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Quim. Nova,Vol. 36, nº 6, 894-896, 2013

O USO DE DIAGRAMAS RICH E SUTER PARA EXPLICAR AS CONFIGURAÇÕES ELÉTRICAS DOS

ELEMENTOS DE TRANSIÇÃO
Educação

Hugo Orofino, Sergio P. Machado e Roberto B. Faria*

Instituto de Química, Universidade Federal do Rio de Janeiro, 21941-611 Rio de Janeiro – RJ, Brasil

Recebido em 25/09/12; aceito em 02/02/13; publicado na web em 24/5/13

Os diagramas de Rich e Suter são uma ferramenta muito útil para explicar as configurações eletrônicas de todos os elementos de transição e, em
particular, os diagramas de transição.1e s0configurações dos elementos Cr, Cu, Nb, Mo, Ru, Rh, Pd, Ag e Pt. A aplicação destes diagramas aos
elementos de transição internos também explica as configurações eletrônicas dos lantanóides e actinóides, exceto Ce, Pa, U, Np e Cm, cujas
configurações eletrônicas são de fato muito especiais porque são uma mistura de várias configurações.

Palavras-chave: tabela periódica; configuração eletronica; Diagramas de Rich e Suter.

A configuração eletrônica dos elementos químicos é um tópico muito

importante e inicial em todos os cursos introdutórios de química. Para obtê-los,
utiliza-se o princípio de Aufbau em conexão com as energias dos orbitais. No
entanto, a explicação do s1As configurações eletrônicas do estado fundamental
de Cr e Cu são geralmente baseadas na estabilidade especial atribuída a um
subnível meio preenchido e preenchido, respectivamente.1-3
Caso contrário, estas configurações podem ser explicadas pelos
diagramas muito elegantes de Rich e Suter.4Esses e alguns outros autores
afirmam claramente que não há estabilidade extra para um subnível
preenchido ou meio preenchido em comparação com um subnível
contendo um elétron a menos.4–7O1e s0configurações eletrônicas de
átomos neutros isolados de alguns elementos de transição podem ser
explicadas considerando que cada nível de energia do subnível é dividido
em dois níveis,aeb,relacionada ao spin dos elétrons, como pode ser visto
na Figura 1. A energia de Coulomb por conta do pareamento de dois
elétrons no mesmo orbital é atribuída ao bnível, por causa do qual este
nível parece estar em uma energia mais alta do que oanível. Na Figura 1a,
o número 6 no ponto de cruzamento entre o 3dae 4salinhas tem o
significado 3da5e 4sa1, e o mesmo significado se aplica à Figura 1c.
Este tipo de diagrama é muito facilmente compreendido pelos alunos
e facilita a explicação dos “anômalos”.1e s0configurações eletrônicas de
elementos de transição muito mais razoáveis. Como pode ser visto na
Figura 1a, os 4s23d3configuração eletrônica do vanádio vem do fato de
que ambos os níveis, 4sae 4sb,tem uma energia menor que 3da.À medida
que avançamos para a direita na tabela periódica, o número atômico
aumenta e todos os níveis diminuem. Como os níveis 3D estão mais
próximos do núcleo, eles diminuem mais rapidamente que o nível 4s, e o
nível 3Danível cruza os 4sbnível ao passar de V para Cr. Isso faz com que
para Cr, o 3danível deve ser completamente preenchido com cinco
elétrons antes que possamos colocar quaisquer elétrons nos 4sbnível.
Como o Cr possui apenas seis elétrons na camada de valência, não há
elétron para ocupar os 4s.bnível, o que resulta nos 4s13d5configuração
eletrônica do Cr. A mesma situação ocorre ao passar do Ni para o Cu.
Para Ni, os 4sbo nível está abaixo de 3db,enquanto para Cu esses níveis
se cruzam e 3dbtorna-se inferior a 4sb.Isso significa que os níveis devem
ser preenchidos na sequência: 3da54sa13db5, e como não há mais
elétrons, a configuração eletrônica do Cu é 4s13d10. Usando o diagrama de
Rich e Suter para o segundo período de transição (Figura 1b), também é
fácil explicar por que Pd tem 5s04d10configuração eletrônica. Porque os
dois níveis 4dae 4dbsão inferiores ao nível 5s, os dez elétrons da camada Figura 1.Diagramas de Rich e Suter para átomos isolados de elementos de
de valência Pd preenchem os níveis 4d, transição em seu estado fundamental. (a) período 3d; (b) período 4d; (c) período
5d. (Partes (a) e (b) adaptadas com permissão de RL Richer e RW Suter, J. Chem.
* e-mail: faria@iq.ufrj.br Educ. 1998, 65, 702. Copyright 1988 American Chemical Society.)
Vol. 36, nº 6 O uso dos diagramas de Rich e Suter para explicar as configurações eletrônicas dos elementos de transição
ou seja, 4da54db5, dando o 4d10configuração eletrônica. O mesmo
diagrama também explica as configurações eletrônicas do Nb (5s14d4), Ru
(5s14d7) e Rh (5s14d8), que não pode ser explicado usando o argumento do
subshell preenchido pela metade ou preenchido.
Até onde sabemos, esses diagramas não são apresentados nos
livros didáticos de química geral, e não há razão para isso, pois são
simples e contribuem para um raciocínio muito mais lógico na
explicação das configurações eletrônicas dos elementos de
transição. Os diagramas são, entretanto, apresentados em um livro
de química inorgânica de Miessler e Tarr.8
Os diagramas de Rich e Suter também explicam por que os primeiros
elementos de transição aparentemente perdem seus 4s2elétrons quando eles
vão para um estado de oxidação mais elevado. Por exemplo, o vanádio tem um
4s23d3configuração eletrônica, que se transforma em 4s03d3para vanádio (II).
Como pode ser visto na Figura 1a, os elétrons a serem removidos devem ser
aqueles com maior energia, que são os 3d3elétrons. Após a remoção de dois
deles, a carga positiva do átomo provoca uma diminuição em todos os níveis de
energia orbitais, sendo mais sensíveis os níveis com menor número quântico
principal (Figura 2). Isso faz com que os níveis 3d fiquem abaixo do nível 4s, de
modo que os elétrons possam agora ocupar o nível 3d inferior.anível, o que
eventualmente resulta em 4s03d3configuração eletrônica e dá a impressão de
que os elétrons 4s foram removidos durante o processo de oxidação. Este
mesmo raciocínio pode ser aplicado a todos os elementos de transição do
primeiro período (como pode ser visto na Figura 2), justificando o fato de que a
química de coordenação destes elementos de transição em estados de
oxidação superiores a zero não envolve nenhum elétron nos orbitais 4s .
Diagramas semelhantes podem ser construídos para lantanóides e actinóides,
como pode ser visto na Figura 3 para o primeiro caso.
Apesar de seu sucesso na explicação das configurações eletrônicas dos
elementos de transição, gostaríamos também de mencionar neste artigo que
Figura 2.Diagrama de Rich e Suter para os átomos isolados dos elementos de transição do
primeiro período após perderem dois elétrons para formar M2+íons
Figura 3.Diagrama de Rich e Suter para os átomos isolados de lantanóides em seu
estado fundamental. A configuração eletrônica para Ce não está correta
895
o diagrama de Rich e Suter não pode explicar as configurações
eletrônicas do elemento lantanóide Ce ou dos actinóides Pa, U, Np e Cm.
Na Figura 3, a configuração eletrônica do Ce está prevista como
6s25d2, em contradição com a configuração experimental de 6s2
5d14f1.9-13Nesta figura, o ponto de cruzamento envolvendo os níveis 4fa e
5dafoi posicionado entre Ce e Pr; entretanto, se for movido para a
esquerda (ou seja, entre La e Ce), a configuração eletrônica prevista do Ce
será de 6s24f2, o que novamente está em desacordo com a configuração
eletrônica aceita para este elemento. Usando diagramas de Rich e Suter,
não há como obter uma configuração eletrônica contendo um elétron em
cada um dos níveis 4fae 5da.A razão para isto é que estes dois níveis
podem acomodar sete e cinco elétrons, respectivamente, e que todos os
elétrons devem ir para o nível de energia mais baixo até que ele esteja
completo.
Os elementos Pa (7s26d15f2), você (7s26d15f3), Np (7s26d15f4) e Cm (7s26d15f7)
apresentam a mesma dificuldade.14Para esses actinóides, um diagrama de Rich
e Suter pode ser construído para o 6d (aeb)e 5f (aeb)subcamadas, semelhante
ao mostrado na Figura 3. Novamente, não é possível deixar um pequeno
número de elétrons entrar nos níveis 6dae 5faporque esses níveis devem ser
completamente preenchidos com cinco ou sete elétrons, respectivamente,
antes que o próximo possa começar a ser ocupado.
Como os diagramas de Rich e Suter são uma maneira melhor — mas ainda
assim simplificada — de explicar as configurações eletrônicas, devemos estar
cientes de que as configurações eletrônicas corretas desses elementos são de
fato especiais. Os alunos geralmente não sabem que não é uma tarefa simples
determinar a configuração eletrônica de um elemento, e que requer a
correlação de espectros de linhas experimentais e trabalhos teóricos, como a
atribuição da divisão de linhas pela presença de um campo magnético campo
(efeito Zeeman) e a determinação de associadosgvalores. Para se ter uma ideia
destas dificuldades, o espectro Ce tem aproximadamente 25.000 linhas, e
aproximadamente 15.000 linhas foram atribuídas principalmente a transições
de níveis elevados para termos pertencentes aos confins mais baixos.
gurações 6s25d14f1e 6s15d24f1. O termo de energia mais baixo1Gó 4é
não é um termo puro, representando apenas 55% da composição do nível
neutro do solo Ce.11Além disso, a aplicação da regra de Hund prevê um3
Termo H como o mais estável para 6s25d14f1configuração,
contrário ao aceito1Gó 4prazo, o que não segue esta regra.12
No entanto, os elementos Pa, U, Np e Cm têm a baixa energia
termos42/11
K,5euó6,6eu2/11, e9Dó 2, de acordo com a regra de Hund. Esse
significa que Ce tem uma configuração eletrônica muito especial do tipo
ns2(n-1)d1(n-2)fx, que tem sido objeto de estudos específicos para explicar
sua ocorrência.15
Concluindo, os diagramas de Rich e Suter são uma ferramenta muito útil
para explicar as configurações eletrônicas de todos os elementos de transição.
Estes diagramas são fáceis de desenhar e baseiam-se nas energias relativas dos
orbitais, considerando a separação de energia dos diferentes níveis de spin e o
seu cruzamento à medida que avançamos ao longo de um período de elemento
de transição. O uso de tais diagramas elimina o argumento tradicional de
subcamada preenchida pela metade e preenchida, que não possui nenhum
suporte físico. A discussão das configurações eletrônicas de Ce, Pa, U, Np e Cm
é um assunto adicional que leva a uma compreensão mais rica e profunda das
configurações eletrônicas. Ajuda os alunos a substituir o “dogma das
configurações eletrônicas” pela visão correta de que a configuração eletrônica
de um elemento é a descrição da estrutura eletrônica atômica baseada em um
modelo teórico, que se destina a explicar os espectros de linhas experimentais.
Como esses espectros se tornam mais complexos para elementos mais
pesados, o modelo precisa considerar que, para esses átomos, o nível de
energia fundamental é uma mistura de diversas configurações eletrônicas.
RECONHECIMENTOS
Os autores agradecem ao CNPq, CAPES e FAPERJ pelo apoio
financeiro.
896
REFERÊNCIAS
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Ciência Central, 9ºed., Prentice Hall: Englewood Cliffs, 2003.
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Orofinoe outros. Quim. Nova
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http://física.nist.gov/asd3 [acessado em abril de 2013]. Instituto Nacional
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 Quim. Nova,Vol. 37, nº 1, 194, 2014

O USO DE DIAGRAMAS RICH E SUTER PARA EXPLICAR AS CONFIGURAÇÕES ELÉTRICAS DOS

ELEMENTOS DE TRANSIÇÃO
Errata

Hugo Orofino, Sergio P. Machado e Roberto B. Faria*

Instituto de Química, Universidade Federal do Rio de Janeiro, 21941-611 Rio de Janeiro – RJ, Brasil

A pedido do autor, segue abaixo a Figura 1c, corrigida, do artigo publicado no vol. 36, n. 6, pág. 894-896, 2013:

* e-mail: faria@iq.ufrj.br