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Entrevista com Ruy Castro (jornalista)

Fonte: Folha de São Paulo dia 24/08/2022

Entrevistador não faz cara irônica nem compungida. Entrevistador faz cara neutra, de
pôquer. Suas perguntas serão diretas, exigindo respostas diretas. Entrevistador tem de
saber escutar, ficar atento à resposta e, ao ver que o entrevistado está enrolando,
interrompê-lo com firmeza, dizendo que ele não respondeu à pergunta. Entrevistador só
muda de assunto quando se satisfaz com a resposta.

Entrevistador não diz que vai mudar de assunto quando muda de assunto. As perguntas,
previamente preparadas, têm de se seguir umas às outras com naturalidade. Quando o
entrevistado percebe, foi levado pelo nariz pelo entrevistador. Ao preparar cada pergunta,
entrevistador já terá previsto possíveis respostas e formulado as perguntas seguintes de
acordo. Políticos têm repertório limitado, donde pode-se prever como ele reagirá a esta ou
àquela pergunta.

Entrevistador só faz uma pergunta de cada vez. Uma pergunta que se desdobra em várias
ou tenha outras embutidas se torna um cacho de perguntas, o que facilita a vida do
entrevistado. Além disso, permitirá a ele só responder a última pergunta ou a que lhe for
mais conveniente. As perguntas devem ser curtas, objetivas e terminar com ponto de
interrogação. Perguntas longas, repetitivas e muito explicadas geram respostas vagas,
subjetivas ou falsas, porque dão tempo ao entrevistado para pensar.

Quanto mais curta e rápida a pergunta, mais sem defesa virá a resposta. E, quanto ao
ponto de interrogação, não estou brincando. Alguns entrevistadores, em vez de fazer uma
pergunta, elaboram uma formulação e, de repente, param e ficam à espera de que o
entrevistado a prossiga. Os entrevistados mais espertos fingem escutar e ficam calados, à
espera do dito ponto de interrogação.

Quando o entrevistado mente descaradamente, entrevistador olha no olho da câmera e


desmoraliza o entrevistado com a informação verdadeira.

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