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JOÃO ALBUQUERQUE NETO

Caso 10 – Acidentes na Infância


Segundo a OMS e o MS, os acidentes são lesões não intencionais identificadas como
eventos de trânsito, afogamento, obstrução de vias aéreas, envenenamento e
intoxicação, queimaduras, choques elétricos, acidentes com armas de fogo, entre
outros.
A falta de informação, de infraestrutura adequada, de espaços para lazer, creches e
escolas e de políticas públicas direcionadas à prevenção é fator que aumenta a
exposição das crianças aos riscos de acidente. Sabe-se que, alguns fatores, como
pobreza, mãe solteira e jovem, baixo nível de educação materna, habitações precárias
e famílias numerosas, estão associados aos riscos de acidentes. Por outro lado, é
importante ressaltar que qualquer criança, independentemente de sua classe social,
está vulnerável à ocorrência de um acidente.
Os acidentes na infância são potencialmente previsíveis e preveníveis. O termo
acidente sugere ocorrência ao acaso; por isso, o contexto médico atual tende a
substituí-lo por ‘’evento potencialmente causador de injúria física’’. Sob este enfoque,
torna-se mais fácil promover a ideia de que os danos ao corpo humano são passíveis
de controle, pois, mesmo que um acidente ocorra, a lesão pode ser prevenida.
Estima-se que pelo menos 90% das lesões físicas podem ser prevenidas com a
adoção das seguintes medidas: ações educativas, modificações no meio ambiente,
modificações de engenharia e criação e cumprimento de legislação e regulamentação
específicas.
As estratégias para o controle das lesões físicas envolvem três níveis de prevenção:
1. Nível primário – comportamento e ambientes seguros, a fim de evitar a
ocorrência de acidentes.
2. Nível secundário – refere-se aos cuidados e sistema de atendimento aos
feridos e cuidados hospitalares.
3. Nível terciário – relaciona-se com a conduta adequada em casos de sequelas,
aplicando-se medidas de reabilitação para auxiliar a vítima a retornar ao seu
máximo potencial físico e mental de antes do trauma.

As medidas de intervenção para prevenção de acidentes podem ser consideradas


ativas, passivas ou mistas, na dependência do nível de exigência com relação às
mudanças de comportamento pelos indivíduos. As medidas de proteção ativas são
aquelas que exigem determinada ação sempre que a vítima necessite de proteção (p.
ex., a manutenção de produtos de limpeza e de medicamentos longe do alcance das
crianças). As medidas de proteção passivas são as mais eficazes, pois costumam ser
implementadas por meio de leis que normatizem as condições e a segurança de
produtos ou que obriguem as pessoas certos tipos de comportamento (p. ex. uso de
cinto de segurança em automóveis). As medidas de proteção mistas são estratégias
que não se enquadram exatamente como ativas ou passivas, como, por exemplo,
grades nas janelas.

Uma estratégia preventiva será mais efetiva ser ação única em vez de repetidas
ações, for de fácil implantação e tiver baixo custo.

EPIDEMIOLOGIA DOS ACIDENTES NA INFÂNCIA

O maior percentual das mortes por causas externas entre crianças e adolescentes é
registrado nos países em desenvolvimento. Segundo a OMS, 45% dos acidentes
ocorrem em casa, 30% em locais públicos, 24% nos locais de trabalho e 10% nas
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autoestradas. Os acidentes de trânsito, que incluem atropelamento, passageiros de


veículos, motos e bicicletas, representaram 39,9% das mortes de crianças com menos
de 14 anos de idade, seguidos de afogamentos (24,5%), sufocação (15,9%),
queimaduras (6,28%), quedas (4,65%), outros (8%) e intoxicações (1,76%).

Analisando os dados comparativos, verifica-se que não há variação na porcentagem


de mortes por acidentes de meninas e meninos de zero a 9 anos de idade. Enquanto
na mortalidade a principal causa são os acidentes de trânsito, em hospitalizações são
as quedas. Os acidentes de trânsito são muito letais, enquanto quedas fazem parte do
desenvolvimento da criança, do aprendizado de andar, de reconhecer os limites do
corpo e de perceber os riscos.

FATORES DE RISCO QUE PREDISPÕEM AS CRIANÇAS ÀS LESÕES

1. Centro de gravidade – as cabeças das crianças são proporcionalmente


maiores e mais pesadas que seus corpos, resultando em um centro de
gravidade na altura do tórax e tornando-as mais propensas a quedas e à perda
de equilíbrio. Por esse motivo, bebês, em particular os que começam a andar,
correm maior risco de cair em banheiros e escadas e de virar dentro de baldes.
2. Exposição a maior área de superfície – sendo expostos ao mesmo perigo, uma
criança e um adulto encaram diferentes níveis de risco. Por exemplo, uma
xícara de café quente derramada pode causar danos significativamente
maiores em uma criança do que em um adulto. A mesma quantidade de líquido
derramado em um adulto cobre uma superfície menor em comparação a uma
criança. Esse aumento de exposição significa que a lesão resultante é,
geralmente, mais grave em uma criança.
3. Menor tolerância aos agentes causadores de lesões – a gravidade de uma
lesão depende da capacidade de absorção de energia que tem o corpo
atingido. Uma criança pequena é menos capaz de absorver ou tolerar a
exposição de energia que um adulto. A lesão resultante é mais intensa.
4. Habilidade limitada de escapar de situações perigosas – a habilidade motora
leva tempo para se desenvolver. Muitas das ações dos recém-nascidos são
simplesmente reflexos. Os estágios de desenvolvimento afetam a habilidade da
criança para escapar de uma situação de perigo. As crianças não reconhecem
as relações de causa e efeito até os 5 anos de idade ou mais.
5. Maior atração por perigos potenciais – a incorporação das preferências
sensoriais e a inexperiência expõem as crianças ao risco de lesão. Por
exemplo, crianças jovens sentem-se atraídas por sabores doces e cores
vibrantes. Incapazes de reconhecer o perigo, elas são naturalmente atraídas
por produtos coloridos e que aparentam sabor doce, como produtos de
limpeza, vitaminas e medicamentos aromatizados.

A partir dos 7 anos de idade, a criança já tem noções seguras de perigo e como evitá-
los, porém ainda necessita de acompanhamento e proteção para evitar
atropelamentos, quedas, afogamentos e envenenamentos. Os cuidados seguem nos
anos subsequentes.

PRINCIPAIS ACIDENTES EM CRIANÇAS

1. Queda – a gravidade do traumatismo vai depender da região do corpo


acometida e da capacidade da criança em absorver ou dissipar o impacto
sobre si. As quedas são as principais causas de traumatismos
cranioencefálicos.

São medidas preventivas:


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a) Entre 0 e 1 ano: nunca deixar a criança sozinha em cima de qualquer


móvel, baixar o estrado do berço assim que o bebê estiver sentando-se
sem apoio, não utilizar andadores, não deixar crianças carregar o bebê,
aumentar a vigilância das crianças que estejam começando a deambular.

b) Entre 1 a 4 anos: instalar grades ou telas de proteção em janelas e


varandas, impedir o acesso a escadas, vigilância no parquinho, não deixar
fios soltos, manter portas trancadas para acesso ao banheiro e à cozinha.

c) +5 anos: adaptar pisos, evitar brincar em locais próximos a banheiros,


utilizar equipamentos de segurança nas atividades de esporte, lazer ou com
bicicleta, desencorajar brincadeiras em telhados, varandas, terraços, utilizar
normas de seguranças para evitar atropelamentos.

2. Queimaduras – podem causar repercussões em todo o organismo:


desidratação, choque, lesões inalatórias, desnutrição e afins. A maior parte
ocorre no próprio domicílio. Os agentes causadores de queimadura variam de
acordo com a faixa etária: Entre 0 e 2 anos, predominam os líquidos quentes
(água e café) e os objetos quentes (ferro de passar, cigarro), sendo relatados
alguns acidentes elétricos de baixa voltagem; entre 2 e 4 anos, predomínio dos
acidentes com chama (brincadeira com fogo, fogos de artifício e grandes
incêndios), eletricidade de alta voltagem e substâncias químicas; a partir dos 4
anos, a chama foi o principal, e quase exclusivo, agente de queimaduras.

São medidas preventivas: Bloquear o acesso à cozinha, não comer ou beber


com a criança no colo, não deixar líquidos, alimentos quentes ou fios elétricos
ao alcance das crianças, não permitir que a criança chegue perto do ferro de
passar roupa, manter velas acesas longe do alcance de crianças, não permitir
que a criança solte pipa próximo a fios elétricos.

3. Aspiração e ingestão de corpo estranho – a maior parte das vítimas de


aspiração de corpo estranho é formada por lactentes e crianças nos primeiros
anos de vida. A aspiração de produtos alimentares ocorre com maior
frequência, principalmente relacionada com a imaturidade da mastigação
associada à oferta de alimentos sólidos. A aspiração de corpos estranhos pode
promover quadros respiratórios obstrutivos graves de vias aéreas superiores
ou desencadear quadros mais insidiosos. Na maioria das vezes, possui
resolução espontânea. Predominam as ingestões de corpos metálicos e partes
de animais como espinha de peixe.

São medidas preventivas: não alimentar as crianças quando elas andam ou


correm, não oferecer alimentos em pedaços duros, não deixar objetos
pequenos ao alcance das crianças, observar as especificações antes de
comprar ou oferecer brinquedos à criança.

4. Acidentes de trânsito – a ausência de infraestrutura adequada nas cidades,


somada à falta de um marco regulatório legal, torna o exponencial aumento no
número de acidentes mais preocupante. Nas crianças, o risco de morto
elevado está associado à ejeção do veículo; quando transportada
corretamente, a chance de uma criança morrer em uma colisão diminui em
71%.

São medidas preventivas: ensinar a criança a não brincar dentro ou perto de


carros, antes de trancar o carro, observar se as chaves estão com o motorista,
manter os bancos de trás travados, travar as portas traseiras, travar a abertura
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das janelas, andar apenas no banco traseiro até os 10 anos de idade, usar
assento apropriado.

5. Intoxicação exógena – ocorre com maior frequência até os 5 anos de idade.


Em geral, são acidentais, preveníveis e acontecem no ambiente doméstico,
decorrentes de situações facilitadoras, das características facilitadoras, das
características peculiares das fases de desenvolvimento da crianças e do
pouco incentivo às medidas preventivas. Deve-se pensar sempre em
intoxicação quando o paciente, previamente sadio, apresentar quadro
neurológico súbito, como perda da consciência, convulsões e sonolência.

São medidas preventivas: guardar em local seguro, e com chave, drogas e


substâncias, mantendo-as fora do alcance das crianças, não armazenar
produtos tóxicos junto a alimentos, não administrar remédios no escuro, não
praticar a automedicação, ensinar a criança a não colocar plantas, cogumelos
ou remédios na boca.

6. Afogamento – trata-se da principal causa de morte entre crianças de 1 a 4


anos. O risco de afogamento não ocorre apenas nos mares, açudes, rios e
piscinas. Para as crianças pequenas, uma camada de líquido de 3 a 4cm
representa grande risco, podendo se afogar em baldes, banheiras e vasos
sanitários. Esse tipo de acidente predominou entre os meninos, durante o
primeiro ano de vida, em locais como baldes, córregos, valas e praias. Um
segundo pico foi observado entre 5 e 9 anos, também entre os meninos,
prevalecendo o afogamento em praias.

São medidas preventivas: nunca deixar a criança sozinha na banheira, em


tanques, piscinas e praias, baldes e bacias devem ser mantidos vazios e
colocados em local alto, as portas de acesso aos banheiros devem ser
mantidas fechadas, bem como a do vaso sanitário, nunca deixar as crianças
saltar em região desconhecida, utilizar proteção ao redor da piscina. As boias
infantis não evitam que as crianças mergulhem a cabeça na água e ainda
podem facilmente estourar, sendo o único equipamento seguro o colete salva-
vidas.

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