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UNIDADE 5

CIÊNCIA DOS
MATERIAIS
INTRODUÇÃO À CIÊNCIA DOS MATERIAIS - ESTRUTURA
CRISTALINA

AUTORA
Otávio Gonçalves Adami
UNIDADE 5
INTRODUÇÃO

Os materiais sólidos podem ser classificados como cristalinos e amorfos. Os


cristalinos têm organização de longo alcance na estrutura cristalina, ao passo que
os amorfos têm ordenação de pequeno alcance. Esses tipos de estruturas, assim
como o tipo e a intensidade das ligações entre os átomos, fazem com que
diferentes propriedades sejam apresentadas pelos materiais. Um exemplo dessa
diferença pode ser observado na característica de transparência entre o vidro,
que é um material transparente por ser amorfo, e um vaso cerâmico, que não
tem transparência por ser um material cristalino.

Neste capítulo, você vai estudar sobre os tipos de ligações existentes nos
materiais e a influência que elas exercem sobre as suas propriedades. Dessa
forma, poderá diferenciar entre os tipos de ligações primárias (iônica, covalente e
metálica) e secundárias (dipolo permanente e dipolo induzido) e também a
diferença entre materiais cristalinos e amorfos, além de entender a forma como
átomos e íons estão espacialmente arranjados.

Efeito do tipo e força da ligação sobre o comportamento mecânico e elétrico dos


materiais

O tipo e a intensidade das ligações entre os átomos influenciam diretamente no


comportamento e nas propriedades de uma substância. Há dois tipos de ligações
atômicas: as ligações primárias fortes e as ligações secundárias fracas. As ligações
primárias são divididas em ligações iônicas, covalentes e metálicas e, dentro
destas, há três combinações possíveis: metal não metal, não metal não metal e
metal metal. As ligações ocorrem pela transferência de um ou mais elétrons ou
pelo compartilhamento de pares de elétrons por orbitais preenchidos
parcialmente. As ligações secundárias são formadas a partir da atração
eletrostática entre os dipolos elétricos de átomos ou moléculas, sendo assim,
observa-se a ocorrência principal de dois tipos: dipolo permanente e dipolo
induzido.

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CIÊNCIA DOS MATERIAIS

Ligações primárias

As ligações primárias têm força interatômica intensa e ocorrem quando a energia


potencial de cada átomo que participa da ligação é menor em relação à soma das
energias dos átomos isolados, resultando em um estado mais estável. Elas
podem ser divididas em ligação iônica, ligação covalente e ligação metálica. As
ligações iônicas ocorrem a partir da transferência de elétrons entre íons de
cargas opostas. O núcleo positivo de um íon atrai a nuvem eletrônica negativa de
outro íon e vice versa, resultando na diminuição da distância interatômica.

Com a aproximação dos íons, as nuvens eletrônicas, carregadas negativamente,


interagem, gerando uma força de repulsão. Essas forças contrárias serão
canceladas e a distância interiônica de equilíbrio é alcançada com a consequente
formação da ligação, conforme pode ser observado na Figura 1. As ligações
iônicas são observadas entre átomos que apresentam grande diferença na
eletronegatividade, como, por exemplo, átomos dos metais reativos (grupo 1A ou
2A) com átomos dos não metais reativos (grupo 6A ou 7A). A tabela periódica com
variações da eletronegatividade, que aumenta da esquerda para a direita e de
baixo para cima, pode ser vista na Figura 2.

Os sólidos iônicos, em função das forças eletrostáticas que mantém os íons


unidos, são duros, rígidos, resistentes e quebradiços e apresentam altas
temperaturas de fusão. Na Figura 4, é possível verificar o mecanismo da fratura.

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CIÊNCIA DOS MATERIAIS

De modo geral, os sólidos iônicos não conduzem eletricidade, pois os elétrons


estão coesamente ligados, não podendo, então, participar do processo de
condução de eletricidade, sendo, portanto, materiais isolantes. Quando fundidos
ou dissolvidos em água, por meio da difusão iônica, são capazes de conduzir
eletricidade.

As ligações covalentes, assim como as iônicas, também são ligações fortes. Elas
ocorrem pelo compartilhamento de elétrons e são observadas entre átomos com
pequenas diferenças nas suas eletronegatividades. O núcleo de um átomo atrai a
nuvem eletrônica de outro e ambos se aproximam. As nuvens dos dois átomos
interagem e começam a compartilhar elétrons até atingir o ponto de equilíbrio,
formando a ligação. Nesse momento, os dois átomos estarão com sua estrutura
eletrônica mais externa completa e o estado de mais baixa energia é atingido.

Na Figura 5, é possível observar o diagrama da energia potencial para a ligação


covalente entre átomos de hidrogênio. As ligações covalentes entre átomos são
fortes e difíceis de serem rompidas e ocorrem em materiais chamados de sólidos
covalentes, como, por exemplo, o quartzo e o diamante. Já a ligação entre
moléculas é fraca e pode ser rompida com facilidade. Como consequência, os
materiais fervem ou se fundem com facilidade.

Os sólidos covalentes são maus condutores de eletricidade, pois os elétrons


estão fortemente ligados em pares compartilhados, não havendo, portanto, íons
disponíveis para o transporte de carga.

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CIÊNCIA DOS MATERIAIS

Nas ligações metálicas, os átomos são unidos, em metais sólidos, pelas forças de
atração entre os cátions metálicos e a nuvem de elétrons. Os metais se arranjam
em um denso empacotamento, no qual todos os átomos contribuem com seus
elétrons de valência, formando uma nuvem de elétrons, os quais são
deslocalizados – podem se mover livremente na nuvem de elétrons –, não
pertencendo a nenhum átomo específico, por isso são chamados de elétrons
livres. As ligações metálicas são mais fracas que as ligações iônica e covalente.

Os metais puros são mais maleáveis que os materiais iônicos e sólidos covalentes
e são utilizados, principalmente em aplicações elétricas e eletrônicas, pois são
excelentes condutores de eletricidade devido à deslocalização dos elétrons de
valência. Além disso, são também excelentes condutores de calor, em função da
transferência eficiente das vibrações atômicas através do metal.

Ligações secundárias ou ligação de Van der Waals

Nas ligações primárias, verificou-se a dependência da interação entre os elétrons


de valência, enquanto nas ligações secundárias se observa que elas são formadas
por atração eletrostática entre dipolos elétricos no interior de átomos ou de
moléculas. As ligações secundárias são mais fracas que as ligações primárias.
Quando duas cargas iguais e opostas são separadas, é criado um momento
dipolar elétrico. Esses dipolos elétricos, em átomos ou moléculas, são atraídos
uns pelos outros por forças eletrostáticas ou coulombianas.

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CIÊNCIA DOS MATERIAIS

As principais ligações secundárias envolvendo dipolos são os dipolos induzidos e


os dipolos permanentes. No dipolo induzido ou flutuante, um dipolo é induzido
em um átomo ou em uma molécula, cuja distribuição dos elétrons é simétrica em
relação ao núcleo. Esse dipolo pode deslocar a distribuição de elétrons de uma
molécula ou átomo adjacente, induzindo-o a se tornar um dipolo também, o qual
é fracamente ligado ao primeiro.

Enquanto o dipolo induzido ocorre em moléculas apolares, o dipolo permanente


ocorre em moléculas polares em função da diferença de eletronegatividade da
molécula. Na parte mais eletronegativa da molécula polar, forma-se um dipolo
elétrico permanente, o qual é atraído pela extremidade positiva de outra
molécula e assim a interação vai ocorrendo.

Descrição de materiais cristalinos e amorfos

Os materiais cristalinos são aqueles em que os átomos ou íons de um sólido


estão arranjados em um padrão que se repete tridimensionalmente, formando a
estrutura cristalina. Os metais, as ligas metálicas e alguns cerâmicos são
exemplos de materiais que têm estrutura cristalina. Em contrapartida, os
materiais que não têm átomos e íons arranjados de maneira repetitiva e que
apresentam pequena ordenação de longo alcance em sua estrutura são
denominados materiais amorfos sem forma.

A maioria dos polímeros são materiais amorfos, pois as ligações entre as


moléculas não permitem a formação de cadeias ordenadas durante a
solidificação, como é o caso do cloreto de polivinil, por exemplo. Nos polímeros
em que as moléculas têm regiões com maior grau de ordenação, como é o caso
do polietileno, há polímeros semicristalinos.

Os vidros inorgânicos formados a partir da sílica também são materiais amorfos,


pois, em seu estado líquido viscoso, a cristalização ocorre lentamente.

Na Figura 6, é possível observar um esquema dos graus de ordem em materiais.

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CIÊNCIA DOS MATERIAIS

Compreensão de como os átomos e os íons estão arranjados no espaço e


identificação da ordenação básica dos sólidosA rede espacial é um arranjo infinito
tridimensional que pode ser descrita a partir da especificação das posições
atômicas em uma cela unitária. Por sua vez, a cela unitária é considerada a menor
divisão da rede espacial que tem essas características.

A forma e o tamanho da cela unitária são descritos pelos parâmetros de rede, os


quais são designados pelos comprimentos a, b e c, com origem em um dos
vértices da cela e pelos ângulos α, β e γ.

Na Figura 7, é possível observar a rede espacial de um sólido cristalino e uma cela


unitária com seus parâmetros de rede.

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CIÊNCIA DOS MATERIAIS

A partir da variação dos parâmetros de rede da cela unitária, é possível criar 7


diferentes tipos de sistemas cristalográficos. Esses sistemas apresentam
variações da cela unitária básica, assim, August Bravais mostrou que 14 celas
unitárias são responsáveis por descrever todas as redes possíveis.

Os 4 tipos de cela unitária padrão são: simples, de corpo centrado, de face


centrada e de base centrada. No Quadro 1, é possível observar os sistemas
cristalográficos e as redes de Bravais.

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CIÊNCIA DOS MATERIAIS

Nos metais, aproximadamente 90% se cristalizam em 3 estruturas cristalinas:


cúbica de corpo centrado (CCC), cúbica de face centrada (CFC) e hexagonal
compacta (HC), conforme pode ser visto na Figura 8.

Na estrutura cristalina CCC, há dois átomos por cela unitária, pois no centro da
cela está localizado um átomo completo e em cada vértice um oitavo. Assim, 1
(átomo no centro) + 8 x 1/8 (átomos nos vértices) = 2 átomos por cela unitária. No
intuito de informar a quantidade de átomos que podem ser organizados em uma
estrutura cristalina e obter informações sobre a qualidade do empilhamento
atômico, utiliza-se o fator de empacotamento atômico (FEA), o qual considera os
átomos como esferas rígidas. O FEA pode ser calculado conforme a equação:

FEA = Volume dos átomos na célula unitária / Volume da célula unitária

O FEA da cela unitária CCC é de 0,68, indicando que 68% do volume da cela estão
ocupados por átomos e 32% correspondem a espaço vazio.

Na estrutura cristalina CFC, há 4 átomos por cela unitária. Assim, 6 x 1/2 (átomos
nas faces do cubo) + 8 x 1/8 (átomos nos vértices) = 4 átomos por cela unitária. O
FEA é de 0,74, indicando ser mais compacta do que a estrutura CCC. Na estrutura
cristalina HC, há 2 átomos por cela unitária. Assim, 1 (átomo no centro) + (4 x 1/6
+ 4 x 1/12) (átomos nos vértices) = 2 átomos por cela unitária. O FEA é de 0,74,
igual ao da estrutura CFC, pois os átomos estão organizados da forma mais
compacta possível. Na Figura 9, observam-se as celas unitárias com esferas
rígidas das estruturas cristalinas CCC - cúbica de corpo centrado , CFC – cúbica de
face centrada e HC– hexagonal compacta.

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CIÊNCIA DOS MATERIAIS

Para determinar a orientação de planos de átomos em uma estrutura cristalina,


são utilizados índices de Miller. Esse índice é representado por (hkl), sendo que h,
k e l são inteiros, com maior divisor comum igual a 1, e se referem aos eixos x, y e
z, respectivamente.

Na Figura 10, observa-se a determinação dos índices de Miller de uma célula


cúbica. Os índices são definidos pela intersecção do plano de átomos com os
eixos do sistema de coordenadas da célula. Assim, o plano intercepta os três
eixos nos vértices da célula, em que x = y = z = a tem o índice (111).

Alguns materiais têm a capacidade de existir em mais de uma forma cristalina,


sendo chamados de polimorfos ou alótropos. Um exemplo desse fenômeno é o
que acontece com o ferro, o qual, em temperatura ambiente, cristaliza tanto em
estrutura CCC quanto em CFC, conforme pode ser visto na Figura 11. No Quadro
2, podem ser vistas as formas polimórficas de alguns metais.

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CONCLUINDO A
UNIDADE
Os materiais sólidos podem ser classificados como cristalinos e amorfos. Os
cristalinos têm organização de longo alcance na estrutura cristalina, ao passo que
os amorfos têm ordenação de pequeno alcance. Esses tipos de estruturas, assim
como o tipo e a intensidade das ligações entre os átomos, fazem com que
diferentes propriedades sejam apresentadas pelos materiais. Um exemplo dessa
diferença pode ser observada na característica de transparência entre o vidro,
que é um material transparente por ser amorfo e um vaso cerâmico, que não tem
transparência por ser um material cristalino.

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EXERCÍCIOS
DE FIXAÇÃO
Questão 1: Questão 1: Os materiais cristalinos são aqueles em que os átomos ou
íons de um sólido estão arranjados em um padrão que se repete
tridimensionalmente, formando a estrutura cristalina. Em contrapartida, os
materiais que não possuem átomos e íons arranjados de maneira repetitiva e
apresentam pequena ordenação de longo alcance em sua estrutura são
denominados materiais amorfos. Em quais dos exemplos é possível encontrar
somente materiais cristalinos?

A) Metais e polímeros.
B) Polímeros e ligas metálicas.
C) Polímeros e cerâmicos.
D) Ligas metálicas e vidro.
E) Metais e ligas metálicas.

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ANOTAÇÕES

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REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS

ÍNDICES de Miller – planos. [201-?]. Disponível em: . Acesso em: 15 maio 2018.
SMITH, W. F.; HASHEMI, J. Fundamentos de engenharia e ciência dos materiais. 5.
ed. Porto Alegre: AMGH, 2012.

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