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Aula № 3.

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Propriedades Químicas dos Minerais
1. INTRODUÇÃO
Propriedades químicas dos minerais
A Mineralogia Química é a parte da Mineralogia que estuda as
características e propriedades químicas dos minerais. Os minerais são definidos
como substâncias cristalinas naturais homogêneas e inorgânicas.
Consequentemente eles possuem as mesmas propriedades dos sólidos cristalinos
(estrutura interna ordenada) e das substâncias químicas inorgânicas. A composição
química é uma característica básica dos minerais e de importância fundamental na
mineralogia, pois a maioria das outras propriedades dela depende direta ou
indiretamente.
Além disso, a classificação dos minerais que vem sendo mais utilizada, há quase
um século, foi estruturada com base na composição química dos minerais. Outra
característica básica dos minerais é a estrutura cristalina que compreende o arranjo
espacial das partículas componentes dos minerais e as forças de ligação química
que mantém unidas estas partículas. Estas três características básicas (composição
química, arranjo das partículas e forças de ligação) controlam a maioria das
propriedades dos minerais.
O quadro abaixo (Fig. 1) mostra a relação das propriedades dos minerais com a
estrutura cristalina (arranjo espacial das partículas e as ligações químicas entre
elas) e com a composição química que são as características mais fundamentais
dos minerais, as quais também relacionam-se entre si, isto é, uma influencia na
outra. Para abordar esta questão se faz necessário a caracterização das ligações
químicas nos minerais e dos princípios fundamentais da cristaloquímica.
Figura 1- Relação entre as propriedades dos minerais, a composição química e a
estrutura cristalina.

2- LIGAÇÕES QUÍMICAS NOS MINERAIS


Na formação das substâncias químicas, os átomos, ao se combinarem,
tendem a completar suas camadas de valências através de uma interação entre seus
elétrons. Esta interação origina forças de natureza elétrica que ligam entre si as
partículas componentes das substâncias químicas e, portanto, dos minerais,
denominadas ligações químicas. A espécie e a intensidade dessas forças são de
grande importância na determinação das propriedades físicas e químicas dos
minerais.
De acordo com o tipo de interação eletrônica predominante nas combinações
químicas, as ligações podem ser de cinco espécies principais seguintes: ligação
iônica, ligação covalente, ligação metálica, ligação de van der Waals e ligação em
ponte de hidrogênio.
2.1- Ligação iônica: Na ligação iônica a interação eletrônica se processa por
transferência de elétrons, originando íons. O elemento mais eletropositivo perde
elétrons, formando o cátion, e o elemento mais eletronegativo recebe elétrons,
formando o ânion (Fig. 2) Este tipo de ligação ocorre entre elementos com grande
diferença no potencial de eletronegatividade (bem acima de 1,9 na escala de Linus
Pauling, tabela 1), ou seja, entre metais de alta eletropositividade e não metais. A
atração entre os íons é mantida por forças eletrostáticas relativamente fracas. A
transferência de elétrons entre os átomos ocorre da seguinte maneira: átomos com
poucos elétrons na camada de valência (menos de 4) tendem a cedê-los para
átomos que possuem a camada de valência próxima da saturação (mais de 4
elétrons).
Exemplos:
Figu
ra 2- Ligação iônica nos minerais halita (1) e fluorita (2).
Características das substâncias iônicas:
• Nas condições ambientais ocorrem em geral no estado sólido, ou seja, formam
cristais.
• Os cristais não são direcionais e normalmente possuem simetria elevada.
• Dureza e densidade relativamente médias.
• Pontos de fusão médios a altos e coeficientes de expansão térmica baixos.
• Mau condutores de eletricidade e calor no estado sólido.
• Solúveis em água (solução eletrolítica).

2.2- Ligação covalente: Covalência. Na ligação covalente a interação eletrônica


ocorre por emparelhamento de elétrons, com a formação de pares eletrônicos
normalmente constituindo unidades moleculares. O par eletrônico é formado por
dois orbitais incompletos (cada um com um elétron) que se juntam num único
orbital completo e estável. Este tipo de ligação ocorre entre elementos não
metálicos com diferença no potencial de eletronegatividade menor que nos
compostos iônicos. A atração entre os elementos no par eletrônico é causada por
forças eletromagnéticas relativamente fortes provenientes de seu spins contrários.
A ligação covalente pode ser de três tipos: apolar, polar e dativa.
2.2.1- Ligação covalente apolar: Quando a ligação ocorre entre dois átomos de
um mesmo elemento químico, não há diferença de eletronegatividade entre eles e,
por isso, a distribuição dos elétrons ao redor do núcleo de ambos os átomos é
simétrica e não há formação de polos carregados positivamente ou negativamente
na molécula. O par eletrônico é formado por elétrons de um mesmo elemento
químico, pertencendo igualmente aos dois átomos, pois a diferença no potencial de
eletronegatividade é nula, já que os átomos são iguais e possuem o mesmo
potencial (Fig. 3 e 4). No enxofre nativo os 2 orbitais incompletos de cada átomo
de enxofre se ligam a 2 outros átomos de enxofre, formando uma molécula anelar
em forma de um octógono (S8), sendo que os 8 átomos não são coplanares e sim
distribuídos alternadamente em 2 planos distintos, 4 átomos em um plano superior
e os outros 4 em um plano inferior (Fig. 3).

No diamante, os átomos de carbono são tetravalentes embora apenas duas


valências livres sejam evidenciadas pela sua distribuição eletrônica. O número
atômico do carbono é 6 (C6) com 2 elétrons na primeira camada e 4 elétrons na
segunda camada, sendo que 2 no subnível s (completo) e 2 no sub-nível p
(incompleto), ficando 2 orbitais incompletos com 1 elétron cada, originando 2
valências, e o terceiro orbital vazio. Entretanto o carbono que forma o diamante
encontra-se em seu estado ativado no qual um elétron do sub-nível s passa para o
orbital vazio do sub-nível p, resultando 4 valências livres (3 no sub-nível p e 1 no
sub-nível s), processo denominado hibridação, conforme ilustrado abaixo.

Os 4 orbitais incompletos de cada átomo de carbono se ligam a 4 outros


átomos de carbono, situados nos vértices de um tetraedro, formando uma estrutura
não molecular polimerizada em cadeia (Fig. 4).
Figura 4- Ligação covalente apolar na estrutura não molecular do diamante.
A distribuição eletrônica do carbono central está em vermelho com seus 4
orbitais incompletos ligados, cada um, a outro átomo de carbono através de um de
seus 4 orbitais incompletos (em preto). Os 4 átomos de carbono ligados ao carbono
central, por sua vez, se ligam a mais 12 átomos de carbono através de seus 3
orbitais incompletos restantes e esses 12 se ligam a mais 36 átomos e assim por
diante, formando uma estrutura em cadeia não molecular.
2.2.2- Ligação covalente polar: O par eletrônico é formado por elétrons de
elementos químicos diferentes e se aproximará do elemento mais eletronegativo,
originando pólos elétricos (Fig. 5 e 6). Quanto maior a diferença no potencial de
eletronegatividade entre os elementos maior será a polaridade da ligação, até o
ponto do elemento mais eletronegativo capturar de vez o elétron do outro
elemento, formando íons (ligação iônica).

Figura 5- Polaridade das ligações covalentes, mostrando o aumento


crescente da polaridade desde a ligação covalente apolar (com polaridade nula) até
uma ligação covalente altamente polarizada (covalente polar).
Figura 6- Ligação covalente polar na água (1) e carbonatos (2).

2.2.3- Ligação covalente dativa: O par eletrônico é formado por elétrons de apenas
um dos átomos que se combinam, mas pertence igualmente aos dois. O elemento
que fornece é o doador e o outro é o receptor. Este tipo de ligação não ocorre
normalmente nos minerais.

Características das substâncias covalentes:


• A maioria das substâncias covalentes é molecular que nas condições ambientais,
em geral, são líquidas ou gasosas, podendo ser sólidas, dependendo da força de
atração entre as moléculas. Entretanto a maioria dos minerais covalentes não é
constituída por unidades moleculares e apresentam características bem distintas
das substâncias moleculares.
• As substâncias moleculares são solúveis em água e possuem dureza, densidade e
pontos de fusão baixos, enquanto que os minerais covalentes não moleculares são
muito estáveis, insolúveis em água e possuem pontos de fusão muito altos, dureza
média a alta e densidade alta.
• As substâncias covalentes não são condutoras de eletricidade e calor e os cristais
são altamente direcionais e normalmente possuem baixa simetria.

Observações :
1) Só são puramente iônicos os compostos formados por elementos com grande
diferença no potencial de eletronegatividade.
2) Só são puramente covalentes os compostos covalentes apolares.
3) Os compostos covalentes polares são intermediários entre a ligação iônica pura e a
ligação covalente pura (apolar). O caráter iônico e covalente pode ser avaliado pela
diferença no potencial de eletronegatividade, ou seja, quanto maior a diferença de
eletronegatividade maior é a participação da ligação iônica, o que normalmente é
expresso em porcentagem. Exemplo: nos silicatos a ligação Si-O é 50% iônica e
50% covalente.

2.3- Ligação Metálica: É a ligação entre átomos de elementos metálicos. Os átomos


metálicos tendem a perder elétrons (eletropositivos) e quando se unem entre si,
formam uma nuvem eletrônica de elétrons liberados que ficam dispersos no
retículo cristalino, sem posições fixas (Fig. 7). A atração entre os átomos metálicos
é mantida por forças eletrostáticas fracas originadas pela movimentação dos
elétrons num estado de equilíbrio dinâmico em que os pólos elétricos são
continuamente constituídos e neutralizados.
Exemplo: metais nativos (Au, Ag, Cu).

Figura 7- Seção idealizada através da estrutura de um mineral metálico,


mostrando os núcleos atômicos envolvidos por uma nuvem de elétrons liberados
de cada átomo. Os elétrons circulam livremente entre os núcleos, formando polos
elétricos que mudam continuamente conforme a movimentação dos elétrons. A
linha, na figura, mostra um possível caminho de um elétron entre os núcleos.
Características das substancias metálicas:
• Nas condições ambientais ocorrem no estado sólido (estrutura interna
ordenada).
• Os cristais não são direcionais e normalmente possuem simetria elevada.
• Dureza baixa a moderada e densidade variável (existem metais leves e
pesados).
• Pontos de fusão e coeficientes de expansão térmica variáveis.
• Excelentes condutores de eletricidade e calor.
• Insolúveis em água, porém são solúveis em alguns ácidos.
• Quanto à tenacidade, são maleáveis, sécteis e dúcteis.
Observações:
1) A ligação metálica pura é somente aquela existente entre átomos
metálicos iguais.
2) A ligação entre átomos metálicos diferentes é considerada intermediária
entre a ligação metálica pura e a covalente polar. Exemplo: eletro (liga Au-Ag) e a
liga Fe-Ni.
3) A ligação iônica fraca é considerada intermediária entre a ligação iônica
e a ligação metálica. Exemplo: Os sulfetos, como a galena PbS e calcopirita
CuFeS2 e os óxidos, como a hematita Fe2O3, possuem ligação intermediária entre
a iônica e a metálica.
2.4- Ligação/Força de van der Waals e ponte de hidrogênio:
A ligação entre partículas ou unidades neutras, como as moléculas, ocorre
através de forças eletrostáticas muito fracas, denominadas ligação de van der
Waals, provenientes de uma fraca polarização na ligação covalente (covalente
polar) ou pequena concentração de cargas elétricas residuais na superfície das
moléculas (covalente apolar) que pode manter essas unidades unidas. A fraca
intensidade da ligação de van der Waals explica grande parte das propriedades
físicas das substâncias que apresentam esta ligação, como dureza, densidade e
pontos de fusão baixos. A ligação de Van der Waals não é muito comum nos
minerais, podendo ocorrer em minerais moleculares como o enxofre, ou em
minerais não moleculares como a grafita. Em ambos os casos a ligação de van der
Waals normalmente origina direções de clivagem que são regiões de fraqueza na
estrutura do mineral interligando unidades neutras cujas partículas são ligadas
internamente por forças mais fortes (ligação iônica e/ou covalente). Por exemplo, a
estrutura do mineral grafita (Fig. 8) é constituída por camadas de átomos de
carbono ligados covalentemente. As camadas de carbono são constituídas por anéis
hexagonais justapostos de átomos carbono, de modo que cada átomo está ligado
covalentemente a outros 3 átomos. As camadas de carbono são unidas por ligação
de van der Waals e coincidem em posição alternadamente, ou seja, entre duas
camadas coincidentes existe uma camada intermediária deslocada em relação às
duas camadas (superior e inferior). A fraca ligação entre as camadas de carbono na
grafita dá origem a excelente clivagem basal deste mineral.

Figura 8- Estrutura em camadas da grafita (a), mostrando a camada intermediária


(em vermelho) deslocada em relação às duas camadas cinzas (superior e inferior).
Vista bidimensional das três camadas (b), mostrando o deslocamento da camada
intermediária (em vermelho) em relação às camadas superior e inferior
coincidentes (em cinza).As esferas azuis representam os átomos alinhados das 3
camadas.

Explicação
Estas forças são chamadas também de forças de Van der Waals em
homenagem ao físico holandês Johannes Van der Waals (1837-1923), que
pesquisou e propôs a existência destas forças.
Entre estas forças, as que têm intensidades mais elevadas são as Ligações de
Hidrogênio. Este tipo de interação ocorre quando a molécula possui um
hidrogênio (“polo positivo”) ligado ao flúor, nitrogênio ou oxigênio, ou seja,
elementos muito eletronegativos (“polos negativos”).
Como esta ligação é muito forte, origina dipolos muito acentuados; e é
necessária uma energia muito alta para romper as moléculas.
As ligações de hidrogênio existem entre as moléculas de água. Observe a
figura abaixo:

Ligações de hidrogênio entre as moléculas de água

Pode-se observar que o hidrogênio (carga positiva) atrai o oxigênio (carga


negativa) das moléculas de água vizinhas. Assim, ocorre a ligação de hidrogênio,
onde cada molécula de água fica circundada por outras quatro moléculas de água.
Este tipo de força intermolecular é responsável por alguns fenômenos
interessantes como a tensão superficial da água, que permite que alguns insetos
andem sobre ela.
As moléculas que estão na superfície da água só realizam ligações de
hidrogênio com moléculas situadas do lado ou na parte de baixo delas, isto provoca
a contração do líquido, e cria uma força sobre as moléculas da superfície. Isto
causa a chamada tensão superficial, que é como uma fina camada ou película que
envolve o líquido.
Esta propriedade é muito importante, pois é a tensão superficial que controla
certos fenômenos de superfície, sustentando a vida de comunidades de micro-
organismos.

2.5- Relação entre as ligações químicas e as características dos minerais:


De acordo com os tipos de elementos que se combinam nos compostos químicos,
podese distinguir cinco grupos de situações com os seguintes tipos de ligações
químicas:
1) Metal + não Metal:
• Iônica forte ⇒ com e >> 1,9. Exemplos de Minerais: halóides como a halita
(NaCl) e a fluorita (CaF2).
• Iônica fraca (iônica - metálica) ⇒ Com e > 1,9. Exemplos de minerais: a maioria
dos sulfetos (calcopirita CuFeS2, galena PbS) e alguns óxidos (hematita Fe2O3,
pirolusita MnO2)
• Covalente polar (iônica - covalente) ⇒ Com e < 1,9. Exemplos de minerais:
silicatos (ligação Si - O), sulfetos como a esfalerita ZnS e óxidos como o córidon
Al2O3 e a cassiterita SnO2.
2) Não Metal + Não Metal:
• Covalente apolar ⇒ Entre átomos iguais ( e = 0). Exemplos de minerais:
diamante (C), enxofre (S).
• Covalente polar (covalente - iônica) ⇒ Entre átomos diferentes ( e ≠ 0).
Exemplos de minerais: oxissais como os carbonatos, fosfatos e sulfatos (ligação do
C, P e S com o Oxigênio).
3) Metal + Metal:
• Metálica pura ⇒ Entre átomos iguais. Exemplos de minerais: elementos nativos
metálicos (Ag, Au, Cu, Pt).
• Metálica - covalente ⇒ Entre metais diferentes. Exemplos de minerais: eletro
(liga AuAg), liga Fe -Ni.
4) Metal + Hidrogênio:
• Iônica fraca (Iônica - metálica) ⇒ Hidretos de metal alcalino ou alcalino terroso.
Não existe minerais nesta situação
• Covalente metálica ⇒ Hidretos de metais pesados. Não existe minerais nesta
situação.
5) Não Metal + Hidrogênio:
• Covalente polar (covalente - iônica) ⇒ Exemplo de minerais: gelo H2O.

Tabela 2- Relação entre as propriedades dos minerais e os tipos de ligações


químicas.
Principais classes agrupamento dos minerais

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