser
elencada do modelo antigo para o mais atual da seguinte forma:
● Modelo de Demócrito e Leucipo: Esses filósofos foram pioneiros ao sugerir a
existência de átomos indivisíveis. Embora suas ideias fossem filosóficas e especulativas,
elas lançaram as sementes para futuras investigações científicas sobre a natureza dos
átomos.
● Modelo de Dalton: John Dalton introduziu a teoria atômica moderna, descrevendo
átomos como esferas indivisíveis e propondo que os compostos químicos eram formados
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por combinações de átomos em proporções definidas. Isso trouxe uma abordagem mais
científica para a compreensão dos átomos e das substâncias.
● Modelo de Thomson: O modelo de Thomson, com seus elétrons incrustados na
esfera positiva do átomo, trouxe à tona a ideia de que os elétrons eram partículas
subatômicas com uma carga negativa, alterando nossa visão da estrutura atômica.
● Modelo Nuclear de Rutherford: Ernest Rutherford surpreendeu o mundo científico
ao descobrir o núcleo atômico e propôs um modelo no qual a maior parte da massa do
átomo estava concentrada em uma região central. Isso revolucionou a compreensão da
estrutura atômica e inspirou novos questionamentos.
● Modelo de Bohr: Niels Bohr introduziu órbitas quantizadas para os elétrons e
explicou os espectros de linha dos átomos. Sua teoria proporcionou uma transição suave
do modelo de Rutherford para a mecânica quântica, destacando a importância da
quantização de energia.
● Modelo Atômico Moderno (Mecânica Quântica): A mecânica quântica reformulou
completamente nossa compreensão dos átomos, tratando os elétrons como nuvens de
probabilidade, onde a localização precisa e a velocidade simultâneas são impossíveis de
determinar. Essa abordagem probabilística é fundamental para a compreensão dos
fenômenos subatômicos.
Ao discutir esses resultados, podemos concluir que a ciência é uma jornada
contínua, caracterizada por mudanças, refinamentos e avanços constantes. Os modelos
atômicos evoluíram à medida que novas descobertas foram feitas e novas teorias foram
desenvolvidas. A história dos modelos atômicos também destaca a importância da
experimentação, da observação e da abertura para a revisão das teorias existentes.
Além disso, essa história ressalta a interconexão entre diferentes campos da
ciência, como a química e a física, na busca por uma compreensão mais profunda da
matéria. O desenvolvimento dos modelos atômicos não apenas revolucionou a ciência,
mas também teve um impacto direto nas aplicações tecnológicas que transformaram a
sociedade moderna.
Em última análise, essa história dos modelos atômicos nos lembra que a busca
pelo conhecimento é um empreendimento humano fundamental, moldado pela
curiosidade, pela colaboração e pelo desejo de entender o mundo que nos cerca. A
evolução contínua dos modelos atômicos é um testemunho do poder da ciência e da
capacidade da humanidade de expandir constantemente os limites de nossa
compreensão.
Um outro ponto importante para o nosso trabalho foi a realização de um
experimento de baixo custo que pode ser realizado em salas de aula do ensino médio.
Para isso, nós acendemos um bico de bunsen e colocamos dentro da chama dois sais
diferentes, um de sódio e outro de cobre. Nisso, conseguimos então observar que a
chama mudou de cor. Para o sal de sódio ela se tornou amarela, enquanto que para o sal
de cobre ela se tornou verde. De tal forma, conseguimos demonstrar como os conceitos
do modelo de Bohr se aplicam à emissão de luz e à identificação de elementos químicos
com base nas cores que eles emitem quando aquecidos.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao encerrar este Projeto de Ensino, é essencial refletir sobre como esta pesquisa
contribuiu para minha formação como professor e se os objetivos propostos foram
alcançados. Além disso, compartilharei as dificuldades enfrentadas e as possibilidades
que emergiram ao longo deste estudo, apresentando resultados e, finalmente, uma
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postura crítica e reflexiva sobre os achados da pesquisa, retomando nossa base teórica
sem recorrer a citações diretas.
Esta pesquisa desempenhou um papel fundamental em minha formação como
professor, especialmente na área de epistemologia das Ciências e da Física. Aprofundar
meu conhecimento sobre a evolução dos modelos atômicos, desde os filósofos gregos até
os desenvolvimentos modernos, permitiu-me compreender a importância de
contextualizar o ensino da teoria atômica. Aprendi que o entendimento histórico da ciência
não apenas enriquece as aulas, mas também ajuda os alunos a perceberem a natureza
dinâmica do conhecimento científico.
Os objetivos delineados no início deste Projeto de Ensino foram plenamente
alcançados. Consegui mapear a progressão histórica dos modelos atômicos, destacando
suas principais características e contribuições. Além disso, pude desenvolver estratégias
de ensino que incorporam uma perspectiva experimental prática para ser realizada em
sala de aula a partir do experimento de baixo custo que elaborei da chama colorida. Isso
com certeza irá tornar as minhas futuras aulas no ensino médio, assim como o conteúdo,
mais acessíveis e envolventes para os alunos.
Durante a realização da pesquisa, enfrentei desafios, principalmente relacionados à
coleta de informações históricas precisas. A busca por documentos originais e a
interpretação de textos históricos exigiram tempo e esforço consideráveis. No entanto,
essas dificuldades foram superadas com a orientação adequada e a persistência na
busca por fontes confiáveis. As possibilidades, por outro lado, foram abundantes. A
pesquisa histórica proporcionou uma visão mais ampla da ciência e da forma como as
teorias são desenvolvidas ao longo do tempo, o que se traduziu em uma abordagem mais
contextualizada e enriquecedora para o ensino.
Os resultados desta pesquisa destacam a importância de apresentar a teoria
atômica não como um conjunto estático de fatos, mas como uma narrativa em constante
evolução. Ao adotar uma abordagem histórica, os alunos têm a oportunidade de explorar
como as ideias e conceitos se desenvolveram ao longo dos séculos, incorporando os
desafios e avanços que moldaram nosso entendimento atual. A pesquisa também
reforçou a ideia de que a Ciência não é um empreendimento isolado, mas está
intrinsecamente ligada à cultura, filosofia e contexto social de cada época.
Em última análise, esta pesquisa reforçou a importância de uma abordagem crítica
e reflexiva no ensino de Ciências. Devemos encorajar nossos alunos a questionar, a
explorar o contexto histórico e a considerar como a ciência influencia e é influenciada pela
sociedade. O entendimento dos modelos atômicos, enriquecido por essa perspectiva, não
apenas fortalece a compreensão dos conceitos científicos, mas também promove uma
cidadania mais informada e crítica.
Nesse sentido, esta pesquisa não é um fim em si mesma, mas um ponto de partida
para aprimorar continuamente minha prática docente e promover um ambiente de
aprendizado estimulante. À medida que avançamos, manterei essa postura crítica e
reflexiva, sempre buscando maneiras inovadoras de envolver os alunos e estimular seu
interesse pela maravilhosa jornada da Ciência e da compreensão do átomo, que é ao
mesmo tempo uma viagem histórica e um vislumbre do futuro.

REFERÊNCIAS

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Care of the Soul: Proceedings of the International Colloquium on Democritus (Paris,
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