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21º DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO A

21/08/2020
“Eu te darei as chaves do Reino dos Céus” (Mt 16, 19a)

Tema central da Liturgia da Palavra

O centro da liturgia de hoje é a profissão de fé em Jesus como o salvador da


humanidade e a eventual consequência que dela brota: a Igreja e sua atuação
no mundo como manifestação desta salvação. A Igreja, reunião dos crentes,
recebe as chaves do Reino dos Céus (Evangelho e Primeira Leitura) e deve agir
no mundo com autoridade e justiça, levado sempre em conta a misericórdia, pois,
deve ser um pai para todas as pessoas, a fim de conduzi-las à salvação
(Segunda Leitura).

1ª Leitura: Is 22, 19-23

Este trecho da profecia de Isaías está inserido nos oráculos contra as nações
estrangeiras (cf. cap. 13-23). Todavia, nossa perícope de hoje é uma exceção
temática, pois, diz respeito à vida particular e corriqueira no palácio real em
Jerusalém.

O oráculo possui dois destinatários. O primeiro é o alto funcionário, administrador


real, Sobna. Este será deposto por Deus de seu posto porque entalhou na rocha
um mausoléu para ele (cf. v. 13-18). A razão deste ato ter sido condenado não
é explicada no texto, mas, ao que parece é porque ele teria ou desviado recursos
para esta empresa, e isto num momento de grande dificuldade da nação, ou
mesmo por questão de orgulho pessoal – é preciso levar em conta que os
túmulos, tanto na antiguidade quanto ainda hoje, são vistos como locais de
ostentação do poder pessoal. Já o segundo destinatário do oráculo será Eliacim
que herdará todas as insígnias, prestígio e funções de seu antecessor (cf. v. 20-
21a).

O que importa, contudo, nesta perícope é percebermos qual a função do


administrador do palácio real: ele terá as chaves do palácio: irá abrir e fechar, e
só a ele pertence esse poder (cf. v. 22) e fará isso com firmeza (cf. v. 23).
Todavia, todo este poder deve ser desempenhado como sendo um pai para todo
o povo (cf. v. 21b).

Salmo 137 (138), 1-3.6.8bc (R./ 8bc)

O salmo de hoje é uma Ação de Graças. O salmista dá graças a Deus pelos


benefícios concedidos e pede que leve a bom termo o que começou. De forma
específica agradece pelo triunfo que conduziu Davi ao trono e pela promessa de
estabilidade do trono dravídico.

2ª Leitura: Rm 11, 33-36

Damos continuidade à reflexão da Carta de São Paulo aos Romanos. Os


capítulos 9 a 11 versam sobre a salvação dos judeus. No 19º Domingo do Tempo
Comum, Paulo iniciava esta temática, hoje temos a conclusão.

Esta conclusão, na verdade um belo hino de louvor evocado pelo Apóstolo, é a


conclusão da perícope que trabalha a conversão de Israel (cf. v. 25-32). Paulo
conclui sua reflexão sobre a salvação dos judeus de forma otimista porque ele
vê na realidade do endurecimento do coração de seu povo para o Evangelho, a
forma como Deus age no mundo para estender a toda a humanidade a salvação!
Assim, os judeus estariam, ao recusar inicialmente o Evangelho, executando o
plano salvífico divino: justamente por esta recusa, a salvação evangélica foi
oferecida aos pagãos (cf. v. 25.28). Após todos os pagãos se juntarem ao plano
da salvação, os judeus seriam também salvos, pois, são o povo eleito e, como
os planos divinos são irrevogáveis, eles também estão inclusos nos desígnios
salvíficos de Deus (cf. 29). Justamente por este maravilhoso plano divino, Paulo
louva a sabedoria do Bom Deus que “age certo por linha tortas”!
Evangelho: Mt 16, 13-20

O Evangelho de hoje nos apresenta a cena em que Jesus dirige aos discípulos
a pergunta sobre quem era ele para as outras pessoas que o seguiam (cf. Mt 16,
13b) e quem ele era para os próprios discípulos (cf. Mt 16, 15), ao que segue a
profissão de fé de Pedro (cf. Mt 16, 16). Embora não pertencente à perícope da
Missa de hoje, como em Lucas, Mateus narra na sequência o primeiro anúncio
da Paixão (cf. Mt 16, 21-23) e as condições para quem quer seguir Jesus (cf. Mt
16, 24-27).

Entretanto, Mateus nos apresenta uma ênfase bastante distinta de Lucas.


Enquanto em Lucas a ênfase do relato evangélico reside justamente na
necessidade de se reconhecer bem a identidade de Jesus de Nazaré (cf. Lc 9,
20), não como um profeta, mas, sobretudo como o Messias, a fim de que a seu
exemplo o discípulo tenha condições de segui-lo com convicção negando-se a
si mesmo e tomando a cruz quotidiana (cf. Lc 9, 23-25), Mateus enfatizará a
profissão de fé de Pedro como ponto de partida para a edificação de sua Igreja
(Mt 16, 18) e lançará a “pedra fundamental” da Teologia do Primado de Pedro
(Mt 16, 19).

É interessante notar que a profissão de fé petrina identifica, pela primeira vez,


de forma direta a identidade de Jesus para os leitores: “Tu és o Cristo, o filho do
Deus vivo” (Mt 16, 17) como consequência do seu seguimento e responde aos
anseios da comunidade cristã em seguir o messias não apenas como alguém
especial enviado por Deus como um profeta, mas, sendo filho de Deus, ou seja,
Jesus de Nazaré é Filho de Deus enviado para salvar a humanidade!
Se pela fé professada por Pedro em nome da comunidade Jesus é identificado
em sua dupla natureza, divina e humana, também a comunidade é identificada
por Jesus: a profissão de fé petrina é pedra (Mt 16, 18a), ou seja, fundamento
para que a Igreja exista e continue a missão do anúncio do Reino de Deus como
herança deixada por Jesus e, permanecendo firme e irredutível nesta fé, as
portas do inferno nunca prevalecerão contra ela (Mt 16, 18b), indicando que a
perseverança na comunidade de fé é garantia da vida hoje e para a eternidade.

Esta Igreja viva na fé em Cristo Jesus tem um vigário: Pedro recebe as chaves
do Reino dos Céus (cf. Mt 16, 19a). Aqui está lançada a base bíblica da Teologia
do Primado Petrino que anima e governa a Igreja. É importante ressaltar que
Pedro continua um discípulo, pois, Jesus Cristo será sempre o único Mestre da
Igreja, porém, à Igreja militante o próprio Mestre delega um líder que exercerá,
pela fé comunitária, sua antiga função: liderar o grupo com a autoridade do
serviço em vista do Reino dos Céus (cf. Mt 16, 19b). O líder da Igreja, sempre
em comunhão de fé, agindo com os critérios evangélicos aprendidos com Jesus
Cristo, tem a autoridade de continuar a obra divina na terra e suas ações,
enquanto Igreja, têm as bênçãos de Deus que as ratificam, pois, “o que ligares
na terra será ligado nos céus, e o que desligares na terra será desligado nos
céus”.
Os desafios da vida familiar nos tempos
atuais

Não podendo vencer Deus, Satanás quer destruir a


sua obra mais importante, a família
A família é o projeto de Deus para a humanidade; se ela for destruída a
sociedade também será. Jesus quis entrar em nossa história pela família
para levar a todas as famílias a salvação. Foi numa festa de casamento
que ele fez o seu primeiro milagre a pedido de Nossa Senhora.
Mais do que nunca a família cristã é hoje ameaçada em seus valores
fundamentais. São João Paulo II disse que:

“A grandeza e a sabedoria de Deus manifestam-se em suas obras. Hoje


em dia, porém, parece que os inimigos de Deus, mais do que atacar
frontalmente o Autor da criação, preferem defrontá-Lo em suas obras…
Entre as verdades obscurecidas no coração do homem, por causa da
crescente secularização e do hedonismo reinantes, ficam especialmente
afetadas todas aquelas relacionadas com a família. Em torno à família
se trava hoje o combate fundamental da dignidade do homem.”

São João Paulo dizia que a família constitui um “patrimônio da


humanidade”, uma instituição social fundamental; é a célula vital e o pilar
da sociedade, e isto diz respeito tanto aos crentes como aos não-crentes,
“o futuro da humanidade passa através da família” (Familiaris consortio,
86).
A Irmã Lucia, vidente de Fátima, disse um dia, que grande ação de
Satanás hoje é contra a vida e a família. Tudo que fere a vida, fere a
família.

Quais são as ameaças à família hoje, e que os cristãos precisam lutar


contra?

Podemos citar alguns pecados cometidos contra a vida e a família.

Começo citando o aborto; são mais de cinquenta milhões por ano no


mundo todo.

Podemos citar as eutanásias praticadas legalmente aos milhares em


vários países e também o suicídio assistido. A manipulação de embriões
e de células embrionárias pela ciência, destruindo vidas humanas; a
Pílula do Dia Seguinte, abortiva; a inseminação artificial; o casamento de
pessoas do mesmo sexo, podendo ainda adotar filhos; o sexo livre antes
e fora do casamento (pornografia, nudismo, masturbação, fornicação,
adultério, etc.); coabitação sem matrimônio, Ideologia de Gênero,
distribuição de camisinhas em muitos lugares; perversa educação sexual
nas escolas onde se ensina o uso livre do sexo; produção independe de
filhos fora do casamento; famílias alternativas que não são a união de um
homem com uma mulher (Gen 2,24); fomento à homossexualidade nas
novelas, filmes, músicas, etc.; cirurgias de mudança de sexo; controle
exagerado da natalidade. Além disso ainda temos a tristeza das drogas e
da bebida que destrói muitos lares. Cresce o número de assaltos,
sequestros, estupros, etc.

Tudo isso de uma forma ou de outra pesa muito a família. João Paulo II
disse que: “Nos nossos dias, infelizmente, vários programas sustentados
por meios muito poderosos parecem apostados na desagregação da
família… ” (Carta às Famílias, 5).

Quando, no Ano da Família, em 1994, o Parlamento Europeu


reconheceu como legal o casamento de duas pessoas do mesmo sexo,
São João Paulo II disse:

“Temos testemunhado uma guerra contra a família, em nível tanto


nacional quanto internacional. Nesta década, em Conferências das
Nações Unidas ONU), têm sido vistas tentativas para “desconstruir” a
família, de forma que o sentido de “casamento”, “família” e “maternidade”
é agora contestado.

Nos dias de hoje, apesar de tudo isso, os cônjuges podem superar as


dificuldades e conservar-se fiéis à sua vocação, recorrendo ao auxílio de
Deus através da oração e participando assiduamente nos sacramentos,
de maneira particular na Eucaristia. A unidade e a solidez das famílias
ajuda a sociedade a respirar os valores humanos autênticos e a abrir-se
ao Evangelho. Para isto é muito importante os Movimentos que
trabalham com a família, com os jovens e as crianças, nas pastorais e
nas dioceses.
Os pais precisam ensinar seus filhos sobre as verdades básicas da fé e
da moral católica. Rezar com eles o Terço de Nossa Senhora e ensiná-
los a amar a Deus e a sua Lei sagrada.

É preciso monitorar o uso da internet e da televisão, pois até alguns


programas infantis estão estimulando a homossexualidade. Os pais
cristãos precisam conversar muito com seus filhos sobre esta sistemática
pregação de falsos valores. E, sobretudo, consagrar diariamente os filhos
aos cuidados de Nossa Senhora e do Sagrado Coração de Jesus.
Não é fácil ser família hoje em dia. Aliás, grande desafio é “criar” família,
educar filhos de forma cristã e prepará-los para “saber” viver, ou até
mesmo caminhar com suas próprias pernas! As rápidas mudanças
sociais, a mudança dos costumes e hábitos, digamos de passagem,
“forçada” pelo “galopante” avanço tecnológico, nem sempre é orientada
para uma vida familiar sadia. Mas, ao contrário, o desenvolvimento das
comunicações levou para nossos lares, de um lado, uma sensação de
progresso, e de outro, o “lixo” venenoso que, aos poucos, vai adentrando
os lares e destruindo toda uma formação moral e ética em que se
fundamentam os valores cristãos da sociedade.

Hoje, a família é bombardeada pela TV com novelas, filmes e programas


que ferem a moral e a ética, como se fossem coisas normais, e tenta
infundir no coração dos pais menos desavisados e na mente de nossas
crianças aberrações que vão contra tudo aquilo que aprendemos e
cremos. A maioria dos artigos jornalísticos e revistas busca deformar a
consciência dos pais, que muitas vezes aderem aos absurdos que são
anunciados/noticiados; o acesso à internet, que é um campo ilimitado
de informações perigosas que deturpam, aliciam e até tornam
dependentes crianças, adolescentes e adultos.

São João Paulo II não se cansava falar sobre os males que assolam os
tempos atuais, aos quais ele denominava como “cultura da morte”, que
visa não só destruir a família, mas também a vida no nascedouro,
através do aborto. Quando afirmou que o futuro da humanidade estava
em perigo, ele estava preocupado com a distorção de valores e a má
formação familiar e da vida em face aos ataques que enfrentamos via
a globalização e repito a perda de valores!

É verdade também que os pais e educadores não podem querer “enfiar


goela abaixo” os valores que recebemos de nossos pais, é preciso sim
valorizar e buscar meios para conduzir, de forma serena e harmoniosa
os valores cristãos e morais, sem assustar mas, acima de tudo unir e
testemunhar que é possível ser feliz, de verdade, vivendo o evangelho
como Cristo nos ensinou.

O Papa Francisco escreveu no dia 30 de março deste ano, uma carta


para o 9º Encontro Mundial das Famílias que se realizará em Dublin, na
Irlanda, em agosto de 2018, onde Francisco nos convida a nos
perguntar: O Evangelho continua sendo alegria para o mundo? A família
continua sendo uma boa nova para o mundo de hoje? “Tenho certeza
que sim”, responde o Papa, e “este sim está firmemente estabelecido
no desígnio de Deus”.

Mais adiante em sua carta o Papa sugere às famílias de se perguntarem


várias vezes se estão vivendo a partir do amor, para o amor e no amor.
“Isso significa concretamente: doar-se, perdoar-se, não perder a
paciência, antecipar o outro e respeitar-se.

Como seria melhor a vida familiar se a cada dia fossem vividas três palavras simples:
permissão, obrigado e desculpa.

Todos os dias fazemos experiência de fragilidade e fraqueza. Por isso,


todos nós, famílias e pastores, precisamos de uma humildade renovada
que plasme o desejo de nos formar, nos educar e ser educados, de
ajudar e ser ajudados, de acompanhar, discernir e integrar todos os
homens de boa vontade”.

Encerro esta partilha com você, pedindo que reflita as palavras de nosso
Papa Francisco e, se puder, leia a Exortação Apostólica pós-sinodal
“Amoris laetitia”. Ali você encontra um caminho seguro para te ajudar a
enfrentar os desafios que nossas famílias enfrentam nos dias de hoje.

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